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Conceitos de Ética e Cidadania

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Disciplina: Ética e Cidadania I
prof. Mário Sérgio Batista
Ética e Cidadania: objeto e campo de estudo
Aula 1
Introdução
Ética e cidadania são dois conceitos fulcrais na sociedade humana. A ética e cidadania estão relacionados com as atitudes dos indivíduos e a forma como estes interagem uns com os outros na sociedade.
Vivemos em um mundo formatado com seu sistema de leis e normas de tal forma que o cumprimento dos deveres de cada cidadão é condição sine qua non para a manutenção da paz e da harmonia social. 
Queiramos ou não cada palavra, gesto ou atitude nossa tem implicações que acabam por revelar a nossa visão de mundo, ou seja, como escolhemos lidar com as questões que se apresentam diante de nós todos os dias.
Cidadania
Cidadania significa o conjunto de direitos e deveres pelo qual o cidadão está sujeito no seu relacionamento com a sociedade em que vive.
O termo cidadania vem do latim civitas que quer dizer “cidade”.
O conceito de cidadania tem se tornado mais amplo com o passar do tempo, porque está sempre em construção, já que cada vez mais a cidadania diz respeito a um conjunto de parâmetros sociais.
Cidadania, a formação de um cidadão
Há quem pense que basta nascer para ser um cidadão. Esta é uma meia verdade. Por um lado, tornou-se uma verdade universalmente aceita que todas as pessoas possuem certos direitos naturais inalienáveis. Podemos perguntar se estes direitos inalienáveis não dependem, para que de fato sejam inalienáveis, de que sejam reconhecidos pela autoridade vigente como tais em relação ao indivíduo em questão.
Em outras palavras, é possível que exista um indivíduo que vive em uma sociedade na qual não possui todos os direitos de um cidadão.
Numa sociedade escravagista, por exemplo, um escravo é um indivíduo que vive sem possuir seus direitos de cidadão. No tempo do Império Romano havia moradores livres no Império que não possuíam direitos fundamentais de cidadania. Esta reflexão nos remete a uma série de perguntas.
Cidadania, a formação de um cidadão
Podemos nos perguntar se há em nossa sociedade pessoas cujo os direitos de cidadania não são de fato reconhecidos, ou, o que dá no mesmo, são reconhecidos “de direito”, mas não “de fato”.
Outra pergunta que esta reflexão nos remete tem a haver, não com os direitos, mas com os deveres dos cidadãos.
Em suma, é questionável se o indivíduo que, tendo reconhecidos seus plenos direitos de cidadão, não assume em contrapartida seus deveres de cidadão.
A plena consciência da cidadania como parte da formação educacional de cada indivíduo é absolutamente necessária para a construção de um país democrático e bem sucedido.
Se há, portanto, um valor social universal que pode ser estabelecido a priori, dependendo apenas de um único compromisso ideológico, a saber, o compromisso com a democracia, é a cidadania.
Uma fábula
Pegou fogo na floresta. Todos os animais corriam desesperadamente de um lado para o outro em busca de um lugar seguro.
Quando, para surpresa de todos os bichos, de repente um pássaro, com voos rasantes, enchia o seu bico com a água que tirava da lagoa e a jogava no fogo que devastava a floresta.
Seus amigos lhe diziam: Você não vai conseguir apagar esse incêndio. Você está louco. Salve a tua vida.
O pássaro respondeu: “se cada um de nós fizer a sua parte o fogo não destruirá o lugar da nossa habitação”.
Da fábula para a realidade
Muitos podem pensar, por exemplo, que o pássaro representa um país que com suas políticas ambientais salvará o mundo, quanto a isso dizemos não. Um país não pode salvar o mundo.
Ainda insistindo na ideia de salvar o mundo, alguns podem pensar no pássaro não como um país, mas um Estado. Também dizemos não. Então, quem sabe um bairro? Não também. 
Outros talvez pensem no pássaro como sendo um sistema de leis criado em uma dessas conferências mundiais onde o debate seja: “como salvar o planeta terra”? Lamentamos, mas nenhuma lei tem poder transformativo, se assim fosse não teríamos infrações.
O que significa dizer que as leis informam, dão ciência às pessoas, mas não as transformam.
A educação como instrumento de transformação social
“Proibido jogar lixo no chão”, um exemplo.
Imaginem alguém pelas de ruas de São Paulo, tomando um sorvete. Calor de 30 graus, o sorvete derretendo entra em contato com as mãos dele. O sorvete acabou. Ele tem em suas mãos sujas e suadas o palito e a embalagem. O que ele faz? Procura um cesto para jogar o lixo, ou joga o lixo no chão?
Caso procure um cesto, demonstrará ter alcançado consciência enquanto cidadão, usuário desse mundo. Caso contrário, demonstrará ser alguém que tem os olhos voltados para o umbigo. Dizer que palito de sorvete e a sua embalagem quando jogados no chão da cidade contribuem para as inundações não significa nada para ele.
É preciso ensinar. Observem o quadro seguinte.
 
 
 
 21. Suécia
 22. Rep. Tcheca
 23. Áustria
 24. Itália
 25. França
 26. Noruega
 27. Portugal
 28. Espanha
 29. Israel
 30. Bulgária
 31. Grécia
 32. Romênia
 33. Chile
 34. Turquia
 35. Argentina
 36. Colômbia
 37. Tailândia
 38. México
 39. BRASIL
 40. Indonésia
 1. Finlândia
 2. Coreia do Sul
 3. Hong Kong
 4. Japão
 5. Cingapura
 6. Grã-Bretanha
 7. Holanda
 8. Nova Zelândia
 9. Suíça
10. Canadá
 11. Irlanda
 12. Dinamarca
 13. Austrália
 14. Polônia
 15. Alemanha
 16. Bélgica
 17. Estados Unidos
 18. Hungria
 19. Eslováquia
 20. Rússia
Ranking de qualidade da educação coloca Brasil em penúltimo lugar. Índice global mostra habilidades cognitivas e realizações educacionais.
A pesquisa foi feita pela Pearson Internacional, e o resultado publicado dia 27/11/2012. Três testes foram aplicados em alunos do 5º e 9º ano do ensino fundamental, matemática, leitura e ciência.
(cf. http://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/11/ranking-de-qualidade-da-educacao).
Não podemos esquecer que, por quase quatro décadas, a televisão brasileira exibiu programas humorísticos se reportando à escola, onde a maioria dos alunos é desinteressado. Ninguém levavam a sério nem o ensino, nem o professor. 
Quem não se lembra das Escolinhas do Golias e da do professor Raimundo.
E o Salário? 
A educação como instrumento de transformação social
Acreditamos ser a educação o instrumento para se alcançar as transformações sociais que todos queremos.
Freire (2010, p. 98) dizia: “ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no mundo”.
Volvemos nossos olhares mais uma vez à fábula. Podemos dizer que ela nos mostra que devemos tomar atitudes conscientes, sem medirmos esforços para, de alguma maneira, preservarmos o mundo em que vivemos.
A necessidade da mudança de mentalidade
Culturalmente estamos acostumados a acreditar que as mudanças sociais acontecem por leis, decretos e governos. Na verdade a responsabilidade por mudanças sociais em todos os níveis é do cidadão e ela é intransferível.
Urge a necessidade de termos uma consciência política que nos faça capaz de discutirmos os problemas sociais de modo maduro e sólido para alcançarmos o que desejamos para a nossa sociedade.
Conta-se que Bill Gates, fundador da Microsoft, certa, vez, abriu seu discurso para uma turma de formandos da Universidade de Harvard, dizendo: “se você quer salvar o mundo, comece arrumando o seu próprio quarto”.
Não raro, ouvimos pessoas tratando de temas profundos como: “política ambiental, ecologia e sustentabilidade”, porém são elas mesmas ou suas empresas que poluem o ar, rios, mares e tudo mais. Discursam a respeito de coisas que não praticam.
Da legitimidade das manifestações populares ao perigo das mesmas caírem no descrédito
Em 2013, especificamente, no primeiro semestre, o povo brasileiro foi às ruas, em várias capitais, para reivindicar melhorias no sistema de saúde, transporte, educação, moradia, causando grande impacto social e político. Na mesma época estava acontecendo aqui a Copa das Confederações.
Vejamos algumas imagens dessas
manifestações públicas que demonstraram o descontentamento da nação brasileira ávida por mudanças.
Da legitimidade das manifestações populares ao perigo das mesmas caírem no descrédito
Certamente, todas as manifestações públicas foram legitimas, e aqui estamos excluindo é claro alguns baderneiros que se infiltraram nas passeatas para saquearem lojas, depredarem bancos e patrimônio público, entrando em confronto com a polícia local.
A repercussão dessas manifestações impactou todo o país. Os políticos perceberam a força que vem das ruas, e povo se viu como agente de mudança política e social, passando a acreditar no poder de suas manifestações.
A imprensa nacional dedicou tempo maior em seus noticiários para as manifestações populares, parecendo também não acreditar no que estava acontecendo. 
Da legitimidade das manifestações populares ao perigo das mesmas caírem no descrédito
Era o Brasil nas ruas. O gigante despertou, diziam muitos comentarista políticos.
Todavia, entendemos que as manifestações correm perigo de caírem no descrédito político e popular quando os próprios manifestantes ao reivindicarem qualidade na educação, por exemplo, faltarem nas aulas, colarem nas provas, desrespeitarem os professores, falarem ao celular durante a aula, etc. O mesmo se aplica para as outras reivindicações.
Acreditamos que o exercício consciente da cidadania passa obrigatoriamente pela esteira da educação, mas a educação não apenas para um grupo de pessoas privilegiadas pela situação social e econômica que possuem; mas a todos indistintamente. Comenius dizia: “ensinar tudo a todos”. Esse deve ser o lema político.
A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo.
Referências Bibliográficas
BOBBIO, Norberto. Liberdade e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
De LIBERAL, Marcia Melo Costa (org). Um olhar sobre Ética e Cidadania. São Paulo: Mackenzie, 2002.
_______________. Ética: reflexões contemporâneas. Curitiba: Arauco, 2005.
CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 1994. 
CORTELLA, Mário Sérgio. Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e ética. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 
DROIT, Roger-Pol. Ética: uma primeira conversa. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2010.
NALILI, José Renato. Ética geral e profissional. 9 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

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