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Aspectos Teóricos da Educação Física Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Fabio Tomio Fuzii Revisão Textual: Prof. Ms. Claudio Brites O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna • Introdução • Positivismo • Higienismo • Eugenismo • Os Métodos Ginásticos • Escola Alemã • Escola Sueca • Escola Francesa • Influência Médica e Militar na Educação Física • Formação Profissional em Educação Física: Herança Militar · Compreender a base científica e filosófica que subsidiou a Educação Física no século XVII, XIX e XX. OBJETIVO DE APRENDIZADO O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Contextualização Nesta Unidade, vamos compreender as bases científicas e filosóficas da Educação Física no século XIX e XX ao abordar a filosofia positivitas e as ideias higienistas e eugenista na área, bem como a influência de duas instituições, a médica e a militar. Nesse cenário que se desenvolverá os métodos ginásticos e a valorização dos exercícios físicos na sociedade. Vamos entender também a relação do Esporte com a Educação Física. A Unidade pretende ajudar o futuro professor de Educação Física a compreender e refletir sobre o currículo escolar, a importância da ciência na área e a relação Educação Física e Esporte. 8 9 Introdução Para iniciar os estudos dessa Unidade vamos recordar que na Unidade anterior entendemos o contexto histórico da Modernidade no qual apontamos o Antropocentrismo, a Ciência Moderna, o Iluminismo, o Liberalismo e a Revolução Industrial. Não entenda esses conceitos como se fossem separados, mas eles se entrecruzam, interagem e se misturam. Porém, para efeito didático essa separação foi necessária. Deste modo, foi possível perceber que a Educação Física emergiu a partir do olhar que se deu para o corpo enquanto algo que pode ser investigado e, mais importante, pode ser ajustado para se adequar aos interesses da sociedade que está se consolidando, a capitalista. O corpo enquanto unidade produtiva da sociedade capitalista se refere a mão de obra industrial em crescente desenvolvimento. Tal força de trabalho braçal necessitava, portanto, estar permanentemente forte e saudável a fim de evitar faltas no trabalho e possibilitar mais rendimento para a indústria. Importante! A 1º Revolução Industrial se refere à passagem da manufatura para a maquinofatura como já explicado. Nesse ponto, visualize que as máquinas para serem operadas necessitavam de força e muita intervenção humana. Situação diferente do que vemos hoje, pois o trabalho na indústria está automatizado. Assim, o século XIX era preciso uma mão de obra forte para o funcionamento da indústria. Importante! E, para atingir esse ideal de corpo, os caminhos serão guiados pelas respostas Científicas frente aos problemas propostos. Lembre-se que não será Deus, mas a Ciência Moderna que dirá como conseguir o progresso da indústria e da sociedade. Neste ponto, faz necessário discutir a filosofia Positivista, pois sua perspectiva de mundo irá influenciar a Educação Física. 9 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Positivismo Podemos falar que o Positivismo é uma corrente filosófica que tem como principal nome o francês Augusto Comte. Suas ideias principais eram de afirmar que a ciência positiva é a única fonte válida de conhecimentos que dominou a Europa no século XIX e começo do XX. Figura 1 - Agusto Comte (1798 - 1857) Fonte: Wikimedia Commons Nesse pensamento, a filosofia é ape- nas um discurso sobre as ciências e a religião é inatingível ao homem, portan- to não há mais espaço. O Positivismo é decorrente do Iluminismo, afirmando que somente é válido o conhecimento comprovado pelo método científico. So- mente os fatos podem explicar os fatos. Comte reconhece apenas seis ciên- cias: a matemática, astronomia, física, química, biologia (aqui engloba a psico- logia) e a sociologia. Sobre o último, Comte entende a sociologia como a física social, pois para entender a sociedade é preciso se basear pelos menos métodos da biologia e física, por exemplo. Há um otimismo exagerado em relação aos frutos da ciência, acreditando que a ciência irá salvar a humanidade. São as ciências naturais, as que irão estudar a natureza, a fonte de conhecimento válido e, a partir delas, que haverá respostas para os problemas de diversa ordem. Deste modo, Comte pensava que era importante a ordem social, ou seja, a hierarquia social, pois entendia as desigualdades como naturais e qualquer movimento questionador era uma tentativa de alterar ordem natural das coisas. Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images 10 11 O lema “Ordem e Progresso” na bandeira do Brasil é inspirado no Positivismo, derivado do lema “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fi m” de Augusto Comte. Nesse raciocínio, os positivistas, os intelectuais, os capitalistas se viam como os salvadores do povo ignorante, doente, pobres e incapazes de progresso. Eram porta-vozes da modernização e do processo civilizatório. Desse momento em diante é possível entender o porquê que a Educação Física tem marcar positivistas na sua origem, afinal ela surgiu com a promessa de melhorar a mão de obra para progresso da indústria bem como transformar os hábitos corporais para a sociedade industrial e urbanizada. Ganham-se importância os exercícios físicos nessa sociedade, pois a Ciência provou que sua prática irá acarretar no desenvolvimento de capacidades físicas (força, resistência, etc) além de melhorar a postura e saúde dos indivíduos. Neste ponto, duas correntes teóricas positivistas são decisivas para fomentar os exercícios físicos na sociedade e consequentemente para o surgimento da área da Educação Física. São elas: o higienismoe o eugenismo. Higienismo O Movimento higienista nasce do contexto de industrialização e urbaniza- ção, e defende o aprimoramento da saúde e resistência do trabalhador visando aumento da produtividade. Cabe lembrar que a crescente urbanização ocorreu de forma desordenada e questões sanitárias se tornaram urgentes tanto na Europa quanto no Brasil. Como nos lembra Soares (2004, p.10): O crescimento rápido e desordenado das cidades e áreas industriais não foi acompanhado pela ampliação dos serviços mais elementares nas cidades, como, por exemplo, a limpeza das ruas e os serviços sanitários. O aparecimento das grandes epidemias, como a cólera, o tifo e a febre recorrente entre 1831 e 1840, evidencia de forma contundente a deterioração do espaço urbano. 11 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Figura 3 - Urbanização da França no começo do século XX Fonte: Adaptado de Wikimedia Commons Como visto, a responsabilidade das condições de vida degradante da população era interpretada pelo positivismo como culpa de sua ignorância, despreparo, indis- ciplina e falta de modos. Porém, a degeneração da vida da população é fruto das condições impostas de trabalho pelo sistema capitalista. Nesse cenário que a Educação Física vem para cumprir sua função higiênica, ou seja, condicionar a população a adotar hábitos saudáveis e higiênicos, além do desenvolvimento da moral e do físico por meio do exercício. Higienismo: https://goo.gl/HBJQkM Ex pl or Portanto, a Educação Física carrega essa marca histórica na sua área de desenvolver a saúde, o corpo forte e higiênico e que tudo isso é responsabilidade individual e não das condições sociais vigentes como a economia e política. Claramente fruto da visão positivista, liberal e burguesa de sociedade. Essa mesma visão aponta para o Eugenismo. Eugenismo O termo Eugenia é proposto por Francis Galton no final do século XIX para expressar o melhoramento biológico da raça humana. A ideia de Galton era realizar com seres humanos o que já se fazia com animais (cavalos, cachorros, porcos, etc.), identificar os melhores genes para melhorar a espécie. Assim, permitiria intervenção no controle da reprodução para suprimir os portadores de genes ruins e aumentar aqueles de bons genes. 12 13 Importante! As teorias genéticas no século XIX acreditavam que os fi lhos carregam características dos seus pais não somente de ordem biológica, mas também forças vitais ou espirituais e habilidades, talentos e inteligência. Importante! Deste modo, alguns cientistas no século XX defendiam a ideia de eugenia positiva – estimular a reprodução entre as pessoas de características desejáveis – e combater a eugenia negativa – reprodução entre pessoas consideradas doentes ou incapacitadas. Isso realmente preocupava os intelectuais da época, pois eles presenciavam o crescimento populacional e o aumento da pobreza e miséria decorrentes da urba- nização. Havia um medo da classe baixa, considerada menos dotada, produzisse mais indivíduos que as classes menos dotadas causando uma decadência racial. Assim, a interpretação que os problemas sociais são de responsabilidade do indivíduo, agora também são raciais. Houve uma série de medidas eugênicas propostas pelo Estado com o foco em duas instâncias: a família e a escola. Resumidamente, na família havia o esforço do matrimônio consciente (desestimular casamento entre raças e classes diferentes) e na escola tinha como função estimular as habilidades eugênicas. É nesse ponto que entra a Educação Física ao acreditar que o exercício físico ajudará a formar uma população mais forte e saudável e os hábitos saudáveis seriam transmitidas geneticamente para as próximas gerações. A educação física ministrada na escola começou a ser vista como importante instrumento de aprimoramento físico dos indivíduos que, “fortalecidos” pelo exercício físico, que em si gera saúde, estariam mais aptos para contribuir com a grandeza da indústria nascente, dos exércitos, assim como com a prosperidade da pátria. (CAPARROZ, 2005). Linha do Tempo da Educação Física no Brasil: https://goo.gl/q5XUEb Ex pl or Na época, essa Educação Física, o exercício físico era sinônimo de Ginástica que são os primeiros métodos sistematizados de exercícios físicos. 13 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Os Métodos Ginásticos Os Métodos Ginásticos europeu são exercícios físicos sistematizados com o objetivo de disciplinar a população moral e fisicamente. Eram organizados por pedagogos, médicos ou militares que disseminavam a saúde por meio dos exercícios físicos regulares. A ginástica tem nos nomes do sueco P. H. Ling, o francês Amoros e o alemão A. Spiess, o fisiologista G. Demeny, E. Marey, os médicos P. Tissié e ainda professores de música como J. Dalcroze como grandes representantes da área. Eles tiveram o mérito de garantir a ginástica/Educação Física no currículo escolar para se tornar em um importante instrumento para aprimoramento físico dos indivíduos, ou seja, garantir indivíduos fortes e saudáveis para contribuir com a grandeza da indústria nascente, dos exércitos e da prosperidade da pátria (SOARES et al, 1992) Na Europa do século XIX, essas formas de exercícios físicos começam a ganhar solidez com as Escolas de Ginásticas – Alemã, Sueca e Francesa principalmente – no qual cada uma irá apresentar uma forma de sistematização da ginástica. Assim, carregado com uma forte concepção científica, tais métodos traduziam também um componente nacionalista, ligando sua prática a melhorava étnico- racial além de preparar o jovem para enfrentar as guerras beneficiando a nação. Nas palavras de Soares (2004, p.52) acreditava-se que a ginástica: Desempenhou importantes funções na sociedade industrial, apresentando se como capaz de corrigir vícios posturais oriundos das atitudes adotadas no trabalho, demonstrando, assim, as suas vinculações com a medicina e, desse modo, conquistando status. A essa feição medica, soma-se outra a ginástica: aquela de ordem disciplinar... e disciplina era algo absolutamente necessário a ordem fabril e a nova sociedade. Usando a autora Soares (2004) vamos entender um pouco mais da escola alemã, francesa e sueca de ginástica. Escola Alemã A ginástica alemã tem todas as características acima apontadas, porém o seu uso em torno da defesa da pátria se destaca. Formar um espírito nacionalista, um corpo saudável de homens e mulheres robustos era o objetivo com a ginástica. Utilizando-se de conhecimentos científicos (anatomia, fisiologia e biologia) começa ganhar sua forma com caráter militarizado e rapidamente foi pensado para uma grande massa de praticantes. 14 15 Tabela 1 - Sistema de Ginática Escolar Alemã Sistema de Ginástica Exercícios Livres (sem aparelhos) Membros Superiores Membros Inferiores Exercícios de Suspensão Barras Paralelas Cordas Exercícios de Apoio Apoio propriamente dito Suspensões Balanceamentos Ginástica Coletiva Marchas e Exercícios ou Ordem unida. Como podemos observar na figura, a ginástica alemã é mecanizada, como um soldado que repete o gesto idêntico ao solicitado. No Brasil, a ginástica alemã tem sua repercussão por conta dos imigrantes alemães, dos soldados, afinal o método alemão é consagrado como o método oficial do exército brasileiro por volta de 1860. Entretanto, a ginástica com maior repercussão nas escolas foi a ginástica sueca. Escola Sueca Com os atributos que qualificam a ginástica para desenvolver o físico, a saúde e a moral, a ginástica sueca promete regenerar e libertar dos vícios sua população e, com isso, favorecer a industrialização e a formação de bons soldados. Seu grande nome é PehrHenrick Ling (1776-1839), poeta e escritor que propõe uma ginástica baseado na análise anatômica do corpo (base científica) para construir uma série racional de movimentos de formação. Ling divide em 4 partes a ginástica de acordo com seus objetivos: a. Ginástica pedagógica ou educativa - aquela que todas as pessoas, inde- pendentemente de sexo ou idade e ate mesmo de condição material e so- cial, poderiam praticar. O seu mais elevado objetivo seria o de desenvolver o individuo normal e harmoniosamente, assegurando a saúde e evitando a instalação de vícios, defeitos posturais e enfermidades. b. Ginástica militar - deveria incluir a ginástica pedagógica, acrescida de exer- cícios propriamente militares, tais como o tiro e a esgrima, cujo objetivo era preparar o guerreiro que colocaria fora de combate o adversário. c. Ginástica medica e ortopédica - que também deveria estar baseada na gi- nástica pedagógica, visando eliminar vícios ou defeitos posturais e curar certas 15 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna enfermidades através de movimentos especiais para cada caso encontrado. d. Ginástica estética - que, assim como as demais, estaria baseada na ginásti- ca pedagógica, e, para alem dela, procuraria o desenvolvimento harmonioso do organismo e seria completada pela dança e certos movimentos suaves que proporcionam beleza e graça ao corpo. (SOARES, 2004, p.58) Assim, uma lição no método ginástico sueco seria apresentada da seguinte maneira: 1 ° - Exercícios de ordem 2° - Exercícios de pernas ou movimentos preparatórios formando uma pequena serie. Esta serie se decompõe assim: a) movimentos de pernas; b) movimentos de cabeça; c) movimentos de extensão dos braços; d) movimentos do tronco para frente e para trás; e) movimentos laterais do tronco; f) movimentos outros de pernas; 3° - Extensão da coluna vertebral 4° - Suspensões simples e fáceis 5° - Equilíbrio 6° - Passo ginástico ou marcha 7° - Movimentos dos músculos dorsais 8° - Movimentos dos músculos abdominais 9° - Movimentos laterais do tronco 10° - Movimentos das pernas 11° - Suspensões mais intensas que as do n” 4° 12° - Marchas ou Movimentos de pernas, executados mais rapidamente que os outros para preparar para os saltos 13° - Saltos 14° - Movimentos de pernas 15° - Movimentos respiratórios A ginástica feminina era idêntica a masculina, com as seguintes restrições: I - Evitar movimentos muito acentuados para trás; II - Não realizar movimentos que possam congestionar a bacia; III- Abster-se do trabalho físico durante a menstruação; Os principais aparelhos utilizados pelo método sueco eram e ainda são: a) barra móvel para exercício de suspensão e equilíbrio; b) cavalo de pau, plintos, carneiros c) espaldares e banco sueco. (SOARES, 2004, p.58-59) Por não apresentar forte vinculação militar, mas uma afirmação através de sua base científica, a ginástica sueca terá forte aceitação na comunidade intelectual e nas nações que se encontram em paz. 16 17 No Brasil, Rui Barbosa e Fernando de Azevedo foram os grandes defensores da ginástica sueca por identificar suas bases científicas e relacioná-las com os conhe- cimentos médicos. Em 1882, a ginástica sueca se insere nos currículos escolares com a Reforma do Ensino Primário de Várias Instituições Complementares da Instrução Pública. Assim, essa ginástica passou ser mais aceita em estabelecimentos de ensino por conseguir mostrar seu papel pedagógico e deixou o método alemão para os estabelecimentos militares. Escola Francesa Por último, vamos falar sobre a escola francesa que é influenciada pelas concepções liberais clássicas da educação no qual se insere o exercício físico para elemento indispensável, afinal o direito a educação também inclui a ginástica. Nas palavras de Francisco Amorós y Ondeano, a ginástica francesa deveria deixar o homem mais inteligente, sensível, forte, habilidoso, adestrado, flexível, ágil, pronto para vencer as dificuldades da vida e triunfar sobre os obstáculos que aparecer e assim prestar os serviços ao Estado e a humanidade (SOARES, 2004) Desta maneira, a ginástica francesa mostra seu claro objetivo de desenvolver a saúde e aptidão física da sua população visando o acumulo de riqueza (aumento da produção do sistema capitalista) e aumento da força do Estado (exército nacional). Sua forte concepção positivista está marcada em outro intelectual francês, George Demeny que pregava a construção de uma doutrina através dos resultados e experimentos do método científico. Medir, comparar e experimentar eram para Demeny o que a Educação Física deveria se dedicar para alcançar as respostas os problemas que se apresentavam, seja de ordem higiênica ou eugênica. Já no Brasil, a ginástica francesa foi oficialmente implantada em 12 de abril de 1921 pelo decreto nº 14.784 para ser ministrada na Força Pública do Estado de São Paulo. Já em 1929 o Ministério da Guerra defendia a ginástica francesa como sendo o Método Nacional de Educação Física e sua obrigatoriedade nos sistemas de ensino. Para se atentar a ginástica no Brasil e sua revelância, em 1882, Rui Barbosa ao propor a reforma do ensino, faz recomendação para que a ginástica fosse obrigatória para ambos os sexos nas escolas. Antes disso, em 1854, a Reforma Couto Ferraz tornou obrigatória a Educação Física (ginástica) no município da corte. Esses são exemplos de políticas públicas com motivação higienistas e eugenistas. Rapidamente os Métodos Ginásticos ganharam importância para entrar nos currículos escolares. A ginástica tinha a solução para educar corpos rebeldes e prepará-los a vida urbana e retirar vícios do campo. 17 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Figura 4 - Exemplo de ginástica sueca, modelo mais difundido no Brasil Fonte: Wikimedia Commons Repare a ordem e disciplina, além das roupas brancas, um sinal de boa higiene. Todos os trabalhos eram escritos pelos médicos (“pedagogia da boa higiene”) e estruturavam-se em bases fisiológicas e anatômicas, a únicas consideradas científicas. Nesse ponto, podemos perceber a influência de duas instituições no desenvolvi- mento da Educação Física que são as instituições médicas e militares. Influência Médica e Militar na Educação Física Com a importância das medidas sanitaristas e com a valorização dos exercícios físicos na sociedade, os médicos higienistas influenciaram decisivamente no referen- cial de conhecimentos necessários para o desenvolvimento da Educação Física. Foram os médicos, através do domínio do conhecimento científico, que atribuíram que os exercícios físicos são como remédios. Vimos que em nome da saúde, da ordem e do progresso, a medicina (sob interesse da burguesia) estabelece normas e regras para a manutenção da saúde dos “corpos biológicos”. O pensamento médico higienista cria um universo de modos, atitudes e saberes a serem difundidos socialmente, visando a melhoria da saúde da classe proletária (a classe que compunha a mão-de-obra industrial, bem como, o exército nacional) (SOARES, 2004) O conteúdo médico-higiênico e sua forma disciplinar é a base da “educação do físico”. A partir de então, as vinculações médicas (pensamento higienista) irão so- mar-se ao caráter disciplinador da instituição militar (ginástica de instrução militar). 18 19 A instituição militar, como anteriormente mencionado, moldaram os métodos ginásticos com disciplina, ordem e a exigência física necessária. Buscavam forjar indivíduos fortes, saudáveis e indispensáveis à implementação do processo de desenvolvimento do país, bem como no fortalecimento do exército nacional. Também a ginástica nas escolas era ministrada por instrutores físicos do exército, que traziam paraessas instituições os rígidos métodos militares da disciplina e da hierarquia. Para compreender um pouco mais esse cenário vamos falar como se dava a formação profissional em Educação Física. Formação Profi ssional em Educação Física: Herança Militar A Educação Física no Brasil tem herança militar como já foi falado na Unidade a sua influência da área. Foram os militares que caracterizaram a área no seu início. Não podemos esquecer que o período do Brasil Império os militares se desen- volveram no país com o surgimento de várias instituições com finalidades diversas, como por exemplo, proteger a Família Real que estavam em terras brasileiras. Foram nas instituições militares que começou a se desenvolver a prática sistematizada de exercícios físicos como a ginástica, além da esgrima, natação, infantaria e cavalaria, entre outros. Decorrentes desse processo surgiram as Escolas do Exercito, local responsá- vel em formar os primeiros agentes do campo da Educação Física que se ma- triculavam em cursos de curta duração. Apenas citando, podemos falar da Es- cola de Educação Física da Força Policial, (Escola de Preparação de Monitores (Marinha – 1925), Centro Militar de Educação Física (Exército, 1922 à 1929) e Escola de Educação Física do Exército (1933) (SOUZA NETO et al., 2004). Porém, no início do século XX somente militares poderiam ingressar nesses cursos de curta duração que se limitava a formar mestre de armas, instrutores e treinadores para a própria instituição militar. A década de 1930, período do Governo Vargas, foi um momento que desenvolveu políticas públicas pensando a educação no geral e, portanto, foi oportuno para a Educação Física se legitimar na sociedade e ampliar o seu campo. Dentre várias realizações citamos a criação da Escola de Educação Física de São Paulo (1934) e a e a criação da Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD - 1939), na Universidade do Brasil e a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx - 1933). 19 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Destaque fica por conta do primeiro programa civil que se têm notícia, que é o do curso da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo, criado em 1931, mas que só começou a funcionar em 1934 (SOUZA NETO et al., 2004). Estudo dos processos pedagógico e de desenvolvimento do aluno Estudo dos exercícios motores artísticos Estudo dos fatos e costumes relacio- nados às tradições dos povos na área dos exercícios físicos e motores Professor de Educação Física Instrutor de Ginástica Estudo da vida humana em seus aspectos celular, anatômico, funcional, mecânico, preventivo Estudo dos exercícios físicos da infância à idade madura Estudo dos exercícios motores lúdicos e agonísticos Educação Física (Saberes) Formação Prossional Figura 5 - Formação Profissional em Educação Física: O programa de 1934 Fonte: Souza Neto et al, 2004 Já em 1939, com a Escola Nacional de Educação Física e Desporto (ENEFD), o programa de formação em Educação Física também sofre algumas alterações. São modificações que são decorrentes aos movimentos em prol da educação no geral que também pensavam nos profissionais da educação, incluindo aí o professor de Educação Física. Cabe ressaltar que a Constituição de 1937 já tinha tornado a Educação Física obrigatória em todas as escolas primárias, normais e secundárias. Ou seja, vão surgir outras reivindicações relacionadas ao profissional de Educação Física, como um currículo mínimo para lhe garantir melhor formação. 20 21 Estudo dos processos pedagógico (psicologia aplicada) Estudo da admnistração do trabalho humano em instituições (organização; legislação) Estudo dos fatos e costumes relacio- nados às tradições dos povos na área dos exercícios físicos e motores Professor de Educação Física Instrutor de Ginástica Médico especializado em Educação Física Estudo da vida humana em seus aspectos celular, anatômico, funcional, mecânico, preventivo Estudo dos exercícios físicos da infância à idade madura Estudo dos exercícios motores lúdicos e agonísticos Estudos dos exercícios motores artísticos Educação Física (Saberes) Formação Prossional Técnico em Massagem Técnico Desportivo Instrutores de Ginástica (professoras primárias) Figura 6 - Formação Profi ssional em Educação Física: O programa de 1939 Fonte: Souza Neto et al, 2004 Em 1945, há uma revisão do currículo de 1939 e promove algumas mudanças relacionadas a carga horária dos cursos e disciplinas pedagógicas necessárias. Mas, podemos reparar que a Educação Física já começa a dar atenção ao fenômeno esportivo ao se formar o técnico desportivo. Estudo dos processos pedagógico (psicologia aplicada) Estudo da admnistração do trabalho humano em instituições (organização; legislação) Estudo dos fatos e costumes relacio- nados às tradições dos povos na área dos exercícios físicos e motores Professor de Educação Física Instrutor de Ginástica Técnico em Massagem Estudo da vida humana em seus aspectos celular, anatômico, funcional, mecânico, preventivo Estudo dos exercícios físicos Estudo do comportamento humano Estudos dos exercícios motores artísticos Educação Física (Saberes) Formação Prossional Médico Especializado em Educação Física Instrutores de Ginástica (professoras primárias) Estudo dos exercícios motores lúdicos e agonísticos Técnico Desportivo Figura 7 - Formação Profi ssional em Educação Física: O programa de 1945 Fonte: Souza Neto et al, 2004 21 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da Educação Física na Sociedade Moderna Entretanto, até então, o curso de Educação Física não se configura nos moldes de nível superior, mas de um curso técnico, afinal para concorrer a uma vaga do curso de Educação Física o pré-requisito era a conclusão do ensino secundário fundamental (antigo ginásio). Note que ao final dessa Unidade começamos a ver a intervenção de um agente que trabalha com a Ginástica/Educação Física. Porém, esse agente da Educação Física tem uma formação militar ou não se consegue status de nível universitário na sua formação. O que complica para a área nesse sentido é o fato da Educação Física não conse- guir produzir seus conhecimentos, uma vez que foi pensada por médicos e militares e o seu teorizar carece de mais cientificidade. Portanto, temos que compreender que o campo acadêmico da Educação Física justificará o surgimento de um agente próprio da área com formação científica que fundamentará a sua intervenção na realidade social. Tudo isso tem relação com o Esporte que se confundirá com a área e será o tema da próxima Unidade. 22 23 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros O Amor por Princípio, a Ordem por Base, o Progresso por Fim”: As Propostas do Apostolado Positivista para a Educação Brasileira (1870-1930) SILVA, J. C. “O Amor por princípio, a ordem por base, o progresso por fim”: As propostas do Apostolado Positivista para a educação brasileira (1870-1930). 2008. 227f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008. Vídeos Movimento Higienista https://youtu.be/5dlUnR8IFIA Entre Rios Entre Rios: Um excelente documentário sobre a urbanização de São Paulo, com um enfoque geográfico-histórico, permeando também questões sobre meio ambiente, política. https://youtu.be/Fwh-cZfWNIc Leitura Educação Física Higienista: Discursos Historiográficos SILVA, A. C. Educação Física higienista: discursos historiográficos. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. https://goo.gl/ivRtpH 23 UNIDADE O Desenvolvimento do Campo Acadêmico da EducaçãoFísica na Sociedade Moderna Referências CAPARROZ, F. E. Entre a Educação Física na escola e a Educação Física da escola. 2. ed., Campinas: Autores Associados, 2005. SOARES, C. L. Educação Física: raízes europeias e Brasil. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2004. (Coleção educação contemporânea). SOARES, C. L. et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. SOUZA NETO, S.; ALEGRE, A. N.; HUNGER, D.; PEREIRA, J. M. A formação do profissional de educação física no Brasil: uma história sob a perspectiva da legislação federal no século XX. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v.25, n.2, p.113-128, jan, 2004. SURDI, A. C.; KUNZ, E. O pensamento moderno e a crise na Educação Física. Roteiro, Joaçaba, v. 32, n. 1, p. 7-36, jan./jun. 2007. 24
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