Buscar

AMERICANISTAS X IBERISTAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Americanistas x Iberistas
	O embate ideológico entre os americanistas e os iberistas brasileiros começa no início do século XX com as primeiras dissertações sobre esses dois pontos de vista. Os principais pensadores desse debate são Oliveira Viana, Raymundo Faoro, Tavares Bastos e Richard Morse. Seus respectivos pontos de vista dialogam diferentemente entre si tentando responder às mesmas perguntas. Estes cientistas buscavam responder por quê o nosso país era tão atrasado em relação às grandes potências europeias e norte americanas . Nos dias de hoje, esse debate continua muito mais enriquecido graças a novas ideologias, pensamentos e pensadores, que ainda assim baseiam suas ideias nos ensaios desses cientistas vanguardistas sobre esse assunto.
	O pensamento americanista de Tavares Bastos acreditava que o Estado brasileiro precisava de uma revolução liberal, pois somente com essa revolução a organização política viciada de acesso ao poder mudaria. Dentro desse seu pensamento, Bastos critica a raíz iberista do país pois credita a ela o modelo falho de representação política que se estabelece quando o Estado constrói a sociedade brasileira e não o contrário. Tavares pensava que o indivíduo, especialmente no caso do Brasil, seguiria o caminho criado por Rousseau em o "Discurso sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens", pois acreditava que o poder corromperia esse indivíduo e que a propriedade privada se tornaria mérito apenas de alguns. Assim, as leis seriam criadas para ratificar essa desigualdade e o governo criado para sustentar essas leis. Por não ter havido nenhuma revolução social no processo de independência do país, a república foi construída com base na velha hierarquia monárquica, onde havia um pequeno grupo privilegiado e outro, aonde se encontrava a maioria da população, que era abafado pelas vontades dessa minoria. Assim, o mantimento desse provilégio oriundo do passado colonial e a centralização dos poderes do Estado, tornaram-se os principais vilões do progresso social e econômico do país. Para ele, essa centralização política, os monopólios e a transformação do Estado em algo imprecindível eram os principais inimigos do liberalismo que ele defendia. Em sua visão, construiu-se um modelo jurídico-político no país em que apenas uma parcela da população tinha direitos e obrigações civis e que via esse sistema como uma coisa natural. Apesar do Estado ter todas essas características negativas e de achar que a única salvação dele seria uma revolução, Tavares Bastos concorda com Rousseau quando este afirma que o Estado é um mal necessário. Todavia, ele crê que o Estado deveria ser uma instituição desprovida de interesses políticos e ideologias, unicamente voltada para governar o futuro da população de um país. Um Estado refratário a qualquer proposta partidária e ideológica permitiria correções das desigualdades sociais e por consequência substanciais avanços econômicos. Porém, esse era o maior problema para a realização do ideal de Tavares Bastos. Como fazer que suas críticas e seu modelo fossem adotados pela população, principalmente pela maioria detendora do poder, para que abrissem mão de suas regalias para benefício da maior parte do povo.
	O iberista Francisco José de Oliveira Viana, durante suas análises, verifica que há um eminente conflito cultural entre a elite e o resto da população brasileira, onde a elite se baseia no direito constitucional e a esmagadora maioria do povo seguia o direito-costume. Essa distância entre o legal-constitucional e o comportamento é a prova clara do fracasso das elites em tentar impor ao país os moldes culturais e jurídicos vindos do exterior. Oliveira Viana, assim como Tavares Bastos, era defensor de uma revolução no país não só política mas cultural, para que fossem criadas novas instituições políticas regidas pelo direito costumeiro do povo-massa que também seria fruto de um novo comportamento da população. A principal diferença entre o Brasil e os países europeus que as elites copiavam eram as instituições políticas do país. De um lado os europeus baseavam suas instituições em experiências milenares de comunidade agrária, do outro o Brasil importava tais tradições tendo um passado histórico colonial português. A incompatibilidade era clara. Com a evolução política para a monarquia constitucional, veio a mudança eleitoral (sufrágio universal), que transformou a relação entre os poderosos da época e seus subordinados implicando na criação de novos tipos sociais e instituições. Apesar dessas mudanças, a ruptura com o plano colonial não saiu do campo político e as instituições políticas essencialmente brasileiras -marcadas pelo privatismo e o personalismo- continuaram as mesmas. Nessa chegada à democracia, constata-se que falta à população um sentimento de coletividade nacional e, por consequência, a percepção do Estado como instrumento de realização do bem público e de interesses nacionais. A falta dessa percepção faz com que os partidos passem desapercebidamente como instrumentos de realização de interesses particulares de uma pequena parcela da população que tem acesso a esse poder. Uma reforma política idealizada para corrigir esses erros oriundos do passado colonial só seria possível se partisse do costumeiro, do povo. Tal tipo de mudança deveria ser iniciada pela camada de elite da população, por um partido ou por um "gênio político". O autor dessa reforma deve ser alguém que saiba o que pede a população e que saiba o que é fácil ou difícil de ser mudado. Tal mudança só seria possível através de 2 caminhos: o liberal ou o autoritário. O primeiro, para se tornar real, deveria contar com o apoio da população e com a adesão da mesmo ao processo. Já o caminho autoritário para uma reforma se daria através do uso da coação por parte do Estado para obrigar o povo a mudar seus hábitos. Oliveira Viana adverte, porém, que o modelo autoritário não possuía o Estado Liberal; podia muito mas não podia tudo. Assim, ele conclui que o desafio da reforma política no Brasil seria desenhar instituições capazes de neutralizar ou diminuir a influência dos chefes locais e criar um ambiente hostil para a cultura política privativista, personalista e patrimonialista.
	Raymundo Faoro, autor de "Os donos do poder", também disserta sobre o tema responsabilizando principalmente o patrimonialismo e o estamento burocrático por esse atraso. Tomando partido dos americanistas, Faoro parte do princípio que o poder no Brasil sempre esteve concentrado nas mãos de poucos. Sendo assim, em sua obra ele define que esse poder sempre foi concentrado porque no Estado brasileiro foi implementada uma espécie de patrimonialismo, desde os tempos de colônia, oriundo das práticas da Coroa portuguesa, aonde os benefícios e interesses de uma elite eram mantidos às custas do povo. Esse patrimonialismo, regido pela classe dominante, determinava a economia e todos os outros segmentos do Estado "de cima para baixo". Todas as demais camadas dirigiam suas atividades conforme as decisões do governador e da elite estabeleciam. A partir dessa análise, ele relaciona a apropriação de cargos, órgãos e renda por setores privados com a dependência e subordinação desses setores a um Estado patrimonialista. Assim ele caracteriza o Estamento Burocrático, que seria uma prática que distanciaria governantes de governados. Ao longo de seu texto, ele procurava demonstrar que esse tipo de organização social desenvolvida ao redor do poder no país estava inerente à qualquer tipo de modernização do Estado. Em sua conclusão, Raymundo Faoro identifica a opressão do Estado sobre o povo brasileiro como principal problema do país e, diferentemente de Oliveira Viana por exemplo, não traça um plano político de mudança para o país, fornecendo apenas um retrato desesperançoso da sociedade e da política brasileira.

Outros materiais