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Licoes de Direito Processual Penal versao 2013 1

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Criado por UserL 
Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
1 
_________________________ 
1. DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E DIREITO PROCESSUAL PENAL 
1.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal 
1.2. Âmbito do Direito Processual Penal 
1.3. Objecto do Processo Penal 
1.4. Natureza Jurídica do Direito Processual Penal 
1.5. Fim do Processo Penal 
*** 
1. Direito Penal Substantivo e Direito Processual Penal 
Começaremos a nossa aula falando sobre o termo Direito Penal (ou direito criminal), 
considerado no seu sentido mais amplo, constitui um ordenamento jurídico complexo, que se 
reparte por três disciplinas distintas mas mutuamente complementares: o direito penal 
substantivo (material
1
), direito processual penal (formal ou adjectivo
2
) e o direito de 
execução das penas (ou direito penitenciário
3
). 
Aqui mais do que qualquer outro ramo da ciência jurídica, as relações entre o direito substantivo 
e o direito adjectivo formam uma unidade tal que, em regra, o primeiro não pode realizar-se 
plenamente sem o concurso do segundo. Na verdade, e de modo diverso do que sucede, por 
exemplo, com o direito civil, que na maioria dos casos se realiza e aplica espontaneamente, por 
livre vontade dos interessados, o direito penal não é de aplicação voluntária, só se efectiva por 
via de uma actividade processual. Por isso, o corpo do art. 1 do CPP dispõe que ―a todo o crime 
ou contravenção corresponde uma acção penal, que será exercida nos termos deste código”. 
Há assim uma relação de instrumentariedade necessária entre o direito processual penal e o 
direito penal que os distingue da conexão também existente entre os demais ramos de direito e os 
 
1 Conjunto de regras gerais abstractas, hipotéticas e dotadas de coercibilidade, que regem as relações numa dada 
comunidade. 
2 Fala-se em direito adjectivo para significar o direito processual, isto é, o ramo do direito que disciplina a forma 
de resolução de litígios surgidos em consequência do não acatamento às regras que regulam as relações entre os 
sujeitos de direito. 
3 Expressão que se referia as normas relativas a execução das penas. Actualmente é utilizada a expressão direito 
de execução de penas. 
Criado por UserL 
Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
2 
respectivos processos. Isto resulta do facto de ser, por meio do direito penal, globalmente 
considerado, que o Estado, cumpre a importantíssima função de proteger os valores 
fundamentais da sociedade humana – entre os quais sobressaem o direito a vida, a integridade 
física e psíquica, a liberdade sexual, a propriedade individual ou colectiva, a ordem pública e 
outras – função que se expressa no dever de administrar e realizar a justiça penal. E o que se 
designa por jus puniendi ou monopólio estatual da função jurisdicional. 
Feitas estas considerações preliminares, podemos definir o Direito Penal como conjunto de 
princípios e normas codificadas ou constantes de diplomas avulsos, que consagram os 
pressupostos gerais da punição (teoria geral da infracção) que prevêem as condutas puníveis 
(crimes) e estabelecem as penas e respectivos regimes, enquanto o Direito Processual Penal 
constitui conjunto de normas codificadas (no Código de Processo Penal e outra legislação 
avulsa) que permitem a realização de actos, com obediência a determinadas formalidades, 
praticados e ordenados pelo tribunal e outras autoridades judiciais competentes com vista a 
descoberta dos factos constitutivos da prática de um crime e do seu agente ou agentes, para que a 
final, o tribunal possa proferir decisão sobre a aplicação ou não de uma determinada sanção ao 
arguido.
4
 
1.1. Direito Penal, Processo Penal e Direito Processual Penal 
Já sabemos que o direito penal define, de modo geral e abstracto, quais os factos ou 
comportamentos humanos que devem ser considerados criminosos e quais as penas que lhes 
correspondem. 
Podemos também dizer que o Direito Processual Penal é o conjunto de regras jurídicas que 
disciplinam o processo (e o que é o processo?). O processo é o conjunto de actos, é a marcha 
consubstanciada de diferentes actos realizados por pessoas legitimidade autorizadas, actos 
preordenados. 
Todavia averiguar se num dado caso concreto, um certo agente praticou um tipo legal de crime 
qual é a sanção que lhe deve ser imposta obriga a uma actividade que de modo nenhum pode ser 
 
4 Dicionário Jurídico, 2 Edição, Vol. II, Direito Penal e Direito Processual Penal, Prata Ana; veiga Catarina e 
Vilalonga, José Manuel, pag. 183. 
Criado por UserL 
Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
3 
arbitrária, antes exige garantias de respeito pelos direitos individuais, para que se obtenha uma 
verdadeira realização da justiça penal. 
A essa actividade constituída por uma sequência de actos juridicamente pré-ordenados e 
praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas com vista a lograr a decisão sobre se foi 
praticado algum crime e, em caso afirmativo, quem são os seus autores e quais as respectivas 
consequências jurídicas e a sua justa aplicação, é o que se costuma designar por processo penal. 
O conjunto de normas jurídicas que regulam e disciplinam e que forma o direito processual 
penal. 
Dissemos acima que o direito penal e o direito processual penal formam uma unidade, 
participam do mesmo ordenamento jurídico, e que entre ambos prevalece uma relação mútua de 
complementaridade. No desenvolvimento desta ideia CAVALEIRO DE FERREIRA escreve: O 
direito penal e o processo penal devem por isso ajustar-se aos mesmos princípios. Uma 
consideração mais profunda da personalidade do delinquente, como e exigida pelo direito 
penal, permanecerá letra morte se não for acompanhada da conformação do direito 
processual a identifico fim, a modificação do direito penal substantivo acarreta assim, 
naturalmente, a conveniência de alterações do direito processual (…) Mas se necessariamente 
o processo penal se deve conformar ao espírito do direito penal vigente, por outro será 
impossível a execução do direito penal sem um processo penal a ele adaptado. 
Com efeito, frequentemente o sentido e a solução de concretos problemas processuais dependem 
da posição que tiver sido adoptada pelo direito substantivo como acontece relativamente aos 
chamados poderes de cognição do juiz e ao caso julgado, quando se esta perante matéria relativa 
ao crime continuado ou a punição do concurso de infracções. 
Por outro lado, o direito processual penal exerce igualmente a sua influência na solução de certas 
questões pertinentes ao direito penal substantivo. Assim, por exemplo, o actual movimento em 
favor da ―etilização e purificação do direito penal, ao pretender que este só intervenha nos casos 
de insuportável violação de bens fundamentais da comunidade, e, sem dúvida, também 
consequência da exigência processual de que os tribunais penais, não sejam submersos por uma 
multidão de infracções de duvidoso relevo ético-social. 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
4 
Apesar destas mútuas influencias, o certo é, porém, que não deixa de existir uma clara autonomia 
entre o direito penal e o direito processual penal, resultante, desde logo, da diversidade do 
respectivo objecto: o primeiro tem a ver directamente com a ordenação da vida em 
sociedade, qualificando, de forma geral e abstracta, os comportamentos humanos em 
função de valores jurídicos que considerafundamentais para a comunidade e prescrevendo 
sanções para quem violar esses valores, o segundo visa assegurar que os actos tendentes a 
decisão sobre a prática de um crime e a aplicação da penal ao respectivo agente se realizem 
com absoluto respeito pelos princípios de justiça. 
1.2. Âmbito do Direito Processual Penal 
A função essencial do direito processual penal cumpre-se com vimos, na decisão jurisdicional de 
saber se foi praticado um crime e, em caso afirmativo, qual as consequências jurídicas que dai 
derivam. 
Por isso certos autores entendem que o seu âmbito de aplicação se esgota com o trânsito em 
julgado da sentença, já não abrangendo a fase de execução da pena, que terá índole puramente 
administrativa. Outros, pelo contrário, sustentam que o direito de execução das penas se integra, 
no direito processual penal, pese embora a circunstância de a administração penitenciária estar 
reservada uma esfera de actuação própria, que pode dizer-se livre da jurisdição. 
Nesta ultima corrente se situa FIGUEIREDO DIAS, para quem, no entanto é necessário 
distinguir a regulamentação respeitante a determinação prática do conteúdo da sentença 
condenatória – e por conseguinte, a realização concreta da pena imposta – da regulamentação 
referente ao efeito executivo da sentença num sentido análogo aquele em que, no processo civil, 
se fala da ―exequibilidade da sentença e consequentemente, aos preliminares e ao controlo geral 
da execução (incluindo os incidentes da execução). No primeiro caso tratar-se-á de matéria 
substantiva e no segundo de matéria processual. 
Cremos poder concordar com este autor, tanto mais que, como ele próprio assinala, o CPP 
vigente consagra um título específico as execuções (o titulo VIII do Livro II – arts 625 a 644) – 
sem, todavia, abranger a parte respeitante as penas privativas de liberdade – o que reforça o 
argumento de ser esta, essencialmente, uma área de actuação do direito processual. 
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Lições de Direito Processual Penal 2013 
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1.3. Objecto do Processual Penal 
A determinação do objecto do processo — ou seja, da matéria a volta da qual se desenvolvem as 
actividades processuais é de extrema importância teórica e prática. 
A estrutura do sistema processual penal vigente entre nós e conforme viremos adiante é 
basicamente acusatória, se bem que integrado por um princípio de investigação. Isso implica 
que o tribunal só possa intervir quando solicitado por uma acusação formulada por entidades dele 
distinta e independente (o Ministério Publico), e que o conteúdo da acusação delimite a própria 
actividade processual do tribunal. 
Existe assim uma identidade essencial entre o conteúdo da acusação e a pronúncia e a sentença 
final, que constitui importante garantia para o arguido, na medida em que só terá de defender-se 
do que é acusado (é pronunciado) e só pelo que é acusado poderá ser julgado. 
Disto resulta que a sentença final, salvo casos excepcionais que a lei expressamente o prevê, só 
pode condenar por factos constantes do despacho de pronúncia ou equivalente. É o que dispõe o 
artigo 447 do CPP: “O tribunal poderá condenar por infracção diversa daquele para que o 
réu foi acusado, ainda que seja mais grave, desde que os seus elementos constitutivos sejam 
factos que constem do despacho de pronúncia ou equivalente”. 
Pode pois, concluir-se que o objecto do processo penal engloba um conjunto de factos humanos 
devidamente situados no tempo e no espaço que integram os pressupostos de que depende a 
aplicação ao seu autor de uma pena (penas maiores arts. 55 e 56 do CP; penas correccionais 
arts. 62;63;64 do CP e penas especiais arts. 57;65 e 66 do CP) ou medidas de segurança (art. 70 
do CP), ou seja o objecto do DPP é o crime do artigo 1 do CP. 
O objecto do processo penal não se apresenta delimitado desde o inicio deste. É susceptível de 
diferentes graus de apreciação consoante a evolução que o próprio processo vai tendo, quer dizer, 
de acordo com as fases em que se desenvolve, há um primeiro juízo de suspeita sobre o facto, 
segue-se uma fase instrutória, destinada precisamente a obter a confirmação desse juízo de 
suspeita. Com a acusação e a pronúncia, o juiz de suspeita transforma-se num juízo de 
probabilidade. Por último, para que a decisão final seja condenatória é necessária a formulação 
de um juízo de certeza sobre o facto objecto do processo. E no momento de passagem do juízo 
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de suspeita para o juízo de probabilidade – com o transito em julgado do despacho de pronuncia 
ou equivalente – que se fixa, em termos definitivos, o objecto do processo. 
1.4. Natureza jurídica do Direito Processual Penal 
1.4.1. O Direito Processual Penal como parte do direito processual 
Para uma certa corrente do pensamento jurídico, desenvolvida entre os finais do século 19 e o 
começo do século 20, a existência de distintos ramos de direito processual – da qual são 
exemplos o processo civil, o processo penal, o processo administrativo, o processo fiscal, o 
processo constitucional entre outros – com princípios básicos semelhantes, idêntica estrutura 
fundamental e problemas comuns ou análogos, justificaria o surgimento de uma nova ciência, 
que se ocupasse da teoria geral do processo. 
Os seus defensores não conseguiram, porém, escapar as críticas que lhe foram endereçadas, a 
principal das quais reside no facto de que a teoria geral opera com abstracções, no mundo dos 
conceitos, esquecendo-se da vida e a realidade social. É capaz de construir um direito lindo, que 
de autogratificação aos seus elaboradores, mas inadequado a resolução dos problemas concretos. 
Não obstante o inconveniente de elaboração de uma teoria geral do processo, deve reconhecer-se 
a utilidade de estabelecer a comparação entre o processo penal e o processo civil, quer por se 
tratar de dois tipos processuais inteiramente jurisdicionais – ou seja submetidos ao domínio da 
actividade jurisdicional – quer porque, por força da lei, o processo civil funciona como direito 
subsidiário relativamente ao processo penal. 
Vejamos, pois alguns traços diferenciadores destes dois tipos de processo. 
 Enquanto no processo civil se dirimem conflitos de interesses particulares, tutelados pelo 
direito privado, no processo penal, esta, em causa a justiça da pressão do Estado, 
derivado de um crime, isto e, da violação de interesses fundamentais da ordem jurídica 
(interesses comunitários) tutelados pelo direito público; 
 O processo civil não é forçosamente chamado a intervir para que, através da decisão 
judicial, se concretize uma relação de direito privado – na generalidade dos casos, a 
realização concreta do direito privado tem lugar independentemente do processo; ao passo 
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Lições de Direito Processual Penal 2013 
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que o processo penal é o pressuposto necessário da realização do direito substantivo – a 
submissão do agente de um ilícito criminal as sanções, previstas na lei só podem realizar-se 
por via de um processo e da consequente decisão jurisdicional: vigora aqui o princípio nulla 
poena sine processus (ou nukka poena sine judicio); 
 No processo civil tem plena aplicação o princípio da disponibilidade do objecto processual 
pelas partes – este goza da faculdade de fazerem valer no processo as suas pretensões ou de 
renunciarem a elas; no processo penal o objecto do processo e indisponível pelos sujeitos 
processuais, pois de outra forma seria impossível satisfazer o interesse da comunidade e do 
próprio Estado em esclarecer os crimes e punir os seusresponsáveis. 
Destes três principais elementos de distinção entre o processo civil e o processo penal (resultam 
outras diferenças que impõe salientar: em processo penal, contrariamente ao que sucede no 
processo civil, não domina o principio da auto responsabilidade das partes em matéria de 
prova, e, por consequência, é inexigível o ónus de provar, contradizer e impugnar, em processo 
penal o juiz goza de uma ampla discricional idade na apreciação dos factos que constituem 
o objecto do processo, por forca do principio da investigação ou da verdade material, o que 
não acontece no processo civil; entre os participantes processuais não existe, em processo 
penal uma verdadeira contraposição de interesses, pois, como veremos na altura devida, o 
Ministério Publico não actua no sentido de obter a condenação do arguido a qualquer 
preço, mas esta como o acusador particular ou o próprio defensor obrigado a um dever de 
objectividade, contraposição de interesses existe sim entre as partes no processo civil. 
1.5. Fim do Processual Penal 
Vimos acima que o processo penal visa a aplicação do direito penal substantivo aos casos 
concretos. Essa função instrumental que lhe é característica exprime-se de forma simples nestas 
duas máximas latinas: impunnitum non relinqui facinus (nenhum criminoso deve ficar sem 
punição) e innocentum non condennari (nenhum inocente deve ser condenado). 
De acordo com uma certa maneira de encarar o direito e o processo penal em particular, a 
aludida natureza instrumental impõe a este, como fim a prosseguir, a ideia de realização da 
justiça, que só e possível obter com a descoberta da verdade material e o restabelecimento da 
paz jurídica violada. 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
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O Processo penal tem como fim a realização da justiça, lograr uma sentença com forca de caso 
julgado. 
_____________________ 
2. LOCALIZAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL NO SISTEMA JURÍDICO 
MOCAMBICANO 
2.1. O Direito Processual Penal e a sua conformação jurídica com a Constituição da 
Republica de Moçambique (CRM) 
2.2. Fontes do Direito Processual Penal Moçambicano 
2.3. Regras de Interpretação e integração de lacunas 
2.4. Aplicação da Lei Processual Penal no Tempo e no Espaço. 
*** 
2.1. O Direito Processual Penal e a sua conformação jurídica com a Constituição da 
Republica 
A referência histórica das diversas concepções políticas do Estado (Estado moderno ou europeu; 
Estado estamental; Estado absoluto; Estado de policia; Estado totalitário e o Estado 
constitucional, representativo ou de Direito) e a sua conexão com os correspondentes modelos 
estruturais do processo penal mostra como este está tão intimamente relacionado com o direito 
constitucional. De tal modo essa ligação é estreita que o autor alemão, H. HENKEL, considera o 
direito processual penal como verdadeiro direito constitucional aplicado, espelho da realidade 
constitucional. Isto, não só porque os fundamentos daquele representam, simultaneamente, os 
alicerces constitucionais do Estado, mas também porque a concreta regulamentação de 
problemas essenciais do processo penal é, e deve ser, conformada com a Constituição. 
Desta conformação jurídico-constitucional do processo penal resultam, como consequências: 
 A obrigatoriedade de uma estrita e minuciosa regulamentação legal dos meios de 
coação e de quaisquer medidas que se traduzam numa limitação dos direitos 
fundamentais dos cidadãos, constitucionalmente garantidos; 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
9 
 A exigência de que a lei ordinária nunca elimine o núcleo essencial destes direitos, ainda 
que a Constituição lhe conceda liberdade para os regulamentar; 
 A necessidade do controlo judicial da actividade de todos os órgãos do Estado, mesmo 
dos que cumpram funções puramente administrativas, quando estejam em causa as 
garantias constitucionais; 
 A proibição de jurisdições excepcionais, pela afirmação do princípio do juiz natural; 
 A não valoração de provas obtidas com violação da liberdade de querer e de entender 
da pessoa; 
 A interpretação e aplicação da lei ordinária a partir e de acordo com a Constituição. 
Vejamos, então, alguns dos princípios consagrados na actual Constituição da República de 
Moçambique que directamente se prendem com o direito processual penal: 
 O artigo 59, nº. 1 estabelece que ―Na Republica de Moçambique, todos tem direito a 
segurança, e ninguém pode ser preso e submetido a julgamento senão nos termos da lei‖ 
Resulta dai que a verificação do crime e aplicação da pena correspondente só podem ter lugar 
através do processo (nos termos da lei) ou seja, por meio de procedimentos judiciais pré-
fixados – é a consagração do princípio nulla poena sine processu (ou nulla poena sine 
judicia); 
 Os preceitos relativos à constituição e funcionamento dos tribunais (Ver todo o Título IX - 
Tribunais, arts, 212 e segts da CRM) a proibição de jurisdições especiais (art. 223. n. 6), a 
representação do Estado junto dos tribunais pelo MP (artigo 236 da CRM) e outros referentes 
à posição dos órgãos da administração da justiça no âmbito do processo penal, assumem 
grande relevo jurídico-constitucional, pelo que representam uma garantia para as pessoas 
submetidas a um processo; 
 Pelas mesmas razões recebem cobertura constitucional os princípios que regem a actividade e 
função do juiz, como os de independência, imparcialidade e irresponsabilidade (artigo 217 da 
CRM) bem como o da prevalência das decisões judiciais sobre as das demais autoridades 
(artigo 215 da CRM); 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
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 De igual modo assumem foros de garantia constitucional os princípios proclamados nos 
artigos 59, nº. 2 (presunção de inocência ate decisão judicial definitiva), 62 (acesso aos 
tribunais e o direito de defesa), 67, n. 4 (a proibição da extradição), 68 (a inviolabilidade do 
domicilio e da correspondência) e 66 (concessão da providencia do habeas corpus). 
2.2. Fontes do Direito Processual Penal Moçambicano 
Para mero interesse de clareza de exposição, adopta-se a seguinte sistematização no que 
respeita às fontes do direito processual penal: A: Fonte material ou imediata (direito legal); 
B: fonte legislativa internacional; C: fonte doutrinária e D: fonte jurisprudencial. 
Fonte material ou imediata – direito legal 
2.2.1. A Constituição da Republica de Moçambique 
2.2.2. Código de Processo Penal 
**** 
2.2.1. A Constituição da Republica de Moçambique 
A Constituição, porque lei fundamental e hierarquicamente superior, é a fonte primária do DPP. 
Tanto é assim que alguns autores consideram o Direito Processual Penal como Direito 
Constitucional aplicado, pois, o DPP deve conformar-se com a Constituição. Na verdade, ele 
conte preceitos respeitantes aos direitos, liberdades e garantias fundamentais do cidadão que são 
directamente aplicáveis, vinculando entidades públicas e privadas 
Há princípios gerais inclusive relativos ao DPP, exemplo o de presunção da inocência – dentro 
da Constituição como lei mãe. 
Especial referência deve ser feita aos seguintes dispositivos constitucionais como fonte do DPP: 
os arts. 35; 40; Capitulo V, p.e artigos 98, 99, Capítulo VII todos da CRM. 
2.2.2. O Código de Processo Penal e legislação avulsa 
O CPP é sem duvidas uma das mais importantes fontes do DPP. Este diploma foi aprovado e 
publicado através do Decreto n. 16489, de 15 de Fevereiro de 1929 e mandado aplicar às então 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — JuristaLições de Direito Processual Penal 2013 
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províncias ultramarinas através do Decreto n. 19271, de 24 de Janeiro de 1931 com as alterações 
nele constantes. 
Outro diploma de relevo é o Decreto-Lei n. 35007, de 13 de Outubro de 1945, mandado aplicar à 
Moçambique com algumas modificações pela Portaria 17076 de 20 de Março de 1959. Por sua 
vez o Decreto-Lei nº. 185/72, de 31 de Maio, contem a última e mais extenso e importante das 
reformas sofridas desde 1929, pelo Código de processo penal, reforma esta que implicou a 
revogação de várias disposições do Decreto-Lei n. 35007. 
O CPP de 1929 tem por fontes principais o direito anterior, a jurisprudência portuguesa e a 
pratica dos tribunais, além de vários projectos que antecederam a sua aprovação. Considerando o 
estado caótico da legislação e das práticas processuais anteriores, o CPP de 1929 teve o grade 
mérito de englobar numa concepção unitária e ordenada os princípios de direito processual penal 
e de os regulamentar dentro de um sistema livre de contradições. Com ele deu-se mais ênfase a 
descoberta do fim do processo penal, ampliou-se, consequentemente, os poderes de cognição do 
juiz e vedaram-se as práticas processuais abusivas e dilações voluntarias da prossecução 
processual. 
O Código veio substituir a anterior concepção de base acusatória, por outra, de índole 
inquisitória, em que competia ao juiz, para além de julgar, realizar a investigação preliminar, 
fundamentadora da acusação – a que se designou de corpo de delito. Não deixou, porem, de 
respeitar formalmente a concepção acusatória, na medida em que era ao Ministério Publico que 
competia deduzir a acusação. É o princípio da forma acusatório ou acusatório formal. 
Coincidiam na mesma pessoa as funções de investigar e julgar, o que acarretava sérios riscos de 
lhe criar, naquela primeira fase, um preconceito do qual, na segunda, dificilmente conseguia 
livrar-se deste modo se lhe furtava a objectividade e a imparcialidade necessários a um correcto 
julgamento. 
O Decreto-Lei n. 35007 procurou eliminar estes inconvenientes. Para tanto, atribuiu ao MP não 
só a titularidade da acção penal (art. 1), como, na fase da instrução preparatória, os poderes e as 
funções que antes eram atribuídos a uma magistratura não dependente e hierarquicamente 
estruturada funções e poderes que implicam intromissões na esfera das liberdades do cidadão, 
sem fixar mecanismos de controlo judicial do exercício daquelas funções pelo MP. 
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Elaborado por: José Roberto Cumbane — Jurista 
Lições de Direito Processual Penal 2013 
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O Decreto-Lei n. 185/72 não deu solução a este problema, muito embora tenha reformado 
extensas zonas do processo penal relacionadas com a fase da instrução (preparatória e 
contraditória) a acusação e defesa e as execuções. Deixou, portanto, persistir um dos maiores 
problemas no que respeita a instrução – o da falta de controlo judicial da actividade instrutória de 
todos os órgãos do Estado (mesmo dos que cumpram funções administrativas), desde que tal 
actividade se prenda com a esfera dos direitos do cidadão constitucionalmente garantidos. 
Tal problema só viria a ser resolvido em Portugal pela Lei n. 2/72 e pelo Decreto que permitiram 
a criação dos juízes de instrução criminal nas comarcas em que o processo assim o exigisse. Tais 
diplomas não chegaram, porém, a ser tornados extensivos aos territórios sob administração 
colonial. No nosso pais só recentemente, com a aprovação e publicação da Lei n. 2/93, de 24 de 
Junho, a questao veio a ser parcialmente colmatada. 
Para além do CPP, há que considerar legislação avulsa pertinente ao processo penal como fonte 
do nosso direito processual penal. 
 O Decreto-lei n. 28/75, de 1 de Marco – que alarga o ambito de aplicação do processo 
sumario e simplifica o formalismo do processo de transgressões; 
 O Decreto-Lei n. 4/75, de 16 de Agosto – que alem de ter proibido o exercício da advocacia a 
título de profissão liberal, continha disposições, relativas ao exercício da acção penal pelo 
Ministério Público e a impossibilidade de constituição de assistente; 
 A Lei n. 9/92, de 6 de Maio - que imprime alterações ao formalismo processual penal e 
reintroduz a figura do assistente, derrogando os arts. 17 e 19 do Decreto-Lei n. 4/75; 
 A Lei n. 2/93, de 23 de Junho – relativa a institucionalização dos juízes da instrução criminal 
 A Lei n. 5/81, de 8 de Dezembro – extingue o Tribunal de Execução de Penas e transita a 
competência para os tribunais populares provinciais. 
2.1.3. Fonte legislativa Internacional 
Os textos jurídicos internacionais são fonte do direito processual penal na medida em que 
vigorem na ordem jurídica interna. Afigura-se aqui o problema da aplicabilidade e vigência 
interna do Direito Internacional, cujo desenvolvimento encontra sede em disciplina própria. 
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13 
Assim sendo, e sem pretender esgotar a matéria nomeia-se apenas os textos mais significativos a 
saber: 
 Declaração Universal dos Direitos do Homem de 10 de Dezembro de 1948; 
 Pacto Internacional dos Direitos Políticos; 
 Convenção contra a Tortura e outras formas desumanas de tratamento ou punição cruel ou 
degradante de 26 de Junho de 1987; 
 A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos de Junho de 1981. 
2.1.4. Fontes Doutrinarias 
A doutrina tem um papel fundamental na construção da dogmática jurídico processual penal. A 
renovação e o desenvolvimento da doutrina resultam necessariamente da busca incessante de 
soluções justas e adequadas para concretos problemas da vida em comunidade. 
2.1.5. Fontes jurisprudenciais 
Tal como a doutrina, a jurisprudência não constitui fonte em sentido formal, mas cabe-lhe de 
algum modo uma função criadora do direito. Na verdade, não se coloca ela ao mesmo nível de 
obrigatoriedade geral própria da lei, nem tão pouco em conflito com ela, o que poderá suscitar 
uma questao de prevalência ou hierarquização. A sua forca reside no facto de o direito ter 
deixado de ser um conjunto de princípios gerais e abstractos, achando-se aqui aplicado a um caso 
concreto. 
Todavia, tem a jurisprudência desempenhado um papel de relevo, de parceria com a doutrina 
processual penal, na construção teórica e dogmática do respectivo direito. Tal contribuição 
patenteia-se hoje na afirmação de princípios jurídicos com reflexos de tal ordem no direito 
positivo, que nele alcançam assento por via de consagração legal. Exemplos clássicos nesse 
sentido são-nos relevados pelos princípios respeitantes a conexão de processos e consequente 
unidade de cognição, sobretudo em via de recurso – art. 663; a convolação – arts. 148 e segts e 
447 e segts; ao recurso de revisão com base em factos novos – art. 673 todos do CPP. 
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14 
Uma questao particular e específica é a suscitada pela figura dos assentos, que se traduz na 
fixação, pelos tribunais, de doutrina com forca obrigatória geral (v. art. 2 do C.Civil e 763 e 
segts do CPP). Resulta ela da necessidade de se saber se o conteúdo normativo do assento 
assumira a mesma natureza e valor próprios da lei em sentido formal. Se atentarmos ao facto de 
que a função do tribunal assenta na aplicação do direito ao caso concreto, não se coadunando, 
portanto, com a fixação de doutrina com forca obrigatória geral, facilmente se apreendera da 
delicadeza do problema em análise. 
Trata-se, com efeito, de uma questao actual e pertinente, dividindo opiniões e correntes entre a 
aceitação e rejeição desta figura por inconstitucional e se traduzir no uso pelostribunais de 
poderes que são próprios de um órgão legislativo. Entre nós a questao ainda não foi levantada. 
2.2. Interpretação e integração da lei processual. A analogia 
2.2.1. Regras de Interpretação 
As normas do DPP suscitam como os do direito material, problemas de interpretação. Buscar e 
encontrar o sentido e o espírito da norma para esclarecer a sua obscuridade ou para determinar 
seu alcance, ou mesmo decidir sobre qual a norma aplicável aos casos não expressamente 
previstos é problemas comuns a todos os ramos de direito 
Interpretar a lei significa fixar exactamente o seu conteúdo e alcance determinando qual é a 
vontade expressa pela norma em conexão com as demais normas e com as exigências sempre 
novas da vida comunitária. É tentar descobrir o alcançável significado das palavras que contem, 
quer na sua literal idade, quer no seu espírito. 
Há, em princípio, quanto aos elementos utilizados, a interpretação literal e a interpretação lógica. 
Quanto aos efeitos ou resultados a interpretação pode ser declarativa – quando a letra e o espírito 
coincide, não há obstáculos à sua utilização no processo penal, restritiva – quando o legislador 
disse mais do que aquilo que queria dizer. Tem de se restringir a letra ao seu espírito. Não há 
obstáculos à sua utilização no processo penal e extensiva — quando o legislador disse menos do 
que aquilo que queria dizer. Aqui entendemos o espírito da lei. Sempre que a posição processual 
do arguido sai enfraquecida a interpretação extensiva não é aplicável. 
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15 
Em todas estas formas de interpretação está sempre implícito o pressuposto de que entre a 
verdadeira vontade do legislador e a sua imperfeita manifestação. E por via disso a necessidade 
de rectificação desta com o objectivo de assegurar a supremacia e o predomínio daquela. 
A letra da lei é o ponto de partida da interpretação e é o limite da interpretação – nº. 2 do Artigo 
9 do C.C. “O intérprete não deve criar uma nova lei”. 
2.2.2. Integração de Lacunas 
Por mais perfeito que seja o legislador é impotente de regular todas as situações que surgem ao 
aplicador do Direito, estas com relevância jurídica. Se estivermos em face de uma situação 
imperfeitamente prevista, a situação não é de lacuna jurídica, mas sim de interpretação. Se 
estivermos em face de uma situação em que o direito não previu devendo prever estamos diante 
de uma lacuna do direito, cuja solução passa necessariamente pela integração da lacuna. 
Assim, designa-se de integração a operação através da qual, na falta de disposição legal que se 
aplique directamente a uma qualquer situação jurídica, se procura encontrar forma de 
indirectamente, solucionar o vazio da lei. 
O problema de integração de lacunas em processo penal tem um tríplice caminho a percorrer a 
saber - parágrafo único do artigo 1º do CPP: 
 A analogia; 
 As regras do processo civil que se harmonizem com o processo penal (os princípios gerais do 
processo civil) 
 Os Princípios Gerais do Processo Penal 
A analogia de lei “analogia legis”, é a via o mecanismo que procura integrar as lacunas através 
do recurso a preceitos do próprio CPP que contemplam situações análogas a omissa, por 
contraposição a “analogia júris” que supõe, a elaboração de um princípio normativo, extraído 
de uma ou varias disposições legais e a sua subsequente aplicação ao caso omisso. O CPP ao 
referir-se às disposições do código (do mesmo) deve-se entender que inclui também a legislação 
avulsa. 
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16 
O recurso a analogia é permitido no DPP, ao contrário do Direito Penal substantivo 
relativamente à fundamentação da pena (incriminação), ou ao seu agravamento (art. 18 do CP). 
A analogia é vedada em processo criminal se enfraquecer a posição do arguido. 
A mesma morte encontra as normas excepcionais, que não são de aplicação analógica (a regra é 
a liberdade e a prisão uma excepção - essa não deve ser de aplicação analógica. Também as 
normas quase substantivas (as que aparecem no direito adjectivo e no substantivo ‗ não são de 
aplicação analógica, atingem os direitos do sujeito). 
Mas o facto de a analogia ser permitida em processo penal não significa que ela possa ser usada 
em detrimento dos direitos processuais do arguido ou para enfraquecer, prejudicados não sendo 
possível integração por via de analogia, há que recorrer, as regras do processo civil que se 
harmonizam com o processo penal. De referir que estas não podem estar em contradição com 
os princípios e interesses que o DPP visa realizar, isto é assim, porque nestes dois ramos de 
direito processual vigoram princípios profundamente diferentes (quanto à prova, objecto, 
disponibilidade, etc.). 
O recurso às normas do processo civil não deve ser aceite se da sua aplicação resultar distorção 
dos princípios do processo penal, dominado todo ele por valores muito próprios. 
Os Princípios Gerais do Processo Penal só poderão ser usados para integração de lacunas sempre 
e quando não seja possível a aplicação analógica, o recurso às normas do processo civil que se 
harmonizem com o processo penal. 
2.3. Aplicação da Lei Processual Penal no Tempo e no Espaço. 
Âmbito de aplicação material 
O âmbito de aplicação material do DPP coincide com os estritos limites da jurisdição 
moçambicana em matéria penal. É pois, exactamente demarcada pela especificidade do objecto 
do processo penal, abrangendo o crime acusado, as contravenções e as reacções criminais que em 
abstracto lhe caibam. 
Esta, naturalmente, fora de questao a autonomia das jurisdições penal e civil. Todavia, a lei 
manda que o pedido civil de indemnização por perdas e danos derivado de um crime deve ser 
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17 
deduzido em processo penal (art. 29 do CPP). Optou, assim, o legislador pelo chamado sistema 
da interdependência ou da adesão da acção civil a penal. 
Âmbito de aplicação espacial 
O âmbito de aplicação do direito processual penal no espaço assenta na ideia de que a jurisdição 
penal se confina aos limites territoriais do Estado – aqui vigora o princípio da territorialidade, 
ou seja, a lei processual penal moçambicana se aplica, sem excepções, a todos os procedimentos 
que nele corram os seus termos, qualquer que seja a nacionalidade dos agentes do facto 
criminoso – art. 45 do CPP. 
Nada impede, porém, que a jurisdição penal moçambicana se aplique a crime cometidos no 
estrangeiro (Cfr. artigos 46, 48, 49 e 50 do CPP), o que acontece naqueles precisos casos em que 
é aplicável a lei penal substantiva. Significa isto que é inadmissível, salvo tratado internacional 
em contrario, executar em território estrangeiro actos processuais cabidos na jurisdição nacional 
e vice-versa
5
. 
Em consequência do princípio acima aludido – que domina as relações entre a jurisdição 
nacional e estrangeira - a sentença penal proferidas pelos tribunais estrangeiros não lhes são 
reconhecidas efeitos positivos nem executórios, embora possam ser admitidos efeitos negativos. 
Assim, no caso de infracções cometidas no estrangeiro, a sentença ai proferida impede que a 
questao seja de novo julgada em Moçambique (art. 53, ns. 3 e 5 do CPP) e, em caso de novo 
processo, ter-se-á em conta a pena já cumprida pelo réu no estrangeiro (n. 3 do art. 53 e bem 
assim o & 4 do art. 35 do CPP). 
Excepções ao princípio da territorialidade resultam de tratados internacionais firmados por 
Moçambique com outros países, de entre os quais se destacam os acordos de cooperaçãojurídica 
e judiciaria com Cuba e Portugal. 
Âmbito de aplicação pessoal 
Estão sujeitos à jurisdição penal moçambicana via de regra aquelas pessoas a quem lhes sejam 
aplicável o direito penal moçambicano. Existem algumas limitações à esta aplicação resultante 
 
5 Veja-se a Lei n. 17/2011, de 10 de Agosto – que rege os casos e termos da efectivação da extradição. 
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18 
do direito internacional público, são as chamadas imunidades diplomáticas que atingem Chefes 
de Estado, diplomatas, seus familiares, pessoal administrativo e agentes equiparados das 
representações diplomáticas. 
Existe outro grupo de limitações que resultam do direito constitucional que atingem o Presidente 
da Republica
6
, deputados
· e
 estendem-se às entidades nomeadas pelo Presidente da Republica, 
magistrados judiciais
7
 e do Ministério Publico
8
. 
Aplicação da lei processual no tempo 
Todas as leis têm a sua aplicabilidade limitada no tempo, entre o início da vigência e o seu 
termo. Uma lei que sucede a outra começa a vigorar no momento em que a anterior cessa a sua 
vigência, donde surge o problema da lei aplicável ao caso concreto, dentro das leis que se 
sucedem no tempo. 
A colocação clássica do problema parte da consideração de que a lei processual penal como lei 
adjectiva deve ser de aplicação imediata. 
Sobre o assunto Cavaleiro de Ferreira disse: ― Se um processo termina no domínio de uma lei 
revogada, o processo mantém pleno valor. Se o processo se não iniciou ainda, embora o facto 
que constitua o seu objecto tenha sido cometido no domínio da lei antiga, é-lhe inteiramente 
aplicável a nova lei. Se a lei nova surge durante a marcha do processo são válidos todos os 
actos ulteriormente praticados”. 
Eduardo Correia disse que ―aceitar tal posição não permite notar que os actos processuais em 
concreto constituem na sua tramitação o desenvolvimento de outros anteriores, pelo que 
respeitar os elementos de um processo é aceitá-los com as suas consequências que 
dinamicamente pressupõe. Por outro lado, a lei nova pode mudar o estatuto dos sujeitos 
processuais, máxime do arguido, já que a lei processual assume por vezes natureza quase 
 
6 Art. 153, n. 1 e 2 da CRM 
7Arts 217 e 218 da CRM conjugado com o Arts. 5, 6,7,48,49 da Lei n. 7/2009, de 11 de Marco que aprova o Estatuto 
dos Magistrados Judiciais 
8 Art. 52, 53, 69, 119, 120 da Lei n. 22/2007, de 1 de Agosto 
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19 
substantiva nomeadamente quando regula matérias respeitantes aos direitos processuais dos 
mesmos”. 
O problema da aplicação da lei processual penal deve ser visto em torno do artigo 12 do C.C que 
estatui que a lei só dispõe para o futuro. Daí que a solução a dar tem a ver com o momento da 
entrada em vigor da lei em causa. 
A aplicação da lei processual penal há actos ou situações que decorram na sua vigência mas que 
se ligam à uma infracção cometia no domínio da lei antiga não deve contrariar nunca o conteúdo 
da garantia conferida pelo princípio da legalidade. Não deve aplicar-se a nova lei processual há 
um acto ou situação processual que ocorra num processo pendente de um crime cometido na 
vigência da lei antiga. Sempre que da nova lei possa resultar o agravamento da posição 
processual do arguido ou em particular uma limitação do seu direito de defesa
9
. 
***** 
3. PRINCIPIOS GERAIS DO PROCESSO PENAL 
3.1. Princípios relativos a promoção ou iniciativa processual 
3.2. Princípios relativos a prossecução ou decurso processual 
3.3. Princípios relativos Prova: 
3.4. Princípios relativos Forma 
São princípios constitucionais do processo penal que consubstanciam os valores preferenciais e 
os bens prevalecentes em dado momento, numa certa comunidade. 
Tais princípios há-de reduzir necessariamente ao mínimo de modo a terem acolhimento ou 
aceitação geral dos membros da comunidade e o correspondente a sua consciência ético-jurídico. 
 
9O Decreto n. 19271, de 24 de Janeiro de 1931 – que põe em vigor o CPP nas províncias ultramarinas, 
especialmente o artigo 23, debruçasse sobre a aplicação da lei processual penal. 
 
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20 
Pesem embora tais limitações, são estes princípios gerais do processo penal que dão sentido a 
vastidão de normas vigentes, orientação ao legislador, e permitem a dogmática, não apenas 
explicar, mas sobretudo, compreender os problemas do direito processual e caminhar no sentido 
da sua superação. 
A importância da sistematização e estudo dos princípios gerais do processo penal tem por fim 
proporcionar maior clareza e uma exposição didáctica desses princípios, por um lado, por outro, 
é de carácter pedagógico, pois, permite-nos fazer uma apreciação sintética dos valores 
fundamentais em que assente o sistema processual penal vigente; tem uma função politico-
legislativa, enquanto permitem confrontar o sistema processual com os valores sociopolíticos 
dominantes e uma função de carácter prático – que tem a ver com a problemática da aplicação do 
direito processual penal em termos de integração de lacunas. 
Em termos de sistematização vamos agrupar os princípios em categorias para fácil compreensão: 
 Princípios relativos a promoção ou iniciativa processual (incluímos neles os que nos 
dizem algo em relação ao que se deve fazer quando se quiser iniciar uma acção penal – 
princípios da oficialidade, legalidade e de acusação); 
 Princípios relativos a prossecução ou decurso processual (principio da investigação, da 
contrariedade e audiência, da suficiência e da concentração); 
 Princípios relativos Prova: princípios da investigação, da livre apreciação da prova e ―in 
dúbio pró reo‖; 
 Princípios relativos Forma: princípios da publicidade, da oralidade e da imediação. 
3.1. PRINCÍPIOS RELATIVOS A PROMOÇÃO PROCESSUAL OU INICIATIVA 
PROCESSUAL 
3.1.1. O Principio da oficialidade, também conhecido por princípio monopolista. 
Sobre este princípio há a indagar logo sobre a quem compete a iniciativa (o impulso) de 
investigar a pratica de uma infracção e a decisão de a submeter ou não a julgamento. 
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21 
A luz do direito positivo moçambicano por excelência incumbe ao MP a promoção da acção 
penal – art. 236 da CRM – arts 1 e 14 do DL 35007, art. 5 do CPP) que pode delegar - 
excepcionalmente a outros entes públicos – art. art. 16 e 17 DL 35007). 
Ao contrário do que se passa em matéria civil, no DPP vigora o princípio da legalidade da acção 
penal, no sentido de que sendo o Estado, o titular da acção penal, órgão competente para a 
promoção da mesma, não pode escolher se quer ou não exercer a acção penal. Isto porque a 
realização de justiça penal enquanto assunto público e não privado deve caber oficiosamente ao 
Estado e não pode depender da vontade e da actuação dos particulares, nomeadamente a vítima 
do crime, isto é a regra para os crimes de natureza pública. Ex: o homicídio – e de natureza 
publica. 
Porem, o exercício da acção penal tem tido limitações nalguns casos, atento a natureza do crime 
cometido e dos bens jurídicos especialmente tutelados pela incriminação. Nem sempre que o MP 
toma conhecimento dum facto criminoso pode promover a acção penal, há vezes que dependeda 
queixa, participação ou da acusação particular, conforme a situação em concreto. 
O critério para a determinação da natureza do crime consiste na regra de exclusão: os crimes que 
não forem semi-públicos, nem particulares são públicos. 
Para saber se os crimes são semi-públicos ou particulares consulta-se a lei substantiva: quando a 
lei penal utiliza o termo queixa, participação o crime é semi-publico – ex: 359 $ único; 360 $ 
único; 363$ único; 363 $ único; 369 $1; 379, $ 2; 399, referido aos arts. 369, $ 2, in fine, 391 SS. 
430 e $ 1; 431 $ 2. 438; 450 $ único; 451 $ 2; 455 $ único, 472 $ 1; 473 $ único e 477 — quando 
utiliza a expressão acusação particular; requerimento da parte o crime é particular – arts. 254, $ 
único; corpo do artigo 416 todos do CP. 
Importa referir que a maior parte dos crimes tem natureza pública e nestes casos o MP tem 
legitimidade incondicionada para promover a acção penal. Porem, importa referir que há casos 
excepcionais em que, mesmo nos crimes públicos para que o MP promova a acção penal e 
necessário a remoção de certos obstáculos legais em relação a certas entidades. 
A título de exemplo temos os crimes públicos cometidos pelo Presidente da Republica no 
exercício das suas funções. Aqui, para que o M. P promova a acção penal é necessário que a 
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22 
―Assembleia da Republica requeira ao Procurador-Geral da Republica o exercício da acção penal 
contra ele‖, devendo a proposta ser feita por ―pelo menos um terço e aprovada por maioria de 
dois terços dos deputados da Assembleia da Republica – n. 3 do art. 153 da CRM. 
Quando se trate de crimes semi-públicos o MP só tem legitimidade quando a pessoa a quem o 
direito assiste apresentar a queixa, que pode ser feita directamente a ele ou a outras instâncias 
competentes para receber queixas e/ou denuncias, nomeadamente, a Policia da Republica de 
Moçambique, MP e a Policia de Investigação Criminal – art. 3 do DL 35007, devendo levantar 
autos de notícia nos termos do art. 166 do CPP e remeter directamente ao Tribunal competente, o 
que valera para todos os efeitos como acusação em processo penal. 
Denuncia – é a comunicação da prática de um crime que é feita ao MP ou a outra autoridade de 
comunicar nos termos estabelecidos na lei – art. 7 do DL 35007. 
A denúncia por ser feita por queixa ou participação. 
A queixa é um acto voluntário/ e a expressão de vontade do titular do respectivo direito, 
manifestando por requerimento e na forma prescrita na lei manifestando a sua vontade de que 
seja responsabilizado algum pela pratica de um determinado crime. Esta tem carácter facultativo, 
é renunciável e é passível de desistência a ser proposta pelo ofendido através do mandatário 
devidamente constituído. 
A participação é a manifestação de vontade por parte de uma autoridade, de que deseja que seja 
instaurado procedimento criminal contra alguém. 
Quando a queixa ou denúncia for feita a uma entidade diferente do MP deve ser a este 
transmitido imediatamente – art. 8, $ único do DL 35007. 
3.1.2. Princípio da Legalidade 
De acordo com este princípio é dever da autoridade pública competente – MP – proceder 
criminalmente contra o autor de um facto que reúna os pressupostos substanciais e processuais 
da incriminação, o que significa que não esta nas mãos do MP optar ou não pelo procedimento, 
quando reunidos os respectivos requisitos legais. 
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23 
Os fundamentos que alicerçam o princípio da legalidade encontram-se em várias disposições 
legais, designadamente os arts. 1 e 165 e 349 do CPP e 26 do DL n. 35007. De acordo com tais 
comandos normativos o MP esta obrigado a proceder e dar acusação por todas as infracções de 
cujos pressupostos – factuais e jurídicos, substantivos e processuais – tenham tido conhecimento 
e tenha logrado recolher, na instrução, indícios suficientes. 
Significa que o MP devera promover a acção penal sempre que se verifiquem os seguintes 
requisitos: 
a) Pressupostos processuais (ex: a competência e inexistência de obstáculos processuais como, 
por exemplo as imunidades) 
b) Punibilidade do comportamento segundo o direito penal substantivo (ex: ilicitude, culpa, 
condições objectivas de punibilidade); 
c) Conhecimento da infracção (art. 165 CPP) 
d) E existência de indícios suficientes (art. 349) ou prova bastante (a contrario dos arts. 345 do 
CPP e 26 do DL 35007) que fundamenta a acusação. 
A actividade do MP desenvolve-se assim, sob estrita vinculação da lei – dai o princípio da 
legalidade e não segundo considerações de oportunidade (Ex. de ordem politica – faison d‘ Etat 
ou financeira – custos). 
 O interesse do Estado neste principio é de tal ordem e carácter que a sua omissão pode 
consubstanciar-se num crime de denegação de justiça – artigo 287 e 288 CP. 
3.1.3.Princípio da Imutabilidade da Acusação 
Como corolário deste princípio da legalidade no que respeita a acusação pública, resulta o 
chamado princípio da imutabilidade da acusação, de acordo com este princípio, a acusação não 
pode ser retirada a partir do momento em que um tribunal for chamado a decidir sobre ela. Por 
essa via esta excluída a (renuncia a acusação – art. 18 do CPP) e bem, assim, a desistência dela. 
Ressalva-se no entanto, a eficácia do perdão dos ofendidos no caso dos crimes particulares ($ 
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Lições de Direito Processual Penal 2013 
24 
único do art. 3 do DL 35007) e semi-publico, exceptuando os casos em que a sentença 
condenatória haja transitado em julgado, e ainda nos caos especificamente fixados por lei
10
. 
Resumindo: Sobre este princípio da imutabilidade ou indisponibilidade, os sujeitos processuais 
não podem dispor da relação processual, o MP não pode desistir da acusação, o arguido não pode 
por fim ao processo, mesmo que confesse, as partes não podem transigir. 
Este princípio é dominante nos crimes públicos em relação aos quais o MP só tem a 
obrigatoriedade e legitimidade para promover a acção penal bem como o dever de com ela 
prosseguirem depois de requerida. 
Nos crimes semi-públicos é reconhecido aos participantes ou denunciantes o direito de perdoar 
ou renunciar a queixa, extinguindo-se assim o procedimento criminal (art. 125, n. 4 do CP e art. 
7 & 2 do CPP). 
3.1.4. Princípio da Acusação 
Significa que a jurisdição dos tribunais nunca intervêm oficiosamente, apenas intervêm mediante 
um pedido formulado pelo MP que assume uma forma (Acusação), por um lado, por outro, feito 
esse pedido tem um conteúdo concreto. Então a jurisdição não pode alargar o seu puder de julgar 
a pessoas e factos distintos daqueles que são objecto da acusação. Este princípio da acusação é 
um princípio directamente decorrente da estrutura acusatória do processo penal e exige que seja 
necessário respeitar o princípio da separação de funções. Temos que ter por um lado, a entidade 
que investiga e deduz formalmente a acusação (que e o MP) e por outro lado, temos que ter uma 
entidade distinta e autónoma que julga (o tribunal). 
O tribunal a quem cabe o julgamento, não pode por sua iniciativa começar uma investigação 
tendente ao esclarecimento de uma infracção e a determinação dos seus agentes. Isto para 
preservar a sua imparcialidade, objectividade. E porque o tribunal tem que limitar o seu poder 
cognitivo (de tomar conhecimento ao que vem na acusação) ele não poderá ser responsabilizado 
se A for absolvido porque a acusação foi deficiente. 
 
10 Art. 125 $ 6do CP 
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Lições de Direito Processual Penal 2013 
25 
A acusação define e fixa perante o tribunal o objecto do processo (principio da vinculação 
temática), ou seja, o objecto do processo deve manter-se o mesmo desde a acusação ao transito 
em julgado da sentença, deve ser conhecido e julgado na totalidade (de forma unitária e 
indivisível) e deve considerar-se irrepetivelmente decidido. Trata-se de uma garantida de defesa 
do arguido na medida em que a partir da acusação ele sabe exactamente de que é que tem de se 
defender, não podendo ser surpreendido com novos factos ou novas perspectivas dos mesmos 
factos para os quais não estruturou a sua defesa. 
3.2. PRINCIPIOS RELATIVOS A PROCESSUCAO PROCESSUAL 
3.2.1. Princípio da investigação ou da verdade material 
O princípio da investigação significa que é o tribunal que investiga os factos sujeitos a 
julgamento embora as partes possam dar o seu contributo: 
Assim, a dedução e esclarecimento do material de facto e dos elementos probatórios não 
pertence exclusivamente as partes, mas em último termo ao juiz. É sobre ele que recai o ónus de 
investigar e esclarecer oficiosamente – independentemente das contribuições das partes – o facto 
submetido a julgamento
11
. 
Também, não impenda nunca sobre as partes em processo penal, qualquer ónus de afirmar, 
contradizer e impugnar como, igualmente, que se não atribua qualquer eficácia a não 
apresentação de certos factos ou ao acordo expresso ou tácito, que se formaria sobre os factos 
não contraditados, como finalmente, que o tribunal não tenha de limitar a sua convicção por 
sobre os meios de prova apresentados pelos interessados. Por isso se diz que em processo penal 
esta em causa, não a verdade formal, mas a verdade material, entendida como verdade subtraída 
a influência do comportamento processual da acusação e da defesa e como verdade judicial, 
pratica e processualmente valida. 
O princípio da investigação, em que se busca a verdade material, contrapõe-se ao princípio do 
dispositivo (ou da contradição, ou da discussão), que se satisfaz com a verdade formal e em que 
 
11 Ver arts. 9 e sobre problemas específicos — arts. 330 && 1 e 2; 332; 333 &&1 e 2; 404 & 1; 425 & 3; 435; 443; 
465 & único, etc. todos do CPP. 
 
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o processo se desenrola como um duelo entre as partes, sob a arbitragem do juiz. Aqui este 
principio não tem aplicação, pois se esta perante a indisponibilidade do objecto processual, a 
impossibilidade de desistência da acusação publica de aspectos eficazes entre a acusação e a 
defesa e de limitações postas ao tribunal na apreciação jurídica do caso submetido a julgamento. 
Este último ponto vale, sobretudo nas alegações orais na audiência de discussão e julgamento
12
. 
Pode o MP ter pedido a absolvição do arguido e o tribunal condená-lo, como pode a defesa 
considerando provado o crime pedir apenas a condenação em uma pena leve e o tribunal 
absolver o arguido. 
3.2.2. Princípio da contraditoriedade ou audiência 
Cabendo ao juiz penal cuidar de reunir as bases necessárias a sua decisão, não deve ele, todavia, 
levar a cabo a sua actividade isoladamente, pelo contrário deve ouvir tanto a acusação como a 
defesa. 
Tal não significa que o juiz deva permanecer passivo a ouvir o debate que perante ele se 
desenrola, antes sim, que toda a prossecução processual deve cumprir-se de modo a fazer 
ressaltar as razoes da acusação mas também as da defesa e, portanto aceitando a iniciativa 
própria destes sujeitos processuais. 
Este princípio encontra-se plasmado em diferentes fases do processo. 
Na fase de acusação e defesa, a contrariedade transparece sobretudo na contestacao
13
, sendo ela 
própria fundamento da fase da instrução contraditória
14
. 
Na fase de julgamento o juiz ouvira sempre o MP e os representantes da parte acusadora sobre os 
requerimentos dos representantes da defesa e estes sobre o que tenham requerido aqueles, e a 
contestacao do réu, quando deduzida na audiência de julgamento, será apresentada por escrito 
pelo seu defensor”15. 
 
12 Arts. 467; 533 e 539 do CPP. 
13 Arts. 379, 390 e 398 do CPP 
14 Art. 326 do CPP). 
15 Artigos 415 e 423 do CPP 
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É de resto para assegurar o contraditório que se considera como nulidade a falta de notificação 
do despacho de pronúncia ou equivalente ao arguido e seu defensor, bem como a falta de entrega 
do rol de testemunhas
16
. 
O princípio da audiência traduz-se na oportunidade conferida a todo o participante processual de 
influir, através da sua audição pelo tribunal do desenrolar do processo. 
3.2.3. Princípio da suficiência – as questões prejudiciais 
O princípio da suficiência tem como conteúdo o facto de o processo penal, em regra, se bastar a 
si próprio, o que significa que a sua promoção é independente e autónoma de qualquer outro 
processo e que nele se podem e devem, também em regra, decidir todas as questões que 
interessem a decisão da causa penal: obrigatoriamente se forem de natureza penal, sempre que 
possível se tiverem outra natureza. 
O princípio da suficiência vem consagrado no art. 2 do CPP. De acordo com este princípio, o 
processo penal é o lugar adequado ao conhecimento de todas as questões cuja solução se revele 
necessário a decisão a tomar (as excepções estão referidas nos artigos seguintes). 
Na tramitação do processo penal para conduzir a uma decisão podem surgir questões de diversa 
natureza (penal, civil, administrativa, etc.), cuja resolução condiciona o ulterior desenvolvimento 
do processo. Ao dar competência ao juiz penal para delas conhecer, a lei considera que o 
processo penal se basta a si mesmo, que é auto-suficiente. 
Entende-se por questões prejudiciais aquelas cujo objecto é diferente do que constitui a questão 
principal do processo em que surgem, e sendo susceptíveis de constituírem objecto de um 
processo autónomo, são de resolução prévia indispensável para se conhecer em definitivo da 
questão principal. 
No que tange ao conhecimento das questões prejudiciais pelo tribunal criminal podem ser 
indicadas três teses: a tese do conhecimento obrigatório de todas as questões, a tese da devolução 
do conhecimento e uma terceira, intermédia. 
 
16 Nºs 5 e 6 do artigo 98 do CPP 
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Quanto as questões prejudiciais não penais em processo penal vêm regulamento do art. 3 do 
CPP. Reconhece-se neste dispositivo legal, a excepção ao princípio da suficiência. Teve o 
legislador, o cuidado de acautelar que não se criem obstáculos ao exercício do processo penal, 
com a devolução da questão prejudicial para o tribunal normalmente competente
17
. 
No que respeita as questões prejudiciais penais em processo não penal, a matéria vem regulado 
nos arts. 4, 152 e 154 do CPP e art. 97 do CPC. 
3.2.4. Princípio da concentração 
O principio da concentração significa que os actos processuais devem ser praticados numa só 
audiência se possível, ou em audiências próximas no tempo, para que as impressões colhidas 
pelo juiz não desapareçam da sua memoria. 
Este princípio exige uma prossecução tanto quanto possível unitária e continuada de todos os 
termos e os actos processuais, devendo, noseu conjunto em todas as fases do processo 
desenvolver-se concentradamente, quer no espaço, quer no tempo. 
Embora presente em todas as fases do processo ganha mais relevo e autonomia na audiência de 
julgamento, associando-se aos princípios de forma, enquanto corolário dos princípios da 
oralidade e de imediação
18
 
A concentração espacial respeita ao desenrolar da audiência por inteiro no mesmo local, onde 
deverão comparecer todos os participantes processuais. A concentração temporal significa que a 
audiência, uma vez iniciada, decorre seguidamente. Todavia, não significa que não possa haver 
interrupções ou adiamentos. A audiência pode ser interrompida para alimentação e repouso dos 
participantes processuais ou por outros motivos, designadamente por necessidade de produção de 
prova superveniente, incapacidade acidental dos sujeitos processuais ou decisão de questões 
prévias ou prejudiciais – 414, 514, 421, 422. 
3.3. PRINCÍPIOS RELATIVOS A PROVA 
 
17 $ 3 do art. 3 do CPP 
18Arts. 76. $ 1; 337, 334, 403 e 414 do CPP 
 
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3.3.1. Princípio da livre apreciação da prova 
Com a produção da prova em julgamento tem-se em vista oferecer ao tribunal as condições 
necessárias para que forme a sua convicção sobre a existência ou não dos factos ou situações 
relevantes para a sua decisão – a sentença. 
Segundo este princípio, a valoração das provas pelo juiz não esta sujeito a critérios legais, as 
regras pré-determinadas que indicam o valor de certo meio de prova. Esta valoração é feita 
segundo a livre convicção do juiz, convicção essa que não pode ser puramente subjectiva, 
emocional, imotivável, portanto, arbitraria. A apreciação da prova deve ser racional e apoiar-se 
nos elementos de prova produzidos. O juiz não pode servir-se, para fundamentar a sua decisão, 
de factos conhecidos fora do processo. “Quond non est in actis non est in mundo.”. 
O princípio da livre apreciação da prova e da livre convicção do juiz vale, em geral, no nosso 
direito processual penal para todo o domínio da prova produzida. No entanto, considerados os 
singulares meios de prova admitidos, há que assinalar algumas questões que, por vezes, se 
traduzem em importantes limitações ou mesmo excepções a este princípio. 
a) No que respeita a prova testemunhal e por declarações (art. 214 e segts do CPP) o principio 
vale hoje sem quaisquer limitações, sendo este seu campo de eleição. Todavia, a lei da a 
entender, por diversos modos, não ter a prova por declarações a mesma dignidade probatória 
que as testemunhas, mas nada disso se reflecte em termos de critério de apreciação da prova. 
O juiz é livre de formar a sua convicção na base do depoimento de um declarante em 
desfavor de testemunho (s) contrário (s). 
b) No que toca ao depoimento do arguido (arts 244, 250 e segts e 425 e segts do CPP) há que 
distinguir duas situações, conforme este negue ou confesse os factos. Em caso de negação, 
recorre-se por inteiro ao princípio da livre apreciação e convicção. A confissão, contudo, esta 
sujeita, quanto ao seu valor, a um verdadeiro critério legal de apreciação. Com efeito, o art. 
174 do CPP dispõe que “a confissão desacompanhada de quaisquer outros elementos de 
prova não vale como corpo de delito”. E acrescenta, no seu & único: ―ainda que o arguido 
tenha confessado a infracção, o juiz devera proceder a todas as diligências para o apuramento 
da verdade, devendo investigar, com todos os elementos de que dispuser, se a confissão é ou 
não verdadeira‖. 
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c) Quanto a prova pericial, afirma-se no nosso direito a ideia da absoluta liberdade da sua 
apreciação pelo juiz, — arts. 179 e 180 do CPP; 
d) A apreciação de factos constantes de documentos autênticos ou autenticados traduz-se num 
verdadeiro critério legal (arts. 169 & 3, 468 & único todos do CPP). 
3.3.3. Principio in dúbio pró reo 
Vimos já que em processo penal cabe ao juiz o dever de, oficiosamente, instruir e esclarecer o 
facto sujeito a julgamento; não há, em processo penal, qualquer ónus verdadeiro de prova que 
recaia sobre o acusador ou o arguido. Em direito processual penal, não há, seguramente o 
chamado ónus de prova formal, segundo o qual as partes teriam o dever de produzir as provas 
necessárias como fundamentos das suas afirmações de facto sob pena de os mesmos factos não 
serem tidos como provados. 
Se, o tribunal em processo penal, através da sua actividade probatória não lograr obter a certeza 
dos factos, mas antes permanecer na dúvida, terá de se decidir em desfavor da acusação, 
absolvendo o arguido por falta de provas. Este e o conteúdo do princípio de, na dúvida, dever 
decidir-se a favor do réu. 
3.2. PRINCÍPIOS RELATIVOS A FORMA 
3.2.1. O princípio da publicidade 
O princípio da publicidade significa que as audiências dos tribunais são públicas, que o publico 
pode assistir a realização de actos processuais. 
Nos termos do artigo 407 do CPP e artigo 16 da LOTJ, as audiências dos tribunais são públicas. 
Significa isto que qualquer cidadão tem direito a assistir ao (e a ouvir) desenrolar da audiência de 
julgamento, mas também que são admissíveis os relatos públicos daquela audiência. As 
excepções estão previstas no art. 407 do CPP, e visam salvaguardar a dignidade das pessoas e a 
moral e para garantir o seu normal funcionamento. 
A publicitação ou não do processo através dos órgãos de comunicação social é questao que por 
vezes oferece dificuldades, por haver direitos ou bens conflituantes a tomar em consideração: a 
sociedade tem direito a ser informada do que se passa nos tribunais e, vista a questao por este 
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31 
lado, os órgãos de comunicação social devem ter as maiores possibilidades de actuação pois 
cabe-lhes o direito e a obrigação de informarem a comunidade. Deve no entanto ter-se presente 
que os interesses ligados a reserva da intimidade da vida privada do arguido há-de ser 
acautelados por merecem igualmente tutela constitucional. O necessário exercício da justiça não 
pode fazer-se a custa de ilegal intromissão na reserva da vida privada do arguido, atribuindo-lhe 
crimes ou fazendo contra si campanhas demagógicas que maculem a sua imagem. 
Publicidade sim, desde que dela não possa resultar perigo para a eficácia do acto judicial ou para 
a defesa do arguido nem para o jus punied do Estado. 
3.2.2. Princípio da oralidade e da imediação. 
O princípio da oralidade significa que os actos processuais devem ser praticados na presença dos 
participantes processuais, oralmente. Mas o facto de os actos serem praticados oralmente não 
significa que não possa ser registados, registo que, alias, é aconselhável para efeitos de controlo 
da prova, com vista a possibilidade de recurso em matéria de facto. 
Este principio, têm maior preponderância na fase da audiência, discussão e julgamento
19
. 
A importância deste princípio reside no facto de permitir o contacto indispensável vivo e 
imediato com o arguido, a recolha da impressão deixada pela sua personalidade. Só a 
oralidade permite, por um lado, avaliar o mais correctamente possível da credibilidade das 
declarações prestadas pelos participantes processuais. E só ela permite, por ultimo, uma plena 
audiência destes mesmos participantes, possibilitando-lhes da melhor forma que tomem posição 
perante o material de facto recolhido e comparticiparem na declaração do direito do caso. 
Oralidadenão significa exclusão da escrita no sentido de proibição de que os actos que tenham 
lugar oralmente fiquem registados em actas ou protocolos (que servem por exemplo, fins de 
controle de produção da prova, sobretudo em matéria de recurso). Significa, tão-somente, que a 
actividade processual é exercida na presença dos participantes do processo e, portanto, 
oralmente. 
 
19 Art.466 do CPP. 
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Quando se fala de oralidade como princípio geral do processo penal, tem-se em vista a 
forma oral de atingir a decisão; o processo será dominado pelo princípio da escrita quando 
o juiz profere a decisão na base de actos processuais que forem produzidos por escrito 
(exames, peritagens, etc.) e será, pelo contrário, dominado pelo princípio da oralidade 
quando a decisão é proferida com base em uma audiência de discussão oral da matéria a 
considerar. 
Porem, este princípio sofre algumas limitações quando a audiência de julgamento se realiza sem 
a presença do arguido
20
. Do mesmo modo a fase dos recursos decorre sob a forma escrita. 
O princípio da imediação significa que a decisão jurisdicional só pode ser proferida por quem 
tenha assistido a produção das provas e a discussão da causa pela acusação e pela defesa, que a 
decisão deve ter lugar o mais breve possível, no termo da audiência de discussão e julgamento, e 
que deve dar-se preferência aos meios de prova que estejam em relação mais directa com os 
factos probandos, os imediatos. 
A imediação é afinal ―a relação de proximidade entre o tribunal e os participantes no 
processo, de modo tal que aquele possa obter uma percepção própria da matéria que há-de 
servir de base a decisão. Por exemplo, a exibição de documentos (art. 426 do CPP) é uma 
manifestação do princípio da imediação. 
Através deste princípio é possível fazer a avaliação da credibilidade das declarações prestadas 
pelos participantes processuais, assim permitindo ao tribunal formar a sua convicção sobre a 
matéria de facto. 
************ 
4.OS SUJEITOS PROCESSUAIS 
Como dissemos atrás, o processo penal pode se definir como uma sequência de actos 
juridicamente pré-ordenados e praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas, com 
vista a lograr a decisão sobre se foi praticado algum crime e, em caso afirmativo, sobre as 
respectivas consequências jurídicas e a sua justa aplicação. 
 
20 Arts. 413; 547 e 562 e segts do CPP 
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Essas pessoas e entidades que, investidos nas mais diversas funções, desenvolvem actividades no 
processo recebem a designação genérica de participantes processuais. 
Mas nem todos os participantes processuais realizam uma função determinante, a ponto de 
imprimirem ao processo uma certa direcção ou uma fisionomia própria. Os funcionários 
judiciais, por exemplo, colaboram no processo e, no entanto, a sua actuação não é decisiva. O 
mesmo se passa com as testemunhas, os declarantes e os peritos, que intervêm como meios de 
prova, mas não tem poder de iniciativa nem de decisão relativamente as questões processuais. 
Aos participantes a quem, por forca da sua particular posição jurídica, são reconhecidos direitos 
e deveres processuais autónomos, no sentido de poderem condicionar a concreta tramitação do 
processo costuma chamar-se sujeitos processuais. 
Assim, são sujeitos processuais além do tribunal (ou por outras palavras, do juiz penal, o 
Ministério Publico, o arguido e o seu defensor o ofendido e o assistente. 
Iremos estudar detalhadamente cada um deles. Antes, porem, convirá fazer uma breve referência 
a estrutura fundamental do processo penal, com particular relevo para o que resulta da legislação 
em vigor. 
4.1. O conceito de “parte” e os modelos estruturais do processo penal. 
Discute-se muito se o processo penal é ou não um processo de partes (a semelhança do processo 
civil) considerando o significado adjectivo ou instrumental do conceito. 
Alguns autores – EDUARDO CORREIA, CAVALEIRO DE FERREIR, CASTANHEIRA 
NEVES, definem como partes os sujeitos processuais que discutem a causa e esperam do juiz 
uma apreciação do mérito dela. E nesta perspectiva que estes consideram o processo penal como 
um processo de partes, não em sentido puro, mas em sentido meramente formal, porquanto os 
sujeitos processuais que discutem a causa – o Ministério Publico e o acusado – apenas 
formalmente estão colocados em campos opostos. 
Na verdade, ao MP – já o dissemos – não cabe o dever de obter a condenação do arguido, mas tal 
como ao juiz um dever de objectividade
21
. Por outro lado, ao arguido cabe indiscutivelmente um 
 
21 Arts 12& 1 e 25 do DL 35007 e art. 647, nº 1 do CPP 
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direito de defesa, mas não, por certo, um dever de defesa (não se lhe exige que se oponha a 
acusação), pelo que bem pode acontecer não se verificar uma necessária contraposição de 
interesses entre o MP e a defesa. 
FIGUEIREDO DIAS, define o conceito de parte num sentido processual material como tal os 
titulares de interesses contrapostos que no processo se discutem e se encontram concretamente 
em jogo. Para estes não se pode relativamente ao processo penal, falar em processo de partes, 
nem mesmo em sentido formal, já que, precisamente por não existir uma necessária 
contraposição de interesses entre a acusação e a defesa; a distinção que se pretende assinalar 
(entre os sujeitos que pretendem fazer valer perante o juiz as suas posições) nada contribui para 
explicar a estrutura íntima do processo penal. 
Esta estrutura processual (resulta do modo de actuação dos sujeitos) explica-se, de acordo com 
esta corrente, através da referência aos modelos estruturais que historicamente se desenvolveram 
– sobretudo o de tipo inquisitório e o de tipo acusatório. 
O processo inquisitório (que, como foi referido, teve a sua consagração nas legislações 
europeias continentais dos séculos XVII e XVIII, embora surja em épocas mais recentes nos 
Estados de regime autoritário) é o exemplo padrão de um processo sem partes. Nele, a 
investigação da verdade, e de uma forma geral, o domínio do processo estão concentradas 
num único órgão – o juiz: a este compete simultaneamente inquirir, acusar e julgar, sem 
que intervenha qualquer outra autoridade oficial encarregada da acusação. O processo é, 
em regra, totalmente escrito e secreto, do que resulta a impossibilidade, para o arguido de 
exercer efectivamente o seu direito de defesa – não há contraditório, é o juiz que investiga, 
há presunção de culpabilidade e o tribunal funciona na dependência do poder político. 
Todos os meios incluindo a tortura são considerados legítimos para extorquir do réu a 
confissão, tida por rainha das provas. 
Como e fácil de imaginar, de um órgão no qual convergem as funções de instrução, acusação e 
julgamento, não pode esperar-se uma atitude de imparcialidade e de independência face ao poder 
político. 
O processo acusatório (que vigora, ainda hoje, nos países anglo-saxónico ou influenciados por 
estes) é, pelo contrário, o exemplo marcante de um processo penal de partes. O interesse 
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público da perseguição e punição das infracções penais e encabeçado no representante da 
acusação

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