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Isquemia dos MMII Leandro Araújo 16/05/2003 Página 1 de 5 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Isquemia dos Membros Inferiores Francisco Leandro Araújo Júnior André Valença Guimarães INTRODUÇÃO É uma doença facilmente reconhecível devido à riqueza e exatidão dos seus sinais e sintomas. É causada mais comumente pela aterosclerose, que reduzindo a luz arterial pode chegar à oclusão completa da mesma. Apresenta -se clinicamente de forma variável, acometendo qualquer segmento arterial, tendo entretanto, predileção por determinados locais como mostra a figura abaixo. DIAGNÓSTICO O sintoma mais importante desta doença é a claudicação intermitente: (Explicaremos a seguir esta manifestação clínica). Sabemos que diante de uma estenose importante ou de uma oclusão arterial, o fluxo sangüíneo, assim como a oferta de oxigênio cai. Freqüentemente, o doente tem a situação clínica compensada através de colaterais, sendo estas suficientes para suprir este aporte de oxigênio durante o repouso. Quando o indivíduo caminha, iniciando o trabalho muscular e portanto gastando mais O2 , este aporte se torna insuficiente, levando aquele tecido à isquemia mais intensa desencadeando o aparecimento da dor.2,3,4 Então, é fácil entender o porquê da claudicação: repouso èè sem dor ; caminha èè dói; repouso èè passa; caminha èèdói. É como se a claudicação descrevesse o seguinte gráfico: Isquemia dos MMII Leandro Araújo 16/05/2003 Página 2 de 5 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Cada doente apresenta sempre o mesmo grau de claudicação, desde que mantidas as mesmas condições do exercício (velocidade da marcha, inclinação do terreno, igual período de tempo).É interessante notar que a sua recuperação demandará a mesma quantidade de tempo, em resposta a igual estímulo. Maior distância èè Menor gravidade do quadro (ou seja: 1000 mts melhor que 700, melhor que 500, melhor que 250 e assim por diante) Menor distância èèMaior gravidade do quadro (100 mts é menos grave que 50, que é menos grave que 30 e assim por diante, até chegar à claudicação incapacitante e à dor em repouso, que explicaremos a seguir. É fácil entender agora o seguinte quadro: Outro sinal muito fácil de ser observado é a hiperemia reativa: Deitando o doente com ambos os membros inferiores elevados a 60o por 3 minutos, notaremos inicialmente a palidez acentuada da da região plantar e ao sentarmos o doente com os membros pendentes, observaremos intensa eritrocianose (vasodilatação) no membro afetado. Após a anamnese, cujas informações são fundamentais na identificação do grupo muscular afetado e do exame físico onde podemos perceber a ausência do pulso, teremos condições de identificar o segmento arterial afetado. Claudicação incapacitante: têm sido incluídos neste grupo, os doentes que não podem exercer suas mínimas funções laborativas devido à grande incapacitação causada pela obstrução arterial. Alguns autores classificam este quadro como qualquer claudicação abaixo de 100 metros (referência*). Caso 1 Acomete a musculatura da coxa e panturrilha. Nestes casos não se palpam os pulsos femorais e os localizados abaixo deste nível (observe-se que a obstrução ou estenose pode ser localizada ou multisegmentar). Caso 2 Acometendo a musculatura apenas da panturrilha, o quadro sugere obstrução fêmoro-poplítea, pois a femoral profunda estando pérvia será capaz de irrigar musculatura da coxa. O exame físico do claudicante: Antes de descrevermos sumariamente os achados do exame clínico dos doentes portadores de obstrução arterial vale a pena lembrar os principais pulsos nos mmii: a) pulso femoral->virilha; b) pulso poplíteo->retro-patelar; c) pulso tibial posterior->atrás do maléolo interno; d) pulso pedioso, no dorso do pé; e) usualmente o doente apresenta queda de pelos, unhas quebradiças e principalmente ausência de pulsos. Caso haja uma piora do quadro oclusivo, por trombose ou fechamento de colaterais, o indivíduo tem seu estado agravado, evoluindo para o quadro clínico chamado dor em repouso (inclui-se no conceito de isquemia crítica). A maneira mais fácil de definir a isquemia crítica é: a) Dor em repouso: aparece nos pés, à noite, quando o doente eleva os pés , anulando o efeito da gravidade. Nas suas fases mais iniciais ela pode ser aliviada pela posição ortostática, quando o doente levanta. Isquemia dos MMII Leandro Araújo 16/05/2003 Página 3 de 5 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro b) Lesão trófico-isquêmica: caracterizada pela presença de lesão ulcerada extremamente dolorosa, superficial, mormente na face lateral da perna ou pé, que não evolui para cicatrização espontânea.5 Resumindo o estadiamento da doença arterial obstruti va: a) Fase 1.: Claudicação intermitente; b) Fase 2.: Claudicação incapacitante (definida pelo doente como uma situação incompatível com suas atividades rotineiras); c) Fase 3.:Isquemia crítica dos membros inferiores(dor em repouso ou lesão trófica) Exames complementares O aparelho de Doppler portátil, mesmo sem registro gráfico, constitui-se em um aliado importante do cirurgião vascular na identificação e quantificação do fluxo arterial. Com ele, na maioria das vezes, podemos selar o diagnóstico, localizar a lesão e termos subsídios para o uso de outros métodos de avaliação da doença vascular. O Doppler é um aparelho simples de usar e muito útil nos casos onde não conseguimos palpar os pulsos. Utilizando-se do efeito Doppler, ao colocarmos o “probe” sobre a área de projeção da artéria a ser estudada, escutaremos um som que poderá ser trifásico, bifásico ou monofásico, em função do grau de resistência periférica e da qualidade da parede arterial.(Nos casos de obstrução pode-se não ouvir qualquer som arterial. Com o uso do Doppler, podemos avaliar com muita precisão o grau da doença obstrutiva, ao estabelecermos a relação entre a pressão arterial dos MMSS e dos MMII gerando uma razão chamada de Índice de Revascularização (ou índice tornozelo -braço). Este índice, então, é obtido ao dividirmos a maior pressão arterial aferida numa das três artérias da perna (tibial anterior, tibial posterior ou peroneira) pela maior pressão arterial encontrada num dos membros superiores. Como, a pressão arterial nos MMII é maior do que nos MMSS o normal é termos um ITB maior que a unidade (ITB>1.0). Há autores, entretanto que o consideram normal até 0,95. Sabemos ,de informações da literatura, e da nossa própria experiência na clínica, que índices entre 0,50 e 0,95 são compatíveis com claudicação, entre 0,35 e 0,50 com dor em repouso e aqueles inferiores a 0,35 com isquemia crítica (úlcera isquêmica ou necrose franca) Além do Doppler portátil sem registro, pode- se lançar mão de outros métodos diagnósticos tais como Doppler de registro gráfico (que poderá fazer as medidas segmentares de pressão arterial),a Pletismografia, a Ultrassonografia Doppler e a Arteriografia. Destes , a arteriografia, tem sido considerada como padrão-ouro, uma vez que identifica todas a lesões estenóticas ou oclusivas , além de orientar toda e qualquer possibilidade terapêutica.6 TRATAMENTO O tratamento da doença arterial obstrutiva depende do grau de severidadeem que o doente se apresenta clinicamente: Claudicação: Tratamento conservador. Os claudicantes , inicialmente, devem ser orientados para abolir ou tratar qualquer fator de risco tais como: o tabagismo , a hipertensão arterial , as dislipidemias, o sedentarismo, e o diabetes mellitus.1 A marcha programada tem se mostrado muito importante na melhora da performance do doente vascular. Os claudicantes devem ser estimulados a caminhar pelo menos 10 vezes a distância de sua claudicação por dia . Ou seja , se o doente claudica para 200 metros, ele deveria caminhar cerca de 2.000 metros, parando intercaladamente à medida de sua limitação. O tratamento conservador tem se mostrado superior ao uso de qualquer droga, mas quando o doente, por alguma razão não pode caminhar, o uso da pentoxifilina tem oferecido algum resultado clínico. A marcha programada+pentoxifilina não tem se mostrado mais eficaz do que o uso isolado do exercício ou da droga. Com esta forma de tratamento, cerca de 70% dos doentes ou melhoraram ou estabilizaram seu quadro.8 Isquemia dos MMII Leandro Araújo 16/05/2003 Página 4 de 5 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Claudicação Incapacitante: os doentes cuja claudicação os incapacita para suas ati vidades mais fundamentais são tratados como aqueles do grupo de isquemia crítica, conforme veremos abaixo: Isquemia Crítica: neste grupo, são incluídos os doentes portadores de doença obstrutiva arterial tão severa que, caso não seja possível uma revascularização, a salvação destes membros estará seriamente ameaçada.5 A revascularização dos MMII deve ser feita sempre com o uso das veias safenas internas, seguidas pelas safenas externas e por último as veias dos MMSS. Os materiais protéticos devem ser reservados para os poucos casos onde o “pool” venoso já foi totalmente utilizado ou, como complementação para permitir que um pequeno segmento de veia alcance níveis muito distais nos membros inferiores (“composite graft”). Figura 3 – Esquema do enxerto composto. O resultado das revascularizações dependerá de muitas variáveis, sendo muito importantes o estado da artéria doadora e receptora, a qualidade da veia que servirá como substituto arterial e o grau de treinamento do cirurgião. Independentemente de todos os esforços, numa política obstinada de salvação de membros ameaçados por isquemia crítica, haverá um percentual de insucesso que oscila entre 10 a 30% de falência imediata. Esta tem sido a grande razão para sermos mais conservadores nos doentes claudicantes. Exemplo Prático: Claudicação para 500 metros 1.à não operar (marcha programada+afastar fatores de risco) 2.àoperar (risco de piorar a situação clínica) Resumo: Claudicaçãoàtratamento conservador Claudicação incapacitanteà operar? Isquemia Crítica à operar sempre que possível OBS: As lesões estenóticas ou oclusivas em região aorto -ilíaca devem ser inicialmente tratadas por dilatação com balão de angioplastia e colocação de “stents”; caso os resultados não sejam satisfatórios, os doentes poderão ser tratados cirurgicamente obedecendo as indicações acima mencionadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico e o tratamento dos doentes com oclusão crônica das artérias dos MMII é como tudo em medicina, uma questão de bom senso, sendo necessário que o cirurgião vascular procure indicar sempre, aquilo que é melhor par o doente, levando-o assim a obter uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS 1. Coffman JD. Intermittent claudication--be conservative. N Engl J Med 1991 Aug 22;325(8):577-8. 2. Dahllof AG, Holm J, Schersten T, Sivertsson R. Peripheral arterial insufficiency, effect of physical training on walking tolerance, calf blood flow, and blood flow resistance. Scand J Rehabil Med 1976;8(1):19-26. 3. Ericsson B, Haeger K, Lindell SE. Effect of physical training of intermittent claudication. Angiology 1970 Mar;21(3):188-92. 4. McAllister FF. The fate of patients with intermittent claudication managed nonoperatively. Am J Surg 1976 Nov;132(5):593-5. 5. Second European Consensus Document on chronic critical leg ischemia. Circulation 1991 Nov;84(4 Suppl):IV1-26. 6. Strandness DE Jr. The use and abuse of the vascular laboratory. Surg Clin North Am 1979 Aug;59(4):707-17. 7. Yao ST, Hobbs JT, Irvine WT. Ankle systolic pressure measurements in arterial disease affecting Versão preliminar Isquemia dos MMII Leandro Araújo 16/05/2003 Página 5 de 5 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro the lower extremities. Br J Surg 1969 Sep;56(9):676-9. 8. Imparato AM, Kim GE, Davidson T, Crowley JG. Intermittent claudication: its natural course. Surgery 1975 Dec;78(6):795-9. Versão prévia publicada: Nenhuma Conflito de interesse: Nenhum declarado. Fontes de fomento: Nenhuma declarada. Data da última modificação: 13 de outubro de 2000. Como citar este capítulo: Araújo L, Guimarães AV. Isquemia dos membros inferiroes. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www.lava.med.br/livro Sobre os autores: Francisco Leandro Araújo Júnior Chefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e do Hospital Esperança, Recife, Brasil. André Valença Guimarães Professor Assistente da Disciplina de Cirurgia Vascular da Universidade Feedral de Pernambuco, Recife, Brasil. Endereço para correspondência: Leandro Araújo Rua Carlos Porto Carreiro, 146 50070-090 Recife, PE. Fax: +81 3231 2960 Fone: +81 3221 2430 Correio eletrônico: leandro@elogica.com.br
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