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S Í NDROME DE BE H ÇET É quadro raro caracterizado pela tríade: uveíte, ulcerações orais e genitais, além de manifestações sistêmicas múltiplas, oculares, gastrintestinais, arti- culares e neurológicas. A doença tem sua maior pre- valência na Turquia sendo ainda bastante freqüente no Japão, sul da Ásia, Oriente Médio e sul da Euro- pa, nos países mediterrâneos. A ocorrência de casos familiares varia de acordo com as várias regiões sen- do máxima no Oriente Médio onde representa 1 O a 15% dos casos. PATOGE NI A A etiologia é desconhecida, embora a origem in- fecciosa, pai-ticularmente vira!, tenha sido admitida, ainda que nunca demonstrada. A possibilidade de infecções desencadearem anormalidades imunológicas em indivf duos geneticamente predispostos é conside- rada. Verificou-se associação significativa entre doen- ça de Behçet e HLA-B5 1, especialmente em doentes asiáticos, e, possíveis relações com herpes virus homi- nis, vírus das hepatites, parvovírus B19, streptococcus sanguis e staphylococcus pyogenis têm sido investigadas. A possível desregulação imune induzida pelos agentes infecciosos levaria a lesões vasculares por deposição de imunocomplexos ou por ação linfocitotóxica. Os neutrófilos desces doentes produzem maiores quan- tidades de peróxidos e de enzimas lisossomais além de resposta quimiotática mais acentuada favorecendo INFLAMAÇÕES NÃO-INFECCIOSAS as lesões tissulares. A maior ativação dos linfócitos parece resultar de aumento dos níveis circulantes da TNFa, IL-1~ e IL-8. Demonstrou-se ação linfocito- tóxica in vitro dos linfócitos dos doentes sobre suas próprias ce:iulas epiteliais da mucosa oral, bem como transformação blástica de linfócitos em presença de extratos de epitélio mucoso. Também se demonstram anticorpos hemaglutinantes contra extratos de muco- sa oral fecal, portanto, há evidências da participação de mecanismos imunes na pacogênese do processo. MAN I FESTAÇÕES CLÍNICAS É mais freqüente em homens e atinge preferencial- mente a faixa etária dos 10-30 anos. Existem manifestações mucosas, cutâneas e sistê- nucas. • Lesões mucosas. As ulcerações orais que se iniciam sob forma de micropúsculas podem ser dos tipos, superficiais, erosivas, tipo afta ou profundas pun- tadas. Atingem lábios, gengivas, mucosa bucal e língua e, às vezes, palato, faringe e aré mesmo esôfago. Como resultado das lesões orais surgem dor, disfagia e halicose (Figura 53.1). As ulcerações genitais acometem predominante- mente escroto e base do pênis no homem e lábios vulvares na mulher, sendo de dimensões menores em relação às ulcerações orais (Figura 53.2) . 860 D ERMATOLOGIA • • Lesões cutâneas. Em 80% dos casos existem lesões cutâneas de vários tipos, sendo mais sugestivas as lesões pustulosas de vasculite, lesões ripo eritema nodoso, lesões tipo síndrome de Sweer (Figura 53.3), lesões tipo pioderma gangrenoso e lesões de púrpura palpável. A5 lesões pustulosas têm, mais freqüentemente, localização acral e as le- sões tipo eritema nodoso são mais freqüentes nas mulheres. Podem ainda ocorrer tromboflebites superficiais, lesões acneiformes e lesões pápulo- pustulosas foliculares. Lesões sistémicas. As lesões oculares w1i ou bilate- rais são de vários tipos desde conjuntivite inicial até queratites, retinires e coroidites, sendo mais comuns a uveíte, particularmente uveíte anterior, e a irite. As lesões oculares, que ocorrem em 90% dos casos, podem levar a complicações graves, ca- tarata, glaucoma e hipopion que podem resultar em ceguetra. F1G. 53.1 . Síndrome de Behçet. Múltiplas erosões na face interna do lábio superior. F1G. 53.3. Síndrome de Behçet Lesões pápulo-purpúricas nos pés. Em cerca de 20% dos casos ocorrem lesões do sis- tema nervoso com comprometimento de nervos cranianos, meningoencefalites, meningomielites e alterações psíquicas tipo confusão mental. • L esões vasculares. Podem produzir aneurismas, oclusões arteriais e venosas, que podem determi- nar doença coronariana, miocardite e arritmias. O sistema venoso pode ser atingido por trombo- flebites, mais freqüentemente de tipo migratório su- perficial e mais raramente profundas. Podem ocorrer artrites assimétricas, alterações car- díacas, miocardite, endocardite, e arterite coronariana, bem como nefropatia variável, desde glomerulonefrite membrano-proliferativa até glomerulonefrites rapida- mente evolutivas. Podem ocorrer lesões aftóides no tubo digestivo capazes de provocar perfurações. O curso é crônico, sendo o prognóstico pior nos homens, com HLA-B51 positivo, e in ício precoce das manifestações sistêmicas. F1G. 53.2. Síndrome de Behçet Lesões erosivas de pênis. HJSTOPATOLOG!A Demonstra fundamentalmente alterações vascula- res, desde perivasculite linfocitária a verdadeira vascu- lite leucocitoclásica, com degeneração fibrinóide das paredes vasculares, infiltrado neutrofílico com leuco- citoclasia e extravasamento de hemácias. As lesões tipo eritema nodoso traduzem-se por paniculite lobular e septal com infiltrado neutrofílico ou linfohistiocitário. As lesões acneiformes expressam foliculite supurativa com ou sem infiltrado granulomatoso. D IAGNOSE Como é doença multissistêmica para a qual não existem exames laboratoriais patognomônicos, o diag- nóstico é fundamentalmente clínico existindo tentati- vas de estabelecer-se critérios diagnósticos, o último dos quais, de 1990, foi proposto por um grupo in- ternacional de estudo da doença, que considera os seguintes parâmetros clínicos: É fundamental a presença de aftas orais recorrentes pelo menos 3 vezes no período de 1 ano. Além desse critério fundamental, são necessários 2 ou mais dos seguimes elementos clínicos: aftas genitais recorrentes, lesões oculares (uveíte anterior ou posterior), células no humor vítreo (visíveis à lâmpada de fenda e vascu- lite retiniana), lesões cutâneas (lesões tipo eritema no- doso, lesões pápulo-pustulosas, lesões acneiformes) e teste para patergia (vasculite leucocitoclásica ou reação neutrofílica perivascular após 24 a 48 horas da intro- dução, em condições estéreis, de agulha na pele). Na diagnose diferencial, devem ser consideradas: doença de Reiter, manifestações de doença inflamató- ria intestinal, aftas comuns recorrentes e, em relação às lesões pustulosas, lesões septicêmicas de meningite e vasculites necrotizantes com pústulas. TRATAMENTO Nas formas mucocutâneas, são utilizados corticos- reróides tópicos, infiltração intralesional de corcicoste- róides e anestésicos tópicos. Também podem ser em- pregados, nestas formas, a colchicina por via oral, 0,5 mg 2 a 3 vezes ao dia; talidomida 50 a 100 mg/ dia e DDS 50 a 150 mg/dia. Nas formas sistêmicas, são empregados os corcicói- des por via oral 1 mg/kg/dia ou em pulsos, isolada- mente ou associados, a imunossupressores, azariopri- na, 50 a 100 mg/dia, ciclofosfamida por via oral ou em pulsos de 500 a 1000 mg/mês, clorambucil, 4 a INFLAMAÇÕES NÃO- INFECCIOSAS 6 mg/dia, micofenolato de mofetil 1 a 1,5 g/dia ou ciclosporina 3 a 5 mg/kg/dia. Existem relatos da uti- lização com bons resultados de gamaglobulina endo- venosa e de agentes biológicos inibidores do TNF-o:, infliximab, etanercept. SÍNDROME DE REITER A síndrome de Reiter caracteriza-se por uma po- liartrite, atingindo especialmente as articulações dos joelhos e tornozelos, acompanhando-se de lesões mu- cocutâneas e oculares. Há duas formas da síndrome de Reiter, uma que surge após uma infecção intestinal e outra após uretrite não-gonocócica. Nas formas pós-infecções intestinais, são respon- sáveis algumas bactérias gram-negativas, Salmonella enteritidis, Salmonella typhimurium, Salmone!la heide!- berg, Shighella jlexneri tipo 1 b e 2a, Shighella dysenteriae, Yersinia enterocolítica, Yersiniapseudotuberculosis, Cam- pylobacter fatus e C!ostridium dijficile. As formas uretrais relacionam-se aos germes chlamydia, particularmente Chlamydia trachomatis e gênero mycoplasma. PATOGENIA A causa não é conhecida mas, na gênese da en- fermidade, participam fatores genéticos, infecciosos e imunológicos. Os fatores genéticos são representados pela estreita associação entre o antígeno de histocompatibilidade · HLA-B27 e a síndrome de Reiter (70 a 80% de fre- qüência de HLA-B27 nos doentes da síndrome) . O mecanismo pelo qual os microrganismos en- volvidos na síndrome desencadeiam o processo não é conhecido, existindo apenas hipóteses. Uma primei- ra hipótese admite que a molécula HLA-B27 induz a tolerância imunológica altamente específica a estes microrganismos pela eliminação de clones específicos de células T. A resposta imune seria induzida e man- tida pela persistência dos microrganismos. Em favor desta hipótese registra-se o encontro de antígenos de chlamydia e yercinias na sinovia de alguns doentes. Outra hipótese postula a estimulação de linfócitos T por antígenos bacterianos. Finalmente, existe a hipótese auto-imune que admite a possibilidade de ocorrer, por estimulação imunogênica pelas bactérias, perda da tolerância a moléculas do próprio organis- mo, resultando resposta patogênica a estes antígenos, provavelmente a nível de células CDS, pois a doença ocorre em portadores de HIV, com níveis praticamen- te ausentes de CD4. 861 862 DERMATOLOGIA MANIFES TAÇÕES CLÍNI CAS Cerca de 1 semana a 1 mês após a infecção in- testinal ou genital, surgem as manifestações uretrais, oculares, articulares e mucocucâneas da síndrome. Lesões mucocutâneas: O componente mucocutâ- neo é freqüente, em geral de aparecimento cardio e mais comum nas formas com uretrice. Várias lesões cutâneas podem existir, sendo característico o chama- do queratoderma que se expressa por lesões, de início vésico-pustulosas que evoluem para lesões queratósi- cas, descamativas e crostosas, de localização predomi- nantemente plantar e que ocorrem em cerca de 15% dos doentes. Outras regiões podem ser atingidas, es- pecialmente regiões palmares e couro cabeludo, com aspecto, por vezes, psoriasiforme (Figura 53.4). Como conseqüência das lesões pustulosas de ex- tremidades, podem surgir onicólise e onicodistrofias (Figura 53.5). Na região peniana podem existir le- sões erirêmato-descamativas configurando o quadro de balanite circinada, que ocorre em mais de 30% dos doentes. Nos indivíduos não circuncidados, as lesões assumem a forma de erosões superficiais úmi- das que coalescem com configuração circinada. Nos indivíduos circuncidados, formam-se crostas e placas queratósicas. Uretrite e prostatite ocorrem com freqüência. Podem ocorrer associadamente alterações cardíacas como taquicardia, distúrbios de condução e as altera- ções neurológicas são raras, podendo ocorrer particu- larmente neuropatias periféricas. Em relação às lesões oculares, a mais freqüente é uma conjuntivite de curta duração. Menos freqüen- temente ocorrem queratites, uveíres e ulcerações da córnea. F1G. 53.4. Síndrome de Reiter. Queratoderma plantar. Lesões queratósicas e descamativas. A artrite é o elemento clínico dominante na sín- drome atingindo especialmente joelhos, tornozelos e pés, com dor e edema. Há caracteristicamente infla- mação nos pontos de inserção dos ligamentos e ten- dões, fasciíte plantar e tendinite do tendão do tibial posterior e do tendão de Aquiles. O estado geral pode estar acometido com febre, mal-estar, anorexia e perda de peso. HISTOPATOLOGIA Nas lesões queratodérmicas, o quadro histopatoló- gico é indistinguível da psoríase pustulosa com hiper- queratose, paraqueratose, acantose com alongamento dos cones epiteliais, presença de microabscessos de Munro e pústulas espongiformes. Pode ser elemento indicativo da síndrome de Rei- ter a presença de hiperqueratose muito acentuada em relação à observada na psoríase. D IAGNOSE A diagnose é feita pelo conjunto dos dados clínicos, compatibilidade dos achados histopatológicos e alguns exames laboratoriais reforçam o diagnóstico: demons- tração da presença de HLA-B27, aumento da hemosse- dimentação ao lado de outras provas de atividade infla- matória como a proteína C reativa, anemia hipocrômica ou normocrômica, h ipoalbuminemia. A pesquisa de anticorpos séricos contra agentes microbianos capazes de provocar a síndrome, culturas de urina e fezes, de- monstração do D NA destes possíveis agentes por PCR, também contribuem para a diagnose. É recomendável, em todos os casos de síndrome de Reiter, a pesquisa de infecção pelo H IV, pela freqüência desta associação. F1G. 53.5. Síndrome de Reiter. Lesões psoriasiformes palmares e de extremidades dos dedos com onicodistrofias. A diagnose diferencial deve ser feita com a psoría- se, particularmente nas formas com artrite associada, outras doenças articulares inclusive febre reumática, síndrome de Behçet e artrites sépticas. TRA T AM ENTO Nas formas que sucedem infecções uretrais por chla- mydia, os antibióticos, particularmente tetraciclinas, doxiciclinas e ciprofloxacina, devem ser prescritos. Estes antibióticos também devem ser empregados nas formas recentes, ainda que não se tenham deter- minado patógenos específicos na eclosão da doença. Nas formas agudas febris, indicam-se os an tiinfla- matórios não-hormonais particularmente quando há componente articular importante. São mais efetivos fenilbutazona, indomecacina e naproxeno. Eventual- mente, nas formas ar~iculares, pode ser empregada sulfazalazina. Os doentes com manifestações articu- lares evoluem com freqüência a espondilite anquilo- sante. Com relaçã.o às lesões cutâneas, são tratadas de mu<lu idêntico à psoríase pustulosa: UVB, coaltar, corticóides tópica e sistemicamente, acitretin e, even- tualmente, PUVA, metotrexato e ciclosporina. PIODERMA GANGRENOSO Essa afecção é também denominada piodermice gangrenosa, fagedenismo geométrico, úlcera serpigi- nosa progressiva pós-operatória e úlcera crônica de Meleney. É caracterizada por lesões cutâneas únicas ou múltiplas localizadas preferentemente nos mem- bros inferiores, tronco e cabeça. É de evolução crôni- ca, rebelde aos tratamentos e recidivante. Pode ocorrer em qualquer idade sendo mais fre- qüente entre os 20 e 50 anos, mais comumente em mulheres. Apenas 4% dos casos ocorrem antes dos 15 anos, mas, em crianças, a associação com doenças sistêmicas é baseante freqüente, ocorrendo em cerca de 75% dos casos. PATOGENIA N umerosos agentes microbianos, particularmente bactérias, têm sido incriminados como responsáveis pela moléstia: esta.filococos plasmocoagulase positivos, estrep tococos microaerófilos, bacilos gram-negativos, associação fuso-espirilar e outros, porém, hoje, está suficientemente demonstrado que a doença não é causada por bactérias. A etiologia do pioderma gan- IN FLAMAÇÕES NÃO-I NFECCIOSAS grenoso permanece desconhecida, embora se detectem alterações imunológicas que podem representar ape- nas epifenômenos. Têm sido assinaladas: diminuição da resposta a antígenos de memória pelos linfócitos, diminuição da transformação blástica frente a mitó- genos e antígenos específicos, indicando possível alte- ração da imunidade celular, mas estas anormalidades não são observadas de forma constante. Alterações da função neutrofílica também foram reportadas, mas não uniformemente, particularmente alterações da quimiotaxia. Registre-se que hiperimunoglobuline- mias que freqüentemente ocorrem no pioderma gan- grenoso, particularmente gamopatias por IgA, podem comprometer a função quimiotática dos neutrófilos. A freqüente associação do pioderma gangrenoso com doenças siscêmicas com possível mecanismo auco-imune sugere a possibilidade deste mecanismo na gê- nese da enfermidade, embora esta possa ocorrer como manifestação isolada, independentemente de doença sistêmica. Pioderma gangrenoso pode estar associado com doença de Crohn, colite ulcerativa, hepatite, artrite reumatóide, linfomas, leucemia mielóide e outras leu- cemias, mieloma, policitemia vera e gamopacias mo- noclonais, particularmente por IgA. Entretanto, não raramente, nenhuma doença associada é evidenciada. M AN 1 FEST AÇÕES CLÍNICAS A lesão inicial é constituída por grupos de pústulas que coalescem e rapidamente se ulceram. Freqüente- mente, a lesão primária se inicia sobre traumatismos, incisão cirúrgica, furún culos ou mesmo picadas de u1secus. As características fundamentais da úlcera que se forma são suas bordas descoladas, subminadas e sua tendência ao crescimento rápido, centrífugo, podendo atingir grandes extensões. As bordas das úlceras são nítidas, elevadas, de cor vinhasa, com halo eritematoso ao redor do qual a pele cem aparência normal. A parte central da ulceração, às vezes, cicatriza, continuando a lesão a crescer pelas bordas, geralmen- te circinadas ou serpiginosas. O fundo da úlcera é granuloso, avermelhado e se apresenta recoberto por secreção seropurulenca. A úlcera é superficial, não atinge os planos profun- dos - aponeurótico e muscular - exala odor fétido e é, comumente, pouco dolorosa, porém, resultam cicatri- zes atróficas, às vezes de aspecto cribriforme (Figuras 53.6 a 53.8) . 863 864 DE R M ATOLOG IA FrG. 53.6. Pioderma gangrenoso. úlcera de bordas subminadas de cor vinhasa rodeada por halo eritematoso. Fundo granuloso com restos necróticos. Existem duas formas de evolução, uma rápida e a outra, tórpida. A primeira, geralmente associada com doenças hematológicas malignas, evolui com progres- são rápida das lesões, que se mostram extensas, sob forma de vesículas e bolhas purulentas e hemorrágicas, necróticas, altamente inflamatórias, acompanhadas de dor, febre e toxemia. Esta forma atinge preferente- mente a face e extremidades superiores, especialmente o dorso das mãos. A segunda forma, é de progressão lenta, com lesões mais freqüentemente localizadas nos membros inferiores, especialmente nas regiões pré-ti- biais. Em crianças, as regiões mais freqüentemente acometidas são a cabeça, as áreas genitais e perianais. Alguns autores correlacionam certas apresentações clínicas com as condições sistémicas associadas: for- mas vésico-bolhosas associar-se-iam mais freqüente- mente a doenças hematológicas, formas constituídas por múltiplas pústulas estariam relacionadas a doença inflamatória intestinal. O chamado pioderma granu- lomatoso superficial caracteriza-se por lesões ulcerosas ou vegetantes e se relaciona a traumas ou cirurgia. C onsidera-se, como variante do pioderma gangreno- so, a pioestomatite vegetante que se traduz por lesões vegetantes crônicas dos lábios e mucosa bucal e que se associa a doença inflamatória intestinal. Manifestação clínica clássica no piodenna gangre- noso, que ocorre em cerca de 20% dos doentes, é o fenômeno da patergia, que resulta no desencadeamen- to de novas lesões por injeções intradérmicas ou intra- musculares e mesmo venopunturas, picadas de inseto, biopsias e procedimentos cirúrgicos. Além destes estí- mulos mecânicos, observou-se exacerbação da doença por iodew de potássio, GM-CSF e interferon. F1G. 53.7. Pioderma gangrenoso. Múltiplas ulcerações e cicatrizes na face, pescoço e tronco. r. ~ I · I F1G. 53.8. Pioderma gangrenoso. Úlcera irregular com restos necróticos nas bordas e fundo granuloso. Associações sistêmicas no pioderma gangrenoso. Em 40 a 50% dos casos, a doença ocorre de modo idio- pático sem relação com outra afecções, mas, freqüen- temente. Existem doenças sistêmicas subjacentes: • • • Doenças inflamat6rias intestinais crônica. Retoco- li te ulcerativa e doença de Crohn - ocorrem em 20 a 30% dos doentes. Artrites (artrite soronegativa, artrite reumatóide e espondilite). Estão associadas em cerca de 20% dos casos. Doenças hematol6gicas (leucemia mielóide, leuce- mia de células cabeludas, mielofibrose e gamo- patias monodonais particularmente por IgA). Ocorrem em cerca de 15 a 25% dos casos. Também podem estar associadas ao pioderma gan- grenoso outras afecções neutrofílicas: pustulose sub- córnea, síndrome de Sweet e doença de Behçet. HISTOPATOLOG IA As alterações histopatológicas não são patogno- mônicas. Há edema, necrose, infiltrado inflamatório predominantemente neutrofílico que leva à formação de abscessos e necrose com trombose secundária das vênulas. Em alguns casos, há vasculite necrotizante. Nas lesões mais antigas, há hiperplasia pseudoepite- liomatosa das bordas da úlcera, formação de granulo- ma de tipo corpo estranho, proliferação de capilares e fibrose. DIAGNOSE A diagnose é essencialmente clínica, devendo a piodermite gangrenosa ser distinguida das úlceras fagedênicas do cancro mole, sífilis terciária, da ame- bíase cutânea, da tuberculose cutânea, das micobac- terioses adpicas, de vasculites necrotizantes, dos ha- logenodermas, das micoses profundas e do pênfigo vegetante. Os exames de laboratório são úteis, mas não con- firmam efetivamente a diagnose. Para excluir as hipóteses citadas, recorre-se ao exa- me histopatológico, reações sorológicas, exame bacte- rioscópico, culturas e inoculações para isolamento do bacilo de Koch. O exame bacteriológico - aero e anaerobiose - é útil na identificação da flora bacteriana existente. 1 N FLAMAÇÕES NÃ0-1 NFECCIOSAS Outros exames poderão estar indicados como co- lonoscopia e estudo radiológico do trato digestivo na suspeita de colite ulcerativa. São ainda importantes todos os exames necessários para exclusão de doença sistêmica de base, avaliação imunológica e determina- ção das proteínas séricas . TRATAMENTO 1. Tópico: limpeza com permanganato de potássio a 1:20.000 ou água de Dalibour a 10%. Cremes ou pomadas de antibióticos e, mais recentemen- te, há relatos de sucesso, em alguns casos, com o uso de tacrolimus tópico. 2. Corticóide sistémico: dose inicial de 1 a 2 mg/ kg/ dia de prednisona, posteriormente reduzida com a melhora do quadro para dose de manu- tenção em dias alternados. 3. Corticóide intralesional: nas bordas das lesões são úteis para lesões isoladas. 4. Sulfona: na dose de 100-300 mg/dia, isolada- mente ou associada com o corticóide. 5. Sulfasalazina: usada na dose de 1-4 g/ dia para controle da colite ulcerativa, pode ser efetiva no pioderma gangrenoso, mesmo na ausência de processo intestinal. 6. Azatioprina: 50 a 200 mg/dia ou ciclofosfamida 100 mg/ dia podem ser associados ao corticoste- róide. Atualmente, também é empregada, com bons resultados, a ciclosporina, nas doses de 6 a 1 O mg/kg/ dia. 7. Numerosas drogas foram relatadas como tendo resultados eficazes, como minociclina (300 mg/ dia), rifampicina ( 600 mg/ dia), clofazimina (100- 300 mg/dia) e talidomida (100-300 mg/dia). Há também relato sobre a eficácia do oxigênio hiper- bárico e da plasmaferese. MANIFESTAÇÕES CUTÂNEAS DA DOENÇA DE CROHN A doença de Crohn é processo granulomatoso não- específico e localizado no intestino, que ocorre em am- bos os sexos, predominando entre os 20 e os 40 anos. Existem evidências de alterações do complemento, su- gerindo substrato imune para o processo e aparente- mente existe base genética comum entre a doença de Crohn, a colite ulcerativa e a espondilite anquilosante. 865 866 D ERMATO L OGIA As fases de atividade da doença podem cursar com manifestações cutâneas várias: • • • • • Alterações inflamatórias perianais que podem se estender ao períneo, nádegas e abdome, caracte-rizadas por úlceras, físrulas, ou placas vegetantes - ocorrem em um terço dos doentes com ileíte de Crohn. Lesões caracterizadas por eritema e edema do es- croto ou dos grandes lábios. Placas eritematosas que eventualmente ulceram formando placas ulceradas de bordas subminadas com físrulas localizadas mais freqüentemente no abdome, tronco, extremidades superiores, face e lábios. Lesões orais ocorrem em 5 a 20% dos doentes de Crohn e podem se manifestar através de nódulos granulomatosos, nódulos gengivais, lesões aftói- des, ulcerações lineares, queilire angular, queilite granulomatosa, hiperplasia gengival, edema oral difuso e pioestomatite vegetante. Fístulas cutâneas (Figura 53.9) . Podem, ainda, ocorrer manifestações cutâneas rea- tivas: poliarterite nodosa, eritema nodoso, eritema polimorfo, vasculite nodular, baquetearnento dos de- dos, eritema palmar, epidermólise bolhosa adquirida e patergia. HJ STOPATOLOGIA Nas lesões cutâneas e orais encontra-se infiltrado inflamatório granulomatoso com tubérculos epiteliói- des, sem necrose de caseificação, com células gigantes tipo Langhans, idênticos aos encontrados nas lesões inres tinais. DIAG N OSE Clínica e histológica e correlacionando-se as lesões cutâneas à doença intestinal. Muitas doenças devem ser lembradas na diagnose diferencial de acordo com as características e localizações: micoses profundas, sarcoidose, tuberculose e micobacterioses atípicas, donovanose, esquistossomose genital, hidrosadenite, pioderma gangrenoso, linfedema crônico e granulo- mas de corpo estranho. Ações cutâneas são paralelas ao processo intestinal e seu tratamento é o da doença-base, clínico, com corticosteróides ou infliximab, anticorpo monoclonal quimérico IgG 1 anti-T NFa ou cirúrgico. F1G. 5 3 .9. Doença de Crohn. Fístulas perianais. ERITEMA DISCRÔM ICO PERS I STENTE (DERMATOSE CINZENTA) (ERYTHEMA DYSCHROMJCUM PERSTANS) Esta síndrome clínica foi descrita in icialmente em El Salvador, por Ramirez em 1957, e depois reportada ocasionalmente em vários países da América do Sul e em outras regiões. A causa não é conhecida e a in- dividualização desta dermatose é questionável. Vários casos relatados são devidos a drogas, do tipo eritema pigmentar fixo. P ATOGEN I A A etiologia é desconhecida. A possibilidade de relacionamento com drogas aproxima este quadro das erupções medicamentosas fixas. Já foram referi- das relações com exposição a substâncias químicas e tricocefalíase. Os linfócitos T parecem participar da patogênese pois mostram-se ativados e há aumento da expressão de moléculas de adesão. M AN IFESTAÇÕES CLÍNICAS Ocorre em ambos os sexos, sob a forma de nume- rosas lesões maculosas, de forma e tamanhos variá- veis, com tendência a confluir, nas regiões do tronco, membros inferiores, face e pescoço. As máculas são de cor acinzentada, com vanas nuanças e delicadas bordas eritematosas, infiltradas, levemente elevadas (Figura 53.10) . O quadro evolui lentamente e, geralmente, sem prurido ou outros sintomas. H ISTOPATOLOG IA Encontra-se um infiltrado inflamatório perivascu- lar em manguito, com comprometimento epidérmico caracterizado por degeneração hidrópica e incontinên- cia pigmentar. A imunohiscoquímica, há aumento da expressão de ICAM-1, CD36, CD94, CD96. DIAGNOSE A diagnose diferencial deve ser feita com a pinta tardia nas áreas em que ocorre esta treponemacose. Há semelhanças com líquen plano. Aliás, o quadro é tam- bém denominado de líquen pigmentoso. Devem tam- bém ser diferenciadas outras condições hiperpigmenta- res, amiloidose maculosa e mastocicose. Finalmente, o quadro pode ser indistinguível do ericema fixo pig- mentar por droga. M uitos casos descritos como der- matose cinzenta são provavelmente de origem medi- camentosa do tipo de eritema fixo pigmentar. TRATAM ENTO Não existe tratamento efetivo. H á relatos de bene- fícios com clofazimina e laser tipo rubi. ERITEMAS FIGURADOS Compreendem um conjunto de dermatoses ca- racterizadas por erupções anulares ou policíclicas, na maioria das vezes migratórias, geralmente relacionadas a fenômenos de hipersensibilidade a drogas, infecções, picadas de insetos e neoplasia. ERITEMA ANULAR CENTRÍFUGO f quadro caracterizado por lesões anulares de pro- gressão centrífuga de evolução crônica, que ocorre INFLAMAÇÕES N Ã0- 1 NFECCIOSAS F1G. 53. 1 o. Dermatite cinzenta. Máculas acinzentadas rodeadas por bordas eritematosas ligeiramente elevadas. igualmente em homens e mulheres em qualquer idade sendo mais freqüente dos 50 aos 60 anos. A etiologia não é conhecida e, na maioria dos ca- sos, não se demonstram causas precisas. As seguintes possibilidades devem ser consideradas na etiologia do eritema anular centrífugo: neoplasias malignas, infec- ções, infestações, drogas, alimentos e fenômenos auto- imunes. As neoplasias são consideradas porque existem re- latos da presença de lesões de eritema anular centrí- fugo em doentes com neoplasias malignas de pulmão, mama, pâncreas, estômago e intestinos, nos quais, após remoção do rumor, houve desaparecimento das lesões cutâneas. Com relação às infecções existem re- gistros de relação com infecções bacterianas, fúngicas e virais. H á relatos de casos associados a infecções es- trepcocócicas, tuberculose, meningice, infecções virais e alguns autores dão grande importância a associação com candidoses e dermatoficoses e, até mesmo, aos fungos presentes em alimentos como queijos. Tam- bém existem relatos de associação do eritema anular centrífugo com ascaridíase, drogas como salicilatos, cloroquina e penicilina e admite-se a possibilidade de reações de hipersensibilidade a proteínas alimentares. MAN I FESTAÇÕES CLÍN IC AS As lesões são, geralmente, múltiplas e apresentam- se como placas eritematosas, levemente edematosas, urcicariformes, formando lesões anulares, arciformes ou policíclicas. Há tendência a progressão centrífuga das lesões, através das bordas urticariformes e regres- são central com formação de colaretes descamativos na porção interna da borda edematosa (Figura 53.11) . 867 868 DERMATOLOGIA F1G. 53.11. Eritema anular centrífugo. Lesões anulares com bordas eritêmato-escamosas. As lesões individuais desaparecem, sendo substituídas por lesões novas que surgem nas mesmas áreas ou em novos pontos. As áreas mais freqüentemente acome- tidas são o tronco, a parte proximal dos membros, a região glútea e, raramente, a face. As lesões podem ser discretamente pruriginosas. Alguns autores reconhecem duas formas de erite- ma anular centrifugo, uma forma superficial e uma forma profunda, sem qualquer correlação reconhecida com fatores etiopatogênicos. Na forma superficial, as bordas não são infiltradas e predomina a descamação e às vezes existe leve prurido. Na forma profunda, as bordas são infiltradas, não há descamação e não há prurido. H ISTOPATOLOGIA Há manguitos de células inflamatórias em torno dos vasos dérmicos. O infiltrado é predominantemen- te linfocitário com histiócitos e, às vezes, eosinófilos. DIAGNOSE É clínica, corroborada por exame histopatológico de compatibilidade, que permite excluir outros diag- nósticos, que devem ser considerados na diagnose di- ferencial: formas anulares de urticária, tínea corporis, sarcoidose, lúpus eritematoso subagudo, linfomas e pseudolinfomas, outros eritemas migratórios, derma- tite herpetiforme, psoríase e pitiríase rósea. TRATAMENTO Deve-se, sempre, tentar o encontro da possível causa e afastá-la. Pode-se tentar empiricamente o uso de agentes antifúngicos, visando possíveis focos de cândida ou dermatófitos, e antibióticos, visando infecções bacterianas. Podem ser tentados anti-hista- mínicos, antiinflamatórios não hormonais e antima-láricos. Os corticóides sistémicos são muito efetivos, porém sua interrupção determina, em geral, recidiva das lesões. ERITEMA ANULAR FAMILIAR Existem formas familiares, de herança autossômica dominante, que se iniciam em geral em idades mais precoces e, às vezes, se acompanham de anomalias congênitas. As lesões são idênticas às descritas para a forma não familiar e surgem dias após o nascimento. As lesões são mais transitórias, mas persistem anos. Alguns casos representam mànifestações de lúpus eri- tematoso. ERITEMA CRÔNICO MIGRATÓRIO Considerado como manifestação da borreliose (ver Capítulo 39). ERITEMA ANULAR REUMÁTICO (ERITEMA MARG!NATUM) É uma lesão específica de febre reumática, que ocor- re em 10% dos casos desta enfermidade, sendo mais freqüente quando ocorre envolvimento cardíaco. PATOGENIA Provavelmente, uma reação imune ao estreptococo beta-hemolítico do grupo A é responsável pelo desen- cadeamento da doença. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS No início das manifestações da febre reumatica, surgem lesões eritematosas anulares que se dissemi- nam rapidamente, em horas. Além das lesões anu- lares, podem ocorrer lesões policíclicas. As margens das lesões podem ser edematosas, elevadas (eritema marginatum). As lesões ocorrem mais freqüentemen- te no tronco, especialmente nas regiões axilares e nos membros. Ocasionalmente, surgem também no dorso das mãos e face. A erupção, usualmente, precede as lesões articulares. Às vezes, as lesões de eritema marginatum se acompanham de outra manifestação dermatológica da febre reumática caracterizada por pequenos nódulos subcutâneos indolores lo~alizados nas saliências ósseas e tendões, particularmente face posterior do couro ca- beludo e saliências ósseas da coluna que habitualmen- te regridem espontaneamente após semanas. HISTOPATOLOGIA Há infiltrado inflamatório perivascular de linfó- citos e neutrófilos em torno a vasos dilatados, sem vasculite verdadeira. DIAGNOSE Clínica, histopatológica e através dos exames la- boratoriais para febre reumática. Na diagnose dife- rencial, considerar eritema anular centrífugo, lúpus eritematoso, urticária, exantemas infecciosos e exan- tema da artrite reumatóide juvenil, que consiste de pequenas lesões maculosas e papulosas, eritematosas, não pruriginosas, que atingem o tronco, membros e face, sem caráter migratório e que acometem cerca de 25% dos doentes, particularmente meninos. ERITEMA GYRATUM REPENS É um eritema persistente, considerado como mar- cador de câncer visceral (ver Capítulo 83). DOENÇA DE KAWAS AKI É uma vasculite aguda multissistêmica, que, em geral afeta crianças com menos de 5 anos de idade, com pico de incidência entre 1 O e 11 meses. A cau- sa não é conhecida, ainda que toxinas estafilocócicas ou estreptocócicas tenham sido apontadas como par- INFLAMAÇÕES NÃO-INFECCIOSAS tic1pantes do processo etiopatogemco. A doença foi primeiramente relatada no Japão em 1967 por T. Ka- wasaki e, a partir de 1976, foi reportada nos Estados Unidos. No Japão, a incidência da doença é de 5.000 a 6.000 casos por ano, com aproximadamente 67 ca- sos por 100.000 crianças abaixo de 5 anos. PATOGENIA A causa não é conhecida ainda que se atribua im- portância a agentes infecciosos como desencadeantes do processo, inclusive tendo sido descritos surtos epidêmicos da doença. A doença envolve reatividade do sistema imune com aumento de linfócitos T e B ativados, infiltrado de mononucleares e aumento de produção de citoquinas. Toxinas bacterianas e supe- rantígenos de estafilococos e estreptococos têm sido sugeridos como participantes da ativação do sistema imune na doença. MAN 1 FESTAÇÕES CLÍNICAS Os seguintes sintomas ou sinais dermatológicos são importantes para a diagnose. 1. Febre de causa indeterminada, com duração de 5 ou mais dias, ocorre em 95% dos casos.Trata-se de febre alta, 38 a 40ºC que dura 1 a 2 semanas. Quanto maior a duração da febre maior será a possibilidade de ocorrerem lesões cardíacas. 2. Congestão conjuntiva! bilateral ocorre precoce- mente em 87 a 90% dos casos. Não é verdadeira conjuntivite, não havendo secreção, mas apenas vasodilatação e vasocongesrão das conjuntivas. 3. Alterações do ldbio e cavidade oral ocorrem em 85 a 95% dos casos. Os lábios apresentam-se aver- melhados, secos e fissurados. As mucosas oral e faríngea apresentam eritema difuso. 4. Linfadenomegalias não supurativas dos línfonodos cervicais ocorrem em 60 a 70% dos enfermos. São linfonodos de 1,5 a 5 cm de tamanho, con- sistência firme e dolorosos. Eventµalmente a lin- fadenomegalia pode ser unilateral. 5. Exantemas cutâneos polimorfos ocorrem em 85 a 90% dos casos e podem ser de aspecto muito variado, morbiliforme, máculo-papuloso, escar- latiniforme, urticariforme ou eritema polimor- fo-símile podendo inclusive estas várias formas coexistir. São de duração variável de 1 dia a se- manas e localizam-se mais comumente no tronco e extremidades. 869 870 DERMATOLOGIA 6 Alterações das extremidades ocorrem em 90 a 95% dos casos. Conjuntamente aos exantemas, apa- rece eritema palmo-plantar, com edema às vezes bastante intenso. Após 1 ou 2 semanas inicia-se descamação que se inicia caracteristicamente en- tre as unhas e as polpas digitais disseminando-se para as regiões palmares e plantares. Podem sur- gir nas unhas sulcos transversos de Beau. Além desses seis sinais fundamentais, podem exis- tir lesões sistêmicas decorrentes da vasculite, náuseas, vômitos e dores abdominais, diarréia, obstrução in- testinal, hepatite e pancreatite. Em 30% dos doentes desenvolvem-se artralgias ou artrites de mãos, joelhos e tornozelos. Pode haver cistite e inflamação do meato uretral e meningites assépticas. A complicação sisrêmica mais importante é re- presentada pelas lesões cardiovasculares que podem desenvolver-se em cerca de 25% dos doentes não tra- tados. As primeiras alterações cardíacas ocorrem nos primeiros 1 O dias da doença sob a forma de endo- cardite, miocardite e pericardite. Alterações coronárias sob a forma de aneurismas são observadas em 20% de todos os doentes após 1 a 3 meses de doença e destes metade tem o processo involuído após 6 a 18 meses. Somente pequena parte dos doentes com lesões rema- nescentes terá lesões graves que poderão determinar disfunção cardíaca, infartos ou mesmo morte súbita. Raros doentes desenvolvem aneurismas coronários gi- gantes que irão produzir tromboses e doença cardíaca isquêmica. H ISTOPATOLOGIA Na pele, o quadro é inespecífico, com vasodilata- ção e infiltrado perivascular linfo-hisriocirário. DIAGNOSE É estabelecida pela presença de, pelo menos, 5 dos 6 sinais principais ou quando estão presentes quatro desses sinais mas existam lesões coronaria- nas. Na diagnose diferencial, devem ser afastadas as doenças infecciosas exantemáticas bacterianas, virais e por riquétsias, além das erupções medicamentosas, especialmente o eritema polimorfo e a síndrome de Stevens-Johnson. TRATAMENTO Consiste na administração de imunoglobulina en- dovenosa, sendo preferível o esquema de 2 g/kg em infusão única de 10 horas, pois os resultados, no que diz respeito à involução do quadro e prevenção de lesões coronarianas, é superior ao esquema clássico de 400 mg/kg em 4 a 5 dias. Associadamente, adminis- tra-se aspirina, 30 a 50 mg/kg/dia nos primeiros 10 dias, reduzindo-se, depois, para 3 a 5 mg/kg/ dia. SARCOIDOSE Sarcoidose é uma doença inflamatória, de etiologia desconhecida, que apresenta quadro histopatológico específico, representado por granulomas de células epitelióides. É afecção sistêmica que atinge a pele e outros órgãos como pulmões, linfonodos, olhos, baço, fígado e ossos, afetando adultos de ambos os sexos, com dois picosde incidência, entre os 25 e 35 anos e entre os 45 e 65 anos. Sua ocorrência é variável de acordo com cada país. Entre nós é rara, sendo mais freqüente em países setentrionais. Nos Estados Uni- dos é freqüente, especialmente entre os negros. PATOGEN I A A etiologia da sarcoidose permanece desconheci- da. Sabe-se que na sarcoidose há aumento e ativação de células T tipo THl nas áreas de inflamação. Es- tas células expressam receptores para IL-2 em maior quantidade, bem como secretam IL-2, interferon-y e TNFa, o que resulta em estímulo para as células B com conseqüente hipergamaglobulinemia. Além dis- so, as células T ativadas produzem fator quimiotático para os monócitos que são atraídos para os tecidos inflamados, resultando linfopenia periférica que expli- ca a anergia que se observa a antígenos de memória (candidina, tricofirina e tuberculina) na maioria dos doentes de sarcoidose. O antígeno responsável pela GRANULOMAS NÃO-INFECCIOSOS ativação das células T é desconhecido, considerando- se a possibilidade de auto-antígeno, e, neste caso, a sarcoidose seria uma doença auto-imune ou de antí- geno exógeno, particularmente um agente infeccioso. São antigas as discussões relativas às relações sarcoido- se-tuberculose, em função de assinalar-se maior inci- dência de tuberculose em doentes de sarcoidose e de observações epidemiológicas que registram aumento da sarcoidose paralelamente à diminuição da incidên- cia de tuberculose. Realmente, em alguns doentes, por PCR, encontram-se seqüências de DNA de mico- bactérias em tecido pulmonar, no sangue periférico, em tecido cerebral e na pele. Por outro lado, a admi- nistração de corticosteróides a doentes de sarcoidose não produz disseminação de micobactérias, o que de- põe contra esta hipótese de infecção micobacteriana. Existem aparentemente fatores genéticos determinan- tes desta peculiar resposta própria da sarcoidose regis- trando-se freqüência aumentada de HLA-1, HLA-B8, HLA-D R3 e polimorfismos do gene codificador da angiotensina convertase. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Há duas formas de sarcoidose, uma aguda ou su- baguda e outra crônica. Na forma aguda ou subaguda, o quadro é de eritema nodoso, com febre, adenopatia 872 DERMATOLOGIA hilar e, eventualmente, linfonodos cervicais, poliartri- te e uveíte anterior aguda. Na forma crônica, há lesões cutâneas em cerca de 25% dos casos, sendo estas, ex- cepcionalmente, a única manifestação. As lesões cutâ- neas são muito mais freqüentes nas mulheres. As principais manifestações cutâneas da sarcoidose são: • Eritema nodoso. É a manifestação inespecífica mais comum na sarcoidose. Ocorre nas formas agudas e subagudas da enfermidade, sendo mais freqüente em mulheres jovens e 50% dos casos acompanham-se de febre, mal-estar e artralgias. O eritema nodoso acompanhado de febre, ade- nopatia hilar, poliartrite migratória, constitui a síndrome de Lofgren. • Lúpus pérnio. É a mais característica manifestação cutânea da sarcoidose, atingindo predominante- mente mulheres e, nestas, particularmente as porções centrais da face: o nariz, as orelhas e os lábios, sob a forma de lesões eritêmato-papulo- sas de cor vermelho-violácea, com telangiectasias (Figura 54.1). F1~. 54. 1. Sarcoidose. Lúpus pérnio. Placa papulosa eritematosa no nanz. • • Lesões em placas. São placas anulares, infiltradas, violáceas, de cemro arr6fico regressivo com telan- giectasias (angiolup6ide), que localizam-se mais freqüentemente, de modo simétrico, na face, dor- so, nádegas e membros inferiores (Figura 54.2). Lesões mdculo-papulosas. São lesões disseminadas, isoladas ou agrupadas constituídas por pápulas liquen6ides ou pequenos nódulos de coloração vermelho-acastanhada que, à vitropressão, tor- nam-se amarelados (cor de geléia de maçã). As áreas preferencialmente acometidas são a face, particularmente as pálpebras, regiões periorbitá- rias, sulco naso-labial e dorso (Figura 54.3). F1G. 54.2. Sarcoidose. Placa anular de bordas infiltradas e centro atrófico. F1G. 54.3. Sarcoidose. Lesões pápulo-nodulares em placa na região infraorbitária. • • Nódulos subcutâneos (sarcoidose de Darier-Roussy). São nódulos subcutâneos indolores em geral re- cobertos por pele de aspecto normal localizados no tronco e pernas. Lesões cicatriciais sarcoídeas. Cicatrizes resultan- tes de traumatismos ou biopsias podem assumir aspecto sarcoídeo, isto é, sofrem infiltração, tor- nando-se eritêmaro-acastanhadas e amareladas à vitropressão. Existem apresentações clínicas atípicas muito raras representadas por eritrodermia, formas ictiosiformes, formas atróficas, formas ulceradas, formas verrucosas, formas psoriasiformes, alopecia, lesões hipopigmen- tadas constituídas por p\acas hipocrômicas levemen- te infiltradas e ainda lesões simuladoras de eritema polimorfo. • • Lesões ungueais. Pode haver hiperconvexidade das unhas, hiperqueratose subungueal e onicó- lise. Lesões mucosas. Pode haver acometimento da mu- cosa oral, gengival, palato e também das glându- las salivares. As manifestações extracutâneas da sarcoidose são predominantes no quadro clínico e múltiplos órgãos podem ser acometidos: • • • • • • Pulmões. Apresentam desde linfadenopatia hilar bilateral isolada ou associada a infiltrados paren- quimatosos no pulmão até infiltrados isolados e fibrose pulmonar intensa. Estas alterações deter- minam o aparecimento de dispnéia, tosse e dor torácica. Olhos. A lesão mais comum é a uveíte granulo- marosa, que pode ser aguda ou crônica. Linfonodos. São mais acometidos por linfadeno- megalia discreta, não dolorosa e móvel, os lin- fonodos cervicais, axilares, epitrocleares e ingui- na1s. Hepatoesplenomegalia. Pode ocorrer pela presença de granulomas no fígado e baço. Trato gastrintestinal. É acometido menos freqüen- temente. Podem ocorrer lesões no esôfago, estô- mago e intestino, por vezes sendo necessária a diagnose diferencial com a ileíte de Crohn. Aparelho cardiovascular. Podem ocorrer granulo- mas miocárdicos que podem provocar arritmias, insuficiência cardíaca, alterações valvulares e in- fartos. • GRANULOMAS NÃO-INFECCIOSOS Sistema osteoarticular. Artrites de joelhos, torno- zelos, cotovelos, punhos e pequenas articulações podem ocorrer na sarcoidose, simulando doen- ças reumáticas. Podem ocorrer lesões ósseas cís- ticas, particularmente nas falanges, produzindo às vezes o aparecimento de "dedos em salsicha" (Figura 54.4). Outros acometimentos s1stem1cos são menos co- muns: renal, de glândulas salivares, do trato respirató- rio superior, da hipófise, tireóide, paratireóide e adre- nais e mesmo do sistema nervoso central com lesões dos nervos cranianos e hipotálamo. A associação - aumento das parótidas, febre, uveíte anterior e paralisia de nervos cranianos, habitualmen- te do nervo facial, constitui a síndrome de Heerfordt- Waldenstromm. Há certa associação entre os tipos de manifestação cutânea e lesões viscerais. O eritema nodoso é mais freqüente em mulheres dos 20 aos 40 anos, no perío- do pós-puberdade, na gravidez, e pós-parto e costuma acompanhar as adenopatias mediastinais da sarcoido- se. O lúpus pérnio associa-se a lesões sarcoídeas do trato respiratório superior (50%) e lesões pulmonares (75%). É um indicador de sarcoidose fibrótica crô- nica associando-se com freqüência a lesões fibróticas crônicas de pulmão, ossos, linfonodos e uveíte crôni- ca. As formas em placa mais comumente se associam a fibrose pulmonar, cistos ósseos, linfadenopatias e uveíte. As formas máculo-papulosas ocorrem parale- lamente a uveíte aguda, linfadenopatias periféricas e aumentos da parótida. F 1G. 54.4. Sarcoidose osteoarticular. "Dedos em salsicha" por cistos ósseos nas falanges. 873 874DERMATOLOG IA Existe uma forma clínica de sarcoidose própria de crianças abaixo dos 4 anos de idade caracterizada por lesões cutâneas, alterações oculares e lesões articulares. Lesões pulmonares normalmente não estão presentes mas podem surgir tardiamente. As lesões cutâneas são pequenas pápulas eritêmato-acastanhadas, freqüente- mente disseminadas, que evoluem em surtos e que na involução podem deixar cicatrizes. A uveíte anterior pode provocar evolutivamente cegueira e as lesões ar- ticulares ocorrem em cerca de 60% destes doentes e se caracterizam por edema não doloroso que confere aspecto fusiforme aos dedos e punhos. H ISTOPATOLOG I A O granuloma sarcoídeo caracteriza-se por acúmu- los de células epitelióides, por gigantócitos raros ou ausentes, sem halo linfocitário (granulomas desnudos) ou rodeado por estreita faixa de células linfóides. Os granulomas sarcoídeos são nitidamente delimitados, lo- calizam-se na porção média ou inferior da derme e não há necrose central. As colorações para fibras reticulares mostram fina rede de fibrilas argirofílicas que se torna mais densa nas áreas marginais. Podem ser observados corpos de inclusão no interior das células gigantes, os corpos asteróides, que são estruturas lamelares de com- plexos protéicos impregnados por carbonato de cálcio. DIAGNOSE A diagnose de sarcoidose deve ser confirmada atra- vés do exame histopatológico, exame radiológico pul- monar e ósseo e, pela negatividade das colorações e culturas para microrganismos produtores de infecções granulomatosas. Outros achados laboratoriais impor- tantes e sugestivos de sarcoidose expressam depressão da imunidade celular, característica imunológica fun- damental na sarcoidose. Há linfopenia com diminui- ção da relação linfócitos T helper e T supressores por aumento dos linfócitos T supressores. Há evidências de exacerbação da imunidade humoral, aumento das imunoglobulinas, IgA, IgM, IgG e presença de imu- nocomplexos circulantes. A taxa CD 4/CD8 > 3,5 é sugestiva de sarcoidose. Importante ainda na diagnose é o teste de Kwein, que consiste na injeção intradérmica de 0,1 ml de sus- pensão de tecido sarcoídeo, obtido de baço ou linfo- nodo com sarcoidose, e que é lido por exame histopa- tológico após 6 a 8 semanas. O encontro de infiltrado de células epitelióides indica a positividade do teste, o que ocorre em cerca de 90% na sarcoidose. O diagnóstico radiográfico da sarcoidose é feito pelo estudo radiológico do tórax. Por outro lado, o exame de escaneamento com o Gálio 67 (Ga67) pode demonstrar o aspecto de sinal de "panda" e/ou "lam- bda" na face e no tórax, respectivamente, o que pode auxiliar e complementar outros exames diagnósticos. O sinal de "pandà' é o aspecto imagenológico de um "urso pandà' determinado pela captação do Ga67 pe- las glândulas lacrimais e parótidas com granulomas sarcoídeos. O sinal de "lambdà' é dado pela absorção do Ga67 pelos linfonodos hilares pulmonares aumen- tados que formam a letra grega À (lambda). As lesões cutâneas da sarcoidose nodular podem ser visualizadas na captação do Ga67, porém o diag- nóstico diferencial deve ser feito com infecções fúngi- cas profundas e micobacterianas, bem como linfomas cutâneos. Na sarcoidose pode ocorrer também hipercalcemia por aumento da absorção intestinal de cálcio. Em 60% dos casos de sarcoidose há aumento de enzima conversora de angiotensina por produção ao nível das células epitelióides nos granulomas. O teste é mais útil no acompanhamento evolutivo da doença do que na diagnose, pois é falso-negativo em 40% e falso- positivo em 10% dos doentes. A diagnose diferencial das lesões cutâneas da sar- coidose deve ser feita com as infecções granulomato- sas como tuberculose, sífilis, hanseníase tuberculóide, leishmaniose tegumentar e blastomicose, sendo que, na hanseníase tuberculóide, a alteração da sensibilida- de é fundamental para a diagnose. TRATAME N TO No tratamento da sarcoidose devem-se considerar as duas formas, aguda ou subaguda e crônica. A for- ma aguda ou subaguda pode evoluir espontaneamente para a cura, podendo-se adminiscrar drogas antiinBa- matórias como a oxifenilbutazona e eventualmente corticóide. Nas formas crônicas emprega-se corticói- de por via sistêmica de acordo com as localizações da moléstia, nas doses de 20 a 40 mg de prednisona por dia, em doses fracionadas, e após regressão das lesões, tenta-se a menor dose de manutenção possí- vel, de preferência em regime de dias alternados. Para as lesões cutâneas, pode-se usar corticóide tópico ou por infiltrações semanais com acetonido de triamci- nolona, nas concentrações de 2 a 5 mg/ml. Se houver contra-indicação ao uso de corticóide, pode-se usar a oxifenilbutazona ou cloroquina. Esta última é par ti- cularmente útil no tratamento do lúpus pérnio e da fibrose pulmonar, na dose inicial de 250 a 500 mg/ dia. Também pode ser utilizada a hidroxicloroquina na dose de 200 a 400 mg/dia. Os antimaláricos po- dem ser usados associadamente aos corricosteróides no sentido de diminuir as doses desta medicação ne- cessárias ao controle do quadro. Outras drogas que podem eventualmente ser uti- lizadas são os imunossupressores dos quais o que propicia melhores resultados é o metotrexato. Podem ser empregados o clorambucil e a azatioprina. Fo- ram também empregados, com resultados variáveis: colchicina; talidomida (50 a 300 mg/dia); alopuri- nol (1 00 a 300 mg/dia); minociclina (200 mg/dia); isotretinoína (1 mg/kg/ d ia); e, mais recentemente, existem relatos da utilização de agentes biológicos, particularmente o infliximab, anticorpo monoclonal IgG 1 anti-TNFa. Pode ser considerada a possibilidade de retirada cirúrgica de pequenas lesões ou de lesões ulceradas. GRANULOMA ANULAR Dermatose benigna, de causa desconhecida, carac- terizada por pápulas dérmicas necrobióticas com in- filtrado inflamatório granulomatoso, confluentes, em configuração geralmente anular. P A T OGENI A A causa do granuloma anular é desconhecida mas admite-se que possa representar reação imune a vários antígenos, vírus, fibras colágenas e elásticas alteradas, antígenos da saliva de insetos ou microrganismos intro- duzidos por artrópodes, desde que registram-se casos surgidos após picadas de insetos, teste tuberculínico, infecções virais inclusive por EBV, HIV e herpes zos- ter. Ainda que não se detecte vasculite leucociroclásica, é possível qLte possa se produzir vasculite, levando à necrobiose do colágeno por formação de imunocom- plexos e por liberação de mediadores autotóxicos ou por mecanismos não imunes, como excesso de ligação do fator VIII às paredes vasculares, com posterior lesão vascular, depósito de imunorreagentes e surgimento de infiltrado inflamatório. Esta hipótese é levantada pela descrição da presença de antígenos relacionados ao fa- tor VIII da coagulação, em doentes com granuloma anular disseminado. Admite-se predisposição genética pelo relato em gêmeos, por casos familiares e maior freqüência do HLA Bw35 e HLA-A29 em doentes com granuloma anular disseminado. GRANU L O MAS N ÃO- I NFECC IOSOS M A NIFEST AÇÕ ES CLÍNICAS Caracteriza-se por elementos pápulo-nodulares, da cor da pele ou rosados, que tendem a se agru- par formando anéis ou arcos de círculos. Pode haver uma única lesão, mas geralmente há várias, que se localizam habitualmente no dorso dos dedos, mãos e pés, podendo ocorrer também nos antebraços, braços, pernas e coxas (Figuras 54.5 e 54.6). A afecção é crônica, benigna e não pruriginosa, podendo involuir espontaneamente, em geral nos primeiros dois anos da doença. Existem formas atípicas menos caracterís- ticas - formas perfurantes, micropapulosas, nas quais se observa ligeira umbilicação central exigindo diag- nóstico diferencial com verruga plana e líquen nítido(Figuras 54.7 a 54.9). Ocorrem mais freqüentemente nas mãos e dedos. Formas nodulares podem ocorrer e se apresentam como nódulos subcutâneos recober- tos por pele normal exigindo diagnóstico diferencial com nódulos reumáticos - é o chamado Granuloma Anular Profundo. O corre mais freqüentemente nas pernas, nádegas, pulsos e dedos das mãos, pés, face e couro cabeludo de crianças e jovens. • F1G. 54.5. Granuloma anular. Lesão anular com borda papulosa. F1G. 54 .6. Granuloma anular. Lesão anular com borda papulosa e centro deprimido na mão. 875 876 DERMATOLOGIA F1 G. 54.7. Granuloma anular. Forma micropapulosa. Micropápulas umbilicadas no dorso dos dedos e na mão. Em 15% dos casos, particularmente em adultos, ocorrem formas disseminadas de granuloma anular. Toda a superfície corpórea pode ser acometida, mas as lesões atingem particularmente o tronco, pesco- ço e superfícies de extensão dos cotovelos. As lesões podem ser tipicamente anulares ou apenas papulo- sas. Alguns casos relacionam-se com exposição solar e observa-se esporadicamente associação com diabe- tes mellitus, sendo necessário diagnóstico diferencial com sífilis, sarcoidose e líquen plano anular. Existem descrições de casos associados a rumores sólidos, lin- fomas Hodgkin e não Hodgkin e a micose fungóide granulomatosa. Nestas condições, o granuloma anular associado se expressa através de lesões atípicas com le- sões dolorosas em localizações pouco freqüentes como regiões palmares e planeares. O granuloma anular também pode localizar-se em cicatrizes de zoscer e é observado em doentes infectados pelo HIV Existem ainda formas eritematosas arciformes semelhantes ao eritema polimorfo ou eritema anular centrífugo, que ocorrem principalmente no tronco. F1G. 54-8. Granuloma anular. Micropápulas umbilicadas. F1G. 54-9. Granuloma anular. Forma disseminada. Múltiplas lesões anulares. A doença ocorre mais freqüentemente em crianças e mulheres. ' H ISTOPATOLOGIA O quadro hiscopacológico é sugestivo com áreas de necrobiose do colágeno na derme superior e média em corno das quais há infiltrado em paliçada compacto, constituído por histiócitos, linfócitos e fibroblastos. Em alguns casos, a imunofluorescência direta re- vela presença de C3, IgM e fibrinogênio nos vasos dérmicos e na junção dermo-epidérmica. D I AGNOSE Nas formas clássicas, a diagnose é simples, nas formas adpicas e disseminadas, é imprescindível a diagnose hisroparológica. Os diagnósticos diferenciais devem compreender outras lesões anulares: eritema anular centrífugo, eritema crônico migratório, placas anulares de micose fungóide, líquen plano anular, lar- va migrans. Outras lesões granulomatosas devem ser afastadas: tuberculose, sarcoidose, necrobiose lipoídi- ca. As formas papulosas devem ser diferenciadas dos xantomas .. picádas de inseto, histiocitoses, amiloidose nodular, eritema elevatum diutinum. As formas arci- formes devem ser diferenciadas da sífilis tardia, larva migrans, eritema polimorfo e LE subagudo. As formas profundas exigem diferencial com nódulos reumatói- des, nódulos da febre reumática e sarcoidose. As for- mas perfurantes devem ser distinguidas da foliculite perfurante, elastose perforans e doença de Kyrle. TRATAMENTO O tratamento das les~es de granuloma anular con- siste na injeção intralesional de triamcinolona-aceto- nido. Curativo tópico oclusivo com pomada de corti- cóide é menos efetivo. Outro recurso é a crioterapia com aplicação na lesão de neve carbônica ou nitrogênio liquido. Fato reconhecido de longa data é que a biopsia da lesão produz, às vezes, o seu desaparecimento. Foram des- critas associações da forma disseminada de granuloma anular com diabetes mellitus e verminoses, que devem ser excluídas. Nas formas disseminadas de granulo- ma anular, a administração sistêmica de corticóide é efetiva, sendo também indicados o DOS e, eventual- mente, clorambucil, antimaláricos, hidroxicloroquina (6 mg/kg/dia), cloroquina (3 mg/kg/dia), nicotinami- da (500 mg 3 vezes ao dia), isotretinoína (0,5 a 0,75 mg/kg/dia), ciclosporina (3 a 4 mg/kg/dia) e pentoxi- filina ( 400 mg 3v ezes ao dia). GRANULOMA ACTÍNICO São lesões tipo granuloma anular, localizadas nas áreas expostas e nas quais há formação de granuloma e destruição de fibras elásticas. Ocorre predominante- mente em mulheres. PATOGEN IA É desconhecida, parecendo relacionar-se a altera- ções actínicas da pele exposta, que levariam à elasto- rexe com indução à formação de granulomas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Lesões idênticas às do granuloma anular, geralmen- te de maiores dimensões, em número variável. Surgem GRANULOMAS NÃO-INFECCIOSOS em pele actinicamente lesada, face, pescoço, parte supe- rior do tronco, braços, dorso das mãos e pernas. Já se registrou associação com diabetes (Figura 54.10). H ISTOPATOLOGIA Encontram-se alterações próprias da elastose solar com material elastótico em meio ao granuloma. Por vezes, no interior de macrófagos e células gigantes, observam-se restos de fibras elásticas. DIAGNOSE O aspecto de granuloma anular e a topografia em áreas expostas sugerem a diagnose que deve ser con- firmada histopatologicamente. Na diagnose diferencial, devem ser considerados o líquen plano actínico, o granuloma anular clássico, a sarcoidose e a sífilis. TRATAMENTO As mesmas condutas terapêuticas empregadas no granuloma anular associadas a medidas de fotoprote- ção, crioterapia, laserterapia, eletrocirurgia, dermoa- brasão e exérese cirúrgica. F1G. 54. 1 o. Granuloma actínico. Lesão anular de bordas papulosas em área exposta (face). 877 878 DERMATOLOGIA NECROBIOSE LIPOÍDICA Esta dermopatia consiste em áreas de degeneração do colágeno com eventual depósito secundário de lí- pides. Ocorre em 0,3% dos diabéticos e, em dois ter- ços dos doentes, há associação com diabetes mellitus, mais freqüentemente do tipo I. PATOGENIA É desconhecida. Aparentemente, as alterações his- topatológicas de caráter granulomatoso são secundá- rias a alterações do colágeno dérmico. Admite-se a possibilidade das alterações do colágeno ocorrerem como conseqüência de alterações vasculares pois sempre ocorrem alterações arteriolares nas áreas de degeneração do colágeno e estas alterações vascula- res estariam ligadas ao diabetes. Admite-se, ainda, a possibilidade do aumento na agregação plaquetária atuar como desencadeante dos fenômenos vasculares. Demonstra-se a presença de imunoglobulinas, frações C3 e C4 do complemento nos vasos, mas não há evi- dências de mecanismos imunes definidos na gênese do processo. MANI FESTAÇÕES CLÍN ICAS A doença ocorre em qualquer idade sendo mais freqüente em adultos de meia-idade sendo três vezes mais comum nas mulheres em relação aos homens. As lesões localizam-se caracteristicamente nas superfícies anteriores e laterais da porção inferior das pernas, uni ou bilateralmente, mas, em cerca de 15% dos casos, as lesões ocorrem também em outras regiões especial- mente antebraços, dorso das mãos e, eventualmente, couro cabeludo. Caracterizam-se por uma ou mais placas de cor violácea na periferia e amareladas no centro, bem demarcadas. Após algum tempo, há cres- cimento centrífugo lento, com involução central. O aspecto da superfície é atrófico ou esclerodermiforme, podendo chegar a ulceração. Chamam a atenção as telangiectasias da superfície da lesão (Figura 54.11). O curso é crônico, ocorrendo, em raros casos, re- gressão espontânea. H ISTOPATOLOGIA O exame histopatológico revela áreas de degene- ração do colágeno da derme, alterações vasculares e infiltrado inflamatório composto de linfócitos, his- riócitos e fibroblastos e, ocasionalmente, células epi- telióides e gigantócitos tipo corpo estranho. Podeser difícil a diferenciação histopatológica com granuloma anular. DIAGNOSE É clínica, corroborada pelo exame histopatológi- co, devendo ser considerados na diagnose diferencial granuloma anular, esclerodermia em placas, sarcoido- se, paniculites, infecções granulomatosas, hanseníase, micoses profundas, lipodermatoesclerose e, particular- mente nas lesões ulceradas, sífilis tardia. F1G. 54. 1 1 . Necrobiose lipoídica. Placas com áreas amareladas e centro atrófico no membro inferior. T RATAMENTO Não existe tratamento satisfatório. Quando da presença de diabetes, este deve ser controlado, em- bora, aparentemente, o controle do diabetes não influencie o quadro de necrobiose lipoídica. Podem ser empregados os corticosteróides topicamenre em curativos oclusivos e, eventualmente, através de infil- trações inrralesionais. Existem relatos da utilização de corticosteróides sistêmicos por algumas semanas em- bora, na presença de diabetes, o quadro metabólico geral possa piorar. Agentes que diminuem a adesivida- de plaquetária, aspirina em doses baixas - 3,5 mg/kg cada 48 horas, e dipiridamol 225 mg/dia - podem ser tentados. Em lesões ulceradas, pode ser útil peróxido de benzoíla a 1 O ou 20o/o após limpeza com soro fi- siológico. Outras drogas que podem ser tentadas são a nicotinamida, a clofazimina, a pentoxi.6.lina, a nia- cinamida o estanozolol e a ciclosporina. Em casos ex- cepcionais, ulcerados, pode ser feita a exerese cirúrgica com enxertia. Atualmente, tende-se a considerar a granulomacose disciforme de Miescher variante da necrobiose lipoí- dica em doentes não diabéticos. Clinicamente, apre- senta-se como placa de limites nítidos, ligeiramente elevados, circular ou policíclica, que evolui para atro- fia, com localização mais freqüente em tronco, parede abdominal, coxas e braços. NÓDULOS REUMATÓJDES O aparecimento de nódulos subcutâneos é rela- tado em 20% dos doentes de artrite reumatóide. O tamanho pode atingir até 2 centímetros e ocorrem particularmente em áreas submetidas a pequenos e repetidos traumatismos, face ulnar nos antebraços e cotovelos e menos freqüentemente dorso das mãos, joelhos, tornozelos, escápula, sacro, nádegas e ore- lhas. Apresentam-se como nódulos duros, de locali- zação subcutânea ou dérmica e podem ulcerar-se em conseqüência de traumatismos, pressão, fenômenos isquêmicos de vasculite, podendo, nestes casos, haver infecção bacteriana secundária. Podem ocorrer inclu- sive em órgãos internos como o pulmão e o coração e também nos músculos. H ISTOPATOLOGI A O aspecto hiscopatológico é característico com uma área central de necrose fibrinóide envolta por halo de GRANULO MAS N Ão-1 N FECC I OSOS histiócitos. O cracamenco é o da doença sistêmica. Os nódulos reumatóides devem ser distinguidos dos nó- dulos reumdticos que ocorrem na febre reumática em cerca de 30% dos doentes. São nódulos subcutâneos múltiplos de cerca de 0,5 cm de diâmetro, localizados junto a saliências ósseas, articulações metacarpo-falân- gicas, cotovelos, epicôndilos e região occipital. Outra diagnose diferencial a ser considerada é o granuloma anular profundo. Histopatologicamente, há necrose fibrinóide e es- pessamento das paredes vasculares com infiltrado lin- focitário muito discreto e a paliçada de histiócitos e fibroblascos é muico menos evidente do que nos nó- dulos reumatóides. GRANULOMA GLÚTEO INFANTIL É afecção que ocorre em crianças com dermatite de fraldas, submetidas a tratamento tópico com cor- ticosteróides potentes. P ATOGENIA Habitualmente, co-existem o uso de fraldas com revestimento plástico e o uso de corticosteróides fluo- rados potentes, que seriam facores desencadeantes. Admite-se a participação da Candida afbicans. Alguns aurores consideram tratar-se apenas de resposta inco- mum à levedura. MANI FESTAÇÕES CLÍNICAS Em crianças com dermatite de fraldas, indepen- dentemente da intensidade desta, surgem um ou vá- rios nódulos ovais eritêmaco-purpúricos nas superfícies convexas da pele, poupando as flexuras, e localizados na região glútea, genitais, e face interna das coxas. Po- dem ocorrer lesões pustulosas satélites. Persistem por semanas ou até mesmo meses, mas tendem a regredir espontaneamente. HISTOPATOLOG IA Toda a espessura da derme é ocupada por intenso infiltrado inflamatório com linfócitos, plasmócitos, neutrófilos, eosinófilos e histiócitos, podendo haver associadamente proliferação e degeneração fibrinóide dos vasos. A epiderme é normal ou mosrra acantose com hiperquerarose. As vezes, ao exame histoparo~ 879 880 DERMA T OLOG IA lógico, observa-se proliferação vascular intensa que lembra o granuloma piogênico ou mesmo o sarcoma de Kaposi. DIAGNOSE Na diagnose diferencial devem ser considerados pseudolinfomas, infiltrações leucêmicas, mastocito- mas, xantogranuloma juvenil, histiocitose de células de Langerhans que, no entanto, não têm a predileção topográfica exclusiva da região glútea como o granu- loma glúteo infantil. Às vezes, é necessária a diagnose diferencial com sifilóide pós-erosivo de Jacquet. T RATAMENTO Evitam-se as fraldas com cobertura plástica, faz- se troca freqüente de fraldas e elimina-se o uso de corticóides potentes. Se necessário, substituí-los por hidrocortisona e, se existir contaminação com Can- dida albicans, associam-se medicações específicas to- p1camente. GRANULOMAS DE CORPO ESTRANHO Proteínas e substâncias estranhas podem ocasionar reações inflamatórias na pele, caracterizadas por pápu- las, nódulos, placas ou tumorações eritêmato-acasta- nhadas que podem ou não ulcerar-se e que, evoluti- vamente, podem tornar-se duras em conseqüência de fibrose. Podem ainda ocorrer lesões liquenóides, lesões tipo granuloma piogênico e lesões fisculosas crônicas. Picadas de insetos podem causar lesões pápulo-no- dulares, usualmente pruriginosas e que, histopatologi- camente, podem apresentar infiltrados granulomato- sos. Granulomas de corpo estranho são encontrados em tomo de suturas e na introdução na pele de óleos, sílica, silicone, zircônio, berílio, amido e corantes. P ATOGEN IA A resposta inicial à penetração de qualquer tipo de corpo estranho na pele é neucrofílica e, por vezes, forma-se material purulento que acaba por eliminar para o exterior o corpo estranho. Quando o material persiste, os neutrófilos são substituídos por monóci- cos e macrófagos do tecido que fagocitam o material, podendo digeri-lo ou não. Os macrófagos ativados produzem citoquinas que exercem ação quimiotática atraindo mais monócitos e macrófagos. Os macrófa- gos transformam-se em células epitelióides e podem fundir-se originando células gigantes de corpo estra- nho, estruturando-se desta forma o granuloma. HI S T OPATOLOGIA Caracteriza-se por granuloma com células epite- lióides, linfócitos e células gigantes de corpo estranho. O material introduzido na pele pode ser observado a colorações HE e, às vezes, são necessárias outras co- lorações como PAS ou mesmo exame por luz polari- zada. • Oleoma. Causado por óleo mineral ou óleos ve- gerais, usados como veículos para injeções. Cli- nicamente, há tumorações ou placas endurecidas, fistulizadas ou ulceradas, nos locais das injeções oleosas (Figura 54.12). O quadro clínico pode levar anos para se desenvolver. A histopatologia mostra aspecto característico, de largas cavidades, comparado à aparência de queijo suíço. O trata- mento é sintomático, quando não for possível a retirada cirúrgica das lesões. • Silicone. Quadro símile ao oleoma tem sido des- crito pelo uso de silicone empregado para cirur- gia corretiva das mamas e rugas ou modificação dos contornos corpóreos. Aparentemente estes processos são raros quando do uso de silicone puro e ocorreriam mais por utilização de silico-nes não purificados e portanto impróprios para estes usos. O quadro se caracteriza por nódulos inflamatórios indolentes que, quando localiza- dos no subcutâneo, configuram verdadeira pa- nicufüe e que podem inclusive ulcerar. Também F1G. 54. 1 2. Granuloma de corpo estranho. Oleoma. Placa infiltrada com ulceração central. • • • • têm sido descritos quadros de tipo colagenose, especialmente LE tipo esd erodermia sistêmica como resposta imune a implantes mamários de silicone, mas esta conexão não foi comprovada. O tratamento é muito difícil, podendo ser utili- zados corticóides intralesionalmente associados à administração de antibióricos e, eventualmente, quando possível, pode ser feita retirada cirúrgica dos granulomas. Sílica. Ferimentos eventualmente impregnados com partículas de terra contendo sílica ou com vidro podem, após meses ou anos, apresentar, na área cicatricial, pápulas ou nódulos, por reação de corpo estranho. Como estas lesões ocorrem em áreas cicatriciais, o diagnóstico diferencial deve ser feito com a sarcoidose onde também podem existir lesões sobre cicatrizes. Zircônio. Nas axilas, foi descrita erupção papulosa vermelho-acastanhada, com reação inflamatória tipo corpo estranho, devida ao zircônio existente em desodorantes. O encontro do granuloma nos folículos pilosos e glândulas sudoríparas écrinas e a pó crinas indica a via pela qual o zircônio chega à derme, produzindo a reação granulomatosa de corpo estranho. Berílio. Granulomas por berílio foram descritos na pele, causados por ferimentos, por bulbos de lâmpadas fluorescentes feitas com sílica e berílio. Na beriliose sistêmica, pela inalação do berílio, podem, eventualmente, aparecer nódulos cutâ- neos. Amido. Granulomas de corpo estranho podem ocorrer em incisões cirúrgicas por amido auto- davado com luvas. • Zinco. Pode produzir granulomas em áreas de injeção de insulina contendo zinco. Formam-se nódulos que inicialmente podem drenar material e que posteriormente evoluem para fibrose. Se incômodos, devem ser retirados cirurgicamente. • Alumínio. Pode produzir reações granulomatosas por hipersensibilidade quando introduzido como adjuvantes de vacinas. Formam-se nódulos sub- cutâneos persistentes. • Colágeno bovino e outros materiais de preenchi- mento como metacrilatos. Empregados na corre- ção de rugas ou deformidades, mesmo com teste prévio negativo, podem provocar reações com substrato imunológico ou não. Nas reações de hipersensibilidade, a área injetada torna-se in- durada e eritematosa e, em geral, involui em • GRANULOMAS N ÃO- IN FECC I OSOS alguns meses e, às vezes, evolui para a formação de abscessos. Nas reações não imunes ocorre ne- crose localizada nas áreas injetadas por provável lesão vascular. Tatuagens. Granulomas podem surgir em áreas de tatuagens, com certos corantes à base de mercúrio, cromo ou cobalw, sulfeto de m.er- cúrio (vermelho), óxido de cromo (verde), aluminarn de cobalto (azul), óxido de ferro (marrom) e sulfeto de cádmio (amarelo) (Fi- gura 54.13). Além das tatuagens intencionais com fins decorativos, existem tatuagens aci- dentais, quando não intencionalmente cercos pigmentos são introduzidos na pele e produ- zem reação granulomatosa. É o caso de partí- culas de carvão introduzidas em ferimentos em trabalhadores em minas, inoculação de poeira e outras partículas em acidentes, partículas de amálgama, que são introduzidas nas gengivas e mucosa bucal por tratamentos dentários e que produzem manchas escuras irregulares que exi- gem diagnose diferencial com lentigos, nevos e melanoma. Também ocorre a introdução de ferro na pele a partir de acidentes com metais e após injeção subcutânea de preparados ferro- sos, resultando coloração inicialmente escura e depois acastanhada. Também existem acidentes com armas de fogo que levam à penetração, na pele, geralmente da face, de partículas de pólvora que devem ser removidas rapidamente, até os 3 primeiros dias do acidente, por dermo- abrasão, sob pena de ter-se quadro definitivo. F1G. 54. 13. Granuloma de corpo estranho. Tatuagem. Em determinados pontos, existem pápulas e nódulos eritematosos infiltrados. 881 882 D ER MATOLOGIA QUEI L I TE GRANULOMATOSA (SÍNDROME DE MELKERSSON-ROSENTHAL) Caracteriza-se por edema crônico nos lábios que pode apresentar-se isoladameme ou fazer parte da sín- drome de Melkersson-Rosenchal, quando se acompa- nha de paralisia facial periférica e língua plicara nas formas completas. P ATOGENIA É desconhecida, admitindo-se possibilidade de atua- ção de fatores genéticos, anormalidades anatômicas e funcionais do sistema nervoso autônomo e, calvez, mecanismos imunes de origem infecciosa ou alérgica, através da ação de materiais de próteses dentárias, in- fecções bacterianas focais e infecções virais. Também se admite a possibilidade de estímulos desconhecidos despertarem alterações vascularés nos nervos e mucosa levando ao edema e a paralisia observados. H á ten- dência familiar. F1G. 54. 14. Queilite granulomatosa. Macroqueilite do lábio superior. M AN IFESTAÇÕES CLÍNICAS Caracteriza-se por edema crônico com agudiza- ções recorrentes, de um ou ambos os lábios, levando à macroqueilia, principalmente do lábio superior, às vezes de modo unilateral, e às vezes atingindo tam- bém a região bucal. Ambos os lábios podem ser aco- metidos e há associação freqüente com a língua pli- cara e paralisia facial periférica, geralmente unilateral (Figuras 54.14 a 54.16). Em geral, o edema precede a paralisia facial, mas pode ser simultâneo ou surgir posteriormente. A paralisia, em geral, surge no mes- mo lado do edema, mas pode ser bilateral. Podem coexistir gengiva hipertrófica, macroglossia, edema do palato, da região malar, das pálpebras, fronte, nariz e mento. Em raros casos há enfartamento de linfonodos submentais ou cervicais. A doença evo- lui cronicamence com surtos de piora do processo. A causa é desconhecida. Há um infiltrado tuberculóide ou linfoplasmocitário, cujo significado ainda não está claro: poderia representar uma infecção com resposta granulomatosa ou ser alteração degenerativa decor- rente da linfoestase. F 1G. 5 4 . 15. Queilite granulomatosa. Hemiparalisia facial acompanhando a macroqueilite. F1G. 54. t 6. Queilite granulomatosa. Língua plicata. GRANULOMAS NÃO-INFECCIOSOS D IAGNOSE É clínica e histopatológica. Na diagnose diferencial das lesões edematosas de- vem ser considerados, o angioedema, as erisipelas da face e linfedemas crônicos pós-infecciosos. As lesões nervosas devem ser distinguidas das paralisias de ner- vos da face com suas múltiplas causas. TRATAMENT O Não há tratamento efetivo. Infiltrações intralesio- nais de acetonido de triamcinolona, 10 mg/ml, m en- s::ilmenre, poclem ser 1íteis. Existem rdatos de bons resultados terapêuticos com diaminodifenilsulfona na dose de 100 a 150 mg/dia e clofazimina. Excepcional- mente, podem ser utilizados cursos de corticóides sis- temicamente e até mesmo drogas imunossupressoras, particularmente azarioprina. Também existem relatos da utilização de minociclina e talidomida. 883
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