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Teoria Geral do Processo

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REVISÃO DE TGP 
1. DIREITO LIDE E PROCESSO: 
O direito tem como objeto por objeto o próprio homem, no caso, as regras que permeiam 
o convívio entre os homens. No decorrer do convívio humano, ocorre rotineiramente conflitos 
de interesses, entretanto, alguns conflitos provocam o ordenamento jurídico. De acordo com 
Carnelutti, o conflito de interesse parte de uma pretensão resistida. Entretanto, essa teoria de 
Carnelutti fora criticada como um conceito sociológico e não jurídico. 
Contudo, o nosso ordenamento jurídico em seu antigo código processual civil, encara a 
lide como mérito (sendo igual ao pedido). Logo, não se deve confundir o conceito de Lide dado 
por Carnelutti e o conceito de Lide dado por Liebman (antigo código processual). 
 
2. MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITO: 
2.1. Autotutela: 
A autotutela é a forma de solução de controvérsias onde a parte mais forte impõe o 
resultado na parte mais fraca, também conhecida como justiças com as próprias mãos. Sendo 
esse um método primitivo. 
2.2. Autocomposição: 
De forma oposta ao anterior, a Autocomposição visa a solução de conflito por meio 
altruísta. Se dividindo em três formas: (a) renúncia (aquele que formula a pretensão deixa de 
fazer a sua exigência); (b) submissão (aquele que resistia à pretensão deixa de fazê-lo); e (c) 
transação (em que ambos abrem mão em parte do seu interesse para que se chegue a um acordo). 
2.2.1. Hoje em dia: 
A Autocomposição bilateral pode ser fruto de: (a) a negociação, em que as partes tentam 
acordar a solução do litígio sem a intervenção de um terceiro apto a ajudá-las nesse propósito, 
bem como (b) a conciliação e (c) a mediação, estas duas caracterizadas pelo fato de um terceiro 
capacitado cooperar com as partes na formação do resultado. 
Podendo ser visualizada nas normas do NCPC art. 3°, onde impõe ao Estado, sempre 
que possível, a solução consensual de conflitos, como também estimula a conciliação e 
mediação. 
2.2.1.1. Conciliação: 
É uma forma de Autocomposição em que o terceiro, conciliador, sendo uma figura 
neutra que ajudará a solucionar o litígio. Pode ser conciliada por um juiz togado ou por pessoa 
especializada na área, sendo bem comum no Brasil a conciliação extrajudicial. 
2.2.1.2. Mediação: 
Diferentemente da conciliação, a mediação usa o terceiro, mediado, para reintegrar o 
relacionamento das partes, para que elas mesmas decidam sobre o acordo, sem ser necessário 
uma decisão de um terceiro. Ocorre muitas vezes do conciliador sugerir um mediador. 
2.3. Arbitragem: 
A arbitragem é um meio de heterocomposição, pois concede a solução do conflito a um 
terceiro, chamado de árbitro. Podendo esse terceiro ser alguém no âmbito privado ou no âmbito 
público como exemplo o Estado. 
 
3. DIREITO PROCESSUAL X DIREITO MATERIAL: 
O termo processo deriva do latim procedere, está adstrito a noção de procedimento 
realizado em contraditório, ou seja, mediante a relação entre sujeitos, presente o contraditór io . 
Exteriorizado pela observância de um procedimento, que se traduz em um conjunto de atos 
logicamente coordenados. 
O Processo é o instrumento colocado à disposição da jurisdição, pois dele se vale o 
órgão jurisdicional para solucionar o litígio de modo justo e imparcial. Trata-se do ramo do 
direito que estuda o conjunto de normas e princípios que regulam a função jurisdicional do 
Estado em todos os seus aspectos, fixando o procedimento que se há de seguir para a atuação 
do direito positivo nos casos concretos. 
 
4. TEORIA UNITÁRIA E DUALISTA DO PROCESSO: 
Sob a dogmática processual, a doutrina diverge sobre a ciência do direito processual, 
alguns entendem que há duas ciências jurídicas (civil e penal) e outros que acham que há apenas 
uma (ramos de uma mesma ciência). 
4.1. Os Unitaristas: 
Acreditam que o processo civil e o processo penal são ramos de uma mesma ciência 
processual, sendo essa a posição adotada pela maioria, podendo-se citar Carnelutti, como 
grande processualista que apoia essa visão. Defendendo que o direito processual penal e civil 
tem as mesmas raízes. 
De forma resumida, os argumentos dos unitaristas são os seguintes: 
a) O Processo, como instrumento de composição de litígios, é uno, tampouco importa 
se o conteúdo de sua lide é de matéria penal ou civil, além disso o processo é sempre 
uma relação jurídica entre três pessoas: o juiz, o autor e o réu. 
b) O conceito de ação, pois tanto no processo civil quanto no processo penal, também 
é um só; sendo a ação um direito subjetivo público contra o Estado, para haver dele 
a prestação jurisdicional. 
c) O conceito de Jurisdição é uno, pois ela é sempre a figura soberana e indivisível do 
Estado. 
d) Muitos institutos do processo civil são em comum com o processo penal, tais como: 
citações, notificações, sentença, recurso, coisa julgada, etc. 
4.2. Os dualistas: 
Sustentam que o direito processual civil e o penal se diferem substancialmente, sendo 
duas ciências distintas, podendo-se citar Manzini como processualista defensor dessa tese. 
Usam-se desses seguintes argumentos: 
a) O Objeto do processo penal é uma relação do direito público, entretanto o objeto do 
processo civil é quase sempre uma relação de direito privado. 
b) O processo penal é indispensável para a aplicação da lei penal, já o processo civil 
nem sempre é necessário para as relações de direito privado. 
c) Ninguém, no processo civil, está obrigado a iniciar ou a exercer a ação civil, salvo 
em casos excepcionais, em que a iniciativa caiba ao Ministério Público; e, em se 
tratando de ação penal, existe obrigação funcional do Ministério Público. 
 
5. JURISDIÇÃO, AÇÃO E PROCESSO: 
Jurisdição sempre foi considerada uma função estatal, presente no conceito do poder 
judiciário atuar o direito positivo em relação a uma pretensão concreta. A ação é um direito 
autônomo, distinto do direito material subjetivo e de natureza pública pois visa a prestação 
jurisdicional. 
Sem a jurisdição, não se haveria que falar em direito de ação, pois não se teria um juiz 
a quem se dirigir; e muito menos um processo, que é o instrumento formal da jurisdição. Sem 
o direito de ação, a jurisdição não passaria de uma função inerte, e não seria necessário o 
processo. Sem o processo, não haveria jurisdição, porque o processo é o instrumento da 
jurisdição, e não haveria também lugar para o direito de ação. 
 
6. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO PROCESSO: 
Princípios constitucionais acerca do processo, encontrados principalmente no artigo 5° 
da constituição. 
6.1. Devido Processo Legal: 
Chamado também de processo justo (due process of law) ou de princípio da 
inviolabilidade da defesa em juízo, constitui limites mais representativos e protetores dos 
direitos de liberdade do cidadão contra a usurpação do poder público. Representando não só a 
obtenção da tutela jurisdicional como também assegurando a tutela ao direito. 
Esse princípio pode ser visto no Inciso LIV do art. 5°, segundo o seguinte disposit ivo 
legal: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Sendo 
ele a fonte primária de todos os outros princípios. 
Com isso, o devido processo legal faz-se derivar muitos outros princípios tais como a: 
vedação dos tribunais de exceção, ou que o indivíduo seja processado e sentenciado por 
autoridade incompetente e garante o contraditório e a ampla defesa para as partes, sendo o 
processo, em geral, marcado pela publicidade e proíbem-se as provas obtidas por meio ilícito. 
6.2. Contraditório e Ampla Defesa: 
Esses princípios legitimam o ato de poder do Estado em virtude do dialogo estabelecido 
entre o juiz e as partes no decorrer da relação processual. São previstos expressamente noart. 
5°, LV, da CF o contraditório e a ampla defesa, sendo expresso no seguinte dispositivo legal: 
“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados 
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. 
Sobre o tema também se manifesta José Roberto dos Santos Bedaque: “Ampla defesa é 
a garantia de participação conferida exclusivamente às partes da relação processual. Já o 
contraditório é fenômeno mais amplo, pois ele se refere também ao juiz, que deve, juntamente 
com os sujeitos parciais do processo, assumir postura ativa no desenvolvimento do processo, 
preocupando-se com seu resultado”. No NCPC que, em seu art. 10, preconiza que: “O juiz não 
pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se 
tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual 
deva decidir de ofício”. 
6.3. Inércia da Jurisdição, Demanda e Impulso Oficial: 
A função da jurisdição exige uma provocação da parte interessada, diante de lesão ou 
até ameaça de lesão de um bem jurídico tutelado. Por conseguinte, o artigo 2³ do NPC: “O 
processo começa por inciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções 
previstas em lei”. Com ressalva das raríssimas exceções temos o nemo judex sine actore, como 
também o ne procedat judex ex officio. 
O princípio da inércia é o mesmo princípio da demanda vista de um lado positivo. No 
princípio da demanda se impera a autonomia da vontade da parte que forma o processo e 
delimita os possíveis parâmetros da atividade judicial. 
 
6.4. Duração Razoável do Processo: 
O devido processo legal deve ter uma duração razoável para que haja à justiça para os 
litigantes, dado isso têm-se a previsão do princípio da duração razoável do processo previsto 
tanto no nosso ordenamento jurídico no Art. 5°, inciso LXXVIII como também 
internacionalmente como previsto no art. 8°, inciso I da convenção americana de direitos 
humanos de 1969. Contudo, não se é determinado nesse conceito do princípio um tempo exato 
do que seria razoável, dado isso compete a doutrina encontrar uma maneira de aferi-lo e efetivá-
lo. 
6.5. Isonomia: 
A constituição estabelece no caput do seu art. 5°, que “todos são iguais perante a lei”, 
sendo ela evidenciada também no processo como previsto no art. 7° do CPC. Esse tratamento 
isonômico compete ao juiz, levando em conta a forma igual ou desigual entre as partes para que 
haja o equilíbrio real que o pretende garante. 
Ainda quanto ao benefício de prazo, essa procura da isonomia real é o que fundamenta 
a adoção de prazos diferenciados para o Ministério Público e para a Fazenda Pública. O 
tratamento é justificado pela situação desses litigantes, que lidam com grande volume de causas 
e não têm a possibilidade de, ainda que sobrecarregados, selecionar causas, recusando aquelas 
que ultrapassem o limite do que seria razoável assumir. 
A propósito do reexame necessário, convém lembrar que o STJ, através da sua Súmula 
45, sedimentou o entendimento de que ela não poderá piorar a situação da Fazenda: “No 
reexame necessário, é defeso ao tribunal agravar a condenação imposta à Fazenda Pública”. 
 
6.6. Publicidade: 
O princípio da publicidade dos atos processuais se encontra no art. 5°, inciso LX, que 
segundo ele “a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da 
intimidade ou interesse social o exigirem”. Mais adiante, o art. 93, inciso IX, estabelece que 
“todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as 
decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às 
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do 
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação”. 
A publicidade tem como objetivo de permitir que os jurisdicionados exerçam controle 
sobrea a atuação da magistratura, e transmite a mensagem de que esta última nada tem a 
esconder. Como também as listas de processos aptos a julgamento deverão estar disponíveis a 
consulta pública (art. 12 § 1º do CPC). 
 
6.7. Motivação das Decisões Judiciais: 
O NCPC estabelece um sistema processual comparticipativo que incentiva o efeito 
diálogo entre todos os sujeitos que integram o processo, de sorte a prestigiar a colaboração 
participativa entre as partes e o juiz, tanto na condução do processo como na obtenção de seu 
resultado. (Art. 489) 
Vem assegurado na Constituição Federal, expressamente no art. 93, inciso IX. As 
decisões do juiz não serão arbitrárias e nem contaminada pelo vício de parcialidade. Uma 
garantia conferida ao jurisdicionado de conhecer os porquês que embasaram a decisão judicia l, 
ou seja, uma forma de controlar a legitimidade das decisões judiciais. 
Pode ser estudada em dois planos, uma função processual e uma função 
extraprocessual. Quando falamos da função extraprocessual, destacam-se a necessidade do 
controle dos atos do judiciário, quando falarmos de uma função endoprocessual falamos de uma 
possibilidade da via recursal, apenas quando conhecemos o itinerário lógico percorrido pelo 
juiz, poderemos utilizar os meios impugnativos, a via recursal. 
6.8. Juiz Natural e Promotor Natural: 
O princípio do juiz natural veda expressamente a criação de juízo ou tribunal de exceção 
especificamente para o julgamento de determinado caso, sendo evidenciado no art. 5° inciso 
XXXVII, que expressamente diz: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela 
autoridade competente”. 
A propósito, estabelece o referido art. 42 que “as causas serão processadas e decididas 
pelo juiz nos limites de sua competência, ressalvado às partes o direito de instituir juízo arbitral, 
na forma da lei”. 
Dessa forma, é reafirmada a possibilidade de as partes submeterem seus litígios à 
solução arbitral, afastando a tutela jurisdicional estatal, se assim entenderem conveniente. 
Contudo, caso não seja expressamente manifestada a opção pela arbitragem, através da 
convenção arbitral, o litígio será resolvido pelo Poder Judiciário e a competência do juízo ou 
do órgão será definida pelas regras previamente estabelecidas no nosso ordenamento. 
6.9. Duplo Grau de Jurisdição: 
O princípio do duplo grau de jurisdição reserva às partes a possibilidade de provocarem, 
mediante a interposição de recurso, o reexame da matéria decidida, normalmente por órgão 
hierarquicamente superior. 
Tem como objetivo principal de provocar o reexame da matéria decidida, garantindo 
maior segurança na prestação jurisdicional, ampliando a probabilidade de acerto na solução 
imposta ao litígio. 
Esse princípio é evidenciado no nosso código no art. 5°, inciso LIV, da Constituição 
Federal, dizendo que: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados 
em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ele 
inerente”. 
6.10. Vedação das Provas Obtidas por Meio Ilícito: 
Nos termos do art. 369 do NCPC, “As partes têm o direito de empregar todos os meios 
legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para 
provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na 
convicção do juiz”, o que significa que o direito à prova sofre limitações, entre as quais 
debruçamo-nos sobre a licitude (ou ilicitude) do meio na obtenção da prova. Assim é que, nos 
termos expressos da Constituição Federal, art. 5º, inciso LVI, “são inadmissíveis, no processo, 
as provas obtidas por meio ilícitos”. 
Contudo, alguns doutrinadores, tais como Luiz Marinoni e Sérgio Arenhart prelecionamque a prova é ilícita quando viola uma norma de direito material ou de direito processual. 
Contudo, a prova moralmente ilegítima é a que atenta contra as regras de direito que foram 
instituídas para proteger a moral e os bons costumes. 
A doutrina se divide em três grandes correntes sobre o tocante à admissibilidade da 
prova obtida por meio ilícito: 
a) A primeira, obstativa, não admite em nenhuma hipótese a prova que seja obtida por 
meio ilícito, encontrando fundamento na teoria dos “fruits of poisonous tree”. O 
direito não pode prestigiar o comportamento antijurídico, nem consentir que dele 
tire proveito quem haja desrespeitado o preceito legal, com prejuízo alheio. Assim, 
o órgão judicial não deve conferir eficácia à prova obtida ilicitamente. 
b) A segunda corrente, permissiva, aceita a prova, entretanto punindo quem praticou 
o ato ilícito. Cabendo a justiça a apuração da verdade dos fatos, de sorte que a 
ilicitude na obtenção não retira da prova o valor que possui como elemento útil para 
formar o convencimento do juiz. 
c) A terceira corrente, intermediária, não aceita os extremos, trata-se da corrente que 
não aceita os extremos, nem a negativa absoluta em conferir a validade da prova 
nem a admissão pura da mesma. Por conseguinte, essa corrente entende que a 
solução para essas questões são, portanto, na busca do equilíbrio e da conciliação 
entre esses dois valores, de forma que ambos possam ser compatibilizados. O 
doutrinador Fredie Didier aponta a solução de que: “Quando se está diante de um 
conflito de normas jusfundamentais, a solução deve ser dada sempre 
casuisticamente, ou seja, à luz da ponderação concreta dos interesses em jogo, a luz 
do princípio da proporcionalidade.1 
6.11. Inafastabilidade do Controle Jurisdicional e Acesso à Justiça: 
O acesso à justiça segundo Kazuo Watanabe está relacionado com à questão da Justiça 
social, tendo em vista interligar o processo com a justiça social. No Brasil, através da carta 
constitucional de 1988, o Estado passou a ser o prestador de serviços sociais ao cidadão, 
destacado aqui o dever assumido pelo Estado de prestar a devida tutela jurisdicional, justa e 
efetiva. 
O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional está previsto no art. 5° , inciso 
XXXV, da cf. Contudo essas relações podem ser vistas de forma diferente no nosso 
ordenamento tais como: “art. 3º do NCPC: “Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdiciona l 
ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado 
promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a 
mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por 
 
1 Para o autor a admissibilidade da prova obtida por meio ilícito: “(i) imprescindibilidade: somente pode 
ser aceita quando se verificar, no caso concreto, que não havia outro modo de se demonstrar a alegação de fato 
objeto da prova ilícita, ou ainda quando o outro modo existente se mostrar extremamente gravoso/custoso para a 
parte, a ponto de inviabilizar, na prática, o seu direito à prova; (ii) proporcionalidade: o bem da vida objeto de 
tutela pela prova ilícita deve mostrar-se, no caso concreto, mais digno de proteção que o bem da vida violado pela 
ilicitude da prova; (iii) punibilidade: se a conduta da parte que se vale da pro va ilícita é antijurídica/ilícita, o juiz 
deve tomar as providências necessárias para que seja ela punida nos termos da lei de regência (penal, 
administrativa, civil etc.); (iv) utilização pro reo: no processo penal, e apenas nele, tem-se entendido que a prova 
ilícita somente pode ser aceita se for para beneficiar o réu/acusado, jamais para prejudicá-lo”. 
juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do 
processo judicial”. 
Não obstante, o processo deve exsurgir como “um” dos meios de solução de conflitos, 
não o único! Nessa perspectiva destacamos a relevância que os meios alternativos de solução 
de conflitos assumem na composição social e obtenção da pacificação com Justiça, dada a maior 
aderência que assumem face a determinados conflitos de direito material. 
 
7. COMMON LAW E CIVIL LAW: 
O sistema jurídico inglês adota técnica dos precedentes ou da stare decisis, segundo a 
qual as decisões judiciais sempre serão baseadas em decisões anteriores de mesma natureza. 
Isso porque o uso dos precedentes permite uma maior previsibilidade na maneira pela qual uma 
controvérsia poderá ser decidida, oferecendo4, assim, uma garantia de certa segurança jurídica. 
O sistema brasileiro deriva-se de uma família romano-germânica, sendo assim adota um 
sistema de norma baseadas em leis, compilando as regras jurídicas em uma espécie de 
codificação para reformular o ensino do direito pátrio. 
O common law tem como fonte principal os costumes, firmados pelos precedentes dos 
tribunais, de acordo com Jorge Amaury Nunes, os juízes ingleses na falta de uma norma escrita 
eles tinham que formar uma decisão para o caso concreto, orientando-se pelo seguinte brocado: 
stare decisis et non quieta movere. 
O sistema da common law não se confunde com o sistema de precedentes, já que este é 
elemento que agregou operacionalização ao sistema da common law, conferindo certeza a essa 
prática. Contudo, os precedentes tinham força obrigatória (binding precedente), portanto pela 
técnica do precedente obrigatório, é, portanto, necessário que a Corte ou o juiz, ao decidir um 
caso concreto, fundamente sua decisão em uma decisão anterior ou em uma jurisprudência de 
tribunal superior. 
Considera-se ratio decidendi a regra ou proposição sem a qual o caso seria decidido de 
forma diversa, enquanto obter dictum seria tudo o que não está contido na ratio decidendi. Pela 
técnica do distinguishing, o juiz deve aproximar elementos objetivos dos casos que serviram 
como precedentes potencialmente e o caso em que pretende utilizá- los. Tal técnica permite ao 
juiz averiguar se o dado precedente pode ser utilizado no caso concreto a ser analisado. Assim, 
de acordo com essa técnica, há uma valorização da ratio decidendi do procedente, que servirá 
para permitir sua aplicação ao caso concreto, caso existam semelhanças que justifiquem sua 
aplicação. 
Já a técnica do overruling permite a atualização do precedente, pois o precedente que se 
mostrar ultrapassado com os fatos da sociedade ou equivocado pode ser substituído (overruling) 
por um novo precedente. Assim, “fazer o overruling significa que o tribunal claramente sinaliza 
o fim da aplicação de uma regra de direito estabelecida pelo precedente” e a substitui. 
Cada precedente é sempre formado por uma decisão majoritária do referido tribunal. Se 
não houver decisão da maioria, tem-se apenas um precedente persuasivo e não vinculante. Além 
disso, o precedente apenas vincula a própria Corte que o formulou e os órgãos hierarquicamente 
subordinados a ela, já que o precedente sempre se formará nas Cortes de segunda instância. 
Os tribunais norte-americanos aplicam com menor rigidez a regra do binding 
precedente, pois eles, inclusiva a própria Suprema Corte, reveem seus precedentes quando 
manifestamente equivocados ou ultrapassados. Contudo, é interessante ressaltar que o sistema 
norte-americano é aberto à revisão dos precedentes, pois o juiz pode optar por não aplicar um 
precedente. 
No brasil, os dispositivos legais que mais se aproximam do sistema de precedentes do 
direito inglês é a súmula vinculante, prevista no art. 103-A da Constituição Federal de 1988. E 
ainda previu a possibilidade de revisão ou cancelamento da súmula, para evitar o possível 
engessamento ou estagnação do direito. Essesinstitutos se aproximam das técnicas do 
overruling e do distinguishing, que também permitem a atualização do precedente. 
Na Inglaterra, os juízes sempre foram vistos como verdadeiros criados do direito. Já no 
Brasil, por muito tempo e até os dias atuais, o papel de criação pelo juiz é visto com muitas 
críticas pela doutrina, embora hoje existam mais estudos que tratam do papel criador 
desempenhado pelos juízes. 
 
8. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DO DIREITO PROCESSUAL: 
 
9. JURISDIÇÃO: 
A palavra jurisdição vem do latim ius (direito) e dicere (dizer), querendo significar a 
“dicção do direito”, correspondendo à função jurisdicional, que, como as demais, emana do 
Estado. 
A jurisdição é uma função do Estado, pela qual este atua o direito objetivo na 
composição dos conflitos de interesses, com o fim de resguardar a paz social e o império do 
direito. No exercício desta função, o juiz não atua espontaneamente, devendo, para tanto, ser 
provocado (Ne procedat iudex ex officio)2por quem tenha interesse em lide. 
Carnelutti vislumbrava na jurisdição um duplo aspecto, de poder e de obrigação do 
Estado-juiz; tendo Lopes da Costa visto nela um poder dever do Estado-juiz de declarar e 
realizar o direito, enquanto Frederico Marques a entendia como função estatal de aplicar as 
normas da ordem jurídica em relação a uma pretensão. 
Além do método estatal de resolução das lides, existem outras “possíve is 
desembocaduras do litígio”, dentre as quais a autocomposição, a mediação e a arbitragem. Os 
“equivalentes jurisdicionais” são meios pelos quais se pode atingir a composição da lide por 
obra dos próprios litigantes, como a transação e a mediação, ou de um particular desprovido de 
poder jurisdicional, como a mediação. 
 **A arbitragem brasileira não se inclui entre os equivalentes jurisdicionais porque ela 
configura o exercício de atividade jurisdicional exercida por um particular, com autorização do 
Estado, estando disciplinada pela Lei n. 9.307/96, alterada pela Lei n. 13.129/15. 
9.1. Jurisdição em conflito com a Legislação: 
Legislar é ditar o direito em tese, na lei, como norma de conduta que se dirige a todos 
em geral e a ninguém em particular, enquanto exercer a jurisdição é dizer o direito no caso 
concreto, em relação apenas às partes envolvidas no conflito. A sentença, que é o mais 
expressivo produto da atividade jurisdicional, se reveste de particularização, enquanto a lei, que 
é o mais típico produto da atividade legislativa, se reveste de generalização 
A jurisdição é uma atividade complementar da legislativa, cuja existência seria 
dispensável se os preceitos legais fossem voluntariamente cumpridos pelos seus destinatár ios, 
mas acontece que não são, em virtude da diversidade de interesses em lide. 
Com a jurisdição, o Estado-juiz garante a sua autoridade de Estado-legislador, fazendo 
com que se realizem, no mundo dos fatos, as consequências práticas dos preceitos enunciados 
pelas normas de direito. 
A legislação é uma atividade que independe de provocação de quem quer que seja, 
sendo, por isso, automovimentada, operando o Estado-legislador na exata medida das 
necessidades sociais e coletivas do grupo. Assim, na observância daquilo que geralmente 
acontece, o Estado-legislador valora os fatos da vida social e lhes imprime consequências 
jurídicas, ora para estimular (consequências boas), ora para desestimular (consequências más) 
a sua ocorrência. 
9.2. Jurisdição em conflito com a Administração: 
A partir destas considerações, formula Chiovenda as distinções entre a atividade 
jurisdicional e a administrativa nestes termos: 
a) O juiz age atuando a lei; a Administração age de conformidade com a lei; 
b) O juiz considera a lei em si mesma; o administrador considera a lei como norma de 
sua própria conduta; 
 c) A administração é uma atividade primária ou originária; a jurisdição é uma atividade 
secundária; 
d) Quando a Administração julga, julga sobre sua própria atividade; quando a jurisdição 
julga, julga sobre uma atividade alheia e sobre uma vontade de lei concernente a outrem. 
9.3. Classificação do ato jurisdicional: 
Classificação de jurisdição segundo Lopes da Costa: 
a) Atuação do juiz supra partes; 
b) Em processo; 
c) Sob provocação do interessado; 
d) Substituindo, no processo de conhecimento, a inteligência das partes, e, no processo 
de execução, a vontade delas; 
e) Em decisão com efeito (rectius, autoridade) de coisa julgada; 
f) Declarando a existência de direitos e realizando-os, se necessário. 
 
9.4. Princípios Relacionados a Jurisdição: 
a) Princípio da investidura – Significa esse princípio que a jurisdição só pode ser 
legitimamente exercida por quem tenha sido dela investido por autoridade 
competente do Estado, de conformidade com as normas legais. Quem, a pretexto de 
exercer a jurisdição, pratica ato próprio da atividade jurisdicional, sem a observância 
do requisito da investidura, pratica crime previsto no Código Penal (art. 328). 
b) Princípio da indelegabilidade – Este princípio significa que, sendo o juiz invest ido 
das funções jurisdicionais, como órgão do Estado, deve exercê-las pessoalmente, 
sem poder delegar atribuições. 
c) Princípio da indeclinabilidade – Este princípio significa que o juiz não pode declinar 
do seu ofício, deixando de atender quem deduza em juízo uma pretensão, pedindo a 
tutela jurisdicional. Nem mesmo a lacuna ou a obscuridade da lei exime o juiz de 
proferir decisão ou sentença, devendo, nesses casos, valer-se dos costumes, da 
analogia e dos princípios gerais de direito. 
 
9.5. Jurisdição e suas Divisões: 
a) Quanto à gradação dos seus órgãos: jurisdição inferior e jurisdição superior. A 
jurisdição inferior é a que se exerce na primeira instância, por juízo que conhece e 
julga, originariamente, as causas; a jurisdição superior é a exercida nos tribunais, 
por força de recurso interposto em causa já sentenciada, como consequência do 
duplo grau ou por força de remessa necessária. 
b) Quanto à matéria: jurisdição penal e jurisdição civil. A jurisdição penal tem por 
objeto as lides de natureza penal; a jurisdição civil compreende as causas de natureza 
extrapenal, como as civis, comerciais, administrativas, tributárias, constituciona is, 
trabalhistas etc. 
c) Quanto à origem: jurisdição legal e jurisdição convencional. A jurisdição legal é 
permanente, nasce da investidura do juiz no cargo com as atribuições próprias de 
seu ofício, de dizer ou declarar o direito; a jurisdição convencional é momentânea, 
exercida pelo árbitro ou tribunal arbitral, por força de compromisso assumido pelas 
partes. 
d) Quanto aos organismos judiciários que a exercem: jurisdição especial e jurisdição 
comum. A jurisdição especial tem o seu campo de atuação assinalado pela lei, como 
a militar, eleitoral e trabalhista; e a jurisdição comum tem competência sobre todas 
as causas que não estejam expressamente atribuídas a outras jurisdições, como a 
jurisdição comum federal e a estadual. 
 
Na doutrina, prevalece o entendimento de que a justiça federal se enquadra na jurisdição 
comum, porque esses juízes processam e julgam qualquer lide não compreendida na 
competência reservada às justiças especiais. Assim, ao lado de uma justiça comum federal, 
existe uma justiça comum estadual. 
 
V) Quanto à forma: jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária. 
 
A jurisdição contenciosa é exercida em face de litígio, quando há controvérsia (inter 
nolentes),25 e a jurisdição voluntária, quando o juiz se limita a homologar a vontade dos 
interessados, ou quando o juiz decide, mas em face de interesses não litigiosos (inter 
volentes).26

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