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�1 AULA 03 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E POLÍTICAS PÚBLICAS 1. INTRODUÇÃO A política pública é, por natureza, relacionada ao interesse público porque, de algum modo, acaba por afetar, mesmo que indiretamente, todos os membros de uma sociedade. As políticas públicas constituem, assim, uma significativa porção do nosso ambiente sociopolítico, o que leva a necessidade de conhecer como elas são formadas, orçadas, implementadas e avaliadas. Essas tarefas normalmente são desempenhadas por profissionais da Administração Pública e por políticos, e de interesse de pesquisadores preocupados em compreender o funcionamento do processo de formulação de políticas e como os problemas sociais por elas são enfrentados. Na acepção do senso comum, problemas sociais estão relacionados a alguma fonte de perplexidade, de dificuldade, de miséria, de aflição, de angústia, de aborrecimento, de contrariedade. Os grandes problemas de uma sociedade normalmente estão vinculados, por exemplo, a questões econômicas, sociais, ambientais, políticas. Cada uma dessas espécies de problema atinge determinado número de pessoas que podem, ou não, se mobilizar para tentar resolvê-los. No que diz respeito, especificamente, ao termo “política”, a definição clássica foi herdada dos antigos gregos, no século 4 a.C, através da obra de Aristóteles “Política". O conceito de política é derivado do adjetivo 1 originado de polis (politikós), que significa tudo que se refere à cidade e, consequentemente, o que é urbano, civil, público e até mesmo sociável e social. Dito de outro modo, o conceito de política, conforme Noberto Bobbio, “é habitualmente empregado para indicar atividade ou conjunto de atividades que têm de algum modo, como termo de referencia, a polis, isto é, o Estado”.2 Do ponto de vista das políticas públicas, as decisões mais importantes ocorrem no seio do poder governamental. Pode haver um equilíbrio ou desequilíbrio entre a parcela de decisão que cabe ao Executivo ou ao Legislativo, dependendo de vários fatores. Num regime presidencialista, como é o caso do Brasil, isso depende do vigor da representação política do Poder Legislativo. Quanto mais o Parlamento corresponder ao espaço de representação das forças sociais, maior o tende a ser o seu peso no rumo que tomarão as políticas públicas. E, ao contrário, quanto mais débil ou mais artificial ou ainda mais segmentada em benefício de classe ou grupos sociais for a representação parlamentar, mais a fundamentação e o rumo que tomarão as políticas públicas tende a se deslocar para o interior do aparelho administrativo. A sociedade civil, por sua vez, em contraposição à sociedade política, ou Estado, é a sociedade organizada, que engloba todas as relações sociais que estão à margem do Estado, mas que exercem algum tipo de influência sobre ele. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Martim Claret, 2005 apud DIAS, Reinaldo; MATOS, Fernanda. Políticas Públicas: 1 Princípios, Propósitos e Processos, São Paulo: Atlas, 2012. BOBBIO, Noberto. Teoria geral da política. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000 apud DIAS, Reinaldo; MATOS, 2 Fernanda. Políticas Públicas: Princípios, Propósitos e Processos, São Paulo: Atlas, 2012. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB) FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (FACE) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (ADM)� DISCIPLINA CÓDIGO TURMA CRÉDITO S PERÍODO PROFESSOR FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 200794 B 4 2018/1 MARCOS ALBERTO DANTAS �2 2. CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS A expressão “política pública” engloba vários ramos do pensamento humano, sendo interdisciplinar, pois sua descrição e definição abrangem diversas áreas do conhecimento como Ciências Sociais Aplicadas, a Ciência Política, a Economia e a Ciência da Administração Pública, tendo como objetivo o estudo do problema central, ou seja, o processo decisório governamental. A política, também, pode ser vista como um conjunto de interações que visam atingir determinado objetivo, e neste sentido está em toda parte, seja na arte, nas relações de trabalho, na religião, no esporte etc. Podemos também entender a arte da política com destreza, habilidade, perícia com que se maneja assunto delicado ou uma atitude já estabelecida com respeito a determinados assuntos. Segundo, Kannane et al. (2010) , as políticas públicas são medidas e procedimentos que orientam a 3 política do Estado e regulam as atividades governamentais relacionadas às tarefas de interesse público. Embora se constitua na unidade base de funcionamento das atividades estatais nos diferentes âmbitos é um princípio de ação adotado ou proposto por um governo, partido, empresa ou indivíduo. A função específica de uma política pública é prover orientações normativas, guiadas por valores e por finalidades, para a elaboração de estratégia, programas e planos que procuram adequar meios para atingir determinados fins. Na medida em que a ação da Administração Pública se especializou e os estudos sobre a ação político-administrativa do Estado se aprofundaram, conjuntos de atividades e ações destinados a resolver problemas coletivos passaram a ser identificados tematicamente e acompanhados. A identidade das políticas públicas, assim, se tornou essencial para que os observadores identificassem como vinham sendo concretizadas e em que níveis de eficiência e eficácia os resultados vinham sendo obtidos. Com esses critérios, em termos de gestão, se tornou possível a distribuição de funções políticas e administrativas em diferentes posições de controle e coordenação para permitir a alocação eficiente de recursos na resolução de problemas coletivos. Para se discutir a política pública, faz-se necessário compreender o conceito de “público”. As esferas que são rotuladas como públicas são aquelas que estão em oposição a outras que envolve a ideia de “privado”. O público compreende aquele domínio da atividade humana que é considerado necessário para intervenção governamental ou para a ação comum. Fazem referencia a esse âmbito comum a muitos termos utilizados com frequência, tais como: interesse público; setor público; opinião pública; saúde pública entre outros. Essa dimensão comum é denominada propriedade pública, não pertence a ninguém em particular e é controlada pelo governo para propósitos públicos. A administração pública surgiu como instrumento do Estado para defender os interesses públicos ao invés dos interesses privados. Enquanto há aqueles que acham que somente os mercados podem equilibrar os interesses públicos, outros entendem que a administração pública é o meio mais racional de promover o interesse público. Muitas dessas definições, conforme destaca Hochman (2007) , enfatizam o papel da política pública 4 na solução de problemas. Alguns superestimam aspectos racionais e procedimentos das políticas públicas argumentando que elas ignoram a essência da política pública, isto é, o embate em torno de ideias e interesses. No entanto, definições de políticas públicas, mesmo as minimalistas, guiam o nosso olhar para o lócus onde os embates em torno de interesses, preferências e ideias se desenvolvem, isto é, os governos. A política pública em geral e a política social, em particular, são campos multidisciplinares, mas cada qual adota um foco diferente. Por isso, uma teoria geral da política pública implica a busca por sintetizar teorias construídas no campo da sociologia, da ciência política e da economia. Políticas públicas repercutem KANAANE, Roberto; FIEL FILHO, Alécio; FERREIRA, Maria das Graças (org.). Gestão Pública: Planejamento, 3 Processos, Sistemas de informações e Pessoas. São Paulo: Atlas, 2010. HOCHMAN, Gilberto; ARRETCHE, Marta; MARQUES, Eduardo. Políticas Públicas no Brasil. Rio de Janeiro: Editora 4 FIOCRUZ, 2007. �3 na economia e na sociedade, daí porque ela precisa também explicar as interrelaçõesentre Estado, política, economia e sociedade. Se admitirmos que a política pública é um campo holístico, isto é, uma área que situa diversas unidades em totalidade organizadas, teremos duas implicações. A primeira é que a área se torna território de várias disciplinas, teorias e modelos. A segunda significará que ela não carece de coerência teórica e metodológica, pois comporta vários olhares. Assim, é o Governo, o principal gestor dos recursos públicos e quem garante a ordem e a segurança providas pelo Estado. Dessa forma, o governo é obrigado a atender e resolver os problemas e levar adiante o processo de planejamento, elaboração, implementação e avaliação das políticas públicas que sejam necessárias ao cumprimento – de modo coordenado e permanente – dessa função que lhe delegou a sociedade. 3. ATORES ENVOLVIDOS EM POLÍTICAS PÚBLICAS A política pública diz respeito à mobilização político-administrativa para articular e alocar recursos e esforços para tentar solucionar dado problema coletivo. Nessa mobilização são levantadas possibilidades de solução, identificados e quantificados os custos, definindo o escopo da ação para atacar total ou parcialmente o problema dentro de cada perspectiva temporal. Nesse processo de solução de problemas, dependendo da amplitude e complexidade, pode haver a mobilização de grande número de recursos públicos privados e da sociedade civil organizada. Segundo Procopiuck (2013) há, igualmente, o envolvimento de vários grupos de profissionais e interessados na 5 resolução de problemas sociais, como, por exemplo, pesquisadores, profissionais da Administração Pública e políticos. Os pesquisadores estão preocupados em estudar de modo sistemático e rigoroso a origem, o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas. O objetivo dos estudos é elevar o nível de conhecimento do comportamento político, dos sistemas de governança, dos aparatos administrativos, bem como da política pública em si. Os estudos, nessa perspectiva, tendem a ser conduzidos de forma imparcial e objetiva. Os profissionais da Administração Pública atuam em carreiras como de gestores, de analistas ou de avaliadores de políticas públicas. São praticantes que se utilizam de teorias e de modelos conceituais para tentar compreender e interferir para obtenção de resultados práticos eficientes nas políticas públicas executadas. A política pública, nesse caso, é avaliada em função dos interesses de políticos ou de grupos políticos. Os políticos se utilizam dos conhecimentos de política pública para promover “boas políticas” e defender como elas “corretamente” resolvem problemas da sociedade. Nesse caso, a noção do que é “bom” e “correto” normalmente dependerá de aspectos ideológicos que dão sustentação aos critérios de avaliação e de julgamento da política pública e de seus resultados. A política pública, nesse caso, também é avaliada em função dos interesses de políticos ou grupos de políticos. Há diversos modos de classificar os atores que participam do processo de formação de políticas públicas e sua utilidade dependerá do que pretende em termos de análise, uma maior ou menor profundidade; um maior ou menor detalhamento dos atores etc. Dias e Matos (2012) classificam os atores da política 6 pública em: PROCOPIUCK, Mário. Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2013.5 DIAS, Reinaldo; MATOS, Fernanda. Políticas Públicas: Princípios, Propósitos e Processos, São Paulo: Atlas, 2012.6 �4 a) Atores formais e informais São considerados atores formais aqueles que foram definidos pela Constituição Federal, tais como os partidos políticos, os membros dos legislativos e a autoridade máxima do executivo em cada esfera. Eles ocupam uma posição central no sistema formal e no processo de formulação de políticas. Ainda são considerados atores formais as equipes de governo, a burocracia e o Poder Judiciário. Os atores informais são aqueles que não são regidos pela Constituição ou outras leis orgânicas, nem recebem funções específicas no processo de preparação de políticas públicas, mas podem se constituir em atores de grande relevância, tais como os movimentos sociais, as empresas, os sindicatos e os meios de comunicação. b) Atores individuais e coletivos Podem ser considerados atores individuais aquelas pessoas que agem intencionalmente na arena política, procurando influenciar o processo de implementação das políticas públicas. São tidos como exemplos os políticos, os burocratas, os magistrados, os formadores de opinião, entre outros. Os atores coletivos são definidos pelos grupos e as organizações que agem intencionalmente na arena política visando influenciar os rumos das políticas públicas. Podemos citar como exemplos os partidos políticos, a burocracia, os grupos de interesse, os organizações da sociedade civil e os movimentos sociais. c) Atores públicos e privados São atores púbicos os que possuem a faculdade de poder decidir políticas. Estão diretamente envolvidos na produção e execução de políticas públicas. São eles: os gestores públicos, os juízes, os parlamentares, os políticos, além das organizações e instituições de Governo e as internacionais. Fora do âmbito público se encontram os atores privados, também conhecidos como atores sociais, os que não possuem vínculo direto com a estrutura administrativa do Estado. São atores que influenciam na formatação de políticas públicas, exercendo seu poder de pressionar o governo a tomar determinadas decisões. São considerados como exemplo a mídia, os centros de pesquisa, organizações de terceiro setor, sindicatos, entidades de representação empresarial etc. 4. CARACTERÍSTICAS DE UMA POLÍTICA PÚBLICA Uma política pública implica o estabelecimento de uma ou mais estratégias orientadas à solução de problemas público e/ou à obtenção de maiores níveis de bem-estar social. Resultam de processo de decisão surgido no seio do governo com participação da sociedade civil, onde são estabelecidos os meios, agentes e fins das ações a serem realizadas para que atinjam os objetivos estabelecidos. Outro fator relevante é que não existe um modelo de política pública “ideal” ou “correta”, pois elas são respostas contingentes à situação de uma cidade, região ou um país. O que pode funcionar em dado momento da história, em um determinado país, pode não dar certo em outro lugar, ou no mesmo lugar em outro momento. Em alguns casos, as características de implementação podem ser tão importantes quanto a orientação geral dessa política. Uma das características importantes das políticas públicas é que se constituem nas decisões e ações que estão revestidas da autoridade soberana do poder público. Para que uma política de governo se converta em política pública, é necessário que esta se baseie em programas concretos, critérios, linhas de ação e normas; planos com previsões orçamentárias, humanas e materiais; disposições constitucionais, leis, regulamentos, decretos e resoluções administrativas. As bases das políticas públicas, segundo Kannane et al. (2010), estão contidas nas políticas econômicas e de acordo com a diversificação dessa economia e a natureza do regime social, os governantes devem observar o nível de atuação dos diferentes grupos sociais. �5 Para o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento – há certas características nos aspectos-7 chave das políticas públicas que afetam sua qualidade, tais como: ⇒ Estabilidade: as políticas públicas são estáveis no tempo. Ter políticas estáveis não significam que não possam sofrer alterações, mas que as alterações tendem a responder às mudanças nas condições econômicas ou ao fracasso das políticas anteriores. As mudanças devem ser gradativas, aproveitando as realizações de administrações anteriores e a ser alcançadas através de consenso. ⇒ Adaptabilidade: as políticas devemser passíveis de adaptação e ajustes quando as circunstâncias mudam ou são alteradas. ⇒ Coerência e coordenação: a compatibilidade com outras políticas afins resultam em ações bem coordenadas entre os atores que participam de sua formulação e implementação. A falta de comunicação adequada e cooperação podem levar a fragmentação da formulação de políticas, chamada de “balcanização” das políticas públicas. ⇒ Qualidade da implementação e da aplicação efetiva: a qualidade da implementação está associada à capacitação do corpo técnico. Uma política pode ser muito bem projetada, passar pelo processo de aprovação sem alterações e, ainda assim, ser completamente ineficaz se não for bem implementada e aplicada. ⇒ Consideração do interesse público: refere-se ao grau em que as políticas, produzidas por um dado sistema, promovem o bem-estar geral e se assemelham a bens públicos ou tendem a direcionar os benefícios privados para determinados indivíduos, facções ou regiões sob a forma de projetos com benefícios concentrados, subsídios ou brechas fiscais. ⇒ Eficiência: é um aspecto-chave para uma boa formulação de políticas públicas, que resulta na capacidade do Estado em alocar os seus recursos escassos às atividades em que eles tenham maiores retornos, ou seja, que assegure retornos sociais elevados. 5. TIPOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS As políticas públicas são ações governamentais dirigidas a resolver determinadas necessidades públicas. Existem diferentes modelos e tipologias desenvolvidas para facilitar o entendimento sobre como e por que o governo faz ou deixa de fazer alguma ação que repercutirá na vida do cidadão. As políticas públicas podem ser de diferentes tipos, como: ➢ Política social: saúde, educação, habitação, previdência social. ➢ Política macroeconômica: fiscal, monetária, cambial, industrial. ➢ Política administrativa: democracia, descentralização, participação social. ➢ Política específica ou setorial: meio ambiente, cultura, agrária, direitos humanos. No que se refere à natureza das políticas públicas, elas ainda podem ser agrupadas de acordo com as arenas decisórias, finalidades e o alcance das ações. BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO – BID. A política das políticas públicas: progresso econômico 7 e social na América Latina: relatório 2006 / Banco Interamericano de Desenvolvimento e Davis Rockefeller Center for Latin America Studies, Harvard University; tradução Banco Interamericano de Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Elsevier; Washington, DC: BID, 2007. �6 De acordo com a tipologia clássica de Theodore J. Lowi , também chamada de “Tipologia de Lowi” ou 8 Teoria das Arenas do Poder, cada tipo de política pública define um tipo específico de relação (ou discussão) política, ou seja, uma arena. Nesse sentido, a política pública determina a política, onde cada tipo de política pressupõe uma rede diferente de atores, bem como arenas, estruturas de decisões e contextos institucionais diferentes. Conceitualmente, as arenas de poder ou arenas decisórias podem ser divididas em quatro tipos (regulatória, distributiva, redistributiva e constitutiva), de acordo com as coalizões ou oposições ao objeto da política que está em jogo. a) Regulatória: envolvem discriminação no atendimento das demandas de grupos, distinguindo os beneficiados e os prejudicados por essas políticas, estabelecendo controle, regulamento e padrões de comportamento de certas atividades políticas. b) Distributivas: são aquelas financiadas pelo conjunto da sociedade, cujos benefícios são distribuídos atendendo as necessidades individualizadas, ou seja, o governo distribui recursos a uns, sem que isso afete outros grupos ou indivíduos. c) Redistributivas: têm como objetivo redistribuir recursos financeiros, direitos ou outros benefícios entre os grupos sociais, intervindo na estrutura econômica social, através da criação de mecanismos que diminuam as desigualdades. d) Constitutivas: também chamada de política estruturadora, estabelecem regras sob as quais outras políticas públicas são selecionadas. São as que definem competências, jurisdições, regras da disputa política e da elaboração de políticas públicas. As políticas podem ainda ser divididas pelo alcance de suas ações em focalizadas e universalistas. São denominadas focalizadas aquelas que se destinam a um público específico, ou a alguma condição específica, tais como: nível de necessidades, de pobreza ou risco. São universalistas as que se destinam a todos indistintamente, sem se definir o grupo destinatário. Os exemplos são as políticas de saúde, de educação, de assistência social etc. 6. GESTÃO PÚBLICA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Os estudos organizacionais, a partir de de 2010, entraram em uma nova fase, motivados pelo lançamento mundial da ISO 26000, de responsabilidade social. Essa nova norma internacional, acordada pela maioria dos países e aceita de forma quase unânime, aponta para um novo papel social da organização como atores sociais relevantes de transformação social, incluindo não somente as empresas, mas também as organizações do terceiro setor e públicas. Nesse sentido, a responsabilidade social representa o desafio das relações econômico-sociais e o meio ambiente em um contexto globalizado, indo mais além do social para converter-se em sustentável. Para isso, segundo Franco (2007) apud Dias e Matos (2012), um ambiente propício para a responsabilidade social 9 deve ser a soma das motivações e capacidades humanas e institucionais na qual têm e devem ter lugar tanto atores públicos como privados, levando em consideração tanto padrões e práticas internacionais, quanto às nacionais e locais. O entendimento das características do Estado como mais um ator no mercado é fundamental para compreender a estreita relação que existe entre a responsabilidade social e as ações governamentais, Cientista político americano. Ex-presidente da Associação Americana de Ciência Política e da Associação Internacional 8 de Ciência Política. FRANCO, Helena Ancos. Políticas públicas e iniciativa privada en la responsabilidad social empresarial. Revista 9 Del Ministerio de Trabajo y Assuntos Sociales - Economía y Sociología, Madrid, n. 66, 2007. �7 conforme destaca Mandariaga (2008) apud Dias e Matos (2012), ao descrever um agente que atua no 10 mercado. O Estado tem três papéis distintos: como empresa, como consumidor e como regulador: ✓ Enquanto empregador, produtor e provedor de serviços, o Estado tem similaridade com uma uma empresa. Para isso, deve atentar para as consequências que geram atividades produtivas, evitar a degradação do meio ambiente e assegurar condições de trabalho decente a seus trabalhadores. ✓ Enquanto comprador de bens e serviços, atua como consumidor. Portanto deve procurar comprar produtos fabricados sob condições de trabalho aceitáveis, e que não prejudiquem o meio ambiente, além de comprar somente de produtores responsáveis tanto no aspecto social, quanto no ambiental. ✓ Enquanto ao seu poder de decisão, legislação e arbitragem, atua como um regulador. Para tal deve estabelecer padrões mínimos legais de respeito às condições de trabalho e ao meio ambiente, equidade de gênero, qualidade dos produtos e serviços, transparência e combate à corrupção etc. 7. OS PARTIDOS POLÍTICOS Os partidos políticos surgiram para preservar e proteger os direitos e as liberdades individuais, um povo democrático deve trabalhar em conjunto para modelar o governo que escolher. São organizações voluntárias que ligam as pessoas a seu governo. Os partidos recrutam candidatos e fazem campanha para os elegerem a cargos públicos e mobilizam as pessoas para participarem na escolha dos governantes. O partido da maioria (ou o partido eleito para controlar os ministérios do governo) procura decretar leis sobre muitas políticas e programas diferentes. Os partidosde oposição são livres para criticar as ideias políticas do partido da maioria e apresentar as suas próprias propostas. Os partidos políticos proporcionam uma forma dos cidadãos responsabilizarem os dirigentes do partido pelas suas ações no governo. Os que são democráticos acreditam nos princípios da democracia de modo que reconhecem e respeitam a autoridade do governo eleito, mesmo que os seus líderes partidários não estejam no poder. Como em qualquer democracia, os membros dos vários partidos políticos refletem a diversidade de culturas de onde provêm. Alguns são pequenos e construídos em torno de um conjunto de convicções políticas. Outros são organizados em torno de interesses econômicos ou de uma história comum. Outros ainda são alianças livres de vários cidadãos que podem juntar-se apenas em período eleitoral. Todos os partidos políticos democráticos, quer sejam pequenos movimentos ou grandes coligações nacionais, têm valores comuns de compromisso e tolerância. Sabem que só através de grandes alianças e de cooperação com outros partidos políticos e organizações é que eles podem proporcionar a liderança e a visão comum que vai ganhar o apoio da população do país. Os partidos democráticos reconhecem que as opiniões políticas são flexíveis e variáveis e que o consenso pode, com frequência, surgir de um confronto de ideias e valores em um debate pacífico, livre e público. O conceito de oposição leal é inerente a qualquer democracia. Significa que todos os lados no debate político — por mais profundas que sejam as diferenças — partilham os valores democráticos fundamentais de liberdade de expressão e religiosa e de proteção legal igual. Os partidos que perdem as eleições passam para a oposição — confiantes que o sistema político continuará a proteger o direito de organizar e denunciar. Eventualmente, o seu partido terá a oportunidade de fazer campanha novamente pelos seus ideais e pelos votos do povo. Numa democracia, a luta entre partidos políticos não é uma luta pela sobrevivência, mas uma competição para servir o povo. MANDARIAGA, Aldo. El Estado y la responsabilidad social. estratégia de incorporación de critérios de 10 responsabilidad social y ambiental en las compras publicas. Santiago do Chile: CENDA, 2008. �8 A. PARTIDOS POLÍTICOS NO BRASIL Depois da independência, o Brasil conheceu uma monarquia constitucional que, consolidada no Segundo Reinado (1940-1889), trouxe com ela um sistema de dois partidos políticos: o Partido Conservador e o Partido Liberal, porém no final desse período foi criado o Partido Republicano. Quando D. Pedro foi nomeado imperador, ainda na adolescência, o Partido Liberal era quem detinha o comando, no entanto, pouco depois o Partido Conservador tomou o poder. Para controlar o país, o partido que se encontrava no governo era quem nomeava os presidentes das províncias e substituía autoridades judiciárias e membros do aparelho policial. Apesar das violentas disputas políticas, os partidos conservador e liberal não eram muitos diferentes na sua constituição: eram formados por grandes proprietários rurais e escravistas (CONSTIN, 2010) .11 Com a chegada da República, a política ficou rapidamente controlada por outros dois partidos: o PRP – Partido Republicano de São Paulo e o PRM – Partido Republicano de Minas Gerais. Assim surgiu o que foi chamado de sistema do “café com leite”. Esses dois partidos eram controlados por grandes proprietários rurais. O primeiro por grandes produtores de café, em São Paulo e leite em Minas Gerais. No período da redemocratização do país, em 1945 foram criados vários partidos que com uma significativa expressão em diferentes estados, porém os maiores eram o PSD (Partido Social Democrático), o PTB (Parido Trabalhista Democrático) e a UDN (União Democrática Nacional). O primeiro e o segundo foram criados por Getúlio Vargas e o terceiro era um partido de forte oposição ao varguismo. O PTB foi criado com o objetivo de articular o apoio político dos trabalhadores e ao mesmo tempo fazer face à influência do Partido Comunista entre os operários. O PSB era considerado um partido de classe média, dos empresários e dos proprietários rurais. No período de 1945 a 1965 o PSB era quem possuía a maior participação no Congresso. A UDN era o partido que fazia a maior oposição ao Governo de Vargas, que logo após o seu suicídio, em 1954, ocupou a presidência – Café Filho era o vice-presidente e pertencia à UDN. Em 1960 o partido apoiou Jânio Quadros, que ficou apenas sete meses no poder. (CONSTIN, 2010). Em 1965, com o Ato Institucional nº 2 , ficou estabelecido que não haveria mais eleição direta para 12 presidente da república e que todos os partidos fossem dissolvidos. Com o golpe militar foi decretado estado de sítio por 180 dias e novas regras de reestruturação para todos os partidos. Essa novas regras estabeleceram que para formar um novo partido seriam necessários reunir 120 deputados e 20 senadores. Diante disso foram formados dois partidos: a ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Nacional). A ARENA era o partido que apoiava o governo militar e o MDB era a oposição. Esse sistema bipartidário foi extinto no final 1979 e no início de 1980, já no término do governo militar, João Figueiredo, então presidente, que decidiu retomar o sistema pluripartidarismo e assim ter um melhor controle de transição. A ARENA foi transformada em PDS (Partido Democrático Social) e o MDB passou a se chamar PMDB (Partido do Movimento Democrático Nacional). O PTB foi recriado com uma disputa entre Ivete Vargas, sobrinha de Getúlio Vargas, que ficou com a legenda e Leonel Brizola, – ex-governador do Rio Grande do Sul e importante personagem do trabalhismo varguista – que fundou o PDT (Partido Democrático Trabalhista). Com a nova sigla o PMDB se viu enfraquecida, pois outros partidos foram criados, principalmente o PP (Partido Popular) comandado por Tancredo Neves e o PT, comandado por Luís Inácio Lula da Silva. Mais tarde ambos os partidos elegeriam seus presidentes da república. Uma facção liberal, formada pelos senadores José Sarney e Marco Maciel e pelo vice-presidente da república Aureliano Chaves, romperam com o PDS e criaram o PFL (Partido da Frente Liberal) e decidiram apoiar Tancredo Neves. Diante da postura defendida pelo PMDB nos trabalhos de elaboração da Constituição de 1988, conforme destaca Costin (2010), políticos de peso como Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas – considerados os “autênticos do MDB” criaram o PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro), que COSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.11 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/AIT/ait-02-65.htm12 �9 mais tarde elegeria Fernando Henrique o presidente da república. Em 2007 é criado outro importante partido foi criado, o DEM (Democratas), que sucedeu o PFL com o objetivo de modernização e atração de jovens que o partido realizava. Hoje, segundo dados do TSE , o Brasil possui 32 partidos políticos registrados, que podemos 13 observar pelo quadro abaixo: Fonte: TSE - Tribunal Superior Eleitoral. SIGLA NOME Nº 1 PMDB PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO 15 2 PTB PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO 14 3 PDT PARTIDO DEMOCRÁTICO TRABALHISTA 12 4 PT PARTIDO DOS TRABALHADORES 13 5 DEM DEMOCRATAS 25 6 PCdoB PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL 65 7 PSB PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO 40 8 PSDB PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA 45 9 PTC PARTIDO TRABALHISTA CRISTÃO 36 10 PSC PARTIDO SOCIAL CRISTÃO 20 11 PMN PARTIDO DA MOBILIZAÇÃO NACIONAL 33 12 PRP PARTIDO REPUBLICANO PROGRESSISTA 44 13 PPS PARTIDO POPULAR SOCIALISTA 23 14 PV PARTIDO VERDE 43 15 AVANTE AVANTE 70 16 PP PARTIDO PROGRESSISTA 11 17 PSTU PARTIDO SOCIALISTA DOS TRABALHADORES UNIFICADO 16 18 PCB PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO 21 19 PRTB PARTIDO RENOVADOR TRABALHISTA BRASILEIRO28 20 PHS PARTIDO HUMANISTA DA SOLIDARIEDADE 31 21 PSDC PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA CRISTÃO 27 22 PCO PARTIDO DA CAUSA OPERÁRIA 29 23 PODE PODEMOS 19 24 PSL PARTIDO SOCIAL LIBERAL 17 25 PRB PARTIDO REPUBLICANO BRASILEIRO 10 26 PSOL PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE 50 27 PR PARTIDO DA REPÚBLICA 22 28 PSD PARTIDO SOCIAL DEMOCRÁTICO 55 29 PPL PARTIDO PÁTRIA LIVRE 54 30 PEN PARTIDO ECOLÓGICO NACIONAL 51 31 PROS PARTIDO REPUBLICANO DA ORDEM SOCIAL 90 32 SD SOLIDARIEDADE 77 33 NOVO PARTIDO NOVO 30 34 REDE REDE SUSTENTABILIDADE 18 35 PMB PARTIDO DA MULHER BRASILEIRA 35 http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse13
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