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�1 AULA 02 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E ESTADO 1. INTRODUÇÃO O Estado é um fenômeno político que, tal qual é conhecido hoje, surge no século XVI quando se consolida o poder real que se impõe sobre outros poderes, como a nobreza, os parlamentos, as cidades livres e a igreja. Primeiramente, o Estado moderno surge em sua forma absolutista, onde o rei é o soberano absoluto; no final do século XVIII, com a Revolução Francesa de 1789, surge o Estado-nação, que se consolida até o século XIX e onde o povo é soberano. Este Estado-nação mantém-se até hoje e é a formação reconhecida pela Organizações das Nações Unidas (ONU); embora tenha diferentes formatos, mas o princípio básico é o mesmo. O conceito de Estado é apresentado de forma confusa, pois não se tem um consenso sobre a sua real relação com a sociedade, pois ela se apresenta como sinônimo de governo, de Estado-nação e país ou até mesmo como regime político. Para Matias-Pereira (2014) o conceito de Estado envolve três dimensões: 1 sociológica (corporação territorial dotada de um poder de mando originário), política (comunidade de homens fixada sobre um território) e constitucional (pessoa jurídica territorial soberana). Considerando que o povo é a essência do Estado e ao se organizar politicamente, o povo estabelece o seu instrumento de poder, a intensidade do poder do Estado será resultado das dimensões antropológicas do povo ou das culturas sociais que formam na sua capacitação cognitiva. As dimensões, que são distintas do poder, são responsáveis pelo surgimento da hierarquia entre as nações que assumem a posição de dominação e de um elevado número de submissões. O Estado pode assumir o sinônimo de direito quando diversos acontecimentos sociais acontecem permitindo a interpretação no mesmo sentido, o que justifica o pressuposto de transformação do poder. Nesse sentido Gramsci (2002) apud Matias-Pereira (2014) coloca que quando o Estado procura desenvolver um 2 modelo de sociedade, ela tende a transformar ou até mesmo ao desaparecimento da sua cultura e da cultura da sociedade. A compreensão do Estado nos leva a assimilar o conceito de poder e soberania, visto que tal conceito pode existir na essência da complexidade de expressão que pode ser traduzida simultaneamente por meios das classes gramaticais, ou seja substantiva e adjetiva. No sentido material (substantivo) é o poder que tem a coletividade humana (povo) de se organizar juridicamente e politicamente e de fazer valer no seu território a universalidade de suas decisões. No aspecto adjetivo, a soberania se exterioriza como qualidade suprema do poder, inerente ao Estado, como nação política e juridicamente organizada. Quando utilizamos a palavra “Estado” estamos nos referindo à totalidade da sociedade política, ou seja, o conjunto de pessoas e instituições que forma a sociedade juridicamente organizada sobre um determinado território. A palavra “Governo”, por sua vez, se refere somente à organização específica de poder ao serviço do Estado, ou seja, àqueles que gerenciam os negócios do Estado por um determinado período de tempo. MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: 1 Atlas, 2014. Antônio Gramsci foi um filósofo, político, cientista político, comunista e antifascista italiano.2 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB) FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (FACE) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (ADM)� DISCIPLINA CÓDIGO TURMA CRÉDITO S PERÍODO PROFESSOR FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 200794 B 4 2018/1 MARCOS ALBERTO DANTAS �2 2. A FUNÇÃO DO ESTADO O papel do Estado no Governo surgiu de uma forma muito simples, logo quando as primeiras cidades surgiram. Conta a história que um grupo de fazendeiros decidiu construir um bem que era propriedade de todos. Dentro desse contexto, Alves (2015) apresenta cinco funções do Estado:3 a) A primeira função trata do Estado de Defesa dos indivíduos contra ameaças externas. b) A segunda função é o Estado de Justiça, que é a defesa dos indivíduos uns dos outros. c) A terceira função surgiu diante da necessidade do Estado em Regular o Mercado, diante das diversas criações do mercado. d) A quarta função tem como base o investimento em infraestrutura, diante da necessidade de expansão territorial. e) A quinta função tem o propósito de estimular a pesquisa e o desenvolvimento, face ao crescimento tecnológico através da pesquisa. Essas funções podem ser generalizadas com sendo uma redução em custos de transação. Dessa forma o Estado, além de reduzir custos permite um maior numero de interações dentro da sociedade, fazendo com que ela aumente a sua produtividade. a) A Função do Governo para o Estado Na direção ou processo de administração do Estado, o governo tem a função de aplicar as leis e políticas públicas do Estado através dos poderes Executivo e do Judiciário, e, quando necessário, empreender sua reforma através do poder legislativo. Numa abordagem atual, podemos entender o governo como “constituído pela cúpula do poder Executivo, do poder Legislativo, e pelos deputados e senadores. Além de ser o processo de governar, o governo é o grupo dirigente do Estado” (BRESSER-PEREIRA , 1995 apud DIAS e 4 MATOS , 2012).5 A administração dos negócios do Estado, feita pelo governo, ocorre em todos os níveis da estrutura estatal – federal, estadual e municipal. Essa administração dos negócios é renovada de quatro em quatro anos nos diferentes níveis. Do ponto de vista das políticas públicas, as decisões mais importantes ocorrem no seio do poder governamental, podendo haver desequilíbrios entre a parcela de decisão que cabe ao Executivo ou ao Legislativo, dependendo de vários fatores. No Brasil, de regime presidencialista, as decisões dependem do vigor de representação política do Poder Legislativo. Quanto mais o Parlamento corresponder ao espaço de representação das forças sociais, maior tende a ser o seu peso no rumo que tomarão as política públicas. E, ao contrário, quanto mais frágil ou artificial, ou mesmo mais segmentada em benefício de classes ou grupos sociais for a representação parlamentar, mais a fundamentação e o rumos tomados pela políticas públicas tende a se deslocar para o aparelho administrativo. 3. O ESTADO BRASILEIRO O Brasil tem um Estado republicano, democrático e representativo. Trata-se de uma República federativa e presidencialista composta por três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário. a) Poder Executivo No Brasil as funções de chefe de Estado e de chefe de governo pertencem ao ocupante do cargo de Presidente da República. Tem como funções básicas: ALVES, Paulo Vicente. Gestão Pública Contemporânea. Rio de Janeiro, Alta Books, 2015.3 BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, sociedade civil e legitimidade democrática. Lua Nova, n.36, p. 21-38.4 DIAS, Reinaldo; MATOS, Fernanda. Políticas Públicas: princípios, propósitos e processos. São Paulo: Atlas, 2012.5 �3 ✓ Representar o país internacionalmente; ✓ Manter relações e tratados com países estrangeiros; ✓ Ser o comandante supremo das Forças Armadas ✓ Propor políticas públicas ao Congresso e implantá-las; ✓ Dirigir a Administração Pública Federal Diante disso, o Presidente da República tem o poder de propor leis ao Congresso, editar medidas provisórias, sancionar ou promulgar leis ou vetar projetos de lei. Conta ainda com a Polícia Federal e Agencia Brasileira de Inteligência. É assessorado por Ministros de Estado que pode nomear livremente. Nos estados federados, o chefe do Executivo é o Governador, que tem por função dirigir a Administração Pública Estadual e garantir o cumprimento das leis em seu estado. Também lhe compete propor à Assembleia Legislativa e implantar políticas públicas estaduais. Preside a Polícia Civil, a PolíciaMilitar e o Corpo de Bombeiros. É assessorado por secretários estaduais nomeados livremente. Nos municípios o chefe do Executivo é o Prefeito, que tem como funções básicas dirigir a Administração Pública Municipal e garantir, no limite de suas atribuições, o cumprimento das leis em seu município. Pode e deve propor leis à Câmara Municipal ou vetar projetos de lei, bem como políticas públicas municipais. Fonte: https://br.pinterest.com/pin/577094139721520365/ b) Poder Legislativo O Legislativo elabora as leis do país, estados e municípios. No âmbito federal é exercido pelo Congresso Nacional, integrado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Compõe também o Congresso o Tribunal de Contas da União, que auxilia o Congresso Nacional nas atividades de controle e fiscalização externa. Nos estados, o Legislativo é exercido pelas Assembleias Legislativas e no Distrito Federal, a partir de um sistema híbrido que incorpora as competências legislativa de estado e município pela Câmara Distrital. Nos municípios, o Legislativo é exercido pela Câmara Municipal. �4 Fonte: http://slideplayer.com.br/slide/1489644/ c) Poder Judiciário É a instituição estatal responsável pela atividade jurisdicional de resolução de conflitos que somente pode agir para a concretização de direitos mediante provocação de quem se sentir lesado pela ação ou omissão de outrem. O Judiciário exerce a função jurisdicional, isto é, possui a capacidade de julgar, de acordo com a Constituição e as leis do país, quando provocado por uma parte que ajuíza uma ação para resolver um conflito com outra parte. O acesso à justiça é um direito fundamental do cidadão. São órgãos do Poder Judiciário o Supremo Tribunal Federal (STF), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Superior Tribunal de Justiça (STJ), os Tribunais Federais e juízes federais, os Tribunais Eleitorais e juízes eleitorais, os Tribunais do Trabalho e juízes do trabalho, os Tribunais Militares e os Tribunais Estaduais e juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios. FONTE: http://anmar-diversos.blogspot.com.br/2010/04/estrutura-do-poder-judiciario.html. �5 d) Ministério Público É uma instituição dinâmica de garantia e efetivação de direitos, onde não precisa ser provocado para atuar em prol de sua concretização, principalmente quando exigem a atuação do Estado para concretizá-lo por meio de políticas públicas. O Ministério existe tanto no âmbito da União quanto dos Estados. O Ministério Público da União é composto pelo Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Dentre tantas funções tem a responsabilidade de zelar pelo respeito aos Poderes Públicos e aos serviços de relevância pública assegurada pela Constituição. 4. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO ESTADO O Estado é uma criação cultural humana, que vive na estrutura funcional de seu quadro de funcionários, que possui um objetivo. Constitui uma entidade, não uma pessoa, formado pelo aparato social, jurídico-administrativo, para se obter a institucionalização do poder político. O Estado é dotado pela ordem, pela justiça e pelo bem comum da sociedade. Para tanto, deve legislar (criar e manter em dia uma ordem jurídica eficaz); administrar (prover, através de diversos mecanismos legais e executando os serviços públicos, as necessidades da comunidade) e julgar (resolver pacificamente, de acordo com a lei, os conflitos de interesses que possam surgir e decidir qual é a norma aplicável em caso de dúvida). Para desempenhar suas funções essenciais, o Estado precisa ter determinadas capacidades que podem ser sintetizadas em uma série de dimensões (BID , 2007 apud DIAS e MATOS, 2012) identificadas 6 como cruciais para o seu exercício, que são: ➔ Definir e manter prioridades entre as muitas demandas conflitantes; ➔ Direcionar recursos para onde eles sejam eficazes; ➔ Inovar quando as políticas existentes tiverem falhados; ➔ Coordenar objetivos conflitantes um todo coerente; ➔ Ser capaz de impor perdas a grupos poderosos; ➔ Representar interesses difusos e desorganizados; ➔ Assegurar a implementação efetiva das políticas governamentais; ➔ Assumir e manter compromissos internacionais nas áreas do comércio e defesa nacional; ➔ Administrar cisões políticas para que a sociedade não degenere em guerra civil; ➔ Assegurar a adaptabilidade das políticas quando as mudanças das circunstâncias exigirem; ➔ Assegurar coerência entre diferentes âmbitos de políticas; ➔ Assegurar eficiência na coordenação das políticas entre os diferentes atores que operam num mesmo âmbito de políticas. 5. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO ESTADO Os elementos essenciais do Estado que servem para justificar a sua existência são definidos por Matias-Pereira (2002:30) como povo, território e poder político. a) Povo – o povo como sinônimo de sociedade civil coloca o pensamento disseminado pelas entidades associativas que formulam, educam e preparam seus integrantes para a defesa de determinadas posições sociais e para uma certa sociabilidade. BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. A políticas das políticas públicas. Progresso econômico e social na 6 América Latina: Relatório 2006. Rio de Janeiro: BID 2007. �6 b) Território – o princípio da territorialidade que preside ao Estado moderno é definidor de competências dos órgãos do Estado, o que significa a ideia de vulnerabilidade do território ao poder dos órgãos de outros c) Poder Político – o poder político é compreendido pelo significado de um poder moral e econômico de auto suficiência do Estado que transcende o entendimento de que a nação é uma ideologia de lealdade em relação a um tipo de Estado. Diante da sua existência, podemos considerar o Estado em diferentes processos de desenvolvimento se adequando às transformações sociais e econômicas, às mudanças de regime politico e à universalização de direitos fundamentais dos cidadãos, como os direitos civis, sociais e políticos. Tendo sido influenciado pelos fatores sociais e econômicos e pala ampliação dos direitos de cidadania, houve uma repercussão na forma de o Estado ser administrado, alterando o tipo de democracia correspondente a cada forma de Estado, de modo a incluir cada vez mais pessoas nos processo de participação política. Teixeira (2012) descreve várias formas de Estado:7 ➡ Estado Absoluto - Se caracteriza pela total concentração de poder nas mãos da autoridade. Foi muito usado no período da monarquia, onde o rei não apenas respondia pela administração dos negócios como, geralmente, produzia leis e exercia, quando necessário, o papel de juiz. ➡ Estado Liberal - Parte do princípio de que todos deveriam estar submetido às mesmas leis, inclusive as autoridade do governo. Portanto as leis passaram a ser elaboradas por um corpo de legisladores eleitos para assumir essa atribuição. ➡ Estado Liberal-democrático - Traz consigo uma mudança significativa: a inclusão de mais pessoas no processo político por meio da extensão do direito de voto. ➡ Estado Social-democrático - O voto deixou de ser o único instrumento de expressão da vontade política da sociedade. Daí surgiram as organizações sindicais, diferente tipos de associações, e partidos políticos das mais variadas representações. ➡ Estado Social-liberal e republicano - Mantém os princípios de proteção à propriedade e à liberdade individual para garantir a segurança das pessoas. Amplia os mecanismos de proteção social com medidas que visa proteger o emprego das pessoas. 6. ESTADO E SOBERANIA O Estado tem como finalidade precípua atender à razão natural da vida em sociedade e promover a realização das expectativas do homem em busca da felicidade comum, ou seja, do bem comum. Para tal é necessário haver a limitação do poder do Estado perante a sociedade e, assim,respeitando a Nação, ao cumprir adequadamente a tarefa de promover o bem comum que será assegurado por um governo que expresse a vontade da maioria dos cidadãos. O Estado é detentor da soberania, e a soberania define-se pelo poder político que se configura na faculdade de ordenar a organização social e de deliberar sobre assuntos de natureza coletiva, devendo agir sempre e em todos os atos de conformidade com o interesse coletivo. A base do poder político é o dever moral. O Estado pode ser compreendido fundamentalmente por meio de duas concepções básicas: com uma relação social de dominação e com um conjunto de organizações com autoridade para tomar decisões que atinjam todos os indivíduos de uma coletividade. TEIXEIRA, Marcos Antonio Carvalho. Estado, governo e administração pública. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2012.7 �7 a) Estado e Cidadania A noção de cidadania, desde a sua concepção, tem sido vinculada a ideia de Estado-nação, o qual exerce tanto uma soberania interna – sobre a população que está dentro de um território definido – quanto uma soberania externa. A cidadania aparece como um conjunto de mecanismos institucionais que regulam as relações entre Estado e população, definindo os direitos e as obrigações desta última e introduzindo o princípio de igualdade formal, ao contrário das normas diferenciadas criadas para cada segmento da população. Dessa maneira o cidadão passou a identificar-se com o Estado-nação, fazendo que essa afinidade seja traduzida em uma forte sensação de pertencer àquele Estado. Por sua vez, o processo de globalização tende a enfraquecer a importância da referencia territorial e, portanto, a erodir os fundamentos da cidadania tradicional. 7. ESTADO E GOVERNO Governo, segundo Maximiniano e Nohara (2017) , diz respeito ao verbo governar, estando também 8 associado à figura do governante, que é a instância máxima de liderança do Estado. É de sabedoria nacional que a função do governante não é só desempenhada pelo poder executivo, mas numa democracia é repartida pelo poder legislativo, na qual depende da aprovação de leis para viabilizar os planos governamentais nos seus diversos setores da sociedade. Aprofundando um pouco mais a essência da democracia, podemos dizer que as gestões governamentais estão interligadas com a participação da sociedade, dos grupos representativos destas e do apoio popular, pois não se faz democracia sem constar na agenda de governo os desejos e anseios da sociedade como um todo. A realização de demandas sociais, na concepção de Marshall (1992) , depende de um Estado dotado 9 de infra estrutura administrativa a fim de propiciar políticas sociais que garantam o acesso universal a um mínimo de Bem Estar e segurança material. O Estado na busca da realização dos direitos sociais enfatizou alguns princípios que garantem: ✓ Universalidade da cidadania – é a garantia de status aos direitos universais para categorias sociais devidamente definidas; ✓ Territorialização da cidadania – é o princípio da universidade articulada com a territorialidade para delimitar o alcance político do mesmo território, a extensão do mesmo território e para delimitar a abrangência do status do direito universal; ✓ Individualização da cidadania – é a ampliação dos vínculos diretos entre o indivíduo e o Estado, consubstanciados pelos princípios de participação a partir da consulta popular, opondo-se às antigas tutelas corporativas; ✓ Nacionalização da cidadania – é o princípio da cidadania com status de pertencimento ao Estado- nação, garantindo um sentimento de vinculação direta e coparticipante na constituição do Estado-nação. 7.1 Governança e Governabilidade Os conceitos de governabilidade e governança é entendido de forma sistemática com o conceito de Estado e Políticas Públicas. Desse modo, a governabilidade que é a capacidade política de governar, seria a resultante da relação de legitimidade do Estado e do seu governo com a sociedade. A governança decorre da capacidade financeira e administrativa do governo realizar as suas próprias políticas. MAXIMINIANO, Antonio Cesar Amaru; NOHARA, Irene Patrícia. Gestão Pública: Abordagens integrada da 8 Administração e do Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2017. MARSHALL, Tomas H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1992.9 �8 Segundo Mathias-Pereira (2008) a governança pode ser aceita como a forma com que os recursos 10 econômicos e sociais de um país são gerenciados, com vistas a promoção do desenvolvimento organizacional. Esse conceito é entendido por muitos como uma reformulação do conceito de governabilidade, porém, fica evidenciado que a principal diferença está na legitimidade das ações dos governos. A função básica dos instrumentos de governança, de acordo com Oliveira (2015) , é educar, 11 monitorar, controlar e fiscalizar a gestão financeira e zelar pela implantação das boas praticas nas organizações públicas. No conceito de governabilidade, a legitimidade é proveniente da capacidade de governo em representar os interesses de suas próprias instituições, já na governança, uma parcela de sua legitimidade advém do processo de concretização dos grupos específicos da população que participam da elaboração e complementação das políticas públicas. Considerando a terminologia dos conceitos, a governabilidade se refere às condições sistêmicas por meio das quais se dá o exercício do poder, como a forma de governo, a relações entre os poderes, os sistemas partidários etc. Por sua vez, a governança refere-se à capacidade governativa que envolve a capacidade das ações do Estado, através de implantação das políticas públicas e da consecução das metas coletivas. Do ponto de vista político, a governabilidade diz respeito às condições do exercício da autoridade política e do modo de uso dessa autoridade, já a governança significa a capacidade de resistência por grupos de interesses das elites governamentais. O termo “governança”, com base na literatura acadêmica, pode ser definido como um processo complexo de tomada de decisão que antecipa e ultrapassa o conceito de governo. Seus aspectos estão evidenciados na literatura através da relação com a legitimidade do espaço público, com a repartição do poder entre aqueles que governam e aqueles que são governados É oportuno destacar que a fonte direta na governança não são os cidadãos ou a cidadania organizada em si mesma, mas um prolongamento desta. De acordo com Mathias-Pereira (2012) , são os próprios 12 agentes públicos ou servidores do Estado que possibilitam a formulação e implementação adequada das políticas públicas; com representatividade diante da sociedade na prestação direta de serviços públicos; com os processos de negociação entre os atores sociais; e com a descentralização da autoridade e das funções ligadas ao ato de governar. Nas diferentes visões de governança, segundo Mathias-Pereira (2008), o conceito de governança está relacionado à prioridade do econômico sobre o político, do capital sobre o Estado, do mercado sobre a democracia, do lucro sobre a justiça social. Desse modo, governança pode ser definido como a gestão administrativa da ordem social com poder confiscado pelas elites financeiras e técnico-administrativas com finalidades decididas antecipadamente e na ausência da sociedade. A influência política de grupos de interesses varia quando se tem em conta o desenvolvimento da política pública de forma mais central. Quando os grupos em posição periféricas tendem a não produzir qualquer resultado, e, pela falta de poder de barganha, são forçados a aceitar ganhos e perdas determinadas pelos primeiros. 10. REFORMA NO ESTADO As reformas no Estado buscam ofertar bens e serviços públicos com maior qualidade, bem como diminuir sua interferência no mercado, por meio das privatizações e da desregulamentação das atividadeseconômicas. MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública: Foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: 10 Atlas, 2008. OLIVEIRA, Saulo Barbará de (org.). Instrumentos de Gestão Pública. São Paulo: Saraiva, 2015.11 MATIAS-PEREIRA, José. Manual de Gestão Pública Contemporânea. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012.12 �9 Verifica-se que com a retomada do princípio do livre comércio, através de crescente unificação dos mercados, está ocorrendo uma maior participação popular na vida política dos países e vem aumentando significativamente a criação de organizações não governamentais. A liberdade de imprensa é cada vez maior, o que tem contribuído para o processo de consolidação da cidadania nos países da região. Assim, a sociedade vem se preocupando e exigindo maior transparência na gestão pública, com o combate à corrupção e com cobrança da responsabilidade dos gestores públicos. No que se refere às mudanças no Brasil, Mattos (2002) apud Matias-Pereira (2012:27), coloca que a 13 forma de atuação do Estado como agente normativo e regulador da atividade econômica, está constituído por elementos de transformação na forma jurídico/institucional, na qual foi introduzido por um projeto de reforma do Estado no Brasil. Tal projeto se define pela criação de agências reguladoras responsáveis por setores da economia, principalmente por aqueles caracterizados como de infraestrutura e serviços públicos. Tais serviços possuem funções normativas e reguladoras orientadas pelos princípios constitucionais da livre concorrência e da defesa do consumidor. No campo econômico, o capital intelectual surge como o novo motor impulsor de toda a economia, como o ativo mais importante, em substituição ao capital físico. A revolução tecnológica, por sua vez, está ocorrendo de forma irreversível no mundo, permitindo que seja feita a transmissão de um fluxo cada vez maior de dados, num tempo cada vez menor para pontos cada vez mais distantes. Essas mudanças estão contribuindo para acelerar o debate sobre o novo papel do Estado-nação no mundo, visto que estão surgindo novos centros de poder, bem como o estabelecimento de novas relações entre os Estado-nação. Fica evidenciado que, diante da amplitude, complexidade e gravidade da crise que o mundo está vivenciando, se apresenta como capaz de atuar de forma concreta, para evitar a paralisia e o caos no sistema financeiro e econômico mundial, bem como resolver, por meio da união dos Estados detentores das principais economias. As transformações em curso no mundo contemporâneo, que provocam incertezas no ambiente, também estão gerando novas oportunidades e impulsionando avanços tanto no setor privado como no setor público. Frente a essa tendência, são desenvolvidos esforços para viabilizar a inclusão, redução da desigualdade, manutenção do crescimento econômico sustentável e melhoria das condições socioambientais. Elas se apresentam como os principais desafios que grande parte dos governantes locai, estaduais, regionais, nacional e mundial enfrentam e nesse esforço faz-se necessário compreender a administração pública, com vista a perceber com clareza as diversidades e complexidades existentes. Os estímulos provocados pelo movimento internacional de Reforma do Estado foram responsáveis pela proliferação nos países latino-americanos, de implementação de diversas experiências na área da Administração Pública. Essas mudanças tiveram como características básicas buscar maior flexibilidade gerencial em relação à compra de insumos e materiais, à contratação e dispensa de pessoas, à gestão financeira dos recursos, além de estimular a implantação de uma gestão que priorizassem resultados, satisfação dos usuários e qualidade dos serviços prestados. (MATIAS-PEREIRA, 2008). Na reforma do Estado no mundo contemporâneo, podemos destacar quatro modelos que caracterizam o contexto internacional de reforma: 2) Impulso para a eficiência - preconiza a transformação do setor público com a introdução de padrões de eficiência. 3) Sistema de controle financeiro - introdução de sistemas de custos e auditorias quanto aos aspectos financeiros e profissionais, com poder outorgado à administração superior. 4) Modelo downsizing e descentralizado - é a separação entre o financiamento público e a dotação do setor autônomo através da mudança da gestão hierárquica para a gestão por contrato. 5) A busca pela excelência - é o modelo de orientação para o serviço baseado na Escola de Relações Humanas, com ênfase na cultura organizacional. MATIAS-PEREIRA, José. Manual de Gestão Pública Contemporânea. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012.13
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