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13 leitura Educacao e Poder

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EDUCAÇÃO E PODER: 
O JOGO DA SOCIABILIDADE 
 
 
As relações entre Educação e os diversos processos que constituem a vida da sociedade são 
múltiplas, profundas, complexas e íntimas. Na verdade, os processos educacionais são intrínsecos 
aos processos sociais. A consideração do educacional, separadamente do social, é uma tarefa um 
tanto complicada, tal a mútua implicação entre as duas esferas. 
No entanto, para que possamos entender algumas das dimensões desse relacionamento, 
vamos distinguir didaticamente alguns ângulos de enfoque, lembrando sempre tratar-se de interfaces 
de um mesmo processo. 
Assim, podemos destacar três idéias cujo desenvolvimento neste capítulo nos ajuda a entender 
esse relacionamento: a educação é uma prática social e, ao mesmo tempo, uma prática política de 
transformação ou de manutenção conservadora. 
 
 
[...] 
A educação é uma Prática Social 
 
Como já afirmamos, a relação entre educação e sociedade é muito íntima. O 
testemunho histórico das ciências do homem, no que concerne à educação informal, 
bem o mostra: as práticas informais da educação trazem implícita uma forma de se 
conceber a sociedade e revelam o tipo de sociedade onde elas acontecem. Quando 
a educação torna-se uma prática formal, explícita, ela mantém esse vínculo quase 
que orgânico com a sociedade, mas, ao mesmo tempo, busca-se auto-explicar-se 
por meio de uma reflexão justificadora, tomando, para isso distância em relação à 
sociedade. 
Em cada momento da história da educação, assistimos a um processo de 
organização e de institucionalização das práticas educacionais e, como em todos os 
demais setores, vemos formarem técnicos, profissionais, pesquisadores e 
especialistas teóricos na área educacional. A mesma situação vivemos hoje quando 
voltamos nossa atenção para o processo educacional como um todo, no contexto 
brasileiro. 
Nesse sentido, podemos afirmar que existe uma relação visceral entre o 
processo educacional e o processo social abrangente, ou seja, entre educação e 
sociedade. Trata-se de um vínculo orgânico, retirando-se deste termo toda 
conotação biologista. 
Ocorre uma pulsação entre o jogo de forças que constituem a sociedade e o 
jogo de forças que se concretizam na educação, de tal modo que, de um lado, a 
forma desta se organiza reflete e reproduz integralmente a forma de estruturação da 
sociedade; mas, de outro lado, o processo de atuação especificamente educacional 
pode ter efeitos desestruturadores sobre a sociedade, sendo então fator de 
mudança social. 
Isto significa, em última instância, que a história humana depende também 
das ações dos homens e que a educação é uma das mediações dessa ação 
criadora e transformadora da história. 
A educação, vista sob o ângulo de sua inserção social, adquire uma nova 
significação: é conceituada como uma prática social e histórica de uma determinada 
sociedade, envolvendo comportamentos sociais, costumes, instituições, atividades 
culturais, organizações burocrático-administrativas. A educação é um evento social 
que se desdobra no tempo histórico. 
A educação é, assim, igualmente uma mediação da sociabilidade. Ou seja, a 
prática educativa tem também a finalidade intrínseca de inserir os sujeitos oriundos 
das novas gerações no universo social, uma vez que eles não poderão existir fora 
do tecido social. 
A sociabilidade é “lugar” necessário e insubstituível da existência humana. 
Pode, entretanto, ser, ao mesmo tempo, fator de humanização como de 
desumanização, que despersonaliza o homem. É que toda mediação da existência 
real dos homens é ambígua, ambivalente: ao mesmo tempo em que torna possível 
essa existência, servindo-lhe de alicerce objetivo, carrega consigo fatores 
contraditórios, que produzem efeitos que podem obstaculizar e até mesmo impedir 
que essa existência se desenvolva com suas especificidades humanas. E isso é 
fundamentalmente decorrência do fato de a dominação ser entendida como a 
exacerbação das relações de poder que perpassam todo o tecido social. 
 
 
A educação atua sobre a sociedade para conservá-la na sua 
identidade 
 
 
Atuando no sentido de inserir os novos sujeitos no universo social, 
retornando e reforçando a ação da educação informal, as formas institucionalizadas 
da educação (as formas escolares) exercem fundamentalmente a função de 
conservar, de reproduzir a sociedade tal qual ela existe. 
Como vimos, a sociedade encontra-se estruturada por meio de relações 
políticas, ou seja, o tecido social é estratificado, hierarquizado, correndo por seus 
veios um coeficiente de poder. Sabemos que esse poder politizado decorre de 
elementos econômicos e ideológicos, uma vez que são fatores dessa natureza que 
tecem as relações sociais. 
De seu lado, a educação é uma prática social e também política, cujas 
ferramentas são constituídas pelos elementos simbólicos produzidos pela 
subjetividade e mediados pelos instrumentos culturais. Como tal, sua ação se dará 
mais diretamente sobre os aspectos simbólicos da existência humana. É por isso 
que ela se faz como processo de conscientização, lidando com os conteúdos 
simbólicos da subjetividade dos educandos. Fundamentalmente a educação trabalha 
com as representações subjetivas, com os conceitos e valores das pessoas. 
Essa esfera das representações simbólicas, por sua vez constitui o âmbito 
da ideologia. A educação vai cintribuir para a conservação e reprodução da 
sociedade e de seus construídos ideológicos. Ao conservar e reproduzir esses 
conceitos e valores, passando-os às novas gerações, a educação acaba 
perpetuando as relações sociais vigentes na sociedade, uma vez que tais relações 
também se sustentam nessa ideologia. 
Chama-se reprodutivismo a teoria filosófica de acordo com a qual a 
Educação atua como PR=reprodutora das relações sociais à medida que reproduz a 
ideologia vigente na sociedade, em geral a ideologia dominante. 
 
 
A Educação como prática Transformadora 
 
É verdade que o processo educacional consolida e reforça os processos de 
dominação atuantes na sociedade, à medida que seus mecanismos reproduzem 
sem reelaboração as referências ideológicas e as relações sociais. Mas, ao mesmo 
tempo, constatamos que, contraditoriamente, a educação também atua no sentido 
de criticar e superar esses conteúdos ideológicos e, consequentemente, de agir na 
linha da resistência à dominação e da transformação da sociedade, contribuindo 
para o estabelecimento de relações político-sociais com menor força de opressão. 
Ela pode, portanto, constituir-se ainda em prática social transformadora. 
Entretanto, a educação não atua como a grande alavanca da transformação 
social, uma vez que sua ação não se dá isolada das outras práticas mediadoras da 
existência histórica dos homens. A transformação profunda da sociedade também 
não se dará sem as mudanças no âmbito da prática simbólica dos homens. Por isso, 
a educação ocupa lugar tão importante no processo, em seu conjunto. 
As mudanças nas esferas econômicas e política pressupõem mudanças 
profundas e simultâneas na esfera ideológica. Isso porque as práticas reais dos 
homens – produtiva, política e simbolizadora – são igualmente mediadoras da 
existência histórica dos homens e se relacionam entre si como interfaces de um 
mesmo processo geral. 
Assim, se de um lado a educação contribui para a reprodução da sociedade 
por meio da produção, da sistematização e da divulgação de uma ideologia, de 
outro, ela pode contribuir para a transformação da mesma sociedade através da 
produção, da sistematização e da divulgação de uma contra-ideologia. Ela pode 
proceder a uma crítica da ideologia vigente, desmascarando-a, denunciando seuscompromissos com os interesses dos grupos dominantes no interior da sociedade e 
gerando, então uma nova consciência social entre os sujeitos. Evidentemente isso 
vai depender, em grande parte, do esclarecimento crítico dos agentes educacionais 
e de seu compromisso político no contexto histórico em que se encontram. 
 
 
(SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia da Educação: construindo a cidadania. São Paulo: 
FTD, 1994, p. 67-74)

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