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- Ã. AFECÇOES PSICOGENICAS, , PSICOSSOMATICAS E No grupo das doenças cutâneas causadas ou in- fluenciadas por fatores psíquicos, há que distinguir dois subgrupos básicos: dermatoses psicogênicas e psi- cossomáticas. Nas dermatoses psicogênicas, o quadro cutâneo é uma das manifestações, eventualmente a inicial ou a mais evidente, da sintomatologia. Nas der- matoses psicossomáticas, há interação entre manifes- tações cutâneas organogenéticas e fatores emocionais. Os fatores emocionais, indiscutivelmente, influen- ciam inúmeras dermatoses que, de outro lado, amam no estado mental. Neste sentido, o fator emocional pode agravar ou desencadear afecção cutânea ou esta pode ser fator desencadeante de quadro de neurose e até de reação anormal (psicógena). Exemplificando, fatores emocionais freqüentemente agravam a acne vulgar, porém, de outro lado, a desfiguração causada por cicatrizes ou lesões de acne pode produzir ou de- sencadear neurose ou reação anormal (psicógena). Em grande número de doenças cutâneas, há esta interação entre os sentimentos, conflitos e estados emocionais e os sintomas e sinais das dermatoses. Surge daí a ne- Ã. NEUROGENICAS cessidade do dermatologista procurar sempre avaliar o componente emocional do quadro da dermatose. PRURIDO O prurido é sintoma de inúmeras dermatoses. É causado pelo estímulo de fibras nervosas amielínicas subepidérmicas que, sucessivamente, atinge os plexos nervosos dérmicos, nervos sensitivos espinhais, siste- ma espinotalâmico, hipotálamo e córtex cerebral. Este estímulo atua, provavelmente, pela liberação de me- diadores como histamina, prostagla~dina, quininas, serotonina, proteases e substância P Há um prurido psicogênico originário diretamente da córtex cerebral. O prurido, nas dermatoses, sofre sempre a in- fluência de fatores emocionais. Há dermatoses não pruriginosas, porém, por influência emocional, os doentes referem prurido, enquanto em outras, que se acompanham de prurido, este é discreto, moderado ou intenso, consoante o estado emocional. Este fato é classicamente expresso na frase de Darier sobre o 960 DERMATOLOGIA prurido no líquen plano: "os doentes se coçam pouco, muito ou apaixonadamente". A coçadura alivia o prurido por diminuir o núme- ro de impulsos aferentes à medula e por deprimir a liberação de substâncias mediadoras. A coçadura pode ser um fator importante na gênese do quadro derma- tológico. É o que ocorre na neurodermite ou líquen simples em que o prurido incita à coçadura, que lesa a pele, o que aumenta o prurido, formando-se a in- teração que determina a liquenificação. Em pruridos intensos, com coçaduras traumatizantes, ocorrem es- coriações profundas que constituem o chamado pru- rido biopsiante. O prurido pode ser psicogênico, através da estimu- lação direta da área sensorial do prurido psicogênico na córtex cerebral, constituindo sintoma de doença mental. Para fazer a diagnose de prurido, é necessário ex- cluir todas as causas exógenas ou endógenas do pruri- do, referidas a seguir: • • Causas exógenas: Em primeiro lugar, a escabio- se e ectoparasitos. Na escabiose, principalmente em casos de diagnose tardia, após tratamento, o prurido pode permanecer por algum período, devendo-se evitar o tratamento excessivo, que pode causar dermatite irritativa. Na dúvida, fazer tratamento de prova. Outra causa freqüente é a asteatose, em que há secura e descamação, princi- palmente nos membros. Ocorre pelo uso excessi- vo de banhos quentes e sabões, especialmente em idosos, associada ao frio ou à diminuição da umi- dade do ar. Contactantes, particularmente roupas de tecidos sintéticos e lã, corantes de tecidos e outros podem ocasionar prurido. Causas endógenas: Doenças metabólicas e endó- crinas, como o diabetes, icterícia obstrutiva ou cirrose, hiper ou hipotireoidismo, gota, doença renal e uremia. Prurido é freqüente em doentes fazendo hemodiálise. Prurido ocorre na policite- mia vera, de acordo com a gravidade do quadro e principalmente durante ou após o banho. Pru- rido pode ser a primeira manifestação da mico- se fungóide, com grau de intensidade variável. É também encontrado na doença de Hodgkin, sendo pouco freqüente em outros linfomas. Causas comuns .de prurido são medicamentos ou drogas inaladas, ingeridas ou injetadas. A história é importante para a exclusão desses agentes. Pruri- do é observado em doenças infecciosas e parasitoses intestinais. Alguns doentes com AIDS têm prurido, eventualmente intenso. Prurido ocorre em nevas em evolução para melanoma. Prurido disseminado pode ocorrer na gravidez, po- dendo estar relacionado a um grau leve de icterícia colestática. Em conclusão, o prurido em geral é secundário a uma dermatose, doença sistêmica ou alteração fisioló- gica, porém, é influenciado por fatores emocionais no seu aparecimento, manutenção ou agravamento, sendo, assim, sintoma psicossomático e podendo ser sintoma de ansiedade, depressão ou obsessão compulsiva. Excepcionalmente, e excluídas todas as causas, o prurido pode ser psicogênico. Nestes casos, pode haver uma lesão cutânea mínima, responsável pelo desencade- amento do prurido. Aqui também, o mecanismo pruri- do-coçadura determina alterações na pele que agravam o prurido e mascaram o quadro (ver Capítulo 22). DERMATOSES PSICOGÊNICAS DERMATITE FACTÍCIA A dermatite factícia, artefata ou patomímica é cons- tituída por lesões cutâneas produzidas pelo doente e propositadamente negadas. É de origem psicogênica, por conflitos ou outros fatores mentais, visando obter simpatia, atenção, compensação, vantagem ou procuran- do preocupar, contrariar ou magoar familiares. Grande número de agentes é utilizado na produção de lesões, como soda cáustica e outros agentes químicos, lixas e numerosos instrumentas, como tesouras, facas e pinças. MANIFESTAÇÕES CLÍN l'CAS Lesões insólitas de configuração geométrica não natural, de aparecimento geralmente abrupta, locali- zam-se, em regra, nas partes mais accessíveis às mãos. O aspecto é múltiplo, variando desde eritema, vesí- culas e bolhas, até ulcerações, gangrenas ou necroses (Figuras 64.1 e 64.2). Às vezes, o doente procura simular uma dermatose ou impede a cura de ferimento ou dermatose anterior. DIAGNOSE A diagnose pode ser difícil e o doente pode, por meses ou anos, iludir e manter a simulação. Curativos oclusivos, solicitando ao doente não tocá-los, e efetu- ados de maneira que possa ser evidenciada qualquer manipulação podem possibilitar a diagnose. AFECÇÕES P SICOGÊNICAS, PS I COSSOMÁTICAS E N EUROGÊN I CAS Para a conclusão definitiva, pode ser necessária a internação hospitalar. Solicitar, se necessária, a colabo- ração de psiquiatra, para a conclusão diagnóstica. T RATAMENTO Esclarecida a diagnose, o tratamento é de âmbito psiquiátrico. F 1G. 64. 1. Dermatite factícia. úlcera necrótica de bordas extremamente regulares. Cicatrizes atróficas de lesões anteriores. F1G. 64.2. Dermatite factícia. Úlcera extensa na região mamária. SÍNDROME DE MÜNCHAUSEN Caracteriza-se pela miromania e peregrinação hos- pitalar. O doente inventa doenças, eventualmente produzindo lesões cutâneas e conseguindo sucessivas internações hospitalares e cirurgias. A conduta para a diagnose e terapia é a mesma da dermatite artefata, quando o quadro é cutâneo. SÍNDROME DE MEADOW Ocorre em crianças nos primeiros anos que são leva- das para consultas ou internações com quadros clínicos ou lesões produzidas pelos pais, geralmente, pela mãe. A suspeita diagnóstica, quando o quadro é cutâneo, é pelas lesões insólitas, como na dermatite artefata. ESCORIAÇÕES NEURÓTICAS São lesões compulsivas, autoproduzidas com as unhas que o doente justifica produzir pela sensação incontrolável de prurido,queimação ou necessidade de remover alguma coisa da pele, como pequenas pápulas foliculares, queratoses ou outros elementos. Ocorrem em neuroses ou depressões. M ANIFEST AÇÕES CLÍNICAS As escoriações localizam-se em áreas atingidas pe- las unhas, sendo geralmente mais numerosas nos ante- braços, braços e região dorsal superior (Figura 64.3). Nas áreas de acesso mais difícil, as lesões sã.o menos numerosas ou ausentes. As lesões variam desde esco- riações até lesões úlcero-crostosas, com crostas hemor- rágicas ou purulentas. A evolução das crostas leva à formação de cicatrizes, de maneira que há lesões úlce- ro-crostosas-cicatriciais em vários estádios evolutivos, com grau variável de desfiguração. O doente refere a produção das lesões, mas não resiste ao impulso do trauma que o alivia da tensão (Figura 64.4). DIAGNOSE A diagnose se faz pelo quadro clínico, excluindo- se, sempre, uma afecção cutânea primitiva. TRATAMENTO A droga eletiva para o traramemo das escoriações neuróticas é o antidepressivo tricíclico doxepin, que 961 962 DERMATOLOGIA é tranqüilizante, sedante e anti-histamínico. Deve ser administrado na dose inicial de 10-25 mg/dia. Esta dose pode ser progressivamente aumentada, podendo atingir até 100-300 mg/dia. Por causa do efeito seda- tivo e lenta eliminação do doxepin, é p referível uma única administração ao deitar. Os efeitos colaterais do doxepin, além ~a sedação, são anticolinérgicos, como boca seca, constipação, agravamento de glaucoma, dificuldade de micção e outros. Em idosos ou com doenças cardíacas, é necessário controle com eletro- cardiograma. Nas escoriações neuróticas em doentes estressados ou com ansiedade, pode ser experimentado o uso de benzodiazepínicos. Quando o tempo de uso for mui- to longo, pode-se substituir o benzodiazepínico pela buspirona. F1G. 64.3. Escoriações neuróticas. Lesões escoriadas e hiperpigmentadas provocadas pelas unhas. FIG. 64.4. Escoriações neuróticas por traumas repetidos. DERMATOFOBIAS A dermatofobia é um estado fóbico obsessivo em que o doente pensa, imagina ou acredita que é porta- dor de uma infestação ou infecção, que ocorre invo- luntariamente, persistente e perturbadora, a despeito de esforços e esclarecimentos para ignorar ou supri- mir. As principais dermatofobias são: ACAROFOBIA OU DELÍRIO DE PARASITOSE É um estado fóbico obsessivo em que o doente acredita ser portador de parasitas na pele. Há, geral- mente, queixa de prurido ou picadas e o doente, em estado alucinatório, retira fragmentos de pele, iden- tificando-os como parasitas, inclusive levando-os ao médico para comprovação. OUTR AS DERMATOFOBIAS Venereofobia, leprofobia, cancerofobia, hidrosefo- bia e aidsfobia são fobo-obsessões em que o doente acredita ser portador de doença sexualmente transmiti- da, lepra, câncer, suores fétidos ou infecção por HIV O estado mental do doente com uma dermatofo- bia pode ter uma grande variação. H á casos em que o simples esclarecimento é suficiente para o tratamento da obsessão, outros, em que há quadros obsessivos com depressão e os mais graves, em que ocorrem psicoses alucinatórias, que necessitam atenção psiquiátrica. TRATA M ENTO Nos casos graves de dermatofobia, quando o doente recusa esclarecimentos e está com psicose alucinatória, a droga eletiva é a pimozida, neuroléptico que, além de bloqueador da dopamina, é antagonista de opiáceos e hipnóticos. Deve ser iniciado na dose oral de 1 mg/ dia, que pode ser aumentada de 1 mg a cada 5-7 dias, até atingir 4-6 mg/ dia. O efeito colateral mais comum da pimozida é sobre o sistema exrrapiramidal com rigi- dez e tremores (parkinsonismo). Melhorado o doente, a dosagem pode ser progressivamente diminuída. Em cardíacos e idosos e em tratamentos prolongados, é necessário controle eletrocardiográfico. Observe que o doente nem sempre aceita a medicação e também recusa consulta psiquiátrica. Examinar com atenção, prescrever cremes e procurar que ele faça o tratamento é ciência e arte no manejamenro desses doentes. AFECÇÕES PSICOGÊNICAS, PSICOSSOMÁTICAS E NEUROGÊNICAS DERMATOCOMPULSÕES A dermatocompulsão é um persistente e irresistível impulso para realizar um ato repetitivo e estereoti- pado, irracional ou aparentemente inútil. O ato ob- sessivo-compulsivo, se suficientemente intenso, pode constituir um estado de ansiedade ou depressão. LAVAGEM EXCESSIVA O ato compulsivo mais freqüente é lavar as mãos constantemente, por dezenas de vezes por dia, por re- ceio de contaminação ou desejo incontrolável de lim- peza. Pode ocorrer uma dermatite de contato por sensi- bilização ou irritação primária. Outro ato, que se pode tomar obsessivo é o uso excessivo de banhos, causando asceatose e dermatite eczematosa (Figura 64.5). ÜNICOFAGIA É a mordedura das unhas e, eventualmente, das cutículas. Pode ser somente de parte da lâmina un- gueal, mas, nas formas severas, a unha é destruída até a raiz, surgindo, eventualmente, infecção secundária. F1G. 64.s. Dermatocompulsão. Dermatite de contato por irritação primária por lavagem excessiva das mãos. CUT!SFAGIA Lesão liquenificada e infiltrada, produzida, ge- ralmente, na pele das falanges dos dedos das mãos, pela mordedura continuada e que não deve ser confundida com o coxim artro-falangiano. Outro aspecto da cutisfagia é área de hipertricose e hi- perpigmentação, ocorrendo em indivíduos normais ou retardados e causada pela mordida ou belisco incontroláveis. QUEILOFAG!A A mordedura ou esfoliação dos lábios, determi- nando fissuras, hemorragias e infecções secundárias. TRICOTILOMANIA É o impulso continuado de arrancar os próprios cabelos. Nas áreas de alopecia, existem cabelos nor- mais de diferentes comprimentos, raramente existindo alopecia total. São áreas irregulares de margens mal definidas. São persistentes ou aparecem em intervalos, conforme o impulso, e tendem a se reproduzir nos mesmo locais (Figura 64.6). Não há sinais inflamatórios e, fora da área, o couro cabeludo apresenta aspecto normal. É en- contrada, na maioria das vezes, em adultos jovens e crianças. Quando se examinam os cabelos nas áreas atingidas, verifica-se que são anágenos, diferentes dos cabelos peládicos. Em dúvida, pode-se fazer um tricograma. A diagnose diferencial mais importante é com alopecia areata. Nesta afecção, as placas são habi- tualmente circulares ou ovais, de limites nítidos, aparecimento súbito e ausência total de cabelos no interior da placa. Na borda, há cabelos facilmente destacáveis, com a raiz afilada e descorada (cabelos peládicos). Outra diagnose, em crianças, é com a ti- nha tonsurante, em que se nota descamação e cotos de cabelos parasitados. ACNE ESCORIADA Ocorre, geralmente, em mulheres, na segunda ou terceira década de vida. São escoriações produzidas na face pela existência de folículos sebáceos dilatados (poros sebáceos) ou telangiectasias ou por forma dis- creta de acne. Há um impulso compulsivo em esco- riar estas lesões (Figura 64. 7). 963 964 DERMATOLOGIA TRATAMENTO As drogas mais indicadas nas dermatocompulsões com depressão são os antidepressivos tricíclicos (ADT). A mais usada é a clomipramina, administrada na dose inicial de 25 mg ao deitar, aumentada gradualmente até 75-100 mg; Em idosos, começar com metade da dose e, em crianças, de acordo com a idade. Pode ser empregada a fluxetina na dose de 20-40 mg/ dia. Conforme o grau de dermatocompulsão, uma ava- liação psiquiátrica e psicoterapia podem ser necessárias. FtG. 64.6. Tricotilomania. Área alopécica irregular com cabelos de diferentes comprimentos. FJG. 64.7 . Acne escoriada. Lesões hiperpigmentadas conseqüentes a escoriações na face. DERMATOSES PSICOSSOMÁTICAS Em toda a dermatose há influênciade fatores emo- cionais, porém, em algumas, os fatores emocionais atuam sempre no desencadeamento e evolução da der- matose. Estas dermatoses com componentes psíquico e cutâneo constituem, em sentido restrito, as derma- toses psicossomáticas. Há outro grupo de dermatoses em que a influência de fatores emocionais é freqüente, mas não constante, dermatoses eventualmenre psicos- somáticas e, finalmente, há um terceiro grupo de doen- ças em que a influência emocional é evenmal. DERMATOSES COM COMPONENTES CUTÂNEO E EMOCIONAL Neste grupo, podem-se considerar as seguintes afecções: a. Líquen simples ou neurodermite localizada: Trata- se de quadro em que, após causa desencadeante, o estado emocional leva à coçadura que deter- mina liquenificação cutânea, que agrava o pru- rido. Nesta interação, há contínuo agravamento do quadro. b. Acne necrótica: Foliculite com lesões pápulo-ne- cróticas na face e couro cabeludo, que se acom- panha de prurido. Não tem nenhuma relação com a acne. c. Prurido anogenital: Quadro relativamente fre- qüente, localizado unicamente no escrot0, vul- va ou região anal, ou .em todas essas regiões. Inicialmente, pode ser devido a uma noxa local ou ser desencadeado por fatores emocionais des- de o começo. O prurido induz a coçadura que alivia o prurido, mas determina lesão cutânea que aumenta o prurido, com o gradual agra- vamento. Esta interação causa a liquenificação com o prurido contínuo e necessidade de co- çar desencadeados por fatores emocionais de intensidades variáveis. A síndrome chamada do escrotO vermelho é um quadro ocasionalmente encontrado em que ocorre um eritema com des- camação mínima e prurido na região escrotal, sem qualquer agente local. d. Prurido do couro cabeludo: Encontrado em idosos. Ao exame, discreta escamação e asteatose. Pru- rido é, em geral, pouco intenso, podendo estar associado com dermatite seborréica. AFECÇÕES PSICOGÊNICAS, PSICOSSOMÁTICAS E NEUROGÊNICAS e. Prurido da orelha externa: Há discreto eritema, eventualmente, descamação. Pode estar associado com dermatite seborréica. f. Pruridos generalizados: Em pruridos generaliza- dos, podem existir componentes emocionais. DERMATOSES COM INFLUÊNCIA DE FATORES EMOCJONA!S Neste grupo, encontramos uma série de afecções como o eczema atópico, rosácea, acne vulgar, líquen plano, hiper-hidrose, glossodínia, disidrose, urticária crônica, dermatite seborréica e o rubor facial, em que fatores emocionais intervêm freqüentemente no desencadeamento ou agravamento do quadro. Neste grupo, devem-se incluir as verrugas. Causadas pelo HPV, são transmissíveis e auto-inoculáveis. Verrugas sofrem, eventualmente, a influência de fatores emo- cionais. A cura de verrugas por estímulos psicológicos, como diversos tipos de sugestão (promessas, simpatias e outros) ocorre eventualmente. DERMATOSES COM EVENTUAL I NFLUÊNCIA DE FATORES EMOCIONAIS Há uma série de dermatoses, que se classificam li- gadas a fatores emocionais, mas, entretanto, podem ser apenas coincidentes. Neste grupo estão a psoríase, alopecia areata, vitiligo, afrose e herpes simples. São afecções que, pela evolução crônica ou por surtos, podem apresentar, no seu decurso, um agravamento, melhora, ou recidiva, coincidindo, eventualmente, com reações emocionais. INFLUÊNCIA DE DERMATOSES EM ESTADOS PSÍQUICOS Trata-se da possibilidade de desencadeamento de perturbação emocional por afecções dermatológicas que desfiguram ou dificultam a vida social, como hiper-hidroses e bromidroses, alopecia areata, acne vulgar grave, hirsutismo, psoríase, rosácea, hansenía- se, cicatrizes inestéticas, vitiligo e outras, que podem, assim, participar da gênese de quadros de ansiedade, depressão e fobia social pelo estigma das dermatoses. AFECÇÕES CUTÂNEAS E PERSONALIDADE O relacionamento entre vários tipos de personali- dade e alguns quadros dermatológicos tem merecido mumeros trabalhos e extensas discussões. Neste par- ticular, as opiniões são contraditórias, nada existindo de preciso nesta interação de doença cutânea e tipo de personalidade. TRATAMENTO DOS ESTADOS EMOCIONAIS NAS DERMATOSES É imprescindível ao dermatologista reconhecer o estado emocional dos doentes com dermatoses. Os quadros principais são a ansiedade, depressão e sinto- mas obsessivo-compulsivos, que podem ser discretos, não caracterizando doença, mas influenciando a evo- lução da dermatose. A ansiedade é o sintoma mais comum, para cujo tratamento empregam-se benzodiazepínicos, buspiro- na e anti-histamínicos. • Benzodiazepínicos: São os ansiolíticos mais em- pregados, do tipo sedativo-hipnótico, a sedação precede a hipnose. São Üteis em doentes com an- siedade, mas não deprimidos. Na administração, deve-se reduzir gradualmente a dose, evitando-se o uso por período superior a 6 meses. Usar preferen- cialmente doses baixas, especialmente em idosos. • Buspirona: Ansiolítico, que pode substituir o benzodiazepínico, por intolerância ou quando a administração se prolonga além de 6 meses. • Anti-histamínicos: Hidroxizina e cetirizina, dro- gas eletivas no tratam ento da urticária física, têm uma ação tranqüilizante e hipnótica e são indi- cadas em dermatites eczematosas e outras afecções acompanhadas de ansiedade. A ação pode decor- rer da interferência com a serotonina, acetilcolina e histamina, bem como supressão de atividades de áreas subcorticais do sistema nervoso cen- tral. A hidroxizina é administrada na dosagem máxima de 100 mg/dia, 25 mg cada 6 horas. É conveniente iniciar com doses menores, de 10- 20 mg, para avaliar a tolerância, particularmente em idosos. A primeira dose deve ser administrada ao deitar pela ação sedativo-hipnótica da droga. A cetirizina é usada na dose de 1 O mg/ dia, ao deitar. Em idosos, iniciar com 5 mg/dia. Outros anti-hisramínicos com atividade ansiolítica são a mequitazina e a prometazina. A depressão é freqüente na vida atual e estima- se que a probabilidade de surgir depressão durante a vida é de 8-12% entre os homens e de 20-26% entre as mulheres. A depressão deve ser reconhecida para o 965 966 DERMATOLOGIA manejamento adequado do doente. O sintoma der- matológico mais comum da depressão é a escoriação. Os sinais e sintomas que ocorrem em crises de depres- são leve, moderada ou grave são os seguintes: tristeza e sensação de vazio persistente, insônia, fadiga, dimi- nuição de energia, atividade reduzida, inquietação, irritabilidade, pessimismo, desesperança, sentimento de culpa ou desa.."Ilparo, dificuldade de se lembrar, concentrar ou tomar decisões, auto-estima e auto- confiança reduzidas, perda de interesse ou prazer nas atividades habituais, inclusive sexuais, alterações de apetite e peso, dores ou outros sintomas persistentes e sem causa física, e, finalmente, pensamento de morte ou suicídio. Estes sintomas, quando suficientemente intensos e com duração maior que duas semanas, de- vem ser considerados como crise depressiva. Muitas vezes, o doente não refere estes sintomas que devem ser investigados durante a consulta. A depressão pode ser até monossintomática, como, por exemplo, uma dor crônica, sem causa física. Os quadros obsessivo-compulsivos cutâneos são o prurido sine-matéria e as dermatocompulsões. O temperamento obsessivo-compulsivo deve ser inves- tigado para avaliar seu papel na dermatose. Os atos mais comuns que revelam temperamento obsessivo- compulsivo são preocupação excessiva com limpeza, arrumação, fechar portas e janelas, receio exagerado de contaminação ou doença, medo exagerado de agressões ou assaltos e repetição de palavras ou sons. Quando intensas e persistentes, revelam ansiedade ou depressão. É necessário reconhecer e tratar as depres- sões leves ou moderadas associadas ou desencadeadas por afecçõesdermatológicas. Os primeiros medicamentos antidepressivos intro- duzidos em terapia foram os inibidores irreversíveis da monoaminooxidase (IMAO) que aumentam dis- ponibilidade da noradrenalina e outras monoaminas inibindo a quebra da noradrenalina. Atualmente, têm aplicação clínica limitada pela interação com tira- mina, existente em alguns alimentos e drogas, e por causar hipertermia e crises hipertensivas com risco de vida. Foram substituídos por inibidores reversíveis da monoaminooxidase, como a meclobemida. Os antidepressivos tricíclicos (ADT), como a ami- triptilina, nortriptilina, imipramina, clomipramina, maprotilina e amineptina, atuam inibindo a liberação e recaptação da noradrenalina (NA) e serotonina (5- HT). A droga mais usada é a clomipramina na dose inicial de 25 mg ao deitar, que pode ser aumentada gradualmente até 75-100 mg/dia. Inibem, também, receptores de outros neurotransmissores produzindo alguns efeitos colaterais. Os mais comuns são anrico- linérgicos (boca seca, visão embaçada, constipação e retenção urinária), sedação, aumento de peso e alte- rações cardiovasculares. O doxepin é um antidepres- sivo tricíclico com ação anti-histamínica muito usado em dermatologia, como no tratamento da urticária ao frio, urticária crônica e dermografismo. É efetivo mesmo não estando o paciente deprimido. A dose é de 1 O mg, até três vezes ao dia. Pode ser útil na neu- ralgia pós-herpética. Topicamente, em creme a 5%, melhora o prurido na dermatite atópica. No tratamento da depressão, os medicamentos mais usados, atualmente, são os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), como a fluoxetina e a paroxetina, que têm menos efeitos colaterais. Ini- bindo a recaptação da 5-HT, aumentam os níveis do neurotransmissor e produzem o efeito antidepressivo. A dose é de 20 mg/dia, podendo ser aumentada até 4 vezes por dia. Quando necessário, encaminhar o doente para consulta psiquiátrica ou para tratamento psicoterápico. No prurido anogenital, excluir causas locais que podem estar associadas, como dermatite seborréica, psoríase, candidose. Cremes protetores ou de corticói- des usados por períodos são úteis. Um anti-histamíni- co sedativo como a hidroxizina de noite e não sedativo durante o dia. Eventualmente, corticóides. Importan- te é interromper o círculo vicioso da coçadura com o contínuo agravamento, enfatizando a necessidade de não coçar. Em casos de liquenificação, infiltração de triamcinolona, 4 mg/ ml, cada 3-4 semanas é indicada. No prurido do couro cabeludo e da orelha externa cre- me de corticóide e se necessário anti-histamínico. AFECÇÕES NEUROGÊNICAS ÚLCE RAS T RÓFICAS São ulcerações crônicas, não dolorosas, não infla- matórias, que ocorrem em áreas de trauma ou pressão, particularmente nas plantas. A forma mais freqüente é o mal perfurante da região plantar, determinado por injúria dos nervos e encontrado na lepra, siringome- lia, diabetes, arteriosclerose e sífilis ( tabes dorsalis). A lesão é anestésica e, inicialmente, forma-se, na área de pressão ou trauma, uma calosidade que, pos- teriormente, se ulcera. O tratamento consiste no uso de pomadas antiin- fecciosas, administração de antibióticos e proteção lo- cal, inclusive o uso de palmilhas especiais. AFECÇÕES P SICOGÊ N ICAS, P S I COSSOMÁTICAS E NEUROGÊN ICAS ÚLCERA T RÓFICA DO TRIGÊMEO É uma ulceração anestésica na área do trigêmeo, geralmente na asa nasal, por lesão do gânglio trigemi- nal por infecção ou trauma ALTERAÇÕES CUTÂNEAS POR LESÕES DE NERVOS PERIFÉRICOS Podem surgir vários sinais como bolhas, atrofias e distrofias ungueais. Foi descrita onicodistrofia por costela cervical anômala. SÍNDROM E DE H ORNER É um quadro caracterizado por anidrose e eritema na face, com prose e miose, por paralisia unilateral de fibras simpáticas da face. N EU RALG IA PÓS-H ERPÉTI CA Ocorre após o herpes zoster, principalmente por falha terapêutica. Pode ser intensa e contínua. Topi- camente, pode-se usar o creme de capsaicina a 0,025- 0,075% e, por via sistêmica, a carbamazepina, clomi- pramina ou pimozida são usadas. Atualmente, a gabapentina, um anticonvulsi- vante é o medicamento mais efetivo, na dose ini- cial de 300-400 mg, que eventualmente pode ser aumentada. CAUSALGIA Dor em área cutânea por lesão de nervo periférico ou por cicatriz em redor. O tratamento é idêntico ao da neuralgia pós-herpética. H 1 PERTRICOSE E SPI NA-8 ÍF I DA Pêlos mais longos e grossos na região sacral podem indicar a spina-bífida, que deve ser investigada pelo exame radiológico. ACROPATIA Ú LCERO-M UTI LANTE Caracteriza-se por ulcerações tróficas nos sítios de pressão, analgesia nos membros inferiores e acroos- teólise. Há duas formas: uma congênita familiar (sín- drome de Thévenard), que se inicia na infância ou adolescência e outra, adquirida, que ocorre entre 40 e 50 anos. Nesta, o alcoolismo pode ser um fator de- sencadeante. 967
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