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Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 1 www.medresumos.com.br SUS E BIOÉTICA O Sistema Único de Saúde (SUS) é a política de saúde pública brasileira que garante ao indivíduo um sistema igualitário de saúde e com acesso universal. Porém, vê- se que o que está escrito na legislação não condiz com a realidade. BREVE HISTÓRICO DO SUS Anteriormente à criação do SUS, a assistência médica estava a cargo do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), ficando restrita aos empregados que contribuíssem com a previdência social; os demais eram atendidos apenas em serviços filantrópicos (casas de filantropia). O acesso adequado à saúde era restrito a pessoas com condições aquisitivas adequadas. O sistema de saúde era, até então, fragmentado, de acesso restrito e sem participação da sociedade nas políticas públicas. Nesse contexto social, tínhamos um Estado autoritário, controlador e centralizador. Com a criação de um Estado democrático, descentralizado, com autonomia política e participação da população, a saúde passou por uma Reforma Sanitária: organização da sociedade na área da saúde em busca de um modelo com justiça social que todos os indivíduos tivessem acesso à saúde. O marco primordial para o nascimento do SUS foi a VIII Conferência Nacional de Saúde (1986), com a presença de gestores e da sociedade, servindo como marco histórico inicial para a criação do SUS. A Constituição de 1988 foi um marco na história da saúde brasileira, ao definir a saúde como “direito de todos e dever do Estado”. A VIII Conferência Nacional de Saúde foi aberta em 17 de março de 1986 por José Sarney, o primeiro presidente civil após a ditadura, e foi a primeira CNS a ser aberta à sociedade; além disso, foi importante na propagação do movimento da Reforma Sanitária. A 8ª CNS resultou na implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde (SUDS), um convênio entre o INAMPS e os governos estaduais, mas o mais importante foi ter formado as bases para a seção "Da Saúde" da Constituição brasileira de 5 de outubro de 1988. A Constituição de 1988 foi um marco na história da saúde pública brasileira, ao definir a saúde como "direito de todos e dever do Estado". A implantação do SUS foi realizada de forma gradual: primeiro veio o SUDS; depois, a incorporação do INAMPS ao Ministério da Saúde (Decreto nº 99.060, de 7 de março de 1990); e por fim a Lei Orgânica da Saúde (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990) fundou o SUS. Em poucos meses foi lançada a Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que imprimiu ao SUS uma de suas principais características: o controle social, ou seja, a participação dos usuários (população) na gestão do serviço. O INAMPS só foi extinto em 27 de julho de 1993 pela Lei nº 8.689. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988, por meio da Lei Federal 8080, para que toda a população brasileira tenha acesso ao atendimento público de saúde. Do Sistema Único de Saúde fazem parte os centros e postos de saúde, hospitais - incluindo os universitários, laboratórios, hemocentros (bancos de sangue), além de fundações e institutos de pesquisa. A constituição decretava, a partir de então, que todos tinham direito ao acesso em saúde e que era dever do Estado promovê-la. O SUS é, portanto, uma conquista da sociedade, constituindo um movimento social que avança apesar do contexto neoliberal e de globalização econômica em nível mundial. PRINCÍPIOS DO SUS O Sistema Único de Saúde teve seus princípios estabelecidos na Lei Orgânica de Saúde, em 1990, com base no artigo 198 da Constituição Federal de 1988. Os princípios da universalidade, integralidade e da equidade são às vezes chamados de princípios ideológicos ou doutrinários, e os princípios da descentralização, da regionalização e da hierarquização de princípios organizacionais, mas não está claro qual seria a classificação do princípio da participação popular. Universalidade: "A saúde é um direito de todos e um dever do Estado", como afirma a Constituição Federal. Naturalmente, entende-se que o Estado tem a obrigação de prover atenção à saúde, ou seja, é impossível tornar todos sadios por força de lei. Integralidade: A atenção à saúde inclui tanto os meios curativos quanto os preventivos; tanto os individuais quanto os coletivos. Em outras palavras, as necessidades de saúde das pessoas (ou de grupos) devem ser levadas em consideração mesmo que não sejam iguais às da maioria. A integralidade constitui, portanto, o conjunto da recuperação, proteção e promoção de saúde ao usuário, de forma integral, ou seja, uma interligada a outra. A integralidade, dentro do SUS, caminha com Atenção Básica (PSF), Média Complexidade e Alta Complexidade. Sendo esta atenção voltada ao homem como ser pleno no âmbito: físico, psíquico, social e espiritual. O atendimento deve conter uma objetividade, atendendo a um conceito resolutivo, integralidade, acolhimento, humanização e vínculo médico-paciente. Arlindo Ugulino Netto. BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2016 Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 2 www.medresumos.com.br Equidade: Todos devem ter igualdade de oportunidade em usar o sistema de saúde; como, no entanto, o Brasil contém disparidades sociais e regionais, as necessidades de saúde variam. Enquanto a Lei Orgânica fala em igualdade, tanto o meio acadêmico quanto o político consideram mais importante lutar pela equidade do SUS. OBS 1 : Equidade ≠ Igualdade. Igualdade significa tratar todos iguais. Equidade constitui a visão social de justiça e dos critérios predominantes sobre quais diferenças são justas e quais não são em uma dada cultura, buscando dar uma assistência especial para quem precisa no momento. Em outras palavras, o princípio da Equidade defende a divisão de mais recursos para os que mais precisam. Participação popular: O controle social, como também é chamado esse princípio, foi melhor regulado pela Lei nº 8.142. Os usuários participam da gestão do SUS através das Conferências de Saúde, que ocorrem a cada quatro anos em todos os níveis, e através dos Conselhos de Saúde, que são órgãos colegiados também em todos os níveis. Nos Conselhos de Saúde ocorre a chamada paridade: enquanto os usuários têm metade das vagas, o governo tem um quarto e os trabalhadores outro quarto. Descentralização político-administrativa: O SUS existe em três níveis, também chamados de esferas: nacional, estadual e municipal, cada uma com comando único e atribuições próprias. Os municípios têm assumido papel cada vez mais importante na prestação e no gerenciamento dos serviços de saúde; as transferências passaram a ser "fundo-a-fundo", ou seja, baseadas em sua população e no tipo de serviço oferecido, e não no número de atendimentos. Hierarquização e regionalização: Os serviços de saúde são divididos em níveis de complexidade; o nível primário deve ser oferecido diretamente à população, enquanto os outros devem ser utilizados apenas quando necessário. Quanto mais bem estruturado for o fluxo de referência e contrarreferência entre os serviços de saúde, melhor a eficiência e eficácia dos mesmos. Cada serviço de saúde tem uma área de abrangência, ou seja, é responsável pela saúde de uma parte da população. Os serviços de maior complexidade são menos numerosos e por isso mesmo sua área de abrangência é mais ampla, abrangência a área de vários serviços de menor complexidade. Resolubilidade: O SUS deve ser eficiente e eficaz, produzindo resultados com qualidades. Em outras palavras, deve ter capacidade de resolver a maioria de seus problemas. A Lei Orgânica da Saúde estabelece ainda os seguintes princípios: Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e sua utilizaçãopelo usuário; Utilização da epidemiologia para planejar prioridades, alocação de recursos e orientação programática; Integração, em nível executivo, das ações de saúde, meio-ambiente e saneamento básico; Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na prestação de serviços de assistência à saúde da população; Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. Na promoção de saúde do SUS deve haver uma relação necessária entre Ética, Saúde e Dignidade humana. A ética gera uma implicação na definição de saúde, seja no campo Político, Econômico ou Campo Social. A saúde, do ponto de vista bioético, é a exigência ética de se dar prioridade à pessoa humana e às exigências de sua dignidade, sem qualquer espécie de discriminação. ÉTICA SOCIAL NA SAÚDE A ética social na saúde refere-se ao modo como são organizados, qualificados e dispostos os serviços de saúde, para acesso e utilização pela população. Implica em: a articulação com os setores responsáveis pela saúde e pela vida, visando a sua promoção; a proteção específica de pessoas e segmentos sociais expostos a riscos identificáveis e evitáveis, à sua saúde e à sua vida; e o diagnóstico e a cura precoces de doenças que não foram evitadas pelas ações de promoção e proteção e, por fim, o diagnóstico e tratamento tardio por exclusão. Ética Social na Saúde é portanto um modo de organizar, qualificar e dispor os serviços de saúde. Ela consolida a construção subjetiva da ética individual de cada profissional e cada dirigente, bem como outros trabalhadores de saúde, que, por sua vez, integram a construção coletiva da ética social. Para isso, deve-se ter compromisso com os direitos de cidadania, consoante com os valores sociais da solidariedade e alteridade. ÉTICA E SUS “Ético é todo aquele que busca duas coisas: ser a pessoa que faz ações justas, solidárias e pacíficas e que se esforça para criar um ambiente social e político justo, solidário e pacífico. Isto significa que o homem ama a justiça quando se esforça para criar instituições justas. Por isso ninguém é justo por elogiar a justiça, mas por construí-la.” Arlindo Ugulino Netto ● MEDRESUMOS 2016 ● BIOÉTICA / ÉTICA MÉDICA 3 www.medresumos.com.br PACTO EM DEFESA DO SUS Criar e aproveitar oportunidades políticas para promover iniciativas de defesa dos princípios basilares do SUS. Resgatar a relação construída com os movimentos sociais, ampliando a discussão para fora dos limites institucionais do SUS. Buscar um orçamento e financiamento adequado para a saúde. CONTROLE SOCIAL, PARTICIPAÇÃO SOCIAL E PROMOÇÃO DE SAÚDE O ser humano, como cidadão, deve ter consciência de deveres e direitos, participar de forma ativa na sociedade, exercer controle no Estado e na sociedade e deve atuar em nível individual e coletivo. A promoção de saúde deve ser um processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como um objetivo de viver (Carta de Ottawa, 1986). Os campos de ação para promoção em saúde são: Elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis; Criação de ambientes favoráveis à saúde; Reforço da ação comunitária; Desenvolvimento de habilidades pessoais; Reorientação dos sistemas e serviços de saúde O papel do profissional de saúde é promover a saúde individual e a saúde coletiva, sempre buscando bases na ética. O SUS, atualmente, enfrenta problemas de cunho político-financeiro como a escassez de recursos para a saúde. Há, portanto, uma necessidade de alocá-los de forma “justa” para todos os cidadãos brasileiros. Deve ser feita então uma distribuição “justa”, que se traduziria no respeito aos três princípios morais e políticos norteadores do Sistema Único de Saúde - SUS, que preconizam a universalidade de acesso aos serviços de saúde e a integralidade e igualdade na assistência à saúde para todos. NOVAS RESPONSABILIDADES PROFISSIONAIS E ÉTICAS Os profissionais da saúde precisam assumir de forma mais direta os processos de gestão da saúde, junto com os gestores públicos e o controle social representado pelos Conselhos diversos, para a organização do sistema como um todo. A inestimável contribuição da bioética depende da sua incorporação prática ao cotidiano dos profissionais e usuários. A tarefa da bioética é de caráter protetor: Proteção da saúde das populações humanas em seus contextos naturais, sociais e culturais. Em resumo, a associação entre SUS e Ética objetiva a construção de políticas públicas de saúde comprometidas com os interesses dos socialmente excluídos e com políticas nacionais que garantam a eficácia social dos sistemas de saúde.
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