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Tria Transporte i i temas Traum Ao final deste capítulo, o leitor estará apto a: 9 Dado um cenário com múltiplas vítimas, aplicar os critérios de triagem para tomar as decisões sobre recursos necessários, tratamento e transporte. Discutir as conseqüências da subtriagem e da supertriagem para o paciente e para o sistema de trauma. Discutir o nível ótimo e o grau de envolvimento do controle médico num sistema de trauma. Justificar a opção por transporte terrestre ou aéreo. Explicar a importância de cada componente de um sistema de trauma. ^ 3 6 4 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO A sua central recebe um chamado relatando que houve uma colisão envolvendo vários veícu- los automotores com sete vítimas, numa área rural do seu município. A caminho do local, você revisa os recursos disponíveis. O sistema de seu município inclui uma equipe de resgate de voluntários e cinco ambulâncias terrestres. O sistema de trauma regional conta com um centro de trauma Nível I localizado a cerca de 20 minutos do local da ocorrência por via terrestre e dois hospitais comunitários, um deles a 5 minutos do local. O centro de trauma Nível I também opera um helicóptero aeromédico. A sua ambulância é a primeira a chegar ao local. Duas das vítimas estão fora de seus veículos, deambulando, mas apresentam evidências de trauma. Uma outra está obviamente morta, en- quanto as outras 4 estão encarceradas nos veículos e têm evidência de trauma grave. Enquanto você avalia a cena, chegam ao local a equipe de resgate e uma segunda ambulância. Como é que vocêfaz? Para minimizar a possibilidade de morte e de se-qüelas, o paciente traumatizado deve receber aten- dimento ideal durante toda a evolução de sua lesão. Embora o tratamento cirúrgico definitivo das lesões raramente seja feito no local, o atendimento prestado pode ler uma influência significativa na evolução do paciente. Os socorristas prestam atendimento no lo- cal em condições longe das ideais para tratar do pa- ciente, prevenir lesões secundárias e transportar o traumatizado para o hospital apropriado, a fim de re- ceber o tratamento definitivo no tempo mais adequa- do possível. Para atingir esies objetivos, é necessário planejamento prévio e compreensão do sistema de trauma regional. Este capítulo discule alguns destes assuntos que devem ser considerados nesse processo de planejamento prévio. Triagem A triagem pode referir-se a várias situações diferentes no pré-hospitalar. O significado mais comum do ter- mo triagem refere-se à necessidade de identificar os pacientes que podem ter lesões graves e assegurar que serão transportados para um centro de trauma apro- priado. Esta forma de triagem pode ser dificultada por algumas lesões com risco de vida que não são imediatamente evidentes no local. A vítima pode não apresentar lesão evidente, estar deambulando no lo- cal ou mesmo recusar tratamento. Outro objetivo do atendimento pré-hospitalar é minimizar o tempo no local, o que requer avaliação rápida do paciente para decidir quem necessita de transporte em vez de ten- tar descobrir todas as lesões que o paciente possa ter sofrido. Para tornar este processo mais rápido e pre- ciso, os princípios de triagem devem ser estabeleci- dos previamente. O protocolo de triagem mais co- nhecido é o do Comitê de Trauma do Colégio Ameri- cano de Cirurgiões (Figura 14-1). Este guia usa um processo de quatro etapas para determinar quais pa- cientes devem ser levados para um centro de trauma e, dependendo da estrutura do sistema de trauma re- gional, para qual centro de trauma: 1. São usados critêrios fisiológicos para identificar os pacientes instáveis que devem ser levados rapi- damente para o centro de trauma de maior com- plexidade disponível. 2. E avaliada a anatomia da lesão para identificar os pacientes que estão fisiologicamente estáveis, mas têm lesões evidentes que necessitam de atendimen- to num centro de trauma. Os pacientes em ambas as categorias devem ser transportados para cen- tros de trauma, avisando-se a equipe de trauma que o paciente está a caminho. 3. O mecanismo de trauma é usado para identificar os pacientes que estão fisiologicamente estáveis. não têm lesões evidentes, mas, mesmo assim, têm alto risco de lesão grave por causa da alta energia envolvida no trauma. Dependendo do sistema de trauma regional, deve ser considerada a possibili- dade de transportar estes pacientes para um cen- tro de trauma, após consultar o conlrole médico. CAPÍTULO 14 T r i a g e m , T r a n s p o r t e e S i s t e m a s de T r a u m a 365 ESQUEMA DE DECISAO DE TRIAGEM NO LOCAL Etapa 1 Medir os sinais vitais e avaliar o nível de consciência ' Escala de Coma de Glasgow < 14 ou Pressão arterial sistólica < 90 ou Freqüência ventilatória <10 ou > 29 ou Escore Revisado de Trauma (RTS) < 11 SIM NAO Levar para um centro de trauma; avisar a equipe de trauma As etapas 1 e 2 da triagem tentam identificar já no local os traumatizados mais graves. Num sistema de trauma, estes pacientes devem preferencialmente ser transportados para o nível de tratamento mais elevado dentro do sistema Avaliar a anatomia da lesão Etapa 2 Ferimento penetrante de crânio, pescoço, dorso e extremidades, proximal ao cotovelo ou ao joelho Tórax instável ' Associação de trauma com queimadura 1 Duas ou mais fraturas proximais de ossos longos ' Fraturas de bacia 1 Fratura exposta ou afundamento de crânio 1 Paralisia ' Amputação proximal ao punho ou ao tornozelo Queimaduras graves SIM NAO Etapa 3 Levar para um centro de trauma; avisar a equipe de trauma. As etapas 1 e 2 da triagem tentam identificar já no local os traumatizados mais graves. Num sistema de trauma, estes pacientes devem preferencialmente ser transportados para o nível de tratamento mais elevado dentro do sistema Procurar evidências de mecanismo de lesão e impacto de alta energia Ejeção do carro Morte de ocupante no mesmo carro 1 Tempo de retirada > 20 minutos 1 Queda > 6 metros ■ Capotamento 1 Colisão em alta velocidade Velocidade > 65 km/h Deformidade do veículo > 50 cm Intrusão do compartimento de passageiros maior que 30 cm ' Atropelamento de pedestre/ciclista com impacto significativo (> 10 km/h) 1 Pedestre arremessado ou passagem do carro sobre o pedestre 1 Colisão de motocicleta > 35 km/h ou motociclista jogado da motocicleta Etapa 4 SIM Contatar controle médico e pensar em transportar para um centro de trauma Considerar avisar a equipe de trauma SIM NAO Idade < 5 ou > 55 anos Doença cardíaca ou respiratória Diabetes dependente de insulina, cirrose ou obesidade mórbida Gravidez Pacientes imunossuprimidos Pacientes com distúrbios de coagulação ou anticoagulados NAO Contatar controle médico e pensar em transportar para um centro de trauma. Considerar avisar a equipe de trauma Reavaliar com controle médico NA DÚVIDA, LEVE A VÍTIMA PARA UM CENTRO DE TRAUMA Figura 14-1 Esquema de decisão de triagem. (Extraído de American College of Surgeons Committee on Trauma: Resources for oplimal care of the injureá patient: 1999, Chicago, 1998, American College oí Surgeons.) 3 6 6 ATENDIMENTO P R É - H O S P I T A L A R AO TRAUMATIZADO 4. Devem ser identificados pacientes com co-morbi- clades que podem aumentar o risco de evolução desfavorável. Deve ser considerada a possibili- dade de transportar esses pacientes para um cen- tro de trauma, após consultar o controle médico. Outra formaimportante, mas menos comum, de triagem ocorre quando o socorrista enfrenta um inci- dente com múltiplas vítimas (IMV). Esta triagem en- volve transporte e tratamento dos pacientes trauma- tizados de modo a conseguir o melhor resultado para o maior número de pacientes. Duas situações podem ocorrer: 1. Há muitas vítimas, mas o número de pacientes e a gravidade das lesões permitem que os recursos disponíveis no local e no sistema regional de trau- ma sejam suficientes para atender a todos de for- ma eficiente. Neste caso, os pacientes devem ser triados como já descrito - tentando identificar os que têm lesões com risco de vida mais imediato e assegurar que eles recebam transporte rápido para o centro de trauma de nível mais elevado disponível. 2. O número e a gravidade das lesões são lais que os recursos do sistema de atendimento são insufi- cientes. Neste caso, os recursos devem ser usados de forma que os pacientes com maior chance de sobrevida sejam tratados mais rapidamente. Esta situação em geral obrigará a ativação dos planos regionais de atendimento a catástrofes, que devem ser previamente organizados e testados e irão, por vezes, necessitar de vários níveis de controle mé- dico, inclusive no local. Subtriagem e supertriagem O socorrista deve levar em consideração o esquema de triagem e a situação do sistema regional de atendi- mento ao traumatizado antes de tomar as decisões no local, de forma a minimizar a sublriagem e a su- pertriagem. Ocorre subtriagem quando pacientes trau- matizados graves não são reconhecidos como tais, sendo erroneamente encaminhados a hospitais que não são centros de trauma. Isto pode levar a aumento de morbidade e mortalidade nestes pacientes. Embo- ra ocorra algum grau de subtriagem em quase todos os sistemas, os sistemas de trauma (e o esquema de triagem já mostrado) foram organizados para mini- mizar a subtriagem, minimizando, assim, as mortes evitáveis e as seqüelas. Contudo, esta organização lende a aumentar a supertriagem, que ocorre quando pacientes com trauma leve ou sem lesão alguma são levados para um centro de trauma. Embora isto não resulte em problemas significativos para o paciente, pode representar sobrecarga para o centro de trauma, que terá de lidar com mais pacientes, com os recur- sos limitados. Isto pode levar a problemas internos por necessidade de triar vários pacientes e aumentar os custos para o centro. O objetivo de um sistema de trauma regional deve ser aceitar uma taxa de super- triagem que não resulte em sobrecarga dos centros de trauma e leve a um nível aceitavelmente baixo de subtriagem que minimize morbidade e mortalidade evitáveis nos pacientes traumatizados. Os programas de melhoria de qualidade dos serviços envolvidos devem monitorar a taxa de subtriagem e reexaminá- la para poder aprimorar o sistema. Controle Médico A triagem apropriada, como já discutido, depende da compreensão do sistema de trauma no qual o socor- rista trabalha, dos fatores de risco e do tratamento apropriado dos vários tipos de lesão traumática. Es- tas questões devem ser discutidas com o diretor mé- dico antes que o evento traumático ocorra. Os socor- ristas devem realizar avaliações e tratamento sob o controle de um médico. Por isso, estas discussões devem resultar em protocolos escritos que possam orientar a maior parte clas condulas no pré-hospita- lar. Às vezes, surgirá alguma situação que não se en- quadra nos protocolos. O sistema de trauma deve permitir acesso rápido, confiável e direto ao controle médico através de rádio ou telefone. Este sistema com- binado de controle médico, direto e indireto, permi- tirá a conduta mais eficiente na maior parte das situ- ações de trauma, permitindo flexibilidade e apoio nas situações incomuns. Transporte A sobrevida dos pacientes traumatizados graves de- pende do transporte rápido para um centro que ofe- reça tratamento cirúrgico definitivo imediato, não do transporte de qualquer jeito para o hospital mais próximo. O paciente deve ser transportado pelo meio mais rápido e seguro, após o atendimento inicial, para o centro mais próximo que possa oferecer tratamen- to definitivo. Dependendo do sistema de trauma re- gional, isto pode ser efetuado de várias formas. Antes do transporte, o paciente deve acessar o sis- tema para ativar o Serviços Médicos de Emergência (SME). Na maior parte da América do Norte, isto pode ser feito por meio do sistema de chamada do 911 (no Brasil, os telefones são 192 ou 193), que oferece acesso imediato ao serviço de SME. Em todos os lugares exis- te possibilidade de ativação similar, por meio de dife- rentes sistemas de chamada. CAPITULO 14 T r i a g e m , T r a n s p o r t e e S i s t e m a s de T r a u m a 3 6 7 Uma vez no local e após a avaliação da cena, os socorristas fazem a retirada e a imobilização. O paci- ente pode precisar de intervenções imediatas que possam salvar sua vida, tais como intubação traqueal e descompressão torácica. A imobilizaçào do pacien- te em prancha longa e a colocação de talas nas lesões de extremidades facilitam o deslocamento do paci- ente e minimizam a ocorrência de lesões secundá- rias. O acesso venoso deve ser iniciado a caminho do hospital. Deve ser gasto no local o tempo adequado necessário para permitir que o transporte do pacien- te seja seguro. Contudo, deve ser evitado gastar tem- po excessivo no local, pois o tratamento cirúrgico definitivo da maior parte das lesões não pode ser fei- to no local e o paciente estará correndo risco de san- gramento continuado, choque e outras complicações. Se o trauma ocorrer a minutos de distãncia do centro de trauma, o princípio de "carregar-e-levar", segun- do o qual o paciente é imobilizado em prancha longa para permitir fácil mobilização e transportado rapi- damente para o centro de trauma, é via de regra a melhor opção. Na área rural, com tempo de transpor- te prolongado até o centro de trauma, pode ser útil transportar inicialmente o paciente para o hospital local para fazer a reanimação inicial avançada, esta- bilizar e preparar para a viagem até o centro de trau- ma. Contudo, a avaliação do paciente no hospital de origem não deve retardar o transporte para o centro de trauma. Na maioria dos sistemas regionais de transporte, há duas opções já organizadas - transporte terrestre e aéreo (helicóplero). Ambos permitem transportar e monitorar os pacientes. Transporte terrestre Para a maioria dos pacientes, o transporte terrestre é a melhor opção, oferecendo resposta rápida na maior parte das ocorrências. Permite carregar grande quan- tidade de equipamento, tem capacidade de monito- rar adequadamente o doente e o peso do veículo nunca é um problema. Os veículos de transporte terrestre são de operação mais econômica e a maioria dos sis- temas tem muitas unidades de transporte terrestre disponíveis, com vários níveis de atendimento. Parti- cularmente nas zonas urbanas, os veículos terrestres podem chegar ao local, imobilizar e transportar o paciente para o centro de trauma mais rapidamente do que o tempo que um helicóptero gastaria para de- colar e encontrar um local para pousar. O maior pro- blema do transporte terrestre é muitas vezes o risco de colisão com outros veículos que não tenham nota- do a ambulância correndo com suas luzes e sirene. A segurança do paciente, da equipe e dos populares exige cme se seja muito cuidadoso. Transporte aéreo O transporte civil de helicóptero dos doentes trau- matizados começou depoís que as guerras da Coréia e do Vietnã mostraram sua utüidade. Seu uso no trans- porte civil, embora difundido. tem sido controverso. Os helicópteros podem oferecer transporte rápido para distâncias mais longas e para terrenos mais difíceis do que as ambulâncias terrestres. Nas áreas rurais. os helicópteros podempermitir o acesso do suporte avançado de vida a locais que não dispõem dele. Con- tudo, os helicópteros são mais caros do que os veícu- los de transporte terrestre, têm acesso limitado ao local devido a condições climáticas e/ou do terreno e po- dem ter problemas de segurança para o paciente. a equipe e os populares. Em muitas situações. os heli- cópteros não poderão prover transporte mais rápido porque têm de ser ativados (geralmente depois que as unidades terrestres já chegaram ao local), decolar. voar até o local e pousar. O paciente deve, então. ser embarcado, para o helicóptero voar de volta e desem- barcado quando chegar novamente ao solo, no hos- pilal de destino. Para transportes terrestres de menos de 15 minutos, embarcar na ambulância e conduzir até o centro de trauma geralmente é mais rápido do que esperar pelo helicóptero. Sistemas de trauma Este capítulo fez várias referèncias à lomada de de- cisões com base no sistema de trauma regional no qual o socorrista atua. Assim, o socorrista deve en- tencler o significado do termo sistema de trauma e como os diversos sistemas podem ser diferentes. As discussões sobre o atendimento ao traumatizado em geral centravam-se no atendimento pré-hospitalar e hospitalar (ou em centro de trauma), consideran- do-os como importantes, mas completamente sepa- rados. O sistema de trauma reconhece que os resul- tados do atendimento ao traumatizado melhoram muito com o desenvolvimento de um sistema que integre o atendimento ao longo de lodo o processo - iniciando no local, passando pela hospilalização e continuando com a reabilitação. Este sistema tenta atender as necessidades de todos os traumaüzados numa determinada área, ao mesmo lempo que mi- nimiza as taxas de subtriagem e supertriagem. Cui- da também da prevenção e das atividades de educa- ção pública para tentar minimizar as lesões. A orga- nização de um sistema como esse requer apoio pú- blico e tem implicações políticas e íinanceiras que levam os sistemas a ser desenvolvidos de forma di- ferenciada, dependendo dessas circunstâncias. Um sistema de trauma regional numa grande área me- 3 6 8 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO tropolitana irá diferir de um sistema de uma área rural que cubra vários estados. Um sistema regional de trauma é organizado com base nas necessidades da região e nos recursos dispo- níveis para suprir essas necessidades. O Colégio Ame- ricano de Cirurgiões estabeleceu critérios que são fre- qüentemente utilizados para determinar a designa- ção dos centros de trauma. Estes critérios podem ser adaptados conforme os recursos da região: 1. Um centro de trauma Nível I deve ser um centro de referência regional e encontra-se geralmente em áreas de grande população. 2. Um centro de trauma Nível II oferece tratamen- to completo ao traumatizado. tanto numa área densamente povoada, onde pode complemen- tar um centro de trauma Nível I, como em áreas menos populosas, onde pode ser o nível de mais alta complexidade disponível. Ambos os centros oferecem disponibilidade cirúrgica imecliata e diferem sobretudo nas atividades educacionais e de pesquisa. 3. Um centro de trauma Nível III geralmente tem co- bertura de cirurgia geral e capacidade de tratar a maior parte das lesões, mas deve estar vinculado a um centro de trauma de maior complexidade para tratar dos pacientes traumatizados mais graves. 4. Um centro de trauma Nível IV situa-se habitual- mente numa área rural e está habilitado a fazer a estabilização inicial. O conceito de sistema de trauma evoluiu com o tempo. No início, os sistemas foram considerados ape- nas em termos de centros de trauma e do tratamento que poderiam oferecer aos pacientes traumatizados (sistemas de trauma exclusivos). Contudo, a avalia- Figura 14-2 Componentes de um sistema de atendimenio iniegrado ao traumatizado. (Extraído de American College of Surgeons Committee on Trauma: Resources for optimal care of the injured patient: 1999, Chicago, 1998, American College of Surgeons.) CAPÍTULO 14 T r i a g e m , T r a n s p o r t e e S i s t e m a s de T r a u m a 369 ção atual do sistema de trauma regional inclui não apenas os centros de trauma disponíveis mas tam- bém outros componentes (Figura 14-2). Muitas entidades de atendimento pré-hospitalar podem operar num sistema de trauma com variados níveis de treinamento e de serviços oferecidos, espe- cialmente num sistema que cubra uma área extensa. O despacho pode ser operado cle vários pontos dife- rentes, resultando em problemas de comunicação e coordenação. Deve haver protocolos para o uso de transporte aeromédico e o socorrista deve observá- los. A capacidacle de os hospitais gerais fazerem a es- tabilização inicial e tratarem os traumatizados me- nos graves também deve ser levada em consideração. O conhecimento de todos esses componentes regio- nais antes da chegada ao local permitirá um atendi- mento melhor dos pacientes traumatizados dentro do sistema. A discussão dos problemas que surgirem entre as várias entidades envolvidas ajudará a melho- rar o atendimento no futuro. Cada componente do sistema de trauma regional deve ter um processo de melhoria de qualidade que avalie e estude formas de melhorar o atendimento. O sistema deve também permitir que todos os componentes do sistema de trauma regional discutam as questões de melhoria de qualiclade de forma conjunta. O aumento da integração entre todos os compo- nentes envolvidos no tratamento do traumarizado le- vará a melhores resultados, à medida que os sistemas de trauma evoluem. Uma área de fragilidade na maio- ria dos sistemas continua sendo a comunicação as várias entidades e a documentação do que é feiu com o paciente e a resposta do paciente à intervenção. Isto significa que, à medida que o paciente passa pelos diversos componentes do sistema, freqüentemente h duplicação de esforços e desperdício de tempo. O de- senvolvimento contínuo de sistemas integrados regio- nais, associado ao uso de novas tecnologias, como a telemedicina, deve permitir a passagem mais tranqüi- la do paciente através do sistema com menos duplica- ção e menos perda cle tempo. Esta integração, combi- nada com a contínua melhoria da qualidade, ajudará os socorristas a garantir que o paciente certo chegue ao local certo no tempo certo. Para que os traumatizados tenham o melhor prog- nóstico possível, é necessária a organização de siste- mas de trauma regionais. Um sistema de trauma regio- nal deve ser planejado levando em conta os recursos da comunidade. O ACS-COT (American College of Surgeons Committe on Trauma - Comitê de Trauma do Colégio Americano de Cirurgiões) tem liderado o desenvolvimento dos sistemas regionais de trauma. A sua contribuição inclui a criação de critérios para o reconhecimento dos centros de trauma e o desenvol- vimento de protocolos de triagem. O socorrista deve entender bem os princípios ge- rais e os objetivos de um sistema de trauma e conhe- cer as particularidades do sistema de trauma da sua região. Todos componentes do sistema de trauma devem funcionar bem para assegurar eficiéncia, efi- cácia e disponibilidade permanente de atendimento médico de emergência. O socorrista deve estar fami- liarizado com os critérios de triagem de seu sistema, os recursos de sua comunidade e a classificação e os recursos clos hospitais da sua área. Um sólido proces- so de tomada de decisões deve ser baseado em crité- rios estabelecidos para otimizar o uso dos recursos sem sobrecarregar desnecessariamente o sistema ou prejudicar a evolução dos pacientes. Para maximizar a efetividade dos sistemas de trauma, todos os envolvidos devem participar de um processo contínuo de melhoria de qualidade para aumentar a eficiência do sistema, superar as barrei- ras que dificultam o seu funcionamenloadequado e integrar melhor todos os componentes do sistema de trauma. 370 A T E N D I M E N T O P R É - H O S P I T A L A R AO T R A U M A T I Z A D O 1 olumo iln deuário Com sete pacientes neste incidente, inicialmen- te os números superam os recursos disponíveis. Por isso, você deve avaliar rapidamente todos os doentes, como foi feito, para ter uma idéia melhor de como direcionar os recursos, à medi- da que forem chegando. O paciente morto deve ser deixado de lado e os "feridos que estão an- dando" devem ser acalmados temporariamen- te, se seus sinais vitais forem aceitáveis, a fim de concentrar os recursos nas vítimas mais graves, que estão presas nas ferragens. Se chegarem re- cursos suficientes, considere a possibilidade de transportar esses "feridos que estão andando" para o hospital mais próximo, onde poderão ser avaliados, podendo as ambulâncias talvez vol- tar rapidamente para o local do incidente. En- quanto as vítimas restantes são retiradas, pode- rão ser feitas as intervenções fundamentais. Como há vítimas encarceradas e o centro de trau- ma fica a 20 minutos por terra, pense na possi- bilidade de mobilizar o helicóptero, desde que haja área apropriada para pouso próximo ao lo- cal e alguém que possa ajudar a nave a pousar. Contudo, se a retirada não for demorar ou se não houver local próximo apropriado para pou- so, obrigando a transportar o doente até o heli- cóptero, talvez seja melhor transportar os doen- tes por terra diretamente para o centro de trau- ma, avisando antes para permitir a mobilização da equipe de trauma. CAPÍTULO 14 T r i a g e m , T r a n s p o r t e e S i s t e m a s de T r a u m a 371 Qüestões de Reviâo As respostas encontram-se na página 424. 1. A palavra triagem refere-se a: a. Um processo pelo qual o Colégio Americano de Cirurgiões garante que os cloentes traumatiza- dos não são levados para os hospitais locais. b. Transportar todos os traumatizados para um centro de trauma. c. Uma maneira de evitar a sobrecarga dos servi- ços de trauma. d. Um processo pelo qual existe garantia de que os doentes potencialmente graves receberão o ní- vel apropriado de tratamento. 2. Os problemas relacionados com triagcm incluem: a. Traumatizados graves que não são levados para um centro de trauma. b. Levar todos os traumatizados para um único centro de trauma. c. Subtriagem que pode levar a morte evitável ou seqüela. d. Todas as anteriores. 3. O diretor médico dos Sistemas Médicos de Emer- gência: a. Não tem papel no atendimento pré-hospitalar. b. É responsável por todo o atendimento prestado. c. Interfere com o atendimento rápido dos doen- tes traumatizados. d. Deve estar continuamente em comunicação di- reta via rádio. 4. Assinale a alternativa correta a respeito do trans- porte dos traumatizados: a. O transporte de helicóptero é sempre mais rápi- do e melhor do que o transporte por terra. b. As técnicas de "carregar-e-levar" não exigem imobilização. c. O socorrista deve escolher o método mais rápi- do e seguro para todos os envolvidos. d. O socorrista deve levar sempre os pacientes di- retamente para o centro de trauma. 5. Característica dos centros de trauma regionais: a. Têm todos a mesma classificação. b. Só atendem doentes traumatizados. c. Não são importantes nas áreas rurais. d. Sua estruturação depende da política e de finan- ciamentos locais. REFERÊNCIAS American College of Surgeons Committee on Trauma: Resour- ces for optimal care of the injured patienl: 1999, Chicago, 1998, American College of Surgeons. Callahan M: Emergency medical ser\'ices base station func- tion and design: on-line medical control, Prehosp Emerg Care July-September, 1989. Clawson JJ, Torbuss R, Hauert SA, and other members of the Emergency Medical Response Task Force: Use of warning lights and siren in emergency medical vehicle response and patient transport, Prchosp Emerg Care April-June, 1994. National Association of Emergency Medical Service Physicians: Air medical dispatch: guidelines for trauma scene respon- se. Prehosp Emerg Care 7(1):75, 1992.
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