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A PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL 2012 Para publicação 2014

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A PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL 
 
Discente orientado: Luciano Soares da Cunha (Curso de Bacharelado em Direito na 
Famig – Faculdade Minas Gerais) 
Orientadora: Profa. Lúcia Maria Almendra Correia Lima, MSc 
 
 
RESUMO 
O presente trabalho desenvolve sucinto entendimento da relação da Psicologia Jurídica com o 
Direito. Procura definir o que seja Psicologia Jurídica. Percorre breve histórico da Psicologia 
no mundo e no Brasil, e evidencia, em face das transformações científicas, uma mudança na 
forma de tratar o sujeito de direito, o paciente, o cliente. Atesta que a Psicologia se faz 
presente em quase todas as áreas do Direito, contribuindo para uma melhor humanização nas 
relações entre os indivíduos e soluções dos conflitos. Esclarece que doença mental e 
psicopatia não são a mesma coisa, o que para o Direito é relevante, principalmente para a 
decisão em torno de se responsabilizar o agente infrator. 
Palavras-chave: 
Psicologia Jurídica; Psicologia e o Direito; Transtornos Mentais; Direito Penal 
 
 
ABSTRACT 
This paper develops succinct understanding of the relationship of Forensic Psychology to the 
Law. It seeks to define what is legal psychology, Scrolls brief history of psychology in the 
world and in Brazil, and shows, in the face of scientific transformations, a change in the way 
of treating the subject of law, the patient, the client, Certifies that Psychology is present in 
almost all areas of law, contributing to better humanize relations between individuals and 
solution of conflicts. Clarifies that psychopathy and mental illness are not the same thing, 
which is relevant to the law mainly for the decision about whether to blame the offending 
agent. 
Key-words: 
Forensic Psychology; Psychology and law; Mental Disorders; Criminal Law 
 
 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A Psicologia Jurídica é a área da Psicologia que está em correlação com o Direito, tanto nas 
questões teóricas como práticas. No princípio, o psicólogo jurídico apenas servia para 
formular laudos baseados em diagnóstico e testes psicológicos para ajudar a instituição 
judiciária a tomar uma decisão. Porém, no decorrer do tempo surgiu a necessidade de mudar 
este modelo de atuação e, dessa maneira, se buscou novas formas de intervenção, visando o 
bem estar do individuo, focando a preservação da sua cidadania. 
 
O objeto de estudo da Psicologia Jurídica, assim como toda a Psicologia, são os 
comportamentos que ocorrem ou que possam vir a ocorrer, porém não todo e qualquer tipo de 
comportamento. Ela atua apenas nos casos onde se faz necessário uma inter-relação entre o 
Direito e a Psicologia, como no caso de adoções, violência doméstica, novas maneiras de 
atuar em instituições penitenciárias, auxiliando nos diagnósticos de sujeitos portadores de 
transtornos mentais e ajudando os magistrados para uma sentença mais justa. 
 
A Psicologia procura entender o comportamento humano, o qual, para o Direito, é quase 
sempre determinado e padronizado por normas, ao diagnosticar uma situação entre as partes 
de uma lide e notando que alguns aspectos fogem ao círculo do Direito, mas que estão ao 
alcance da Psicologia, esta será aplicada. Por exemplo, em caso de dúvida quanto à presença 
de transtornos de personalidade ou mesmo para determinar a capacidade de um indivíduo. O 
psicólogo, no direito de família, tem espaço obrigatório por lidar com uma instituição social 
importante, que é a base para o exercício da cidadania. Favorece e fortalece a família social-
afetiva, ressaltando a valorização da afetividade nas relações familiares. 
 
Coopera na justa e pacífica aplicação do Direito, buscando sempre visão jurídica humanizada 
e construtiva, pesquisa a fundo os processos psíquicos do homem delinquente e quais os 
motivos que o levaram a delinquir, aborda os processos psicopatológicos da conduta 
delituosa, apresenta-se ainda como psicologia social ao investigar os aspectos interpessoais do 
delito, traça os vários tipos de delinquentes e auxilia no ampara a menores infratores. 
Corrobora ainda, a Psicologia Jurídica, com a possibilidade de descobrir falso testemunho e 
autoridade dos delitos; colabora na formação da convicção do juiz sobre a veracidade ou 
falsidade do depoimento do delinquente; analisa documentos e fatos em função da 
3 
 
personalidade de seus autores e da idade, do sexo e do estado de saúde dos mesmos; indaga as 
motivações psicológicas das decisões judiciais. 
 
1. A PSICOLOGIA JURÍDICA 
 
A Psicologia Jurídica, atualmente, tem contribuído para o melhor desempenho das atividades 
Jurídicas e é por isso que: “a Psicologia Jurídica é a Psicologia aplicada ao melhor exercício 
do Direito” (MYRA Y LOPES, 2009, p.17). Este autor relata que a atuação da Psicologia no 
Direito, por motivos da própria ciência psicológica, é tímida: 
 
Infelizmente, o estado atual da ciência psicológica não permite utilizar seus 
conhecimentos em todos os aspectos do direito e isso faz com que a 
psicologia jurídica se encontre hoje limitada a determinados capítulos e 
problemas legais que são em ordem cronológica: 1º, a psicologia do 
testemunho; 2º, a obtenção da evidência delituosa (confissão com provas); 
3º, a compreensão do delito, isto é, a descoberta da sua motivação 
psicológica; 4º, informação forense a seu respeito; 5º, a reforma moral do 
delinquente, prevendo possíveis delitos ulteriores, A estes pode acrescentar-
se um sexto capítulo, de higiene mental, que suscita o problema profilático 
em seu mais amplo sentido, isto é, como evitar que o indivíduo chegue a 
estar em conflito com as leis sociais, Sendo o último, sem dúvidas o mais 
importante. (MYRA Y LOPES, 2009, p. 17,18) 
 
Encontra-se na Wikipédia, a enciclopédia livre, uma definição mais objetiva do que seja a 
Psicologia Jurídica: 
 
A psicologia jurídica, é uma vertente de estudo da Psicologia, consistente na 
aplicação dos conhecimentos psicológicos aos assuntos relacionados ao 
Direito, principalmente quanto à saúde mental, quanto aos estudos sócio-
jurídicos dos crimes e quanto a personalidade da Pessoa Natural e seus 
embates subjectivos. Por esta razão, a Psicologia Forense tem se dividido em 
outros ramos de estudo, de acordo com as matérias a que se referirem 
(wikipedia. 
 
 
Contribui ainda para esta senda, a Mestre e professora Leal (2008): 
 
Conceitualmente, a Psicologia Jurídica corresponde a toda aplicação do 
saber psicológico às questões relacionadas ao saber do Direito. A Psicologia 
Criminal, a Psicologia Forense e, por conseguinte, a Psicologia Judiciária 
estão nela contidas, toda e qualquer prática da Psicologia relacionada às 
práticas jurídicas podem ser nomeadas como Psicologia Jurídica. 
O termo Psicologia Jurídica é uma denominação genérica das aplicações da 
Psicologia relacionadas às práticas jurídicas, enquanto Psicologia Criminal, 
4 
 
Psicologia Forense e Psicologia Judiciária são especificidades aí discutindo 
as interfaces entre a Psicologia e o Direito (LEAL, 2008, p.180) 
 
 
A Psicologia Jurídica, no contexto jurídico, atua em várias áreas de trabalho, como, por 
exemplo, na orientação e no acompanhamento dos indivíduos envolvidos em litígio, 
contribuindo para políticas preventivas. Também trabalha no estudo do efeito do judiciário 
sobre o indivíduo, na pesquisa de comportamentos do delinquente. 
 
Por meio da contribuição da Psicologia Jurídica ou Psicologia Forense podem ser esclarecidos 
ao Magistrado os casos de imputabilidade/inimputabilidade, interdição, dano psíquico, disputa 
de guarda de filhos e etc. Ainda na avaliação psicológica forense são investigados aspectos 
relativos à saúde/doença psíquica, capacidade/incapacidade cognitivo-emocional, efeitos das 
penas e decisões judiciais e Medidade Segurança. 
 
Um dos trabalhos da Psicologia Jurídica no campo do Direito é a perícia psicológica que se 
define como um exame feito por um especialista de determinado assunto com o intuito de 
auxiliar os Magistrados no esclarecimento de questões específicas contribuindo em suas 
decisões e sentenças. 
 
2. BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA E DA INTRODUÇÃO DA 
PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL 
 
Seria imprudente querer limitar o início da Psicologia Jurídica no Brasil, em razão de não 
existir um único marco histórico que defina esse momento. Contudo, por meio de referências 
históricas documentadas tem-se como relatar como a Psicologia e o Direito aproximaram-se. 
 
A história da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica tem seu início no 
reconhecimento da profissão, na década de 1960. Tal inserção deu-se de forma gradual e 
lenta, muitas vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários. Os primeiros 
trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos e 
adolescentes infratores da lei, Roviski¹ (2002, apud LAGO, 2009). 
_______________________________________ 
¹Rovinski, S. L. R. (2002). La psicologia jurídica em Brasil. In J. Urra. Tratado de psicología forense (pp.661-
665). Madrid: Siglo Veintiuno de España Editores 
5 
 
No decorrer da história diferente foram os cuidados prestados aos “loucos” criminosos, pelas 
mais variadas categorias profissionais. No Brasil, apesar do reconhecimento do psicólogo se 
dá na década de 60 do século passado, antes já atuavam no campo do Direito. Sobre tal tema: 
 
O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe, ainda que não 
oficialmente, em alguns estados brasileiros já pelo menos 40 anos. Contudo, 
foi a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal n° 
7.210/84), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela 
instituição penitenciária. Entretanto, a história revela que essa preocupação 
com a avaliação do criminoso, principalmente quando se trata de um doente 
mental, é bem anterior à década de 1960 do século XX. Durante a 
Antiguidade e a Idade Média a loucura era um fenômeno bastante privado. 
Ao “louco” era permitido circular com certa liberdade, e os atendimentos 
médicos restringiam-se a uns poucos abastados. A partir de meados do 
século XVII, a loucura passou a ser caracterizada por uma necessidade de 
exclusão dos doentes mentais. Criaram-se estabelecimentos para internação 
em toda a Europa, nos quais eram encerrados indivíduos que ameaçassem a 
ordem da razão e da moral da sociedade (LAGO, 2009, p. 2). 
 
 
Mas foi com Pinel, a partir do século XVII, na França, que um novo tratamento passa a ser 
auferido aos sujeitos portadores de transtornos mentais. Liberando os doentes de suas cadeias 
e dando assistência médica a esses seres segregados da vida em sociedade. 
 
Após esse período, os psicólogos clínicos começaram a colaborar com os psiquiatras nos 
exames psicológicos legais e em sistemas de justiça juvenil. Com o advento da Psicanálise, a 
abordagem frente à doença mental passou a valorizar o sujeito de forma mais compreensiva e 
com um enfoque dinâmico. Com isso, o psicodiagnóstico ganhou força, deixando de lado um 
enfoque eminentemente médico para incluir aspectos psicológicos, segundo Pavon (1997, 
citado por LAGO, 2009). 
 
Os pacientes passaram a ser classificados em duas grandes categorias: de maior ou menor 
severidade, ficando o psicodiagnóstico a serviço do último grupo, inicialmente. Desta forma, 
os pacientes menos severos eram encaminhados aos psicólogos, para que esses profissionais 
buscassem uma compreensão mais descritiva de sua personalidade. Os pacientes de maior 
severidade, com possibilidade de internação, eram encaminhados aos psiquiatras Rovinski² 
(1998, apud LAGO, 2009). Balu³ (1984, apud LAGO, 2009). 
___________________________________________________________________________ 
² Rovinski, S. L. R. (1998). A perícia psicológica. Aletheia, 7, 55-63. 
³ Balu, T. H. (1984). The psychologist as expert witness. New York: John Wiley & Sons. 
 
6 
 
Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma prática voltada para a realização de 
exames e avaliações, buscando identificações por meio de diagnósticos. Essa época, marcada 
pela inauguração do uso dos testes psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como 
um testólogo, como na verdade o foi na primeira metade do século XX. Psicólogos da 
Alemanha e França desenvolveram trabalhos empírico-experimentais, sobre o testemunho e 
sua participação nos processos judiciais, conforme Gromth-Marnat4 (1999, apud LAGO, 
2009). 
 
Estudos acerca dos sistemas de interrogatório, os fatos delitivos, a detecção de falsos 
testemunhos, as amnésias e os testemunhos de crianças impulsionaram a ascensão da então 
denominada Psicologia do testemunho, Garrido (1994, apud LAGO, 2009). Atualmente, o 
psicólogo utiliza estratégias de avaliação psicológica, com objetivos bem definidos, para 
encontrar respostas para solução de problemas. Os testes podem ser um passo importante do 
processo, mas constitui apenas um dos recursos de avaliação, segundo Cunha5 (2000, apud 
LAGO, 2009). Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através 
da área criminal e a importância dada à avaliação psicológica. 
 
Outro campo em ascensão até os dias atuais é a participação do psicólogo nos processos de 
Direito Civil. No estado de São Paulo, o psicólogo fez sua entrada no tribunal informal de 
Justiça por meio de trabalhos voluntários com famílias carentes em 1979. A entrada oficial se 
deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão de psicólogos 
dentro de seus quadros, de acordo com Shine6 (1998, apud LAGO, 2009). Ainda dentro de 
Direito Civil, destaca-se o Direito da Infância e Juventude, área em que o psicólogo iniciou 
sua atuação no então denominado Juizado de Menores. Apesar das particularidades de cada 
estado brasileiro, a tarefa dos setores de psicologia era, basicamente, a perícia psicológica nos 
processos cíveis, de crime e, eventualmente, nos processos de adoção. 
 
Com a implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, o Juizado de 
Menores passou a ser denominado Juizado da Infância e Juventude. Com isso lembra Lago 
(2009) que o trabalho do psicólogo foi ampliado, envolvendo atividades na área pericial, 
acompanhamentos e aplicação das mediadas de proteção ou medidas socioeducativas. Essa ex 
4 Garrido, E. M. (1994). Relaciones entre la psicologia y la ley. In R. Sobral, R. Arece & A. L. Prieto. Manual de psicologia 
jurídica. Barcelona: Paidós. 
5 Cunha, J. A. (2000). Psicodiagnóstico - V. Porto Alegre: Artes Médicas. 
6 Shine, S. (1998). Contribuições da psicologia para a justiça nas varas de família. Aletheia, 7, 93-99. 
7 
 
pansão do campo de atuação dos profissionais em instituições judiciárias deu-se mediante a 
legalização dos cargos pelos concursos públicos. 
 
Em relação à área acadêmica, cabe citar que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi 
pioneira em relação à Psicologia Jurídica. Foi criada, em 1980, uma área de concentração 
dentro do curso de especialização em Psicologia Clínica, denominada “Psicodiagnóstico para 
Fins Jurídicos”. Seis anos mais tarde, passou por uma reformulação e tornou-se um curso 
independente do Departamento de Psicologia Social (LAGO, 2009) 
 
Atualmente, não são todos os cursos de Psicologia que oferecem a disciplina de Psicologia 
Jurídica. Já nos cursos de Direito, ainda que a carga horária também seja reduzida, a 
disciplina já se tornou de caráter compulsório. “Como pode ser evidenciado, o Direito e a 
Psicologia se aproximaram em razãoda preocupação com a conduta humana”. (LAGO, 2009, 
p. 5) 
 
3. CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA AO DIREITO 
A Psicologia Jurídica como uma ciência autônoma, produz conhecimento que se relaciona 
com o conhecimento produzido pelo Direito, o que possibilita que haja uma interação, um 
diálogo entre essas ciências. O psicólogo jurídico atua fazendo avaliações psicológicas, 
perícias, orientações, acompanhamento, contribui para políticas preventivas, estuda os efeitos 
do jurídico sobre a subjetividade do indivíduo, entre outras formas de atuação. 
Segundo Zimerman e Coltro o Direito e a Psicologia se relacionam com facilidade por terem 
o mesmo objeto de estudo. Se não vejamos: 
 
O Direito e a Psicologia são ciências que, em última análise, têm o mesmo 
objeto de estudo, qual seja: o homem e as relações humanas. Enquanto o 
Direito se ocupa com a normatização dos comportamentos humanos que 
fazem parte das relações sociais, tratando de regulamentar as leis do 
convívio, a Psicologia busca uma compreensão da inter-relação de fatores 
etiológicos, psicológicos, biológicos, socioeconômicos e culturais, entre 
outros, determinantes dos comportamentos chamados patológicos. Com os 
conhecimentos advindos desses estudos, a psicologia propõe formas de 
abordagem e tratamento das patologias mentais. Assim sendo, constitui-se 
em importante ciência auxiliar do Direito ao influir com suas compreensões 
a respeito do comportamento humano, traduzidas em perícias psiquiátricas, 
isto ocorre tanto na evolução de processos civis ou criminais, fornecendo tais 
tipos de provas técnicas, bem como após sentenças prolatadas, como é o 
caso do atendimento psicológico aos doentes mentais delinquentes em 
8 
 
cumprimento de medidas de segurança com a finalidade de – cessada a 
periculosidade – devolvê-los ao convívio social amplo (ZIMERMAN; 
COLTRO, 2010, p.361). 
 
 
Quando se trata de auxiliar a Psicologia Jurídica, para melhor contribuir para o exercício do 
Direito, tem-se a direção metodológica do condutismo de J. Watson, mencionada por Emílio 
Myra y Lopez: 
 
O condutismo é um auxiliar precioso para a psicologia jurídica, já que 
permite obter dados e juízos sem contar com o testemunho subjetivo do 
delinquente, do pleiteante ou da testemunha; em uma palavra, permite 
trabalhar sem nada para preocupar-se com o que os figurantes do conflito 
jurídico “dizem”; em troca, registra com singular precisão o que “fazem”. 
Desse ponto de vista, os modernos métodos para a descoberta objetiva das 
“mentiras”, os testes ou provas para a determinação de aptidões intelectuais 
e motoras, a técnica de registro das alterações emocionais, o estudo 
experimental da eficácia dos diferentes “castigos”, a valorização das 
influências externas (clima, alimentação, trabalho, meio social etc.) na 
produção dos diversos delitos, as regras para a observação de “indícios” 
humanos e para o reconhecimento objetivo dos criminosos etc., são tantas 
outras contribuições do condutismo a que a psicologia jurídica deve 
agradecer (MYRA Y LOPEZ, 2009, p.9). 
 
Observações importantes podem ser extraídas do artigo apresentado por uma aluna de pós-
graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: 
Na Psicologia Jurídica há uma predominância das atividades de confecções 
de laudos, pareceres e relatórios, pressupondo-se que compete à Psicologia 
uma atividade de cunho avaliativo e de subsídio aos magistrados. Cabe 
ressaltar que o psicólogo, ao concluir o processo da avaliação, pode 
recomendar soluções para os conflitos apresentados, mas jamais determinar 
os procedimentos jurídicos que deverão ser tomados. Ao juiz cabe a decisão 
judicial; não compete ao psicólogo incumbir-se desta tarefa. É preciso deixar 
clara esta distinção, reforçando a ideia de que o psicólogo não decide, apenas 
conclui a partir dos dados levantados mediante a avaliação e pode, assim, 
sugerir e/ou indicar possibilidades de solução da questão apresentada pelo 
litígio judicial. Contudo, nem sempre o trabalho do psicólogo jurídico está 
ligado à questão da avaliação e consequente elaboração de documentos. Os 
ramos do Direito que frequentemente demandam a participação do psicólogo 
são: Direito da Família, Direito da Criança e do Adolescente, Direito Civil, 
Direito Penal e Direito do Trabalho. Cabe observar que o Direito de Família 
e o Direito da Criança e do Adolescente fazem parte do Direito Civil. Porém, 
como na prática as ações são ajuizadas em varas diferenciadas, optou-se por 
fazer essa divisão, por ser também didaticamente coerente (LAGO, 2009, p. 
3) 
 
Segundo Leal (2008) o Psicólogo está inserido nas seguintes áreas do Direito: 
9 
 
 
A Psicologia Jurídica abrange as seguintes áreas de atuação: Psicologia 
Jurídica e as questões da Infância e Juventude (adoção, conselho tutelar, 
criança e adolescente em situação de risco, intervenção junto a crianças 
abrigadas, infração e medidas socioeducativas); Psicologia Jurídica e o 
direito de Família (separação, paternidade, disputa de guarda, 
acompanhamento de visitas); Psicologia Jurídica e Direito Civil (interdições, 
indenizações, dano psíquico); Psicologia Jurídica e o Direito Penal (perícia, 
insanidade mental e crime, delinquência); Psicologia Judicial ou do 
Testemunho (estudo do testemunho, falsas memórias); Psicologia 
Penitenciária (penas alternativas, intervenção junto ao recluso, egressos, 
trabalho com agentes de segurança); Psicologia Policial e das Forças 
Armadas (seleção e formação da polícia civil e militar, atendimento 
psicológico); Mediação (mediador nas questões de Direito de Família e 
Penal); Psicologia Jurídica e Direitos Humanos (defesa e promoção dos 
Direitos Humanos); Proteção a Testemunhas (existem no Brasil programas 
de Apoio e Proteção a Testemunhas); Formação e Atendimento aos Juízes e 
Promotores (avaliação psicológica na seleção de juízes e promotores, 
consultoria e atendimento psicológico aos juízes e promotores); Vitimologia 
(violência doméstica, atendimento a vítima de violência e seus familiares) e 
Autópsia Psicológica (avaliação de características psicológicas mediante 
informações de terceiros). No Brasil há uma concentração de psicólogos 
jurídicos atuando na Psicologia penitenciária e nas questões relacionadas à 
família, à infância e à juventude. (LEAL, 2008, p.182, 183) 
 
 
O psicólogo jurídico deve estar apto para atuar no âmbito da Justiça considerando a 
perspectiva psicológica dos fatos jurídicos; colaborar no planejamento e execução de políticas 
de cidadania, Direitos Humanos e prevenção da violência; fornecer subsídios ao processo 
judicial; além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das leis (LEAL, 2008). 
 
Pelo exposto, entende-se que a Psicologia Jurídica contribui para o Direito uma vez que a 
aplicação das leis e normas que implicam a conduta humana, diferentes tipos de 
comportamento devem ser avaliados em termos das suas consequências. Estes mesmos 
comportamentos devem ser avaliados de acordo com fatores cognitivos e motivacionais que 
sustentam a conduta do indivíduo. Um exemplo é a avaliar o grau de capacidade mental de 
um sujeito que praticou um crime classificando-o como capaz ou não de responder por esse 
delito, uma vez que a Psicologia Jurídica incide especificamente sobre os aspectos cognitivos 
e comportamentais e de como estas ações afetam a terceiros. 
 
 
10 
 
4. DOENÇA MENTAL/PERTUBAÇÃO DA SAÚDE MENTAL E O DIREITO: 
INIMPUTALIDADE PENAL E A DINÂMICA PSICOSSOCIAL DAS DECISÕES 
JUDICIAIS 
 
No senso popular tende-se a julgar a sanidade da pessoa, de acordo com seu comportamento, 
de acordo com sua adequação às conveniências socioculturais como, por exemplo, a 
obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção, a postura sexual, etc.Doença Mental pode ser entendida como uma variação mórbida do normal, variação esta 
capaz de produzir prejuízo na performance global da pessoa, é o que mostra o trecho do artigo 
de Ballone (2008): 
 
Baseando na organização Mundial de Saúde – OMS – ONU, entendem-se 
como transtornos Mentais e Comportamentais as condições 
caracterizadas por alterações mórbidas do modo de pensar e/ou do humor 
(emoções), e /ou por alterações mórbidas do comportamento associadas à 
angústia expressiva e/ou deterioração do funcionamento psíquico global. Os 
transtornos Mentais e Comportamentais não constituem apenas variações 
dentro da escala do “normal”, sendo antes, fenômeno claramente anormais 
ou patológicos (BALLONE, 2008, p.2) 
 
O sujeito acometido por uma doença mental fica evidenciado numa sociedade, é o que 
corrobora Fiorelli (2009): um sujeito vítima do transtorno mental não fica isento de avaliações 
pela sociedade que o rodeia, pois “o mesmo fica impossibilitado de atuar dentro de padrões de 
normalidade, aceitos como tais no ambiente do indivíduo” (FIORELLI; MANGINI, 2009, p. 
94). Atenção! Pois nem todo comportamento que foge aos padrões de uma cultura enquadrará 
em transtorno mental, “para serem categorizadas como transtornos, é preciso que essas 
anormalidades sejam persistentes ou recorrentes e que resultem em certa deterioração ou 
perturbação do funcionamento pessoal, em uma ou mais esferas da vida” (BALLONE, 2008, 
p. 2). 
 
O mesmo autor, último citado, reforça a ideia do cuidado em diagnosticar um paciente no 
quadro de “doente” mental, porque antes disso há vários sinais e sintomas a serem 
observados. Contribui em seu texto para este entendimento: 
 
Os transtornos Mentais e Comportamentais se caracterizam também por 
sintomas e sinais específicos e, geralmente, seguem um curso natural mais 
ou menos previsível, a menos que ocorram intervenções, nem toda 
11 
 
deterioração humana denota distúrbio mental. As pessoas podem sofrer 
angústia em virtude de circunstâncias pessoais ou sociais e, a menos que 
sejam satisfeitos todos os critérios necessários para os diagnósticos de 
determinado distúrbio, essa angústia não constituirá distúrbio mental, Há 
diferença, por exemplo, entre um estado afetivo deprimido e depressão 
doença, o primeiro surgindo como resposta a uma determinada circunstância 
estressante e a outra como uma doença franca. Os transtornos mentais e de 
comportamento, considerados pela Classificação Internacional das doenças 
da OMS da ONU (CID.10) obedecem descrições clínicas e normas de 
diagnóstico e compõem uma lista bastante completa. (BALLONE, 2008, p. 
3) 
 
Há riscos em confundir o que seja “doente” mental, por isso Fiorelli (2009) contribui para tal 
evidência: 
O desvio ou conflito social sozinho, sem comprometimento do 
funcionamento do indivíduo, não deve ser incluído em transtorno mental. Há 
comprometimento quando: funções mentais superiores recebem 
interferência, dificultando ou afetando a atuação (por exemplo, o indivíduo 
não consegue lembrar-se de compromissos); atividades da vida diária, 
rotineiras, usualmente necessárias, sofrem comprometimento em algum 
grau. (FIORELLI; MANGINI, 2009, p.94) 
 
Qual a importância da “loucura” no cenário Jurídico? Segundo o mestre Pereira (2009, apud 
ZILMERMAN e COLTRO, 2009, p. 555) “A loucura interessa ao Direito na medida em que 
ela é elemento determinante para a capacidade, capacidade para praticar atos da vida civil. 
Atos que fazem fatos [...] pela vontade, esta, por sua vez, por fatores de ordem psíquica”. 
 
Nos mais variados ordenamentos Jurídicos, há um tratamento diferenciado aos “loucos”, no 
Brasil não é diferente é o que demonstra ZILMERMAN e COLTRO (2010): 
 
No Brasil, como na maioria dos outros países, o louco recebe tratamento 
diferenciado dos demais cidadãos, na esfera penal “não pratica crime” 
(inimputável- art. 26 do Código Penal Brasileiro); ou sua pena pode ser 
reduzida de um a dois terços, se em virtude de perturbação de saúde mental 
ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era 
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se 
de acordo com esse entendimento (parágrafo único do artigo 26); no âmbito 
civil, é incapaz para prática de atos da vida civil, ou seja, não pode fazer 
negócios, casar, comprar, vender, segundo artigo 3° do Código Civil 
Brasileiro de 2002 quando declarados judicialmente incapazes (interditados), 
passando a ser curatelado. (ZIMERMAN; COLTRO, 2010, p.556) 
 
Tratando do assunto, Arruda (2009, apud MYRA E LOPEZ, p. 553) da Clínica Psiquiátrica 
das Universidades do Brasil e da Bahia, em contribuição ao livro de Myra y Lopez alude a 
que: 
12 
 
 
O atual Código penal adotou uma atitude acética ao tomar por base o método 
biopsicológico, o qual, sem desprezar o critério biológico que condiciona a 
responsabilidade à normalidade mental, exige que a responsabilidade (que se 
baseia na capacidade de culpa moral) só se exclua se o agente, em razão da 
alteração da saúde mental, era no momento incapaz de entendimento ético-
jurídico e autodeterminação. As causas biológicas que excluem a 
responsabilidade são a doença mental, o desenvolvimento mental incompleto 
ou retardado (oligofrenias), a embriaguez por álcool ou substância de efeitos 
análogos plena e acidental, a idade menor de 18 anos. Por outro lado, a 
responsabilidade subsiste quando a causa biológica não suprime totalmente a 
capacidade de entendimento, embora ao juiz seja autorizado a reduzir a pena. 
Desta maneira, o código procurou superar a controvérsia da responsabilidade 
diminuída, já que assim denominada não era senão responsabilidade com 
menor culpabilidade, no dizer de N. Hungria, responsabilidade e 
irresponsabilidade são antônimos, como a vida e a morte. Não há um meio-
termo entre elas. Dentro desta orientação, as personalidades anormais (mal 
denominadas psicopáticas), isto é, pessoas com decadência do senso ético, 
baixa do autocontrole instintivo e outras anomalias, quando muito podem se 
valer da redução facultativa da pena, por não possuir a plena capacidade de 
entendimento ou de determinação. (2009, ARRUDA apud MYRA E LOPEZ, 
2009, p. 553) 
 
 
O psicólogo e bacharel em Direito Confessor (2011) lança para um diálogo interdisciplinar 
um assunto no mínimo polêmico: como lidar com o sujeito portador de Transtorno de 
Personalidade Antissocial frente ao artigo 26 do Código Penal? Vejamos sua contribuição para 
o assunto: 
 
No capítulo da Psicopatologia, um transtorno se destaca pelas implicações 
que pode suscitar no campo da ciência jurídico-penal. Trata-se do transtorno 
de personalidade antissocial (TPAS), cuja característica fundamental é a 
existência de um padrão invasivo de desconsideração e violação aos direitos 
alheios. Quando inserimos este tema ao campo jurídico, a questão que se 
impõe refere-se a qual tratamento deve-se dispensar ao portador de tal 
transtorno autor de ilícito penal, porquanto se é certo que se o mesmo, nessas 
circunstâncias, parece comportar-se dentro dos padrões do que se 
convencionou chamar de normalidade, não é menos certo que seu 
comportamento é significativamente condicionado pela sua patologia 
psiquiátrica. O impasse ganha contornos interessantes se cogita acerca de sua 
imputabilidade penal. 
O artigo 26 do Código Penal determina que é isento de pena o agente que é 
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de comportar-se 
conforme tal entendimento, em razão de doença mental ou de 
desenvolvimento mental incompleto ou retardado. É necessário salientar que 
o agente portador de transtorno de personalidade antissocial não perde a 
capacidade de compreensão do caráter ilícito de determinado 
comportamento transgressor. Todavia, por apresentar um comportamentoimpulsivo, é possível conjeturar acerca da impossibilidade que essas pessoas 
apresentam de comportar-se segundo esse entendimento. De qualquer forma, 
13 
 
estaria incluído na regra da inimputabilidade penal (ou semi-imputabilidade) 
estampada no artigo 26 (ou no seu parágrafo único) do Código Penal, sendo 
possível raciocinar acerca da sujeição do agente nessas condições a uma 
medida de segurança. (CONFESSOR, 2011, p. 2). 
 
 
Relacionado à dinâmica psicossocial das decisões judiciais reproduzimos uma reportagem 
noticiada pela repórter Menezes (2006). 
A expansão do serviço psicossocial aplicado à Justiça tem influenciado 
estudantes e profissionais em direção à Psicologia Jurídica. Para 
fundamentar a importância e explicar "A contribuição do psicólogo no 
Judiciário", o Centro de Apoio Psicossocial do Tribunal de Justiça de 
Pernambuco (CAP/ TJPE) foi convidado pela Faculdade de Ciências 
Humanas de Pernambuco (Sopece) para ministrar uma palestra sobre o tema. 
A chefe do CAP, psicóloga Mônica Rocha, conduziu o debate, que ocorreu 
na última segunda-feira, dia 8 de maio de 2006. A exposição foi assistida 
pelos alunos de Psicologia Jurídica do curso de Direito. O professor da 
disciplina, Silvio Santos, que também é servidor do TJPE, intermediou o 
debate. De acordo com Mônica, a função majoritária do CAP, além do papel 
de orientar, é fornecer pareceres e subsídios para auxiliar os juízes em suas 
decisões. "Nosso diagnóstico identifica conflitos e concilia noções 
psicológicas com princípios jurídicos. Lembrando que não existe parecer 
definitivo: todo ele é situacional", advertiu. A contribuição do psicólogo nas 
Varas de Família pautou o discurso da psicóloga do TJPE. O motivo, 
segundo ela, é porque "cerca de 90% dos processos em que o CAP atua 
provém dessas varas". Além das Varas de Família, o psicólogo pode 
trabalhar nas Varas de Crime, Justiça Terapêutica, Juizados Especiais, Varas 
da Infância e Juventude e Varas de Penas Alternativas. Mônica Rocha ainda 
ressaltou a maior ocorrência de processos relativos à guarda de filhos - que 
também chegam a 90% - em comparação com os feitos sobre divórcios, 
visitas ou pensão alimentícia, por exemplo. A palestrante resumiu a 
importância da Psicologia Jurídica com uma citação da especialista Leila 
Torraca: "Todo o Direito está impregnado de componentes psicológicos, o 
que justifica a colaboração da Psicologia como propósito da obtenção da 
eficácia jurídica". Um dos casos citados por Mônica Rocha elucida a função 
social da Psicologia Jurídica. O Ministério Público desejava subsídios para a 
possível interdição de um idoso, e, para isso, enviou um pedido de 
investigação ao CAP. Entretanto, a denúncia se revelou infundada. O idoso, 
com mais de 90 anos, residia sozinho e se mostrou em plena capacidade. 
"Uma injustiça teria sido cometida sem a averiguação. A Psicologia serve 
para atuar civilmente", disse. (MENEZES, 2006, p. 2,3). 
 
5. DISTINÇÃO ENTRE PSICOPATIA E DOENÇA MENTAL 
 
“é preciso saber o seguinte: a maldade existe. Nós, latinos, afetivos, 
passionais, temos dificuldade de admitir que existem pessoas más” 
 
 Ana Beatriz Barbosa Silva. 
 
14 
 
A psiquiatra Silva em entrevista, à ÉPOCA, define de forma bem simples o que seja 
psicopata/psicopatia, descreve algumas características do psicopata e ainda pincela sobre o 
que seja o doente mental: 
 
Psico quer dizer mente; pathos, doença. Mas o psicopata não é um doente 
mental da forma como nós o entendemos. O doente mental é o psicótico, que 
sofre com delírios, alucinações e não tem ciência do que faz. Vive uma 
realidade paralela. Se matar, terá atenuante. O psicopata sabe exatamente o 
que está fazendo. Ele tem um transtorno de personalidade. É um estado de 
ser no qual existe um excesso de razão e ausência de emoção. Ele sabe o que 
faz, com quem e por quê. Mas não tem empatia, a capacidade de se pôr no 
lugar do outro. Os psicopatas nascem com um cérebro diferente. Os seres 
humanos têm o chamado sistema límbico, a estrutura cerebral responsável 
por nossas emoções. É uma espécie de central emocional, o coração da 
mente. Em 2000, dois brasileiros, o neurologista Ricardo Oliveira e o 
neurorradiologista Jorge Moll, descobriram a prova definitiva dessa 
diferença da mente psicopata, por meio da chamada ressonância magnética 
funcional, que mostra como o cérebro funciona de acordo com diferentes 
atividades. Nesse exame, mostraram imagens boas (belezas naturais, cenas 
de alegria) e outras chocantes (morte, sangue, violência, crianças 
maltratadas). Nas pessoas normais, o sistema límbico reagia de forma 
diversa. Nos psicopatas, não há diferença. O sistema límbico dessas pessoas 
não funciona. O pôr do sol ou uma criança sendo espancada geram as 
mesmas reações. Da mesma forma, não há repercussão no corpo. Eles não 
têm taquicardia, não suam de nervoso. Por isso passam tranquilamente num 
detector de mentiras. (SILVA, 2009, p. 2) 
 
 
Silva (2009) diz ainda que “é um equívoco relacionar psicopatas apenas com pessoas capazes 
de atos violentos ou assassinatos em série. Eles são 4% da população e podem ser qualquer 
pessoa: um colega de trabalho, o marido ou um filho”. 
A psiquiatra Silva (2009) menciona ainda os sintomas de um psicopata e algumas dicas para 
identificá-los no dia-a-dia: 
Falam muito de si mesmos, mentem e não se constrangem quando 
descobertos, têm postura arrogante e intimidadora por um lado, mas são 
charmosos e sedutores por outro. Costumam contar histórias tristes, em que 
são heróis e generosos. Manipulam as pessoas por meio de elogios 
desmedidos. Um dado interessante é que eles não sentem compaixão, pena, 
remorso. Mas sabem, cognitivamente, o que é ter esses sentimentos. Daí 
representarem tão bem – e às vezes exageradamente – a vítima. Os sintomas 
são: Emoções superficiais e teatralidade; Frieza e ausência de sentimentos; 
Muito mais razão que emoção; Encanto superficial e sedução; Irritabilidade 
e intolerância às frustrações; Mentiras e comportamento fantasioso; Vazio 
existencial e tendência ao tédio; Egoísmo e egocentrismo; Incorrigibilidade e 
ausência de remorso (SILVA, 2009, p. 3) 
15 
 
Já quanto à doença mental, ou como a maioria prefere, quanto aos Transtornos Mentais, tem-
se o seguinte conceito no dizer do Diretor Clínico do INEF (Instituto de Estudos e Orientação 
da Família), Amaral (2010): 
 
Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que 
prejudicam o desempenho da pessoa na vida familiar, na vida social, na vida 
pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros, na 
possibilidade de autocrítica, na tolerância aos problemas e na possibilidade 
de ter prazer na vida em geral. Isto significa que os transtornos mentais não 
deixam nenhum aspecto da condição humana intocado (AMARAL, 2010, p 
2). 
 
Apesar de não encontrar uma origem conhecida para a doença mental, Amaral (2010) elenca 
alguns fatores que somados podem diagnosticar um paciente com transtorno mental, se não 
vejamos: 
 
Alteração no funcionamento do cérebro; fatores genéticos; fatores da própria 
personalidade do indivíduo; condições de educação; ação de um grande 
número de estresses; agressões de ordem física e psicológica; perdas, 
decepções, frustrações e sofrimentos físicos e psíquicos que perturbam o 
equilíbrio emocional. Podemos então afirmar que os transtornos mentais não 
têm uma causa precisa, específica, mas que são formados por fatores 
biológicos, psicológicos e socioculturais (AMARAL, 2010, p. 3) 
 
 
Vejamos alguns exemplos de transtornos mentais mencionados por Amaral (2010): 
 
Estados de depressão (sentimentos persistentes de tristeza, desânimo, ideias 
pessimistas e de morte ou suicídio ou tentativas desuicídio, dificuldades de 
concentração e de memória ou de tomar decisões); Estado de mania 
(irritabilidade, ideias de grandiosidade, atividade aumentada, incluindo 
atividade sexual, fala aumentada); Estado de ansiedade exagerada (são 
transtornos sérios que trazem um nível de ansiedade muito elevado, caráter 
crônico, há um comprometimento na realização de tarefas, consequência da 
dificuldade de concentração). Pertencem a este grupo de transtornos: - A 
síndrome do pânico; Fobia social; Transtornos obsessivo-compulsivos 
(AMARAL, 2010, p. 3) 
 
No primeiro momento, pode-se chegar à seguinte conclusão, se analisarmos do ponto de vista 
da lei: os psicopatas são imputáveis, porque eles sabem exatamente o que estão fazendo, 
portanto podem responder pelos seus atos perante a lei. Diferentemente de um paciente 
esquizofrênico, por exemplo, que durante um surto psicótico comete um crime, por estar fora 
da realidade, com delírios e alucinações. O esquizofrênico é considerado inimputável, porque 
a sua doença mental o incapacitou de discernir o certo do errado. O esquizofrênico vai para 
alguma instituição psiquiátrica forense, enquanto o psicopata deve ir para cadeia. 
16 
 
6. NOVOS CAMPOS DO SABER JUDICIÁRIO E PODER JUDICIÁRIO: OS 
MÉTODOS DE RESSOCIALIZAÇÃO EM GERAL – OBJETIVOS, VANTAGENS. 
 
Para tratar deste tema buscou-se no site da SEDS (Secretaria de Estado de Defesa Social) em 
seu banco de notícia, um comentário relatando o que está sendo feito para a ressocialização do 
preso em Minas Gerais. 
O aumento expressivo do número de presos que trabalham ou estudam durante o 
cumprimento da pena, a transferência da administração de cadeias públicas para o Sistema 
Prisional, a reforma de expansão de unidades e o estabelecimento de parcerias com a 
iniciativa privada para o desenvolvimento de projetos voltados para a ressocialização dos 
detentos. Estes: são os principais itens da lista de avanços obtidos pela Subsecretaria de 
Administração Prisional (Suapi), da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), ao longo do 
ano de 2010. 
Em janeiro havia 5.600 presos trabalhando paralelamente ao cumprimento da pena. 
Atualmente o número é de nove mil presos que trabalham, o que representa um aumento de 
60,7%. Os resultados rumo à reinserção social dos detentos se multiplicam por meio do 
programa Trabalhando a Cidadania, da Superintendência de Atendimento ao Preso (Sape), 
responsável pela busca de parceiros públicos e privados que ofereçam oportunidades de 
trabalho aos detentos. 
A Seds, em 2012, tinha cerca de 270 parceiros públicos e privados. Entre eles estão empresas 
dos ramos de panificação, mecânica, metalurgia e confecção. Mais de dois mil presos já 
participaram de cursos profissionalizantes como marcenaria, jardinagem, pedreiro de 
alvenaria, padaria, confecção de roupas, tornearia mecânica, artesanato, auxiliar 
administrativo, assistente de pessoal, informática básica, bijuterias, construção e reparos. 
As penitenciárias têm prioridade na instalação de escolas, por abrigarem os presos cuja 
sentença já foi transitada em julgado e, em Minas Gerais, todas já dispõem de salas de aula. O 
projeto educacional também já alcança os presídios e, atualmente, há escolas em 42 unidades 
prisionais do Estado, que trabalham tanto com alfabetização quanto com a modalidade EJA 
(Educação para Jovens e Adultos). 
17 
 
No total, cerca de 4.600 detentos e 970 adolescentes frequentam a escola enquanto estão sob 
custódia do Estado, o que equivale a 24% dos presos condenados. Desse total, 12 frequentam 
cursos superiores, divididos entre as áreas de Direito, Fisioterapia, Nutrição, Enfermagem e 
Técnico em Produção Sucroalcooleira. 
Atendendo às demandas do movimento dos Direitos Humanos e de familiares dos presos, os 
procedimentos nas revistas íntimas estão sendo revistos. Hoje, em dez unidades as revistas 
são feitas nos presos e não nas famílias, com destaque para Cataguases e Leopoldina, na Zona 
da Mata. A perspectiva é estender essa ação, voltada para humanização, para mais 25 
unidades em 2011. Vinte e seis unidades prisionais, entre elas o Centro de Remanejamento do 
Sistema Prisional (Ceresp), em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte 
(RMBH), e a Penitenciária José Maria Alkimin, em Ribeirão das Neves, também na RMBH, 
já contam com a identificação biométrica para visitantes. 
Os visitantes fazem um registro em que é armazenada, por meio de um programa de 
computador, a sua impressão digital e a sua fotografia. A cada visita, a pessoa é identificada 
biometricamente e é emitida uma etiqueta, que deverá ser usada durante todo o período de 
permanência. Na saída, confere-se novamente a impressão digital, garantindo a maior 
segurança. A estimativa é que seja gasto menos de um minuto para identificar cada pessoa. A 
tecnologia tinha previsão de ser estendida no primeiro semestre de 2011. 
Unidades prisionais 
Das unidades prisionais administradas hoje pela Suapi, 66 eram antigas cadeias públicas que 
ficavam sob a responsabilidade da Polícia Civil. A transição permitiu que policiais civis, antes 
encarregados da guarda de presos, retomassem suas funções iniciais, atuando no trabalho 
investigativo. 
As mudanças nas unidades assumidas incluem o uso de uniforme obrigatório para os detentos 
e até a visitação permitida somente após cadastro dos interessados, mediante apresentação de 
antecedentes criminais, comprovante de residência e cópias do RG e CPF. Os detentos passam 
a receber assistência odontológica, psicológica, social, jurídica e quatro refeições diárias. 
Em SÃO LUÍS - O sistema prisional do Maranhão conta com assistência psicológica para o 
processo de ressocialização dos detentos, por meio de ação da Secretaria de Justiça e de 
Administração Penitenciária (Sejap). O trabalho tem à frente o coordenador de Assistência 
18 
 
Psicológica da Sejap, Ângelo Augusto de Macedo Santos, com atuação de quatro psicólogos 
na capital e dois no interior do estado, além do acompanhamento dos casos por acadêmicos da 
Universidade Uniceuma. 
“O principal da assistência psicológica é o auxílio ao preso de Justiça no processo de 
ressocialização, que é um momento difícil para quem quer voltar ao convívio social” 
ressaltou, Ângelo Augusto de Macedo Santos. Ele assinalou que a Lei de Execução Penal 
(LEP - n° 7.210/1984) não coloca o serviço como dever do Estado, mas a Sejap decidiu 
englobá-la dentro de ação que abrange os serviços de assistência material, à saúde, jurídica, 
educacional e religiosa. 
Nas unidades, os psicólogos atuam como facilitadores do processo de inserção à instituição; 
atendimentos individualizados; grupos terapêuticos funcionais com temáticas variadas. O 
trabalho da Assistência Psicológica não é voltado diretamente para casos de transtornos 
mentais, mas para dar suporte à Assistência Social e a Assistência à Saúde que atuam nesse 
setor. No processo de atendimento, o juiz antes de conceder benefícios ao preso solicita uma 
avaliação psicológica do interno. As empresas parceiras da Sejap pedem uma avaliação antes 
de ceder oportunidade de emprego aos detentos. (JORNAL, O ESTADO, 2012). 
 
7. PESQUISA E RELATO DE UM CASO PRÁTICO QUE EVIDENCIA A 
INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE A CIÊNCIA DA PSICOLOGIA E O DIREITO 
 
De acordo com o Desembargador do Tribunal de Justiça de Pernambuco Jones Figueiredo 
Alves: 
 
O Direito de Família, com o advento da Constituição Federal de 1988, 
adquiriu pela sua própria constitucionalização e ante a sua maior 
abrangência, abrigando novas entidades familiares, maiores atenções e 
exigências de uma abordagem multidisciplinar. 
Os novos direitos de família estão a exigir, em benefício de suas próprias 
noçõesfundamentais e do efetivo exercício que eles reclamam, a atuação 
interprofissional daqueles que direta ou indiretamente participam das 
questões familiares, de forma preponderante no âmbito judicial. 
Posta assim a imperatividade de uma abordagem multidisciplinar no 
moderno Direito de Família, reconhecida a sua complexidade no trato de 
temas conflituosos e a interdisciplinaridade dos ramos de ciência para o 
estudo e solução dos casos, postos ao julgamento judicial, emerge em 
19 
 
primeiro lugar, por convocação urgente e pioneira, a figura do psicólogo 
clínico-jurídico ou psicólogo jurídico. 
Não há que negar a extrema importância do auxílio e da intervenção desse 
profissional, a consolidar mais das vezes, o caráter de obrigatoriedade, no 
Juízo de Família, a tanto que essa atuação tem sido institucionalizada na 
estrutura judiciária mediante a instalação de serviços psicossociais forenses, 
como serventias de quadros próprios, aparelhadas para as suas atribuições 
específicas. 
Fundamenta-se essa intervenção na realidade psicossocial dos processos 
judiciais de família. 
A prática tem revelado o quanto significativo se apresenta o desfecho 
judicial sob a moldura da intervenção do psicólogo jurídico, que enriquece o 
processo com a avaliação técnica do caso. (ALVES, 2009) 
 
 
Hodiernamente constata-se, em sentenças nos tribunais, a influência das ciências da mente. É 
evidente o lado emocional sendo trabalhado em detrimento das decisões puramente 
positivadas da resposta pura e seca das leis, é o que se encontra no julgado abaixo 
reproduzido. 
 
STJ condena pai a indenizar filha por abandono afetivo 
 
"Amar é faculdade, cuidar é dever", diz ministra. Valor é de R$ 200 mil 
SAO PAULO - A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou um pai a 
indenizar em R$ 200 mil a filha por "abandono afetivo". A decisão é inédita. Em 2005, a 
Quarta Turma do STJ havia rejeitado indenização por dano moral por abandono afetivo. 
O caso julgado é de São Paulo. A autora obteve reconhecimento judicial de paternidade e 
entrou com ação contra o pai por ter sofrido abandono material e afetivo durante a infância e 
adolescência. O juiz de primeira instância julgou o pedido improcedente e atribuiu o 
distanciamento do pai a um "comportamento agressivo" da mãe dela em relação ao pai. A 
mulher apelou à segunda instância e afirmou que o pai era "abastado e próspero". O Tribunal 
de Justiça de São Paulo (TJSP) reformou a sentença e fixou a indenização em R$ 415 mil. 
No recurso ao STJ, o pai alegou que não houve abandono e, mesmo que tivesse feito isso, não 
haveria ilícito a ser indenizável e a única punição possível pela falta com as obrigações 
paternas seria a perda do poder familiar. 
A Ministra Nancy Andrighi, da Terceira Turma, no entanto, entendeu que é possível exigir 
indenização por dano moral decorrente de abandono afetivo pelos pais. "Amar é faculdade, 
20 
 
cuidar é dever", afirmou ela na sentença. Para ela, não há motivo para tratar os danos das 
relações familiares de forma diferente de outros danos civis. 
"Muitos, calcados em axiomas que se focam na existência de singularidades na relação 
familiar - sentimentos e emoções -, negam a possibilidade de se indenizar ou compensar os 
danos decorrentes do descumprimento das obrigações parentais a que estão sujeitos os 
genitores", afirmou a ministra. "Contudo, não existem restrições legais à aplicação das regras 
relativas à responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar, no direito de 
família". 
A ministra ressaltou que nas relações familiares o dano moral pode envolver questões 
subjetivas, como afetividade, mágoa ou amor, tornando difícil a identificação dos elementos 
que tradicionalmente compõem o dano moral indenizável: dano, culpa do autor e nexo causal. 
Porém, entendeu que a paternidade traz vínculo objetivo, com previsões legais e 
constitucionais de obrigações mínimas. 
"Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal de cuidar, que é 
dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de gerarem ou adotarem filhos", 
argumentou a ministra. 
No caso analisado, a ministra ressaltou que a filha superou as dificuldades sentimentais 
ocasionadas pelo tratamento como "filha de segunda classe", sem que fossem oferecidas as 
mesmas condições de desenvolvimento dadas aos filhos posteriores, mesmo diante da 
"evidente" presunção de paternidade e até depois de seu reconhecimento judicial. 
Alcançou inserção profissional, constituiu família e filhos e conseguiu "crescer com razoável 
prumo". Porém, os sentimentos de mágoa e tristeza causados pela negligência paterna 
perduraram, caracterizando o dano. O valor de indenização estabelecido pelo TJ-SP, porém, 
foi considerado alto pelo STJ, que reduziu a R$ 200 mil, valor que deve ser atualizado a partir 
de 26 de novembro de 2008, data do julgamento pelo tribunal paulista. 
COMENTÁRIO 
A decisão em tela é inédita. Luciane de Oliveira Souza decidiu processar o pai, Antônio 
Carlos Jamas dos Santos por danos morais, abandono afetivo – quando um dos pais deixa de 
dar assistência moral ou afetiva, independentemente da questão material. Como se observa na 
21 
 
descrição do julgado, o STJ condenou o pai dela a pagar uma indenização de RS 200 mil pelo 
descuido. 
 
O abandono afetivo não é previsto em lei, mas o que se discutiu nesse processo não foi o amor 
do pai pela filha, mas o dever jurídico que ele tem de cuidar dela. Não tem como obrigar um 
pai a amar um filho. Claro, mas o que está escrito na lei é que o pai é responsável pela 
educação do filho. E tem que responder pela falta do mesmo. Afeto, no sentido jurídico, não é 
um sentimento. Traduz-se como um cuidado, como educação, como colocar limites. Entre os 
deveres inerentes ao poder familiar, destacam-se o dever de convívio, de cuidado, de criação e 
educação dos filhos, que envolvem a necessária transmissão de atenção e o acompanhamento 
do desenvolvimento sociopsicológico da criança. Apesar de a condenação levar em conta a 
diferença de tratamento dos irmãos de Luciane que tiveram a oportunidade de estudar em 
colégios particulares e cursarem idiomas, não inclui indenização por dano material. 
 
Além de abrir precedente para casos semelhantes, essa decisão do STJ é importante porque 
tem uma dimensão política muito grande e um caráter didático, pois os pais irão se perguntar 
como estão tratando seus filhos. O entendimento pode ser de que um dos sentidos dessa 
indenização é responsabilizar o pai, que faltou com sua obrigação de cuidar efetivamente da 
criança em sua infância. Portanto, se o tribunal dissesse que o pai não teria que responder por 
isso, estaria dizendo que o pai não é responsável pela educação do filho. Mas pode-se 
entender também que a Justiça deu um passo longo para a humanização da Justiça, é o que se 
encontra nas próprias palavras da ministra Nancy, ao afirmar que a decisão “abre um caminho 
para a humanização da Justiça”. 
 
 
6. CONCLUSÃO 
 
Como pode ser evidenciado, o Direito e a Psicologia se aproximaram em virtude da 
preocupação com a conduta humana, estando atualmente entrelaçados por esse objeto comum. 
Não obstante serem ciências diferentes, não podem ser dissociadas uma da outra, pois 
enquanto a Psicologia busca a compreensão do comportamento humano o Direito busca 
regular esse comportamento, sendo esse relacionamento essencial para a persecução da 
Justiça. 
 
22 
 
Historicamente, por tudo que a Psicologia passou, resultou em que uma aproximação inicial 
se desse através da realização de psicodiagnósticos, dos quais as instituições judiciais 
passaram a se ocupar. Entretanto, diversas outras formas de atuação além da avaliaçãopsicológica ganharam força, entre elas o desenvolvimento e aplicação da psicologia junto às 
varas cíveis, do trabalho, da infância e juventude, de família, dentre outras, abraçando a 
Psicologia o grande universo jurídico quase que em sua totalidade. 
 
Apesar disso, se observa que a atuação na forma de avaliação psicológica ainda é a mais 
largamente utilizada nos tribunais. Entretanto, outras atividades de intervenção, como 
acompanhamento, orientação, mediação, formação de grupos e reuniões de instrução, são 
igualmente importantes. 
 
Este trabalho buscou também, trazer à baila, a importância de se diagnosticar um sujeito 
portador de doença mental, e a diferença deste com o psicopata, pois ambos devem ter 
tratamento diferenciado nas decisões sentenciadas, e por meio da contribuição do Psicólogo 
Jurídico isso se torna possível. Portanto, mesmo que de áreas de atuação diferenciadas, 
Direito e Psicologia devem coexistir, apesar de aparentemente terem objetivos distintos, 
buscando atender a propósitos diferenciados, são, na verdade, complementares, 
interdisciplinares, sendo que a Psicologia Jurídica apresenta-se como essencial ao 
aprimoramento da justiça e de suas instituições, ambas perseguindo a conduta humana e 
caminhando para o mesmo fim, que é a diminuição do sofrimento humano. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
REFERÊNCIAS 
 
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http://www.inef.com.br/transtorno.htm. Acesso em 12 de out. 2012. 
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