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Capítulo 33 311 Reynaldo Dietze Leishmaniose 3333 INTRODUÇÃO O termo “leishmanioses” engloba um grupo de doen- ças causadas por diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania (Ross, 1903). Suas diferentes apresen- tações clínicas dependem da espécie causadora da infec- ção, de fatores ligados ao hospedeiro e podem acometer em graus variados a pele, mucosas (boca, nariz, faringe e laringe) e órgãos do sistema fagocítico mononuclear. A transmissão da doença ocorre através da picada de insetos hematófagos conhecidos genericamente por flebotomíneos. Cerca de 30 espécies de Leishmania são conhecidas atualmente no mundo, das quais 21 são consi- deradas patogênicas para o homem. Destas, 15 já foram descritas no continente americano (Tabela 33.1). DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL AMERICANA A infecção causada pela L. (L.) chagasi apresenta um espectro clínico amplo que varia desde formas completa- mente assintomáticas (infecção inaparente) passando por formas clínicas com sintomatologia discreta ou moderada até aquelas de apresentação mais grave (infecção aparente). As infecções inaparentes são sempre assintomáticas e, portanto, sem evidência clínica de doença. O diagnóstico é baseado em resultados sorológicos (RIFI ou ELISA) ou através da intradermorreação de Montenegro (leishmani- na). Os títulos de anticorpos em geral são baixos e podem permanecer positivos por longo tempo. Vale a pena lem- brar que: a. os pacientes com história prévia de LV ou leishmaniose tegumentar podem “mimetizar imunologi- camente” (sorologia e intradermorreação positiva) os pa- cientes com infecção inaparente; b. nas demais formas da doença a intradermorreação de Montenegro é classica- mente negativa. Portanto, as formas assintomáticas são aquelas vistas em pacientes provenientes de áreas endêmi- cas, onde há evidência epidemiológica e imunológica (so- rológica ou intradermorreação) da infecção. Não existe qualquer indicação terapêutica nesses casos. O conheci- mento da existência das infecções inaparentes tem impor- tância durante o diagnóstico diferencial de doenças febris agudas ou subagudas causadas por outros agentes infecci- osos quando se depara com uma sorologia positiva para LV. Nestes casos uma intradermorreação de Montenegro posi- tiva exclui o diagnóstico de LV. As infecções aparentes variam desde formas clínicas discretas com pouca sintomatologia passando por formas clínicas moderadas até aquelas de apresentação mais gra- ve que, se não tratadas, levam o paciente ao óbito. Deve- se suspeitar clinicamente de LV quando o paciente apre- sentar os seguintes sinais e sintomas: febre há mais de duas semanas, anemia (palidez cutaneomucosa), adinamia e esplenomegalia associada ou não à hepatomegalia. A doen- ça apresenta período de incubação variável de cerca de três meses, podendo ser superior a 12 meses. Entretanto, devi- do à instalação insidiosa da doença, essa informação geral- mente é imprecisa e de pouca valia. Do ponto de vista clí- nico-evolutivo, as formas aparentes da leishmaniose visceral podem ser divididas em: PERÍODO INICIAL Esta fase da doença caracteriza o início da sintomato- logia que pode ser variável, mas na maioria dos casos in- clui febre irregular com duração inferior a quatro semanas, palidez cutaneomucosa e hepatoesplenomegalia. O estado geral do paciente via de regra está preservado e a espleno- 312 Capítulo 33 megalia geralmente é discreta, não ultrapassando a 5 cm do rebordo costal esquerdo. Esses pacientes não raro pro- curam o serviço médico fazendo uso de antimicrobianos sem resposta clínica e muitas vezes apresentam história de tosse seca e diarréia. Um percentual pequeno de pacientes, geralmente crianças, pode apresentar na fase inicial da doença um quadro clínico discreto com pequena hepatoesplenomega- lia, palidez cutaneomucosa leve, febre baixa, diarréia e/ou tosse não produtiva de curta duração, geralmente inferior a duas semanas, que pode evoluir para cura espontânea (forma oligossintomática). Esta apresentação clínica se confunde facilmente com outros processos infecciosos de natureza benigna. PERÍODO DE ESTADO Nesta fase exacerbam-se os sinais e sintomas da fase inicial da doença descritos anteriormente. O paciente apre- senta febre irregular com um a dois picos diários, adina- mia, emagrecimento progressivo evidente, mucosas desco- radas e aumento da hepatoesplenomegalia. À palpação abdominal o baço apresenta consistência elástica ligeira- mente endurecida. O crescimento do fígado é uniforme, não havendo predomínio do lobo esquerdo como ocorre na esquistossomose. Geralmente os pacientes procuram o médico com história de um quadro clínico arrastado por mais de dois meses de evolução, geralmente associado ao comprometimento do estado geral com patente palidez cutaneomucosa. O abdome está aumentado à custa de vo- lumosa hepatoesplenomegalia (Fig. 33.1). A Tabela 33.2 resume os principais sinais e sintomas descritos na LV clássica. PERÍODO F INAL Sem diagnóstico e tratamento a doença evolui progres- sivamente para o período final, com febre contínua e com- prometimento mais acentuado do estado geral. Instala-se a desnutrição protéico-calórica (cabelos quebradiços, cílios alongados e pele seca) e edema dos membros infe- riores que pode evoluir para anasarca. Outras manifesta- ções importantes incluem distúrbios hemorrágicos (enterorragias, epistaxes, gengivorragias e petéquias), icte- rícia e ascite. Nestes pacientes, o óbito geralmente ocorre por infecções bacterianas e sangramentos. As principais causas de óbito são as pneumonias, sepsis, insuficiência cardíaca (cor anêmico), gastroenterites e hemorragias di- gestivas agudas. O diagnóstico diferencial da LV pode variar sua confor- me distribuição geográfica e sua coexistência com outras endemias. Ele deve incluir: a. Malária: o diagnóstico diferencial deve ser feito prin- cipalmente nas formas “crônicas”, recidivantes da ma- lária (indivíduos com imunidade parcial) e na Síndro- me da Esplenomegalia Hiper-reativa da Malária, em que a esplenomegalia está presente podendo ou não es- tar acompanhada de hiperesplenismo e hipergamaglo- bulinemia. Nestes casos a ausência ou encontro de plasmódios no sangue periférico não confirma ou ex- clui o diagnóstico de LV. Caso a intradermorreação de leishmanina seja positiva, ela afasta o diagnóstico de LV, que só poderá ser confirmado de forma parasitológica ou sorológica. A malária aguda raramente se confunde com o calazar. A doença apresenta uma evolução mais aguda, a febre é, via de regra, mais elevada e acompa- nhada de calafrios e a anemia é mais proeminente e ra- pidamente progressiva. O hemograma geralmente mos- tra número de leucócitos normais ou discretamente aumentados; b. Histoplasmose disseminada: pode produzir sintomatolo- gia clínica praticamente idêntica à da LV com febre, emagrecimento, linfoadenomegalias, hepatoesplenome- galia e pancitopenia. O diagnóstico da histoplasmose pode ser confirmado através da sorologia, exame direto e cultura do fungo durante a mesma propedêutica uti- Tabela 33.1 Leishmaniose Tegumentar Americana: Subgêneros e Espécies Patogênicas para o Homem Descritas nas Américas Subgêneros Espécies Viannia L. (V.) brasiliensis – Vianna, 1911 Lainson & Shaw, 1987 L. (V.) guyanensis – Floch, 1954 L. (V.) panamensis – Lainson & Shaw, 1972 L. (V.) peruviana – Velez, 1913 L. (V.) lainsoni – Silveira et al., 1987 L. (V.) naifi – Lainson & Shaw, 1989 L. (V.) shawi – Lainson et al., 1989 L. (V.) colombiensis – Kreutzer et al., 1972 L. (V.) equatoriensis – Grimaldi et al., 1972 Leishmania L. (L.) mexicana – Biagi, 1953 Ross, 1903 L. (L.) amazonensis – Lainson & Shaw, 1972 L. (L.) pifanoi – Medina & Romero, 1959 L. (L.) venezuelensis – Bonfante & Garrido, 1980 L. (L.) garnhami – Scorza et al., 1979 L. (L.) chagasi L. (L.) donovani L. (L.) infatum Capítulo 33 313 lizada na LV: punção aspirativa de medula óssea, baço e linfonodos. O histoplasma também se cora pelo Giemsa e pode se confundir à primeira vista com for- mas amastigotas da Leishmania, mas não apresenta os aspectos característicos do núcleo e cinetoplasto; c. Enterobacteriose septicêmica prolongada (ESP): a ESP também pode produzir sintomatologia clínica idênti- ca à da LV com febre irregular e prolongada e grande hepatoesplenomegalia. O lobo esquerdo do fígado é proeminente e de consistência endurecida devido à es- quistossomose. O hemograma também mostra anemia, mas os leucócitos estão normais ou em número aumen- tado, com presença de eosinófilos. A enterobactéria responsável pela doença pode ser isolada das hemocul- turas ou da mielocultura. O exame de fezes é positivo para ovos de S. mansoni e a febre desaparece com o tra- tamento da esquistossomose; d. Esquistossomose mansônica aguda: a esquistossomose aguda pode ser confundida com o calazar, pois febre alta e persistente e hepatoesplenomegalia fazem parte de seu quadro clínico. Entretanto, os sintomas gastrin- testinais são mais exuberantes com diarréia muco-san- guinolenta e dor abdominal. O hemograma mostra leu- cocitose com eosinofilia marcante. A história epide- miológica de contato prévio com coleções hídricas suspeitas é decisiva para que a esquistossomose possa ser incluída no diagnóstico diferencial. O exame de fe- zes é positivo para ovos de S. mansoni somente após 45 dias do contato infectante. Algumas doenças infecciosas podem em algum ponto de sua evolução mimetizar os sinais e sintomas da leish- maniose visceral. São elas: a tuberculose miliar, a paracoc- cidioidomicose, a brucelose, a toxoplasmose, a doença de Chagas aguda, a febre tifóide, a endocardite infecciosa e a sífilis secundária. Devem também ser consideradas no diagnóstico diferencial da LV patologias de causas não in- fecciosas como as hemoglobinopatias (anemia falciforme), leucemias (especialmente em crianças) e os linfomas não- Hodgkin. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA LEISHMANIOSE VISCERAL Os achados laboratoriais mais constantes da LV são a pancitopenia, a hipergamaglobulinemia e a hipoalbumine- mia. Entretanto, dependendo da fase evolutiva da doença, eles podem ser mais ou menos proeminentes. Na forma oligossintomática o hemograma revela ane- mia, geralmente normocítica normocrômica, porém pou- co expressiva (Hb > 9 g/dL). A contagem de leucócitos ain- da está dentro dos valores normais, porém próximo de seus limites inferiores havendo predominância de células linfomonocitárias. A contagem de plaquetas também se encontra dentro dos limites normais. A velocidade de he- mossedimentação está elevada (> 50 mm) e a eletrofore- se de proteínas, discretamente alterada. A sorologia é in- variavelmente reativa (RIFI e ELISA) e a intradermor- reação negativa. A punção aspirativa de baço e medula ós- sea pode ou não mostrar a presença de formas amastigotas do parasita. No período de estado da doença as alterações do hemo- grama descritas (anemia, trombocitopenia e leucopenia com linfomonocitose e anaeosinofilia) tornam-se mais evi- dentes. Há uma inversão na relação albumina/globulina. As provas bioquímicas anteriormente normais podem estar alteradas, como elevação das aminotransferases (duas a três vezes os valores normais) e bilirrubinas assim como alte- ração discreta nos níveis de uréia e creatinina. Os títulos de anticorpos específicos antileishmânia estão elevados e a intradermorreação é negativa. Nesse período evolutivo da doença, as leishmânias são facilmente demonstráveis, quer seja através de exame direto em esfregaços de aspirado de medula óssea ou baço, quer seja através de cultivo desse material em meio de NNN ou Schneider. No período final as alterações laboratoriais descritas tornam-se ainda mais acentuadas. Os leucócitos geralmen- te estão abaixo de 3.000 mm3 e as plaquetas abaixo de 70.000 mm3. A fração gamaglobulina está elevada e os ní- veis séricos de albumina bastante diminuídos. DIAGNÓSTICO IMUNOLÓGICO Na LV os testes sorológicos apresentam em geral boa sensibilidade em virtude da grande quantidade de anticor- pos (principalmente IgG) presentes na doença, secundários à ativação policlonal de células B. Os testes sorológicos entretanto são métodos indiretos de detecção do parasita e, devido à sua praticidade, devem preceder, sempre que possível, os métodos parasitológicos podendo até em algu- mas situações substitui-los. Na presença de dados clínicos e laboratoriais, uma sorologia reagente praticamente con- firma o diagnóstico de calazar. Entretanto, um teste rea- gente na ausência de manifestações clínicas sugestivas não autoriza o início do tratamento. No Brasil, as técnicas mais usadas são a imunofluores- cência indireta (RIFI) e os ensaios imunoenzimáticos (ELISA, imunocromatografia). Os resultados da imuno- fluorescência normalmente são expressos em diluições, sendo reagentes os títulos iguais ou superiores a 1:40. A RIFI, apesar de ser menos sensível que o ELISA, é o méto- do mais utilizado no Brasil. O teste imunoenzimático ELISA tem seu resultado expresso em unidades de absor- Tabela 33.2 Freqüência dos Principais Sinais e Sintomas Presentes na Leishmaniose Visceral Clássica Sinais e Sintomas Freqüência Febre 98 a 100% Esplenomegalia 98 a 100% Hepatomegalia 90 a 100% Linfoadenopatia 30 a 50% Diarréia 15 a 35% Emagrecimento 80 a 100% Palidez 35 a 70% Adinamia 80 a 100% Epistaxis 15 a 30% Petéquias 20% Icterícia 5% 314 Capítulo 33 bância a um raio de luz (espectrofotometria), em uma rea- ção que pode utilizar diluições fixas (resultado quantita- tivo) ou apenas reagente ou não (resultado qualitativo). Apesar de ser um método sensível, ele apresenta como desvantagem o fato de não estar, até o momento, disponí- vel comercialmente para venda, o que dificulta sua padro- nização. Mais recentemente antígenos recombinantes (K39, K26) têm sido empregados em testes rápidos imunocromatográficos com sensibilidade e especificidade variando de 67 a 100% e de 98 a 100%, respectivamente. Esses testes têm um futuro promissor dado sua simplici- dade e rapidez de resultados. A intradermorreação de Montenegro, ou teste de leish- manina, não tem indicação de uso no diagnóstico da leish- maniose visceral. Ao contrário do que ocorre na leishmanio- se tegumentar, a intradermorreação de Montenegro é sem- pre negativa durante a doença, tornando-se positiva somente após a cura clínica dos pacientes. Na grande maioria a intradermorreação positiva-se em um período que varia de seis meses a três anos após o término do tratamento. DIAGNÓSTICO PARASITOLÓGICO O diagnóstico parasitológico da LV pode ser feito atra- vés da visualização do parasita em cultura (formas promastigotas) ou em esfregaço de punção aspirativa de baço, medula óssea, linfonodos ou em biópsias de tecido (formas amastigotas) (Fig. 33.2). O aspirado esplênico é o método de maior sensibilida- de, seguido do aspirado de medula óssea, biópsia hepáti- ca e aspiração de linfonodos. Na prática, devido à quase ausência de efeitos colaterais recomenda-se o aspirado de medula óssea esternal ou da crista ilíaca posterior na ro- tina diagnóstica da doença. A punção esplênica deve ser realizada somente por pessoa treinada e em hospitais com retaguarda cirúrgica e banco de sangue. As lâminas devem estar limpas e desengorduradas. Após secagem, o esfregaço deve ser fixado em álcool metílico e corado pelo Giemsa ou, alternativamente, Wright, Leishman ou Diff-quick; todas essencialmente colorações de Romanovsky. O encontro das formas amastigotas do pa- rasita é diretamente proporcional à qualidade do material do aspirado de medula, à experiência do microscopista e ao número de campos observados. Portanto é necessário que a lâmina seja exaustivamente examinada antes de ser consi- derada negativa. Em situações ideais a sensibilidade do as- pirado de medula óssea é de aproximadamente 85%. Além do exame direto, o material das punções aspira- tivas pode ser inoculado em meios especiais de cultura. O clássico meio de NNN, contendo ágar e sangue desfibrina- do de coelho, mais comumente empregado. A utilização de uma interface líquida sobre o NNN, como o meio LIT ou Schneider, aumenta e acelera a positividade da cultura. As culturas devem ser mantidas entre 24 e 26°C e observadas em microscópio óptico invertido semanalmente, por até quatro semanas. A inoculação intraperitoneal em hamsters (Mesocri- cetus auratus) das amostras clínicas obtidas da punção aspirativa de medula óssea ou baço dos pacientes não tem valor prático no diagnóstico da doença devido ao seu lon- go tempo de positivação (um a três meses). DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA (LTA) Do ponto de vista didático a LTA pode ser dividida em cinco formas clínicas: a leishmaniose cutânea localizada (LCL), a leishmaniose cutânea disseminada ou generali- zada (LCD), a leishmaniose cutânea anérgica difusa (LCAD), a leishmaniose mucosa (LM) e a leishmaniose cutaneomucosa (LCM). A apresentação cutânea localizada (LCL) da LTA é a manifestação clínica mais freqüente, observada em 85% dos pacientes. A lesão cutânea característica é uma úlcera com bordos elevados e emoldurados, geralmente indolor. A lesão é pouco exsudativa, sem sinais flogísticos, com fundo granuloso avermelhado ou amarelado quando há de- posição de fibrina. A lesão pode apresentar-se recoberta por uma crosta serofibrinosa que esconde o aspecto ulce- rado típico. A presença de sinais flogísticos é indicativa de infecção bacteriana associada que, nesses casos, confere um aspecto purulento à lesão que pode ser dolorosa. A localização das lesões causadas pela L. (V.) brazi- liensis (espécie de maior importância epidemiológica no Brasil e América Latina) pode variar conforme a faixa etá- ria. Nas crianças com idade inferior a cinco anos existe uma predominância de lesões acima da cintura. Na faixa etária de seis a 15 anos as lesões se distribuem igualmen- te acima e abaixo da cintura, e nos pacientes com 15 anos ou mais as lesões tendem a ocorrer abaixo da cintura. As lesões cicatriciais são atróficas e hipocrômicas, semelhan- tes àquelas secundárias a queimaduras. O comprometi- mento ganglionar pode chegar a 83% dos casos. Na LTA causada pela L. (V.) guyanensis (segunda espécie em impor- tância epidemiológica no Brasil com distribuição por toda calha norte do rio Amazonas nos estados do Pará, Amapá, Amazonas e Roraima), as lesões tendem a ser menores e mais numerosas e de localização acima da cintura. O com- prometimento ganglionar é menor (60%) se comparado à doença causada pela L. (V.) braziliensis. O período de incubação da LCL situa-se normalmente entre quatro e oito semanas. No local da picada surge ini- cialmente uma pápula que evolui para ulceração, e esta, se não tratada, aumenta progressivamente durante os primei- ros três a quatro meses quando então se estabiliza e come- ça a regredir. Pode haver cura espontânea em até 50% dos casos ao longo de seis meses nos casos de LTA causada por L. (V.) braziliensis (Marsden PD et al., 1984). Lesões com aspectos diferentes dos mencionados são menos freqüen- tes e incluem: lesões úlcero-crostosas, úlcero-vegetantes, verru-cosas, impetigóides, ectimatóides, tuberosas e liquenóides. Nestas formas, em sua fase inicial, é freqüente a linfangite e/ou adenopatia satélite que pode preceder a lesão de pele. Às vezes os nódulos linfangíticos podem se ulcerar lembrando a esporotricose (Figs. 33.3 e 33.4). Na LCL o diagnóstico diferencial deve ser feito com as úlceras crônicas de membros inferiores (úlcera de estase, úlcera hipertensiva, etc.), com as úlceras de etiologia fuso- espiralar (úlcera tropical), com a esporotricose, paracoc- cidioidomicose, impetigo, miíase e neoplasias de pele (carcinoma basocelular e espinocelular). Nas lesões verrugosas e vegetantes o diagnóstico diferencial deve ser Capítulo 33 315 feito principalmente com a cromomicose, histoplasmose e tuberculose cutânea (Fig. 33.4). A leishmaniose cutânea disseminada ou generalizada (LCD) caracteriza-se pela presença de lesões ulceradas pe- quenas, muitas vezes de aspecto acneiforme, distribuídas por todo o corpo. Essas lesões seriam secundárias à disse- minação hematogênica do parasita. Na quase totalidade dos casos essa forma clínica é descrita nas infecções cau- sadas por leishmânias do subgênero Viannia, mas recente- mente também descrita com L. (L.) amazonensis. Tanto a LCL quanto a LCD respondem bem a terapêutica com antimoniais. Na fase inicial da disseminação, o diagnósti- co diferencial deve ser feito com o impetigo (Fig. 33.5). A Leishmaniose cutânea anérgica difusa (LCAD) é uma apresentação clínica rara da LTA, apresentada até o momento somente com espécies do subgênero Leishmania. A doença foi descrita pela primeira vez por Convit na Venezuela. A LCAD também já foi descrita na Colômbia e no Brasil nos estados do Pará, Maranhão, Bahia e Paraná. Entre nós, a L. (L.) amazonensis é a única espécie responsá- vel pelos casos de LCAD. Clinicamente a doença se carac- teriza por infiltração difusa da pele, onde vemos grande quantidade de lesões nodulares, papulares e placas infiltra- das que raramente se ulceram lembrando a hanseníase virchowiana. Nos casos de evolução arrastada (mais de cinco anos), as lesões podem se disseminar ocupando quase toda a superfície corporal, embora as lesões de extremidades se- jam predominantes. A resposta terapêutica é insatisfatória e as recidivas são a regra. O diagnóstico diferencial nesses casos deve ser feito principalmente com a hanseníase virchowiana e a doença de Jorge Lobo (lobomicose). A leishmaniose mucosa geralmente se manifesta anos após o aparecimento das lesões cutâneas, mas pode tam- bém surgir na vigência de lesões ativas (14 a 28% dos ca- sos) e em pacientes sem história prévia de lesões cutâneas. As lesões geralmente surgem ao longo dos primeiros cin- co anos subseqüentes à lesão cutânea inicial, mas já foram descritos casos após décadas da lesão primária. Não exis- tem dados definitivos sobre os fatores de risco envolvidos no desenvolvimento desse tipo de lesão, mas especula-se que estariam sob risco pacientes com lesões múltiplas lo- calizadas acima da cintura e pacientes que não receberam tratamento adequado. A disseminação para as mucosas se dá provavelmente por via hematogênica, acometendo a mucosa das vias aéreas superiores, mais freqüentemente o nariz com predileção pelo septo nasal e envolvimento me- nos freqüente da mucosa da cavidade oral e laringe. Nos casos de lesões nasais, as queixas clínicas mais comuns são: obstrução nasal, epistaxes, rinorréia e formação de crostas. No início, a doença pode se manifestar sob a for- ma de uma rinite alérgica que não responde aos tratamen- tos convencionais. Nas lesões de faringe o principal sinto- ma é a odinofagia e nas lesões laríngeas a rouquidão e a tosse. Em alguns casos as lesões podem ser pequenas e os sintomas discretos, daí a necessidade do exame rotineiro da cavidade nasal. Ao exame clínico pode-se observar in- filtração, ulceração, lesões úlcero-vegetantes ou úlcero- crostosas e perfuração do septo nasal que pode estar des- viado para o lado contralateral da lesão. As lesões da cavidade oral (língua, gengivas e mucosa jugal) são raras e estão geralmente presentes na leishmaniose cutaneomu- cosa. A maioria das lesões mucosas é causada por parasi- tas do subgênero Viannia geralmente a L. (V.) braziliensis (Figs. 33.6 e 33.7) O diagnóstico diferencial da LM deve incluir as doen- ças granulomatosas de mesma localização anatômica que produzem perfuração do septo nasal como a hanseníase e sífilis. Outras doenças incluem o cancrum oris (noma), a paracoccidioidomicose, a tuberculose, rinosporidiose, gra- nuloma da linha média e neoplasias em geral (Fig. 33.7). DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA O diagnóstico laboratorial da LTA pode ser feito atra- vés de métodos diretos (biópsia com impressão por aposição, histopatologia e cultura), imunomarcação (imu- nofluorescência direta, imuno-histoquímica), métodos moleculares (hibridização e reação em cadeia pela polime- rase) e métodos indiretos (intradermorreação de Montene- gro e reações sorológicas de ELISA e RIFI). Na prática, en- tretanto, os dois métodos diagnósticos mais utilizados são o exame direto do esfregaço obtido por impressão por aposição de material de biópsia ou raspado da lesão e a intradermorreação de Montenegro. O material para exame direto (biópsia ou raspado da lesão) deve ser obtido antes do início do tratamento. A biópsia deve ser feita sempre na borda da lesão e, em caso de raspado, o mesmo deve ser feito preferencialmente em áreas não necróticas e sem infecção secundária. As lâmi- nas onde serão feitos os esfregaços devem estar limpas e desengorduradas. Após secagem, o esfregaço deve ser fixa- do em álcool metílico e corado pelo Giemsa ou, alternati- vamente, Wright, Leishman ou Diff-quick, todas elas essen- cialmente colorações de Romanovsky. O encontro das formas amastigotas do parasita é diretamente proporcional à qualidade do material coletado, à experiência do micros- copista e ao número de campos observados. Portanto é ne- cessário que a lâmina seja exaustivamente examinada, an- tes de ser considerada negativa. Deve-se também ter em mente que o encontro do parasita em material da lesão é in- versamente proporcional ao tempo de evolução da doença. Além do exame direto, o material da biópsia, raspado ou punção aspirativa da lesão, pode ser inoculado em meios especiais de cultura. O clássico meio de NNN, contendo ágar e sangue desfibrinado de coelho, é o mais comumen- te empregado. A utilização de uma interface líquida sobre o NNN, como o meio LIT ou Schneider, aumenta e acelera a positividade da cultura. As culturas devem ser mantidas entre 24 e 26°C e observadas em microscópio óptico in- vertido semanalmente até quatro semanas, quando então devem ser descartadas. A inoculação em pata ou focinho de hamster (Meso- cricetus auratus) das amostras clínicas obtidas dos pacien- tes não tem valor prático no diagnóstico da doença devi- do ao seu longo tempo de positivação (um a três meses). Na LTA a sensibilidade dos métodos diretos é variável. Na Guatemala, Navin et al. (1990) recomendam a associa- ção de raspado da lesão com cultivo do parasita como for- ma de aumentar a sensibilidade diagnóstica que foi de 83%. No Panamá, a sensibilidade do exame histopatológico da lesão foi de 77%, da cultura, de 65% e a combinação das 316 Capítulo 33 duas técnicas, de 89%. Na Colômbia a sensibilidade foi 58% (exame direto de aspirado da lesão + cultura). Apesar dos bons resultados obtidos no Panamá, a histopatologia apre- senta em geral baixa sensibilidade (14 a 35%) e não deve ser usada como método isolado no diagnóstico da LTA. Entretan- to ela pode ser útil nos casos em que não foi possível o isola- mento ou visualização do parasita, uma vez que o tipo de in- filtrado celular pode sugerir ou afastar o diagnóstico de LTA. A sensibilidade dos métodos diretos pode ser melhora- da através de técnicas de imunomarcação (imunofluores- cência com anticorpos monoclonais) e de técnicas de bi- ologia molecular (PCR ou técnicas de hibridização in situ). Com o auxílio destas técnicas a sensibilidade pode chegar a percentuais acima de 90%. Entretanto, elas ainda não estão disponíveis para uso rotineiro. A intradermorreação de Montenegro foi idealizada pelo médico João Batista de Freitas Montenegro em 1926, que utilizou extrato bruto do parasita como antígeno para o teste intradérmico. É usada até os dias atuais e consiste na aplicação intradérmica de 0,1 mL de antígeno fenolado de formas promastigotas do parasita. Sua leitura é feita 48 a 72 horas após a injeção e indurações com diâmetro acima de 5 mm são consideradas positivas. Um teste positivo indi- ca infecção, mas não necessariamente doença. Em áreas endêmicas, percentuais de até 35% de positividade podem ser encontrados, associados ou não à história pregressa de leishmaniose, o que sem dúvida pode induzir a um erro diagnóstico em pacientes com lesões suspeitas, mas de ou- tras etiologias (Pignatti MG et al., 1995). A reação de Mon- tenegro torna-se positiva três a seis semanas após o apare- cimento da lesão e mantém-se nesse estado provavelmente por toda a vida. A sensibilidade da intradermorreação de Montenegro é elevada nas infecções causadas por L. (V.) braziliensis (80 a 95%), mas baixa nas infecções causadas por L. (L) amazonensis (51%). Antígenos de diferentes es- pécies de leishmânia (velho e novo mundo) já foram tes- tados em diferentes regiões do mundo mostrando que exis- te reação cruzada entre eles. Entretanto, para se obter otimização da sensibilidade deve-se, sempre que possível, dar preferência a antígenos que utilizem cepas homólogas. Várias técnicas têm sido utilizadas no diagnóstico so- rológico da LTA. A reação de imunofluorescência indireta (RIFI) é a mais difundida, mas sua sensibilidade (67%) é inferior àquela obtida com métodos diretos. Além do mais, pode haver reação cruzada com a doença de chagas. O pon- to de corte da reação é 1:32 e títulos mais elevados ocor- rem nos pacientes com múltiplas lesões. A reação imunoenzimática de ELISA é mais sensível que a RIFI (76 a 91%), mas também existe reação cruza- da com a doença de chagas. Os títulos de anticorpos específicos antileishmânia ge- ralmente persistem por anos, mesmo após a cura clínica da lesão. Entretanto, o principal problema das reações soroló- gicas é a ausência de padronização dos antígenos utilizados e sua não produção sob condições de boas práticas de fabri- cação (GMP), o que impede sua comercialização. TRATAMENTO DAS LEISHMANIOSES Os compostos antimoniais trivalentes foram as primei- ras drogas clinicamente eficazes usadas no tratamento da leishmaniose. Esta descoberta foi feita em 1912 por Gaspar Vianna, que tratou com sucesso um paciente com leishmaniose cutaneomucosa utilizando o tártato emético. No calazar a droga só foi utilizada dois anos após, na Itá- lia. Os derivados pentavalentes (Sb+5), utilizados atualmen- te, foram introduzidos na década de 1940 e desde então têm sido considerados as drogas de primeira escolha no tratamento da doença em todo o mundo. Existem duas for- mulações disponíveis comercialmente: o estibogluconato de sódio e o antimoniato de N-metil-glucamina. Aceita-se que ambas tenham eficácia terapêutica semelhante. A for- mulação disponível no Brasil é o antimoniato de N-metil- glucamina. A droga é distribuída pelo Ministério da Saú- de em ampolas de 5 mL, contendo 405 mg de Sb+5 (1 mL = 81 mg de Sb+5). Após mais de seis décadas de uso dos antimoniais, pou- co se conhece sobre seus mecanismos de ação. Sabe-se que eles inibem enzimas da via glicolítica e da oxidação de áci- dos graxos do parasita. Entretanto, por se tratar de metais pesados é provável que tenham outros sítios de ação. Tam- bém já foram descritos casos de resistência tanto in vitro quanto in vivo aos antimoniais. Os mecanismos intrínse- cos desta “resistência” ainda não estão totalmente esclare- cidos, mas sabe-se que os parasitas podem ser induzidos a adquirir resistência in vitro, através de sua exposição a do- ses crescentes de estibogluconato de sódio. Estudos in vitro sugerem ainda que essa resistência estaria na dependência da presença de uma P-glicoproteína nas leishmânias mutantes. Por não existirem diferenças significativas na farmaco- cinética dos antimoniais em relação à via de administra- ção, os mesmos podem ser utilizados tanto por via intra- muscular quanto endovenosa. Nos casos de administração endovenosa, a infusão deve ser feita lentamente ao longo de cinco a dez minutos. A dose pode ser diluída em solu- ção glicosada a 5% para facilitar a infusão. Os efeitos colaterais dos antimoniais são bem conhecidos e estão relacionados à sua toxicidade cardíaca, hepática, pan- creática, renal e sobre o sistema musculoesquelético. A cardiotoxicidade traduz-se principalmente por dis- túrbios da repolarização ventricular que incluem altera- ções de onda T (achatamento ou inversão) e aumento do intervalo QTc. Estas alterações estão presentes em percen- tuais que variam de 10 a 50% dos casos e são dose e tem- po dependentes. Os mecanismos envolvidos na cardioto- xicidade ainda são desconhecidos, mas sabe-se que lotes do medicamento com osmolaridade elevada (acima de 1.000 mOsm/L) apresentam risco aumentado deste para- efeito. Por serem drogas potencialmente arritmogênicas, os antimoniais estão contra-indicados em pacientes que fazem uso de betabloqueadores (principalmente sotalol e pro- pranolol) e drogas antiarrítmicas, como a amiodarona e quinidina. Os antimoniais também estão contra-indicados em pacientes com intervalo QTc superior a 400 ms (ho- mens) e 450 ms (mulheres). Os efeitos colaterais relacionados ao aparelho gastrin- testinal são os mais freqüentes e incluem náuseas, anore- xia e dor abdominal, em percentuais que variam de 12 a 28%. A hepatotoxicidade também é freqüente e pode ocor- rer em até 50% dos pacientes tratados. Sabe-se atualmen- te que as manifestações gastrintestinais são decorrentes em Capítulo 33 317 parte de uma pancreatite química presente na quase tota- lidade dos pacientes. Essa pancreatite raramente contra- indica a continuidade do tratamento por ser assintomáti- ca na maioria dos doentes. Entretanto, o tratamento deve ser interrompido se os níveis séricos de amilase e lipase forem superiores, respectivamente, a quatro e 15 vezes os valores normais de referência. Os antimoniais são eliminados principalmente por via renal. Esta eliminação é rápida com 80% da droga excre- tada nas primeiras seis horas após administração parente- ral. Após 16 horas, os níveis plasmáticos do medicamen- to caem a 1% dos valores de pico. Portanto, qualquer diminuição do clearance renal da droga potencializa seus efeitos tóxicos. A insuficiência renal secundária ao uso do Sb+5, nas doses habituais, é um evento raro. O principal efeito nefrotóxico dos antimoniais, quando utilizados nas doses habituais, é uma diminuição na capacidade de con- centração urinária. Esse para-efeito, reversível após o tra- tamento, seria secundário a uma competição da droga com o hormônio antidiurético nos tubos coletores renais. A excreção renal dos antimoniais e a inexistência de tabela de ajuste de doses na insuficiência renal contra-indicam o seu uso em pacientes com qualquer grau de insuficiência renal. Nestes casos, por mais paradoxal que pareça, a dro- ga de escolha seria o desoxicolato de anfotericina B ou sua formulação liposomal (Ambisome®). Apesar da nefrotoxi- cidade potencial, essa indicação deve-se à eliminação ex- tra-renal da anfotericina B e ao fato de seus níveis séricos não serem afetados na insuficiência renal. Devido à ausên- cia de estudos conclusivos sobre a teratogenicidade dos antimoniais no período gestacional, a anfotericina B tam- bém é a droga de escolha para tratamento da doença du- rante a gravidez. Outros efeitos colaterais descritos com o uso de antimoniais incluem: neuropatia periférica reversível, leu- copenia severa, hemorragias, artralgia e mialgias, farmaco- dermia e morte súbita. LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA No Brasil, a dose recomendada pelo Ministério da Saú- de para o tratamento da LTA é de 10 a 20 mg de Sb+5 por kg/dia (sugere-se 15 mg) em doses consecutivas durante 20 dias tanto para a LCL quanto para a LCD com limite má- ximo de três ampolas por dia (FUNASA, 2000). Espera-se com esta posologia que haja cicatrização das lesões ao fi- nal de três meses. Caso isto não ocorra, o tratamento deve ser repetido utilizando-se as mesmas doses, porém com 30 dias de duração (vide critérios de cura). Na LM a dose recomenda é de 20mg de Sb+5 por kg/dia em doses consecutivas durante 30 dias, administradas de preferência em ambiente hospitalar. Caso não ocorra cica- trização completa da lesão ao final de três meses o trata- mento deverá ser repetido mais uma vez. Em caso de nova recidiva ou não resposta terapêutica deve-se iniciar trata- mento com anfotericina B (seja adiante). Os índices de cura dos antimoniais na LTA são difíceis de serem precisados devido a falta de estudos controlados sobre o assunto e das diferentes posologias empregadas. Além do mais, a partir de 1996 antimoniais pentavalentes de diferentes origens e fabricantes foram utilizados no país, alguns deles retirados do mercado posteriormente devido a problemas no seu controle de qualidade. Com as doses recomendadas os índices de cura na LCL variam de 62 a 81%. Na doença causada pela L. (V.) guyanensis os ín- dices de cura são menores (40%). Na leishmaniose mucosa ou cutaneomucosa os índi- ces de cura com antimoniais nas doses preconizadas são variáveis (30 a 75%), mas em geral inferiores àqueles ob- tidos na LCL e LCD. As recidivas são freqüentes (30%) e os pacientes virgens de tratamento são os que melhor res- pondem ao tratamento. Logo após o início do tratamento, pacientes com lesões extensas de orofaringe e laringe podem apresentar piora do quadro clínico e sintomas de obstrução das vias aéreas su- periores devido a edema da área lesionada secundário ao aumento da reação inflamatória em resposta à destruição dos parasitas. Nestes tipos de lesão mucosa, recomenda-se a terapêutica com corticosteróides antes e durante a pri- meira semana do início do tratamento antileishmânia. LEISHMANIOSE V ISCERAL Desde o início do uso disseminado dos antimoniais no tratamento da LV em meados da década de 1940, doses progressivamente maiores dessa substância têm sido pre- conizadas no seu tratamento. Isto se deve a “resistência” ou não resposta terapêutica cada vez mais freqüente em países como Índia, Quênia, Etiópia e China. Na Índia, por exemplo, um tratamento com 10 doses administradas em dias consecutivos era suficiente para curar 94% dos pacien- tes na década de 1950. Nos anos 1980, os índices de “re- sistência primária”, ou não resposta terapêutica, subiram para 10% e doses de 20 mg de Sb+5 por kg/dia durante 40 dias passaram a ser preconizadas. Atualmente, esses per- centuais chegam a 60% dos casos, o que praticamente con- tra-indica o uso desses medicamentos no tratamento da doença na Índia. No Brasil, doses menores que as preconi- zadas atualmente também foram usadas no passado no tratamento da LV. Na década de 1960 o professor Jaime Neves utilizou a posologia de uma ampola de antimoniato de N-metil-glucamina duas vezes por semana no total de dez ampolas, independente do peso e faixa etária do pa- ciente, com índices de cura próximos a 100%. Entre nós, o fenômeno da não resposta terapêutica tem sido observa- do em menor escala e ainda não existem estudos in vitro que o comprovem, sendo às vezes observada in vivo. Do ponto de vista prático, os relatos na literatura sobre o in- sucesso terapêutico na doença e a inexistência de estudos controlados sobre a dimensão exata do problema acaba- ram por elevar as doses recomendadas no tratamento da LV em todo o mundo. A dose recomendada atualmente no Brasil é de 20 mg de Sb+5 por kg/dia por no mínimo 20 e no máximo 40 dias, com limite máximo de três ampolas por dia. Este tempo máximo de tratamento estaria reser- vado aos casos mais avançados da doença, onde a respos- ta clínica nos primeiros 20 dias não foi satisfatória (vide critérios de cura). Alguns cuidados devem ser observados antes do início do tratamento. As condições clínicas do pa- ciente devem ser avaliadas e estabilizadas e as infecções concomitantes tratadas simultaneamente. A indicação de transfusões sangüíneas deve ficar a critério médico. Toda- via recomenda-se níveis de hemoglobina acima de 8 g/dL 318 Capítulo 33 para o início do tratamento, que pode ser feito em ambu- latório desde que existam condições de seguimento. Entre- tanto, as seguintes condições contra-indicam o tratamen- to ambulatorial: a. anemia acentuada (hemoglobina inferior a 5 g/dL); b. diarréia grave ou prolongada; c. edema generalizado; d. desnutrição grave; e. presença de sangramento ou infecções bacterianas concomitantes; f. doenças associadas (cardiopatia, nefropatia, hepatopatia, hipertensão arterial); g. presença de icterícia e h. pacien- tes com menos de seis meses de vida ou mais de 65 anos. Como foi dito antes, os antimoniais podem ser usados tanto por via endovenosa quanto intramuscular. Entretan- to a via endovenosa está formalmente indicada nos pacien- tes com trombocitopenia e/ou com desnutrição devido a pouca massa muscular. Nos casos de administração endo- venosa, a infusão deve ser feita lentamente ao longo de dez a 30 minutos. A dose deve ser diluída em solução glicosada a 5% para facilitar a infusão. TRATAMENTO DAS LEISHMANIOSES: DROGAS DE SEGUNDA ESCOLHA Anfotericina B De todas as drogas já usadas até o momento no tra- tamento das leishmanioses, a anfotericina B é a que pos- sui ação leishmanicida mais potente, tanto in vitro quan- to in vivo. A anfotericina B pertence ao grupo dos antibióticos poliênicos isolados de diferentes espécies de Streptomyces. Ela foi obtida a partir do Streptomyces nodosus, isolado da bacia do rio Orinoco na Venezuela em 1956. Existem duas formas de anfotericina: A e B, sendo a última mais ativa e a única usada clinicamente. A anfotericina B é uma droga anfotérica, insolúvel em solução aquosa de pH neutro. As preparações comerciais utilizam o desoxicolato de sódio como agente “dispersan- te”, para aumentar sua solubilidade. Seu mecanismo de ação se dá através da ligação preferencial da droga com esteróis (ergosterol ou episterol) presentes na membrana plasmática da Leishmania, alterando dessa forma sua per- meabilidade, promovendo perda de nutrientes e conse- qüente lise celular. Após a infusão de uma dose terapêutica (0,65 mg/kg), níveis séricos máximos de 1,8 a 3,5 µL são atingidos na primeira hora de infusão. Estes níveis permanecem por seis a oito horas para só então caírem gradualmente. A anfotericina B não sofre acumulação plasmática com a utilização de doses diárias. Ao final de uma infusão de quatro horas, ela é eliminada do sangue com meia vida inicial de 24 a 48 horas. Ao final do sexto dia de apli- cação ocorre equilíbrio do compartimento periférico extravascular de órgãos com capilares não contínuos como fígado, baço e intestino, aumentando a meia-vida da droga para aproximadamente 15 dias. Esta meia-vida fi- nal longa é a responsável pelo encontro do medicamento no soro e urina dos pacientes até sete semanas após o término do tratamento. Nenhum metabólito da anfote- ricina B foi identificado até o momento nem se conhe- ce sua via de eliminação. A eliminação da droga por via urinária e biliar contribui com menos de 5% do total da dose infundida. Os níveis séricos da anfotericina B não são afetados por disfunção hepática ou renal nem por hemodiálise ou diálise peritoneal. Os principais efeitos colaterais da anfotericina B são: fe- bre, calafrio, cefaléia, astenia, dores musculares e articula- res, vômitos e hipotensão, todos eles geralmente observados durante a infusão da droga. A flebite também é um para-efei- to comum. Nas doses comumente usadas no tratamento das infecções fúngicas, a anfotericina B produz anemia em 75% dos pacientes tratados e dano renal temporário e reversível em praticamente todos os pacientes. Durante o tratamento, a filtração glomerular medida pelo clearance de creatinina diminui em aproximadamente 40%. Essas alterações seriam secundárias à vasoconstricção renal com conseqüente isquemia cortical e diminuição da filtração glomerular. Nos tratamentos prolongados pode ocorrer hipopotassemia de- vido à perda aumentada deste íon no túbulo contornado distal. Hipocalcemia, hipomagnesemia, neurotoxicidade e cardiotoxicidade também podem ocorrer. Parada cardíaca já foi descrita em casos de infusão rápida (menos de uma hora) assim como desconforto respiratório, dispnéia e cia- nose. Estas alterações seriam secundárias à ação direta da droga sobre células mononucleares e células do endotélio vascular com liberação de ácido araquidônico, cujos meta- bólitos (prostaciclinas e tromboxano A 2 ) causariam vaso- constricção e hipertensão pulmonar. Estes efeitos podem ser antagonizados pelos antiinflamatórios inibidores da Cox-2 (ciclooxigenase-2). Leishmaniose Tegumentar Americana A anfotericina B foi usada com sucesso e pela primei- ra vez na terapêutica da LTA (Lacaz et al., 1959) no trata- mento de três pacientes com leishmaniose mucosa. Poste- riormente trataram também com sucesso 20 pacientes com leishmaniose cutaneomucosa. Apesar de sua superior eficácia in vitro, a experiência clínica acumulada com o uso da anfotericina B (desoxico- lato) no tratamento da LTA ainda é pequena e está restrita aos casos de LM ou LCM e LACD que não responderam inicialmente aos antimoniais. A dose recomendada pelo Ministério da Saúde é de 1 mg/kg (máximo de 50 mg/dose), administrada em dias alternados, na dose total de 1 a 1,5 g na leishmaniose cu- tânea e 2,5 a 3 g na leishmaniose mucosa. Mais recentemente, formulações lipídicas da anfoteri- cina B começaram a ser usadas no tratamento da LTA com bons resultados. Estas novas formulações são menos tóxi- cas que o desoxicolato de anfotericina B podendo ser ad- ministradas em doses maiores que a anfotericina B conven- cional. No momento sua utilização estaria restrita aos casos não responsivos aos antimoniais, em que a toxici- dade da anfotericina B convencional é a maior preocupa- ção. Existem atualmente disponíveis para uso clínico três formulações lipídicas da anfotericina B: o AmBisome®, o Amphocil® e o Abelcet®. Das três, o AmBisome® parece ser o menos tóxico e com melhor eficácia terapêutica. A dose recomendada é de 2 a 3 mg/kg/dose durante 20 dias. Os efeitos colaterais descritos com essas formulações são se- melhantes, porém de menor monta que aqueles descritos para a anfotericina B e incluem: febre, calafrios, taquipnéia, flebite, cefaléia, náuseas e vômitos. Capítulo 33 319 Leishmaniose Visceral A anfotericina B foi usada com sucesso e pela primei- ra vez na terapêutica da leishmaniose visceral pelo profes- sor Aluísio Prata em 1960, que tratou e curou três pacien- tes em Salvador, Bahia. A partir de então, principalmente devido a sua toxici- dade com as doses e posologias empregadas, esse medica- mento teve seu uso limitado aos casos em que não havia resposta terapêutica aos antimoniais. Nesses casos a dose recomendada era de 1 mg/kg (máximo de 50 mg/dose), administrada em dias alternados, na dose total de 25 a 30 mg/kg de peso, o que implicava tempo de tratamento apro- ximado de dois meses. A partir do início da década de 1990, devido ao aumento da não resposta terapêutica aos antimoniais pentavalentes na Índia, pesquisadores desse país começaram a utilizar a anfotericina B em doses me- nores (0,5 a 1 mg/kg/dose em dias alternados) e tempo re- duzido (14 a 20 doses) com índices de cura próximos a 100%. Posteriomente, Thakur et al. mostraram não haver diferença quanto a eficácia clínica (cura de 100%) e toxi- cidade da anfotericina B (20 doses de 1 mg/kg) em relação ao tempo de administração (se em dias alternados ou con- secutivos). Devido aos elevados índices de cura e à baixa toxicidade descrita nos estudos citados, a anfotericina B passou a ser a droga de escolha no tratamento da LV na Ín- dia (Shyam Sundar, comunicação pessoal). No Brasil, Car- valho comparou a eficácia clínica e toxicidade de 14 do- ses de anfotericina (0,5 e 1 mg/kg/dose) administradas em dias consecutivos em 101 pacientes pediátricos com LV. Os resultados com a dose de 0,5 mg/kg mostraram índices de cura de somente 57%, bem abaixo daqueles obtidos nos estudos indianos. Entretanto a dose de 1 mg/kg/dia curou 97,5% dos pacientes. Os efeitos colaterais observados (52% dos pacientes) foram de pequena monta e relaciona- dos principalmente à infusão da droga (febre e calafrios). A toxicidade renal (aumento de uréia e creatinina) ocor- reu em apenas dois pacientes, não havendo, mesmo nesses casos, necessidade de interrupção da medicação. A utiliza- ção de baixas doses de anfotericina B no tratamento da LV é uma alternativa interessante, pois associa altos índices de cura a uma curta duração do tratamento (duas semanas). Mais recentemente, formulações lipídicas da anfoteri- cina B tornaram-se disponíveis para o tratamento da LV. Essas novas formulações são menos tóxicas que o desoxi- colato de anfotericina B, podendo ser administradas em doses elevadas e por períodos de tempo ainda mais curtos que a anfotericina B convencional (cinco a dez dias). A ló- gica de sua utilização no tratamento da LV estaria na rápi- da retirada da circulação das partículas lipídicas que con- tém a anfotericina B. Este clearance da droga seria feito pelas células do sistema fagocítico mononuclear do fíga- do, baço e medula óssea, local de refúgio e multiplicação das leishmânias, diminuindo assim os efeitos colaterais da medicação e potencializando a destruição do parasita. Portanto, sua utilização estaria indicada em situações nas quais a toxicidade e a duração da terapia são as maiores preocupações. Existem, atualmente, para uso clínico três formulações lipídicas disponíveis da anfotericina B: o AmBi-some®, o Amphocil® e o Abelcet®. Inúmeros estudos relatando índices de cura semelhantes aos da anfotericina B convencional já foram publicados utilizando as diferen- tes formulações lipídicas no tratamento da LV, tanto em pa- cientes imunocompetentes quanto em pacientes co-infec- tados com o vírus HIV. Apesar de todos os estudos terem sido unâmines quanto a boa tolerabilidade das formula- ções, o Amphocil® parece ser a apresentação mais tóxica, o Abelcet® de toxicidade intermediária e o AmBisome® a menos tóxica. Os efeitos colaterais descritos com essas for- mulações são semelhantes àqueles descritos para a anfote- ricina B e incluem: febre, calafrios, taquipnéia, flebite, ce- faléia, náuseas e vômitos. Apesar da inexistência de estudos comparando a eficácia e toxicidade das três apre- sentações, a formulação recomendada para o tratamento da LV é o AmBisome® e suas doses variam dependendo do local de infecção do paciente. Para a doença adquirida na Europa ou Brasil a posologia recomendada é de 3 a 4 mg/ kg/dose. Para o continente africano é de 3 mg/kg/dose e para o calazar indiano de 2 a 3 mg/kg/dose. Todas as do- ses administradas em seis aplicações, sendo as cinco pri- meiras em dias consecutivos e a sexta no 10o dia de trata- mento. Apesar de menos tóxicas e aparentemente mais eficazes que o desoxicolato de anfotericina B, essas novas formulações lipídicas são bem mais caras que a anfote- ricina convencional, dificultando seu uso rotineiro. Pentamidina A pentamidina (Pentacarinate® e Pentan®) é uma diamidina aromática cujo mecanismo de ação ainda não é totalmente conhecido, mas parece estar relacionado à inibição da RNA polimerase, função ribossomial e sínte- se de proteínas e fosfolipídios. Seu efeito leishmanicida deve-se à sua ligação seletiva ao DNA do cinetoplasto da leishmania, causando edema e perda da sua função. A pen- tamidina não possui ação sinérgica com os Sb+5 e nenhu- ma combinação lógica foi testada até o momento com ou- tras drogas. Nos vários estudos publicados, os índices de cura são semelhantes àqueles obtidos com os antimoniais. Os efeitos colaterais mais comumente encontrados são anorexia, astenia, náuseas, dor abdominal, dor no local da aplicação da injeção, abscesso subcutâneo estéril, mialgias, cefaléia, pirose, hepatite, gosto metálico, taquicardia, in- suficiência renal reversível em 25% dos pacientes, hipo- tensão, hiper e hipoglicemia reversível e hipocalcemia em 10% dos pacientes tratados. A pancreatite pode levar ao aparecimento de diabetes mellitus irreversível em 5 a 15% dos casos tratados. Leishmaniose Tegumentar Americana A dose recomendada no tratamento da LTA é de 3 a 4 mg/kg, por via intramuscular profunda, três vezes por se- mana, não devendo ser ultrapassada a dose total de 2 g. Na região amazônica doses menores têm sido usadas com bons resultados (três doses de 4 mg/kg com intervalo de dois dias). Com esta posologia os efeitos colaterais são menos freqüentes e de pequena monta. Leishmaniose Visceral Apesar de a pentamidina ser efetiva no tratamento da LV, esquemas prolongados são necessários para prevenir re- cidivas, tornando alta sua toxicidade. Nos vários estudos 320 Capítulo 33 publicados, os índices de cura variam de 25% a percentuais próximos a 100%. Nesses estudos, entretanto, a pentami- dina não foi comparada a nenhuma outra droga. Um úni- co estudo publicado, comparando a pentamidina com a anfotericina B, mostrou que esta última apresenta índices de cura superiores aos da pentamidina (98% versus 77%). A dose recomendada no tratamento do calazar é de 4 mg/kg, IM ou EV, três vezes por semana, durante cinco a 25 semanas dependendo da resposta clínica e parasitológica do paciente. Outros Medicamentos Leishmaniose Tegumentar Americana Tratamentos alternativos, associados ou não aos antimoniais, também já foram tentados e incluem o uso de imunomoduladores (interferon gama, imiquimod), para- momicina, miltefosine®, a terapêutica com derivados imi- dazólicos e triazólicos, alopurinol e macrolídeos dentre outros. Com raras exceções os estudos que avaliaram es- tes medicamentos ou são estudos descritivos ou não con- trolados e com pequena casuística. No geral, os índices de cura relatados foram inferiores àqueles obtidos com os antimoniais e a anfotericina B. Leishmaniose Visceral A idéia do uso de imunomoduladores (interferon gama) no tratamento da LV surgiu a partir da constatação in vitro e in vivo de que existem, durante a evolução da doença, al- terações no sistema imune do hospedeiro responsáveis pela persistência do parasita e progressão da doença como, por exemplo, a ausência de resposta blastogênica dos mo- nócitos do sangue periférico de pacientes a antígenos do parasita, produção diminuída de interleucina 2 e interfe- ron gama, dentre outras. Nove estudos clínicos já foram publicados sobre o assunto com resultados variados. O que se pode concluir desses estudos é que: a. o interferon gama, usado como monoterapia no tratamento da leishma- niose visceral, apesar de reduzir a carga parasitária do pa- ciente não é suficiente para curar a doença; b. a associação de antimoniais com interferon gama induz a uma negativação mais precoce do aspirado esplênico quando comparado ao antimônio isoladamente; c. os percentuais de cura clínica obtidos com a associação interferon gama + Sb+5 não são diferentes daqueles obtidos com o uso iso- lado dos antimoniais, apesar de alguns autores sugerirem que percentuais de cura aceitáveis poderiam ser obtidos com esquemas mais curtos de tratamento, utilizando essa associação. Ao menos na Índia, onde a eficácia terapêuti- ca dos antimoniais tem declinado progressivamente nas duas últimas décadas, essa assertiva não pôde ser confir- mada. Além do seu elevado custo, o interferon gama apre- senta como principais efeitos colaterais: febre, sensação de “formigamento” no local da aplicação, adinamia, mialgias e cefaléia. Na esperança de se encontrar o tratamento ideal para a leishmaniose visceral, inúmeras drogas já foram avalia- das em ensaios clínicos, na tentativa de se identificar uma que pudesse substituir os antimoniais. Todas, entretanto, ou não tem efeito sobre a doença ou são menos potentes que os antimoniais pentavalentes. São elas: o alopurinol, os derivados imidazólicos e triazólicos, o etambutol isolado ou associado à isoniazida, rifampicina associada à isonia- zida, o cotrimazol, o metronidazol, e uma 8-amino- quinoleína (WR6026). Mais recentemente, uma droga oral antineoplásica, Miltefosine® (Metil-hexadecilfosfocolina) tem sido usada com resultados promissores no tratamento da leishmanio- se visceral na Índia. O estudo clínico de fase 2 mais recente com este medicamento mostrou índices de cura de 100% com doses de 50 mg, duas vezes ao dia, durante 21 dias. Os efeitos colaterais relacionados ao seu uso incluem distúr- bios gastrintestinais em mais de 50% dos pacientes (náu- seas, vômitos e diarréia), insuficiência renal, elevação dos níveis séricos da creatinina e das aminotransferases. CRITÉRIOS DE CURA A cura parasitológica na LTA é difícil de ser definida por falta de marcadores parasitológicos. O critério de cura uti- lizado é portanto clínico e pode ser definido como reepi- telização das lesões com regressão do edema e da infiltra- ção três meses após o término do tratamento e ausência de sinais da doença no seguimento de 12 meses. Nas formas mucosas o critério de cura baseia-se na regressão de todos os sinais e sintomas da doença até seis meses após o térmi- no do tratamento. O paciente deve mostrar ao exame otor- rinolaringológico ausência de sinais de atividade da doen- ça. A alta por cura clínica do paciente será dada no seguimento de 12 meses após o término do tratamento. A cura parasitológica na LV é difícil de ser precisada por não existirem ainda métodos disponíveis para tal. O crité- rio de cura utilizado em todo o mundo é clínico e pode ser definido como a ausência de sinais e sintomas da doença no seguimento de 12 meses após do término do tratamen- to. Entretanto, antes deste período, marcadores clínicos e laboratoriais da resposta terapêutica podem ser usados como indicadores de possível cura/recidiva da doença. São eles: a. o desaparecimento da febre, que é precoce e geral- mente ocorre por volta do 5o dia de tratamento; b. a redu- ção da hepatoesplenomegalia nas duas primeiras semanas do tratamento (ao final do mesmo o baço geralmente apre- senta redução de 50% ou mais, em relação à medida ini- cial); c. os parâmetros hematológicos (hemoglobina e leu- cócitos) melhoram a partir da segunda semana. A presença de eosinofilia ao hemograma é sinal de bom prognóstico; d. a volta do apetite e o ganho ponderal são evidentes e se traduzem na melhora do estado geral do doente. Quando estas condições estão presentes, o controle parasitológi- co (punção aspirativa de medula óssea ou baço) ao térmi- no do tratamento é dispensável, uma vez que a presença ou ausência das formas amastigotas do parasita nesta fase não pressupõe cura ou recidiva da doença. As provas sorológicas e a eletroforese de proteínas não têm utilida- de no seguimento do paciente porque se normalizam tar- diamente. BIBLIOGRAFIA 1. Abramson MA, Dietze R, Frucht DM, Schwantz R, Kenney RT. Comparison of new and old world leishmanins in an endemic region of Brazil. Clin Infect Dis 1995; 20(5):1.292-7. Capítulo 33 321 2. Amato VS, Nicodemo AC, Amato JG, Boulos M, Neto VA. Mucocutaneous leishmaniasis associated with HIV infection treated successfully with liposomal amphotericin B (Am- Bisome). 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