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curso Medicina e Manejo de Repteis

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www.conhecer.org.br
MEDICINA E MANEJO DE RÉPTEIS
Elaboração: Profa Luana Célia Stunitz da Silva – Médica Veterinária, Especializada em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens
INTRODUÇÃO 
	Este curso possui como informação adicional listagem com os nomes dos répteis ameaçados de extinção segundo três diferentes listas de renome, além também da Instrução normativa do IBAMA que trata sobre a questão dos criadouros comerciais de répteis.
Ao final do curso, você encontrará a avaliação a ser respondida para verificarmos sua aprendizagem. Bons estudos.
O nome “répteis” deriva da palavra em latim reptare tendo como significado “rastejar”, provavelmente devido à visualização das serpentes se locomovendo sobre o solo. 
A classe Reptilia conta hoje com aproximadamente 7.780 espécies sendo considerado um grupo amplo de vertebrados (O’Malley, 2005). Está dividida nas Subclasses:
Anapsida e Synapsida, de acordo com a ausência ou presença de forames na região temporal, respectivamente. 
Os únicos representantes vivos da Subclasse Anapsida pertencem à Ordem Testudines ou Chelonia, e englobam os jabutis, os cágados e as tartarugas. 
Diapsida: Se subdivide em duas Superordens: Lepidosaura e Archosauria. Os membros viventes da Superordem Lepidosaura pertencem à Ordem Rhynchocephalia (tuatara) e a Ordem Squamata, que se divide em três Subordens: Lacertilia ou Sauria (lagartos), Amphisbaenia (“cobras-cegas”) e Serpentes. E por fim, na Superordem Archosauria encontramos a Ordem Crocodilia (Pachaly, 2002; O’Malley, 2005).
Euryapsida: é um grupo de répteis marinhos extintos que possuíam um crânio do tipo euriápsido, provido de uma abertura temporal superior, situada entre os ossos pariental, pós-orbital e esquamosal.
Parareptilia: Grupo que compreende os mesossauros que possuiam adaptação pioneira dos répteis ao ambiente aquático, ainda no Permiano. São animais extintos.
Répteis e aves originaram-se do mesmo ramo, os Sauropsida. Porém os répteis foram o primeiro grupo verdadeiramente terrestre de vertebrados, e o seu sucesso é atribuído em grande parte à evolução do ovo amniótico, característica esta que compartilham com as aves. Desta forma aves e répteis apresentam uma série de características similares. Tanto que os crocodilianos e as aves, segundo os novos conhecimentos filogenéticos, são considerados como grupos irmãos (Pachaly, 2002; Lange, 2004).
No reino animal a classe Reptilia é provavelmente o grupo que apresenta a reputação mais difamada entre todos os animais (Frye, 2007), constituindo um universo diferente com o qual não estamos habituados a compreender. Entretanto eles estão se tornando cada vez mais populares como animais de estimação em todo o mundo (Jacobson, 2007). Além de serem encontrados em cativeiro, como pets, estão presentes também em criatórios, em coleções zoológicas e em centros de triagem. 
Considerando que o diagnóstico e o tratamento de répteis enfermos é geralmente difícil, devido à capacidade de mascarar os sinais manifestos da doença, então o objetivo primário da medicina aplicada a esses animais consiste em evitar os problemas médicos, ou seja, visa a medicina preventiva (Lange, 2004). 
TAXONOMIA
Reino Animalia
Filo Chordata 
Classe Reptilia
Ordem Testudinata/Chelonia (290 spp.): tartarugas, cágados e jabutis. 
				Subordem Cryptodira (retraem o pescoço)
				Subordem Pleurodira (lateralizam o pescoço)
Ordem Crocodylia (23 spp.): jacarés, crocodilos e caimãs. 
Ordem Squamata (5841 spp.) 
Subordem Ophidia (2900 spp.): serpentes ou cobras. 
Subordem Lacertilia (Sauria) (4675 spp.): lagartos e lagartixas. 
Subordem Anphisbaenia (140 spp.): cobras-cegas. 
			Ordem Rhynchocephalia
				Subordem Sphenodontida (2 spp.): tuataras
CARACTERÍSTICAS GERAIS 
• Ausência de diafragma;
• Respiração pulmonar sendo promovida pela musculatura intercostal (nos quelônios pelos movimentos dos membros);
• Hemácias nucleadas;
• Ausência de pêlos, penas, glândulas mamárias e sudoríparas;
• Corpo coberto por escamas;
• Fertilização interna; 
• Reprodução através de ovos (ovíparos), neonatos (vivíparos) ou partenogênese (reprodução assexuada);
• Anexos embrionários (âmnio, cório, alantóide);
• Ausência de formas larvais como nos anfíbios;
• Crescimento rápido nos primeiros anos e lento nos últimos, sendo capazes de crescer durante toda a vida;
• Excreção de sais de urato e ácido úrico na urina (uricotélicos).
PARTICULARIDADES DO GRUPO
- TERMORREGULAÇÃO
Os répteis são animais classificados como ectotérmicos, ou seja, são incapazes de produzirem calor e apresentam uma condutividade térmica relativamente alta. Assim, o calor metabólico é menos importante do que o calor ambiental na determinação da temperatura interna (Lange, 2004; O’Malley, 2005). 
 	Deste modo esses animais são subordinados aos seus ambientes, já que sua atividade e mesmo a sua sobrevivência estão permanentemente sujeitas à temperatura ambiental prevalente (Lange, 2004). A principal desvantagem da ectotermia é que esses animais são incapazes de sustentar altos níveis de atividade por longos períodos porque possuem uma pobre capacidade aeróbica e rapidamente entram no metabolismo anaeróbico, levando à fadiga devido à produção de ácido lático. Já a principal vantagem que apresentam é a de não demandarem gasto energético para manter suas temperaturas corpóreas (O’Malley, 2005). 
Com exceção dos crocodilianos e alguns quelônios, os répteis desenvolveram uma vida completamente terrestre. Representando assim um estágio de transição em relação à evolução da termorregulação. Sendo o primeiro grupo a apresentar os mecanismos fisiológicos, sem gasto de energia, encontrados nas aves e mamíferos para manutenção do calor interno. E nesse aspecto os lagartos têm sido o grupo de répteis mais estudados. No ambiente natural, em atividade, são capazes de manter suas temperaturas dentro de uma faixa notadamente estreita, modificando seu comportamento de forma a aproveitar as propriedades térmicas oferecidas pelo ambiente. Tanto que espécies diferentes que vivem em um mesmo ambiente podem apresentar temperaturas ideais que diferem em vários graus. Esse resultado é obtido através de modificações comportamentais e alterações nos processos circulatórios. Portanto os répteis são também classificados como homeotérmicos por controlarem sua temperatura corporal através da procura de fontes externas de calor (Cubas & Baptistotte, 2006).
Como exemplo observa-se que alguns lagartos em montanhas com altitudes superiores a 4.000 metros se movem, no início da manhã, sob temperaturas ambientais abaixo do ponto de congelamento, e conseguem elevar a temperatura corporal rapidamente orientando-se adequadamente em relação ao Sol, e assim absorvendo a radiação direta e também a refletida pelo substrato (Lange, 2004). Além disso, alguns animais tornam-se pretos (melânicos) por um mecanismo previsto geneticamente para facilitar na captura de todos os raios luminosos (O’Malley, 2005). Já outros podem alterar padrões cardiovasculares e a postura corporal para mudar suas superfícies expostas à radiação solar (Goulart, 2006).
- SISTEMA PORTA-RENAL
Bem como os peixes e anfíbios, os répteis também possuem o sistema porta-renal que nada mais é do que válvulas localizadas na junção das veias ilíacas externas e veias renais que, quando abertas sob estímulo da adrenalina no sangue, permite que o sangue flua diretamente para a veia cava caudal e ao coração, e quando estão fechadas, sob efeito da acetilcolina, determina que o sangue sofra circulação nos túbulos renais desaguando em seguida na veia cava caudal e chegado ao coração (O’Malley, 2005). 
Como esses animais que possuem tal sistema não conseguem produzir uma urina hipertônica (concentrada) porque não apresentam Alça de Henle no rim, então durante os períodos de desidratação, na intenção de diminuir a perda de água, a taxa de filtração glomerular é reduzida através da açãoda vasopressina argenina que causa constrição das arteríolas aferentes aos glomérulos. E devido à existência do sistema porta renal o suprimento de sangue para a perfusão nas células dos túbulos renais continua ocorrendo, prevenindo-as da necrose isquêmica. Dependendo da necessidade do balanço hídrico do organismo animal o sangue pode ser conduzido para os rins ou dele desviado (Lange, 2004; O’Malley, 2005).
E nesse contexto quase a totalidade dos profissionais de medicina de animais silvestres vêm, historicamente, recomendando que as aplicações de medicamentos injetáveis em répteis sejam evitadas na região drenada pelo sistema porta renal (cauda, pernas e região pélvica), deduzindo que a droga aplicada irá sofrer ação da filtragem renal antes de cair na circulação sistêmica. Entretanto recentes estudos farmacocinéticos descritos concluíram que não foram observadas diferenças significativas entre as aplicações efetuadas na região anterior e posterior em tigre-d’água-exótico (Trachemys scripta elegans), não sendo então necessário obedecer a esta antiga regra (Holz, 1999).
Todavia, especialmente quando se utilizam drogas potencialmente nefrotóxicas como antibióticos do grupo dos aminoglicosídeos, entre eles a gentamicina que pela sua eficiência em germes gram-negativos é amplamente utilizada em répteis, reitera-se a recomendação de evitar a parte posterior do animal aplicando-se então em seu terço anterior, estando sempre aliada a uma fluidoterapia concomitante (Holz, 1999).
- ANATOMIA
O crânio é fixo à coluna cervical por apenas um único côndilo occipital (FIGURA 01), assim como nas aves, ao contrário dos dois côndilos encontrados nos mamíferos (Werther, 2004; O’Malley, 2005). Esta particularidade implica numa fragilidade articular da região cervical, requerendo cuidados especiais durante procedimentos de contenção física a espécies volumosas, como por exemplo, grandes serpentes. Apresentam ainda um osso denominado de Quadrado (FIGURA 01) que se encontra na junção entre mandíbula e maxila, não existindo então a articulação temporo-mandibular (ATM) presente nos mamíferos, o que permite uma liberdade extra aos movimentos da mandíbula (O’Malley, 2005).
Figura 01: Estrutura óssea de crânio de um exemplar da Classe Reptilia. A marcação em vermelho à esquerda destaca o osso quadrado que articula mandíbula e maxila nesses animais. E marcação em vermelho à direita demarca o único forame occipital presente no crânio de todos os répteis.
Fonte: http://www.skullsunlimited.com/
Tipicamente nos répteis o coração é tricavitário (FIGURA 02) (dois átrios e um ventrículo), à exceção dos crocodilianos os quais apresentam quatro câmaras cardíacas e o Forame de Panizza o qual é uma abertura entre o arco aórtico esquerdo e o direito. Todos apresentam duas aortas. E apesar de existir apenas um ventrículo cardíaco, na grande maioria dos répteis, este se apresenta com três subcâmaras (cavum pulmonale, interventricular septum, cavum arteriosum) que aliado com o arranjo anatômico dos átrios, das válvulas átrio-ventriculares, das cristas musculares do ventrículo e com o ritmo tímico das contrações fazem com que o sangue oxigenado e o desoxigenado não se misturem (O’Malley, 2005).
FIGURA 02: Ilustração demonstrando as diferentes partes anatômicas do coração reptiliano, à exceção da Ordem Crocodylia.
Fonte: http://sharon-taxonomy2009-p3.wikispaces.com/Chordata-Reptilia
Com exceção dos quelônios que apresentam um bico córneo ou ranfoteca na cavidade oral, todos os demais membros reptilianos apresentam dentes, e em algumas espécies estes são trocados ao longo de toda a vida e em outras não (Werther, 2004; Cubas & Baptistotte, 2006). No caso exclusivo das serpentes existem quatro tipos de dentições descritas, sendo estas: áglifa (dentes iguais não possuindo sulco para veneno) como é o caso da Família Boidae (sucuris, jibóias, caninanas); opistóglifa (dentes aproximadamente do mesmo tamanho tendo sulco em um par de dentes na parte posterior da maxila) como no caso das falsas-corais; proteróglifa (par de dentes com sulco na parte anterior da maxila) como no caso de todas as corais verdadeiras; solenóglifa (dentes pares grandes e com sulco na maxila) como no caso das cascavéis, jararacas, jararacuçus, caiçacas, urutus (Kolenikovas et al., 2006).
Quando da abertura da cavidade oral em todos os répteis já se observa a glote e conseqüentemente a entrada da traquéia que se localiza logo atrás da base da língua. Fato esse que permite ter certeza de uma intubação traqueal (FIGURA 03) ou mesmo de uma esofágica para alimentação forçada, por exemplo, tendo em vista que o esôfago se encontra imediatamente dorsal em relação à traquéia (Funk, 1996; O’Malley, 2005; Kolenikovas et al., 2006). 
FIGURA 03: Intubação traqueal em Iguana adulto. Atentar para a posição da glote aonde se insere o traqueotubo.
Fonte:http://www.lexingtonpetclinic.com/
 
Em algumas famílias de lagartos ao longo das vértebras coccígeas (cauda) existe uma região de fragilidade para ruptura, deste modo no caso de serem capturados pela cauda ou de correrem risco a ponta final da cauda se destaca e o animal foge ileso enquanto o predador perde a atenção ao observar a parte perdida. Tal fenômeno é denominado de autotomia e a região perdida se regenera total ou parcialmente com uma neoformação cartilaginosa, não sendo reconstituída novamente a parte óssea. Esse fato é visto mais freqüentemente em pequenos lagartos como nas lagartixas (Barten, 1996; Werther, 2004; O’Malley, 2005).
Os quelônios apresentam um casco rígido constituído por uma estrutura óssea formada por ossos dermais e consiste em cerca de 60 ossos fusionados formados pelas cinturas pélvica e peitoral modificados, vértebras torácicas, sacro e costelas. A parte superior do casco denomina-se de carapaça e a parte inferior de plastrão e essas duas são unidas lateralmente pelas denominadas pontes. Esse casco é coberto por tecido epidermal geralmente na forma de placas queratinizadas conhecidas como escudos. E o processo de crescimento do animal se dá pela subseqüente adição de novas lâminas queratinizadas na base de cada escudo (Molina et al., 2001; O’Malley, 2005; Cubas & Baptistotte, 2006).
Apenas os quelônios e alguns lagartos apresentam bexiga urinária que se encontra conectada à cloaca através de uma curta uretra. Nos demais animais existem somente a cloaca que se divide em três partes: coprodeum, o qual coleta as fezes, urodeum, onde os ureteres e o sistema reprodutor desembocam, e o proctodeum onde as excretas são armazenadas previamente antes da excreção (Barten, 1996; O’Malley, 2005). Tanto a bexiga bem como a cloaca apresenta funções de reserva e reabsorção de líquido em casos de escassez de água, por exemplo (Cubas & Baptistotte, 2006).
- FISIOLOGIA
A radiação ultravioleta (UVB) é indispensável para quelônios, lagartos e jacarés e é benéfica para as serpentes. A presença simultânea de UVB, provitaminas-D e cálcio, advindos de uma dieta correta, são necessários para a boa formação óssea e a prevenção de doenças ósseo-metabólicas. Visto que a presença de radiação UVB acarreta a transformação da vitamina D inativa para a sua forma ativa no corpo do animal e esta por sua vez é responsável pela absorção de cálcio. Vale salientar que animais que recebem tal radiação tendo o vidro como anteparo, só conseguem absorver 10% de todo o volume, já que tal material consegue absorver 90% da radiação UVB. Pequenos tempos expostos ao Sol, no começo da manhã ou do final da tarde, ou mesmo à lâmpadas específicas são suficientes para absorção deste radiação (Molina & Lightfoot, 2001; Nevarez, 2009).
Os répteis são acometidos principalmente por agentes infecciosos Gram-negativos e não são afetados por Clostridium sp., ou seja, não apresentam botulismo (Kirchgessner & Mitchell, 2009).
Devido à ausência da enzima proteolítica denominada lisozima nos linfócitos a formação de conteúdo purulento em infecções se torna sólida, ou seja, formam-se exsudatos caseosos, já que tal enzima éque determina o estado líquido e viscoso ao pus. Logo, nos répteis os abscessos são consistentes e, portanto dificilmente fistulam. Esses abscessos desenvolvem-se de forma lenta e freqüentemente apresentam camadas concêntricas, semelhantes a uma cebola (FIGURA 04). Deve-se então ter cautela para diferenciá-los de tumores, realizando um diagnóstico diferencial por biópsia aspirativa. A retirada de abscessos que se encontram fechados se dá pela forma cirúrgica. Já os abscessos abertos podem ser curetados e tratados como ferida aberta (Lange, 2004). 
FIGURA 04: Na foto à esquerda observa-se a presença de um nódulo de coloração amarelo-esbranquiçado na parte dorso-lateral em região cervical de um exemplar da Ordem Chelonia, sugestivo de exsudato caseoso. Na foto à direita pode-se observar o exsudato após a sua retirada e seu posterior corte longitudinal demonstrando a característica em camadas.
Fonte: R.R. Lange (Material didático)
Existe uma grande influência da temperatura ambiente sobre a determinação do sexo dos filhotes em animais da ordem Crocodylia e Chelonia, assim como em algumas espécies de lagartos e as tuataras, quando ainda nos ovos, não sendo, portanto, determinados geneticamente como as aves e os mamíferos (Molina & Lightfoot, 2001; O’Malley, 2005; Bassetti, 2006).
A glândula pineal está intimamente associada com o olho parietal ou também denominado de “terceiro olho” nos répteis, à exceção dos crocodilianos que não o apresentam. Consiste em um órgão sacular delimitado por células epiteliais contendo fotorreceptores e células secretoras. E sabe-se que consegue converter estímulos ópticos em mensagens neuroendócrinas, podendo apresentar um papel de termorregulação e de reprodução (O’Malley, 2005).
A chamada ecdise ou troca de pele é controlada pela glândula tireóide ou tiróide nos répteis. No caso das serpentes essa troca tende a ocorrer toda de uma vez, inclusive os escudos oculares, ao contrário do que se observa no caso dos lagartos e quelônios que trocam a pele por pedaços ou fragmentos (O’Malley, 2005). Muitas vezes os animais nesse período se apresentam com um comportamento alterado, parando de se alimentar e apresentando colorações mais desbotadas (Funk, 1996). 
CATIVEIRO
Vários são os aspectos que influenciam na decisão de se manter um exemplar da Classe Reptilia como animal de estimação. Dentre tais cita-se: necessidade de um espaço relativamente pequeno, facilidade de higienização do ambiente, praticidade de manutenção, beleza “exótica” e característica comportamental silenciosa (Montiani-Ferreira et al., 2007). 
Quando mantidos em cativeiro os animais devem ser acomodados em recintos previamente planejados, e apropriadamente construídos, de forma a evitar fugas e injúrias, oferecendo também locais que sirvam como refúgio (Frye, 2007). O tamanho da caixa e os materiais usados e suas superfícies internas devem também ser levados em consideração atentando ao fato de não serem abrasivos, serem impermeáveis à água e de fácil limpeza para a eliminação da poluição do recinto (Frye, 2007). Um fato que não pode ser negligenciado é que o confinamento do animal cria diversos graus de estresse, o que comumente leva a alterações comportamentais com sérias conseqüências. Devido às condições ambientais e de higiene a que estão submetidos diariamente, muitos se tornam propensos a uma grande variedade de enfermidades como doenças carenciais, doenças infecciosas, fúngicas e parasitárias, podendo assim acometer todos os sistemas orgânicos levando o animal a óbito (Fowler, 1986). 
Ressalta-se que quase a totalidade dos problemas clínicos dos animais são direta ou indiretamente relacionados aos distúrbios de inadequação de manejo. Injúrias traumáticas nesses animais são comumente causadas por aspectos relacionados ao ambiente, muitas vezes provenientes das próprias instalações dos recintos. Desta forma o conhecimento da biologia básica da espécie que se pretende obter ou que já se encontra em cativeiro, como o tamanho que pode chegar quando adulto, o hábitat e o comportamento normal do animal quando na natureza, é de vital importância. 
Deve-se ter em mente que as necessidades básicas para manutenção de um espécime de réptil em cativeiro englobam quatro itens: iluminação, temperatura, alimentação e umidade (FIGURA 05) (Werther, 2004). Os quais todos devem estar o mais adequado possível de seu hábitat natural, ou seja, se é um animal de deserto ou de floresta ou mesmo se o animal é arborícola, terrícola, fossorial ou aquático.
 A temperatura é um fator muito relevante, tendo em vista que são animais ectotérmicos, e apresenta uma influência direta no metabolismo, na digestão, na incubação, na ecdise (troca de pele), na cicatrização, no crescimento, na maturidade, na imunidade e na determinação sexual dos animais (Barten, 1996; Cubas & Baptistotte, 2006). Aliado a isso os répteis também apresentam um insuficiente isolamento externo já que a gordura subcutânea é escassa e as escamas impedem a transferência de calor (Lange, 2004). 
Poderão ser utilizados dois tipos de fontes primárias de iluminação e aquecimento: o artificial ou o natural. O tipo natural, Sol, apresenta como aspecto positivo a emissão de todos os espectros luminosos que os animais necessitam, contudo muitos proprietários poderão esquecer o animal quando submetidos a “banhos de Sol” levando a um superaquecimento e óbito do mesmo, desta forma este tipo deverá ser apenas utilizado quando de um manejo correto e quando de poucos ou um único animal cativo. 
Por outro lado a iluminação e aquecimento artificial possuem como aspecto positivo uma maior autonomia sendo menos perigoso a partir do momento que poderá ser programado os horários para o funcionamento das lâmpadas, mas apenas uma lâmpada não emitirá todo o espectro luminoso necessário para a sanidade do animal, assim sendo deverão ser obtidas lâmpadas de diferentes espectros para emissão completa dos raios luminosos necessários, sendo estes: calor, UVA, UVB, UVC (Barten, 1996).
Lâmpadas frias permitem luminosidade e emissão de UVA (luz propriamente dita), mas sem o aquecimento necessário. Já as lâmpadas incandescentes permitem luminosidade e aquecimento, mas sem a emissão de UVA. Para a suplementação de raios UVB e UVC existem hoje no mercado específico lâmpadas próprias contendo também as informações sobre a distância mínima que deverá ser colocada a lâmpada em relação ao animal para a real captação dos raios e a sua durabilidade em horas. 
Lâmpadas infravermelhas podem ser utilizadas como fontes de calor e de luminosidade em terrários, utilizando diferentes watts e quantidades diferentes para cada tamanho do recinto. 
Quando lâmpadas para aquecimento são utilizadas no interior de vasos de cerâmica perfurados permitem um eficiente sistema de aquecimento, e o uso de recipientes com água sobre estes dispositivos contrabalança a dissecação do ambiente, permitindo uma maior umidade no recinto, fato este essencial para animais de hábitos tropicais, por exemplo. Outros procedimentos para aumentar a umidade no recinto é a colocação de recipientes rasos com água no recinto, onde o animal poderá também entrar, ou borrifar água no recinto e diminuir a ventilação interna. 
O sistema de aquecimento artificial utilizado em cada cativeiro deve estar adequado à biologia da espécie e ao terrário em questão. No caso de terrários pequenos o aquecimento do ambiente já é o suficiente, mas para terrários grandes o aquecimento interno do mesmo é indispensável. É de suma importância a utilização de um termostato acoplado a um timer que controlará o calor emitido e seus horários de funcionamento, bem como o uso de um termômetro de máxima e mínima para avaliação da temperatura. No caso de répteis enfermos o ideal de temperatura estará na faixa aproximada dos 28 C fixo, pois tais animais nesse estado não conseguem termorregular adequadamente podendo superaquecer. Mas quando de animais sadios deverão existir diferentes gradientes de temperatura em partes distintasdo recinto para que assim o animal tenha a opção de se deslocar ou para o mais frio ou para o mais quente dependendo de como ele quer adequar a sua temperatura no momento (Kolenikovas et al., 2006).
Muitas espécies necessitam desta variabilidade térmica diária e do fotoperíodo correto, pois foi demonstrado que a manutenção da temperatura ótima e da luminosidade de forma contínua, leva à anorexia, perda de peso e danos na espermatogênese, já que altera todo o ciclo circadiano fisiológico. 
Deve-se tomar cuidado aonde instalar tais fontes de calor, pois algumas serpentes e iguanas costumam aproximar-se, encostar-se ou até enrodilhar-se nestas lâmpadas podendo vir a acarretar graves queimaduras, fato que é explicado pela menor sensibilidade ao contato com calor extremo pelos répteis.
Lâmpadas azuis ou vermelhas podem ser utilizadas para o período noturno pois aquecem emitindo radiações pouco visíveis aos répteis, não atrapalhando assim o fotoperíodo entre o dia e a noite (Barten, 1996). 
Como fonte secundária poderá ser utilizado tapetes de aquecimento, que são muito populares, podendo ser usados com termostatos, e também as pedras de aquecimento com temperatura estável principalmente para animais de hábitos terrícolas, entretanto muitos autores citam que o uso deste último material acarreta numa maior probabilidade de queimaduras e desidratação no animal, devido ao maior contato com a fonte de calor (Funk, 1996; Molina & Lightfoot, 2001).
	Além de todas essas lâmpadas para o calor propriamente dito e luminosidade deverá ser adquirida também lâmpadas que emitem radiação UVB, essencial para a absorção de cálcio como já mencionado, para os animais diurnos, já que animais noturnos na natureza não absorvem tal radiação tendo assim outros mecanismos fisiológicos para supri-lo.
	Outro item a ser levado em consideração é a utilização de troncos de árvores no recinto para animais arborícolas, plantas artificiais para enriquecimento ambiental, instalação permanente de local para água fresca, bem como também o tipo de substrato no recinto o qual deverá estar de acordo com o que o animal encontraria em ambiente natural. Um substrato ideal é aquele que é barato, de fácil higienização, que possui uma boa estética, é absorvente e que seja digerível caso consumido pelo animal. Podendo assim ser utilizado folhas de revista ou outro tipo de papel o qual não seja jornal, pois a presença de chumbo na tinta impressa nos jornais brasileiros poderá ser tóxica aos animais, areia para filtro de piscina após ser bem lavada no caso de animais de deserto, raspas de coco ou vermiculita para animais tropicais já que tais itens conseguem ter uma absorção adequada conseguindo manter a umidade no recinto, folhas secas de árvores e nunca de forma alguma utilizar areia para gato pois quando esta se encontra úmida tende a formar grumos e o animal ao se alimentar poderá ingeri-la acarretando compactações graves no trato gastrintestinal levando o animal à óbito (Barten, 1996; Molina & Lightfoot, 2001; Molina et al., 2001).
FIGURA 05: Representação esquemática dos itens essenciais para a manutenção de répteis em cativeiro.
A-Recinto de vidro ou plástico;B-Aquecimento e Iluminação;C-Radiações ultra-violetas; D-Timer; E-Vegetação artificial; F-Caixa; G- Recipiente para água; H-Galhos; I-Substrato; J-Placa de Aquecimento.
Fonte: http://thereptileking.blogspot.com/
ALIMENTAÇÃO
	A seguir encontra-se uma tabela resumida com os itens alimentares necessários para a manutenção correta dos diferentes grupos de répteis.
	Grupo de répteis 
	Alimentos 
	Intervalo entre refeições 
	Répteis Insetívoros
	Tenébrios, grilos, baratas, larvas. Suplementar com cálcio (carbonato de cálcio).
	Todos os dias
	Répteis onívoros
	50% proteína de alta qualidade (minhocas, tenébrios, grilos), 50% plantas (75% vegetais e 25% frutas).
	Todos os dias
	Répteis herbívoros
	90% Verduras e legumes, 8% frutas, 2% proteína animal e cálcio (misturando tudo)
	Todos os dias
	Cágados
	Carne e peixe crus, crustáceos, moluscos, minhocas, tenébrios, grilos, baratas, roedores, ovo cru, ração felina ou canina, frutas e verduras, flor de hibisco. 
	2 a 3 X semana 
	Lagartos carnívoros, Quelônios carnívoros 
	Roedores, peixes, tenébrios, grilos, moscas, baratas, minhocas, ração felina ou canina, ovo cozido 
	2 a 3 X semana
	Serpentes 
	Roedores, aves, baratas, tenébrios, grilos, peixes, moluscos
	Semanalmente, quinzenalmente, mensalmente (depende do porte do animal) 
	Crocodilianos 
	Peixe, frango, roedores, coelhos, carne bovina suplementada com cálcio.
	1x semana (7% do peso vivo) 
Deve-se encontrar um equilíbrio na quantidade de alimento fornecido e a sua freqüência evitando o consumo excessivo que pode acarretar em um crescimento acelerado, em deformações na carapaça de filhotes e obesidade nos adultos. Quantidades insuficientes de alimentos provocam retardo no crescimento, enfraquecimento, raquitismo e outras doenças nutricionais. 
	Para alguns cágados são muito utilizados os camarões desidratados, denominados de gammarus, sendo uma boa fonte de proteína e fósforo, mas são grandemente deficientes em outros nutrientes essenciais, portanto a dieta não deve ser baseada somente nesse item, mas sim uma gama de diversos outros itens incluindo tal camarão. 
CONTENÇÃO FÍSICA
A contenção é o momento de maior estresse na vida de um animal silvestre podendo acarretar reações potencialmente fatais. O óbito decorrente da contenção pode ser dividido em: superagudo (durante a realização da contenção), agudo ou mediato (até uma hora após a contenção) e o tardio (de horas a dias após a contenção) (Lange, 2004).
Desta forma antes da contenção propriamente dita deverá ser identificada qual ou quais as defesas do animal, para se reduzir assim o risco de injúrias ao operador, identificar também o comportamento, o hábito e o grau de vulnerabilidade ao estresse do animal. E associado a isso tudo o operador necessitará de um pleno domínio do uso das técnicas e equipamentos a serem empregados e um planejamento criterioso da manobra de contenção, priorizando sua rapidez e eficiência (Lange, 2004; Mitchell, 2009).
No caso das serpentes poderão ser utilizados ganchos especiais (FIGURA 06), luvas de couro, tubos acrílicos transparentes de diferentes diâmetros e comprimentos conforme o porte do animal (FIGURA 07), sacos de pano para pesagem e o laço de Lutz (FIGURA 08). Nunca se deve trabalhar sozinho ao manejar as serpentes sempre requisitando outra pessoa para auxílio. Pode-se apoiar com o gancho em uma área imediatamente após a cabeça do animal pressionando-a contra o chão para então se aproximar com as mãos e pegar na cabeça, e com a outra mão deve-se sustentar o corpo sempre o mais esticado possível para evitar que o mesmo se enrole no braço. Nunca segurar a serpente apenas pela cabeça devido à existência de apenas um côndilo no osso occipital, como já mencionado (Francisco et al., 2001; Kolenikovas et al., 2006; Mitchell, 2009).
Para os quelônios o uso de luvas de procedimento dependendo do tamanho do animal já é o suficiente para evitar contaminação, para os maiores poderá ser utilizado caixas que servirão também para a pesagem do mesmo. Efetuando-se a contenção pela porção caudal ou lateral da carapaça, pois estes animais podem morder e arranhar com as unhas (Werther, 2004).
Os lagartos quando de pequeno porte poderão ser manipulados com luvas de procedimento ou para uma maior proteção com luvas de couro, lembrando que ao mesmo tempo em que elas amenizam no caso de mordidas as mesmas retiram um pouco da sensibilidade do manipulador. Como esses animais apresentam dentição bem desenvolvida e forte musculatura mandibular a contenção visa inicialmente segurar a cabeça e também a mandíbula, lembrando que nunca se deve segurar apenas pela cabeça, pois o animal poderá realizar movimentos bruscos acarretando na ruptura da medula, já que tais animais apresentam apenas um côndilo occipital. Depois de imobilizar a cabeçacom os dedos polegar e indicador, dependendo do porte do animal, o tórax poderá ser envolvido com o restante da mão. Os membros torácicos (anteriores) deverão ser virados para trás lateralmente rentes ao corpo. E com a outra mão do manipulador os membros pélvicos (posteriores) são fixados e da mesma forma são virados para trás paralelos ao corpo. Conforme o maior porte do animal a cauda poderá representar um perigo devido à sua grande força muscular, assim sendo faz-se necessário a intervenção de outra pessoa para imobilizá-la, nunca segurando somente pela cauda, pois esta poderá se romper (Werther, 2004; Goulart, 2006; Nevarez, 2009).
E por fim, para os crocodilianos o uso muitas vezes de cambão, cordas, redes se fazem necessários devido à agressividade e força do animal. Após efetuação desse processo é colocado um pano úmido sobre os olhos do animal para que assim ele se acalme e não consiga fixar o olhar num alvo. Pressiona-se então a cabeça contra o solo por trás para que a boca fique fechada e então é passado ao redor da mesma bandagens ou fitas adesivas impedindo que o animal abra a cavidade oral, e por fim cordas são amarradas ao redor dos membros torácicos e pélvicos para impedir a rotação do animal. Tomando sempre cuidado com a cauda que é muito forte e poderá ocasionar graves lesões se for negligenciada no momento da contenção (Bassetti, 2006; Nevarez, 2009).
FIGURA 06: Contenção física de cascavel (Crotalus durissus) utilizando gancho apropriado para imobilizar a região posterior da cabeça do animal.
Fonte: Lange, R.R. (Material didático)
FIGURA 07: Contenção física de cascavel (Crotalus durissus) utilizando tubo acrílico transparente.
Fonte: Lange, R.R. (Material Didático)
FIGURA 08: Contenção física de cascavel (Crotalus durissus) utilizando o laço de Lutz para imobilizar a cabeça do animal.
Fonte: Kolenikovas C.K.M., Grego K.F. & Albuquerque L.C.R 2006. Ordem Squamata – Subordem Ophidia (Serpente), p.68-85. In: Cubas Z.S., Silva J.C.R. & Catão-Dias J.L. Tratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária. Editora Roca, São Paulo
CONTENÇÃO QUÍMICA
Na contenção química, diferentes drogas e equipamentos para aplicação são utilizados, porém, alguns requisitos são especialmente importantes para os animais silvestres. Uma boa droga deve permitir o uso intramuscular, devendo ter uma grande margem de segurança, o menor período de indução e apresentar um pequeno volume a ser injetado. Isso tudo para permitir o uso de métodos de aplicação à distância, como os dardos, através de rifles, pistolas (pólvora ou ar comprimido) e zarabatanas, quando a massa corpórea do paciente é desconhecida devendo então ser estimada. Sempre tendo como objetivos a imobilização, analgesia e relaxamento muscular suficiente do animal para a efetuação do procedimento a ser executado (Lange, 2004).
Normalmente os répteis apresentam uma recuperação prolongada, podendo chegar a vários dias após a contenção química, dependendo da dose e da droga utilizada, devido à baixa taxa metabólica. Por isso, deve ser dada preferência àqueles anestésicos que proporcionem recuperação rápida e tranqüila.
SEMIOLOGIA
	A semiologia ou também denominada de propedêutica é caracterizada como uma parte da Medicina Veterinária que estuda os sinais ou sintomas dos animais. Por meio de diversas técnicas essas informações são obtidas, e assim torna-se possível chegar a um diagnóstico, prognóstico (evolução da doença) e provável tratamento a ser utilizado em prol da sanidade do animal (Werther, 2004).
	Considerando a sensibilidade do animal perante o estresse da manipulação, da contenção e dos riscos de acidentes, logo, deve-se trabalhar com organização, agilidade e definir previamente os objetivos ao começar o exame clínico. 
	O exame semiológico se inicia com a anamnese (perguntas ao proprietário referentes ao paciente), passando pela inspeção do recinto, inspeção do animal, primeiramente à distância para avaliar seu comportamento e depois estando sob contenção física para sua avaliação rigorosa e pesagem, e por fim, técnicas de palpação, exames complementares como radiografias, endoscopias, exames de fezes, de sangue, biópsia aspirativa entre outros podem ser realizados,
	
COLHEITA DE SANGUE
É de grande valia o estabelecimento de valores de referência para a hematologia e bioquímica clínica de répteis. Contudo cabe salientar que os valores podem sofrem alterações conforme a região aonde o animal se encontra, conforme a idade, o sexo, a temperatura, a estação reprodutiva e até mesmo de locais diferentes de punção (O’Malley, 2005; Almonsny & Monteiro, 2006). Por isso a implantação de bancos de dados de valores sanguíneos para cada região geográfica ou outras especificações pode possibilitar comparações mais fidedignas auxiliando assim ao clínico discernir entre o normal e o anormal (Lange, 2004; Werther, 2004).
A efetuação da colheita de amostra sanguínea poderá ser efetuada sob dois aspectos, estando o animal sob contenção física ou química, o que irá depender de seu porte, da segurança e da integridade física tanto do paciente quando do manipulador.
	No caso dos répteis a irrigação prévia da área a ser puncionada com água aquecida ou mesmo o aquecimento ambiental, caso possível, podem facilitar no êxito da colheita de sangue. Entretanto a retirada de amostra sanguínea nesses animais é muito mais laboriosa do que em mamíferos, devido à rápida coagulação sanguínea (Werther, 2004).
Para avaliações hematológicas, o sangue deve ser coletado em frasco com anticoagulante. Embora seja o EDTA o anticoagulante preferido para exames hematológicos, essa substância costuma causar hemólise em répteis, especialmente nos quelônios (Campbell, 2004). Assim tanto a seringa quanto a agulha devem estar previamente com heparina. Não é realizado garrote e os vasos não são visíveis, necessitando assim saber corretamente os locais anatômicos adequados para a punção (Werther, 2004). Todas as hemácias são nucleadas e ao invés das células brancas (células de defesa) serem denominadas de neutrófilos, no caso dos répteis elas são chamadas de heterófilos. Além dessas existem também os eosinófilos, linfócitos, basófilos e monócitos. Somente para as iguanas e algumas espécies de serpentes existem os azurófilos que possuem a mesma função dos monócitos, de onde derivam (O’Malley, 2005).
- Quanto colher? 
Considerando que o volume total de sangue de um réptil é da ordem de 5% a 8% de sua massa corpórea e que desse total existente podemos retirar até 10% sem prejuízos importantes, portanto poderemos colher seguramente, em animais sadios, uma amostra de 0,5% a 0,8% da massa do animal. No caso de animais enfermos o bom senso deve estar presente para decidir se realmente é de valia retirar uma amostra e quando o fizer coletar o mínimo necessário para a efetuação de exames (Werther, 2004; O’Malley, 2005).
Porém colher uma gota de sangue para efetuação de esfregaços sanguíneos é de suma importância no intuito de avaliar a morfologia celular, hemoparasitas, dentre outras alterações (Werther, 2004).
- Qual melhor acesso?
Amostras de sangue para a hematologia e a bioquímica sérica podem ser coletadas por vários métodos, e a escolha depende de peculiaridades das espécies, volume de sangue necessário, tamanho do animal, condição física do paciente e a preferência do coletor (Hawkey & Dennet, 1989).
A seguir são apresentados os acessos mais utilizados para a coleta de amostra sanguínea nas diferentes ordens da classe Reptilia:
• Serpentes( Veias Jugulares, caudal (coccígea) ventral (FIGURA 09), periorbitais, pterigo-palatinas, intervertebral dorsal, cardiocentese (somente para grandes serpentes).
• Quelônios( Veias Jugulares (FIGURA 10), seios pós-occipitais (supravertebrais), caudal (coccígea) dorsal, subcarapacial.
• Lagartos (Veias caudal (coccígea) ventral, abdominal ventral, Jugular.
•Crocodilianos (Veia caudal (coccígea) ventral, seios pós-occipitais (supravertebrais) (FIGURA 11).
FIGURA 09: Colheitade sangue a partir da Veia Caudal Ventral em Exemplar da Ordem Ophidia.
Fonte: http://ipevs.org.br/blog/?tag=uenp
FIGURA 10: Colheita de sangue da Veia Jugular Direita em jabuti.
Fonte: http://www.britishcheloniagroup.org.uk/vetscorner/stasis.htm
FIGURA 11: Colheita de sangue a partir do seio pós-occipital em exemplar da Ordem Crocodylia.
Fonte: Pachaly, J. R. (Material Didático)
Salienta-se que a contenção física do animal gera estresse e isso comumente eleva o número de heterófilos e a glicemia, e diminui o número de linfócitos. Na contenção química também poderão ocorrer algumas modificações em certos elementos do sangue. Muitos tranqüilizantes e anestésicos gerais promovem relaxamento esplênico, por efeito antiadrenérgico, causando um seqüestro de eritrócitos e conseqüentemente, do volume globular. Assim, um animal sadio poderá transparecer estar anêmico nesses casos (Almosny & Monteiro, 2006).
VIAS DE ACESSO PARA ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS
Os medicamentos podem ser administrados por via oral, intravenosa, subcutânea (FIGURA 11), intramuscular, intracelomática ou intraóssea. De forma geral a via intravenosa é canulada nos mesmos locais já descritos anteriormente para a colheita de sangue nos diferentes grupos de répteis. Para a via intramuscular poderão ser utilizados os músculos dos membros pélvicos dos animais para pequenos volumes, e os músculos peitorais para grandes volumes. A via intracelomática é realizada administrando os medicamentos na parte posterior ventral do animal, por exemplo, no caso de lagartos faz-se a injeção no quadrante lateral direito caudal. Sempre aspirando gentilmente a seringa quando injetada no local com o intuito de descartar eventuais perfurações de órgãos. Para os quelônios as injeções intracelomáticas são realizadas na área de junção entre pele e casco, imediatamente cranial aos membros pélvicos (FIGURA 12). Para a via intraóssea poderão ser utilizados os acessos em tíbia proximal, úmero e fêmur, com prévia assepsia e anestesia do local a ser canulado (Navarre, 2006).
FIGURA 11: Administração de medicamento utilizando a via subcutânea em um exemplar da Ordem Chelonia.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
FIGURA 12: Administração de medicamento utilizando a via intracelomática em um exemplar da Ordem Chelonia.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
FATORES PREDISPONENTES A DOENÇAS INFECCIOSAS 
• Temperatura ambiente ( Freqüentemente entre 25º a 30º; não devendo ser constante em todo o ambiente, apresentando uma variação espacial e temporal que permita opção por parte do animal.
• Fotoperíodo ( Varia conforme a espécie. Quando se encontra inadequado acarreta alterações metabólicas.
• Estresse ( Adequar o ambiente às necessidades da espécie provendo assim conforto biológico. Condições sub-ótimas de manutenção em cativeiro acarretam depressão do sistema imunológico.
• Poluição do recinto ( Água, substrato, calor e umidade favorecem a proliferação de microorganismos.
•Traumatismos( Muitas vezes ocorrem por tentativas de fuga e contenções físicas incorretas; lacerações e hematomas também podem estar presentes.
Ressalta-se que a grande maioria das enfermidades e de óbitos em répteis de cativeiro são decorrentes de um manejo incorreto, englobando os aspectos de luminosidade, temperatura, alimentação e umidade.
PRINCIPAIS ENFERMIDADES ENCONTRADAS
	A seguir serão apresentadas algumas das doenças mais comumente observadas em répteis tanto os de cativeiro doméstico como os de zoológicos. Salientando-se que muitas outras enfermidades se encontram descritas e são passíveis de ocorrência nesses animais, mas não serão citadas devido à sua baixa casuística nacional.
- ORDEM CHELONIA
	Os representantes desta ordem mais comuns em cativeiro são: os cágados das espécies Trachemys sp. (tigre-d’-água), Hydromedusa sp. (cágado-pescoço-de-cobra), Phrynops sp. (cágado-de-barbicha), Podocnemis sp. (tartaruga-da-amazônia e tracajá) e os jabutis da espécie Geochelone sp.
a) Dermatites
As Infecções superficiais, tanto de bactérias como de fungos, em carapaça e plastrão são freqüentes e normalmente estão associadas ao manejo e condições ambientais incorretos. Podendo ocorrer descoloração e desprendimento das placas córneas do casco. Procede-se como forma de tratamento o debridamento dos tecidos necrosados e a retirada das placas córneas soltas, aplicação de anti-sépticos como iodopovidona (PVPI tópico), nitrofurazona e creme com antibiótico e antifúngico. Administração de antibiótico sistêmico e tratamento de suporte devem ser instituídos nos casos graves. Aliado a tudo isso deverão ser corrigidas as eventuais falhas de manejo como piso abrasivo, umidade excessiva, temperatura desconfortável, má nutrição e estresse.
b) Pneumonia
Pode ser dividida em primária e secundária a outras doenças concomitantes ou mesmo à imunodeficiência do animal. Nas pneumonias as bactérias gram-negativas são os agentes mais comuns por conta de serem habitantes normais do trato respiratório desses animais, seguido dos vírus, fungos e parasitas. Em muitos casos os sinais clínicos apenas são percebidos quando a doença se encontra em um nível avançado sendo o prognóstico desfavorável. Entre os sinais incluem-se apatia, letargia, mucosas cianóticas (azuladas), dispnéia, respiração com a boca aberta, cabeça e pescoço distendidos, secreção nasal e perda de equilíbrio na água em cágados. Como forma diagnóstica o uso da radiografia é bastante válido e lavados traqueobronquiais poderão ser efetuados com o intuito de identificação do agente infeccioso. O tratamento consiste na administração prolongada de antibióticos, principalmente contra agentes gram-negativos, associado a um tratamento de suporte, como temperatura ambiental adequada, fluidoterapia e alimentação por sonda gástrica, caso necessário (Molina et al., 2001; Cubas & Baptistotte, 2006).
c) Salmonelose
Tem-se sugerido que grande parte dos répteis, senão todos são portadores assintomáticos de Salmonella sp., mas isso apenas tende a ocorrer para animais em cativeiro porque os de vida livre até então examinados não apresentaram tal bactéria em sua flora normal. Sugerindo-se que o isolamento deste agente está relacionado com as condições de manejo impostas aos animais. Devido ao seu potencial zoonótico, ou seja, de transmissão aos seres humanos preconiza-se a adoção de medidas de higiene como forma de profilaxia (Kirchgessner & Mitchell, 2009).
d) Distocia
Está dividida em obstrutiva e não obstrutiva. A primeira resulta de alguma alteração anatômica que impeça a saída dos ovos do sistema reprodutor e também da cloaca. Já a não obstrutiva ocorre por manejo inadequado para com os animais. Por exemplo, a ausência de local próprio para postura, temperatura ambiental inadequada, desnutrição, desidratação e sedentarismo da fêmea que pode vir a prejudicar o tônus muscular do oviduto. Como sinais clínicos da distocia a fêmea poderá apresentar anorexia, letargia, apatia, inquietação, comportamento de cavar o ninho, edema e paralisia de membros pélvicos. Para o diagnóstico é imprescindível a efetuação de exame radiográfico aonde serão contabilizados o número de ovos e o seu aspecto, ou seja, presença de casca delgada ou grossa (FIGURAS 13 e 14). O tratamento para os casos não obstrutivos é o aquecimento do animal e a aplicação de gluconato de cálcio com dextrose 5% inicialmente por via intramuscular, caso não haja resultado aplica-se ocitocina, mas com extrema cautela. Já para os casos obstrutivos o procedimento é cirúrgico com efetuação de cesariana ou ovariohisterectomia, se necessário (Molina et al., 2001; Lange, 2004; Cubas & Baptistotte, 2006).
FIGURA 13: Radiografia dorso-ventral em exemplar da Ordem Chelonia evidenciando a presença de quatro ovos no sistema reprodutor.
Fonte:www.rarerehab.org
FIGURA 14: Radiografia látero-lateral em exemplar da Ordem Chelonia evidenciando a presença ovosno sistema reprodutor.
Fonte: http://www.testudines.org/
e) Prolapso de pênis ou Parafimose
Traumas penianos, separação forçada durante a cópula, infecção peniana, deficiência muscular ou neurológica do músculo retrator do pênis ou em esfíncter cloacal, impactação da cloaca por uratos e tenesmo são as causas mais comuns para a ocorrência desta enfermidade. Para prolapsos recentes recomenda-se um tratamento conservador que consiste na limpeza, aplicação de compressas frias para reduzir o edema, lubrificação e reposição do pênis para dentro da cloaca novamente, com posterior sutura em bolsa de tabaco para evitar reincidências, a qual deverá permanecer até que o pênis tenha retornado ao seu tamanho normal. Mas quando já existem sinais de necrose no órgão prolapsado o tratamento deve se consistir em cirurgia de amputação (penectomia) (Lange, 2004; Cubas & Baptistotte, 2006).
f) Prolapso de cólon
Tal enfermidade pode ser resultante de uma constipação, tenesmo, diarréia, cálculo cístico, enterite bacteriana ou parasitária. Em casos ocorridos recentemente existindo ainda a vitalidade do órgão poderá ser efetuado uma lubrificação, massagem com aplicação de solução hipersaturada de açúcar nos casos de edema, e a reversão do segmento com aplicação da sutura em bolsa de tabaco. Mas em casos em que já existe necrose do cólon a cirurgia de ressecção é o único procedimento preconizado. 
g) Prolapso de oviduto
Geralmente ocasionado por distocia e tenesmo. Como forma de tratamento segue-se o mesmo protocolo descrito para o prolapso de cólon.
h) Prolapso de bexiga urinária
Decorre da presença de cistite ou cálculo cístico. Como forma de tratamento segue-se o mesmo protocolo descrito para o prolapso de cólon.
i) Hipovitaminose A
É ocasionada por alimentações inadequadas em cativeiro levando a uma metaplasia escamosa (degeneração dos epitélios) e hiperqueratose dos epitélios, principalmente respiratório e ocular. Os sinais são os mais diversos e dentre eles cita-se a presença de anorexia, conjuntivite, blefaroedema (inchaço das pálpebras) (FIGURA 15), blefarite (inflamação das pálpebras), doenças do trato respiratório, abscessos aurais (ouvido) (FIGURA 16) e ressecamento dos olhos pela falta de produção de muco. O diagnóstico deve se basear na anamnese, para se ter conhecimento da dieta oferecida ao animal, bem como nos sinais clínicos e na resposta ao tratamento instituído. Esse tratamento deve se basear na aplicação intramuscular semanal de vitamina A injetável, durante duas a três semanas. E estando aliada a uma melhora na dieta animal, oferecendo itens ricos em vitamina A como folhas verdes escuras, cenoura, mamão, ou outras frutas vermelhas ou laranjas, por apresentarem beta-caroteno, que é o precursor dessa vitamina. Ressalta-se também a importância de que altas doses de vitamina A são tóxicas a esses animais, ocasionando uma hipervitaminose iatrogênica (erro médico), e tendo como sinais o desprendimento de escamas nos membros e pescoço, eritema (pele avermelhada) e vesículas (Molina et al., 2001; Cubas & Baptistotte, 2006; Kirchgessner & Mitchell, 2009).
FIGURA 15: Indivíduo da espécie Trachemys scripta elegans (tigre-d’-água-exótico) apresentando edema de pálpebra bilateral (blefaroedema) em decorrência da Hipovitaminose A.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
FIGURA 16: Presença de abscesso aural em indívíduo da espécie Trachemys scripta elegans (tigre-d’-água-exótico) em decorrência da Hipovitaminose A.
Fonte:http://www.irishveterinaryjournal.com/Links/PDFs/
j) Gota úrica
Ocasionado pelo acúmulo de ácido úrico livre ou de sais de urato na circulação sanguínea (hiperuricemia) com deposição em órgãos internos ou nas articulações. Apresentando como causas o consumo exacerbado de proteínas, consumo insuficiente de água e doenças renais que reduzam a capacidade filtrativa dos túbulos renais, em decorrência, por exemplo, de drogas nedrotóxicas como os aminoglicosídeos, as sulfonamidas e a furosemida. Existem dois tipos de gota úrica: a gota úrica visceral e a articular. No primeiro caso os precipitados insolúveis de aspecto branco se depositam em órgãos como coração, fígado, rins, baço e pulmões, e já no segundo caso ocorre a deposição no líquido sinovial presente em algumas articulações. Portanto os sinais clínicos irão variar conforme o órgão atingido, mas no geral os animais apresentam anorexia, apatia, constipação e relutância em andar por conta da dor articular. A forma de diagnóstico se baseia na anamnese e no exame clínico, sendo auxiliado por radiografias. E como tratamento efetua-se a hidratação do paciente, a aplicação de fámacos anti-hiperuricêmicos, como alopurinol e probenecid (não usar em animais desidratados) e o estabelecimento de uma dieta correta. Entretanto uma vez instalada a gota úrica raramente os cristais serão reabsorvidos, assim o tratamento visa à prevenção de futuras deposições desses sais de urato e ácido úrico (Molina et al., 2001; Cubas & Baptistotte, 2006; Kirchgessner & Mitchell, 2009).
k) Doença ósseo-metabólica
Comumente decorre do consumo insuficiente de cálcio, desequilíbrio nos níveis de cálcio e fósforo que deve ser de 2:1, deficiência de vitamina D e falta de exposição à radiação UVB, podendo ser fatores isolados ou em conjunto. Devido à presença de cálcio nos ossos e no casco este mineral é lentamente retirado para ir ao sangue com o intuito de suprir as necessidades fisiológicas, assim sendo tal enfermidade pode levar meses a anos para manifestar os sinais clínicos justamente por essa reserva orgânica. Como sinais têm-se deformações na carapaça (FIGURA 17), crescimento excessivo das unhas e dos escudos epidermais em formato piramidal, amolecimento do casco, peso e tamanho inferior ao normal para a idade, descalcificação óssea e fraturas patológicas. Como diagnóstico o exame radiográfico poderá indicar uma diminuição da opacidade óssea. O tratamento consiste na correção da dieta, fornecimento de cálcio, vitamina D e exposição à radiação UVB. Este fornecimento de cálcio poderá ser feito sob a forma de injeção intramuscular ou intracelomática de gluconato de cálcio apenas em casos de animais sob condições críticas (Molina et al., 2001; Cubas & Baptistotte, 2006; Kirchgessner & Mitchell, 2009).
FIGURA 17: Crescimento anormal de casco em exemplar da Ordem Chelonia em decorrência de excesso de fósforo e deficiência de cálcio em sua dieta.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
l) Fraturas de casco
Freqüentemente ocasionadas por atropelamento, mordidas de animais domésticos ou quedas de alturas significativas. Podendo atingir a carapaça (FIGURA 18), o plastrão e as pontes, ou até mesmo as três estruturas em conjunto. Devem ser consideradas e tratadas como feridas abertas, devido à contaminação bacteriana secundária, ao menos que a intervenção clínica tenha ocorrido até seis horas após o incidente traumático. Existem vários métodos para o reparo desse casco, podendo-se utilizar placas ortopédicas, cerclagens (sutura com fio de aço inoxidável), parafusos, resina epóxi (FIGURA 19), entre outros. Esta última quando aplicada gera uma reação que fornece calor, portanto deve-se atentar para promover o esfriamento da mesma no intuito de não se produzir outras complicações no animal. Como tratamento inicial deve-se proceder no debridamento e lavagem com solução fisiológica 0,9% da área afetada para a retirada de eventuais células mortas, aplicação antimicrobiana tópica para então realizar a coaptação das partes fraturadas (Kirchgessner & Mitchell, 2009). A estabilização correta é fundamental para promover a formação de uma adequada consolidação óssea, a qual poderá levar até anos para sua total cicatrização dependendo da extensão da lesão (Molina et al., 2001).
FIGURA 18: Indivíduo da espécie Geochelone sp. apresentando traumatismo em carapaça com exposição de parte óssea.
Fonte: www.jamvet.com.br/downloads/.../doencasmedicinarepteis.pptFIGURA 19: Indivíduo da espécie Geochelone sp. após a efetuação dos procedimentos de reparo de carapaça com aplicação de resina epóxi.
Fonte: www.jamvet.com.br/downloads/.../doencasmedicinarepteis.ppt
m) Doença cutânea ulcerativa sistêmica
É ocasionada pela bactéria gram-negativa Citrobacter freundii. Acometendo principalmente os quelônios de água doce sendo altamente contagiosa. Os sinais característicos são as hemorragias e ulcerações cutâneas, anorexia, letargia, perda de unhas e dígitos. O tratamento consiste na aplicação de PVPI tópico nas lesões, administração de antibióticos sistêmicos como o cloranfenicol, melhoria na qualidade da água aonde se encontra o animal e um suporte nutricional. Caso os animais acometidos não sejam tratados a mortalidade poderá chegar a 100% dos casos (Molina et al., 2001; Lange, 2004).
- ORDEM SQUAMATA
	-- Subordem Ophidia
Os representantes mais comuns em cativeiro da Subordem Ophidia são da Família Boidae (sucuris, jibóias, salamantas), Colubridae (falsas corais, cornsnakes, milksnakes), Viperidae (cascavel, surucucus, jararacacas), Elapidae (corais verdadeiras) e Pitonidae (pítons) as quais são exóticas à nossa fauna.
a) Doenças bacterianas
Existe uma predominância de agentes gram-negativos em todos os répteis por serem constituintes da flora bacteriana normal, como já mencionado, mas quando ocorre um desequílibio uma proliferação exacerbada dessas bactérias é observada. Nas serpentes os agentes mais presentes são: Aeromonas hydrophila, Pseudomonas sp., Proteus spp., Salmonella spp., Citrobacter spp., Escherichia coli, entre outras. Eventualmente podem ser isolados alguns agentes gram-positvos, como Sreptococcus sp. e Staphylococcus sp., mas são raros os casos. A manifestação clínica ocorre nos mais diferentes sistemas do organismo, podendo ser observadas estomatites (inflamação na cavidade oral), glossites (inflamação em língua), gastrenterites, pneumonias, abscessos cutâneos e oftálmicos, ooforite (inflamação de um ou ambos os ovários), pneumonia e até septicemia (infecção sistêmica). Também poderá ocorrer a formação de bolhas em tecido subcutâneo, também denominada de “blister disease”, em alguns animais. Como diagnóstico utilizam-se as técnicas microbiológicas para o isolamento e identificação do agente. Durante o tratamento com antibióticos o animal deve ser mantido em temperatura controlada, entre 25 a 28 C possibilitando assim uma boa absorção e metabolização do medicamento, além de uma melhor resposta imune. Como medida preventiva preconiza-se os itens básicos para manutenção correta do animal em cativeiro, como temperatura, umidade, alimentação correta e iluminação (Kolenikovas et al., 2006; Mitchell, 2009).
b) Doenças fúngicas
São infecções normalmente secundárias às infecções bacterianas ou a fatores que desencadeiem uma queda no sistema imune, como estresse, manejo incorreto, má alimentação e uso prolongado de antibióticos. Prevalecendo comumente as micoses superficiais que apresentam como agentes os fungos saprófitas, ou seja, aqueles encontrados no solo ou em plantas, como por exemplo, o Aspergillus sp., Fusarium sp., Trichophyton sp., dentre outros. Como tratamento o uso concomitante de antifúngicos tópicos e sistêmicos, e antibióticos caso necessário, é preconizado (Kolenikovas et al., 2006).
c) Doenças virais
Infelizmente na maioria dos casos o agente viral é somente identificado após a morte do animal, quando da realização de exames anátomo-patológicos, por ser de difícil diagnóstico em animais vivos. Dentre os diversos tipos virais existentes já foram isolados o herpesvírus ocasionando necrose hepática e pancreática, o adenovírus causando sinais neurológicos e regurgitação de alimentos, e o paramixovírus sendo um agente causador de importante enfermidade em algumas serpentes e apresentando elevado índice de mortalidade, tendo como sinais a dificuldade respiratória, ausência ou diminuição do apetite (anorexia), opistótomo (cabeça voltada para trás) e alteração da propriocepção (percepção do posicionamento do próprio corpo). Como ainda não se dispõe de medicamentos eficazes no combate a agentes virais deve-se então utilizar tratamentos paliativos que incluam antibióticos para bactérias oportunistas, suplementação alimentar, fluidoterapia, aquecimento e umidade adequados, para que em conjunto atuem na melhoria do sistema imune do animal em prol do combate ao agente (Francisco et al., 2001; Kolenikovas et al., 2006).
d) Ectoparasitas
Normalmente o que se observa é a presença de ácaros denominados de “piolhos de cobra” (Ophyonissus natricis) os quais são hematófagos e em casos de graves infestações podem levar a disecdises (alteração na troca de pele), anemia e debilidade do animal, além também de servirem como vetores para a bactéria Aeromonas hydrophila. Os carrapatos são também muito comuns, principalmente o Amblyomma rotundatum, podendo ocasionar danos à pele, anemia e transmissão de hemoparasitas. Estes são freqüentemente encontrados ao redor dos olhos e da cavidade oral. Como forma de tratamento pode-se utilizar aplicação de ivermectina, permetrinas ou piretrinas tópicas e a aspersão de fipronil, em pouca quantidade, e deixando o animal em local bem arejado pós-aplicação para a não intoxicação, já que o veículo deste produto é alcoólico (Francisco et al., 2001; Kolenikovas et al., 2006; Mitchell , 2009).
e) Endoparasitas
Dentre os protozoários mais encontrados nas serpentes cita-se a Entamoeba invadens e o Cryptosporidium serpentis, acarretando processos inflamatórios em estômago e intestino. O animal contaminado apresentará sinais de regurgitação, anorexia, apatia, perda de peso e diarréia. Salienta-se que os protozoários de forma geral são encontrados em animais sadios fazendo parte da flora normal, mas quando ocorre imunossupressão por diversos motivos esses parasitas se tornam patogênicos. Como tratamento pode-se utilizar o metronidazol e dimetridazol associado a um tratamento paliativo, porém a mortalidade é alta. Freqüentemente as serpentes são acometidas também pelas coccidioses como as do gênero Isospora sp., Eimeria spp. e Caryospora spp. as quais infectam primariamente o epitélio intestinal e biliar. A forma de diagnóstico se baseia em exames de fezes e o tratamento preconizado é o uso de sulfonamidas aliada a fluidoterapia. Existem também os pentastomídeos, artrópodos primitivos, que quando adultos habitam o sistema respiratório das serpentes, apresentando como tratamento a administração de fembendazol ou ivermectina, tendo o cuidado e a ressalva que em certos casos graves de infestações poderá ocorrer a obstrução da traquéia após a aplicação do medicamento levando a uma asfixia da serpente. Os trematódeos, cestódeos e nematódeos quando acometem esses animais, fato esse não muito comum, muitas vezes acarretam sinais clínicos inespecíficos. E a forma de diagnóstico se baseia em exames coproparasitológicos pelo método direto, de flutuação e sedimentação (Kolenikovas et al., 2006; Mitchell , 2009).
f) Traumatismos
Tendem a ocorrer abrasões em cavidade oral, mordidas por roedores que não foram ingeridos no recinto e lacerações quando do momento da contenção física. Quando acometem a cavidade oral podem vir a desenvolver estomatites (FIGURA 20) apresentando como sinais característicos petéquias (pequenos pontos avermelhados), exsudação, ulceração, eritema (avermelhamento da pele), esfoliação dentária e até necrose em alguns locais, caso a enfermidade não seja tratada adequadamente pode vir a acarretar em infecções bacterianas secundárias. Essa infecção pode ainda se propagar para órgãos internos levando o animal a uma septicemia e óbito. Devendo assim proceder em uma limpeza da ferida com água oxigenada a 3% de PVPI, debridação e remoção de eventuais crostas, com aplicação de pomadas antibióticas e até mesmo antibiótico sistêmico, por exemplo amicacina ou gentamicina, se necessário devido à extensão e profundidade das lesões (Francisco et al., 2001; Lange, 2004; Kolenikovaset al., 2006).
FIGURA 20: Exemplar da subordem Ophidia apresentando exsudatos caseosos, inflamação, eritema e ulcerações em cavidade oral, sinais características de estomatite.
Fonte: http://www.snakegetters.com/demo/vet/
g) Disecdise
A troca normal de pele (ecdise) ocorre periodicamente sendo controlado pelo sistema endócrino (tiroxina). E a capa superficial da córnea nas serpentes também é trocada. Nesse período o animal geralmente não se alimenta, ficando mais apático e normalmente dentro da água. Um dos sinais para caracterizar que o animal em poucos dias entrará em ecdise é a presença de opacidade bilateral dos olhos (FIGURA 21), devendo então ser diferenciada de eventuais doenças oftálmicas. Já a disecdise é caracterizada como sendo a retenção da muda de pele (FIGURA 22), que geralmente está associada à desidratação, infecções, ectoparasitas, presença de lesões, baixa temperatura e umidade do recinto, bem como também à ausência de substratos abrasivos para a serpente poder remover sua pele. Para o tratamento deve-se hidratar o animal e corrigir a umidade do ambiente, e caso necessário fazer banhos de imersão em água morna com glicerina para remover de forma cuidadosa a pele antiga aderida. Sempre dando atenção aos olhos e cauda que também podem ter a pele retida (Lange, 2004; Kolenikovas et al., 2006).
FIGURA 21: Indivíduo da subordem Ophidia apresentando opacidade ocular fisiológica e característica de início de ecdise.
Fonte: www.jamvet.com.br/downloads/.../doencasmedicinarepteis.ppt
FIGURA 22: Indivíduo da subordem Ophidia apresentando retenções de escamas por todo o corpo característico de disecdise.
Fonte: http://www.ashcroftvet.co.uk/skin.htm
h) Deficiência protéica
Dentre todas as doenças nutricionais é mais comum em que o animal simplesmente pára de se alimentar (anorexia comportamental) mesmo não estando doente, sendo ocasionada principalmente pelo estresse de captura, dieta incorreta, temperatura ambiental baixa, estação reprodutiva e no período que antecede a ecdise Caso essa anorexia se prolongue em demasia a serpente perderá massa muscular. Assim procede-se na correção da temperatura ambiental e da dieta oferecida ao animal, mas caso o animal mesmo assim não volte a se alimentar sozinho deve-se proceder com a alimentação forçada, sendo administrada 10% de sua massa corpórea em alimento.
i) Gota úrica
Caracteriza-se como sendo o depósito de ácido úrico em áreas onde normalmente não deveria ocorrer, ou seja, presença de pontos brancos em órgãos internos e articulações, os dois sendo vistos em radiografias. Entretanto a enfermidade é de difícil diagnóstico, realizando-se tanto radiografias como dosagem de ácido úrico sanguíneo, todavia muitas vezes o diagnóstico só é completamente fechado quando da necropsia do animal. Comumente ocorre a gota úrica visceral, em que o ácido úrico tende a se acumular em órgãos como o coração, rins, fígado, baço, músculos, vasos e na mucosa oral. As causas mais freqüentes são desordens que afetam a função renal, hipotermia (baixa temperatura), desidratação, excesso de proteínas na dieta e uso incorreto de medicamentos nefrotóxicos, tais como os aminoglicosídeos (gentamicina e amicacina). O tratamento consiste na hidratação do animal para aumentar a diurese, administração de medicamentos anti-hiperucêmicos e correção da dieta (Francisco et al., 2001; Kolenikovas et al., 2006).
j) Obesidade
Muito comum em animais de cativeiro, tanto pela falta de exercícios como pelo excesso de calorias na dieta. Esse acúmulo de tecido adiposo em órgãos internos pode vir a acarretar no mau funcionamento dos mesmos e em infertilidade. Como forma de prevenção cerca de 10% a 20% do peso vivo do animal em alimento por mês é o suficiente para manter sua plena saúde (Francisco et al., 2001; Kolenikovas et al., 2006; Mitchell , 2009).
k) Queimaduras 
São relativamente de incidência comum (FIGURA 23). Devendo-se proceder com a limpeza e tratamento da área afetada até sua total cicatrização, utilizar pomada antibiótica e administração de antibióticos sistêmicos em casos mais graves, realizando-se também a hidratação do animal e aplicação de Vitamina C que auxilia na regeneração celular.
FIGURA 23: Indivíduo da subordem Ophidia apresentando lesões de pele em seu terço final característico de queimadura.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
l) Neoplasias
Muitos dos achados neoplásicos deram-se após a realização de exames necroscópicos do animal. Várias etiologias e fatores podem predispor os animais a apresentarem neoplasias, parecendo haver uma incidência maior para as serpentes com sistema imune deprimido, ou até mesmo pelo aumento da vida média de algumas em cativeiro. Como tratamento utiliza-se os mesmos protocolos para animais domésticos como a excisão cirúrgica e a quimioterapia, esta sendo descrita com mínimo sucesso nos répteis até então avaliados (Kolenikovas et al., 2006; Mitchell , 2009).
	-- Sub-ordem Lacertilia ou Sauria
Os representantes mais comuns em cativeiro da Subordem Lacertilia são as iguanas (Iguana iguana) e os teiús (Tupinambis merianae).
a) Dermatites
Os vírus como poxvírus, papilomavírus e herpesvírus podem ocasionar dermatites verrucosa, bolhosa ou ulcerativa em diversas espécies de lagartos. Dermatites de origem bacteriana tendem a ocorrer em casos de condições de manejo inadequado levando à presença de áreas de descoloração. Podem ocorrer também concomitantemente infecções por fungos saprófitas oportunistas, principalmente os do gênero Fusarium sp., Trichosporum sp.e da classe dos Zygomicetes. No caso de dermatites fúngicas superficiais utilizam-se cremes fungicidas à base de nistatina, cetoconazol, miconazol e outros. Sendo também recomendado o uso de tratamento sistêmico, como o cetoconazol, anfotericina B e itraconazol (Goulart, 2006; Nevarez, 2009).
b) Gastrenterites
Podem ser ocasionadas por vírus como o adenovírus, picornavírus e parvovírus. E também por algumas bactérias, principalmente as gram-negativas, normalmente quando as condições de cativeiro não se encontram adequadas. Infecções fúngicas também são observadas principalmente por Candida spp. e Aspergillus sp., acometendo mais os animais debilitados.
c) Endoparasitas
Os lagartos são acometidos principalmente por nematódeos, seguido dos cestódeos e trematódeos, sendo estes últimos ocasionalmente encontrados. Os protozoários são relativamente freqüentes, especialmente os gastrintestinais como Isospora sp., Eimeria sp. Entamoeba sp., Giardia sp. e Caryospora sp., seguido dos encontrados no sangue como Haemogregarinas, Hepatozoon sp., Plasmodium sp., Leishmania sp.e Leucocytozoon sp.
d) Ectoparasitas
São encontrados normalmente os carrapatos da espécie Amblyomma rotundatum. Freqüentemente habitando áreas como a região inguinal e axilar, o aspecto ventral da mandíbula e em torno da cabeça. Para o tratamento pode-se empregar a ivermectina, banhos em solução de piretróides ou organofosforados, e também aspersão de fipronil pelo corpo, associado a uma limpeza do recinto e troca do substrato (Goulart, 2006; Nevarez, 2009).
e) Doença óssea metabólica
A insuficiência de cálcio, o excesso de fósforo, falta de vitamina D na dieta e de exposição à radiação UVB são os fatores desencadeantes para essa enfermidade, isolados ou em conjunto. Os sinais geralmente apresentados pelos animais são as fraturas patológicas em ossos longos, aumento de volume em membros devido a instalação de tecido fibroso para repor o tecido ósseo que foi retirado para ir ao sangue FIGURA 24), mandíbula ou maxila moles, paresia ou paralisia, inabilidade para urinar e/ou defecar ocasionada por fraturas patológicas na pelve ou vértebras, fasciculação muscular (movimento involuntário rítmico muscular), anorexia e eventual morte. Como tratamento o animal deve ser suplementado com soluções orais ou injetáveis de cálcio, como o gluconato de cálcio, associado a um suplementode vitamina D, por cerca de 4 a 6 semanas, retirando os medicamentos gradativamente até o fim do tratamento, aliado a exposições a radiação UVB, fluidoterapia, alimentação forçada caso necessário e também à informação ao proprietário sobre a dieta alimentar correta para o animal. Uma vez corrigida a deficiência de cálcio um rápido retorno da densidade mineral dos ossos poderá ser obtida com o uso de calcitonina uma vez por semana, duas aplicações (Molina & Lightfoot, 2001; Nevarez, 2009).
FIGURA 24: Exemplar da espécie Iguana iguana (iguana) apresentando aumento de volume em membros pélvicos quando comparado com os membros torácicos, sinal característico de presença de tecido fibroso em decorrência da falta de cálcio na dieta alimentar.
Fonte: http://ocw.tufts.edu/Content/60/lecturenotes/828884
f) Doença renal
A doença crônica renal acomete mais os lagartos adultos enquanto que a doença aguda renal tem incidência maior nos animais jovens. A primeira envolve uma série de enfermidades que afetam os rins, como a nefrite, glomerulonefrite e pielonefrite. Tendo como fatores predisponetes a fisiologia excretora distinta dos répteis aliada a uma má nutrição, desidratação, neoplasias, doenças infecciosas, drogas nefrotóxicas e gota úrica. Apesar disso a etiologia específica ou patofisiologia ainda não está completamente esclarecida. Os sinais normalmente são inespecíficos, mas podem ocorrer polidipsia (aumento no consumo de água) e poliúria (aumento na freqüência urinária). As formas para diagnóstico poderão incluir anamnese, radiografias e dosagens bioquímicas. Contudo a biópsia renal é o único método diagnóstico definitivo para a enfermidade. Como tratamento deve-se instituir fluidoterapia e suporte nutricional ao animal. Infelizmente o uso de diuréticos é ineficaz tendo em vista que os répteis não apresentarem alça de Henle em seus néfrons, mas algum sucesso tem-se observado com a utilização de manitol intravenoso diariamente (Molina & Lightfoot, 2001; Nevarez, 2009).
g) Cálculos císticos
Dietas com altas taxas de oxalato de cálcio e de proteína, desidratação e umidade inadequada do recinto predispõem para a presença de cálculos císticos, os quais também podem aparecer em conseqüência a doenças renais e gota úrica. As radiografias podem auxiliar no diagnóstico. O tratamento consiste na remoção cirúrgica dos cálculos associado com a correção da dieta e umidade do recinto (Nevarez, 2009).
h) Gota úrica
Podem ocorrer a forma visceral (FIGURA 25), articular (FIGURA 26) e periarticular nos lagartos. Os fatores predisponentes são a desidratação, excesso de proteína na dieta e doença crônica renal. O diagnóstico deverá estar embasado na anamnese, no exame físico, em radiografias e em exames laboratoriais. O tratamento deverá se constituir na fluidoterapia, correção da nutrição do animal associada à administração de medicamentos como alopurinol e probenecid (contra-indiciado para animais desidratados) na intenção de reduzir a síntese e aumentar a excreção do ácido úrico do organismo, entretanto seu real valor ainda é desconhecido. O uso de antiflamatórios é indicado no caso de animais com dor articular (Nevarez, 2009).
FIGURA 25: Presença de pontos esbranquiçados multifocais em rins de camaleão acometido por gota úrica visceral.
Fonte: http://www.webs.ulpgc.es/apreptil/saur.htm
FIGURA 26: Aumento de volume em dígito de membro torácico em camaleão em decorrência de gota úrica articular.
Fonte: http://www.chameleonforums.com/
i) Queimaduras
A maioria dos casos de queimaduras decorre do uso de pedras aquecidas no recinto ou de lâmpadas de aquecimento muito perto dos animais, sendo esta última ocorrendo sob dois tipos. O primeiro tipo acontece quando animais mantidos em ambientes frescos são colocados no recinto aquecido e como os receptores e a sensibilidade para o calor nos répteis em geral são diferentes dos encontrados nos mamíferos ocorre então as queimaduras pela aproximação em demasia das lâmpadas. Já a segunda possibilidade acontece quando animais enfermos se queimam pelo mesmo princípio de aproximação em demasia das lâmpadas, tendo em vista que as doenças em geral dificultam ainda mais a percepção de calor. O tratamento irá variar conforme a gravidade e a extensão da lesão. Para pequenas lesões o uso de cremes antimicrobianos é o suficiente, já para lesões maiores preconiza-se o debridamento das áreas necrosadas, bandagem, antibióticos sistêmicos e tratamento de suporte (Molina & Lightfoot, 2001).
-ORDEM CROCODILIA
	Os representantes desta ordem mais comuns em cativeiro são o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) e o jacaré-açu (Melanosuchus niger).
a) Desordem reprodutiva
Muito visualizado em criatórios onde a presença de baixa temperatura resulta na morte dos embriões, bem como a alta umidade e a temperatura irão favorecer o crescimento de fungos e bactérias nos ovos, principalmente devido à manipulação inadequada quando da coleta. Outra alteração é a onfalite (inflamação do umbigo) que é diagnosticada pelo aumento do volume abdominal e o não fechamento do umbigo em filhotes. Podendo levar o animal a óbito por conta de choque endotóxico. Como prevenção para os dois casos citados as medidas de higiene simples são o suficiente, por exemplo, o uso de luvas de procedimento para manejo dos ovos, uma desinfecção da incubadora antes da colocação dos ovos aliado a uma anti-sepsia da região umbilical do animal com PVPI tópico.
b) Dermatite viral ou Poxvirose
Doença viral que desencadeia lesões semelhantes a pequenos halos branco-acizentados que podem persistir por meses no animal, acometendo principalmente as pálpebras, maxila, mandíbula, língua e membranas interdigitais. Até o momento não existem tratamentos específicos. Mas em muitos casos a cura se dá de forma espontânea, o que sugere que tal enfermidade possa ser autolimitante. A ocorrência de infecções bacterianas e fúngicas secundárias podem também estar presentes concomitantemente com a infecção viral (Bassetti, 2006; Nevarez, 2009).
c) Salmonelose
A bactéria Salmonella spp. é um habitante normal do trato gastrintestinal na grande maioria dos répteis, incluindo os representantes da ordem Crocodylia. Acarretando enfermidades somente quando existe uma imunodepressão do organismo animal por diversos motivos. A importância da doença se dá pelo fato de ser considerada uma zoonose, assim sendo medidas preventivas incluindo as de higiene devem estar em prática quando esses animais forem manejados (Nevarez, 2009).
d) Micoplasmose
Doença ocasionada pelo Mycoplasma sp., organismo intracelular, que se instala no sistema respiratório dos animais contaminados. Os sinais clínicos muitas vezes são inespecíficos incluindo letargia, fraqueza, anorexia, secreção ocular esbranquiçada, paresia, edema facial, periocular, cervical e nos membros. O tratamento poderá se basear nos antibióticos doxiciclina, enrofloxacina, oxitetraciclina e tilosina (Nevarez, 2009).
e) Vírus Oeste do Nilo
Doença viral transmitida pela picada de mosquito contaminado que acomete diversas espécies de crocodilos. E uma vez contaminado os animais podem desenvolver altas viremias e disseminar o vírus pelas fezes, podendo ser dessa forma a transmissão que acomete os seres humanos. Os sinais clínicos incluem nadar em círculos, “head tilt” (cabeça lateralizada), tremores musculares, enterite progressiva, fraqueza, anorexia e letargia. Não existe tratamento até então descrito, apenas medidas preventivas como controle do mosquito, quarentena para novos animais e biossegurança são realizadas. Caso alguns animais sobrevivam à doença continuarão portadores podendo até vir a eliminar partículas virais nas fezes, mas por tempo ainda desconhecido (Nevarez, 2009).
f) Hipoproteinemia
Ocorre devido a uma alimentação inadequada, tendo como sinais a anemia, palidez, anorexia, apatia e depressão. O tratamento consiste na melhoria da condição alimentar chegando a casos em que se faz necessário

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