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Aula 10 Legislação Especial p/ PF - Agente - 2014 Professor: Paulo Guimarães Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 1 de 69 AULA 10: Lei nº 6.815/1980: define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração ± Parte IV; Lei nº 8.072/1990: Lei dos Crimes Hediondos; Lei nº 10.446/2002: infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme. Observação importante: este curso é protegido por direitos autorais (copyright), nos termos da Lei 9.610/98, que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Grupos de rateio e pirataria são clandestinos, violam a lei e prejudicam os professores que elaboram o cursos. Valorize o trabalho de nossa equipe adquirindo os cursos honestamente através do site Estratégia Concursos ;-) SUMÁRIO PÁGINA 1. Lei nº 6.815/1980: define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração ± Parte III 2 2. Lei nº 8.072/1990: Lei dos Crimes Hediondos 29 3. Lei nº 10.446/2002: infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme 36 4. Resumo do concurseiro 41 5. Questões comentadas 55 6. Lista das questões apresentadas 65 Olá, amigo concurseiro! Finalmente chegamos à última aula do nosso curso. Hoje estudaremos a parte final do Estatuto do Estrangeiro, e também veremos a Lei nº 8.072/1991, que dos crimes hediondos, e a Lei nº 10.446/2002, que trata das infrações penais de Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 69 repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme. Espero que o curso esteja sendo proveitoso para você. Quero desde já agradecer a sua confiança no nosso trabalho. Sei de toda a expectativa que você colocou no nosso curso, mas posso tranquilizar você no sentido de que, se você estudou nossas aulas, fez os exercícios e fizer uma boa revisão, não há como ir mal na prova... - Estudar legislação não é fácil. As matérias não são as mais prazerosas, mas lembre-se de que a dificuldade está aí para todo mundo, e muitos, mas muitos mesmo, desistem no meio do caminho. Um bom UHVXOWDGR� QD� SURYD� GH� OHJLVODomR� p� XP� GLIHUHQFLDO� H� WDQWR� QR� ³MRJR´� GR� concurso. Força! Bons estudos! Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 3 de 69 1. LEI Nº 6.815/1980: DEFINE A SITUAÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO NO BRASIL, CRIA O CONSELHO NACIONAL DE IMIGRAÇÃO ± PARTE IV 1.1. Dos Direitos e Deveres do Estrangeiro Art. 95. O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros, nos termos da Constituição e das leis. Este dispositivo deve ser encarado com parcimônia... acredito que a intenção do legislador aqui foi deixar claro que os direitos fundamentais são extensíveis aos estrangeiros. Estamos falando aqui de direitos básicos, como saúde e educação, mas não de todos os direitos. Temos, por exemplo, um grupo de direitos conhecido como direitos políticos, que, em regra, não são extensíveis aos estrangeiros. Estes não podem, por exemplo, candidatar-se a cargos eletivos, a não ser que já tenham sido naturalizados. Com relação a esse assunto, quero deixar uma coisa bem clara desde já: brasileiro naturalizado é brasileiro. Tenha isso em mente para entender que a naturalização importa na aquisição da nacionalidade brasileira. Um naturalizado, portanto, pode votar e ser votado, mas ainda assim há algumas restrições: brasileiros naturalizados não podem ocupar certos cargos, alguns eletivos (Presidente da República, Vice-Presidente da República, Presidente do Senado Federal, Presidente da Câmara dos Deputados), outros por indicação (Ministro do Supremo Tribunal Federal) e outros acessíveis por meio de concurso público (oficial das Forças Armadas, membro da carreira diplomática). Ainda no que se refere ao acesso do estrangeiro aos direitos fundamentais, quero destacar um julgado recente, mas ainda não definitivo, do STF. Trata-se de uma ação movida no Mato Grosso do Sul contra uma escola pública, cuja diretora indeferiu o requerimento de matrícula de duas alunas estrangeiras, por não terem apresentado documento que comprovasse a regularidade de sua estada no Brasil. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 4 de 69 A decisão do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul foi no sentido de que o acesso à educação pública somente pode ocorrer se o estrangeiro foi regular. Estrangeiros que estejam no Brasil ilegalmente, portanto, não poderiam ser matriculados em instituições de ensino públicas. O Ministério Público, porém, recorreu ao STF, e em agosto de 2013 foi deferida uma liminar, autorizando a matrícula das duas jovens. A tese adotada foi de que a educação é um direito fundamental, e por isso não deve ser negado, ao menos enquanto o assunto estiver sendo discutido no âmbito do Poder Judiciário. Ressalto que se trata apenas de uma liminar do STF. Isso não significa que no julgamento definitivo esse posicionamento será mantido, ok? O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros. Muito bem, falamos dos direitos políticos, e mostrei a você também um importante julgado a respeito do direito à educação de estrangeiros irregulares. Mas e outros direitos? O Estatuto traz algumas regras específicas, e algumas delas já foram estudadas por nós nas aulas anteriores, mas vamos repeti-las, ok? Ainda no que se refere à educação, a matrícula em estabelecimento de ensino é permitida ao estrangeiro, assim como o exercício de atividade remunerada, mas apenas nos termos da lei e do seu regulamento. Como exemplo, posso dar uma restrição estabelecida pela própria Constituição de 1988, que apenas permite que brasileiros natos ou naturalizados há mais de 10 anos sejam proprietários de empresas Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 69 jornalísticas e de radiodifusão. Trata-se de uma restrição ao exercício de atividade remunerada, não é mesmo? O exercício de atividade remunerada e a matrícula em estabelecimento de ensino são permitidos ao estrangeiro com as restrições estabelecidas no Estatuto e no seu regulamento. Ainda no que se refere ao exercício de atividade remunerada, o Estatuto o proíbe expressamente nos seguintes casos: a) Titulares de visto de turista ou de trânsito; b) Titulares de visto temporário na condição de estudante; c) Dependentes de titulares de quaisquer modalidades de visto temporário; d) Titular de visto temporário na condição de correspondente internacional, no que se refere ao exercício de atividade remunerada por fonte brasileira. Além dessas restrições, é proibido também ao fronteiriço (lembra dele?) estabelecer-secom firma individual, ou exercer cargo ou função de administrador, gerente ou diretor de sociedade comercial ou civil, bem como inscrever-se em entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada. Apenas para deixar a regra mais clara para você, relembro que o tratamento especial conferido pelo Estatuto ao fronteiriço (art. 21) tem a finalidade de possibilitar o exercício de atividade remunerada e o acesso aos estabelecimentos educacionais localizados no município limite. Por essa razão, a própria lei restringe essa atividade profissional. Se o fronteiriço quiser exercer uma atividade regulamentada, como a de engenheiro ou médico, por exemplo, precisará obter o visto Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 6 de 69 adequado. No caso do estrangeiro que venha ao Brasil com visto temporário na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob regime de contrato ou a serviço do Governo brasileiro, é permitida a inscrição temporária nas entidades de fiscalização profissional. Art. 100. O estrangeiro admitido na condição de temporário, sob regime de contrato, só poderá exercer atividade junto à entidade pela qual foi contratado, na oportunidade da concessão do visto, salvo autorização expressa do Ministério da Justiça, ouvido o Ministério do Trabalho. Se o estrangeiro foi admitido com visto temporário em razão de um contrato de trabalho (art. 13, V), somente poderá exercer a atividade nos termos do seu contrato. Não é possível, portanto, que ele ³GLYHUVLILTXH´�VXD�DWLYLGDGH�SURILVVLRQDO�HQTXDQWR�HVWLYHU�QR�%UDVLO� O mesmo se aplica ao estrangeiro a quem foi concedido visto permanente condicionado. Já repetimos essa regra umas trinta vezes, mas vou falar pela trigésima primeira para ter certeza de que você não vai esquecer: o visto permanente pode ser concedido a estrangeiro com condicionantes, que podem estar relacionadas à permanência em determinado local, ou ao exercício de determinada atividade, sempre pelo prazo máximo de 5 anos. Nesse caso, o estrangeiro não poderá mudar de domicílio nem de atividade profissional, ou exercê-la fora daquela região, salvo em caso excepcional, mediante autorização prévia do Ministério da Justiça, ouvido o Ministério do Trabalho, quando necessário. Mas como o Ministério da Justiça poderá acompanhar o cumprimento dessas obrigações? Afinal de constas, quando nós mudamos de domicílio, não somos necessariamente obrigados a informar o fato a nenhuma autoridade pública, não é mesmo? Em regra, não. Mas o estrangeiro é! Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 7 de 69 Qualquer estrangeiro registrado é obrigado, por força de regra que consta no próprio Estatuto, a comunicar ao Ministério da Justiça no prazo de 30 dias sua mudança de domicílio ou residência. Outra obrigatoriedade no que se refere à comunicação é a que diz respeito à aquisição de outra nacionalidade por parte do estrangeiro. Imagine, por exemplo, que um norte-americano vem para o Brasil e aqui estabelece sua residência. Acontece que esse estrangeiro já há muitos anos pleiteava o reconhecimento de sua cidadania italiana, já que é descendente de imigrantes daquele país. Pois bem, se, enquanto ele estiver no Brasil, sua cidadania italiana for reconhecida, ele deverá comunicar o fato em no prazo de 90 dias, para fins de atualização de seu registro. O estrangeiro registrado é obrigado a comunicar ao Ministério da Justiça no prazo de 30 dias sua mudança de domicílio ou residência. Além disso, o estrangeiro que adquirir outra nacionalidade deverá requerer averbação do fato em seus registros, no prazo de 90 dias. Os documentos que comprovam a regularidade da estada do estrangeiro em território nacional devem ser sempre apresentados por ele quando agentes ou autoridades públicas assim o exigirem. O Estatuto traz ainda algumas situações em que o documento deve ser apresentado em seu original: a) Alteração de nome do estrangeiro; b) Registro de firma na junta comercial; c) Registro do estrangeiro na condição de hóspede, locatário, sublocatário ou morador em estabelecimento hoteleiro, Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 8 de 69 empresa imobiliária ou junto ao proprietário de imóvel locado; d) Admissão do estrangeiro a serviço prestado por entidade pública ou privada, ou matrícula em estabelecimento de ensino de qualquer nível. Art. 104. O portador de visto de cortesia, oficial ou diplomático só poderá exercer atividade remunerada em favor do Estado estrangeiro, organização ou agência internacional de caráter intergovernamental a cujo serviço se encontre no País, ou do Governo ou de entidade brasileiros, mediante instrumento internacional firmado com outro Governo que encerre cláusula específica sobre o assunto. Essas modalidades de visto normalmente são concedidas para diplomatas e outras pessoas que vêm ao Brasil a serviço de seus países ou de entidades de cooperação internacional. Por essa razão não faz sentido que os titulares desses vistos possam exercer atividades além do serviço prestado ao seu país de origem ou ao organismo internacional que representam. O dispositivo abre ainda uma possibilidade para que, se for de interesse do Brasil, essas pessoas possam também prestar serviços ao governo ou a entidades brasileiras, por meio de instrumento (tratado) internacional que faça previsão específica dessa situação. No que se refere ao trabalho das embaixadas e consulados, até mesmo os trabalhadores responsáveis pelos serviços domésticos podem vir de outros países. Isso não é praxe, mas é perfeitamente possível, e nesse caso estarão sujeitos às mesmas limitações, apenas podendo exercer atividade remunerada a serviço particular de titular de visto de cortesia, oficial ou diplomático. A legislação trabalhista brasileira também não se aplica aos titulares de vistos oficial, diplomático ou de cortesia. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 9 de 69 Art. 105. Ao estrangeiro que tenha entrado no Brasil na condição de turista ou em trânsito é proibido o engajamento como tripulante em porto brasileiro, salvo em navio de bandeira de seu país, por viagem não redonda, a requerimento do transportador ou do seu agente, mediante autorização do Ministério da Justiça. Em regra, o estrangeiro que veio ao Brasil com visto de trânsito ou de turista não pode assumir como tripulante de aeronave ou embarcação em porto ou aeroporto brasileiro. Essa seria uma maneira de burlar a exigência de visto temporário ou permanente para exercer atividade remunerada no país, não é mesmo? Há, porém uma exceção: se o navio (ou aeronave) for do país de origem do estrangeiro e se a viagem não for redonda, ou seja, se não for uma viagem simples de ida e volta, o transportador pode requerer ao Ministério da Justiça que o estrangeiro seja recebido como tripulante. Essa regra é ultra específica, e por isso acredito que não seja muito importantepara a sua prova. De qualquer forma, vamos nos precaver, não é mesmo? O art. 106 traz uma lista de proibições dirigidas aos estrangeiros. Boa parte delas tem relação com o exercício de atividades remuneradas, e acredito que seja importante memorizar essas hipóteses. Elas podem tranquilamente surgir na sua prova, ok? Abaixo montei um quadro esquemático, adicionado dos meus comentários para auxiliar seu entendimento. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 10 de 69 É VEDADO AO ESTRANGEIRO... I - ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre; * Aplicável também aos portugueses Qualquer atividade relacionada ao transporte de cargas e passageiros é considerada estratégica, e por isso estrangeiros não devem exercer certas atividades relacionadas ao comando de navios nacionais. Essas atividades incluem não só a propriedade e o comando dos navios, mas também a atividade do armador, que é quem efetivamente opera os navios. A regra do item I não aplica aos navios nacionais de pesca. V - ser proprietário ou explorador de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legi lação e pecífica; VI - ser corretor de navios, de fundos públicos, leiloeiro e despachante aduaneiro; São outras funções relacionadas com o comércio internacional. VIII - ser prático de barras, portos, rios, lagos e canais; O prático p�XPD�HVSpFLH�GH�³PDQREULVWD´�Ge navios. Quando um navio se aproxima do porto, ele é o UHVSRQViYHO�SRU�³HVWDFLRQDU´� II - ser proprietário de empresa jornalística de qualquer espécie, e de empresas de televisão e de radiodifusão, sócio ou acionista de sociedade proprietária dessas empresas; Essa vedação se encontra expressa na Constituição de 1988. Trata-se de uma regra importante porque, numa sociedade democrática, a mídia tem um papel fundamental na difusão de informação. Também não é possível que uma empresa jornalística contrate um estrangeiro como consultor de conteúdo, por exemplo. IX - possuir, manter ou operar, mesmo como amador, aparelho de radiodifusão, de radiotelegrafia e similar, salvo reciprocidade de tratamento; e III - ser responsável, orientador intelectual ou administrativo das empresas mencionadas no item anterior; * Aplicável também aos portugueses IV - obter concessão ou autorização para a pesquisa, prospecção, exploração e aproveitamento das jazidas, minas e demais recursos minerais e dos potenciais de energia hidráulica; VII - participar da administração ou representação de sindicato ou associação As entidades fiscalizadoras são, além da OAB, os famosos conselhos profissionais. Hoje existem Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 69 profissional, bem como de entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada; diversos conselhos de profissões regulamentadas: engenharia, arquitetura, medicina, enfermagem, fisioterapia, economia, administração, etc. X - prestar assistência religiosa às Forças Armadas e auxiliares, e também aos estabelecimentos de internação coletiva. * Aplicável também aos portugueses somente no que se refere às Formas Armadas e auxiliares. A prestação de assistência religiosa por estrangeiros poderia, em casos extremos, abrir as portas do país para organizações fundamentalistas e terroristas. As forças armadas são o Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Forças auxiliares é o nome como eram chamadas as Polícias Militares e os Corpos de Bombeiros Militares. Você deve estar se perguntando por que apenas algumas dessas restrições são aplicáveis aos portugueses, não é mesmo? Vejamos! § 2º Ao português, no gozo dos direitos e obrigações previstos no Estatuto da Igualdade, apenas lhe é defeso: a) assumir a responsabilidade e a orientação intelectual e administrativa das empresas mencionadas no item II deste artigo; b) ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive de navegação fluvial e lacustre, ressalvado o disposto no parágrafo anterior; e c) prestar assistência religiosa às Forças Armadas e auxiliares. Esse dispositivo merece uma explicação um pouco mais detalhada. Temos estudado ao longo das últimas aulas várias regras aplicáveis aos estrangeiros que vêm ao Brasil, e daqui a pouco estudaremos como ocorre o processo de naturalização. Pois bem, para os portugueses há algumas regras diferentes, por força do Estatuto da Igualdade, que nada mais é do que um tratado firmado entre Brasil e Portugal, e que garante a equivalência de diversos direitos entre os cidadãos dos dois países, inclusive direitos políticos! Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 12 de 69 O Estatuto da Igualdade não está no conteúdo programático da sua prova, então não precisa se preocupar com ele, ok? Apenas saiba que as restrições normalmente impostas a estrangeiros são muito mais brandas para os portugueses... - Por essa razão, apenas algumas das proibições que acabamos de estudar são aplicáveis aos portugueses. Art. 107. O estrangeiro admitido no território nacional não pode exercer atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do Brasil, sendo-lhe especialmente vedado: I - organizar, criar ou manter sociedade ou quaisquer entidades de caráter político, ainda que tenham por fim apenas a propaganda ou a difusão, exclusivamente entre compatriotas, de idéias, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem; II - exercer ação individual, junto a compatriotas ou não, no sentido de obter, mediante coação ou constrangimento de qualquer natureza, adesão a idéias, programas ou normas de ação de partidos ou facções políticas de qualquer país; III - organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, ou deles participar, com os fins a que se referem os itens I e II deste artigo. Como você já deve estar cansado de saber, no Brasil os estrangeiros, em geral, não gozam de direitos políticos. Isso significa que eles não podem votar e nem candidatar-se a cargos eletivos, mas as proibições vão muito além disso. Na realidade, os estrangeiros não podem exercer atividade política, em sentido amplo. Não podem criar e nem gerir entidades de caráter político, mesmo que suas atividades sejam direcionadas apenas a seus compatriotas. Um norte-americano, por exemplo, não pode vir ao Brasil e aqui fundar uma associação que defenda os ideais do Partido Republicano. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 69 Também não podem agir individualmente na defesa de ideais políticos e nem participar de manifestações dessa natureza. Por outro lado, é permitido que os estrangeiros se associem para fins culturais, religiosos, recreativos, beneficentes ou de assistência, ou que se filiem a clubes sociais e desportivos, bem como queparticipem de eventos comemorativos de datas nacionais ou acontecimentos de significativos para seus países de origem. Aqui a única restrição é a seguinte: se nas entidades mencionadas (clubes, associações, etc.) mais da metade dos associados for composta por estrangeiros, será necessária autorização do Ministério da Justiça para seu funcionamento. O Estatuto também confere ao Ministro da Justiça a prerrogativa de impedir a realização de conferências, congressos e exibições artísticas ou folclóricas por estrangeiros, sempre que considerar conveniente aos interesses nacionais. Aqui uma regra importante: essas vedações não se aplicam ao português equiparado a brasileiro por força do Estatuto da Igualdade. 1.2. Naturalização A naturalização é o procedimento por meio do qual o estrangeiro pode adquirir a nacionalidade brasileira. Quero que fique bem claro que brasileiro naturalizado é brasileiro! Assim, a partir do momento em que ocorre a naturalização, o estrangeiro deixa de ser estrangeiro, e passa a ser brasileiro para (quase) todos os efeitos, ok? Apesar de o conteúdo programático da nossa matéria prever apenas o estudo do Estatuto do Estrangeiro, é muito importante que você esteja atento às regras da Constituição de 1988 acerca da naturalização. Nossa Constituição tratou desse assunto com muito carinho, e, além disso, lembre-se de que o Estatuto é de 1980... Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 69 O ato que confere a naturalização é uma portaria do Ministro da Justiça. Essa faculdade é exclusiva do Poder Executivo, não podendo ser exercida por nenhum dos outros poderes. Não é possível, portanto, a naturalização por meio de decisão judicial ou mesmo de outra lei. O ato por meio do qual se confere a naturalização também se reveste da discricionariedade. Isso significa que, mesmo que o estrangeiro preencha todos os requisitos legais, o pedido de naturalização pode ser indeferido, a juízo de conveniência e oportunidade do Ministro da Justiça. Quais são então as condições para o estrangeiro possa obter a naturalização? O art. 112 do Estatuto traz uma lista de requisitos, que devem ser bem compreendidos e memorizados por você. Antes de entrarmos no estudo dos requisitos, quero deixar bem claro para você que os portugueses que gozam de direitos no Brasil em razão do Estatuto da Igualdade não são naturalizados. Trata-se de uma situação própria, em que, mesmo mantendo a nacionalidade estrangeira, os portugueses podem gozar de diversos direitos próprios dos brasileiros, inclusive políticos. Art. 112. São condições para a concessão da naturalização: I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - ser registrado como permanente no Brasil; III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento; Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 69 VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e VIII - boa saúde. O quadro esquemático abaixo, como de costume, contém os requisitos e breves comentários para ajudar você a compreender cada um dos itens. REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA NATURALIZAÇÃO REQUISITOS COMENTÁRIOS I - capacidade civil, segundo a lei brasileira; O Código Civil estabelece como idade para aquisição de capacidade civil os 18 anos completos. Além disso, a pessoa não pode ter sua capacidade mental reduzida por qualquer razão. II - ser registrado como permanente no Brasil; Antes de adquirir a nacionalidade, o estrangeiro precisa ter residência no Brasil. É necessário, portanto, o visto de permanência e o registro. III - residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de quatro anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; IV - ler e escrever a língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; Já apareceu XPD�TXHVWmR�GH�SURYD�TXH�WURFRX�³OHU�H� HVFUHYHU´�SRU�³IDODU�H�HVFUHYHU´����DSHVDU�GH�HX�DFKDU� que foi um erro da banca (até porque a questão foi anulada), é bom ficar esperto - V - exercício de profissão ou posse de bens suficientes à manutenção própria e da família; VI - bom procedimento; VII - inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime doloso a que Denúncia é o ato que dá início ao processo penal. Pronúncia é a decisão judicial que submete um réu ao julgamento por um júri popular, nos casos de Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 16 de 69 seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada, superior a 1 (um) ano; e crimes dolosos contra a vida. Condenação é a decisão judicial, que pode ser definitiva ou não, mas apenas impede a naturalização se a pena for superior a 1 ano. Se o crime for culposo também não há impedimento. VIII - boa saúde. O estrangeiro que residir no Brasil há mais de 2 anos não precisa comprovar boa saúde. A respeito do prazo de residência no Brasil para aquisição da nacionalidade, é necessário uma explicação um pouco mais detalhada. Primeiramente precisamos entender o que diz a Constituição de 1988 sobre o assunto. Para os falantes de língua portuguesa, a Constituição exige apenas 1 ano de residência ininterrupta. Além disso, os estrangeiros que vivam no Brasil initerruptamente há mais de 15 anos e não tenham condenação penal podem requerer sua naturalização. Isso não significa, porém, que a naturalização não possa ser concedida com 4 anos de residência contínua, desde que sejam cumpridos também os outros requisitos do art. 112 do Estatuto. O próprio Estatuto também prevê a possibilidade de flexibilização desse prazo, quando o estrangeiro preencher uma das seguintes condições: a) ter filho ou cônjuge brasileiro Æ residência mínima de 1 ano; b) ser filho de brasileiro Æ residência mínima de 1 ano; c) haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça Æ residência mínima de 1 ano; d) recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística Æ residência mínima de 2 anos; e) ser proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Referência; ou ser industrial que disponha de fundos Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 17 de 69 de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo, idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à exploração de atividade industrial ou agrícola Æ residência mínima de 3 anos. Há ainda algunscasos em que se dispensa o requisito da residência, sedo necessária apenas a estada no Brasil por 30 dias, quando se tratar de cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro em atividade; ou de estrangeiro que, empregado em Missão Diplomática ou em Repartição Consular do Brasil, contar mais de 10 anos de serviços ininterruptos. TEMPO DE RESIDÊNCIA NO BRASIL PARA NATURALIZAÇÃO REGRAS DA CONSTITUIÇÃO 1 ano ininterrupto de residência originários de países de língua portuguesa. Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil há mais de 15 anos ininterruptos e sem condenação penal, podem requerer a nacionalidade brasileira. REGRAS DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO REGRA GERAL Residência contínua no território nacional, pelo prazo mínimo de 4 anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização REGRAS ESPECÍFICAS O prazo de residência poderá ser reduzido se o naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: a) ter filho ou cônjuge brasileiro Æ residência mínima de 1 ano; b) ser filho de brasileiro Æ residência mínima de 1 ano; c) haver prestado ou poder prestar serviços relevantes ao Brasil, a juízo do Ministro da Justiça Æ residência mínima de 1 ano; d) recomendar-se por sua capacidade profissional, científica ou artística Æ residência mínima de 2 anos; e) ser proprietário, no Brasil, de bem imóvel, cujo valor seja igual, pelo menos, a mil vezes o Maior Valor de Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 18 de 69 Referência; ou ser industrial que disponha de fundos de igual valor; ou possuir cota ou ações integralizadas de montante, no mínimo, idêntico, em sociedade comercial ou civil, destinada, principal e permanentemente, à exploração de atividade industrial ou agrícola Æ residência mínima de 3 anos. Dispensa-se o requisito da residência, sedo necessária apenas a estada no Brasil por 30 dias, quando se tratar de: a) cônjuge estrangeiro casado há mais de cinco anos com diplomata brasileiro em atividade; ou b) estrangeiro que, empregado em Missão Diplomática ou em Repartição Consular do Brasil, contar mais de 10 anos de serviços ininterruptos. Art. 115. O estrangeiro que pretender a naturalização deverá requerê-la ao Ministro da Justiça, declarando: nome por extenso, naturalidade, nacionalidade, filiação, sexo, estado civil, dia, mês e ano de nascimento, profissão, lugares onde haja residido anteriormente no Brasil e no exterior, se satisfaz ao requisito a que alude o artigo 112, item VII e se deseja ou não traduzir ou adaptar o seu nome à língua portuguesa. O estrangeiro que desejar naturalizar-se deverá iniciar o procedimento junto ao Ministério da Justiça. Sua petição deverá ser assinada e juntamente com ele devem ser apresentados os documentos listados no regulamento. Essa, porém, é mais uma regra que contém exceção: será admitido o requerimento apenas com apresentação do documento de identidade para estrangeiro, atestado policial de residência contínua no Brasil e atestado policial de antecedentes criminais nas seguintes situações: a) estrangeiro admitido no Brasil até a idade de 5 anos, definitivamente estabelecido no território nacional, desde que requeira a naturalização até 2 anos após atingir a maioridade; Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 19 de 69 b) estrangeiro que tenha vindo residir no Brasil antes de atingida a maioridade e haja feito curso superior em estabelecimento nacional de ensino, se requerida a naturalização até 1 ano depois da formatura. Uma informação importante que deve constar no requerimento é a que diz respeito à tradução ou adaptação do nome do estrangeiro à língua portuguesa. Essa opção é importante porque o estrangeiro que tenha um nome muito diferente pode enfrentar dificuldades ao se estabelecer no Brasil. Eu mesmo já tive a oportunidade de atender um senhor vietnamita de nascimento, naturalizado brasileiro, que teve uma enorme dificuldade para obter vistos para alguns países porque se chamava Tran Nguyen Hi. Na tradição vietnamita, assim como em outros países orientais, o sobrenome vem antes do prenome, e, ao emitir seu passaporte, a Polícia Federal não fez a inversão. Para resolver a confusão foi necessário, depois de muita luta e vários pareceres jurídicos, mudar o certificado de naturalização. Numa caso como esse, em que é necessário modificar o nome ou prenome do naturalizado posteriormente à naturalização, a mudança só pode ser feita motivadamente, por ato do Ministro da Justiça. Uma vez recebido o requerimento, o Ministério processará uma sindicância sobre a vida pregressa do naturalizando e opinará quanto à conveniência da naturalização. O dirigente do órgão do Ministério que trata de estrangeiros poderá ordenar outras diligências (levantamento de documentos, por exemplo) e então o requerimento, juntamente com o parecer, será submetido ao Ministro da Justiça para decisão. O pedido poderá ser arquivado se o estrangeiro não preencher algum dos requisitos que estudamos até agora. Dessa decisão pode haver pedido de reconsideração em 30 dias, e, se a decisão não for reconsiderada, o estrangeiro pode recorrer ao Ministro da Justiça, também no prazo de 30 dias. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 69 Além disso, é importante saber também que, ao longo do curso do processo, qualquer cidadão poderá impugnar o pedido formulado pelo estrangeiro, desde que o faça fundamentadamente. Art. 119. Publicada no Diário Oficial a portaria de naturalização, será ela arquivada no órgão competente do Ministério da Justiça, que emitirá certificado relativo a cada naturalizando, o qual será solenemente entregue, na forma fixada em Regulamento, pelo juiz federal da cidade onde tenha domicílio o interessado. Honestamente, não consigo entender porque o certificado de naturalização é entregue pelo Poder Judiciário. Na minha opinião, isso não faz muito sentido, ao menos não do ponto de vista jurídico, mas isso não significa que a banca não vai cobrar esse conhecimento, não é mesmo? - Se na cidade do naturalizado houver mais de um Juiz Federal, o certificado será entregue pelo titular da Primeira Vara. Uma vara nada mais é que uma divisão da Justiça Federal. Se não houver Juiz Federal, a entrega será feita pelo Juiz de Direito (Justiça Estadual). A partir da entrega do certificado a naturalização passa a produzir efeitos. A partir desse momento o naturalizado poderá gozar de todos os direitos civis e políticos, excetuados os que a Constituição Federal atribui exclusivamente ao brasileiro nato. A naturalização passa a produzir efeitos a partir da entrega do certificado. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 69 Art. 116. O estrangeiro admitido no Brasil durante os primeiros 5 (cinco) anos de vida, estabelecido definitivamente no território nacional, poderá, enquanto menor, requerer ao Ministro da Justiça, porintermédio de seu representante legal, a emissão de certificado provisório de naturalização, que valerá como prova de nacionalidade brasileira até dois anos depois de atingida a maioridade. Aqui estamos diante da naturalização provisória. Trata-se de um tipo especial, somente aplicável ao estrangeiro menor de idade que tenha entrado no Brasil durante os 5 primeiros anos de vida. Uma vez atingida a maioridade, o naturalizado provisório poderá tornar-se definitivamente naturalizado, desde que confirme expressamente a intenção de tornar-se brasileiro em até 2 anos, por meio de requerimento dirigido ao Ministro da Justiça. Art. 123. A naturalização não importa aquisição da nacionalidade brasileira pelo cônjuge e filhos do naturalizado, nem autoriza que estes entrem ou se radiquem no Brasil sem que satisfaçam às exigências desta Lei. A naturalização se dá por meio de ato administrativo dirigido a apenas uma pessoa. O fato de um estrangeiro ter sido naturalizado não confere a nenhum outro (mesmo seus familiares) o direito de também obter a nacionalidade brasileira. 1.3. Infrações e Penalidades Nessa parte final do Estatuto, temos diversos dispositivos que criam infrações e estabelecem a aplicação de penalidades aos estrangeiros. As penalidades previstas são de multa ou de detenção, e, no caso das multas, seus valores podem ser aumentados de duas a cinco vezes em razão de reincidência. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 22 de 69 Vamos então conhecer quais são essas infrações por meio de um quadro-resumo. O problema é que o art. 125, que trata das infrações, faz diversas remissões a outros artigos, e isso torna a leitura da lei muito cansativa. Para ajudar você, do lado direito da tabela incluí meus comentários e também esses outros dispositivos do Estatuto. Muitos vão perguntar se é necessário memorizar as infrações e as penalidades, e a resposta para essa pergunta é um sonoro NÃO. Não quero com isso dizer que é impossível que a banca cobre o valor da multa, pois se o examinador tiver um surto de insanidade e resolver elaborar uma questão injusta e cruel como essa, não poderemos fazer nada. Entretanto, digo sem medo de errar que não vale a pena ficar memorizando cada detalhe da lei. Você tem pouco tempo, e precisa utilizá-lo da forma mais inteligente do ponto de vista estratégico. Concentre-se em saber quais são as infrações, e tenha uma noção das penalidades, mas não perca muito tempo tentando memorizar uma enorme tabela que pode nem aparecer na sua prova... INFRAÇÕES PREVISTAS NO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO I - entrar no território nacional sem estar autorizado (clandestino): Pena: deportação. Na realidade a deportação não é uma pena. Trata-se de uma medida administrativa para retirar do território nacional o estrangeiro que tenha entrado ou permanecido irregularmente. Isso você já está cansado de saber, não é mesmo? II - demorar-se no território nacional após esgotado o prazo legal de estada: Pena: multa de um décimo do Maior Valor de Referência, por dia de excesso, até o máximo de 10 (dez) vezes o Maior Valor de Referência, e deportação, caso não saia no prazo fixado. III - deixar de registrar-se no órgão competente, dentro do prazo estabelecido nesta Lei (artigo 30): Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 23 de 69 Pena: multa de um décimo do Maior Valor de Referência, por dia de excesso, até o máximo de 10 (dez) vezes o Maior Valor de Referência. IV - deixar de cumprir o disposto nos artigos 96, 102 e 103: Pena: multa de duas a dez vezes o Maior Valor de Referência. Art. 96. Sempre que lhe for exigido por qualquer autoridade ou seu agente, o estrangeiro deverá exibir documento comprobatório de sua estada legal no território nacional. Art. 102. O estrangeiro registrado é obrigado a comunicar ao Ministério da Justiça a mudança do seu domicílio ou residência, devendo fazê-lo nos 30 (trinta) dias imediatamente seguintes à sua efetivação. Art. 103. O estrangeiro que adquirir nacionalidade diversa da constante do registro (art. 30), deverá, nos noventa dias seguintes, requerer a averbação da nova nacionalidade em seus assentamentos. V - deixar a empresa transportadora de atender à manutenção ou promover a saída do território nacional do clandestino ou do impedido (artigo 27): Pena: multa de 30 (trinta) vezes o Maior Valor de Referência, por estrangeiro. VI - transportar para o Brasil estrangeiro que esteja sem a documentação em ordem: Pena: multa de dez vezes o Maior Valor de Referência, por estrangeiro, além da responsabilidade pelas despesas com a retirada deste do território nacional. Art. 27. A empresa transportadora responde, a qualquer tempo, pela saída do clandestino e do impedido. VII - empregar ou manter a seu serviço estrangeiro em situação Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 24 de 69 irregular ou impedido de exercer atividade remunerada: Pena: multa de 30 (trinta) vezes o Maior Valor de Referência, por estrangeiro. VIII - infringir o disposto nos artigos 21, § 2º, 24, 98, 104, §§ 1º ou 2º e 105: Pena: deportação. Art. 21. Ao natural de país limítrofe, domiciliado em cidade contígua ao território nacional, respeitados os interesses da segurança nacional, poder-se-á permitir a entrada nos municípios fronteiriços a seu respectivo país, desde que apresente prova de identidade. § 1º Ao estrangeiro, referido neste artigo, que pretenda exercer atividade remunerada ou freqüentar estabelecimento de ensino naqueles municípios, será fornecido documento especial que o identifique e caracterize a sua condição, e, ainda, Carteira de Trabalho e Previdência Social, quando for o caso. § 2º Os documentos referidos no parágrafo anterior não conferem o direito de residência no Brasil, nem autorizam o afastamento dos limites territoriais daqueles municípios. Art. 24. Nenhum estrangeiro procedente do exterior poderá afastar-se do local de entrada e inspeção, sem que o seu documento de viagem e o cartão de entrada e saída hajam sido visados pelo órgão competente do Ministério da Justiça. Art. 98. Ao estrangeiro que se encontra no Brasil ao amparo de visto de turista, de trânsito ou temporário de que trata o artigo 13, item IV, bem como aos dependentes de titulares de quaisquer vistos temporários é vedado o exercício de atividade remunerada. Ao titular de visto temporário de que trata o artigo 13, item VI, é vedado o exercício de atividade remunerada por fonte brasileira. Art. 104. O portador de visto de cortesia, oficial ou diplomático só poderá exercer atividade remunerada em favor do Estado estrangeiro, organização ou agência internacional de caráter intergovernamental a cujo serviço se encontre no País, ou do Governo ou de entidade brasileiros, mediante instrumento internacional firmado com outro Governo que encerre cláusula específica sobre o assunto. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 25 de 69 § 1º O serviçal com visto de cortesia só poderá exercer atividade remunerada a serviço particular de titular de visto de cortesia, oficial ou diplomático. § 2º A missão, organização ou pessoa, a cujo serviço se encontra o serviçal, fica responsável pela sua saída do território nacional, no prazo de 30 (trinta) dias, a contar da data em que cessar o vínculo empregatício, sob pena de deportação do mesmo. Art. 105. Ao estrangeiro que tenha entrado no Brasil na condição de turista ou em trânsito é proibido o engajamento como tripulante em porto brasileiro, salvo em navio de bandeira de seu país, por viagem não redonda, a requerimento do transportador ou do seu agente, mediante autorização do Ministério da Justiça. IX - infringir o disposto no artigo 25: Pena: multa de 5 (cinco) vezes o Maior Valor de Referência para o resgatador e deportação para o estrangeiro. Art. 25. Não poderá ser resgatado no Brasil, sem prévia autorização do Ministério da Justiça, o bilhete de viagem do estrangeiro que tenha entrado no território nacional na condição de turista ou em trânsito. X - infringir o disposto nos artigos 18, 37, § 2º, ou 99 a 101: Pena: cancelamento do registro e deportação. Art. 18. A concessão do visto permanente poderá ficar condicionada, por prazo não-superior a 5 (cinco) anos, ao exercício de atividade certa e à fixação em região determinada do território nacional. Art. 37. O titular do visto de que trata o artigo 13, incisos V e VII, poderá obter transformação do mesmo para permanente (art. 16), satisfeitas às condições previstas nesta Lei e no seu Regulamento. [...] § 2º. Na transformação do visto poder-se-á aplicar o disposto no artigo 18 desta Lei. Art. 99. Ao estrangeiro titular de visto temporário e ao que se encontre no Brasil na condição do artigo 21, § 1°, é vedado estabelecer-se com firma individual, ou exercer cargo ou função de administrador, gerente ou diretor de sociedade comercial ou civil, bem como inscrever-se em entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 26 de 69 Parágrafo único. Aos estrangeiros portadores do visto de que trata o inciso V do art. 13 é permitida a inscrição temporária em entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada. Art. 100. O estrangeiro admitido na condição de temporário, sob regime de contrato, só poderá exercer atividade junto à entidade pela qual foi contratado, na oportunidade da concessão do visto, salvo autorização expressa do Ministério da Justiça, ouvido o Ministério do Trabalho. Art. 101. O estrangeiro admitido na forma do artigo 18, ou do artigo 37, § 2º, para o desempenho de atividade profissional certa, e a fixação em região determinada, não poderá, dentro do prazo que lhe for fixado na oportunidade da concessão ou da transformação do visto, mudar de domicílio nem de atividade profissional, ou exercê-la fora daquela região, salvo em caso excepcional, mediante autorização prévia do Ministério da Justiça, ouvido o Ministério do Trabalho, quando necessário. XI - infringir o disposto no artigo 106 ou 107: Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e expulsão. Art. 106. É vedado ao estrangeiro: I - ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre; II - ser proprietário de empresa jornalística de qualquer espécie, e de empresas de televisão e de radiodifusão, sócio ou acionista de sociedade proprietária dessas empresas; III - ser responsável, orientador intelectual ou administrativo das empresas mencionadas no item anterior; IV - obter concessão ou autorização para a pesquisa, prospecção, exploração e aproveitamento das jazidas, minas e demais recursos minerais e dos potenciais de energia hidráulica; V - ser proprietário ou explorador de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica; VI - ser corretor de navios, de fundos públicos, leiloeiro e despachante aduaneiro; VII - participar da administração ou representação de sindicato ou associação profissional, bem como de entidade fiscalizadora do exercício de profissão regulamentada; VIII - ser prático de barras, portos, rios, lagos e canais; IX - possuir, manter ou operar, mesmo como amador, aparelho de Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 27 de 69 radiodifusão, de radiotelegrafia e similar, salvo reciprocidade de tratamento; e X - prestar assistência religiosa às Forças Armadas e auxiliares, e também aos estabelecimentos de internação coletiva. § 1º O disposto no item I deste artigo não se aplica aos navios nacionais de pesca. § 2º Ao português, no gozo dos direitos e obrigações previstos no Estatuto da Igualdade, apenas lhe é defeso: a) assumir a responsabilidade e a orientação intelectual e administrativa das empresas mencionadas no item II deste artigo; b) ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive de navegação fluvial e lacustre, ressalvado o disposto no parágrafo anterior; e c) prestar assistência religiosa às Forças Armadas e auxiliares. Art. 107. O estrangeiro admitido no território nacional não pode exercer atividade de natureza política, nem se imiscuir, direta ou indiretamente, nos negócios públicos do Brasil, sendo-lhe especialmente vedado: I - organizar, criar ou manter sociedade ou quaisquer entidades de caráter político, ainda que tenham por fim apenas a propaganda ou a difusão, exclusivamente entre compatriotas, de idéias, programas ou normas de ação de partidos políticos do país de origem; II - exercer ação individual, junto a compatriotas ou não, no sentido de obter, mediante coação ou constrangimento de qualquer natureza, adesão a idéias, programas ou normas de ação de partidos ou facções políticas de qualquer país; III - organizar desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza, ou deles participar, com os fins a que se referem os itens I e II deste artigo. Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo não se aplica ao português beneficiário do Estatuto da Igualdade ao qual tiver sido reconhecido o gozo de direitos políticos. XII - introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino ou irregular: Pena: detenção de 1 (um) a 3 Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 69 (três) anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão. XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de registro, de alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou, quando exigido, visto de saída: Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro, expulsão. XIV - infringir o disposto nos artigos 45 a 48: Pena: multa de 5 (cinco) a 10 (dez) vezes o Maior Valor de Referência. Art. 45. A Junta Comercial, ao registrar firma de que participe estrangeiro, remeterá ao Ministérioda Justiça os dados de identificação do estrangeiro e os do seu documento de identidade emitido no Brasil. Parágrafo único. Tratando-se de sociedade anônima, a providência é obrigatória em relação ao estrangeiro que figure na condição de administrador, gerente, diretor ou acionista controlador. Art. 46. Os Cartórios de Registro Civil remeterão, mensalmente, ao Ministério da Justiça cópia dos registros de casamento e de óbito de estrangeiro. Art. 47. O estabelecimento hoteleiro, a empresa imobiliária, o proprietário, locador, sublocador ou locatário de imóvel e o síndico de edifício remeterão ao Ministério da Justiça, quando requisitados, os dados de identificação do estrangeiro admitido na condição de hóspede, locatário, sublocatário ou morador. Art. 48. Salvo o disposto no § 1° do artigo 21, a admissão de estrangeiro a serviço de entidade pública ou privada, ou a matrícula em estabelecimento de ensino de qualquer grau, só se efetivará se o mesmo estiver devidamente registrado (art. 30). Parágrafo único. As entidades, a que se refere este artigo remeterão ao Ministério da Justiça, que dará conhecimento ao Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 69 Ministério do Trabalho, quando for o caso, os dados de identificação do estrangeiro admitido ou matriculado e comunicarão, à medida que ocorrer, o término do contrato de trabalho, sua rescisão ou prorrogação, bem como a suspensão ou cancelamento da matrícula e a conclusão do curso. XV - infringir o disposto no artigo 26, § 1º ou 64: Pena: deportação e na reincidência, expulsão. Art. 26. O visto concedido pela autoridade consular configura mera expectativa de direito, podendo a entrada, a estada ou o registro do estrangeiro ser obstado ocorrendo qualquer dos casos do artigo 7º, ou a inconveniência de sua presença no território nacional, a critério do Ministério da Justiça. § 1º O estrangeiro que se tiver retirado do País sem recolher a multa devida em virtude desta Lei, não poderá reentrar sem efetuar o seu pagamento, acrescido de correção monetária. Art. 64. O deportado só poderá reingressar no território nacional se ressarcir o Tesouro Nacional, com correção monetária, das despesas com a sua deportação e efetuar, se for o caso, o pagamento da multa devida à época, também corrigida. XVI - infringir ou deixar de observar qualquer disposição desta Lei ou de seu Regulamento para a qual não seja cominada sanção especial: Pena: multa de 2 (duas) a 5 (cinco) vezes o Maior Valor de Referência. Se a infração for punível com multa, será apurada por meio de processo administrativo conduzido pelo Ministério da Justiça. No caso das infrações puníveis com prisão (reclusão ou detenção), será aplicado o Código de Processo Penal. Quanto às penalidades de deportação e expulsão, serão observados os procedimentos previstos no próprio Estatuto. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 69 2. LEI Nº 8.072/1990: LEI DOS CRIMES HEDIONDOS Um crime é qualificado como hediondo porque é considerado muito grave, repugnante, aviltante. O legislador entendeu que esses crimes merecem uma maior reprovação por parte do Estado. Os crimes hediondos estão no topo da pirâmide da desvaloração axiológica criminal. São os crimes que causam mais aversão à sociedade. A Constituição da República menciona os crimes hediondos no art. 5º, XLIII. XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; A prática de tortura, o tráfico de drogas e o terrorismo são mencionados especificamente pela Constituição. Esses são considerados crimes equiparados a hediondos. Axiologicamente, não há nenhuma diferença entre eles, mas Lei nº 8.072/1990, bem como a própria Constituição, mencionam esses crimes separadamente, de forma que não fazem parte do conjunto dos crimes hediondos, apesar de terem muitas vezes o mesmo tratamento. Os crimes hediondos e os crimes equiparados a hediondos são inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia. A Lei dos Crimes Hediondos menciona ainda, em seu art, 2º, a impossibilidade de concessão de indulto: Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 31 de 69 A graça, o indulto e a anistia são formas de extinção da punibilidade. Anistia é o ato do Poder Legislativo por meio do qual se extinguem as consequências de um fato que em tese seria punível e, como resultado, qualquer processo sobre ele. É uma medida ordinariamente adotada para pacificação dos espíritos após motins ou revoluções. A graça, diferentemente, é concedida a pessoa determinada, enquanto o indulto tem caráter coletivo. Ambos, porém, somente podem ser concedidos por ato do Presidente da República, sendo possível a delegação dessa competência a Ministro de Estado, ao Advogado-Geral da União ou ao Procurador-Geral da República. A redação original do inciso II do art. 2º vedava também a concessão de liberdade provisória nos casos de crimes hediondos e equiparados. Você pode notar, entretanto, que a Constituição não fez qualquer menção à restrição da liberdade do acusado por tais crimes. Pelo contrário, o teor do art. 5º, LXVI, é no sentido de que ³QLQJXpP�GHYH�VHU�OHYDGR�j�SULVmR�RX�QHOD�PDQWLGR��TXDQGR�D�OHL�DGPLWLU� D� OLEHUGDGH� SURYLVyULD�� FRP� RX� VHP� ILDQoD´�� )RL� SRU� HVVD� UD]mR� TXH� R� dispositivo foi alterado em 2007, e hoje os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis, mas o acusado apenas pode ter sua liberdade restringida cautelarmente quando houver decisão judicial fundamentada, e apenas nos casos previstos em lei (art. 312 do CPP). Mas quais são os crimes hediondos? Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V); Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 32 de 69 II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine); III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o); IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). VII-A ± (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticosou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado. Antes da alteração sofrida pelos incisos V e VI em 2009, havia uma grande discussão doutrinária acerca da inclusão ou não do estupro (e atentado violento ao pudor) em suas formas qualificadas no rol dos crimes hediondos, pois os dispositivos mencionados apenas tratavam do caput dos artigos correspondentes do Código Penal. Hoje você pode notar que os dispositivos tratam do caput e dos parágrafos do art. 213. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 33 de 69 CRIMES HEDIONDOS CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS Homicídio por grupo de extermínio, e homicídio qualificado Tortura Latrocínio Extorsão qualificada pela morte Extorsão mediante sequestro e na forma qualificada Tráfico de Drogas Estupro simples e de vulnerável Epidemia com resultado morte Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais Terrorismo Genocídio Já houve muita controvérsia na Doutrina acerca da possibilidade de progressão de regime do condenado por crime hediondo. Com as alterações legislativas que sofreram os parágrafos do art. 2º, a discussão foi sepultada de uma vez por todas. § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. § 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente. É interessante também saber que o juiz deve decidir fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade, caso haja condenação. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 34 de 69 A redação anterior do §1º era de que a pena seria cumprida integralmente em regime fechado. O §1º foi recentemente declarado inconstitucional pelo STF, em sede de controle difuso, no julgamento do HC 111840. Abaixo transcrevo trecho da ementa do julgado. Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determina que ³>D@� SHQD� SRU� FULPH� SUHYLVWR� QHVWH� DUWLJR� VHUi� FXPSULGD� LQLFLDOPHQWH� HP� UHJLPH� IHFKDGR³�� Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da condenação por crime hediondo ou equiparado. Recomendo que você tome bastante cuidado ao responder uma eventual questão de prova sobre esse tema, pois a banca pode ainda não ter incorporado a nova Jurisprudência. Cuidado também com expressões que façam menção diretamente à lei. Essas são as tais ³TXHVW}HV�EOLQGDGDV´� É possível a progressão de regime do condenado por crime hediondo, sendo possível quando se der o cumprimento de 2/5 da pena (apenado primário), ou de 3/5 (reincidente). A Lei dos Crimes Hediondos determina que a pena deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. Todavia, o STF já declarou este dispositivo constitucional em sede de controle difuso. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 69 Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. O art. 288 do Código Penal diz respeito ao crime de quadrilha ou bando. Quando a quadrilha ou bando tiver por objeto a prática de crimes hediondos ou equiparados a hediondos, haverá aumento de pena: a pena cominada pelo CP é de reclusão de 1 a 3 anos, enquanto, neste caso, será de reclusão de 3 a 6 anos. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. O parágrafo único traz mais uma hipótese de delação premiada, aqui chamada de traição benéfica. É importante que você compreenda que, quanto a crimes hediondos, a delação premiada somente se aplica quando houver quadrilha ou bando, formada especificamente para o fim de cometer crimes hediondos ou equiparados. Caso um participante da quadrilha ou bando denuncie o grupo às autoridades, levando ao seu desmantelamento, sua pena será reduzida de 1 a 2 terços. Um aspecto encarado pela Doutrina é o que diz respeito à prova do desmantelamento da quadrilha ou bando. Obviamente é muito difícil fazer essa comprovação, e nada impede que, mesmo que todos os componentes sejam presos, eles voltem a reunir-se no futuro para a prática dos mesmos crimes. O Poder Judiciário deve, portanto, encarar com parcimônia o dispositivo legal. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 69 DELAÇÃO PREMIADA NOS CRIMES HEDIONDOS TRAIÇÃO BENÉFICA - Apenas quando houver quadrilha ou bando formado especificamente para a prática de crimes hediondos ou equiparados a hediondos; - O participante ou associado da quadrilha ou bando precisa denunciá-la às autoridades, possibilitando seu desmantelamento; - A pena será reduzida de um a dois terços. 3. LEI Nº 10.446/2002: INFRAÇÕES PENAIS DE REPERCUSSÃO INTERESTADUAL OU INTERNACIONAL QUE EXIGEM REPRESSÃO UNIFORME Esta é uma lei bastante simples, que trata da possibilidade de a Polícia Federal investigar o cometimento de infrações penais quando houver repercussão interestadual ou internacional que exijam repressão uniforme. Art. 1o Na forma do inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre outras, das seguintes infrações penais: I ± sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal), se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima; II ± formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 37 de 69 III ± relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte; e IV ± furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens evalores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação. V - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e venda, inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal). Parágrafo único. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polícia Federal procederá à apuração de outros casos, desde que tal providência seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justiça. Primeiramente quero chamar sua atenção para o caput do art. 1º. Você já sabe que a Polícia Federal é um departamento do Ministério da Justiça, competente para investigar certos crimes, quando estiver configurado o interesse da União. Digo isso para deixar bem claro que a regra geral é de que as polícias civis dos Estados investiguem a maior parte dos crimes, enquanto a Polícia Federal deve entrar em cena em casos específicos. Pois bem, para que haja a ampliação da competência da Polícia Federal, é necessário primeiramente que os crimes mencionados neste dispositivo tenham repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme. Isso significa que o crime deve ultrapassar esses limites, de maneira que, para responsabilizar os agentes, seja necessária uma ação uniforme, e aí então se justificaria a ação da polícia judiciária que pode atuar em qualquer estado da federação ou mesmo em outros países. Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 69 Nos casos previstos no dispositivo, portanto, a Polícia Federal pode executar as atividades investigativas, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública dos estados envolvidos. Em seguida o dispositivo traz uma lista dos crimes que podem ser investigados pela Polícia Federal quando tiverem repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme. Chamo sua atenção aqui para um detalhe: essa lista é meramente exemplificativa, como podemos concluir pela leitura do próprio caput, que utiliza a expressão ³dentre outras´ ao se referir às infrações penais listadas. Quando aos crimes mencionados, é importante memorizar todas as hipóteses, mas dê uma atenção especial à violação de direitos humanos. A Constituição Federal de 1988, em seu art. 109, §5º prevê a possibilidade de deslocamento de competência da Justiça comum estadual para a Justiça Federal nesses casos. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. Aqui estamos tratando da competência para julgar, e não exatamente da competência para investigar. Em 2005 o STJ indeferiu um pedido de deslocamento de competência da Justiça Estadual do Pará para a Justiça Federal, num caso que ficou muito conhecido: o assassinato de Dorothy Stang. À época, o STJ reconheceu que as autoridades estaduais estavam empenhadas na investigação do ocorrido, e, portanto, não havia que se falar em dúvida quanto ao cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil em matéria de direitos humanos. Por Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 69 outro lado, ao indeferir o pedido, a decisão deixou claro que não haveria prejuízo ao inciso III do art. 1º da Lei nº 10.446/2002. Nossa conclusão, portanto, é de que o deslocamento da competência para julgar violações de direitos humanos previsto na Constituição não está necessariamente relacionado à possibilidade de a Polícia Federal investigar tais crimes. Quando houver repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme, poderá a Polícia Federal proceder à investigação, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança, dentre outras, das seguintes infrações penais: INFRAÇÃO PENAL COMENTÁRIOS Sequestro, cárcere privado e extorsão mediante sequestro (arts. 148 e 159 do Código Penal). Se o agente foi impelido por motivação política ou quando praticado em razão da função pública exercida pela vítima. Formação de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990). Infrações penais relativas à violação a direitos humanos. Quando a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir a infração em decorrência de tratados internacionais de que seja parte. Furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional. Quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação. Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais e venda, Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 40 de 69 inclusive pela internet, depósito ou distribuição do produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado (art. 273 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal). Legislação Especial p/ PF (Agente) Teoria e exercícios comentados Prof. Paulo Guimarães - Aula 10 Prof. Paulo Guimarães www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 69 4. RESUMO DO CONCURSEIRO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO ± PARTE III O estrangeiro residente no Brasil goza de todos os direitos reconhecidos aos brasileiros. O exercício de atividade remunerada e a matrícula em estabelecimento de ensino são permitidos ao estrangeiro com as restrições estabelecidas no Estatuto e no seu regulamento. O estrangeiro registrado é obrigado a comunicar ao Ministério da Justiça no prazo de 30 dias sua mudança de domicílio ou residência. Além disso, o estrangeiro que adquirir outra nacionalidade deverá requerer averbação do fato em seus registros, no prazo de 90 dias. É VEDADO AO ESTRANGEIRO... I - ser proprietário, armador ou comandante de navio nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre; * Aplicável também aos portugueses Qualquer atividade relacionada ao transporte de cargas e passageiros é considerada estratégica, e por isso estrangeiros não devem exercer certas atividades relacionadas ao comando de navios nacionais. Essas atividades incluem não só a propriedade e o comando dos navios, mas também a atividade do armador, que é quem efetivamente opera os navios. A regra do item I não aplica aos navios nacionais de pesca. V - ser proprietário ou explorador de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica; VI - ser corretor de navios, de fundos públicos, leiloeiro e despachante aduaneiro; São outras funções relacionadas com o comércio
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