Buscar

Doença de Chagas e assistência de enfermagem: uma revisão do papel do enfermeiro na gestão do agravo.

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Doença de Chagas e assistência de enfermagem: uma revisão 
do papel do enfermeiro na gestão do agravo. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A Doença de Chagas é uma antropozoonose de elevada prevalência e 
expressiva morbimortalidade. Exibe curso clínico bifásico, tendo uma fase 
aguda (clinicamente aparente ou não) e uma crônica, que pode se manifestar 
nas formas indeterminada, cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva (BRASIL, 
2016). Tem como agente etiológico o protozoário Tripanosoma cruzi (T. cruzi), 
o qual tem como vetor os insetos triatomíneos conhecidos como barbeiros 
(CHAGAS, 1909). 
A doença é uma das mais prevalentes e negligenciadas nas Américas e 
mundo. Sua incidência anual varia de 28.000 a 56.000 casos novos, com 
10.000 a 14.000 mortes anuais, afetando cerca de 6 – 11 milhões de indivíduos 
com 65 a 100 milhões de pessoas em risco (TAPIA-GARAY et al., 2018). 
A natureza endêmica da infecção pelo T. cruzi tem sido associada a vários 
modos de transmissão. Como a via oral, insetos vetores, transfusão de sangue, 
transplante de órgão, e transmissão acidental em hospital e laboratórios de 
pesquisa, todos esses meios contribuem para a prevalência da infecção 
exógena na população humana. Além disso, a transmissão transplacentária, da 
mãe para o feto, é a única forma endógena atualmente reconhecida de 
infecção (ARAUJO, 2017). 
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil cerca de 1,1 
milhão de pessoas estão infectadas pelo T. cruzi, o que representa uma das 
maiores frequências da doença no mundo. Isto tem relação com o 
desenvolvimento de atividades antrópicas de desmatamentos e ocupações de 
áreas ambientais, o que reduz as fontes naturais de alimentação e abrigo dos 
triatomíneos. No país, a maioria dos casos da doença encontra-se em estágio 
crônico, enquanto, a doença de Chagas Aguda (DCA) tenha ocorrido de 
maneira expressiva, geralmente, relacionada ao consumo de alimentos 
contaminados. A região amazônica é historicamente tida como endêmica para 
DCA (SOUSA JUNIOR, 2017). 
Diante desse cenário, um dos maiores desafios para o controle da doença de 
Chagas é identificar os indivíduos com a forma indeterminada e promover 
maior estreitamento com o serviço de saúde, uma vez que são fontes 
potenciais de transmissão do T. cruzi e que podem morrer sem o diagnóstico 
da doença (CAPUANI et al., 2017). Além deste aspecto, a promoção de ações 
que visem à prevenção da doença constitui principio básico para a diminuição 
da incidência. 
Portanto, a atuação preventiva do Enfermeiro constitui peça chave para a 
proteção da saúde das populações que apresentam maior risco de serem 
infectados, bem como a identificação oportuna daqueles que, possivelmente, 
apresentam a forma indeterminada incidirá de forma drástica sobre a elevada 
taxa de morbimortalidade. 
 
 
METODOLOGIA 
 
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre a atuação do enfermeiro 
na prevenção e cuidados dos casos da doença de Chagas. As etapas da 
elaboração da presente revisão foram as seguintes: estabelecimento da 
questão de pesquisa; definição de critérios de inclusão e exclusão de artigos 
(seleção da amostra); análise dos artigos, apreciação dos resultados e 
discussão e finalização da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). 
Foi elaborada a seguinte questão norteadora: “Qual o papel do enfermeiro na 
prevenção e na assistência aos casos da doença de Chagas?”. 
Para a seleção dos artigos foram utilizadas as seguintes bases de dados, a 
saber: Lilacs (Literatura Latino-americana e do Caribe), MEDLINE (United 
States National Library of Medicine) e BDENF (Base de dados de 
Enfermagem). Foram incluídos os artigos publicados em português, inglês e 
espanhol, que estavam disponíveis na integra, publicados nos últimos 10 anos. 
A pesquisa foi feita entre os meses de março a abril do presente ano. 
Durante as buscas nas bases de dados foram utilizados os Descritores em 
Ciências da Saúde (DeCS) de forma combinada - Doença de Chagas and 
prevenção and enfermagem (Chagas Disease and Disease Prevention and 
Nursing), Doença de Chagas and controle de doenças transmissíveis and 
enfermagem (Chagas Disease and Communicable Disease Control and 
Nursing), Doença de Chagas and prevenção and controle de doenças 
transmissíveis and enfermagem (Chagas Disease and Disease Prevention and 
Communicable Disease Control and Nursing). É importante ressaltar que a 
busca foi realizada utilizando tanto a combinação de descritores em português 
e inglês, objetivando minimizar os possíveis vieses no processo de seleção dos 
trabalhos. 
Inicialmente, os artigos oriundos das buscas tinham seus títulos e resumos 
lidos, aqueles que tinham relação com o tema eram selecionados para leitura 
na íntegra. Conforme o critério de inclusão era atendido os manuscritos tinham 
seu título, autores, ano de publicação, tipo de estudo e revista catalogados em 
uma planilha do Microsoft Excel 2010, elaborada especificamente para a 
revisão. 
 
RESULTADOS 
 
O total de trabalhos identificados nas bases, considerando as buscas com os 
descritores em português e inglês, foi de 64 artigos. Desse total, a partir da 
leitura do título e resumo foram excluídos 49 trabalhos, pois apresentavam foco 
de investigação diferente do interesse da presente revisão, ou por haver 
duplicidade tanto na pesquisa com os descritores em português e inglês, ou por 
terem sido publicados em anos anteriores a 2008. Foram lidos na integra 15 
artigos, contudo, verificou-se que 10 não atendiam aos objetivos da revisão 
visto que não abordavam de forma utilitária a atuação do enfermeiro na 
prevenção e assistência a doença de Chagas. Sendo assim, a amostra final é 
de 5 artigos, os quais estão presentes na LILACS (2 artigos), MEDLINE (2 
artigos) e BDENF (1 artigo). A Tabela 1 revela maiores detalhes dos 
selecionados. 
Tabela 1 – Artigos selecionados 
 
Em todos os artigos selecionados foi possível identificar a importância do 
enfermeiro na prevenção da Doença de Chagas e na assistência aos casos 
identificados da doença, demonstrando que um tratamento bem conduzido e 
iniciado precocemente aumenta a sobrevida e a qualidade de vida dos 
pacientes chagásicos (BLOOD-SIEGFRIED, 2015). 
Ano Autores Título 
Tipo de 
Estudo 
Local do 
Estudo 
Foco da 
Investigação 
Amostra 
Revista de 
publicação 
2013 
Sánchez 
Negrette, 
O.; Monteros, 
M.C.; Davies, 
C.; Zaidenberg, 
M.O. 
Diagnóstico de 
infección por 
Trypanosoma 
cruzi en Centros 
de Atención 
Primaria de Salta, 
Argentina 
Quantitativo 
Salta - 
Argentina 
Conhecer a 
soroprevalência 
de infecção com 
T. cruzi 
1647 
pacientes 
Acta bioquím. 
clín. 
latinoam;47(4): 
701-707, dic. 
2013. ilus, tab 
2015 
Blood-Siegfried, 
J.; Zeantoe, 
G.C.; Evans, 
L.J.; Bondo, J.; 
Forstner, J.R.; 
Wood, K. 
The Impact of 
Nurses on 
Neglected 
Tropical Disease 
Management. 
Qualitativo 
Durham - 
USA 
Enfermagem e 
Doenças 
Negligenciadas 
0 
Public Health 
Nurs;32(6): 
680-701, 2015 
Nov-Dec. 
2010 
Trivedi, M.; 
Sanghavi, D. 
Knowledge 
deficits regarding 
Chagas disease 
may place 
Mexico's blood 
supply at risk. 
Quantitativo 
Cidade do 
México 
Banco de 
Sangue e 
doença de 
chagas 
9 bancos 
de sangue 
Transfus 
Apher 
Sci;43(2): 193-
6, 2010 Oct. 
2010 
Colosio, R.C.; 
Falavigna-
Guilherme, A.L.; 
Falavigna, 
D.L.M.; Gomes, 
M.L.; Marques, 
D.S.O.; Braga, 
C.F.; Lala, 
E.R.P.; Araújo, 
S.M. 
Conduta 
profissional e 
lacunas de 
conhecimento 
sobre doença de 
chagas na área 
de transmissão 
por vetores 
interrompida
Quantitativo 
Maringá e 
Paiçandu/PR 
Conhecimento 
dos profissionais 
de saúde em 
relação a 
doença de 
Chagas 
487 
profissionai
s 
Arq. ciências 
saúde 
UNIPAR;14(1)j
an-abr. 2010. 
ilus, tab 
2009 
Oliveira, D.A.D.; 
Lisboa, T.B. 
Autocuidado de 
pacientes com 
doença de 
chagas: um 
enfoque educativo 
Revisão de 
literatura 
João 
Pessoa/PB 
Autocuidado 0 
Rev. bras. 
ciênc. 
saúde;13(2)m
aio-ago. 
Dentro da saúde, a educação em saúde realizada pela enfermagem é 
primordial na condução do tratamento desde paciente. Neste sentido, é 
essencial que o enfermeiro promova o conhecimento do autocuidado com 
ênfase nas transformações ocorridas no corpo do paciente, para que este 
consiga compreende-las e monitorá-las, resultando numa melhor qualidade de 
vida, tornando este paciente autoconfiante e empoderado, já que do contrário, 
a falta de conhecimento aliado à sintomatologia da Doença de Chagas, pode 
amedrontar os pacientes, favorecendo hostilidade e repugnância (OLIVEIRA, 
D.A.D.; LISBOA, T.B., 2009). 
Para melhor manejo e cuidado do paciente chagásico, é indispensável 
que os profissionais de enfermagem conheçam os meios de transmissão da 
doença. Os estudos evidenciaram os diferentes meios de transmissão da 
doença de Chagas, seja via oral, por insetos e vetores, transfusão de sangue, 
transplante de órgão, transplacentária ou mesmo por transmissão acidental em 
hospital e laboratórios de pesquisa (ARAUJO, 2017; SÁNCHEZ, MONTEROS, 
DAVIES 2013; BLOOD-SIEGFRIED, 2015). 
Por isso, é primordial que os meios de transmissão da doença sejam 
reconhecidos pelos profissionais de saúde e medidas de proteção e prevenção 
da doença sejam adotados. Porém, um estudo publicado no México aponta que 
na cidade do México podem ocorrer falhas na análise do sangue do doador já 
que a seleção é direcionada por meio de questionário realizado por 
enfermeiros, os quais 80% responderam de forma incorreta a, pelo menos, 
uma das três questões de fatores de risco do doador, o que pode desencadear 
erros. Neste contexto, os autores sugerem que em vez de usarem apenas a 
triagem, seria interessante que os mesmo utilizassem testes laboratoriais de 
rotina para análise de todo o sangue doado, a fim de evitar iatrogenias 
(TRIVEDI, M.; SANGHAVI, D. 2010). 
Na Argentina, Sanches e seus colaboradores apontaram doença de 
Chagas como um problema de saúde pública evidenciando a importância de 
estratégias na detecção precoce e tratamento. Por isso, de acordo com eles, o 
uso de equipamentos para coleta de sangue capilar e preservação de glicerina 
(SEROKIT) nos Centros de Atenção Primária à Saúde, na cidade de Salta, se 
constitui como uma ótima estratégia para posterior detecção de 
soroprevalência da infecção de Trypanosoma cruzi em unidades que não 
possuem laboratório próprio já que o mesmo preserva amostras para posterior 
diagnóstico, se mostrando eficaz e resolutivo (2013). 
A preocupação com a promoção da saúde, prevenção, detecção 
precoce e tratamento da doença de Chagas não se restringe apenas aos 
países endêmicos, De acordo com Blood-Siegfried e seus colaboradores, 
embora as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) sejam endêmicas nas 
nações em desenvolvimento na África, Asia, América do Sul e Central, as 
mesmas estão ressurgindo em países desenvolvidos, e portanto é primordial 
conscientização dos profissionais de saúde para um diagnóstico precoce, 
especialmente daqueles com a forma indeterminada (2015). 
Tendo em vista a importância da detecção e tratamento precoce da 
Doença de Chagas, um estudo realizado em Maringá buscou verificar a 
diferença de comportamento e conhecimento dos profissionais de saúde, 
incluindo médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes 
comunitários de saúde (ACS). E apesar de o Brasil ser um país com um 
número importante de casos desta patologia, este estudo mostrou uma 
porcentagem considerável de profissionais de todas as categorias com dúvidas 
sobre tratamento, reconhecimento de mecanismos de transmissão, 
triatomíneos e envio da notificação oficial da presença de insetos, testes para 
confirmação do diagnóstico, tratamento etiológico, e prognóstico da doença, 
principalmente entre os ACS que são o principal elo entre as unidades básicas 
e os pacientes, se constituindo como um grave problema (COLOSIO, R.C. et 
al, 2010). 
 
CONCLUSÃO 
 
É possível perceber que atuação do enfermeiro na prevenção e controle 
dos casos da doença de chagas é primordial, uma vez que o profissional 
muitas vezes é o responsável por fazer a interlocução entre o usuário e o 
serviço de saúde, promovendo maior estreitamento na relação. Desta forma, é 
essencial que os profissionais de saúde estejam treinados para receber este 
paciente, facilitando a acessibilidade aos serviços de saúde, oportunizando o 
acesso à informação, fomentando o autocuidado e a promoção da saúde. 
Os enfermeiros, bem como a equipe de enfermagem, passam a ser 
referências técnicas para os usuários e, consequentemente, poderão ter maior 
facilidade no desenvolvimento do trabalho preventivo bem como perspicácia 
clínica na identificação dos potenciais portadores da forma indeterminada. 
Atuando de forma programática e não mais pontual. 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
ARAUJO, P.F. et al. Sexual transmission of American trypanosomiasis in 
humans: a new potential pandemic route for Chagas parasites. Memórias do 
Instituto Oswaldo Cruz, [s.l.], v. 112, n. 6, p.437-446, jun. 2017. 
 BLOOD-SIEGFRIED, J. et al. The Impact of Nurses on Neglected Tropical 
Disease Management. Public Health Nursing, [s.l.], v. 32, n. 6, p.680-701, 17 
set. 2014. 
CAPUANI, L. et al. Mortality among blood donors seropositive and seronegative 
for Chagas disease (1996–2000) in São Paulo, Brazil: A death certificate 
linkage study. Plos Neglected Tropical Diseases, [s.l.], v. 11, n. 5, p.1-14, 18 
maio 2017. 
CHAGAS, C. Nova tripanozomiaze humana: estudos sobre a morfolojia e o 
ciclo evolutivo do Schizotrypanum cruzi n. gen., n. sp., ajente etiolojico de nova 
entidade morbida do homem. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, [s.l.], v. 
1, n. 2, p.159-218, ago. 1909. 
COLOSIO, R. C. et al. Professional conduct and knowledge gaps concerning 
chagas disease in interrupted vector-borne transmission area. Arq. Ciênc. 
Saúde UNIPAR, v. 14, n. 1, p. 3-9, jan./abr. 2010. 
MENDES, K.S.; SILVEIRA, R.C.C.P.; GALVÃO, C.M. Revisão integrativa: 
método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na 
enfermagem. Texto & Contexto - Enfermagem, [s.l.], v. 17, n. 4, p.758-764, 
dez. 2008. 
NEGRETTE, O.S. et al. Diagnosis of Trypanosoma cruzi infection in Primary 
Public Health Centers of Salta, Argentina. Acta bioquím. clín. latinoam. v. 47, 
 n. 4, p. 701-7, dez. 2013. 
OLIVEIRA, D.A.D. LISBOA, T.B. Autocuidado de pacientes com doença de 
chagas: um enfoque educativo. Rev. Br. Ciência da Saúde, v. 13, n. 2, p. 97-
102, 2009. 
SOUSA JÚNIOR, A.S. et al. Análise espaço-temporal da doença de Chagas e 
seus fatores de risco ambientais e demográficos no município de Barcarena, 
Pará, Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, [s.l.], v. 20, n. 4, p.742-755, 
dez. 2017. 
TAPIA-GARAY, V. et al. Assessing the risk zones of Chagas' disease in Chile, 
in a world marked by global climatic change. Memórias do Instituto Oswaldo 
Cruz, [s.l.], v. 113, n. 1, p.24-29, jan. 2018. 
TRIVEDI, M.; SANGHAVI, D. Knowledge deficits regarding Chagas disease 
may place Mexico’s blood supply at risk. Transfusion And Apheresis 
Science, [s.l.], v. 43, n. 2, p.193-196, out. 2010.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais