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30 Revista Hospital UniveRsitáRio pedRo eRnesto, UeRJ das por deficiência nutricional, idade, do- enças e tratamentos prévios não podem ser esquecidas ou desvalorizadas na aborda- gem médica1,2. Em 2004, o corpo de pesquisado- res e médicos da Sociedade Americana do Tórax se reuniu e publicou em 2005 as li- nhas gerais para as pneumonias adquiridas no hospital (PAH), associadas à ventilação mecânica (PAV) e relacionadas aos pa- cientes institucionalizados. Assim, como é regra comum nas sociedades mundiais seguirem os conceitos americanos, parti- cularmente nos ditames editoriais das re- vistas médicas internacionais, houve uma aceitação desses conceitos. A PAH é de- finida quando apresenta critérios de diag- nóstico após 48 horas de hospitalização, e a PAV, após 48-72 horas de ventilação artificial. A pneumonia de pacientes ins- titucionalizados (healthcare pneumonia) possui critérios mais diversificados, como: após duas hospitalizações no intervalo de 90 dias por qualquer motivo associada a tratamento domiciliar ou em instituições com cuidadores de saúde; nos que utilizam antibióticos, quimioterápicos e tratamento de feridas cutâneas há menos de 30 dias; ou em pacientes sob hemodiálise2. Três pontos de relevância devem ser discutidos quanto da definição de PAH. O primeiro versa sobre o que é conside- rado infecção nosocomial no Brasil, que é PNEuMONIA ADquIRIDA NO hOsPITAl - VIsãO CRíTICA ROgéRIO RufINO JOsé gusTAVO PuglIEsE KENNEDy KIRK ThIAgO P. bARThOlO ThIAgO T. MAfORT RESUMO As pneumonias adquiridas no hos- pital (PAH) são processos inflamatórios infecciosos que ocorrem em decorrência do ambiente hospitalar com elevada mor- bidade e mortalidade. Em geral, entre 0,4 a 1,1% dos pacientes internados desenvol- vem PAH, sendo esta a segunda causa de infecção em pacientes hospitalizados, mas a primeira causa infecciosa em unidades fechadas. Apesar da baixa incidência, há elevada mortalidade, de 20 a 50%, espe- cialmente quando associada a outras do- enças e a agentes microbianos multirresis- tentes. Neste artigo, os autores revisam os principais conceitos e discutem especiais dificuldades relacionadas à PAH. PALAVRAS-CHAVE: Pneumonia hospi- talar; Multirresistência. INTRODUÇÃO A utilização de termos como ‘no- socomial’, ‘adquirida no hospital’ ou ‘hos- pitalar’ são designações que possuem a sua utilidade na orientação à equipe de saúde da provável microbiota do doente, o que direciona a equipe médica em rotas de diagnóstico e tratamento. É evidente que outros dados de relevância, como a imuni- dade nata e inata, suprimidas ou deprimi- Ano 9, Julho a Dezembro de 2010 31 aquela ocorrida após 72 horas de hospita- lização ou associada a procedimentos ci- rúrgicos independente do período de tem- po de hospitalização. O segundo, quanto a “confusão” estabelecida pelo Consenso de PAH de uma subclassificação, preco- ce (menos de 4 dias) e tardia (mais de 4 dias). A primeira relaciona-se com o me- lhor prognóstico (microbiota mais seme- lhante da comunidade) e a segunda, com micro-organismos com perfil de resistên- cia maior. E o último ponto refere-se às pneumonias diagnosticadas logo após a intubação, ou seja, com menos de 48 horas da internação. Será realmente uma PAH ou pneumonia comunitária grave? Logo, o mais importante é uma forte orientação de conduta médica, que fundamente no racio- cínio clínico as suas propostas diagnósti- cas e terapêuticas. Nos EUA, a infecção do trato res- piratório inferior (traqueíte, traqueobron- quite, bronquite, pneumonia) é respon- sável por 13 a 18% de todas as infecções nosocomiais e é a principal causa de morte por infecção hospitalar. A maioria absoluta dos casos de PAH ocorre fora das Unida- des de Tratamento Intensivo (UTI), mas as taxas relativas de PAH são maiores nos pacientes na UTI, particularmente nos que estão em ventiladores mecânicos. Na UTI, os pacientes que estão com pneumonia, independente da ventilação mecânica, pos- suem uma taxa de mortalidade 2 a 10 vezes maior do que os que não têm pneumonia1,2. ETIOLOGIA As bactérias são as causas mais comuns de PAH. Como já foi exposto, esta pode ser subclassificada como precoce (<4dias) e tardio (>4dias) (Quad. 1). Em 30 a 50% dos pacientes com PAH bacteria- na, a etiologia é polimicrobiana, mas as ta- xas podem variar de acordo com o método diagnóstico empregado2. PATOGENIA A aspiração de bactérias da oro- faringe é a via mais comum de infecção na PAH. Outras formas menos frequentes são a hematogênica (infecções à distância, translocação bacteriana intestinal, coloni- zação de cateteres), inoculação direta (ne- bulização, aspiração) e por contiguidade (empiema, abscessos subfrênicos). Dados sugerem que 45% dos indivíduos saudá- veis broncoaspiram durante o sono e que este processo é mais frequente em pacien- tes com alteração do nível de consciência, como deglutição anormal e motilidade gas- trointestinal diminuída2,3. O desenvolvi- mento de PAH necessita da entrada de um grande número de micro-organismos nas vias aéreas inferiores ou um número me- nor de organismos com maior virulência capaz de sobrepujar as defesas pulmona- res do hospedeiro. As defesas pulmonares constituem um sistema complexo que in- clui fatores mecânicos, bioquímicos e ce- lulares. A interação dos micro-organismos e destas defesas determinará a existência de colonização, infecção local ou dissemi- nada3,4,5. No paciente em ventilação mecâ- nica, o trauma local e a inflamação ocasio- nados pelo tubo e a broncoaspiração das secreções da orofaringe para a traqueia abaixo do cuff do TOT facilitam a coloni- zação da árvore traqueobrônquica e poste- riores processos pneumônicos. Além disto, a própria permanência de tubos (orotraque- al ou traqueal) se correlaciona com maior chance de pneumonia. Isto é, incidência de 3% por dia nos primeiros 5 dias, 2% por dia nos próximos 10 dias e 1% após o 15º dia. Ou seja, o paciente intubado por 80 dias apresentará, pelo menos, uma pneu- monia4-6. 32 Revista Hospital UniveRsitáRio pedRo eRnesto, UeRJ PATÓGENOS INÍCIO DA PNEUMONIA FREQUÊNCIA (%) Streptococcus pneumoniae Precoce 10-20% Haemophilus influenzae Precoce 5-15% Bactérias anaeróbicas Precoce 10-30% Staphylococcus aureus Precoce / Tardio 20-30% Bacilos gram-negativos # Tardio 30-60% Legionella pneumophila Tardio 0-15% Vírus (influeza A e B, sincicial respiratório, CMV) Tardio < 1% Fungos (Aspergillus e Pneumocysti jirovecci) Tardio < 1% Mycobacterium tuberculosis Tardio < 1% # Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter sp., Pseudomonas aeruginosa, Enterobacter sp., Serratia marcenscens, Escherichia coli. Quadro 1. Etiologia das PAHs. DIAGNÓSTICO A avaliação inicial dos pacientes com suspeita de PAH envolve a confirma- ção de um processo inflamatório parenqui- matoso pulmonar vinculados a um micro- organismo. É necessário quadro clínico (tosse com ou sem expectoração, dispneia, febre, dor pleurítica, alteração do status mental, exame físico compatível com con- solidação pulmonar), achados radiográfi- cos (condensação ou infiltrado pulmonar) e alterações laboratoriais (leucocitose ou leucopenia com desvio para esquerda e proteínas de fase aguda elevadas)2,7. Em algumas situações, há dificuldade de con- seguir com clareza esta tríade, especial- mente nos pacientes gravemente enfermos e intubados. A febre, que é um parâmetro clíni- co importante para caracterização de pro- cessos inflamatórios infecciosos pulmo- nares, pode ser em decorrência de outras causas, como infecções vinculadas ao ca- teter venoso profundo e infecção urinária (cateter vesical de demora) ou de quadros intestinais pelo uso prévio de antibióticos (colite por Clostridiumdifficile, por exem- plo)2. Além disso, processos tromboembó- licos pulmonares e o uso de determinados medicamentos também podem elevar a temperatura. Outro elemento importantís- simo para o diagnóstico, como a radiologia de tórax, pode não ser de grande auxílio, pois há vários diagnósticos diferenciais que podem mimetizar infiltrados pulmo- nares pneumônicos, como atelectasia, embolia pulmonar, insuficiência cardíaca, pneumonite química (broncoaspiração) e derrame pleural(2,8). Doenças ou traumas Ano 9, Julho a Dezembro de 2010 33 distantes do pulmão também podem pro- vocar injúria pulmonar ou a síndrome de angústia respiratória aguda. A utilização de métodos tomográficos computadorizados auxilia, principalmente, na determinação de derrames pleurais livres ou septados, atelectasia, abscessos e infiltrados intersti- ciais. Há somente uma causa possível de pneumonia com radiografia de tórax sem infiltrado pulmonar acinar ou intersticial, quando relacionada à leucopenia grave. Por causa dessas dificuldades em estabelecer os diagnósticos na PAH e na ausência de um método padrão “áureo”, o Centro para Controle de Doenças e Pre- venção (CDC) em conjunto com a Rede Nacional de Segurança de Cuidados da Saúde Americana (NHSN) desenvolveram critérios para o diagnóstico de PAH (Quad. 2). Apesar desta tentativa de auxiliar os médicos no diagnóstico precoce de PAH, estudos em autópsia têm questionado a confiabilidade deste escore. Outro sistema de pontuação desenvolvido foi o Escore de Infecção Pulmonar Clínico (CPIS), no qual valores superiores a 6 definem o diag- nóstico de PAH (Quad. 3). Porém, apesar de muito sensível, falta especificidade, o que induz ao uso em demasia de antibióti- cos2,9,10;11. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS aspirado traqueal Não é um exame específico, pois a colonização bacteriana da árvore traqueo- brônquica é comum nos pacientes graves, especialmente em pacientes sob ventilação mecânica. Três técnicas foram desenvolvi- das para aumentar a especificidade, como a coloração com hidróxido de potássio (de- tecta fibras de elastina), cultura quantitati- va e anticorpo recobrindo as bactérias12. BronCosCopia O escovado brônquico com cateter protegido (PSB) e o lavado broncoalveo- lar (LBA) são aceitos como os métodos mais precisos para diagnosticar a PAH e PAV na ausência de um exame direto do tecido. Embora métodos broncoscópicos geralmente sejam seguros para a obten- ção de secreção das vias aéreas inferiores, até mesmo em pacientes com as formas mais graves de insuficiência respiratória, o custo do exame, aliado à necessidade de broncoscopistas treinados, acaba por li- mitar a sua aplicação. Além disso, alguns estudos falharam em comprovar que o em- prego desta ferramenta diagnóstica altere o prognóstico dos pacientes com VAP2,3,13. Por exemplo, em 132 pacientes com VAP submetidos à broncoscopia, não foi obser- vada redução significativa da mortalidade, mesmo quando este exame identificou o patógeno responsável (que aconteceu em, aproximadamente, 50 por cento dos pa- cientes)2,14. O emprego adequado dos an- tibióticos empíricos parece ser um fator mais importante para esta redução. Em outro estudo, 51 pacientes com suspeita de VAP foram submetidos a procedimen- tos diagnósticos invasivos (PSB e LBA) ou não invasivos (aspirado quantitativo traqueal). A taxa de mortalidade foi de 11 em 24 (46%) para os pacientes que re- ceberam métodos invasivos, contra 7 em 27 (26%) para aqueles que não receberam métodos invasivos (não houve significân- cia estatística)2,15. Não foi encontrada di- ferença na mortalidade entre estes grupos com VAP mesmo quando foram isolados patógenos de alto risco (Pseudomonas ae- ruginosa e Acinetobacter sp.). O resultado da broncoscopia teve como consequência frequentes alterações nos esquemas antibi- óticos dos pacientes, contudo, sem afetar a mortalidade. Por outro lado, um estudo francês descreveu 413 pacientes com sus- peita clínica de VAP, que foram distribu- ídos em dois grupos. No primeiro, todo 34 Revista Hospital UniveRsitáRio pedRo eRnesto, UeRJ Quadro 2. Critério para PAH pelo CDC. Radiologia Dois ou mais achados radiográficos (pacientes sem doença cardíaca ou respiratória prévia, basta 1 achado radiográfico): Novo ou progressivo e persistente infiltrado; Consolidação; Cavitação Sinais/Sintomas/Laboratório No mínimo, 1 achado: Febre > 38oC, com nenhuma outra causa conhecida; Leucopenia (< 4.000 mL) ou leucocitose (> 12.000 mL); Adultos acima de 70 anos, alteração do status mental sem outra causa conhecida Dados adicionais No mínimo, dois: Aparecimento de secreção purulenta pulmonar, alteração de suas características, aumento da quantidade e maior frequência de aspiração; Início de tosse, agudização da tosse, dispneia ou taquicardia; Ruídos pulmonares (estertores, roncos ou sibilos); Diminuição da troca gasosa (PaO2/FiO2 ≤ 240), aumento do suple- mento de oxigênio ou aumento da demanda ventilatória o tratamento foi baseado em estratégias clínicas e resultados de culturas não quan- titativas de aspirado traqueal. No segundo grupo, a abordagem diagnóstica foi inva- siva, baseada na interpretação de culturas quantitativas obtidas por PSB ou BAL. Os pacientes do grupo invasivo apresenta- ram mortalidade significativamente menor no décimo quarto dia (16% x 24%). Esta vantagem persistiu até o vigésimo oitavo dia e também foi associada a menor con- sumo de antibióticos2,16,17. Vários estudos demonstram dificuldades técnicas e valor limitado do exame broncoscópico quando o paciente está sob terapia antibiótica. Isto acabou estimulando o desenvolvimento de técnicas não broncoscópicas, que podem ser mais facilmente obtidas, agilizando seu emprego previamente à introdução destas drogas. Como as técnicas broncoscópicas, estes métodos empregam resultados quan- titativos para melhorar sua precisão2. métodos não BronCosCópiCos para Co- leta de seCreções Várias técnicas não broncoscó- picas, como cateteres protegidos, mini- lavado broncoalveolar (mini-LBA) e dis- positivos utilizados para obter escovados, podem ser empregadas para coleta de se- creção de vias aéreas inferiores, obtendo culturas quantitativas2,3. Todas foram ex- tensivamente analisadas como alternativa para diagnóstico dos casos suspeitos de Ano 9, Julho a Dezembro de 2010 35 PONTOS 0 1 2 Temperatura (oC) 36,1-38,4 38,5-39,0 > 39,0 Leucócitos (mm3) 4.000-11.000 <4.000 ou > 11.000 <4.000 ou >11.000 (com mais de 500 bastões) Secreção (0-4+ / dia) < 14 > 14 > 14 (com secreção purulenta) PaO2/FIO2 > 240 < 240, sem SARA* Radiografia Sem infiltrado Infiltrado difuso Infiltrado localizado Microbiologia Sem crescimento Crescimento bacteriano Crescimento bacte- riano que coincide com a coloração do Gram *síndrome da angústia respiratória aguda Quadro 3. Escore para o diagnóstico de PAH pelo CPIS. para direcionar a coleta de material. A co- leta de secreção por cateter brônquico pro- tegido (BBS) ou mini-LBA foi comparada com duas técnicas broncoscópicas (PSB e LBA), empregando-se como padrão o exa- me histológico de material obtido de bióp- sia pulmonar postmortem. Os valores limítrofes para a posi- tividade foram 1.000 ufc/ml para culturas obtidas pelo PSB e mini-LBA e 10.000 ufc/ ml para culturas obtidas com BBS e LBA. O BBS foi a técnica mais precisa (sensibi- lidade 83%; ROC de 0,94), seguida em or- dem decrescente pelo BAL (sensibilidade 58%; ROC 0,83), mini-LBA(sensibilida- de 67%; ROC 0,80) e PSB (sensibilidade 42%; ROC 0,73)2. O Quadro 4 traz os pon- tos de corte dos diferentes métodos utiliza- dos para o diagnóstico de PAH. VAP. Estes métodos de coleta requerem a introdução do dispositivo pelas vias aére- as superiores até que uma resistência seja encontrada. Então, é realizada aspiração ou mini-LBA. Um estudou estimou sen- sibilidade e especificidade das amostras bacterianas quantitativas obtidas por estas técnicas de 100% e 82%, respectivamente. Estes resultados são comparáveis aos pro- cedimentos broncoscópicos, pois a PSB apresentou, respectivamente, os seguintes valores: 65% e 94%. Em outro estudo, com mini-LBA nas vias aéreas inferiores, foi demonstrada sensibilidade de 70% e espe- cificidade de 69%, quando comparado ao exame histológico postmortem associado à análise bacteriológica de tecido pulmo- nar(2,18). Outro estudo também confir- mou os resultados favoráveis destes mé- todos não invasivos, quando comparados com técnicas que utilizam broncoscópios 36 Revista Hospital UniveRsitáRio pedRo eRnesto, UeRJ Exames Pontos de corte Hemocultura >10 ufc/mL Exame de escarro 106 ufc/mL Aspirado traqueal 105-6 ufc/mL Broncoscopia com lavado broncoalveolar 104 ufc/mL Broncoscopia com escova- do protegido 103 ufc/mL Biópsia pulmonar > 10 ufc/mL ESQUEMA TERAPÊUTICO A decisão médica de iniciar o an- tibiótico não deve ser postergada. Avaliar se o paciente preenche os critérios de diag- nóstico de pneumonia, utilizando ou não os critérios do CDC ou da CPIS, e começar o mais brevemente o uso de antibióticos tra- duz em resultados concretos de diminuição de morbidade e mortalidade19,20. A Comissão de Controle de Infec- ção Hospitalar (CCIH) deve, por disposi- tivos normativos, disponibilizar um painel de frequência de bactérias no hospital e o perfil de sensibilidade e resistência aos antibióticos. Este mapa bacteriológico di- minuirá os riscos de terapia antimicrobia- na inadequada ou ineficiente. Mas, de uma forma geral, na escolha do antibiótico, o médico deve avaliar se o paciente tem ris- co para bactérias multirresistentes como hospitalização há menos de 90 dias, pe- ríodo de hospitalização maior que 5 dias, assistência médica prévia tipo homecare, uso de antibióticos prévios, método dialíti- co há menos de 30 dias, uso de imunossu- pressores e doenças preexistentes2. Desta forma, podemos identificar quatro grupos no tratamento das PAHs: Primeiro grupo: paciente não tem nenhum destes potenciais indicadores de multir- resistência, tempo de internação curto (< 5 dias) e sem doença estrutural parenqui- matosa pulmonar (bronquiectasia, fibrose, etc); Segundo grupo: tempo de internação cur- to (< 5 dias) e com doença estrutural pa- renquimatosa pulmonar (bronquiectasia, fibrose, etc); Terceiro grupo: paciente não tem nenhum destes potenciais indicadores de multir- resistência, mas tem tempo de internação prolongado (> 4 dias); Quarto grupo: paciente com potenciais indicadores de multirresistência, indepen- dente do tempo de internação. No primeiro grupo, prevalecem as bactérias da comunidade. Assim, os betalactâmicos, fluorquinolonas (exceto a ciprofloxacina, que não tem adequado es- pectro para Streptococcos pneumoniae), cefalosporina de terceira geração e car- bapenêmicos não antipseudomonas (er- Quadro 4. Métodos para o diagnóstico das PAHs. Ano 9, Julho a Dezembro de 2010 37 tapenem) são boas escolhas. No segundo grupo, há um aumento na prevalência da Pseudomonas aeruginosa, devendo o mé- dico utilizar antibióticos antipseudomo- nas (betalactâmicos e inibidor de betalac- tamase, carbapenêmicos, cefalosporinas antipseudomonas, associados aos ami- noglicosídios ou fluorquinolonas antip- seudomonas). No terceiro grupo, além da cobertura para Pseudomonas, associa-se antibiótico para Staphylococos aureus (li- nesolida, vancomicina ou teicoplamina). A Legionella pneumophyla não é uma bactéria frequente no Brasil. Mas, quando o paciente é transplantado, DPOC ou usa cronicamente corticosteroides, deve-se adicionar um terceiro antibiótico, do grupo dos macrolídeos ou, se preferir, utilizar as fluorquinolonas antipseudomonas associa- das a um aminoglicosídeo, pelo seu espec- tro ampliado7,21-29. O tempo de uso de antibiótico nas PAH não é definido de forma rígida. Com os atuais exames procalcitonina e o PCR t que permitem aferir e acompanhar a res- posta inflamatória, há maior confiabilidade no acompanhamento laboratorial e o tem- po de uso têm progressivamente diminu- ído30,31. Em geral, ele não é superior a 14 dias, podendo em alguns trabalhos, ser me- nor que 5 a 8 dias. Caso os exames bioquí- micos indiquem a persistência do processo inflamatório e haja manutenção da síndro- me clínica, deve-se reavaliar a manutenção do esquema terapêutico e, caso necessário, novos exames: culturas (hemoculturas, urinocultura, cultura do aspirado traqueal, cultura e retirada de cateter intravenoso profundo), tomografia computadorizada de tórax e seios da face (empiema, absces- sos, necrose pulmonar, sinusite aguda) e ecocardiograma transtorácico/transesofá- gico (vegetações)2,3,32. (Quad. 5) CONCLUSÃO Os consensos, diretrizes e rotas diagnósticas e terapêuticas amplamente discutidas no mundo propiciaram visões sobre um tema relevante e que atinge, nos EUA, 4,5 pessoas em 100 internações. Evitar o aumento das pneumonias noso- comiais é um desafio constante às insti- tuições hospitalares. A capacidade de se reduzir a frequência depende da adequa- da integração dos setores de vigilância do perfil bacteriano da instituição (comissão de infecção hospitalar e setor de microbio- logia) com os médicos e enfermeiros que necessitam das informações de resistência bacteriana e da disponibilidade de medica- mentos adequados. Sem essa conexão, o retardo e a escolha imprópria dos antibi- óticos, a falta ou a insuficiente prevenção da propagação de agentes multirresistentes acentua o risco de morbidades. É evidente que as pneumonias nosocomiais sempre existirão, porém o controle rígido do uso de antibióticos e o melhor treinamento na identificação do diagnóstico precoce per- mitirá maiores possibilidades terapêuticas e chances reais de recuperação33. 38 Revista Hospital UniveRsitáRio pedRo eRnesto, UeRJ Patógenos resistentes aos antibióticos Terapia Recomendada Enterobactérias produtoras de betalactamase com espectro estendido Meropenem, imipenem, doripenem Enterobactérias produtoras de carbapenemase Colistina, tigeciclina Pseudomonas aeruginosa resis- tentes aos carbapenêmicos Colistina Opções: combinação com antibióticos não tradicionais (rifampicina, minociclina, doxiciclina ou azitromicina) Acinetobacter baumanni resis- tentes aos carbapenêmicos Colisitina, ampicilina+sulbactam, tigeciclina, Opções: nebulização com colistimetase ou aminoglicosídeo, combinação com antibióticos não tradicionais (rifampici- na, minociclina, doxiciclina ou azitromicina) Staphylococcos aureus produ- tor de meticilina Vancomicina, linesolida, daptomicina, tigeciclina. Opções: sulfametozaxol+trimetropina, clindamicina REFERÊNCIAS 1.Masterton RG, Galloway A, French G, Stre- et M, Armstrong J, Brown E, Cleverley J, Dilworth P, Fry C, Gascoigne AD, Knox A, Nathwani D, Spencer R, Wilcox M. Gui- delines for the management of hospital-ac quired pneumonia in the UK: report of the working party on hospital-acquired pneu monia of the British Society for Antimicro bial Chemotherapy. J Antimicrob Chemo ther 2008; 62(1):5-34. 2.Niederman MS, Craven DE, Bonten MJ, A- merican Thoracic Society and Infectious Diseases Society of America (ATS/IDSA):Guideline for the Management of Adults with Hospital-acquired, Ventilator-associa ted, and Healthcare-associated Pneumo nia. Am J Respir Crit Care Med 2005; 171 (4):388-416. 3.Kieninger A, Lipsett P. Hospital-acquired pneumonia: pathophysiology, diagnosis, and treatment. Surg Clin N Am 2009; 89(2):439- 61. 4.Amaral SM, Cortês AQ, Pires FR. Pneu- monia nosocomial: importância da microbio- ta oral. 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Effect of procalcitonin-guided treatment on antibiotic use and outcome in lower respiratory tract infections: cluster- randomised, single-blinded intervention trial. Lancet 2004; 363(9409):600-7. 32.Sader HS, Fritsche TR, Jones RN: Accu- racy of three automated systems (Micro- Scan WalkAway, VITEK, and VITEK 2) for susceptibility testing of Pseudomonas aeruginosa against five broad-spectrum beta-lactam agents. J Clin Microbiol. 2006; 44(3):1101-4. 33.Kollef MH. Prevention of hospital-associ- ated pneumonia and ventilator-associated pneumonia. Crit Care Med 2004; 32(6): 1396-405. ABSTRACT Acquired-hospital pneumonia is an infections process that occurs due to hospital environment with high morbidi- ty and mortality. It is estimated that 0,4 to 1,1% of hospitalized patients will have PAH which is the second cause of infection among these patients, and the leading cau- se of infections in the ICU setting. There is a high mortality, 20-50%, especially when associated with underlying diseases and multiresistant microorganisms. In this ar- ticle, the authors review the main concepts and discuss special difficulties in PAH. KEYWORDS: Nosocomialpneumonia; Multiresistant. TITULAÇÃO DOS AUTORES AgNAlDO JOsé lOPEs Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. AlEssANDRA AIREs DA COsTA Doutoranda do Curso de Pós-Graduação da FCM/ UERJ. ANAMElIA COsTA fARIA Médica do Serviço de Pneumologia do HUPE. Professora Substituta da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. ARNAlDO JOsé NORONhA Professor Auxiliar da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. CláuDIA hENRIquE DA COsTA Professora Adjunta da Disciplina de Pneumolo- gia e Tisiologia da FCM/UERJ. Mestre em Pneumologia pela UFF. Doutora em Pneumologia pela UFRJ e National Heart and Lung Institute DENIs MuNIz fERRAz Professor Assistente da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Responsável pelo Setor de Broncoscopia do HUPE. Chefe do Serviço de Pneumologia do Hospital de Ipanema – Ministério da Saúde. DOMENICO CAPONE Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Radiologista do HU Clementino Fraga Filho/UFRJ. Mestre em Medicina pela UFRJ. Doutor em Medicina pela UFRJ. fAbIANA R. fERRAz Professora Substituta da Disciplina de Otorrinola- ringologia da FCM/UERJ. Médica Otorrinolaringologista do Hospital Federal do Andaraí. hElIO RIbEIRO DE sIquEIRA Professor Visitante da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Doutor em Pneumologia pela UERJ. JOsé gusTAVO PuglIEsE Residente de Pneumologia e Tisiologia da FCM/ UERJ. Médico do CTI da Casa de Saúde São José. JOsé MANOEl JANsEN Professor Titular da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Membro da Academia Nacional de Medicina. KENNEDy KIRK Professor Assistente da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. PAulO ChAuVET Médico do Serviço de Pneumologia e Tisiologia do HUPE. RAfAEl bARCElOs CAPONE Acadêmico de Medicina da Universidade Gama Fi- lho. Interno do HU Gaffrée e Guinle/ UNIRIO. ROgéRIO RufINO Professor Adjunto da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Mestre em Pneumologia pela UFF. Doutor em Pneumologia pela UFRJ. Pós-doutor em Pneumologia pelo National Heart and Lung Institute. TEREsINhA yOshIKO MAEDA Professora Assistente da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. TEREzINhA DA CuNhA VARgAs Médica do Ambulatório de Tuberculose do HUPE/ UERJ. ThIAgO PRuDENTE bARThOlO Residente de Pneumologia e Tisiologia da FCM/ UERJ. ThIAgO ThOMAz MAfORT Residente de Pneumologia e Tisiologia da FCM/ UERJ. WAlTER COsTA Médico do Serviço de Pneumologia do HUPE. Professor Substituto da Disciplina de Pneumologia e Tisiologia da FCM/UERJ. Ano 9, Julho a Dezembro de 2010 9
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