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RESUMO: Bruna Souza – 2010.2 - ∞ � Prematuridade Obstetrícia – P2 - Cerca de 80% das gestações não apresentam intercorrências, mas, com relação à prematuridade do concepto, cabe ao obstetra intervir (complicação mais grave). ( Definição de prematuridade (OMS - 1961): Parto prematuro é aquele que ocorre antes de 37 semanas de gestação. Critério ponderal: < 2.500 g. Espontâneo. Indicado. Pode ser tardia (> 34 semanas) ou precoce (< 34 semanas). Como fenômenos biológicos sofrem variabilidade para cada indivíduo, essa definição torna-se falha, pois podemos interromper a gestação já com 34 semanas. Porém, a definição vigente ainda é essa da OMS, pois é uma definição mundial que deve levar em consideração o aparato neonatal de cada localidade. - O critério ponderal pode ser utilizado quando não conseguimos obter a IG. - No caso de CIUR, o bebê terá a mesma morbidade que um RN prematuro. • Epidemiologia: Apesar das medicações e novas técnicas, a prematuridade espontânea não teve alteração de sua freqüência, que ainda é alta. Cursa com 75% das mortalidades neonatais. (80% dos RNs das UTIs neonatais são prematuros). A mortalidade por baixa IG está caindo, principalmente por melhor aparato técnico (equipamentos, habilidades profissionais, etc.), porém a morbidade ainda é altíssima: - Síndrome de angústia respiratória (64%). - HIV (hemorragia intraventricular) grau III (6%). - HIV (hemorragia intraventricular) grau IV (5%). - Enterocolite necrotizante (5%). - Septicemia (22%). ( Mesmo quando o bebê sobrevive, ainda passa por várias adversidades até alcançar seu peso ideal para receber a alta. Um bebê de 32 semanas de IG, por exemplo, necessita em média de 2 meses de internação hospitalar, com ventilação mecânica, aminas e demais aparatos de UTI neonatal. ( Cerca de 19% dos prematuros morrem antes da alta hospitalar. ( Consequências da Prematuridade: - Neomortalidade - Síndrome de angústia respiratória - Hemorragia intra-craniana - Enterocolite necrosante - Icterícia - Infecção - Retinopatia da prematuridade - Seqüelas neurológicas ( Consequências a longo prazo: • Fatores Etiológicos: - A prematuridade espontânea não apresenta um único fator etiopatogênico, mas sim, vários. Isquemia tecidual - Placentação inadequada ( relacionada à disfunção e síntese elevada de PGs também. Disfunção hipotálamo-hipófise-adrenal - Estresse – por exemplo, mulheres que trabalham durante a gravidez, gera modificações na secreção de hormônios, que levam a um aumento da contração uterina. Infecção – Inflamação (RPMO) - Ativação de citocinas. - Vaginose bacteriana – infecção vaginal polimicrobiana, com destaque para a Gardnerella sp. A infecção é um grande causador desse quadro, onde há ascensão de agentes infecciosos pelo colo uterino, colonizando e infectando as decíduas (endométrio modificado pela gravidez). As decíduas, então, passam a ter a função de reagirem a essa colonização, produzindo citocinas e outros mediadores da resposta inflamatória, de forma que esse local esteja repleto de prostanoides (produção exagerada de prostaglandinas) que fazem o útero se contrair precocemente. ( Esse é o modelo mais aceitável de explicação para a prematuridade espontânea, observada pela cultura positiva de LA em mulheres com parto prematuro. ( Predição clínica e laboratorial do parto prematuro: Avaliação dos fatores de risco na anamnese e no exame físico. Exame vaginal para avaliação cervical – avaliando-se o comprimento do colo uterino (quanto menor, maior a chance de prematuridade). - O exame digital (vaginal) é o método tradicional de avaliação da maturidade cervical, porém, apresenta alta variabilidade de um avaliador para outro e a quantificação destas alterações é freqüentemente difícil. - Por isso, começou-se a fazer a USG transvaginal, com o transdutor mais próximo ao colo, medindo-se mais fidedignamente o tamanho desse colo. Permite abordagem mais objetiva para a avaliação cervical. Ultra-sonografia para mensuração do comprimento e dilatação do colo – deve ser feito entre 22 e 24 semanas*, com ponto de corte de 2,5 cm de comprimento para esse colo. Também podemos encontrar um afunilamento do orifício interno desse colo. O colo normal mede 30mm (ou 3cm) de comprimento e se for menor que 25mm dizemos que se trata de um colo curto patológico * Antes disso, o tamanho desse colo está mais associado à incompetência istmo-cervical do que à contração uterina. Detecção da fibronectina na secreção cervicovaginal – glicoproteína que aparece fora de época, sendo indicativa de que o útero está se contraindo. Apresenta maior especificidade do que sensibilidade na predição do parto prematuro. A fibronectina é uma glicoproteína do cório e da descídua. Quando o útero começa a se contrair, ocorre deslizamento dessas duas estruturas, gerando rupturas, que culminam com a descida da fibronectina para a vagina, onde normalmente não é encontrada antes do trabalho de parto. ( Fatores de risco clássicos: Gravidez múltipla: risco > 50%. É quase “sinônimo” de parto prematuro. Parto prematuro prévio: risco 20- 40%. Tabagismo: risco 20-30%. Incompetência istmo-cervical – associada ao abortamento e à prematuridade. Anomalias uterinas – por exemplo, útero bicorno, septado, entre outros. Adolescência - < 16 anos. Baixo nível socioeconômico – dificuldade de acesso médico e tratamento. Índice de massa corporal (BMI) <19.0. Complicações obstétricas: hipertensão, hemorragia anteparto, infecção, polidramnia, anomalias fetais. *** Os 3 primeiros fatores são os mais associados à prematuridade. • Prevenção do parto prematuro: 1) - O uso profilático do caproato de 17 hidroxi- progesterona para prevenir o parto prematuro revelou significativa diminuição da incidência de parto prematuro. - Entretanto, não se mostrou efetivo para inibir o trabalho de parto prematuro na fase ativa. * A progesterona é uma substância relaxadora da musculatura lisa (útero, brônquios, intestinos e etc.). Por isso que há uma redução do trânsito GI durante a gestação, por exemplo. ( Atualmente, se faz o uso de comprimido intravaginal de progesterona de 100 a 200 mg. 1 comp./dia durante toda a gravidez a partir do momento em que detectamos os fatores de risco. ** Na gravidez gemelar é usado bem precocemente. 2) Tratamento da vaginose bacteriana - o tratamento da flora vaginal anormal (vaginose bacteriana) com metronidazol ou clindamicina no 2º trimestre reduz significativamente a taxa de parto prematuro espontâneo. - Sempre colher uma lâmina fresca no pré-natal, mesmo que a mulher já tenha realizado preventivo recentemente (há menos de 1 ano). - No primeiro trimestre, o Metronidazol VO não deve ser feito pelo risco de teratogênese. Usamos, então, só a forma local de creme vaginal e no segundo trimestre, passamos para VO por 7 dias. 3) Mudanças de hábitos de vida - A modificação de hábitos de vida, tais como: atividade física e tabagismo apresentaram impacto importante na queda da taxa de partos prematuros. Se for o caso, solicitar o afastamento do trabalho ou mudanças de tarefas podem ser úteis. • Diagnóstico do trabalho de parto prematuro: 3 critérios para diagnóstico 1- Contrações uterinas regulares (4/20 min. ou 8/60 min.) associadas às alterações progressivas do colo. 2- Dilatação cervical > 1 cm. 3- Apagamento > 70%. ( Trabalho de parto prematuro suspeito sem alterações cervicais ao exame: Fibronectina NEGATIVA + Comprimento cervical > 30 mm: - A probabilidade do parto ocorrer em 1 semana é inferior à 1%. - A maioria das pacientes com os testes negativos podem ser tratadas conservadoramente. ( Inibição do trabalho de parto prematuro: Repouso absoluto Hidratação Tocolíticos - Tocólise – refere-se ao uso de medicações que inibem as contrações uterinas. A célula muscular lisa apresenta grande quantidade de cálcio em seu interiorpara que possa contrair. O cálcio entra na célula, se liga a calmodulina, ativando a miosina da cadeia leve, e é o primeiro passo para o inicio da contração. Por isso, todos os tocolíticos tentarão reduzir a concentração de cálcio no interior dessas células. Quanto mais avançado o trabalho de parto, menor será a eficácia desses tocolíticos. 1) Beta agonistas (miméticos) São substancias que relaxam a musculatura lisa, reduzindo assim a contratilidade uterina. Essas substâncias ativam a adenilato ciclase, aumentando o AMPc no citoplasma, que promove o seqüestro de cálcio para dentro do reticulo sarcoplasmático, reduzindo a concentração de cálcio no citoplasma. - Os Beta miméticos (Formoterol, Salbutamol, Fenoterol e etc.) são usados IV, diluídos em SF. Começa a atuar com 10 a 20 segundos. ( Efeitos colaterais: Taquicardia – aumento da FC, do DC, da F. de ejeção. Edema pulmonar – aumenta o risco de EAP. Hipotensão Arritmia e isquemia miocárdica – riscos aumentados. Hiperglicemia materna com hipoglicemia neonatal. ( Contraindicados em cardiopatas. Nas diabéticas, exige controle e ajuste da dose da insulina, junto com o controle da ingesta calórica e da atividade física (não é contraindicação absoluta nesse caso). 2) Indometacina- inibe a síntese de prostaglandinas. ( Efeitos colaterais: Náuseas e pirose – reversíveis. Trombocitopenia – discreta e reversível. Fechamento do canal arterial*** – irreversível. Muito associado a determinadas IGs, principalmente acima de 32 semanas. Gastrite. Hipertensão pulmonar grave e com aumento da mortalidade em uso prolongado. Oligodramnia – reversível com a retirada da droga. *** Até 72 horas após o inicio do trabalho de parto precoce. E não usar acima de 32 semanas de gestação. Acompanhar sempre com ECO fetal com doppler colorido (se apresentar redução de 10 a 20% no calibre do canal arterial, não usar). 3) Sulfato de magnésio - Bomba infusora, de preferência em unidade semi-intensiva. - O magnésio (Mg 2+) no meio extracelular, compete com o Ca 2+ para entrar na célula e, diferentemente deste, aquele não possui função de contração. - Quase sem nenhum efeito no feto. ( Efeitos colaterais: Flushing e náuseas – no momento da aplicação. Abolição dos reflexos profundos – aparece primeiro e serve para acompanhar e monitorar o uso, juntamente com a diurese e FR (a cada 2 a 3 horas). Insuficiência respiratória. Parada cardíaca. - Reduz a transmissão na placa neuromuscular, reduzindo a força de contração muscular; inclusive, no diafragma, podendo levar ao quadro de insuficiência respiratória. 4) Nifedipina - Bloqueador dos canais de cálcio. O Verapamil também é. ( Efeitos colaterais: Hipotensão – faz vasodilatação importante. Cefaleia. Taquicardia. *** Passou a ser muito utilizado devido aos riscos de se usar os Beta miméticos. 5) Atosiban – antagonista da ação da Ocitocina (amplifica as contrações depois que o trabalho de parto se inicia) na célula muscular lisa, porém é muito caro (em comparação com os tocolíticos anteriores). ◘ Contraindicações da Tocólise: Maternas – quando não for bom postergar o parto - Hipertensão grave (eclâmpsia) - Hemorragia - Cardiopatia - Hipersensibilidade - Intercorrência clínica Fetais - IG > 34 semanas – acompanhar o trabalho de parto. - Peso > 2500g - Dilatação avançada - >4cm , que já indica trabalho de parto avançado. - Morte fetal – deve-se sempre examinar a mãe e o bebê – BCF e sua vitalidade, antes de sair realizando a tocólise. - Malformação letal – incompatível com a vida extra-uterina, principalmente a anencefalia. - Corioamnionite - Sofrimento fetal agudo – não há parâmetros que indiquem a tocólise. ( Efetividade da Tocólise: - Tocolíticos, exceto MgSO4, se associaram significativamente ao prolongamento da gestação. - Tocolíticos não se associaram à diminuição da mortalidade perinatal nem à redução da incidência do parto prematuro. ( Conclusões: - Os beta -miméticos são úteis para prolongar a gestação em 24 a 48 h, embora não diminuam a morbidade e a mortalidade perinatal. Os efeitos colaterais podem ser fatais. - São necessários mais estudos relativos à efetividade e a tolerabilidade dos antagonistas do cálcio. - A indometacina aparentemente prolonga a gravidez num limitado número de ensaios clínicos. Os efeitos adversos neonatais parecem ser mínimos quando o período de utilização é curto (até 72 h) e a idade gestacional inferior à 32 semanas. - Os antagonistas da ocitocina estão em fase de investigação. - A tocólise oral de manutenção não é útil para diminuir as taxas de trabalho de parto prematuro recorrente e parto prematuro. - As principais indicações de utilização dos tocolíticos são: transferência materna e uso de corticóides. ◘ Corticosteroides: - Devem ser sempre utilizados quando houver trabalho de parto prematuro. - Medicamento barato, com bons efeitos. Redução da morbimortalidade neonatal. - “Existem poucos exemplos na literatura médica nos quais a utilização de um novo tratamento médico trouxe significativa melhoria na redução de morbidade e mortalidade, associada à nítida diminuição de custos.” - Mais de 32 anos de estudos. ( Estimulam a síntese de fosfolipídeos pelos pneumócitos tipo II, que são os principais componentes do surfactante. Tem efeito também de estabilização de membranas, reduzindo o risco de enterocolite necrotizante e de hemorragia intracraniana (pelo efeito de maturação, diferenciação celular e de estabilização de membranas dos glicocorticóides). ( São muito importantes pois reduzem o risco das 3 principais causas de morte do RN prematuro. ( A droga de escolha é a Betametasona - a droga deve ser menos imunossupressora, com potencial mineralocorticóide pequeno e que atravesse a barreira hematoplacentária, para exercer efeito no feto. - Dose: 12mg na primeira hora, e depois de 24 horas, mais 12mg, totalizando 24mg. (A partir de 6 horas após o uso já apresenta efeito, porém o efeito completo só se dá após 24 horas). - Opção à Betametasona é a Dexametasona (Decadron®). - IG para uso de corticoides – entre 24 e 34 semanas. * Antes de 24 semanas não terá efeito. ** Após 34 semanas a mortalidade do RN é muito baixa. - Depois de 7 dias, o GC perde a sua capacidade de aumentar a produção do surfactante, e como o uso repetitivo causa efeitos colaterais no bebê (como a redução do perímetro cefálico), para preservar o sistema neurológico, a repetição dessa droga semanalmente é proibida. ◘ Vias de parto: Quando medidas e condições para evitar o parto prematuro não são válidas. - PARTO VAGINAL • Evitar analgesia – opiáceo; anestesia com absorção fetal; para não haver depressão do SN do feto, pois o RN irá precisar de uma boa capacidade ventilatória no pós-parto. - PARTO CESÁREA • Evitar também analgesias (uso de opiáceos). • A melhor incisão uterina passa a ser a longitudinal e não a transversal baixa (redução do risco de traumas, retirando-se o RN com maior cuidado). • Manter bolsas íntegras. • Rastrear a FC (eletronicamente) do feto para garantir o rastreamento precoce de asfixia. • Tomar cuidado com a cabeça impactada na pelve – pode ficar muito tempo comprimida num períneo de nulípara. ( Para a apresentação cefálica, não há diferença entre parto vaginal ou cesárea; porém, na apresentação pélvica, devemos optar por cesárea. Na apresentação córmica, independente de ser pré-termo ou não, realiza-se a cesárea. - � PAGE �7� -
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