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Rodney Josue´ Biezuner 38 Prova: Pela Proposic¸a˜o 1.12, a mudanc¸a de coordenadas da base Bx para a base By e´ dada por ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p = n∑ j=1 ∂yj ∂xi ∂ ∂yj ∣∣∣∣ p . O resultado segue enta˜o da Proposic¸a˜o 1.8. � Obtemos tambe´m da discussa˜o que se segue a` Proposic¸a˜o 1.8 que se [ω]B∗x = (ωx1 , . . . , ω x n) , [ω]B∗y = (ω y 1 , . . . , ω y n) , enta˜o ωix = n∑ j=1 ∂yj ∂xi ωyj . Podemos agora entender a terminologia antiga em que vetores tangentes eram chamados vetores contrava- riantes, enquanto que covetores tangentes eram chamados vetores covariantes. E´ importante ressaltar que esta terminologia nada tem a ver com functores covariantes e contravariantes da teoria de categorias. 1.4 Tensores 1.4.1 Definic¸a˜o 1.16 Definic¸a˜o. Seja V um espac¸o vetorial real de dimensa˜o finita e V ∗ seu espac¸o dual. Um k-tensor covariante em V (ou tensor covariante de ordem k) e´ uma func¸a˜o real k-linear T : V × . . .× V︸ ︷︷ ︸ k vezes −→ R. Um l-tensor contravariante em V (ou tensor contravariante de ordem l) e´ uma func¸a˜o real l-linear T : V ∗ × . . .× V ∗︸ ︷︷ ︸ l vezes −→ R. Um tensor do tipo (k, l) e´ um tensor k-covariante e l-contravariante, isto e´, uma func¸a˜o real multilinear T : V × . . .× V︸ ︷︷ ︸ k vezes × V ∗ × . . .× V ∗︸ ︷︷ ︸ l vezes −→ R. O espac¸o vetorial real dos k-tensores covariantes sobre V sera´ denotado por T k (V ); o espac¸o vetorial dos l-tensores contravariantes sobre V sera´ denotado por Tl (V ) e o espac¸o vetorial dos (k, l) tensores sobre V sera´ denotado por T kl (V ). Estes espac¸os vetoriais sa˜o chamados espac¸os tensoriais. � 1.17 Exemplo. Um 1-tensor covariante e´ simplesmente um covetor. Formas bilineares, entre elas o produto interno, sa˜o 2-tensores covariantes. Determinantes sa˜o n-tensores covariantes em Rn. � Algumas identificac¸o˜es naturais (isto e´, independente de especificac¸a˜o de bases): • 0-tensores sa˜o nu´meros reais: T 0 (V ) = R; • tensores do tipo (k, 0) sa˜o k-tensores covariantes: T k0 (V ) = T k (V ) ; Rodney Josue´ Biezuner 39 • tensores do tipo (0, l) sa˜o l-tensores contravariantes: T 0l (V ) = Tl (V ) ; • 1-tensores covariantes sa˜o covetores: T 1 (V ) = V ∗ • 1-tensores contravariantes sa˜o vetores: T1 (V ) = V ∗∗ = V. 1.18 Proposic¸a˜o. Seja End (V ) o espac¸o vetorial dos operadores lineares sobre V . Enta˜o existe um iso- morfismo natural T 11 (V ) ∼= End (V ) . Prova. Um isomorfismo natural Φ : End (V ) −→ T 11 (V ) pode ser definido por Φ (A) (v, ω) = ω (Av) . � 1.19 Proposic¸a˜o. Considere o espac¸o vetorial L ( V k × (V ∗)l ;V ) das aplicac¸o˜es multilineares T : V × . . .× V︸ ︷︷ ︸ k vezes × V ∗ × . . .× V ∗︸ ︷︷ ︸ l vezes −→ V. Enta˜o existe um isomorfismo natural T kl+1 (V ) ∼= L ( V k × (V ∗)l ;V ) . Prova. Este pode ser definido por (ΦT ) ( v1, . . . , vk, ω 1, . . . , ωl, ωl+1 ) = ωl+1 ( T ( v1, . . . , vk, ω 1, . . . , ωl )) . � 1.4.2 Produto Tensorial 1.20 Definic¸a˜o. Sejam T e S tensores de tipos (k, l) e (p, q), respectivamente. Seu produto tensorial e´ o tensor T ⊗ S do tipo (k + p, l + q) definido por (T ⊗ S) (v1, . . . , vk+p, ω1, . . . , ωl+q) = T (v1, . . . , vk, ω1, . . . , ωl)S (vk+1, . . . , vk+p, ωl+1, . . . , ωl+q) . � 1.21 Exemplo. Sejam ω1, ω2 dois covetores (1-tensores covariantes). Enta˜o ω1 ⊗ ω2 (v1, v2) = ω1 (v1)ω2 (v2) e´ um 2-tensor covariante (uma forma bilinear). � Usando produtors tensoriais, podemos obter uma base para o espac¸o tensorial T kl (V ): Rodney Josue´ Biezuner 40 1.22 Proposic¸a˜o. Se B = {e1, . . . , en} e´ uma base para o espac¸o vetorial V e B∗ = { e1, . . . , en } e´ a correspondente base dual para V ∗, enta˜o Bkl = { ei1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl } 16i1,...,ik6n 16j1,...,jl6n (1.26) e´ uma base para o espac¸o tensorial T kl (V ). Ale´m disso, qualquer tensor T ∈ T kl (V ) se escreve na forma T = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik e i1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl , (1.27) onde T j1...jli1...ik = T ( ei1 , . . . , eik , e j1 , . . . , ejl ) . (1.28) Em particular, dimT kl (V ) = n k+l. Prova. Primeiro mostraremos que Bkl gera o espac¸o tensorial T k l (V ). Seja T ∈ T kl (V ) um tensor qualquer e defina T j1...jli1...ik = T ( ei1 , . . . , eik , e j1 , . . . , ejl ) . Se v1, . . . , vk ∈ V , ω1, . . . , ωl ∈ V ∗ sa˜o vetores e covetores arbitra´rios, expressos em coordenadas por vr = n∑ ir=1 virr eir e ω s = n∑ js=1 ωsjse js para r = 1, . . . , k e s = 1, . . . , l, segue da multilinearidade que T ( v1, . . . , vk, ω 1, . . . , ωl ) = T n∑ i1=1 vi11 ei1 , . . . , n∑ ik=1 vikk eik , n∑ j1=1 ω1j1e j1 , . . . , n∑ jl=1 ωljle jl = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 vi11 . . . v ik k ω 1 j1 . . . ω l jl T ( ei1 , . . . , eik , e j1 , . . . , ejl ) = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik v i1 1 . . . v ik k ω 1 j1 . . . ω l jl = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik e i1 (v1) . . . e ik (vk) ej1 ( ω1 ) . . . ejl ( ωl ) = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik e i1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl ( v1, . . . vk, ω 1, . . . , ωl ) . Para mostrar que Bkl e´ linearmente independente, suponha que exista uma combinac¸a˜o linear nula T = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 Cj1...jli1...ike i1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl = 0 Rodney Josue´ Biezuner 41 para algumas constantes Cj1...jli1...ik ∈ R. Como ei1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl (er1 , . . . , erk , es1 , . . . , esl) = ei1 (er1) . . . e ik (erk) ej1 (e s1) . . . ejl (e sl) = δr1i1 . . . δ rk ik δj1s1 . . . δ jl sl , segue que 0 = T (er1 , . . . , erk , e s1 , . . . , esl) = Cs1...slr1...rk para todos os ı´ndices r1, . . . , rk, s1, . . . , sl = 1, . . . , n. � Este resultado mostra que um tensor e´ completamente determinado pela sua ac¸a˜o em todas as sequeˆncias poss´ıveis de covetores e vetores das bases de V ∗ e V . Observe que, se F ∈ T kl (V ), G ∈ T pq (V ) e T = F ⊗G ∈ T k+pl+q (V ), enta˜o T j1...jljl+1...jl+q i1...ikik+1...ik+p = T ( ei1 , . . . , eik , eik+1 , . . . , eik+p , e j1 , . . . , ejl , ejl+1 , . . . , ejl+q ) = F ( ei1 , . . . , eik , e j1 , . . . , ejl ) G ( eik+1 , . . . , eik+p , e jl+1 , . . . , ejl+q ) de modo que T j1...jljl+1...jl+q i1...ikik+1...ik+p = F j1...jli1...ikG jl+1...jl+q ik+1...ik+p . (1.29) 1.4.3 Mudanc¸a de Base 1.23 Proposic¸a˜o. Sejam B1 = {e1, . . . , en} ,B2 = {f1, . . . , fn} duas bases para o espac¸o vetorial V e B∗1 = { e1, . . . , en } ,B∗2 = { f1, . . . , fn } as respectivas bases duais para V ∗. Sejam A a matriz de mudanc¸a de coordenadas da base B1 para a base B2, e ( A−1 )T a matriz de mudanc¸a de coordenadas da base dual B∗1 para a base dual B∗2, isto e´, ei = n∑ j=1 Ajifj e e k = n∑ l=1 ( A−1 )k l f l. Sejam T = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 Ej1...jli1...ike i1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 F j1...jli1...ik f i1 ⊗ . . .⊗ f ik ⊗ fj1 ⊗ . . .⊗ fjl as expresso˜es em coordenadas para um tensor T ∈ T kl (V ) em relac¸a˜o a estas bases. Enta˜o Ej1...jli1...ik = n∑ r1,...,rk=1 s1,...,sl=1 Ar1i1 . . . A rk ik ( A−1 )j1 s1 . . . ( A−1 )jl sl F s1...slr1...rk . (1.30) Rodney Josue´ Biezuner 42 Prova. Segue da u´ltima proposic¸a˜o e por multilinearidade que Ej1...jli1...ik = T ( ei1 , . . . , eik , e j1 , . . . , ejl ) = T ( n∑ r1=1 Ar1i1 fr1 , . . . , n∑ rk=1 Arkik frk , n∑ s1=1 ( A−1 )j1 s1 fs1 , . . . , n∑ sl=1 ( A−1 )jl sl fsl ) = n∑r1,...,rk=1 s1,...,sl=1 Ar1i1 . . . A rk ik ( A−1 )j1 s1 . . . ( A−1 )jl sl T (fr1 , . . . , frk , f s1 , . . . , fsl) = n∑ r1,...,rk=1 s1,...,sl=1 Ar1i1 . . . A rk ik ( A−1 )j1 s1 . . . ( A−1 )jl sl F s1...slr1...rk . � 1.24 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel. Para cada p ∈ M definimos o espac¸o tensorial tangente T kl (TpM) a M em p. Seja ϕ : U −→ ϕ (U) uma carta de uma vizinhanc¸a de um ponto p ∈M . A base coordenada Bp = { ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p } do espac¸o tangente TpM associada a` carta ϕ e sua respectiva base dual B∗p = { dx1 ∣∣ p , . . . , dxn|p } da˜o origem a` base coordenada associada a` carta ϕ para o espac¸o tensorial tangente T kl (TpM) ( Bkl ) p = { dxi1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dxik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂xj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂xjl ∣∣∣∣ p } 16i1,...,ik6n 16j1,...,jl6n (1.31) � 1.25 Corola´rio. Seja M uma variedade diferencia´vel n-dimensional e ϕ : U −→ ϕ (U) , ψ : V −→ ψ (V ) duas cartas para vizinhanc¸as de p = ϕ (x) = ψ (y) em M . Sejam Bx = { ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p } , By = { ∂ ∂y1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂yn ∣∣∣∣ p } as bases coordenadas de TpM induzidas pelas cartas ϕ e ψ, respectivamente, e B∗x = { dx1 ∣∣ p , . . . , dxn|p } , B∗y = { dy1 ∣∣ p , . . . , dyn|p } Rodney Josue´ Biezuner 43 suas respectivas bases duais. Sejam Tp = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 Ej1...jli1...ik (p) dx i1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dxik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂xj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂xjl ∣∣∣∣ p = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 F j1...jli1...ik (p) dy i1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dyik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂yj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂yjl ∣∣∣∣ p as expresso˜es em coordenadas para um tensor Tp ∈ T kl (TpM) em relac¸a˜o a estas bases. Enta˜o Ej1...jli1...ik (p) = n∑ r1,...,rk=1 s1,...,sl=1 ∂yr1 ∂xi1 . . . ∂yrk ∂xik ∂xj1 ∂ys1 . . . ∂xjl ∂ysl F s1...slr1...rk (p) . (1.32) Prova: Segue das Proposic¸o˜es 1.12, 1.15 e 1.23. � 1.4.4 Trac¸o de Tensores O trac¸o de uma matriz A = ( Aij ) n×n e´ definido por trA = n∑ i=1 Aii. A partir disso pode-se definir o trac¸o de um operador linear sobre um espac¸o vetorial real de dimensa˜o finita como sendo o trac¸o de qualquer uma de suas representac¸o˜es matriciais com respeito a uma base fixada pois pode-se provar que o trac¸o independe da base escolhida, ou seja, que o trac¸o e´ uma noc¸a˜o independente de coordenadas. Usando o isomorfismo natural entre o espac¸o vetorial End (V ) dos operadores lineares sobre V e T 11 (V ), podemos definir logo de in´ıcio o trac¸o para operadores lineares independemente de coordenadas. Ale´m da vantagem o´bvia de se ter uma definic¸a˜o que na˜o se refere a coordenadas, a maior vantagem e´ que ela sera´ naturalmente generalizada para definir o trac¸o de tensores. Observe que e´ uma consequeˆncia da Proposic¸a˜o 1.22 que os produtos tensoriais da forma ω⊗ v, ω ∈ V ∗, v ∈ V , geram T 11 (V ); em outras palavras, todo (1, 1)-tensor e´ uma combinac¸a˜o linear de tais produtos tensoriais. 1.26 Definic¸a˜o. O trac¸o de (1, 1)-tensores e´ o funcional linear tr : T 11 (V ) −→ R definido por tr (ω ⊗ v) = ω (v) em produtos tensoriais e estendido linearmente a todo T 11 (V ). Se Φ : End (V ) −→ T 11 (V ) e´ o endomorfimo natural, enta˜o o trac¸o de um operador linear A ∈ End (V ) e´ definido por trA = tr (Φ (A)) . � 1.27 Proposic¸a˜o. Se T ∈ T 11 (V ) se escreve em coordenadas na forma T = n∑ i,j=1 T ji e i ⊗ ej , enta˜o trT = n∑ i=1 T ii . (1.33) Rodney Josue´ Biezuner 44 Se A ∈ End (V ), enta˜o trA = n∑ i=1 Aii. (1.34) Prova: Por definic¸a˜o, trT = n∑ i,j=1 T ji tr ( ei ⊗ ej ) = n∑ i,j=1 T ji e i (ej) = n∑ i,j=1 T ji δ i j = n∑ i=1 T ii . Da´ı, como trA = n∑ i=1 [Φ (A)] i i , e, pela Proposic¸a˜o 1.18, [Φ (A)] j i = Φ (A) ( ei, e j ) = ej (Aei) = e j ( n∑ k=1 Aki ek ) = n∑ k=1 Aki e j (ek) = n∑ k=1 Aki δjk = Aji , segue a segunda expressa˜o. � O conceito de trac¸o pode ser generalizado para tensores de qualquer tipo, produzindo uma operac¸a˜o que diminui a ordem total do tensor em 2, 1 para a parte covariante e 1 para a parte contravariante. Antes observe que, dado um tensor T do tipo (k, l) e ı´ndices p, q, cada (k − 1, l − 1)-upla fixada( v1, . . . , vp−1, vp+1, . . . , vk, ω1, . . . , ωq−1, ωq+1, . . . , ωl ) ∈ V k−1 × (V ∗)l−1 define um tensor S ∈ T 11 (V ), que depende da (k − 1, l − 1)-upla escolhida, atrave´s da expressa˜o S (v, ω) = T ( v1, . . . , vp−1, v, vp+1, . . . , vk, ω1, . . . , ωq−1, ω, ωq+1, . . . , ωl ) . Em outras palavras, fixados v1, . . . , vp−1, vp+1, . . . , vk, ω1, . . . , ωq−1, ωq+1, . . . , ωl, T ( v1, . . . , vp−1, ·, vp+1, . . . , vk, ω1, . . . , ωq−1, ·, ωq+1, . . . , ωl ) e´ um (1, 1)-tensor. 1.28 Definic¸a˜o. Dado um tensor T do tipo (k, l) e ı´ndices p, q, o trac¸o de T com respeito aos ı´ndices p, q (´ındice covariante p e ı´ndice contravariante q) e´ o tensor trT do tipo (k − 1, l − 1) definido por (trT ) ( v1, . . . , vp−1, vp, . . . , vk−1, ω1, . . . , ωq−1, ωq, . . . , ωl−1 ) = trT ( v1, . . . , vp−1, ·, vp, . . . , vk−1, ω1, . . . , ωq−1, ·, ωq, . . . , ωl−1 ) . Se for necessa´rio explicitar os ı´ndices em relac¸a˜o aos quais foi tomado o trac¸o, denotaremos trpq T . � 1.29 Proposic¸a˜o. Se T ∈ T kl (V ) se escreve em coordenadas na forma T = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik e i1 ⊗ . . .⊗ eik ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl . Rodney Josue´ Biezuner 45 enta˜o as coordenadas de trT = n∑ i1,...,ik−1=1 j1,...,jl−1=1 (trT ) j1...jl−1 i1...ik−1 e i1 ⊗ . . .⊗ eik−1 ⊗ ej1 ⊗ . . .⊗ ejl−1 sa˜o dadas por (trT ) j1...jl−1 i1...ik−1 = n∑ i=1 T j1...jq−1ijq...jk−1 i1...ip−1iip...il−1 . (1.35) Prova: Por definic¸a˜o, se S e´ o tensor T ( ei1 , . . . , eip−1 , ·, eip , . . . , eik−1 , ej1 , . . . , ejq−1 , ·, ejq , . . . , ejl−1 ) , enta˜o (trT ) j1...jl−1 i1...ik−1 = (trT ) ( ei1 , . . . , eip−1 , eip , . . . , eik−1 , e j1 , . . . , ejq−1 , ejq , . . . , ejl−1 ) = trS = n∑ i=1 Sii = n∑ i=1 T ( ei1 , . . . , eip−1 , ei, eip , . . . , eik−1 , e j1 , . . . , ejq−1 , ei, ejq , . . . , ejl−1 ) = n∑ i=1 T j1...jq−1ijq...jl−1 i1...ip−1iip...ik−1 . � 1.5 Fibrados Tensoriais 1.30 Definic¸a˜o. SejaM uma variedade diferencia´vel de dimensa˜o n com um atlas Φ = {ϕα : Uα −→M}α∈A. O fibrado (k, l)-tensorial de M e´ a variedade diferencia´vel de dimensa˜o n+ nk+l T kl M = { (p, T ) : p ∈M e T ∈ T kl (TpM) } com um atlas Ψ = { ψα : Uα × Rnk+l −→ T kl TM } α∈A definido por ψα ( x, ( T j1...jli1...ik ) i1,...,ik=1,...,n j1,...,jl=1...,n ) = ϕα (x) , n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik dx i1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dxik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂xj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂xjl ∣∣∣∣ p . � Fibrados tensoriais sa˜o fibrados vetoriais (veja o Exerc´ıcio 1.3). Note que T 0M = C∞ (M) , T1M = TM, T 1M = T ∗M, T k0 M = T kM, T 0l M = TlM. Rodney Josue´ Biezuner 46 O fibrado T 1M e´ chamado o fibrado cotangente. 1.6 Campos Tensoriais 1.31 Definic¸a˜o. Um campo tensorial e´ uma sec¸a˜o do fibrado tensorial. Um campo tensorial dife- rencia´vel e´ uma sec¸a˜o diferencia´vel do fibrado tensorial. O espac¸o vetorial dos campos (k, l)-tensoriais diferencia´veis e´ denotado por Tkl (M). � A menos que seja dito o contra´rio, lidaremos apenas com campos tensoriais diferencia´veis. Note que T0 (M) = C∞ (M) , T1 (M) = T (M) , Tk0 (M) = T k (M) , T0l (M) = Tl (M) . e T1M e´ o espac¸o vetorial dos campos covetoriais. 1.32 Proposic¸a˜o. Seja T : M −→ T kl M um campo tensorial.Para cada carta ϕ : U −→ V uma vizinhanc¸a V de M , denote a base coordenada associada para o espac¸o tensorial T kl (TpM) por ( Bkl ) p = { dxi1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dxik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂xj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂xjl ∣∣∣∣ p } 16i1,...,ik6n 16j1,...,jl6n para todo p ∈ V , de modo que nesta base coordenada o campo tensorial T se escreve na forma Tp = n∑ i1,...,ik=1 j1,...,jl=1 T j1...jli1...ik (p) dx i1 ∣∣ p ⊗ . . .⊗ dxik ∣∣ p ⊗ ∂ ∂xj1 ∣∣∣∣ p ⊗ . . .⊗ ∂ ∂xjl ∣∣∣∣ p . (1.36) Enta˜o T e´ um campo tensorial diferencia´vel se e somente se para toda carta ϕ as func¸o˜es T j1...jli1...ik : V −→ R sa˜o diferencia´veis para todos os ı´ndices i1, . . . , ik, j1, . . . , jl = 1 . . . , n. 1.7 Exerc´ıcios 1.33 Exerc´ıcio. Defina explicitamente o fibrado cotangente e mostre que ele e´ um fibrado vetorial. Defina explicitamente o conceito de campos covetoriais. 1.34 Exerc´ıcio. Mostre que o fibrado tensorial definido pela Definic¸a˜o 1.26 e´ de fato uma variedade dife- rencia´vel. 1.35 Exerc´ıcio. Mostre que um fibrado tensorial e´ um fibrado vetorial. 1.36 Exerc´ıcio. Demonstre a Proposic¸a˜o 1.32 1.37 Exerc´ıcio. Seja T : M −→ T kl M uma sec¸a˜o do fibrado tensorial. Mostre que T e´ diferencia´vel (e, portanto, um campo tensorial diferencia´vel) se e somente se para toda vizinhanc¸a V ⊂M e para todos os cam- pos vetoriais X1, . . . , Xk e para todas os campos covetoriais ω 1, . . . , ωl a func¸a˜o T ( X1, . . . , Xk, ω 1, . . . , ωl ) : V −→ R definida por T ( X1, . . . , Xk, ω 1, . . . , ωl ) (p) = Tp ( X1 (p) , . . . , Xk (p) , ω 1 (p) , . . . , ωl (p) ) e´ diferencia´vel. Cap´ıtulo 2 Me´tricas Riemannianas 2.1 Definic¸a˜o e Exemplos 2.1 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel de dimensa˜o n. Uma me´trica riemanniana em M e´ um campo 2-tensorial covariante diferencia´vel g com as seguintes propriedades: (i) g e´ sime´trico, isto e´, gp (v, w) = gp (w, v) para todos v, w ∈ TpM ; (ii) g e´ positivo definido, isto e´, gp (v, v) > 0 para todo v ∈ TpM , v 6= 0. Uma variedade diferencia´vel M com uma me´trica riemanniana g dada e´ chamada uma variedade rie- manniana. � Em outras palavras, uma me´trica riemanniana em M e´ uma aplicac¸a˜o que associa a cada ponto p ∈M um produto interno (isto e´, uma forma bilinear sime´trica, positiva definida) gp = 〈·, ·〉p no espac¸o tangente TpM que varia diferenciavelmente com p no sentido de que se ϕ : U −→ V e´ uma carta para uma vizinhanc¸a coordenada V de M e Bp = { ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p } e´ a base coordenada de TpM associada a esta carta para cada p ∈ V , enta˜o as func¸o˜es gij : V −→ R gij (p) = 〈 ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p , ∂ ∂xj ∣∣∣∣ p 〉 p (2.1) sa˜o diferencia´veis. De fato, escrevendo o tensor me´trica em coordenadas, temos gp = n∑ i,j=1 gij (p) dx i ∣∣ p ⊗ dxj∣∣ p , (2.2) e as func¸o˜es componentes gij do tensor me´trica g sa˜o diferencia´veis para toda parametrizac¸a˜o ϕ se e somente se g e´ diferencia´vel. Omitindo o s´ımbolo do ponto de atuac¸a˜o p, como frequentemente faremos, escrevemos simplesmente gij = 〈 ∂ ∂xi , ∂ ∂xj 〉 (2.3) e notamos que a simetria do tensor me´trica implica que gij = gji. (2.4) 47 Rodney Josue´ Biezuner 48 Em particular, quando consideramos a matriz G = (gij) (2.5) segue que G e´ uma matriz sime´trica, positiva definida. Observe que devido a` simetria existem apenas n (n+ 1) 2 componentes potencialmente distintos do tensor me´trica, ao inve´s dos n2 componentes distintos para um 2-tensor covariante geral. Usando o produto sime´trico de tensores (veja [Lee 1], Cap. 12, p. 315), que no caso de covetores e´ simplesmente ωη := 1 2 (ω ⊗ η + η ⊗ ω) (2.6) e a simetria do tensor me´trica, podemos escrever a expressa˜o g = n∑ i,j=1 gijdx i ⊗ dxj na forma mais familiar g = n∑ i,j=1 gijdx idxj , (2.7) ja´ que g = n∑ i,j=1 gijdx i ⊗ dxj = n∑ i,j=1 1 2 (gij + gji) dx i ⊗ dxj = 1 2 n∑ i,j=1 gijdx i ⊗ dxj + 1 2 n∑ i,j=1 gjidx i ⊗ dxj = 1 2 n∑ i,j=1 gijdx i ⊗ dxj + 1 2 n∑ i,j=1 gijdx j ⊗ dxi (permutando os ı´ndices i, j) = n∑ i,j=1 gij 1 2 ( dxi ⊗ dxj + dxj ⊗ dxi) = n∑ i,j=1 gijdx idxj . Estritamente falando, uma variedade riemanniana e´ um par (M, g), onde M e´ uma variedade diferencia´vel e g a me´trica riemanniana, ja´ que uma mesma variedade diferencia´vel pode admitir diferentes me´tricas riemannianas, como veremos no decorrer deste texto. Contudo, quando na˜o houver perigo de confusa˜o, no´s vamos nos referir a` variedade riemanniana simplesmente por M . 2.2 Exemplo (Me´trica Euclidiana). A variedade riemanniana mais simples e´ Rn com a me´trica euclidiana gij = 〈ei, ej〉 = δij . � 2.3 Proposic¸a˜o. Toda variedade diferencia´vel possui uma me´trica riemanniana. Prova: Seja {ϕα : Uα −→ Vα}α um atlas para M e {fα}α uma partic¸a˜o da unidade de M subordinada a` cobertura {Vα}α. Rodney Josue´ Biezuner 49 Em cada Vα podemos definir uma me´trica riemanniana, aquela induzida pela carta: dado p ∈M e vetores v, w ∈ TpM , eles se escrevem em coordenadas com relac¸a˜o a` base Bp = { ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p } associada a` carta ϕα por v = n∑ i=1 vi ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p e w = n∑ j=1 wj ∂ ∂xj ∣∣∣∣ p e definimos o produto interno 〈v, w〉αp = n∑ i=1 viwi. Esta e´ uma me´trica riemanniana na subvariedade Vα com g α ij = δij . Para obter uma me´trica riemanniana global em M , usamos a partic¸a˜o da unidade, definindo 〈v, w〉p = ∑ α fα (p) 〈v, w〉αp . De fato, esta soma e´ finita em uma vizinhanc¸a de p, portanto define um tensor diferencia´vel em M ; ale´m disso, como uma combinac¸a˜o linear finita positiva de produtos internos e´ um produto interno, ela define um produto interno em TpM . � 2.4 Exemplo (Me´trica Produto). Se (M1, g1) e (M2, g2) sa˜o duas variedades riemannianas, enta˜o defi- nimos a me´trica produto g = g1 ⊕ g2 na variedade produto M1 ×M2 por g(p1,p2) ((v1, w1) , (v2, w2)) = (g1)p1 (v1, v2) + (g2)p2 (w1, w2) (2.8) para todos (v1, w1) , (v2, w2) ∈ Tp1M1 ⊕ Tp2M2 ∼= T(p1,p2) (M1 ×M2). Observe que a matriz associada a` me´trica G e´ a matriz diagonal em blocos G = [ G1 0 0 G2 ] = [ (g1)ij 0 0 (g2)ij ] . � 2.5 Definic¸a˜o. Sejam M,N variedades riemannianas. Um difeomorfismo F : M −→ N e´ uma isometria se 〈v, w〉p = 〈dFpv, dFpw〉F (p) (2.9) para todo p ∈M e para todos v, w ∈ TpM . Se existir uma isometria entre M e N , dizemos que M e N sa˜o isome´tricas. Dizemos que M e N sa˜o localmente isome´tricas se para todo p ∈ M existe uma vizinhanc¸a Vp de p em M e uma isometria F : Vp −→ F (Vp). Dizemos que uma variedade riemanniana (M, g) e´ plana, se ela e´ localmente isome´trica a Rn com a me´trica euclidiana. � Observe que o conjunto das isometrias em uma variedade riemanniana possui uma estrutura natural de grupo em que o produto de isometrias e´ definido como a composic¸a˜o das aplicac¸o˜es. Este grupo e´ denotado por Isom (M) . 2.6 Exemplo. O grupo de isometrias de Rn com a me´trica euclidiana consiste das composic¸o˜es de aplicac¸o˜es ortogonais e translac¸o˜es. � Rodney Josue´ Biezuner 50 E´ fa´cil ver que isometria e´ uma relac¸a˜o de equivaleˆncia na classe das variedades riemannianas. Geometria Riemanniana e´ principalmente o estudo das propriedades que sa˜o invariantes por isometrias.Uma excelente refereˆncia para o estudo de grupos de isometrias de variedades riemannianas e´ [Kobayashi]. Dizemos que uma aplicac¸a˜o diferencia´vel F : M −→ N entre variedades diferencia´veis e´ uma imersa˜o se dFp e´ injetiva para todo p ∈M . 2.7 Definic¸a˜o. Sejam M uma variedade diferencia´vel, (N,h) uma variedade riemannianae F : M −→ N uma imersa˜o. A me´trica induzida por F em M (tambe´m chamada a me´trica do pullback) e denotada por g = F ∗h e´ definida por 〈v, w〉p := 〈dFpv, dFpw〉F (p) (2.10) para todo p ∈M e para todos v, w ∈ TpM . � Com esta me´trica definida em M , a imersa˜o F torna-se uma imersa˜o isome´trica. Na linguagem do pullback, um difeomorfismo F entre duas variedades riemannianas (M, g) e (N,h) e´ uma isometria se g = F ∗h. 2.8 Exemplo (Superf´ıcies n-dimensionais em RN ). Seja M ⊂ Rn+k uma variedade diferencia´vel de dimensa˜o n, isto e´, uma superf´ıcie n-dimensional. A aplicac¸a˜o inclusa˜o i : M −→ Rn+k e´ uma imersa˜o, de modo que, se assumirmos a me´trica euclidiana em Rn+k, ela induz em M uma me´trica riemanniana. Neste caso, a inclusa˜o passa a ser uma imersa˜o isome´trica. Da´ı, como a diferencial dip da inclusa˜o e´ a inclusa˜o natural de TpM em Rn+k, segue que 〈v, w〉p = 〈v, w〉Rn+k (2.11) onde 〈·, ·〉Rn+k e´ o produto interno canoˆnico de Rn+k. Uma demonstrac¸a˜o alternativa de que toda variedade diferencia´vel possui uma me´trica segue enta˜o do Teorema da Imersa˜o de Whitney (isto e´, toda variedade diferencia´vel de dimensa˜o n pode ser mergulhada em R2n; um mergulho e´ uma imersa˜o injetiva): a me´trica induzida pela me´trica euclidiana em Rn. Diferentes cartas podem ser usadas para a mesma superf´ıcie n- dimensional, cada uma dando origem a componentes gij mais ou menos simples. Um exemplo de superf´ıcie n-dimensional e´ o gra´fico de uma func¸a˜o real. Se U ⊂ Rn e´ um aberto e f : U → R e´ uma func¸a˜o, enta˜o o gra´fico de f graf (f) = {(x, f (x)) : x ∈ U} e´ uma variedade diferencia´vel com a topologia induzida de Rn+1 de dimensa˜o n. Uma carta global para o gra´fico de f e´ ϕ : Rn −→ graf(f) definida por ϕ ( x1, . . . , xn ) = ( x1, . . . , xn, f ( x1, . . . , xn )) . Como ∂ϕk ∂xj = { δkj se k 6= n+ 1, ∂f ∂xj se k = n+ 1, ou seja, ∂ϕ ∂xj (x) = ( 0, . . . , 0, 1 j , 0, . . . 0, ∂f ∂xj (x) ) segue que gij (x) = 〈 ∂ϕ ∂xi (x) , ∂ϕ ∂xj (x) 〉 (x,f(x)) = 〈 ∂ϕ ∂xi (x) , ∂ϕ ∂xj (x) 〉 Rn+1 = δij + ∂f ∂xi ∂f ∂xj . (2.12) Rodney Josue´ Biezuner 51 Outro exemplo de superf´ıcie 2-dimensional e´ uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o gerada por uma curva. Espe- cificamente seja γ : I −→ R2, γ (t) = (α (t) , β (t)) uma curva parametrizada regular tal que β (t) 6= 0 para todo t ∈ I; podemos imaginar γ contida no plano yz definindo γ (t) = (0, α (t) , β (t)) . Se girarmos esta curva ao redor do eixo z obteremos uma superf´ıcie parametrizada regular S. A imagem de S e´ a imagem da aplicac¸a˜o ϕ : I × R −→ R3 dada por ϕ (t, θ) = (α (t) cos θ, α (t) sen θ, β (t)) ; a partir de ϕ podemos obter cartas locais restringindo o paraˆmetro θ a um intervalo aberto de comprimento 2pi. Da´ı, ∂ϕ ∂t (t, θ) = (α′ (t) cos θ, α′ (t) sen θ, β′ (t)) , ∂ϕ ∂θ (t, θ) = (−α (t) sen θ, α (t) cos θ, 0) , donde g11 (t, θ) = 〈 ∂ϕ ∂t (t, θ) , ∂ϕ ∂t (t, θ) 〉 ϕ(t,θ) = 〈 ∂ϕ ∂t , ∂ϕ ∂t 〉 R3 = [α′ (t)]2 + [β′ (t)]2 , g12 (t, θ) = 〈 ∂ϕ ∂t (t, θ) , ∂ϕ ∂θ (t, θ) 〉 ϕ(t,θ) = 〈 ∂ϕ ∂t , ∂ϕ ∂θ 〉 R3 = 0, g22 (t, θ) = 〈 ∂ϕ ∂θ (t, θ) , ∂ϕ ∂θ (t, θ) 〉 ϕ(t,θ) = 〈 ∂ϕ ∂θ , ∂ϕ ∂θ 〉 R3 = [α (t)] 2 . Portanto G (t, θ) = [ [α′ (t)]2 + [β′ (t)]2 0 0 [α (t)] 2 ] . � 2.9 Exemplo (Esfera). A me´trica euclidiana induz uma me´trica na esfera de raio R SnR = { x ∈ Rn+1 : ‖x‖2 = (x1)2 + . . .+ (xn+1)2 = R2} que chamaremos a me´trica canoˆnica de SnR. Denotaremos a esfera unita´ria por Sn, simplesmente. Vamos ver os coeficientes gij para diferentes cartas da esfera. a) Como gra´fico de func¸a˜o: O hemisfe´rio superior da esfera e´ o gra´fico da func¸a˜o f : BR ⊂ Rn −→ R dada por f ( x1, . . . , xn ) =√ R2 − (x1)2 − . . .− (xn)2. Como ∂f ∂xi (x) = −xi√ R2 − ‖x‖2 , segue que gij (x) = δij + xixj R2 − ‖x‖2 . (2.13) Similarmente para o hemisfe´rio inferior. Estas cartas na˜o cobrem o equador da esfera. b) Como superf´ıcie de revoluc¸a˜o: A parametrizac¸a˜o da esfera de raio R como superf´ıcie de revoluc¸a˜o e´ (x, y, z) (φ, θ) = (R senφ cos θ,R senφ sen θ,R cosφ). Rodney Josue´ Biezuner 52 Segue que G (φ, θ) = [ R2 0 0 R2 sen2 φ ] . c) Atrave´s da projec¸a˜o estereogra´fica: Na projec¸a˜o estereogra´fica a partir do polo norte N = (0, . . . , 0, R), a reta a partir de N que intercepta o plano xn+1 = 0 em um ponto x˜ = ( x1, . . . , xn, 0 ) , intercepta a esfera em um ponto ϕ (x). Portanto, a carta projec¸a˜o estereogra´fica a partir do polo norte ϕ : Rn −→ SnR\ {N} e´ definida por ϕ (x) = N + t (x˜−N) = (tx1, . . . , txn, (1− t)R) onde t > 0 e´ tal que ‖ϕ (x)‖ = R. Ou seja, t e´ tal que t2 ‖x‖2 + (1− t)2R2 = R2, donde t = 2R2 R2 + ‖x‖2 . Logo, ϕ ( x1, . . . , xn ) = ( 2R2x1 R2 + ‖x‖2 , . . . , 2R2xn R2 + ‖x‖2 , R ‖x‖2 −R2 R2 + ‖x‖2 ) , (2.14) donde ∂ϕk ∂xj (x) = 2R2δkj R2 + ‖x‖2 − 4R2xjxk( R2 + ‖x‖2 )2 se k 6= n+ 1, 4R3xj( R2 + ‖x‖2 )2 se k = n+ 1. Segue que as componentes do tensor me´trica nas coordenadas dadas pela carta ϕ sa˜o gij (x) = 〈 ∂ϕ ∂xi (x) , ∂ϕ ∂xj (x) 〉 ϕ(x) = 〈 n+1∑ k=1 ∂ϕk ∂xi (x) ek, n+1∑ l=1 ∂ϕl ∂xj (x) el 〉 Rn+1 = n+1∑ k,l=1 ∂ϕk ∂xi ∂ϕl ∂xj 〈ek, el〉Rn+1 = n+1∑ k,l=1 ∂ϕk ∂xi ∂ϕl ∂xj δkl = n+1∑ k=1 ∂ϕk ∂xi ∂ϕk ∂xj = n∑ k=1 2R2δki R2 + ‖x‖2 − 4R2xixk( R2 + ‖x‖2 )2 2R2δkj R2 + ‖x‖2 − 4R2xjxk( R2 + ‖x‖2 )2 + 16R6xixj( R2 + ‖x‖2 )4 = n∑ k=1 4R4δkiδkj( R2 + ‖x‖2 )2 − 8R4 ( δkix jxk + δkjx ixk )( R2 + ‖x‖2 )3 + 16R4xixj ( xk )2( R2 + ‖x‖2 )4 + 16R6xixj( R2 + ‖x‖2 )4 = 4R4δij( R2 + ‖x‖2 )2 − 16R4xixj( R2 + ‖x‖2 )3 + 16R4xixj ‖x‖2( R2 + ‖x‖2 )4 + 16R6xixj( R2 + ‖x‖2 )4 = 4R4δij( R2 + ‖x‖2 )2 − 16R4xixj( R2 + ‖x‖2 )3 + 16R4xixj( R2 + ‖x‖2 )3 = 4R4δij( R2 + ‖x‖2 )2 . Rodney Josue´ Biezuner 53 Vamos anotar este resultado para futura refereˆncia: gij (x) = 4R4( R2 + ‖x‖2 )2 δij . (2.15) Observe que G (x) = 4R4( R2 + ‖x‖2 )2 . . . 4R4( R2 + ‖x‖2 )2 = 4R4( R2 + ‖x‖2 )2 I. Usando a projec¸a˜o estereogra´fica a partir do polo sul obtemos duas cartas que cobrem toda a esfera. � 2.10 Exemplo (Espac¸o Hiperbo´lico). Considere o semiespac¸o superior de Rn Hn = {( x1, . . . , xn ) ∈ Rn : xn > 0} . Com a topologia induzida como aberto de Rn, Hn e´ uma superf´ıcie diferencia´vel de dimensa˜o n. Dado R > 0, se definirmos em Hn a me´trica gij ( x1, . . . , xn ) = δijR 2 (xn) 2 , (2.16) enta˜o Hn com esta me´trica, denotado HnR, e´ uma variedade riemanniana chamada o espac¸o hiperbo´lico n-dimensional. Observe que G = R2 (xn) 2 . . . R2 (xn) 2 = R2 (xn) 2 I. � 2.11 Exemplo (Toros). O toro mergulhado em R3 e´ uma superf´ıcie de revoluc¸a˜o gerada pelo c´ırculo. Tomando o c´ırculo com centro em (R, 0) e raio r < R com parametrizac¸a˜o γ (t) = (R+ r cos t, r sen t) obtemos a parametrizac¸a˜o para o toro bidimensional como superf´ıcie de revoluc¸a˜o ϕ (t, θ) = ((R+ r cos t) cos θ, (R+ r cos t) sen θ, r sen t) cuja respectiva me´trica e´ dada por G (t, θ) = [ r2 0 0 (R+ r cos t) 2 ] . Outra me´trica induzida de RN importante para o toro, na˜o localmente isome´trica a` me´trica dada acima (como veremos depois) e´ a me´trica plana do toro: considerando o toro como a superf´ıcie n-dimensional Tn = S1 × . . . × S1 ⊂ R2n, a me´trica euclidiana de R2n induz uma me´trica no toro da seguinte forma. Escrevendo Tn = S1 × . . .× S1 = {x ∈ R2n : (x1)2 + (x2)2 = (x3)2 + (x4)2 = . . . = (x2n−1)2 + (x2n)2 = 1} , Rodney Josue´ Biezuner 54 vemos que uma parametrizac¸a˜o ϕ : Rn −→ Tn para este toro e´ dada por ϕ (θ) = ϕ ( θ1, . . . , θn ) = ( cos θ1, sen θ1, . . . , cos θn, sen θn ) . Temos, portanto, ∂ϕk ∂θj (θ) = − sen θ j se k = 2j − 1, cos θj se k = 2j, 0 se k 6= 2j − 1, 2j. ou seja, ∂ϕ ∂θj = ( 0, . . . , 0,− sen θj 2j−1 , cos θj 2j , 0, . . . 0 ) Da´ı gij (θ) = 〈 ∂ϕ ∂θi (θ) , ∂ϕ ∂θj (θ) 〉 ϕ(θ) = 〈 ∂ϕ ∂θi (θ) , ∂ϕ ∂θj (θ) 〉 R2n = δij , (2.17) que sa˜o os mesmos componentes da me´trica euclidiana. Portanto, o toro plano e´ localmente isome´trico ao plano Rn. Observe que considerando T2 como uma superf´ıcie de R3 ou como uma superf´ıcie de R4 define duas me´tricas completamente diferentes para a mesma superf´ıcie. � 2.2 Comprimentos e Volumes 2.2.1 Comprimentos de Curvas Parametrizadas Em variedades riemannianas podemos definir e calcular o comprimento de curvas parametrizadas, isto e´, curvas diferencia´veis por partes γ : I −→M , onde I ⊂ R e´ um intervalo real; curvas parametrizadas podem possuir autointersec¸o˜es e ate´ mesmo cu´spides ou quinas. Um segmento de uma curva parametrizada γ e´ uma restric¸a˜o de γ a um intervalo fechado [a, b] ⊂ I. Se M e´ uma variedade riemanniana, a norma ou comprimento de um vetor v ∈ TpM e´ a norma induzida pelo produto interno: ‖v‖p = √ 〈v, v〉p. (2.18) 2.12 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana e γ : I −→M uma curva parametrizada. O compri- mento do segmento de γ definido no intervalo [a, b] ⊂ I e´ definido por ` (γ) = ∫ b a ‖γ′ (t)‖γ(t) dt. (2.19) � 2.13 Exemplo. Considere a curva parametrizada γ (t) = (0, t) no semiespac¸o positivo R2+; temos γ′ (t) = (0, 1) = e2. Se R2+ e´ considerado uma subvariedade riemanniana do plano euclideano, enta˜o ` (γ) = ∫ b a ‖e2‖(0,t) dt = ∫ b a dt = b− a. Se R2+ e´ o plano hiperbo´lico H2, enta˜o (para a, b > 0) ` (γ) = ∫ b a ‖e2‖(0,t) dt = ∫ b a 1 t dt = log b− log a. Em particular, fixando b = 1 temos ` (γ)→ +∞ quando a→ 0. � Rodney Josue´ Biezuner 55 2.2.2 Volumes em Variedades Riemannianas Orienta´veis A me´trica riemanniana tambe´m permite definir uma noc¸a˜o de volume em variedades orientadas que permite integrar func¸o˜es, na˜o apenas formas diferenciais. Seja M uma variedade riemanniana orientada. Dado p ∈ M , seja Bp = {e1, . . . , en} uma base ortonormal positiva para TpM . Seja ϕ : U −→ ϕ (U) uma parametrizac¸a˜o positiva (isto e´, na mesma orientac¸a˜o de M ; para detalhes, veja por exemplo [Carmo], p. 18) de uma vizinhanc¸a ϕ (U) de p em M e escreva os vetores da base coordenada de TpM associada a` carta ϕ em coordenadas em relac¸a˜o a` base ortonormal positiva Bp na seguinte forma: ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p = n∑ k=1 Aki ek para i = 1, . . . , n. Enta˜o gij (p) = 〈 ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p , ∂ ∂xj ∣∣∣∣ p 〉 p = 〈 n∑ k=1 Aki ek, n∑ l=1 Aljel 〉 p = n∑ k,l=1 AkiA l j 〈ek, el〉p = n∑ k,l=1 δklA k iA l j = n∑ k=1 AkiA k j . Ou seja, definindo as matrizes G = (gij) e A = ( Aij ) , temos G (p) = ATA donde detG = (detA) 2 . Denotando por vol [v1, . . . , vn] o volume do paralelep´ıpedo formado pelos vetores v1, . . . , vn, sabemos que vol [ ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p ] = detA vol [e1, . . . , en] = detA = √ detG (p) , ja´ que vol [e1, . . . , en] = 1. Seja ψ : V −→ ψ (V ) outra carta positiva de uma vizinhanc¸a ψ (V ) de p em M e escreva os vetores da base coordenada associada a` carta ϕ em termos dos vetores da base coordenada de TpM associada a` parametrizac¸a˜o ψ ∂ ∂xi ∣∣∣∣ p = n∑ j=1 Jji ∂ ∂yj ∣∣∣∣ p (2.20) com Jji = ∂y j/∂xi. Denote hij (p) = 〈 ∂ ∂yi ∣∣∣∣ p , ∂ ∂yj ∣∣∣∣ p 〉 p e H = (hij) . Segue que √ detG (p) = vol [ ∂ ∂x1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂xn ∣∣∣∣ p ] = det J vol [ ∂ ∂y1 ∣∣∣∣ p , . . . , ∂ ∂yn ∣∣∣∣ p ] (2.21) = det J √ detH (p) . Podemos agora definir o volume. Rodney Josue´ Biezuner 56 2.14 Definic¸a˜o. Seja Mn uma variedade riemanniana e Ω ⊂ M um conjunto aberto, conexo e com fecho compacto, tal que Ω esta´ contida em uma vizinhanc¸a coordenada ϕ (U) de uma parametrizac¸a˜o ϕ : U −→ ϕ (U) e a fronteira de ϕ−1 (Ω) tem medida nula em Rn. O volume de Ω e´ definido por vol Ω = ∫ ϕ−1(Ω) √ detGdx1 . . . dxn. (2.22) Se Ω ⊂M e´ um compacto, tome qualquer cobertura finita {Vi}i=1,...,n de Ω por vizinhanc¸as parametrizadas de M e considere uma partic¸a˜o da unidade {ρi}i=1,...,n subordinada a esta cobertura; se ϕi : Ui −→ Vi, i = 1, . . . , n, sa˜o parametrizac¸o˜es destas vizinhanc¸as, definimos vol Ω = n∑ i=1 ∫ ϕ−1i (Ω) ρi √ detGdx1 . . . dxn. (2.23) Se f : M −→ R e´ uma func¸a˜o cont´ınua com suporte compacto Ω, definimos∫ M f dVg = n∑ i=1 ∫ ϕ−1i (Ω) f ( ϕ−1i (x) )√ detGdx1 . . . dxn. (2.24) � Segue da fo´rmula de mudanc¸a de varia´veis para integrais mu´ltiplas e de (2.21) que o volume esta´ bem definido, isto e´, na˜o depende da carta. Na linguagem de formas, o elemento de volume riemanniano dVg = √ detGdx1 . . . dxn = √ detGdx1 ∧ . . . ∧ dxn (2.25) e´ uma n-forma (para um tratamento usando formas, veja [Lee 2] e especialmente [Lee 1], Cap. 16, p. 422 em diante, que traz o teorema de Stokes e suas va´rias verso˜es para variedades riemannianas). 2.3 Grupos de Lie e A´lgebras de Lie O grupo de isometrias de uma variedade Riemanniana e´ um grupo de Lie, como pode ser visto em [Kobayashi]. 2.15 Definic¸a˜o. Um grupo de Lie G e´ uma variedade diferencia´vel que possui uma estrutura alge´brica de grupo tal que a aplicac¸a˜o G×G −→ G (g, h) 7→ gh−1 e´ diferencia´vel. � 2.16 Proposic¸a˜o. Seja G um grupo que e´ uma variedade diferencia´vel. Enta˜o G e´ um grupo de Lie se e somente se as aplicac¸o˜es G −→ G g 7→ g−1 e G×G −→ G (g, h) 7→ gh sa˜o diferencia´veis. Rodney Josue´ Biezuner 57 Prova: Suponha que G e´ um grupo de Lie. Enta˜o a primeira aplicac¸a˜o e´ diferencia´vel porque e´ a composta das aplicac¸o˜es diferencia´veis G −→ G×G −→ G x 7→ (e, g) 7→ eg−1 = g−1 (lembre-se que a inclusa˜o na variedade produto sempre e´ uma aplicac¸a˜o diferencia´vel). A segunda e´ dife- rencia´vel porque e´ a composta das aplicac¸o˜es diferencia´veis G×G −→ G×G −→ G (g, h) 7→ (g, h−1) 7→ g (h−1)−1 = gh (lembre-se que uma aplicac¸a˜o de G × G em G × G e´ uma aplicac¸a˜o diferencia´vel se e somente se cada aplicac¸a˜o coordenada G ×G −→ G e´, e as projec¸o˜es da variedade produto sobre suas componentes sempre sa˜o aplicac¸o˜es diferencia´veis). A rec´ıproca e´ o´bvia. � 2.17 Exemplo. As seguintes variedades diferencia´veis sa˜o grupos de Lie sob as operac¸o˜es indicadas. a) Rn, adic¸a˜o vetorial. b) C\ {0}, multiplicac¸a˜o. c) S1, multiplicac¸a˜o induzida de C. d) G×H, variedade produto de dois grupos de Lie G,H, com estrutura de grupo do produto direto dos grupos (g1, h1) (g2, h2) = (g1g2, h1h2). e) Tn = S1 × . . .× S1, variedade produto e produto direto n vezes do grupo de Lie S1. f) GL(Rn) (o grupo linear geral das matrizes reais invert´ıveis n×n, subvariedade de Rn2), multiplicac¸a˜o matricial. � 2.18 Proposic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Dado g ∈ G, enta˜o as aplicac¸o˜es translac¸a˜o a` esquerda por g Lg : G −→ G g 7→ gh (2.26) e translac¸a˜o a` direita por g Rx : G −→ G h 7→ yg (2.27) sa˜o difeomorfismos. Observando que (Lg) −1 = Lg−1 , (Rg) −1 = Rg−1 , temos pela regra da cadeia [ (dLg)h ]−1 = ( dL−1g ) Lgh = ( dLg−1 ) gh (2.28) e similarmente [ (dRg)h ]−1 = ( dRg−1 ) gh . (2.29) 2.19 Definic¸a˜o. Uma a´lgebra de Lie (sobre R)e´ um espac¸o vetorial G munido de uma aplicac¸a˜o bilinear, chamada o colchete de Lie, [·, ·] : V × V −→ R que satisfaz (i) (anticomutatividade) [X,Y ] = − [Y,X] ; (2.30) (ii) (identidade de Jacobi) [[X,Y ] , Z] + [[Y, Z] , X] + [[Z,X] , Y ] = 0 (2.31) para todos X,Y, Z ∈ G. � Rodney Josue´ Biezuner 58 2.20 Exemplo. Seja M uma variedade diferencia´vel. O espac¸o vetorial T (M), equipado com o colchete de Lie e´ uma a´lgebra de Lie. � 2.21 Exemplo. O espac¸o vetorial das matrizes reais n× n com a operac¸a˜o colchete definida por [A,B] = AB −BA (2.32) e´ uma a´lgebra de Lie. De fato, bilinearidade e anticomutatividade claramente valem e [[A,B] , C] + [[B,C] , A] + [[C,A] , B] = (AB −BA)C − C (AB −BA) + (BC − CB)A−A (BC − CB) + (CA−AC)B −B (CA−AC) = ABC −BAC − CAB + CBA+BCA− CBA−ABC +ACB + CAB −ACB −BCA+BAC = 0. Esta a´lgebra de Lie e´ denotada por gl (Rn). � 2.22 Exemplo. R3 com o produto vetorial e´ uma a´lgebra de Lie. � Veremos agora a relac¸a˜o entre grupos de Lie e a´lgebras de Lie. Primeiro algumas preliminares. Pela Proposic¸a˜o 2.18, toda translac¸a˜o a` esquerda Lx em um grupo de Lie e´ um difeomorfismo. 2.23 Definic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Dizemos que um campo vetorial X ∈ T (G) e´ invariante a` esquerda se dLgX = X ◦ Lg (2.33) para todo g ∈ G. � Explicitando a definic¸a˜o acima, temos que para todo g ∈ G vale (dLg)hXh = XLgh = Xgh. (2.34) para todo h ∈ G. Em particular, um campo invariante a` esquerda fica completamente determinado pelo seu valor em algum ponto qualquer de G. Por exemplo, se conhecemos o valor de Xe enta˜o, tomando h = e, segue que Xg = (dLg)eXe. (2.35) O pro´ximo resultado garante a existeˆncia de um nu´mero infinito de campos invariantes a` esquerda em um grupo de Lie. 2.24 Proposic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Todo vetor tangente Xe no espac¸o tangente TeG possui uma extensa˜o a um campo invariante a` esquerda X ∈ T (G). Prova: Basta definir Xg = (dLg)eXe. Como Lg e´ um difeomorfismo C ∞, claramente X ∈ T (G). Para ver que X e´ um campo invariante a` esquerda, seja h ∈ G qualquer. Como Lh ◦ Lg = Lhg segue que (dLh)gXg = (dLh)g (dLg)eXg = [d (Lh ◦ Lg)]eXg = (dLhg)eXg = Xhg. � Rodney Josue´ Biezuner 59 2.25 Proposic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Enta˜o o colchete de Lie de campos invariantes a` esquerda e´ invariante a` esquerda. Em particular, o subespac¸o dos campos invariantes a` esquerda e´ uma a´lgebra de Lie. Prova: Sejam X,Y ∈ T (G) campos invariantes a` esquerda. Temos, para toda f ∈ C∞ (G), (dLg)h [X,Y ]h f = [X,Y ]h (f ◦ Lg) = XYh (f ◦ Lg)− Y Xh (f ◦ Lg) = X (dLg)h Yh (f)− Y (dLg)hXh (f) = XYgh (f)− Y Xgh (f) = [X,Y ]gh f. Como o subconjunto dos campos invariantes a` esquerda e´ um subespac¸o vetorial de T (G), segue que ele e´ uma (sub)a´lgebra de Lie. � Podemos agora definir uma operac¸a˜o colchete de Lie no espac¸o tangente (espac¸o vetorial) TeG que o transforma em uma a´lgebra de Lie: 2.26 Definic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. A a´lgebra de Lie G de G e´ o espac¸o tangente TeG munido do colchete de Lie [Xe, Ye] := [X,Y ]e . (2.36) onde X,Y ∈ T (G) sa˜o quaisquer extenso˜es invariantes a` esquerda dos vetores tangentes Xe, Ye. � Pode-se mostrar que a a´lgebra de Lie dos campos invariantes a` esquerda e´ isomorfa ao espac¸o tangente TeG, em particular como espac¸o vetorial ela tem dimensa˜o finita, igual a` dimensa˜o de G (veja [Lee 1], Teorema 8.37, e [Warner], p.86, Definic¸a˜o 3.1). Podemos agora introduzir uma me´trica em G com certas propriedades alge´bricas. 2.27 Definic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Dizemos que uma me´trica 〈·, ·〉g em G e´ invariante a` esquerda se 〈v, w〉h = 〈 (dLg)h v, (dLg)h w 〉 Lgh (2.37) para todos g, h ∈ G e para todos v, w ∈ TeG. Analogamente, definimos uma me´trica invariante a` direita. Uma me´trica que e´ ao mesmo tempo invariante a` esquerda e a` direita e´ chamada uma me´trica bi- invariante. � Em outras palavras, em uma me´trica invariante a` esquerda, toda translac¸a˜o a` esquerda Lg e´ uma isometria, enquanto que em uma me´trica invariante a` direita, toda translac¸a˜o a` direita Rg e´ uma isometria. Em uma me´trica bi-invariante todas as translac¸o˜es sa˜o isometrias. A existeˆncia de me´tricas bi-invariantes para grupos de Lie compactos e´ estabelecida no Exerc´ıcio 7 de [Carmo]. A existeˆncia de me´trica invariantes a` esquerda ou a` direita em qualquer grupo de Lie e´ estabelecida atrave´s da seguinte definic¸a˜o. 2.28 Proposic¸a˜o. Seja G um grupo de Lie. Suponha que 〈, 〉 e´ algum produto interno em TeG. Enta˜o a me´trica em G definida por 〈v, w〉g = 〈( dLg−1 ) g v, ( dLg−1 ) g w 〉 e (2.38) para todo g ∈ G e para todos v, w ∈ TeG, e´ invariante a` esquerda. Analogamente, a me´trica em G definida por 〈v, w〉g = 〈( dRg−1 ) g v, ( dRg−1 ) g w 〉 e para todo g ∈ G e para todos v, w ∈ TeG, e´ invariante a` direita. Rodney Josue´ Biezuner 60 Prova: Temos, por definic¸a˜o, 〈 (dLg)h v, (dLg)h w 〉 Lgh = 〈( dL(Lgh)−1 ) Lgh (dLg)h v, ( dL(Lgh)−1 ) Lgh (dLg)h w 〉 e = 〈( dLh−1g−1 ) gh (dLg)h v, ( dLh−1g−1 ) gh (dLg)h w 〉 e = 〈(dLh−1)h v, (dLh−1)h w〉e = 〈v, w〉h lembrando que Lh−1g−1 ◦ Lg = Lh−1g−1g = Lh−1 . Analogamente prova-se a invariaˆncia a` direita da segunda me´trica. � Ha´ uma relac¸a˜o entre o produto interno e o colchete de Lie em G = TeG que caracteriza as me´tricas bi-invariantes de G que enunciaremos sem prova. 2.29 Teorema. Seja G um grupo de Lie com a´lgebra de Lie G. A me´trica invariante a` esquerda definida na proposic¸a˜o anterior e´ bi-invariante se e somente se o produto escalar 〈, 〉 em G = TeG usado para definir a me´trica satisfaz 〈[V,X] ,W 〉 = −〈V, [W,X]〉 para todos V,W,X ∈ G. 2.4 Exerc´ıcios 2.30 Exerc´ıcio. Mostre que a me´trica produto e´ de fato uma me´trica. Porque g(p1,p2) ((v1, w1) , (v2, w2)) = gp1 (v1, v2) gp2 (w1, w2) na˜o define uma me´trica na variedade produto M1 ×M2? Cap´ıtulo 3 Conexo˜es Riemannianas E´ poss´ıvel definir geode´sicas e estudar suas propriedades sem falar de curvatura. Na verdade e´ ate´ poss´ıvel falar em geode´sicas sem falar de me´trica. Geode´sicas sa˜o generalizac¸o˜es das retas da geometria euclideana. Embora seja poss´ıvel definir geode´sicas como curvas que minimizam distaˆncias, pelo menos localmente (e neste caso a noc¸a˜o de geode´sica estaria tambe´m fundamentalmente ligada a` noc¸a˜o de me´trica) esta proprie- dade e´ tecnicamente dif´ıcil de trabalhar como definic¸a˜o. Ao inve´s, escolheremos uma propriedade diferente das retas para generalizar: retas sa˜o caracterizadas como curvas com acelerac¸a˜o nula. Esta propriedade na˜o faz nenhuma refereˆncia a` me´trica e pode ser utilizada mesmo em variedades diferencia´veis que na˜o tenham uma estrutura riemanniana. Para usar esta propriedade, precisaremos primeiro definir o conceito de deriva- das de campos tangentes a` curvas. Como em geral na˜o existe um espac¸o ambiente Rn onde a variedade esta´ mergulhada, na˜o e´ imediatamente o´bvio como defini-lo. Se α : I −→ M e´ uma curva diferencia´vel em uma variedade M na˜o podemos simplesmente definir α′′ (t0) = lim t→t0 α′ (t)− α′ (t0) t− t0 porque α′ (t) ∈ Tα(t)M e α′ (t0) ∈ Tα(t0)M vivem em diferentes espac¸os vetoriais, logo sua diferenc¸a na˜o faz sentido. A definic¸a˜o do conceito de conexa˜o atende esta necessidade de definir uma noc¸a˜o de derivac¸a˜o intr´ınseca para campos vetoriais. O nome conexa˜o se refere exatamente a` ide´ia de conectar localmente os espac¸os tangentes de uma variedade. 3.1 Conexo˜es e Derivada Covariante Consideremos o conjunto T (M) dos campos vetoriais diferencia´veis em uma variedade diferencia´vel M como um mo´dulo sobre o anel C∞ (M) das func¸o˜es suaves definidas em M . 3.1 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel de dimensa˜o n. Uma conexa˜o ∇ em Me´ uma aplicac¸a˜o ∇ : T (M)× T (M) −→ T (M) , denotada por (X,Y ) 7→ ∇XY que satisfaz as seguintes propriedades: (i) ∇fX+gY Z = f∇XZ + g∇Y Z, (ii) ∇X (Y + Z) = ∇XY +∇XZ, (iii) ∇X (fY ) = f∇XY + (Xf)Y. para todos os campos X,Y, Z ∈ T (M) e para todas as func¸o˜es f, g ∈ C∞ (M). Dizemos que ∇XY e´ a derivada covariante do campo Y na direc¸a˜o de X. � O s´ımbolo ∇XY deve ser interpretado como a derivada direcional do campo Y na direc¸a˜o X. O resultado a seguir reforc¸a esta interpretac¸a˜o: 61 Rodney Josue´ Biezuner 62 3.2 Proposic¸a˜o (Conexa˜o em Coordenadas). Seja ∇ uma conexa˜o em uma variedade diferencia´vel M . Se X,Y ∈ T (M) sa˜o campos vetoriais que se expressam em coordenadas locais por X = n∑ i=1 Xi∂i e Y = n∑ j=1 Y j∂j , enta˜o ∇XY = n∑ i,j=1 XiY j∇∂i∂j + n∑ j=1 X ( Y j ) ∂j . (3.1) Em particular, (∇XY )p depende apenas do valor de X em p e do valor de Y ao longo de uma curva tangente a Xp. Prova: Usando as propriedades de uma conexa˜o, obtemos ∇XY = ∇X n∑ j=1 Y j∂j = n∑ j=1 ∇X ( Y j∂j ) = n∑ j=1 Y j∇X∂j + n∑ j=1 X ( Y j ) ∂j = n∑ j=1 Y j∇∑n i=1X i∂i∂j + n∑ j=1 X ( Y j ) ∂j = n∑ i,j=1 XiY j∇∂i∂j + n∑ j=1 X ( Y j ) ∂j . Em particular, (∇XY )p = n∑ i,j=1 Xi (p)Y j (p) (∇∂i∂j)p + n∑ j=1 [ Xp ( Y j )] (p) ∂j |p . Os coeficientesX1 (p) , . . . , Xn (p) dependem apenas do valor deX em p; os coeficientesXp ( Y 1 ) , . . . , Xp (Y n), por definic¸a˜o de vetor tangente, dependem apenas dos valores de Y ao longo de uma curva passando por p cujo vetor tangente em p e´ Xp. � Da expressa˜o (3.1), escrevendo os campos vetoriais ∇∂i∂j em termos dos campos base ∂k na forma ∇∂i∂j = n∑ k=1 Γkij∂k, (3.2) obtemos a seguinte expressa˜o local para o campo ∇XY : ∇XY = n∑ k=1 X (Y k)+ n∑ i,j=1 XiY jΓkij ∂k. (3.3) 3.3 Definic¸a˜o. As func¸o˜es suaves Γkij definidas pela expressa˜o (3.3) sa˜o chamadas os s´ımbolos de Chris- toffel associados a` carta particular utilizada. � Observe que em princ´ıpio precisamos obter n3 s´ımbolos de Christoffel para determinar uma conexa˜o. No caso de conexo˜es riemannianas, como veremos, a sua simetria diminuira´ o nu´mero de s´ımbolos diferentes. 3.4 Proposic¸a˜o. Toda variedade diferencia´vel possui uma conexa˜o. Rodney Josue´ Biezuner 63 Prova: Se V e´ uma vizinhanc¸a coordenada de M , dadas n3 func¸o˜es arbitra´rias Γkij ∈ C∞ (V ), a fo´rmula (3.3) define uma conexa˜o em V , vista como subvariedade de M . Se {Vα} e´ uma cobertura de M por vizinhanc¸as coordenadas, cada uma com uma conexa˜o ∇α definida, enta˜o podemos definir uma conexa˜o global em M , usando uma partic¸a˜o da unidade {ρα} subordinada a esta cobertura, por ∇XY = ∑ α ρα∇αXY. As propriedades de uma conexa˜o sa˜o facilmente verificadas; apenas a regra do produto merece atenc¸a˜o especial, ja´ que combinac¸o˜es lineares de conexo˜es na˜o sa˜o conexo˜es em geral, exatamente por deixarem de satisfazer a regra do produto. Mas combinac¸o˜es lineares convexas de conexo˜es sa˜o conexo˜es e no nosso caso temos ∇X (fY ) = ∑ α ρα∇αX (fY ) = ∑ α ρα [(Xf)Y + f∇αXY ] = (Xf)Y ∑ α ρα + f ∑ α ρα∇αXY = (Xf)Y + f∇XY. � 3.5 Exemplo (Conexa˜o Euclideana). Identificando espac¸os tangentes em Rn com o pro´prio Rn, vetores tangentes com vetores em Rn e campos vetoriais em Rn com aplicac¸o˜es suaves Rn −→ Rn, no´s definimos a conexa˜o euclideana ∇ : T (Rn)× T (Rn) −→ T (Rn) por (∇XY )p = dYp (Xp) , (3.4) ou seja, a derivada direcional do campo Y em p na direc¸a˜o de Xp. Em coordenadas, usando a definic¸a˜o de diferencial em Rn, dYp (Xp) = n∑ j=1 ( n∑ i=1 Xi ∂Y j ∂xi ) ej , ou seja, ∇XY = n∑ j=1 ( n∑ i=1 Xi ∂Y j ∂xi ) ∂ ∂xj . (3.5) Outra maneira de obter a mesma expressa˜o em coordenadas, usando a regra da cadeia, dYp (Xp) (f) = Xp (f ◦ Y ) = n∑ i=1 Xi ∂ (f ◦ Y ) ∂xi = n∑ i=1 Xi n∑ j=1 ∂f ∂xj ∂Y j ∂xi = n∑ j=1 ( n∑ i=1 Xi ∂Y j ∂xi ) ∂ ∂xj (f) . Em notac¸a˜o mais sucinta, a expressa˜o em coordenadas da conexa˜o euclideana que obtemos a partir de (3.5) e´ ∇XY = n∑ j=1 X ( Y j ) ∂ ∂xj . (3.6) Segue de (3.3) e da observac¸a˜o no in´ıcio da demonstrac¸a˜o da Proposic¸a˜o 3.4 que a conexa˜o euclideana e´ de fato uma conexa˜o com s´ımbolos de Christoffel Γkij = 0. � Rodney Josue´ Biezuner 64 3.2 Derivada Covariante ao longo de Curvas A existeˆncia de uma conexa˜o em uma variedade diferencia´vel M permite derivar campos vetoriais ao longo de curvas na variedade. Em particular, e´ poss´ıvel falar em acelerac¸a˜o de uma curva e portanto de geode´sicas e, eventualmente, curvatura. Na pro´xima sec¸a˜o veremos que uma me´trica riemanniana define uma conexa˜o u´nica em uma variedade riemanniana. Conexo˜es diferentes da conexa˜o induzida pela me´trica riemanniana permitem a definic¸a˜o de estruturas geome´tricas em variedades diferencia´veis mais gerais que a dada pela me´trica riemanniana; em particular, e´ poss´ıvel falar de geode´sicas sem uma noc¸a˜o de me´trica. Veremos agora como a conexa˜o permite definir uma noc¸a˜o intr´ınseca de derivada de um campo vetorial ao longo de uma curva na variedade. 3.6 Definic¸a˜o. Seja α : I −→ M uma curva diferencia´vel em uma variedade diferencia´vel M . Um campo vetorial ao longo da curva α e´ um campo vetorial diferencia´vel V : I −→ TM tal que V (t) ∈ Tα(t)M para todo t ∈ I. O espac¸o vetorial dos campos vetoriais ao longo de uma curva α e´ denotado T (α). � 3.7 Proposic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel com uma conexa˜o ∇. Existe uma u´nica corres- pondeˆncia que associa a cada campo vetorial diferencia´vel V ao longo de uma curva diferencia´vel α : I −→M um outro campo diferencia´vel DV dt ao longo de α tal que D dt (V +W ) = DV dt + DW dt , D dt (fV ) = df dt V + f DV dt para todos os campos diferencia´veis V,W ao longo de α e para toda func¸a˜o diferencia´vel f : I −→ R, e tal que, se V e´ induzido por um campo de vetores X ∈ T (M), ou seja, V = X ◦ α, enta˜o DV dt = ∇α′(t)X. Localmente, DV dt = n∑ k=1 dV k dt + n∑ i,j=1 dαi dt ΓkijV j ∂k|t , (3.7) Prova: Observe que para a expressa˜o ∇α′(t)X fazer sentido, devemos entender o subescrito α′ (t) neste s´ımbolo como qualquer extensa˜o local do campo α′ (t) a um campo em M , ja´ que pela Proposic¸a˜o 3.2 so´ importa o valor da extensa˜o em α (t), isto e´, o vetor tangente α′ (t), e o valor de X em uma curva tangente a α′ (t) em α (t), que pode ser tomada como sendo a pro´pria curva α. Vamos provar primeiro a unicidade de DV dt . Suponha que exista um tal campo DV dt satisfazendo todas as propriedades do enunciado. Seja V (t) = n∑ j=1 V j (t) ∂j |t a expressa˜o local do campo V . Pelas primeiras duas propriedades do enunciado, temos DV dt ∣∣∣∣ t = n∑ j=1 dV j dt (t) ∂j |t + n∑ j=1 V j (t) D∂j dt ∣∣∣∣ t . Rodney Josue´ Biezuner 65 Pela terceira propriedade, D∂j dt ∣∣∣∣ t = (∇α′(t)∂j)t = (∇∑ni=1 dαidt (t)∂i∂j)t = n∑ i=1 dαi dt (t) ∇∂i∂j |t . Portanto, localmente o campo DV dt se escreve na forma DV dt ∣∣∣∣ t = n∑ k=1 dV k dt (t) + n∑ i,j=1 dαi dt (t) Γkij (t)V j (t) ∂k|t , o que mostra que o campo DV dt e´ unicamente determinado. Para determinar a existeˆncia de DV dt , dada uma carta (ϕ,U) para uma vizinhanc¸a de α (t), defina o campo DV dt em ϕ (U) pela expressa˜o (3.7); e´ imediato verificar que um campo definido desta forma satisfaz todas as propriedades do enunciado. � 3.8 Definic¸a˜o. O campo diferencia´vel DV dt e´ chamado a derivada covariante de V ao longo da curva α. � 3.3 TransporteParalelo 3.9 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel com uma conexa˜o ∇. Um campo vetorial diferencia´vel V ao longo de uma curva diferencia´vel α : I −→M e´ chamado um campo paralelo ao longo de α se DV dt ≡ 0. Um campo vetorial X ∈ T (M) e´ chamado um campo paralelo se ele e´ paralelo ao longo de qualquer curva. � E´ fa´cil ver que um campo vetorial X ∈ T (M) e´ paralelo se e somente se ∇YX = 0 para todo campo Y ∈ T (M). 3.10 Proposic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel com uma conexa˜o ∇. Seja α : I −→M uma curva diferencia´vel e V0 um vetor tangente em α (t0), t0 ∈ I. Enta˜o existe um u´nico campo paralelo V definido ao longo de α tal que Vt0 = V0. Prova: Usando a expressa˜o (3.7) obtida na Proposic¸a˜o 3.7, o campo derivada covariante DV dt em coordenadas locais se escreve na forma DV dt ∣∣∣∣ t = n∑ k=1 dV k dt (t) + n∑ i,j=1 dαi dt (t) Γkij (t)V j (t) ∂k|t , (3.8) Rodney Josue´ Biezuner 66 Logo, a existeˆncia local do campo V (t) satisfazendo DV dt = 0 para todo t e V (t0) = V0 corresponde a uma soluc¸a˜o do sistema linear de n equac¸o˜es diferenciais dV 1 dt (t) + n∑ i,j=1 dαi dt (t) Γ1ij (t)V j (t) = 0 ... dV n dt (t) + n∑ i,j=1 dαi dt (t) Γnij (t)V j (t) = 0 com condic¸a˜o inicial V 1 (t0) = V 1 0 , . . . , V n (t0) = V n 0 . Se α (I) esta´ inteiramente contida em uma vizinhanc¸a coordenada, enta˜o o teorema de existeˆncia e unicidade para equac¸o˜es diferenciais lineares garante a existeˆncia de um u´nico campo V definido em todo o intervalo I. Caso contra´rio, como α (I) e´ um conjunto compacto, ela pode ser coberta por um nu´mero finito de vizinhanc¸as coordenadas, em cada uma das quais V pode ser definido de maneira u´nica usando o racioc´ınio acima e esta unicidade garante que o campo e´ o mesmo nas intersec¸o˜es das vizinhanc¸as. � 3.11 Definic¸a˜o. O campo V obtido na Proposic¸a˜o 3.10 e´ chamado o transporte paralelo de V0 ao longo de α. A aplicac¸a˜o transporte paralelo e´ a aplicac¸a˜o linear τt : Tα(t0)M −→ Tα(t)M definida em cada vetor V0 ∈ Tα(t0)M por τt (V0) = Vt, isto e´, τt (V0) e´ o transporte paralelo do vetor V0 ao longo da curva α. � Quando necessa´rio, para s, t ∈ I denotaremos a aplicac¸a˜o transporte paralelo de vetores em Tα(s)M para vetores em Tα(t)M por τs→t : Tα(s)M −→ Tα(t)M. A aplicac¸a˜o transporte paralelo e´ linear porque o transporte paralelo e´ dado pela soluc¸a˜o de um sistema de equac¸o˜es diferenciais lineares. Por unicidade, ela e´ um isomorfismo com τ−1s→t = τt→s, e da unicidade de soluc¸a˜o para um sistema de EDOs segue tambe´m que τ0→0 = id, τr→t ◦ τs→r = τs→t. Em geral, o transporte paralelo de um vetor V em TpM para um vetor em TqM dependera´ da curva α ligando p e q usada; isto e´, se α1, α2 : I −→M sa˜o duas curvas diferencia´veis tais que α1 (s) = α2 (s) = p, α1 (t) = α2 (t) = q, enta˜o em geral τα1s→t (V ) 6= τα2s→t (V ) para todo V ∈ TpM . Como veremos depois, o transporte paralelo sera´ o mesmo, independente do caminho utilizado para ir de p ate´ q, se e somente se a curvatura riemanniana for nula. Rodney Josue´ Biezuner 67 3.4 Conexo˜es Riemannianas Como me´tricas riemannianas e conexo˜es definem cada uma uma estrutura geome´trica particular, o caso mais relevante de variedade riemanniana dotada de uma conexa˜o e´ quando a estrutura geome´trica definida por elas coincide. Para isso a conexa˜o deve satisfaz duas condic¸o˜es. 3.4.1 Conexa˜o Compat´ıvel com a Me´trica A primeira delas e´ a chamada compatibilidade da conexa˜o com a me´trica, que pode ser definida de qualquer um dos treˆs modos equivalentes a seguir. 3.12 Proposic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o ∇. Enta˜o as seguintes afirmac¸o˜es sa˜o equivalentes: (i) Para todos os campos paralelos V e W ao longo de qualquer curva diferencia´vel α em M vale 〈V,W 〉 ≡ constante. (3.9) (ii) Para todos os campos vetoriais V e W ao longo de qualquer curva diferencia´vel α em M vale d dt 〈V,W 〉 = 〈 DV dt ,W 〉 + 〈 V, DW dt 〉 . (3.10) (iii) Para todos os campos X,Y, Z ∈ T (M) vale X 〈Y,Z〉 = 〈∇XY,Z〉+ 〈Y,∇XZ〉 . (3.11) Prova: (ii) ⇒ (i) Se V e W sa˜o campos paralelos, enta˜o d dt 〈V,W 〉 = 〈0,W 〉+ 〈V, 0〉 = 0 e portanto 〈V,W 〉 e´ constante. (i) ⇒ (ii) Seja α : I −→ M uma curva diferencia´vel qualquer e para um ponto fixado t0 ∈ I escolha uma base ortonormal B0 = { E1|t0 , . . . , En|t0 } para Tα(t0)M . Usando a Proposic¸a˜o 3.10, estenda cada um dos vetores E1|t0 , . . . , En|t0 paralelamente a campos E1, . . . , En ao longo de α. Segue da definic¸a˜o de compatibilidade que Bt = {E1|t , . . . , En|t} e´ uma base ortonormal para Tα(t)M para cada t ∈ I. Dados campos diferencia´veis V e W ao longo de α, podemos enta˜o escrever V = n∑ i=1 V i (t) Ei|t e W = n∑ j=1 W j (t) Ej |t com as func¸o˜es V i,W j diferencia´veis, pois V i (t) = 〈V,Ei〉 e W j (t) = 〈W,Ej〉 . Como os campos E1 (t) , . . . , En (t) sa˜o paralelos ao longo de α, temos DE1 dt = . . . = DEn dt = 0, Rodney Josue´ Biezuner 68 logo DV dt ∣∣∣∣ t = n∑ i=1 dV i dt (t) Ei|t + n∑ i=1 V i (t) DEi dt ∣∣∣∣ t = n∑ i=1 dV i dt (t) Ei|t , e, similarmente, DW dt ∣∣∣∣ t = n∑ j=1 dW j dt (t) Ej |t . Da´ı, 〈 DV dt ,W 〉 + 〈 V, DW dt 〉 = 〈 n∑ i=1 dV i dt Ei, n∑ j=1 W jEj 〉 + 〈 n∑ i=1 V iEi, n∑ j=1 dW j dt Ej 〉 = n∑ i,j=1 dV i dt W j 〈Ei, Ej〉+ n∑ i,j=1 V i dW j dt 〈Ei, Ej〉 = n∑ i,j=1 ( dV i dt W j + V i dW j dt ) δij = n∑ i=1 ( dV i dt W i + V i dW i dt ) = d dt n∑ i=1 V iW i = d dt 〈V,W 〉 . (ii) ⇒ (iii) Seja p ∈ M e α : I −→ M uma curva diferencia´vel com α (t0) = p e α′ (t0) = Xp. Enta˜o, por definic¸a˜o de vetor tangente, Xp 〈Y, Z〉 = d dt 〈 Yα(t), Zα(t) 〉∣∣∣∣ t=t0 = 〈 DY dt ∣∣∣∣ t0 , Zt0 〉 + 〈 Yt0 , DZ dt ∣∣∣∣ t0 〉 = 〈( ∇ α′(t0) Y ) α(t0) , Zt0 〉 + 〈 Yt0 , ( ∇ α′(t0) Z ) α(t0) 〉 = 〈 (∇XY )p , Zp 〉 + 〈 Yp, (∇XZ)p 〉 . (iii) ⇒ (ii) Se V,W sa˜o campos ao longo de uma curva diferencia´vel α em M com α (t0) = p e α′ (t0) = Xp, enta˜o d dt 〈Vt,Wt〉 ∣∣∣∣ t=t0 = Xp 〈Vt,Wt〉 = 〈 (∇XV )p ,Wt 〉 + 〈 Vt, (∇XW )p 〉 = 〈( ∇ α′(t0) V ) α(t0) ,Wt0 〉 + 〈 Vt0 , ( ∇ α′(t0) W ) α(t0) 〉 = 〈 DV dt ∣∣∣∣ t0 ,Wt0 〉 + 〈 Vt0 , DW dt ∣∣∣∣ t0 〉 . � A condic¸a˜o 〈V,W 〉 ≡ constante justifica o nome campos paralelos. 3.13 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade Riemanniana com uma conexa˜o ∇. Dizemos que a conexa˜o e´ compat´ıvel com a me´trica, quando ela satisfaz qualquer uma das condic¸o˜es da proposic¸a˜o anterior. � Rodney Josue´ Biezuner 69 3.4.2 Conexa˜o Sime´trica A segunda condic¸a˜o para que a estrutura geome´trica definida pela conexa˜o seja a mesma definida pela me´trica e´ a seguinte: 3.14 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade diferencia´vel com uma conexa˜o ∇. O tensor torc¸a˜o da conexa˜o ∇ e´ a aplicac¸a˜o T : T (M)× T (M) −→ T (M) definida por T (X,Y ) = ∇XY −∇YX − [X,Y ] . Dizemos que a conexa˜o ∇ e´ sime´trica se T ≡ 0, isto e´, se para todos os campos X,Y ∈ T (M) vale ∇XY −∇YX = [X,Y ] . (3.12) � Apesar da conexa˜o na˜o ser um tensor, sua torc¸a˜o e´ de fato um (2, 1)-tensor, pois ela so´ depende do valor no ponto. Em coordenadas, como ∇XY = n∑ k=1 X (Y k)+ n∑ i,j=1 XiY jΓkij ∂k, ∇YX = n∑ k=1 Y (Xk)+ n∑ i,j=1 Y iXjΓkij ∂k, [X,Y ] = n∑ k=1 ( X ( Y k )− Y (Xk)) ∂k, o tensor torc¸a˜o e´ dado por T (X,Y ) = n∑ k=1 n∑ i,j=1 (XiY j − Y iXj)Γkij ∂k, (3.13) de onde vemos que T (X,Y ) e´ linear em relac¸a˜o a X e a Y , separadamente, e depende apenas de Xp e Yp. 3.15 Proposic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o sime´trica ∇. Enta˜o ∇∂i∂j = ∇∂j∂i (3.14) e Γkij = Γ k ji. (3.15) Prova: Como [∂i, ∂j ] = ∇∂i∂j −∇∂j∂i = n∑ k=1 ( Γkij − Γkji ) ∂k e [∂i, ∂j ] = 0, seguem os resultados. � Em particular, para conexo˜es riemannianas o nu´mero de s´ımbolos de Christoffel potencialmente diferentes cai para n2 (n+ 1) 2 . Rodney Josue´ Biezuner 70 3.16 Lema. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o sime´trica ∇, compat´ıvel com a me´trica de M . Enta˜o, para todos campos X,Y, Z ∈ T (M), vale 〈∇XY, Z〉 = 1 2 (X 〈Y, Z〉+ Y 〈X,Z〉 − Z 〈X,Y 〉 − 〈X, [Y,Z]〉 − 〈Y, [X,Z]〉+ 〈Z, [X,Y ]〉) . (3.16) Em particular, uma conexa˜o sime´trica compat´ıvel com a me´trica e´ unicamente determinada pela me´trica. Prova: Pela Proposic¸a˜o 3.12, X 〈Y, Z〉 = 〈∇XY, Z〉+ 〈Y,∇XZ〉 , Y 〈X,Z〉 = 〈∇YX,Z〉+ 〈X,∇Y Z〉 , Z 〈X,Y 〉 = 〈∇ZX,Y 〉+ 〈X,∇ZY 〉 . Logo, por simetria, X 〈Y,Z〉+ Y 〈X,Z〉 − Z 〈X,Y 〉 = 〈∇XY, Z〉+ 〈Y,∇XZ〉+ 〈∇YX,Z〉+ 〈X,∇Y Z〉 − 〈∇ZX,Y 〉 − 〈X,∇ZY 〉 = 〈X,∇Y Z −∇ZY 〉+ 〈Y,∇XZ −∇ZX〉+ 〈∇XY, Z〉+ 〈∇YX,Z〉 = 〈X, [Y,Z]〉+ 〈Y, [X,Z]〉 − 〈∇XY −∇YX,Z〉+ 2 〈∇XY, Z〉 = 〈X, [Y,Z]〉+ 〈Y, [X,Z]〉 − 〈[X,Y ] , Z〉+ 2 〈∇XY,Z〉 , donde segue o resultado. � 3.17 Teorema. Seja M uma variedade riemanniana. Enta˜o existe uma u´nica conexa˜o sime´trica ∇ com- pat´ıvel com a me´trica de M . Prova: O lema anterior mostra como definir uma conexa˜o sime´trica compat´ıvel com a me´trica atrave´s da expressa˜o (3.16). Ale´m disso, pelo lema, qualquer conexa˜o sime´trica compat´ıvel com a me´trica satisfara´ a identidade (3.5), o que estabelece a unicidade. � 3.18 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana. A u´nica conexa˜o sime´trica ∇ compat´ıvel com a me´trica de M e´ chamada a conexa˜o riemanniana (ou conexa˜o de Levi-Civita) de M . � Isometrias preservam conexo˜es riemannianas, como esperado: 3.19 Proposic¸a˜o. Sejam (M, g) e (M˜, g˜) variedades riemannianas isome´tricas com conexo˜es riemannianas ∇ e ∇˜, respectivamente. Se F : M −→ M˜ e´ uma isometria, enta˜o F∗ (∇XY ) = ∇˜F∗X (F∗Y ) Em particular, se α : I −→M e´ uma curva diferencia´vel e V e´ um campo vetorial ao longo de α, enta˜o F∗ ( DV dt ) = D˜ (F∗V ) dt . Prova: Defina uma aplicac¸a˜o ∇ : T (M)× T (M) −→ T (M) por ∇XY = F−1∗ [ ∇˜F∗X (F∗Y ) ] . Mostraremos que ∇ e´ uma conexa˜o riemanniana em M . A unicidade da conexa˜o riemanniana garantira´ enta˜o que ∇ = ∇, Rodney Josue´ Biezuner 71 o que provara´ o resultado. De fato, temos ∇fX+gY Z = F−1∗ [ ∇˜F∗(fX+gY ) (F∗Z) ] = F−1∗ [ ∇˜F∗(fX+gY ) (F∗Z) ] = F−1∗ [ ∇˜(f◦F−1)F∗X+(g◦F−1)F∗Y (F∗Z) ] = F−1∗ [( f ◦ F−1) ∇˜F∗X (F∗Z) + (g ◦ F−1) ∇˜F∗Y (F∗Z)] = F−1∗ [( f ◦ F−1) ∇˜F∗X (F∗Z)]+ F−1∗ [(g ◦ F−1) ∇˜F∗Y (F∗Z)] = fF−1∗ [ ∇˜F∗X (F∗Z) ] + gF−1∗ [ ∇˜F∗Y (F∗Z) ] = f∇XZ + g∇Y Z, ∇X (Y + Z) = F−1∗ [ ∇˜F∗XF∗ (Y + Z) ] = F−1∗ [ ∇˜F∗XF∗Y + ∇˜F∗XF∗Z ] = F−1∗ [ ∇˜F∗XF∗Y ] + F−1∗ [ ∇˜F∗XF∗Z ] = ∇XY +∇XZ e ∇X (fY ) = F−1∗ [ ∇˜F∗XF∗ (fY ) ] = F−1∗ [ ∇˜F∗X (fF∗Y ) ] = F−1∗ [( f ◦ F−1) ∇˜F∗XF∗Y + [(F∗X) (f ◦ F−1)]F∗Y ] = F−1∗ [( f ◦ F−1) ∇˜F∗XF∗Y ]+ F−1∗ [[(F∗X) (f ◦ F−1)]F∗Y ] = F−1∗ [( f ◦ F−1) ∇˜F∗XF∗Y ]+ [(F∗X) (f ◦ F−1)]F−1∗ (F∗Y ) = fF−1∗ [ ∇˜F∗XF∗Y ] + [ X ( f ◦ F−1 ◦ F )]F−1∗ (F∗Y ) = f∇XY + (Xf)Y, o que prova que ∇ e´ uma conexa˜o. Agora verificaremos que ∇ e´ sime´trica: ∇XY −∇YX = F−1∗ [ ∇˜F∗X (F∗Y ) ] − F−1∗ [ ∇˜F∗Y (F∗X) ] = F−1∗ [ ∇˜F∗X (F∗Y )− ∇˜F∗Y (F∗X) ] = F−1∗ [F∗X,F∗Y ] = F−1∗ F∗ [X,Y ] = [X,Y ] . Observe que para provar que ∇ e´ uma conexa˜o sime´trica, foi suficiente usar o fato que F e´ um difeomorfismo. Para estabelecer a compatibilidade de ∇ com a me´trica de M e´ necessa´rio usar o fato que F e´ uma Rodney Josue´ Biezuner 72 isometria. Com efeito, dados X,Y, Z ∈ T (M), sejam V = F∗Y e W = F∗Z. Enta˜o temos 〈∇XY,Z〉+ 〈Y,∇XZ〉 = 〈 F−1∗ [ ∇˜F∗X (F∗Y ) ] , F−1∗ W 〉 + 〈 F−1∗ V, F −1 ∗ [ ∇˜F∗X (F∗Z) ]〉 = 〈 ∇˜F∗X (F∗Y ) ,W 〉 + 〈 V, ∇˜F∗X (F∗Z) 〉 = 〈 ∇˜F∗X (F∗Y ) , F∗Z 〉 + 〈 F∗Y, ∇˜F∗X (F∗Z) 〉 = F∗X 〈F∗Y, F∗Z〉 = X 〈Y,Z〉 . A u´ltima passagem merece ser mais detalhada: definindo f : N −→ R por f (q) = 〈 (F∗Y )q , (F∗Z)q 〉 q , por isometria segue que se p = F−1 (q) enta˜o f (q) = 〈Yp, Zp〉p = 〈 YF−1(q), ZF−1(q) 〉 F−1(q) , isto e´, f = 〈Y,Z〉 ◦ F−1; assim, usando a propriedade (F∗X) f = X (f ◦ F ) ◦ F−1, temos F∗X 〈F∗Y, F∗Z〉 = X (f ◦ F ) ◦ F−1 = X 〈Y,Z〉 ◦ F−1, ou seja, [〈∇XY, Z〉+ 〈Y,∇XZ〉] (p) = [X 〈Y,Z〉] (p) . � 3.20 Exemplo (Conexa˜o riemanniana em Rn). A conexa˜o euclideana definida no Exemplo 3.4 e´ a conexa˜o riemanniana de Rn com a me´trica usual. De fato, a conexa˜o e´ compat´ıvel com a me´trica pois se α : I −→ Rn e´ uma curva diferencia´vel e V,W campos ao longo de α induzidos pelos campos vetoriais X,Y , respectivamente, enta˜o segue da regra da cadeia que d dt 〈 Vα(t),Wα(t) 〉 = 〈 d dt Vα(t),Wα(t) 〉 + 〈 Vα(t), d dt Wα(t) 〉 = 〈 dXα(t) (α ′ (t)) ,Wα(t) 〉 + 〈 Vα(t), dYα(t) (α ′ (t)) 〉 = 〈(∇α′(t)X)α(t) ,Wα(t)〉+ 〈Vα(t), (∇α′(t)Y )α(t)〉 = 〈 DV dt ∣∣∣∣ α(t) ,Wα(t) 〉 + 〈 Vα(t), DW dt ∣∣∣∣ α(t) 〉 . e ela e´ sime´trica porque, conforme (3.5),[ (∇XY )p − (∇YX)p ] (f) = n∑ j=1 ( n∑ i=1 Xi ∂Y j ∂xi ) ∂f ∂xj − n∑ j=1 ( n∑ i=1 Y i ∂Xj ∂xi ) ∂f ∂xj = n∑ j=1 n∑ i=1 ( Xi ∂Y j ∂xi − Y i ∂X j ∂xi ) ∂f ∂xj = [X,Y ]p (f) . Rodney Josue´ Biezuner 73 ou tambe´m, de forma mais sucinta, conforme (3.6), ∇XY −∇YX = n∑ j=1 X ( Y j ) ∂ ∂xj − n∑ j=1 Y ( Xj ) ∂ ∂xj = n∑ j=1 ( X ( Y j )− Y (Xj)) ∂ ∂xj = [X,Y ] . � 3.4.3 S´ımbolos de Christoffel da Conexa˜o Riemanniana Vamos agora ver como os s´ımbolos de Christoffel de uma conexa˜o riemanniana podem ser calculados atrave´s dos componentes gij da me´trica. Antes introduzimos a seguinte notac¸a˜o: a matriz G = (gij) e´ uma matriz positiva definida, logo admite uma inversa, que denotaremos por G−1 = ( gij ) . (3.17) A justificativa para isso sera´ vista no Exemplo 5.11. 3.21 Lema. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o ∇. Enta˜o 〈∇∂i∂j , ∂k〉 = n∑ m=1 Γmij gmk. (3.18) Prova: Segue imediatamente da definic¸a˜o dos s´ımbolos de Christoffel: ∇∂i∂j = n∑ m=1 Γmij∂m. � 3.22 Lema. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o riemanniana ∇. Enta˜o 〈∇∂i∂j , ∂k〉 = 1 2 (∂igjk + ∂jgik − ∂kgij) . (3.19) Prova: Por (3.16) temos que 〈∇∂i∂j , ∂k〉 = 1 2 (∂i 〈∂j , ∂k〉+ ∂j 〈∂i, ∂k〉 − ∂k 〈∂i, ∂j〉 − 〈∂i, [∂j , ∂k]〉 − 〈∂j , [∂i, ∂k]〉+ 〈∂k, [∂i, ∂j ]〉) = 1 2 (∂jgik + ∂igjk − ∂kgij) , ja´ que [∂m, ∂l] = 0. � 3.23 Proposic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o riemanniana ∇. Enta˜o Γkij = 1 2 n∑ m=1 (∂igjm + ∂jgim − ∂mgij) gmk. (3.20) Rodney Josue´ Biezuner 74 Prova: Pelos lemas temos n∑ l=1 Γlijglm = 1 2 (∂igjm + ∂jgim − ∂mgij) . Logo n∑ m=1 gmk n∑ l=1 Γlijglm = 1 2 n∑ m=1 (∂igjm + ∂jgim − ∂mgij) gmk. O lado esquerdo desta equac¸a˜o e´ n∑ l=1 n∑ m=1 gkmgmlΓ l ij = n∑ l=1 δklΓ l ij = Γ k ij . � 3.24 Corola´rio. Se ∇ e´ a conexa˜o riemanniana de Rn enta˜o Γkij = 0. (3.21) Consequentemente, ∇XY = n∑ k=1 X ( Y k ) ∂k (3.22) e ∇∂i∂j = 0. (3.23) 3.25 Corola´rio. Seja M uma variedade riemanniana com uma conexa˜o riemanniana ∇. Enta˜o ∂kgij = n∑ p=1 gipΓ p jk + n∑ p=1 gpjΓ p ik (3.24) e ∂kg ij = − n∑ p=1 gipΓjpk − n∑ p=1 gpjΓipk. (3.25)Prova: Para provar a primeira identidade, usando a compatibilidade da me´trica temos ∂kgij = ∂ ∂xk 〈∂i, ∂j〉 = 〈∇∂k∂i, ∂j〉+ 〈∂i,∇∂k∂j〉 = 〈 n∑ p=1 Γpki∂p, ∂j 〉 + 〈 ∂i, n∑ p=1 Γpkj∂p 〉 = n∑ p=1 Γpki 〈∂p, ∂j〉+ n∑ p=1 Γpkj 〈∂i, ∂p〉 = n∑ p=1 Γpkigpj + n∑ p=1 Γpkjgip. Para provar a segunda identidade, primeiro diferenciamos a identidade n∑ p=1 glpg pj = δjl , Rodney Josue´ Biezuner 75 obtendo n∑ p=1 glp∂kg pj = − n∑ p=1 (∂kglp) g pj . Como n∑ l=1 gil n∑ p=1 glp∂kg pj = n∑ p=1 n∑ l=1 gilglp∂kg pj = n∑ p=1 δip∂kg pj = ∂kg ij , segue da primeira identidade que ∂kg ij = − n∑ l=1 gil n∑ p=1 (∂kglp) g pj = − n∑ p=1 n∑ l=1 gilgpj∂kglp = − n∑ p=1 n∑ l=1 gilgpj ( n∑ m=1 glmΓ m pk + n∑ m=1 gmpΓ m lk ) = − n∑ p=1 n∑ m=1 gpj n∑ l=1 gilglmΓ m pk − n∑ l=1 n∑ m=1 gil n∑ p=1 gpjgmpΓ m lk = − n∑ p=1 n∑ m=1 gpjδimΓ m pk − n∑ l=1 n∑ m=1 gilδjmΓ p lk = − n∑ p=1 gpjΓipk − n∑ l=1 gilΓjlk. � 3.4.4 Interpretac¸a˜o Geome´trica da Derivada Covariante Usando a conexa˜o riemanniana, podemos dar uma interpretac¸a˜o geome´trica da derivada covariante em termos do transporte paralelo. 3.26 Lema. Se M e´ uma variedade riemanniana com uma conexa˜o riemanniana ∇, enta˜o a aplicac¸a˜o transporte paralelo e´ uma isometria que preserva orientac¸a˜o. Prova: Seja α : I −→ M uma curva diferencia´vel passando por um ponto p ∈ M . Dados V,W ∈ TpM , considere a func¸a˜o real f : I −→ R definida por f (t) = 〈τt (V ) , τt (W )〉 . Pela compatibilidade da me´trica, segue que f ′ (t) = 〈 D dt τt (V ) , τt (W ) 〉 + 〈 τt (V ) , D dt τt (W ) 〉 = 0, ja´ que os campos τt (V ) , τt (W ) sa˜o paralelos ao longo de α por definic¸a˜o. Portanto, f (t) = f (0) para todo t ∈ I, ou seja 〈τt (V ) , τt (W )〉 = 〈V,W 〉 Rodney Josue´ Biezuner 76 o que prova que τt e´ uma isometria. Para provar que τt preserva orientac¸a˜o, seja B = {E1, . . . , En} uma base ortonormal positivamente orientada para TpM . Como τt e´ uma isometria, Bt = {τt (E1) , . . . , τt (En)} e´ uma base ortonormal de Tα(t)M para todo t ∈ I. A orientac¸a˜o positiva de Bt segue por continuidade da func¸a˜o determinante. � 3.27 Proposic¸a˜o (Interpretac¸a˜o Geome´trica da Derivada Covariante). Seja M uma variedade ri- emanniana com uma conexa˜o riemanniana ∇. Dado um campo X ∈ T (M), seja α : I −→ M uma curva integral do campo X passando por p, ou seja, α (0) = p, α′ (t) = X (α (t)) para todo t ∈ I. Se Y ∈ T (M), enta˜o (∇XY )p = limt→0 τ−1t ( Yα(t) )− Yp t = d dt τ−1t ( Yα(t) )∣∣∣∣ t=0 . Prova: Seja B = {E1, . . . , En} uma base ortonormal para TpM . Pelo lema, Bt = {τt (E1) , . . . , τt (En)} e´ uma base ortonormal de Tα(t)M para todo t ∈ I. Como a aplicac¸a˜o transporte paralelo e´ linear, se Yα(t) = n∑ i=1 Y i (t) τt (Ei) , segue que τ−1t ( Yα(t) ) = n∑ i=1 Y i (t)Ei. Logo, d dt τ−1t ( Yα(t) )∣∣∣∣ t=0 = n∑ i=1 dY i dt (0)Ei. Por outro lado, pela Proposic¸a˜o 3.7, temos tambe´m (∇XY )p = D dt ( n∑ i=1 Y i (t) τt (Ei) )∣∣∣∣∣ t=0 = n∑ i=1 dY i dt (0) τ0 (Ei) + n∑ i=1 Y i (t) D dt (τt (Ei)) ∣∣∣∣ t=0 = n∑ i=1 dY i dt (0)Ei, ja´ que os campos τt (E1) , . . . , τt (En) sa˜o paralelos ao longo de α por definic¸a˜o. � Este resultado tambe´m vale para conexo˜es gerais em variedades diferencia´veis, mas o resultado requer um pouco mais de conhecimento de fibrados (veja [Dodson-Poston], Theorem 4.05, pp. 226–227). Cap´ıtulo 4 Geode´sicas De agora em diante, sempre que nos referirmos a uma variedade riemanniana, estaremos supondo que ela esta´ munida da sua conexa˜o riemanniana. 4.1 Definic¸a˜o – A Equac¸a˜o Geode´sica 4.1 Definic¸a˜o. Seja M uma variedade riemanniana. Dizemos que uma curva diferencia´vel γ : I −→ M e´ uma geode´sica se Dγ′ dt (t) = 0 para todo t ∈ I. � Em outras palavras, uma geode´sica e´ uma curva cujo campo velocidade e´ paralelo ao longo da curva (uma curva que transporta paralelamente o seu pro´prio vetor tangente). Ou seja, uma geode´sica e´ uma curva que na˜o muda de direc¸a˜o. A`s vezes, por abuso de linguagem, a imagem γ (I) de uma geode´sica γ tambe´m e´ chamada geode´sica. Note que o conceito de geode´sica pode ser definido para qualquer variedade diferencia´vel dotada de uma conexa˜o. O resultado seguinte, no entanto, depende da compatibilidade da me´trica com a conexa˜o, ou seja, requer uma conexa˜o riemanniana. 4.2 Proposic¸a˜o. Se γ : I −→M e´ uma geode´sica, enta˜o ‖γ′ (t)‖ ≡ constante. (4.1) Consequentemente, uma reparametrizac¸a˜o γ ◦ h de uma geode´sica γ e´ uma geode´sica se e somente se h (t) = at+ b para algumas constantes a, b ∈ R. Prova: Pois, como a conexa˜o e´ compat´ıvel com a me´trica e o campo velocidade γ′ e´ paralelo ao longo de γ ‖γ′ (t)‖2 = 〈γ′ (t) , γ′ (t)〉 ≡ constante. Como (γ ◦ h)′ (t) = h′ (t) γ′ (h (t)) , ‖γ′ (t)‖ ≡ constante, 77 Rodney Josue´ Biezuner 78 e, como acabamos de provar, uma condic¸a˜o necessa´ria para que γ ◦ h seja uma geode´sica e´∥∥(γ ◦ h)′ (t)∥∥ ≡ constante, conclu´ımos que uma condic¸a˜o necessa´ria para que a reparametrizac¸a˜o γ ◦ h seja uma geode´sica e´ que h′ (t) ≡ constante, ou seja, h (t) = at+ b para algumas constantes a, b ∈ R. Ale´m disso, escrevendo β (t) = γ ◦ h (t) = γ (at+ b), segue que Dβ′ dt (t) = a2 Dγ′ dt (at+ b) = 0, logo γ ◦ h e´ uma geode´sica. � 4.3 Definic¸a˜o. Uma geode´sica γ : I −→M e´ normalizada (ou unita´ria) se ‖γ′ (t)‖ ≡ 1. � Toda geode´sica que na˜o e´ um ponto (ou seja, ‖γ′ (t)‖ 6= 0) pode ser normalizada atrave´s de uma parame- trizac¸a˜o por comprimento de arco: se γ : I −→ M e´ uma parametrizac¸a˜o qualquer para uma geode´sica, ela pode ser reparametrizada para se tornar uma geode´sica normalizada escolhendo-se um ponto t0 ∈ I e definindo o paraˆmetro comprimento de arco s (t) = ∫ t t0 ‖γ′ (t)‖ dt. (4.2) De fato, pela regra da cadeia ‖γ′ (s)‖ = ‖γ′ (t)‖ |t′ (s)| = ‖γ′ (t)‖ 1|s′ (t)| = ‖γ ′ (t)‖ 1‖γ′ (t)‖ = 1. 4.4 Teorema (Teorema de Existeˆncia e Unicidade de Geode´sicas). Seja M uma variedade rieman- niana. Enta˜o para todos p ∈ M e v ∈ TpM , e para cada t0 ∈ R, existe um intervalo aberto I ⊂ R contendo t0 e uma u´nica geode´sica γ : I −→M tal que γ (t0) = p e γ′ (t0) = v. Prova: Seja V uma vizinhanc¸a coordenada de p, com ( x1, . . . , xn ) suas coordenadas. Pela expressa˜o em coordenadas locais da derivada covariante de um campo ao longo de uma curva obtida no cap´ıtulo anterior, uma curva γ (t) = x (t) = ( x1 (t) , . . . , xn (t) ) e´ uma geode´sica se e somente se as suas componentes satisfazem o sistema de equac¸o˜es diferenciais ordina´rias de segunda ordem na˜o linear (quasilinear), chamado a equac¸a˜o geode´sica, d2xk dt2 + n∑ i,j=1 Γkij dxi dt dxj dt = 0, k = 1, . . . , n. (4.3) Este sistema de segunda ordem pode ser transformado num sistema de primeira ordem introduzindo as n equac¸o˜es de primeira ordem vk = dxk dt , k = 1, . . . , n, de modo que estas equac¸o˜es juntamente com dvk dt + n∑ i,j=1 Γkijv ivj = 0, k = 1, . . . , n, Rodney Josue´ Biezuner 79 formam um sistema de primeira ordem equivalente ao primeiro. O resultado segue enta˜o do teorema de existeˆncia e unicidade para soluc¸o˜es de sistemas de equac¸o˜es diferenciais ordina´rias de primeira ordem. � Note que este teorema permanece va´lido para geode´sicas definidas em variedades diferencia´veis dotadas de uma conexa˜o na˜o necessariamente riemanniana. Isometrias preservam geode´sicas: 4.5 Proposic¸a˜o. Sejam M,N variedades riemannianas isome´tricas e seja F : M −→
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