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Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 1 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Aneurismas Viscerais e Periféricos Fausto Miranda Júnior ANEURISMAS VISCERAIS Consistem em dilatações segmentares dos ramos viscerais da aorta abdominal. Embora pouco freqüente é um importante grupo de doença vascular. Aneurismas de artérias esplâncnicas São duas vezes mais freqüentes que os aneurismas da artéria renal. Os da artéria esplênica e os da hepática apresentam maior incidência1-3 (tabela I). Cerca de um quarto destes aneurismas são diagnosticados em emergências cirúrgicas. Tabela I – Incidência de aneurisma entre as artérias esplâncnicas e a relação com sexo Artéria Incidência(%) Masc:Fem Esplênica 60 1:4 Hepática 20 2:1 Mesentérica superior 5,5 1:1 Tronco celíaco 4 1:1 Gástrica e gastroepiplóica 4 3:1 Jejunal, ileal e cólica 3 1:1 Pancreaticoduodenal 2 4:1 Gastroduodenal 1 4:1 Aneurisma de artéria esplênica É o mais freqüente dos aneurismas esplâncnicos sendo a prevalência na população ao redor de 0,8%.4 A gravidez é uma condição clínica que favorece o aparecimento destes aneurismas devido ao aumento do fluxo esplênico e a alteração da elastina dos vasos. Em 40% das multíparas é relatada a ocorrência do aneurisma esplênico.5 Outra condição clínica associada ao aparecimento destes aneurismas, em torno de 10%, é a hipertensão portal e esplenomegalia6 (figura 1). Figura 1a - Aneurisma de artéria esplênica em paciente do sexo feminino com hipertensão portal de etiologia esquistossomótica, arteriografia pré-operatória. Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 2 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 1b – Aneurisma de artéria esplênica em paciente do sexo feminino com hipertensão portal de etiologia esquistossomótica, arteriografia pós-operatória (exérese do aneurisma e esplenectomia). A maioria dos aneurismas esplênicos são saculares e ocorrem próximos às bifurcações arteriais. A calcificação pode estar presente. Pode ser múltiplo em 20% dos pacientes. A pancreatite crônica, por processo inflamatório ou através de erosão da parede arterial pela presença de pseudocisto, pode provocar o aparecimento de pseudo-aneurisma esplênico. Na maioria dos pacientes a evolução é assintomática. O diagnóstico é feito, em geral, através de exame indicado para outra doença. Assim, a radiografia simples de abdome pode demonstrar a calcificação descrita como “anel de sinete”, sugestivo deste aneurisma. Outros exames subsidiários também fazem o diagnóstico, como a ultra -sonografia, a tomografia computadorizada ou a ressonância nuclear magnética. A presença de dor no quadrante superior esquerdo do abdome ou epigástrica é pouco freqüente. Pode ocorrer com maior intensidade na rotura do aneurisma em dois tempos. A rotura em peritônio livre provoca choque hemorrágico, sendo freqüentemente descrito durante a gravidez e responsável por 70% do óbito materno e 75% do fetal.5 O tratamento eletivo do aneurisma de artéria esplênica é recomendado nos casos diagnosticados sem rotura. Deve-se levar em conta o risco cirúrgico da exérese que deve ser menor que 0,5%. A mortalidade operatória dos casos de rotura é de 25%. Caso o risco operatório seja elevado, pode-se considerar a possibilidade de embolização percutânea do aneurisma ou mesmo a ligadura por via laparoscópica. A esplenectomia deve ser evitada devida a importância imunológica da sua preservação. Nos casos que envolvam a cauda do pâncreas o melhor tratamento é pancreatectomia distal. Aneurisma da artéria hepática Os aneurismas de etiologia traumática e de septicemia ou endocardite bacteriana são diagnosticados na terceira e quarta décadas, enquanto os demais na sexta década da vida. A aterosclerose parece ser secundária e não a causa inicial, porém, a degeneração medial ocorre em 25% dos casos. Os vasos extra - hepáticos são acometidos em 80% dos casos.7 A maioria dos casos são assintomáticos e o diagnóstico pode ser feito através de exames subsidiários (ultra-som, tomografia, arteriografia, etc.). Pode ocorrer dor no quadrante superior direito e os grandes aneurismas podem provocar icterícia obstrutiva. A ocorrência de rotura é cerca de 20% dos casos relatados com mortalidade de 35%. A rotura pode ocorrer na via biliar provocando hemobilia com cólicas, hematêmese e icterícia.8 Nos aneurismas extra-hepáticos a exérese e reconstrução arterial é o tratamento ideal. A obliteração percutânea é um recurso alternativo para os pacientes de alto risco operatório. Aneurisma da artéria mesentérica superior O aneurisma micótico decorrente da endocardite bacteriana é a causa mais freqüente. Outras causas são: degeneração medial, inflamação periarterial e trauma. A arteriosclerose é considerada como secundária ao aparecimento deste aneurisma. O diagnóstico pode ser feito acidentalmente através de exames subsidiários. Em alguns relatos apresenta sintomas de desconforto abdominal de intensidade variada que, às vezes, sugerem angina abdominal. A rotura é infreqüente. A trombose do aneurisma pode manifestar-se por hemorragia gastrointestinal provocada por descolamento de mucosa em áreas de necrose. Pode ocorrer também grave isquemia intestinal caso não haja circulação colateral adequada. Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 3 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro O tratamento mais freqüentemente relatado é a ligadura e aneurismorrafia. Se este tratamento for realizado é necessário avaliar a vitalidade das alças intestinais através do Doppler ultra-som. Nos casos de isquemia intestinal impõe-se a revascularização arterial.9,10 Aneurisma do tronco celíaco A presença deste aneurisma está relacionado com defeitos da camada média. São assintomáticos em sua maioria e seu diagnóstico é feito acidentalmente por exames subsidiários (ultra -som, arteriografia, etc.). A rotura pode ocorrer em 13% dos casos com mortalidade de 50%.11 O tratamento recomendado é o cirúrgico, com reconstrução arterial, a não ser que exista um risco operatório exagerado. Aneurisma da artéria gástrica e gastroepiplóica O aneurisma da artéria gástrica é cerca de dez vezes mais freqüente que o da gastroepiplóica. Em geral são solitários e decorrentes de inflamação periarterial ou de degeneração da média. Em geral, são diagnosticados em casos de emergência em hemorragia gastrointestinal ou menos freqüentemente como sangramento intraperitoneal. A mortalidade decorrente da rotura pode chegar a 70% dos casos. O tratamento do aneurisma intramural gástrico consiste na aneurismectomia e na excisão do local do estômago envolvido.12,13 Aneurisma de artéria jejunal, ileal e cólica Em geral são solitários e decorrentes de defeito adquirido da camada média e aparecem em pacientes com idade acima dos sessenta anos. A periarterite nodosa pode ser a causa de múltiplos aneurismas nestas artérias. São assintomáticos, porém, a maioria dos casos descritos são de rotura (risco estimado em 30% dos casos) e com mortalidade operatória de 20%. A rotura ocorre para dentro do trato gastrointestinal sendo rara para a cavidade abdominal.14,15Aneurisma de artéria pancreática, pancreaticoduodenal e gastroduodenal São os mais difíceis de serem tratados. Cerca de 60% do gastroduodenal e 30% do pancreatoduodenal são decorrentes de pancreatite (necrose vascular) ou por erosão provocada pelo pseudocisto de pâncreas. É freqüente a dor e o desconforto epigástrico. Este podendo ser devido a doença pancreática associada. A rotura ocorre na metade dos casos, em geral para o estômago, vias biliares ou pancreáticas. O diagnóstico é confirmado pela arteriografia. A tomografia e a ressonância são úteis para avaliar a extensão da doença pancreática. O tratamento cirúrgico é a melhor indicação pesando-se o risco operatório associado a cada caso. A melhor abordagem de grande pseudo- aneurisma associado a doença pancreática, é a ligadura dos ramos através do saco aneurismático. Deve ser feita também a drenagem do pseudocisto ou abcesso associado e em casos selecionados, ressecções pancreáticas ou pancreatoduodenectomia.16 Aneurisma da artéria renal A incidência na população geral é de cerca de 0,1%. As mulheres são mais acometidas que os homens e o lado direito é mais acometido que o esquerdo. Isto, provavelmente é devido a maior ocorrência da displasia fibromuscular no sexo feminino e no lado direito. Em geral, são localizados em bifurcações primárias ou secundárias extraparenquimatosas (figura 2). A ocorrência intra-renal é menor que 10%. São devidos em sua maioria a degeneração da média com fragmentação da lâmina elástica. A presença rara de múltiplos microaneurismas são devidos a poliarterite nodosa.17 Figura 2a - Aneurisma de artéria renal direita diagnosticado durante a pesquisa de hipertensão Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 4 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro renovascular em paciente do sexo feminino de 38 anos, arteriografia pré-operatória. Figura 2b - Aneurisma de artéria renal direita diagnosticado durante a pesquisa de hipertensão renovascular em paciente do sexo feminino de 38 anos, arteriografia pós-operatória (exérese e anastomose terminoterminal da artéria segmentar renal in situ). Em geral são assintomáticos, mas, podem ocorrer complicações como expansão, rotura ou embolia de trombos do aneurisma e infarto renal. A rotura renal ocorre em menos de 3% dos casos sendo mais comum nos intra-renais. O risco de perda renal com a rotura é grande. A rotura durante a gravidez está associada a morte fetal em cerca de 85% dos casos e de morte materna em 45%.18,19 É controversa a relação entre hipertensão renovascular e a presença de aneurisma de artéria renal. É possível que em alguns casos ocorra a microembolização a partir do aneurisma com isquemia do parênquima renal e hipertensão renovascular. Pacientes sintomáticos (dor em flanco) com suspeita de expansão do aneurisma têm indicação de reparo cirúrgico. O mesmo acontece com o aneurisma e estenose renal ou com presença de trombo e aneurisma assintomático com diâmetro igual ou maior que dois centímetros. É de indicação cirúrgica o aneurisma assintomático nas mulheres em período fértil. O tratamento consiste na aneurismectomia e reconstrução vascular renal. Em caso de rotura o risco de nefrectomia parcial ou total é maior. A reconstrução arterial renal pode ser feita in situ com emprego de veia safena ou artéria ilíaca interna ou ex vivo para lesão mais complexa ou nos casos de doador renal (figura 3). Nos aneurismas intraparenquimatosos pode haver a necessidade de nefrectomia parcial ou o emprego de stent revestido ou endoprótese para sua correção. Figura 3a - Aneurisma em bifurcação extraparenquimatose da artéria renal em doador vivo de rim, aspecto do aneurisma. Figura 3b - Aneurisma em bifurcação extraparenquimatose da artéria renal em doador vivo de rim, após exérese e anastomose terminoterminal ex vivo. ANEURISMAS ARTERIAIS PERIFÉRICOS Podem aparecer em qualquer local das artérias periféricas, sendo entendidas como tais, todas artérias exceto a aorta torácica e abdominal, o tronco braquiocefálico, as ilíacas e as Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 5 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro esplâncnicas. São muito menos freqüentes que os aneurismas aórticos. Aneurisma extracraniano de artéria carótida É mais freqüente na carótida comum sendo seguido pelo da carótida interna. A aterosclerose é a causa mais comum sendo trauma, pós-operató rio de operação carotídea e arterites as causas mais raras (figura 4). Figura 4 - Aneurisma de artéria carótida comum de etiologia inflamatória (doença de Takayasu). O maior risco da presença do aneurisma carotídeo é a possibilidade de provocar ataque isquêmico transitório ou isquemia cerebral por embolia de trombo mural. Pode ser assintomático e detectado ao exame clínico ou manifestar-se como massa pulsátil no pescoço. Pode provocar desconforto orofaríngeo por compressão, apresentando-se como tumor na fossa tonsilar. O ultra-som dúplex pode confirmar ou excluir sua presença. Os aneurismas do terço distal da carótida interna não são diagnosticados por este método devendo-se empregar a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética. A angiografia cerebral é utilizada para o diagnóstico e planejamento cirúrgico. A tortuosidade (kinking) da carótida é o diagnóstico diferencial mais freqüente. Outros menos comuns são tumor do corpo carotídeo, cisto branquial e adenomegalia cervical. O tratamento cirúrgico consiste na exérese e reconstrução arterial ou através de anastomose terminoterminal ou com interposição de veia ou de prótese. Os métodos de proteção cerebral fogem ao escopo deste guia, mas devem estar inseridos dentro do planejamento cirúrgico.20 Aneurisma de artéria subclávia e axilar A causa mais comum é a síndrome de compressão da cintura escapular sendo a embolização distal uma de suas manifestações. Pode ser provocado pela aterosclerose ou por arterite podendo manifestar-se pela rouquidão vocal devida a compressão do nervo laríngeo recorrente - quando presente no lado direito (figura 5). O uso prolongado de muleta pode provocar aneurisma axilar por trauma repetido.21 Figura 5 - Aneurisma de artéria subclávia direita em paciente portador de doença de Takayasu difuso. O diagnóstico é feito pela palpação de tumor pulsátil supra ou infraclavicular ou axilar. Eventualmente, o diagnóstico é feito pela radiografia simples de tórax, com massa mediastinal superior ou apical do pulmão. A arteriografia confirma o diagnóstico e é utilizada para planejar o tratamento. O tratamento consiste na exérese cirúrgica e reconstrução arterial. Nos casos provocados pela síndrome de compressão da cintura escapular deve ser incluída a correção da compressão (exérese de costela supranumerária ou ressecção da primeira costela).22,23 Aneurisma de artéria femoral É o mais freqüente após o aneurisma da artéria poplítea. A aterosclerose é a causa mais freqüente do mesmo, porém, ultimamente o pseudoaneurisma femoral tem sido diagnosticado com mais freqüência devido a procedimentos diagnósticos e terapêuticos via cateterismo femoral percutâneo (figura 6). Uma causa pouco freqüente é o aneurisma Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 6 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL& LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro micótico e o secundário à doença de Behçet.24,25 Pode ser assintomático e diagnosticado pela palpação de tumor pulsátil inguinal. A isquemia arterial aguda por embolia de trombo mural ou por trombose pode ser outra manifestação. Quando a etiologia é a aterosclerótica (idade acima de 40 anos, ausência de trauma ou cateterismo ou infecções sistêmicas), deve-se pesquisar a possibilidade de aneurismas concomitantes aórticos, ilíacos ou poplíteos assim como a bilateralidade de lesão. O diagnóstico pode ser confirmado por ultra - sonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética. A arteriografia é utilizada para planejamento cirúrgico. Nos casos de aterosclerose é indicado a exérese e reconstrução arterial podendo ser feito concomitantemente com a correção de outro aneurisma da região. A mortalidade da correção do aneurisma femoral isolado é próxima de zero e a perviedade da reconstrução a longo prazo é muito boa.26,27 O acompanhamento deste aneurisma é feito pelo ultra-som para possível diagnóstico de aparecimento de outro aneurisma na região (femoral contralateral, ilíaco, poplíteo ou aórtico). Quanto ao pseudo-aneurisma femoral existe a possibilidade de tratamento por compressão com transdutor de ultra -som transcutaneamente com muito bom resultado. (figura 7). Figura 7a - Pseudo-aneurisma de artéria femoral comum decorrente de procedimento terapêutico endovascular. Figura 7b - Pseudo-aneurisma de artéria femoral comum decorrente de procedimento terapêutico endovascular, corrigido por compressão transcutânea pelo transdutor do equipamento de ultra-som. Aneurisma de artéria poplítea O aneurisma da artéria poplítea é o mais comum aneurisma arterial periférico. A etiologia mais comum é a aterosclerose.28-30 Outras de menor ocorrência são atribuídas a trauma, infecção, entrelaçamento de artéria poplítea e degeneração cística da adventícia. O aneurisma poplíteo acomete o sexo masculino em sua maioria. Um aspecto interessante do aneurisma poplíteo é a freqüência da bilateralidade da lesão e a associação com outros aneurismas arteriais ocorrendo em nossa experiência em 50% e 45,5% dos casos tra tados, respectivamente31 (figura 6). Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 7 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Figura 6a - Aneurisma aterosclerótico de artéria femoral comum e de poplítea (figura 6b) em um mesmo paciente. A correção cirúrgica foi realizada concomitantemente por excisão do aneurisma femoral e exclusão do poplíteo com enxerto venoso em derivação fêmoro-poplítea. Figura 6b - Aneurisma aterosclerótico de artéria femoral comum (figura 6a) e de poplítea em um mesmo paciente. A correção cirúrgica foi realizada concomitantemente por excisão do aneurisma femoral e exclusão do poplíteo com enxerto venoso em derivação fêmoro-poplítea. Como acontece com outros aneurismas, a evolução clínica é assintomática. A presença do aneurisma poplíteo em sua maioria é detectada após tornar-se sintomático ou apresentar uma complicação. Em nossa série, todos apresentaram-se sintomáticos na ocasião do diagnóstico31 fato semelhante foi também relatado em outros trabalhos.32,33 Em outras séries, a freqüência de sintomáticos é bem elevada como 67%34 e 75%.35,36 A queixa mais comum refere-se a obstrução arterial do membro inferior de forma aguda ou crônica. Pode decorrer da trombose do aneurisma ou da embolização de trombos murais para as artérias distais. Outra manifestação pode ser o edema do membro acompanhado ou não de dor provocado pela compressão venosa pelo aneurisma, podendo provocar trombose venosa. A dor do membro tipo nevrálgica pode ser causada por compressão nervosa pelo crescimento do aneurisma. Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 8 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro Como já foi referido, as complicações são freqüentes. As mais comuns são a trombose do aneurisma, embolização distal, rotura e compressão das estruturas vizinhas (figura 8). Figura 8a - Arteriografia de um paciente portador de aneurisma de artéria poplítea. Esta evidencia somente a luz pérvia do vaso e não serve para dimensionar o aneurisma. O achado intra-operatório (figura 8b) evidência o tamanho real do mesmo além de trombos murais que potencialmente podem embolizar para as artérias distais. Figura 8b - Aneurisma de artéria poplítea, o achado intra- operatório evidência o tamanho real do mesmo além de trombos murais que potencialmente podem embolizar para as artérias distais. Caso haja suspeita da presença do aneurisma poplíteo ou em casos com diagnóstico de aneurisma em outra região (especialmente na aorta abdominal), o exame com ultra-som dúplex ou colorido faz o diagnóstico definitivo. Deve-se considerar como achado importante no exame subsidiário a presença de trombos murais no saco aneurismático, os quais constituem risco potencial de trombose do aneurisma ou embolia distal. A artéria poplítea é considerada aneurismática quando o diâmetro for de dois cm ou mais, ou de uma maneira mais ampla, quando o diâmetro do vaso for maior que 50% do segmento adjacente. O tratamento de escolha é a exclusão do aneurisma por ligadura proximal e distal do mesmo e derivação com enxerto venoso.29,34 A perviedade obtida em nossa série foi de 13/18 revascularizações (72,2%), resultado que se situa entre os relatados na literatura que varia de 53%37 a 88%.38 Os pacientes tratados cirurgicamente quando ainda assintomáticos, apresentaram os melhores resultados. Em dois casos de nossa série com trombose do aneurisma poplíteo e com isquemia crítica, não havia escoamento arterial distal para a revascularização com enxerto venoso. Foi empregada a estreptoquinase para lise dos trombos do aneurisma e das artérias distais permitindo a correção cirúrgica.31 O seguimento de pacientes não operados, apresentaram complicações na evolução de 31%28,34 com amputação de membro entre 3,5%28 e 7,7%.34 que salientam sem sombra de dúvida a importância do tratamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os aneurismas esplâncnicos embora pouco freqüentes, entram no diagnóstico diferencial do abdome agudo isquêmico ou hemorrágico. Por sua vez, os aneurismas de artéria renal são menos freqüentes que os esplâncnicos, são na maioria assintomáticos e diagnosticados na pesquisa da hipertensão arterial. Entre os aneurismas periféricos é de extrema importância que o aneurisma da artéria poplítea seja diagnosticado quando ainda assintomático. A porcentagem de amputação da extremidade é diretamente proporcional a ocorrência de trombose ou embolia, complicações estas de ocorrência freqüente. Aneurismas Vicerais e Periféricos Fausto Miranda. 16/05/2003 Página 9 de 10 Pitta GBB, Castro AA, Burihan E. editores. Angiologia e cirurgia vascular: guia ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL & LAVA; 2003. Disponível em: URL: http://www. lava.med.br/livro REFERÊNCIAS 1. Stanley JC, Thompson NW, Fry WJ. Splanchnic artery aneurysms. Arch Surg 1970;101(6):689-97. 2. Busuttil RW, Brin BJ. 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Dispoonivel em: URL: http://www.lava.med.br/livro. Sobre o autor: Fausto Miranda Júnior Professor Associado, Livre-docente, da Disciplina de Cirurgia Vascular do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de São Paulo / Escola Paulista de Medicina, São Paulo, Brasil. Endereço para correspondência: Rua Estela, 515 bloco G cj. 81 04011-904 São Paulo, SP Telefone: +11 5572 3839 Fax: +11 5571 4785 Correio eletrônico: mirandajr.dcir@epm.br
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