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Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 1 DIREITO PENAL III Arts. 121 ao 183 • DOS CRIMES CONTRA A VIDA HOMICÍDIO Sujeito ativo: Qualquer pessoa (maior de 18 anos). Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: A vida. Objeto material: Pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo agente. Existem os chamados crimes que deixam vestígios (crime não transuente) e os crimes que não deixam vestígios (crime transuente). Quando houver vestígio será obrigatório o exame de corpo de delito direto, sob pena de nulidade no processo penal, porém, se não houver vestígios recorre-se ao exame indireto, como por exemplo, prova testemunhal (Art. 158 e 167, CPP). É crime de forma livre, ou seja, praticado por qualquer meio de execução. Pode ser praticado através de ação ou omissão. Tentativa: admite-se. Momento consumativo: com a morte/óbito, comprovado através do atestado de óbito. Lei 9.434/97 - Art. 3º - "A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes da equipe de remoção e transplante, mediante a utilização de créditos clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina." Homicídio simples Art. 121 - Matar alguém: Pena - reclusão, de 6 a 20 anos. OBS! Homicídio simples praticado em atividade típica de grupo de extermínio é crime hediondo (Art. 1º, I da Lei 8.072/90). Homicídio privilegiado Causa de diminuição de pena §1º Se o agente cometer o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto (1/6) a um terço (1/3). Homicídio qualificado (É crime hediondo - Art. 1º, I, Lei 8.072/90) §2º Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por motivo torpe; II - por motivo fútil; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo asfixia, tortura ou por outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 2 DIREITO PENAL III VI - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; V - para assegurar a a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena - reclusão, de 12 a 30 anos. Feminicídio VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: VII – contra autoridade ou agente descrito nos Arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Homicídio e crime de tortura em concurso material: Ex: A sujeita B a sofrimento físico através de choques elétricos e depois mata-o com um disparo de arma de fogo. É possível homicídio privilegiado e qualificado ao mesmo tempo? Depende. Uma primeira corrente entende que são situações que conflitam entre si e que o legislador por ter colocado o §1º do Art. 121 logo após o caput só diz respeito ao homicídio simples. Já na segunda corrente, muitos julgados do STF e STJ vêm entendendo que não existe proibição de coexistirem entre si. O homicídio qualificado privilegiado por ser considerado crime hediondo? A doutrina dominante, em consonância com os tribunais, tem entendido o crime de homicídio qualificado privilegiado como não hediondo pelo fato do elemento subjetivo do privilégio predominar em relação à qualificadora objetiva. OBS! O terrorismo|tráfico|tortura são crimes equiparados aos crimes hedionos. Possuem o mesmo tratamento dos crimes hediondos, mas não são considerados como tais (§2º da Lei 8.072/90). Homicídio culposo §3º Se o homicídio é culposo: Pena - detenção, de 1 a 3 anos. O homicídio culposo é aquele considerado exceção sempre que praticado através de negligência, imprudência e imperícia, sendo julgado na Vara Criminal e não no Tribunal do Júri. Homicídio culposo na direção de veículo automotor: Art. 302 da Lei 9.503/97. OBS! Se houver homicídio doloso no trânsito, aplica-se o CP e não o CTB, pois não existe tal possibilidade nesse último. Aumento de pena (Aplica-se na 3ª fase da dosimetria) §4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 3 DIREITO PENAL III Perdão judicial §5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. Crime praticado por milícia ou por grupo de extermínio §6º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. Aumento de pena do feminicídio §7º A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima. Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: A vida. Elementos do tipo: Induzir (criar uma ideia); instigar (incentivar); auxiliar (fornecer um instrumento). - grave para o + grave Tentativa: Em regra, a tentativa não é cabível. Momento consumativo: Morte ou lesão corporal grave. OBS! Se resultar em lesão corporal leve não se aplica o Art. 122. Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 a 3 anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave. Parágrafo único - A pena é duplicada: Aumento de pena I - se o crime é praticado por motivo egoístico; II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. Competência: julgado pelo tribuna do júri. Pacto de morte: Ex: quarto com gás aberto. 1 - Havendo 1 sobrevivente: Quem abriu o gás responde pelo art. 121 e quem não abriu responde pelo art. 122. 2 - Havendo 2 sobreviventes, havendo lesão corporal leve: Quem abriu responde pelo art. 121 tentado. INFANTICÍDIO Sujeito ativo: Mãe Sujeito passivo: Próprio filho (recém-nascido|nascituro|bebê) Bem jurídico tutelado: A vida da criança. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 4 DIREITO PENAL III Tentativa: É possível. Nesse caso a mãe responde por infanticídio com causa de diminuição de pena, de acordo com art. 14 do CP. Momento consumativo: Morte do recém-nascido. Art. 123 - Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de 2 a 6 anos. O estado puerperal não é sinônimo de depressão pós parto, pois esse último retira a consciência da ilicitude do fato. Cláusula temporal: "durante ou logo apóso parto". Critério caracterizador do "estado puerperal": a) Psicofisiológico (adotado pela nossa legislação) b) Psicológico ERRO DE TIPO: Responde como se houvesse praticado o crime contra a pessoa certa. Se o nascente ou o neonato já se encontrava morto? Ocorre crime impossível, art. 17 do CP. Se a mãe, sob a influência do estado puerperal, mata seu próprio filho adulto? Nesse caso não se trata de infanticídio, trata-se de homicídio. Se a mãe, erroneamente, em estado puerperal, supondo tratar-se do seu filho, mata logo após o parto outra criança? Configura-se erro de tipo, no qual a mãe responderá como se houvesse matado seu próprio filho. Se a mãe, em estado puerperal, mata culposamente seu próprio filho durante ou logo após o parto? a) Fato penalmente atípico (Damásio de Jesus) b) Responderá por homicídio culposo (Cesar Roberto Bittencourt; Julio Fabbrini Mirabete; Fernando Capez) Se a mãe, em estado puerperal, mata o próprio filho contando com o auxílio de terceira pessoa? A mãe responderá pelo infanticídio e o terceiro também, de acordo com a teoria monista. ABORTO Bem jurídico tutelado: A vida do bebê. Auto-aborto Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de 1 a 3 anos. Sujeito ativo: Gestante. Sujeito passivo: Feto. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 5 DIREITO PENAL III Aborto praticado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 3 a 10 anos. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: O feto e a gestante. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos. Parágrafo único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Feto. Tentativa: É possível. Momento consumativo: Morte do feto. Qual o marco divisório entre o aborto e o homicídio? O aborto consiste na morte do feto, já o homicídio se configura com a morte da criança já nascida com vida. Forma qualificada Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevêm a morte. O supracitado prevê situações de crimes preterdolosos, isto é, dolo no antecedente e culpa no consequente. As penas serão duplicadas se ocorreu a morte ou aumentadas de um terço se resultou em lesão corporal grave da gestante. Em que hipóteses essa majorante é aplicável? Arts. 125 e 126 do CP Aborto legal Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. Se a gestante supondo erroneamente estar grávida, toma substância abortiva, qual a capitulação? Trata-se de caso atípico. No caso de aborto de gêmeos, o agente responde por crime único ou concuso formal? Divergente, mas a maioria entende ser concurso formal (impróprio). Ou seja, grande parte da doutrina entende que nesse caso o agente responderia por concurso formal impróprio, onde Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 6 DIREITO PENAL III seriam somadas as penas. Caso NÃO soubesse que eram gêmeos, seria crime único. Se o agente age com dolo de matar a gestante, sabendo que ela está grávida, e portanto agindo também com dolo de aborto ou assumindo o risco do aborto responderá por qual crime? Responderá por homicídio (art. 121) com a agravante prevista no art. 61, II, h do CP. Espécies de aborto: - natural; - acidental; - eugenésico, eugênico ou piedoso; - social ou econômico. Aborto de feto anencéfalo: ADPF 54 STF Foi decidido por maioria pela inconstitucionalidade de interpretação segundo a qual a interrupção da gravidez de feto anencéfalo é conduta tipicada nos arts. 124, 126 e 128, incisos I e II, todos do CP. • DAS LESÕES CORPORAIS Conceito: “O crime de lesão corporal é definido como ofensa à integridade corporal ou saúde, isto é, como todo e qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental.” Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: incolumidade do indivíduo (integridade física, saúde física e mental). Tentativa: É impossível. Momento consumativo: Com a efetiva produção da ofensa à integridade corporal ou à saúde da vítima. Crime em que, em regra, deixa vestígios (não transuente). Ação penal: Pública condicionada a representação do ofendido, ou seja, a vítima tem até 6 meses para fazer a representação, contados da ciência da autoria do fato. Lesão corporal leve Art. 129 - Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano. Competência: JECRIM. Lesão corporal de natureza grave §1º Se resulta: I - incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias; II - perigo de vida; III- debilidade permanente de membro, sentido ou função; IV - aceleração de parto: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos. Lesão corporal de natureza gravíssima Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 7 DIREITO PENAL III §2º Se resulta: I - incapacidade permanente para o trabalho; II - enfermidade incurável; III - perda ou inutilização de membro, sentido ou função; IV - deformidade permanente; V - aborto: Pena - reclusão, de 2 a 8 anos. Competência: Vara criminal. Lesão corporal seguida de morte §3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. Competência: Vara criminal. Diminuição de pena §4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena §5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; II - se as lesões são recíprocas. Lesão corporal culposa §6º Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. OBS! O MP irá oferecer a denúncia por tratar-se de crime de ação pública, mas dependerá de representação do ofendido. Competência: Jecrim. Aumento de pena §7º Aumenta-se a pena de um terço se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código. §8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º do art. 121. Violência Doméstica §9º Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. §10º Nos casos previstos nos §§1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no §9º deste artigo, aumenta-se a pena em um terço. §11º Na hipótese do §9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. OBS! Os §§ 10º e 11º são causas de aumento de pena. NathaliaCorrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 8 DIREITO PENAL III §12º Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. Súmula 542 do STJ: Entendem que é o crime de lesão corporal é de ação pública incondicionada. Perdão judicial: Aplica-se ao crime de lesão corporal. • DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE DE OUTREM “No crime de perigo o dolo está voltado para a criação de uma situação de risco. O agente pode até prever o dano, que é o desdobramento provável de situação de perigo que criou. Mas, por uma razão ou por outra, ele acredita que a lesão efetiva não ocorrerá. Ou seja, o agente não admite, nem eventualmente, a produção do dano: quer só o perigo.” Os crimes deste capítulo são de perigo que pode ser concreto cuja caracterização dependa de prova efetiva de que uma certa pessoa sofreu a situação de perigo ou abstrato ou presumido que supõe a existência do perigo independentemente da comprovação de que uma certa pessoa tenha sofrido risco, admitindo se faça prova em contrário. Pode ainda ser: Atual, iminente ou futuro; individual ou coletivo. Perigo de contágio venério Art. 130 - "Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. §1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. §2º - Somente se procede mediante representação." Ação penal: Pública condicionada à representação. Sujeito ativo: Qualquer pessoa que esteja contaminada. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: A vida e a saúde. Objeto material: Pessoa com quem o sujeito ativo mantém relação sexual ou pratica qualquer ato libidinoso. Objeto jurídico: incolumidade física e saúde do indivíduo. Elemento subjetivo: Dolo. Tentativa: É possível. O art. 130 pune a conduta de colocar alguém em risco de contrair essas doenças através da conjunção carnal (homem e mulher) ou quaisquer outros atos libidinosos. Já o contágio por outros meios, como transfusão de sangue, amamentação etc. caracteriza os crimes dos artigos seguintes (131 e 132). O consentimento do ofendido é indiferente. Vítima imune ou já contaminada: crime impossível. Não há forma culposa. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 9 DIREITO PENAL III Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. Cabe a suspensão condicional do processo nos termos do art. 89 da Lei 9.099/95 ("Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal)"). OBS! Muitas venéreas se enquadram no presente artigo quando transmitidas por relações diferentes da conjunção carnal ou ato libidinoso reportando essas últimas para o enquadramento no anterior artigo 130 (perigo de contágio venéreo). De perigo com dolo direto excluído o dolo eventual, aí será atípico se houver imprudência e não ocorre a transmissão da doença, ocorrida a transmissão haverá o crime de lesão culposa. Absorve as lesões leves e é absorvido pelos crimes de lesão corporal de natureza grave, gravíssima, seguida de morte e homicídio doloso, quando a ação for intencional na transmissão da moléstia. Tentativa: É possível. Formal, com dolo de dano, comum, simples, comissivo, de forma livre e instantâneo. Ação penal: Pública incondicionada. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Também qualquer pessoa desde que já não esteja contaminada ou imune (crime impossível). Bem jurídico tutelado: A vida e a saúde. Objeto jurídico: incolumidade física e saúde do indivíduo. Elemento subjetivo: Dolo. É praticado por qualquer ato capaz de transmitir a moléstia (beijo, aperto de mão, copo infectado, injeção, etc). Transmissão de moléstia grave quer incurável ou não desde que contagiosa e transmissível. De ação livre. Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132 - Expor, a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de 3 a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único: A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais. Sujeitos ativo e passivo: Qualquer pessoa, mas deve haver uma vítima determinada. Tipo objetivo: A conduta é expor (colocar, arriscar) a perigo e o comportamento pode ser comissivo ou omissivo (ação ou inação). O perigo deve ser direto (relativo a pessoa determinada, individualizada) e iminente (que ameaça acontecer de imediato). O perigo deve ser concreto e não abstrato, demonstrado e não presumido. É insuficiente a possibilidade incerta ou remota de perigo. Ex: fechar veículo, abalroar o veículo da vítima, desferir golpe com instrumento contundente próximo à vítima etc ou omissão como nos casos dos patrões que não fornecem aparelhos de proteção aos funcionários resultando situação concreta de perigo pois basta a omissão para o Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 10 DIREITO PENAL III chefe da empresa infringir a contravenção penal prevista no art. 19 da Lei nº 8.213/91 (benefício previdenciário e acidentário). “Se houver intenção do perigo para um número indeterminado de pessoas, haverá o crime de perigo comum previsto no art. 250 e seguintes do nosso Código Penal. Subsidiário por expressa determinação da Lei: “se o fato não constitui crime mais grave”. - O consentimento da vítima é indiferente pois trata-se de objeto jurídico indisponível. - O dolo é de perigo direto ou eventual. - Não há forma culposa. - Se consuma quando surge o perigo. - Admite-se eventual possibilidade de tentativa. - Crime de perigo, concreto, comum quanto aos sujeitos, doloso, de forma livre, comissivo ou omissivo, subsidiário e instantâneo. Se a intenção é causar dano à pessoa, o crime será homicídio ou lesão dolosa. Execução de serviço de alta periculosidade contrariando determinação de autoridade competente (Art. 65 – Lei 8.078/90 do CDC). Se o agente “vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma”, a criança ou adolescente, arma, munição ou explosivo, fogos de estampido ou de artifício, vide arts. 242 e 244 da Lei 8.069/90 (ECA). Se “vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma” a criança ou adolescente, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ver art. 243 do ECA. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, desde que resulte dano potencial à incolumidade pública ou privada” (art. 308 - Lei 9503/97). “Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentraçãode pessoas, gerando perigo de dano (art. 311 do CTB). “Se da exposição a perigo resulta lesão corporal culposa, o agente responde pelo art. 132, e não pelo art. 129, §6º, pois este último é mais levemente apenado” Abandono de incapaz Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono: Pena - detenção, de 6 meses a 3 anos. §1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 1 a 5 anos. §2º - Se resulta a morte: Pena - reclusão, de 4 a 12 anos. Objeto jurídico protegido: Segurança da pessoa humana. Ação penal: Pública incondicionada. Crime próprio em que o agente tem especial relação de assistência com a vítima (guarda, cuidado, vigilância ou autoridade), posição de garantidor ou ainda tenha dado causa ao abandono por comportamento anterior (CP art. 13, §2º). Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 11 DIREITO PENAL III Resulta da obrigação de zelar pela segurança da vítima que pode decorrer da lei (pais ou responsáveis legais, cônjuges, companheiros resultante de união estável ou concubinato etc. parentes e outros). OBS! Cuidado é o amparo acidental (esposa enferma). Guarda é o amparo necessário à pessoa de menor idade (filho). Vigilância é o cuidado com a segurança do pupilo (babá). A autoridade é a relação que deriva do poder/dever legal (agente penitenciário em relação ao preso). A incapacidade pode ser física, mental, permanente (paralisia) ou temporária (embriagado). Para Hungria: absoluta: em razão das condições (bebê) ou acidental: em razão das circunstâncias (alpinista experiente abandonado nas montanhas). Fuga do incapaz: Não há o crime: se a própria vítima cria o perigo ou tem capacidade defensiva, pois o tipo exige perigo concreto e não presumido. O dolo é específico na vontade de expor ao perigo. Não há punição a título de culpa e o erro quanto ao dever de assistir deve ser examinado nos termos dos arts. 20 e 21 do CP. Consuma-se com o abandono, desde que ponha o ofendido em perigo, mesmo que momentaneamente (depois se arrependa e venha proteger, já ocorreu o delito). Figuras qualificadas: a) se resulta lesão grave (§1º), forma preterdolosa; b) se resulta morte (§2º), também preterdolosa; c) se o abandono é em lugar ermo (§3º, I), considerando-se como tal o local habitualmente solitário (centro comercial desocupado à noite não se enquadra); d) se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima (§3º, II); e) III,se a vítima é maior de 60 anos. Resultado agravador: Se o resultado lesão grave ou morte (§§ 1º e 2º) não for devido ao menos à culpa do agente, não deverão incidir estas qualificadoras conforme o disposto no art. 19 do CP (agente causado ao menos culposamente). Crime de perigo concreto, próprio quanto ao sujeito, instantâneo, comissivo ou omissivo, doloso (preterdoloso nas figuras qualificadas dos §§ 1º e 2º). Não havendo dever especial de assistência pode configurar-se o delito de omissão de socorro (art. 135 do CP). Tratando-se de recém-nascido é o caso do art. 134 a seguir. Se o local do abandono é absolutamente deserto, pode haver dolo eventual de homicídio. Em caso de abandono moral e não físico, pode configurar algum dos crimes contra a assistência familiar (Arts. 244 a 247 do CP). “Não se configura o delito se a mãe deixava os filhos trancados por absoluta necessidade de ir trabalhar fora”. Configura-se o delito se a vítima, em completo estado de embriaguez, foi deixada à noite nas margens de rodovia de grande movimento. O que torna o ofendido incapaz para o art. 133 do CP é simplesmente a ausência de condições de cuidar de si próprio, de se defender dos riscos resultantes do abandono." Aumento de pena As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço: I - se o abandono ocorre em lugar ermo; II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima. III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 12 DIREITO PENAL III Exposição ou abandono de recém nascido Art. 134 - Expor ou abandonar recém nascido, para ocultar desonra própria: Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos. §1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - detenção, de 1 a 3 anos. §2º Se resulta a morte: Pena - detenção, de 2 a 6 anos. A maioria entende que só a mãe que concebeu ilicitamente poderia cometer este delito. Damásio de Jesus entende que o pai adúltero ou incestuoso poderia também incidir neste delito. Recém-nascido no sentido comum e não apenas após o corte do cordão umbilical. A ação ou omissão de abandono deve ser praticada com a finalidade de ocultar a desonra própria (conceito subjetivo a cada agente) e não de terceiros. Tentativa: Possível na forma comissiva. Ação penal: Pública incondicionada. É possível o concurso de pessoas na forma do art. 30 do CP. Formas qualificadas: Se resulta lesão grave (§1º) ou morte (§2º) preterdolosas. De perigo concreto, próprio quanto ao sujeito, doloso com elemento subjetivo do tipo e preterdoloso nas figuras qualificadas, instantâneo, comissivo ou omissivo. Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de 1 a 6 meses, ou multa. Parágrafo único: A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Sujeito ativo: qualquer pessoa pois a obrigação de não se omitir decorre do próprio art. 135. Sujeito passivo: somente a criança abandonada ou extraviada, ou a pessoa inválida, ferida ou em grave e iminente perigo. Ação penal: Pública incondicionada. Só é punível quando for possível prestar a assistência ou pedir socorro sem risco pessoal. O risco moral ou patrimonial não afasta o delito. Com várias pessoas a assistência dada por uma, se suficiente, exclui o dever das demais. Omissivo puro. A maioria dos autores não admite a tentativa. Pode existir o concurso de pessoas. Qualificado em vista do resultado de lesão grave ou morte (preterdoloso). Não há concurso de crimes quando a situação foi dolosamente provocada pelo agente; se culposamente art. 121, §4º ou 129, §7º CP. “Incide a qualificadora, se o médico deixou de fornecer ambulância para a tranferência do doente que, transportado por terceiros, veio a morrer. Para a forma qualificada, não importa o número de mortes decorrentes da omissão (caso do Bateau Mouche)." Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial Art. 135-A - Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 13 DIREITO PENAL III preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial: Pena - detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa. Parágrafo único: A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte. Maus-tratos Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa. §1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave: Pena - reclusão, deum a quatro anos. §2º Se resulta a morte: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. §3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos. Objeto jurídico: A incolumidade da pessoa visando notadamente à repressão dos abusos correcionais. Sujeito ativo: Próprio só quem tem a guarda, autoridade ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia. Sujeito passivo: Só a pessoa que se encontra sob uma daquelas subordinações. A mulher não pode ser sujeito em relação ao marido, pois não há entre eles vínculo subordinativo. Agravantes: Não podem incidir as do artigo 61, II, e, f e h, pois integram o próprio tipo. Ação penal: Pública incondicionada. Da rixa Art. 137 - Participar de rixa, salvo para separar os contendores: Pena - detenção, de quinze dias a dois meses, ou multa. Parágrafo único - Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se, pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de seis meses a dois anos. Cabe transação no caput. Suspensão condicional do processo no caput e no parágrafo único. É a luta entre três ou mais pessoas, com violências físicas recíprocas. Objeto jurídico: Com o fim de tutelar ordem pública e coibir sua perturbação, assim como preservar a incolumidade da pessoa, o CP descreve a figura da rixa, que se caracteriza quando há uma briga, um entrevero (briga/confusão) desordenado envolvendo 3 pessoas ou mais em que não é possível distinguir as condutas dos participantes. Exige-se que o litígio se dê com 3 pessoas ou mais porque no embate entre 2, apenas configura a prática da contravenção, vias de fato ou de lesões corporais recíprocas. Tentativa: É possível. Ação penal: Pública incondicionada. Crime coletivo, bilateral ou recíproco (de concurso necessário). Os agressores mútuos são ao mesmo tempo, vítimas e autores. Forma qualificada nos casos preterdolosos. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 14 DIREITO PENAL III A rixa deve ser imprevista, sem acordo prévio. Crime instantâneo cabe tentativa. • CRIMES CONTRA A HONRA Calúnia Art. 138 – Caluniar alguém imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa. §1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. §2º É punível a calúnia contra aos mortos. Exceção da verdade §3º Admite-se a prova da verdade, salvo: I – se, constituindo-se o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II – se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível. Exceção da verdade é um incidente processual que permite ao réu no processo de crime de calúnia, e excepcionalmente no delito de difamação provar a veracidade do fato criminoso atribuído ao ofendido. Trata-se, portanto, de modalidade de defesa indireta que deve ser julgada antes da ação penal, pois comprovada a veracidade da imputação, o fato e atípico e o acusado deve ser absolvido. Em regra, a competência para julgar a exceção da verdade é do juízo em que está tramitando a ação penal. OBS! A calúnia é o crime mais grave de todos os crimes contra a honra. Conceito: imputação de fato + falso + criminoso. Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: A honra. Competência: Em regra, no JECRIM. Ação penal privada, conforme o caput do art. 145. Quando o delito for praticado contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro, será de iniciativa pública condicionada à requisição do Ministério da Justiça. Quando cometido contra funcionário público, em razão de suas funções, será de iniciativa pública condicionada à representação do ofendido. O MESMO SE APLICA AOS DEMAIS CRIMES CONTRA A HONRA! Menor de 18 anos e doentes mentais podem ser vítimas de crime de calúnia? Depende: Um primeiro corrente afirma que sim na fundamentação de que possuem honra objetiva e porque é fato típico e ilícito (Fernando Capez, Nelson Hungria, Cezar Roberto Bittencourt e outros). Já uma segunda corrente afirma que não, pois o crime é fato típico ilícito e culpável, e sem culpabilidade não há crime (Magalhães Noronha). Pessoa jurídica pode ser sujeito passivo de crime da calúnia? Depende. A corrente tradicional afirma que não pois falta capacidade de ação (consciência e vontade) Segundo o posicionamento realista, sim, pois a pessoa jurídica é uma realidade com vontade e capacidade de deliberação. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 15 DIREITO PENAL III Os Arts 225, §3º e 173, §5º da CF/88 adotou essa posição: Art. 225, §3º da CF – “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções de reparar os danos causados”. Art. 173, §5º da CF: “A lei, sem prejuízo de responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às punições compatíveis com a sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular”. Art. 3º da Lei 9.605/98 – “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativas, civil e penalmente, conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único – A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.” Elemento subjetivo: Somente admite modalidade dolosa. Momento consumativo: Quando um 3º, que não o sujeito passivo, toma conhecimento da imputação falsa de fato definido como crime. Tentativa: Dependendo do meio pelo qual é executado. Difamação Art. 139 – “Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa. Exceção da verdade Parágrafo único – A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. Conceito: Imputação de fato + ofensivo à reputação Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, sendo física ou jurídica. Bem jurídico tutelado: A honra objetiva. Momento consumativo: Quando 3º, que não a vítima, toma conhecimento dos fatos ofensivos à reputação desta última. Competência: Em regra, no JECRIM Tentativa: Injúria Art. 140 – Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa. §1º O juiz pode deixar de aplicar a pena: I – quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria. §2º Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio de emprego, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa, além da pena correspondente à violência. §3º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem, ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência: Pena – reclusão, de 1 a 3 anos, e multa. Conceito: Atribuição de conceito negativo à alguém. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 16 DIREITO PENAL III OBS! O §2º do art. 140 consiste na injúria real, sendo esta uma injúria em que se ofende a dignidade da pessoa + uma contravenção penal chamada de vias de fato (ex: cuspir ou empurrar). A ação penal é pública condicionada a representação do ofendido. Em regra é julgada no JECRIM, porém, se a pena ultrapassar 2 anos será julgada na Vara Criminal. OBS!O §3º diz respeito ao delito de injúria preconceituosa, que pela pena máxima será julgado na Vara Criminal. Injúria preconceituosa (Art. 140, §3º) X Racismo (Lei 7.716/89) Na injúria há prescrição, no racismo não. Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa. Bem jurídico tutelado: A honra subjetiva. Ação penal: Privada (mediante queixa). Competência: JECRIM Consumação: Tentativa: Em razão do art. 145 do CP a ação penal é privada nas três hipóteses Disposições comuns aos crimes de calúnia, difamação e injúria: Exclusão do crime Art. 142 – “Não constituem injúria ou difamação punível: I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador; OBS! Imunidade judiciária (causa de exclusão da ilicitude) OBS! Juiz não é parte! Entretanto, se for apresentada oposição de suspeição (Art. 95 do CPP), o magistrado passa a ter posição equivalente à da parte, cabendo a alegada excludente. II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar; III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício. Parágrafo único – Nos casos dos incisos I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.” Retratação Art. 143 – “O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.” Ação penal nos crimes contra a honra Art. 145 – “Nos crimes previstos neste capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, §2º, da violência resulta lesão corporal. Parágrafo único – Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo art., bem como no caso do §3º do art. 140 deste código. Súmula 714 do STF: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do MP, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 17 DIREITO PENAL III • DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE INDIVIDUAL Constrangimento ilegal Art. 146 - "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Aumento de pena §1º As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas. §2º Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência. §3º Não se compreendem na disposição deste artigo: I - a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II - a coação exercida para impedir suicídio. “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” (CF, art. 5º, II) Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode ser sujeito ativo do constrangimento ilegal. Sujeito passivo: É indispensável que possua capacidade de autodeterminação. Ação penal: Pública incondicionada. Tentativa: Sim. Toda vez que o crime pode ser fracionada, admite-se tentativa. OBS! Caso resulte em lesão corporal, também haverá concurso material do art. 146 com a lesão corporal (art. 169). O sujeito para realizar o tipo, pode empregar violência, grave ameaça ou qualquer outro meio capaz de reduzir a resistência do ofendido. Trata-se de delito subsidiário, constituindo-se elemento de vários tipos penais. Só existe a conduta dolosa. Caso tenha objetivo econômico passaremos ao crime de extorsão. (Art. 158 do CP). É delito material. Consuma-se no momento em que a vítima faz ou deixa de fazer alguma coisa. E, tratando-se de delito material, em que pode haver fracionamento das fases de realização, admite a tentativa, desde que a vítima não realize o comportamento desejado pelo sujeito ativo por circunstâncias alheias a sua vontade. No caso de emprego de arma, teremos o concurso material do crime de constrangimento ilegal com o crime previsto na lei de armas, uma vez que com a edição desta lei específica o porte e uso da arma passou a ter pena isoladamente maior do que o aumento previsto na qualificador do tipo em estudo. LEI 10.826/2003 Porte ilegal de arma de fogo de uso permitido Art. 14 - Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 18 DIREITO PENAL III Parágrafo único - O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente. I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II – a coação exercida para impedir suicídio. III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado; V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo. Ameaça Art. 147 – "Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único: Somente se procede mediante representação." Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Pessoa com capacidade de entendimento. Momento consumativo: Consuma-se a ameaça no instante em que o sujeito passivo toma conhecimento do mal prenunciado, independentemente de sentir-se ameaçado ou não (crime formal). Tentativa: Admite-se quando a ameaça é realiza por escrito. Ação penal: Pública condicionada à representação. Trata-se de crime subsidiário, constituindo meio de execução do constrangimento ilegal, extorsão, etc. A ameaça tem que ser verossímil, por obra humana, capaz de instituir receio, independente de causar ou não dano real a vítima. Trata-se de crime formal, não sendo necessário que a vítima sinta-se ameaçada. Só é punível a título de dolo. Sendo posição vencedora em nossos Tribunais a de que o delito exige ânimo calmo e refletido, excluindo-se o dolo no caso de estado de ira e embriaguez. Sequestro e Cárcere Privado Art. 148 – "Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. §1º A pena é de reclusão, de dois a cinco anos: I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; II - se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; III - se a privação da liberdade dura mais de quinze dias. IV – se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; V – se o crime é praticado com fins libidinosos. §2º Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena - reclusão, de dois a oito anos. NathaliaCorrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 19 DIREITO PENAL III Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa. Tentativa: É possível. Ação penal: Pública incondicionada. A duração da privação da liberdade é irrelevante. O crime só é punido a tipo de dolo. São delitos materiais e permanentes, uma vez que o tipo descreve a conduta e o resultado. O crime de sequestro é permanente. O consentimento do ofendido exclui o crime. Ex: retiro espiritual. Observe-se que na causa de aumento (§1º, II) relativo à internação da vítima, deve existir o dolo de sequestrar camuflando o sequestro com a internação. Aqui é necessário distinguir o dolo de sequestrar, da conduta relacionada aos arts. 22 e 23 da Lei 3.688/41 (contravenções penais) relativo à contravenção conhecida como internação irregular. O tipo penal do art. 148 difere do chamado sequestro relâmpago, pois este último só dura o tempo necessário para a prática do crime contra o patrimônio. OBS! Preliminarmente, quem sequestra não quer matar, já que se sequestra pessoa viva. Contudo, se a pessoa for maltratada e não morrer (§2º) a pena será de 2 a 8 anos. Já se a morte for culposa a pena será menor do que os maus tratos. Incoerência. Como a pena base do caput foi alterada e passou a ser bem mais grave no §2º do CP, denomina-se qualificadora. Diferença entre sequestro e cárcere privado? No sequestro a vítima tem maior liberdade de locomoção (vítima presa numa fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vê-se submetida a uma privação de liberdade num recinto fechado, como por exemplo: dentro de um quarto ou armário. Qual a diferença entre detenção e retenção? Na detenção priva-se a vítima da liberdade, levando ela para algum lugar. Já na retenção impede-se a vítima de sair de um determinado lugar. A reclusão admite-se inicialmente no regime fechado, semiaberto ou aberto, porém, a detenção não admite inicialmente o regime fechado, mas apenas o semiaberto ou aberto. Redução a condição análoga à de escravo Art. 149 - "Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. §1º Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê- lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho. §2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 20 DIREITO PENAL III I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem." Sujeito ativo e passivo: Qualquer pessoa. Tentativa: Admite-se. Ação penal: Pública incondicionada. Também conhecido, como CRIME DE PLÁGIO – sujeição de uma pessoa ao domínio de outra. Embora o agente não prenda a vítima diretamente, ele cria condições adversas para que ela não manifeste a sua vontade. O consentimento do ofendido é irrelevante, uma vez que a situação de liberdade do homem constitui interesse preponderante do Estado. O fato só é punível a título de dolo. Trata-se de crime permanente. Não confundir este tipo com o art. 203 – relativo a frustração de direitos trabalhistas (abaixo) – Isso não é exatamente o mesmo que reduzir a condições análogas a de escravo. Art. 203 – "Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena – detenção de um ano a dois anos, e multa, além da pena correspondente à violência." Violação de domicílio Art. 150 - "Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. §1º - Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência. §2º Aumenta-se a pena de um terço, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso do poder. §3º Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências: I - durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência; II - a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser. §4º A expressão "casa" compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habitação coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade. §5º Não se compreendem na expressão "casa": I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II do parágrafo anterior; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero." Protege-se a Inviolabilidade Constitucional: Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 21 DIREITO PENAL III Art. 5º, XI da CF: "A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial." O tipo tem que ser analisado levando-se em conta a norma constitucional. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Quem tem o direito de admitir ou excluir alguém de sua casa. Tentativa: Admite-se, inclusive também para tentar permanecer. Elemento normativo do tipo: Se há permissão, exclui-se a tipicidade. Ação penal: Pública incondicionada. Para haver permanência é necessário que a entrada tenha sido lícita, permitida. Trata-se de Crime de mera conduta, porque se protege o aspecto psicológico de quem mora na casa, e não a casa em si. O nome “casa” também abrange escritórios, consultórios (local de trabalho), local onde se exerce o animus domicili, como saveiros, barcos ou quartinhos. A jurisprudência não agasalha no conceito de “casa” – a boleia do caminhão ou os locais usados por mendigos para dormir em calçadas ou locais públicos. DIREITO DE CONVIVÊNCIA. CASAL. Em igualdade de condições prevalece a vontade que proibir. Ex. Marido proíbe a permanência de amigo da esposa no apartamento onde mora o casal. DIREITO DE CONVIVÊNCIA. FILHOS. No caso dos filhos, enquanto menores, prevalece a vontade dos pais. Depois de maiores, podem receber os amigos em casa. DIREITO DE INTIMIDADE. Empregados. Não se reconhece. PROPRIEDADES COMUNS. Não há qualquer restrição quando o espaço é comum. Contudo, em áreas comuns reservadas, o assunto será regido pelo Regimento Interno. O STF entende que não há crime na entrada do amante da esposa infiel no lar conjugal, com o consentimento daquela e na ausência do marido, para fins amorosos. Em locais de grande extensão, preserva-se tão somente para os efeitos do tipo – o local onde se exerce a intimidade. Ex. Grande fazenda, neste caso protege-se a intimidade da casa sede onde ficam as pessoas. Não há violação de domicílio em casa abandonada. Contudo, não se pode confundir casa abandonada, com casa temporariamente desabitada. Ex. Casa de praia. OS ARTS. 151 A 153 NÃO SERÃO COBRADOS. Violação de segredo profissional Art. 154 - "Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelaçãopossa produzir dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. Parágrafo único: Somente se procede mediante representação." Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 22 DIREITO PENAL III Ação penal: Pública condicionada a representação. Protege-se o segredo profissional. Crime próprio e formal. O Superior Tribunal de Justiça já entendeu que o sigilo profissional, previsto no art. 7º, inciso XIX do Estatuto da Advocacia e da OAB, que acoberta o advogado, é relacionado “à qualidade de testemunha”, mas não quando o advogado é acusado em ação penal da prática de crime. O advogado pode e deve recusar-se a comparecer e depor sobre fatos conhecidos no exercício profissional, cuja revelação possa produzir dano a outrem. Lei Carolina Dieckmann (Art. 154–A e Art. 154-B) Art. 154-A - "Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. §1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput. §2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico. §3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido: Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave. §4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos. §5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra: I - Presidente da República, governadores e prefeitos; II - Presidente do Supremo Tribunal Federal; III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal. Ação penal Art. 154-B - "Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos." Em relação aos arts. 154 A e B: • Quem pode ser sujeito ativo e passivo? Sujeito ativo: Pessoa física ou jurídica com meios e conhecimentos técnicos para exercer a conduta. Sujeito passivo: Proprietário do aparelho. • Qual o elemento subjetivo do tipo? A invasão com o objetivo de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização do titular do dispositivo. • Como se consuma o crime? Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 23 DIREITO PENAL III Apenas a invasão já consuma o delito. • O fato de colocar uma placa "apenas pessoa autorizada" já deve ser considerada como mecanismo de segurança? Já caracteriza o crime? Controvertida. Para a corrente majoritária já deve ser considerada como mecanismo de segurança. • Admite-se tentativa no crime de invasão? Sim, entretanto, a tentativa não é uma conduta punível. • O termo "mecanismo de segurança" deve ser entendido de forma ampla? Justifique. Deve ser entendida de forma ampla, pois de outra forma tornaria a lei sem eficácia já que nem sempre o titular de um dispositivo vai colocar senha, antivirus, firewall ou outra tecnologia de segurança. • A autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo exclui a tipicidade do crime? Depende da situação concreta. Em tese sim, pois pode haver coação. • O fato de você deixar o equipamento para reparo deve ser equiparado a violação de segurança? Fundamente. Não, pelo contrário, levar o dispositivo para reparo não significa que o mesmo possa ser invadido. Não há outra intensão sem ser a de reparo do dispositivo, a violação dessa vontade é que deve ser equiparada à violação de mecanismo de segurança. • Para ocorrer a invasão deve estar o equipamento conectado a internet? Não necessariamente. Existem outras formas de invasão, sem que para esta seja necessária a conexão com a internet. • Fale sobre a ação penal nesses tipos. Ação penal pública condicionada à representação do ofendido. • DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO Furto Art. 155 - "Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa. §1º A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante o repouso noturno. CAUSA ESPECIAL DE AUMENTO DE PENA §2º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa. FURTO PRIVILEGIADO §3º Equipara-se à coisa móvel a energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico. Furto qualificado §4º A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa; II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza; III - com emprego de chave falsa; IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas. §5º - A pena é de reclusão de três a oito anos, se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior. Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto o proprietário do bem ou seu legítimo possuidor. Sujeito passivo: Proprietário ou legítimo possuidor da coisa subtraída. Bem jurídico tutelado: Tutela-se o patrimônio, tanto sob o aspecto da propriedade quanto da posse. Tipo objetivo: Subtrair para si ou para outrem coisa alheia móvel. É NECESSÁRIO QUE A COISA SEJA MÓVEL (coisa que se desloca de um lugar para o outro). Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 24 DIREITO PENAL III Tipo subjetivo: Além do dolo de subtrair, exige o tipo em evidência a intenção do agente de assenhoramento definitivo da coisa. Ação penal: Pública incondicionada, seja no furto simples, privilegiado ou qualificado É possível um furto privilegiado e qualificado ao mesmo tempo? Depende. A corrente majoritária entende que o privilégio só diz respeito ao furto simples previsto no caput do art. 155 do CP. Outra corrente, minoritária, entende que o privilégio previsto no §2º diz respeito também ao furto qualificado. Trata-se de crime comum, material, de forma livre, comissiva, excepcionalmente comissivo por omissão. OBS! Há uma divergência se o crime é material ou formal, pois quem entende que independente de pegar o bem já estaria o crime consumado porque o crime é forma, mas a maioria entende que o crime é matéria. Tentativa: Tratando-se de crime material, é perfeitamente possível a tentativa no delito em estudo, ocorrendo esta quando o agente, por razões alheias à sua vontade, não consegue retirar o bem do domínio do seu titular. No que tange à consumação, há quatro correntes disputando a prevalência: a) Contrectacio: a consumação se dá pelo simples contato entre o agente e a coisa alheia, dispensando o seu deslocamento; b) Amotio (ou apprehensio): dá-se a consumação quando a coisa subtraída passa para o poder do agente, mesmo que num curto espaço de tempo, independentemente de deslocamento ou posse mansa e pacífica; ADOTADO PELOSTF E STJ c) Cblatio: a consumação ocorre quando o agente, depois de apoderar-se da coisa, consegue deslocá-la de um lugar para outro; d) Ilatio: para ocorrer a consumação, a coisa deve ser levada ao local desejado pelo ladrão para ser mantida a salvo. Resta claro que atualmente prevalece no Brasil a teoria da inversão da posse para explicar o momento em que o furto se consuma, descartando-se a necessidade de posse tranquila. Posse tranquila = "Peguei a caneta de outrem, fiquei um tempo com ela (uns instantes), e logo após o bem foi retirado da minha posse." Há também debate sobre a necessidade ou não do bem subtraído ser retirado da esfera de vigilância da vítima para o crime se consumar. Isto porque pode o larápio, segundo pensamos, não ter a posse tranquila do bem, mas já tê-la retirado da esfera de vigilância da vítima (por exemplo: o agente após subtrair o bem empreende fuga, sendo que a vítima o perde de vista, porém durante a fuga – ainda não há posse tranquila – alguns policiais desconfiam do larápio e o abordam, vindo a descobrir que houve o furto). Diante dessa polêmica já se manifestou o STJ reiteradamente dizendo que não é necessário que a coisa subtraída seja retirada da esfera de vigilância da vítima para se consumar o delito, segundo bem pontuado no seguinte aresto: Nesse andar, se o agente subtrai o bem (sendo a subtração percebida somente depois de concluída), empreende fuga, sendo imediatamente perseguido e capturado, o crime de consuma, mesmo que a coisa não saia da esfera de vigilância da vítima. Não se trata nesse caso, portanto, de crime tentado, mas sim de delito consumado. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 25 DIREITO PENAL III Em outro vértice, quando o agente pretende furtar bens que se encontram dentro de um determinado imóvel é possível vislumbrar as seguintes situações: a) acaso seja surpreendido subindo uma escada, colocada a partir da rua, para ingressar em um imóvel, há mero ato preparatório (não sendo punível); b) se após ingressar no imóvel é surpreendido andando pela casa, sem estar, ainda, tentando se apoderar de algum objeto (só responde por violação de domicílio, visto não ter iniciado a subtração); c) acaso esteja dentro do imóvel já se apoderando de objetos (há tentativa de furto). Nessa última hipótese, necessário esclarecer que enquanto o agente está dentro da casa, mesmo que já esteja com os objetos que pretende subtrair em mãos, ocorre apenas tentativa. Diferentemente, se é surpreendido já na rua com os objetos subtraídos, após sair da casa, têm- se o crime como consumado. Explica a doutrina, ainda, que não é imprescindível que a coisa seja transportada de um lugar para outro para o furto se consumar. Exemplifica-se que estará consumado o furto caso a empregada doméstica esconda uma jóia da patroa em seus pertences pessoais. Nesse caso não seria necessário que a doméstica saísse da residência para o crime se consumar, visto que seria eliminada a possibilidade de disponibilidade do bem por parte da proprietária, mesmo ele ainda estando em sua residência, pois se encontraria escondido, ou seja, já sob a disponibilidade de quem furtou. Este entendimento tem a possibilidade de ser combatido pela orientação jurisprudencial (STJ e STF) que exige a cessação da clandestinidade para que o furto se consume. Fala-se em famulato quando o furto é realizado pelo empregado em detrimento dos bens de seu patrão. Ressalte-se que mesmo que o empregado tenha a posse de determinado bem pertencente a seu empregador, se acaso subtraí-lo, comete o crime de furto, isto se a posse for desvigiada. É o caso, por exemplo, do caixa de um supermercado, que subtrai dinheiro que está manuseando. Nesse caso, não ocorre o crime de apropriação indébita (art. 168 do CP), visto este exigir que o sujeito passivo tenha a posse desvigiada do bem apropriado. Quando o bem fica sob o poder do empregado apenas no local de trabalho, entende-se que tem mera detenção ou posse vigiada da coisa. No que tange o §1º do art. 155, segundo posição majoritária (atente-se que não é pacífica), é indiferente para se reconhecer a majorante que os moradores da casa violada pelo larápio estejam dormindo, devendo ser a mesma reconhecida até quando a residência estiver desabitada, desde que a conduta se dê durante o período de repouso noturno. Quando aos §§4º e 5º, a grande maioria das figuras qualificadas, exceto a qualificadora do abuso de confiança, evidencia circunstância objetiva, comunicando-se, portanto, entre os agentes que atuam em concurso (art. 30 do CP). Não podem ser objeto de furto: a) O ser humano vivo, visto que não se trata de coisa; b) O cadáver, sendo que sua subtração pode, em regra, se constituir crime contra o respeito aos mortos (art. 211 do CP). Quando, contudo, o cadáver for propriedade de alguém (instituição de ensino, por exemplo), pode ser objeto do crime de furto, visto possuir valor econômico; c) Coisas que nunca tiveram dono (res nullius) e coisas abandonadas (res derelicta); sendo que quem se assenhora desses bens adquire a propriedade dos mesmos, segundo art. 1.263 do Código Civil, portanto não comete crime nenhum; Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 26 DIREITO PENAL III d) Coisa perdida (res derelicta). Quando alguém se apropria dolosamente de coisa perdida por terceiro comete, em tese, o crime de apropriação de coisa achada (CP, art. 169, parágrafo único, II). Não se considera perdida a coisa que simplesmente é esquecida pelo proprietário em local determinado, podendo ser reclamada a qualquer momento (por exemplo: pessoa que esquece um livro em sala de aula. Acaso alguém se apodere do mesmo, comete o crime de furto); e) Coisas de uso comum (res commune omnium), como o ar, luz do sol, água do mar ou dos rios, exceto se forem destacadas do local de origem e exploradas individualmente (por exemplo: água encanada para uso exclusivo de alguém). Lembra-se, ainda, que existe o crime de usurpação de águas (art. 161, §1º, I, do CP), consistente na conduta de desviar ou represar, em proveito próprio ou de outrem, águas alheias. Portanto, quem desvia curso natural de água (de um igarapé, por exemplo) para se beneficiar do mesmo, evitando que ele passe pelo terreno do vizinho (que antes era seu caminho natural) comete o crime de usurpação de águas, afastando-se a possibilidade de furto; f) Os imóveis. Podem ser objeto de furto: a) Coisas ligadas ao corpo humano, como, por exemplo, olhos de vidro, perucas, dentaduras, próteses mecânicas, orelhas de borracha etc; b) Segundo alguns doutrinadores (a posição não é pacífica), o ouro da arcada dentária do defunto, visto que pertenceria a seus herdeiros. Nesse caso o crime de violação de sepultura seria absorvido pelo crime de furto; c) Semoventes (animais), visto que fazem parte do patrimônio do respectivo proprietário. O furto de gado é conhecido como abigeato; d) Navios e aeronaves, visto que para o direito penal não vale a noção cível de imóveis. São penalmente considerados móveis todos os bens corpóreos que são passíveis de remoção de um lugar para o outro; e) Coisas que estejam fora do comércio, como bens públicos e bens gravados com cláusula de inalienabilidade, desde que tenham dono; f) Talão de cheque e folha avulsa de cheque, posto entender-se que possuem valor econômico, causando também o fato prejuízo à vítima, visto que terá que pagar taxas para o cancelamento da cártula. Quanto à subtração de cartão bancário ou de cartão de crédito, entende-se não haver crime de furto, pois sua reposição é feita sem ônus para a vítima. Ressalve-se que tais entendimentos não são pacíficos. FURTO FAMÉLICO Quando o sujeito ativo subtrai coisa para saciar a fome. É um caso de estado de necessidade. Deve, contudo, serencarado com cautela, não sendo a simples pobreza do agente justificativa para furtar alimentos. FURTO DE USO Não há crime se o indivíduo subtrai a coisa apenas com ânimo de usá-la, pois o art. 155 exige finalidade especial de assenhoramento do bem subtraído. “Se o agente retirar a coisa da posse da vítima apenas para usar por pouco tempo, devolvendo-a intacta, é de se considerar não ter havido crime. Cremos ser indispensável, entretanto, para a caracterização do furto de uso, a devolução da coisa no estado original, sem perda ou destruição do todo ou da parte. […] Além disso, é preciso haver imediata restituição, não se podendo aceitar lapsos temporais exagerados. E, por fim, torna-se indispensável que a vítima não descubra a subtração antes da devolução do bem. Se constatou que o bem de sua propriedade foi levado, registrando a ocorrência, dá-se o furto por consumado”. (NUCCI) Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 27 DIREITO PENAL III Não é possível o furto de uso em se tratando de coisa fungível (dinheiro, por exemplo). Há também decisões judiciais reconhecendo que acaso o bem seja deixado em local diverso daquele de onde foi retirado, o furto se consuma. De modo geral se exigem, para reconhecer o crime de furto de uso, os seguintes requisitos: a) devolução rápida, quase imediata, da coisa alheia; b) restituição integral e sem dano do objeto subtraído; c) devolução antes que a vítima constate a subtração; d) elemento subjetivo especial: fim exclusivo de uso. LOJAS COM VIGILÊNCIA OU SISTEMA ANTIFURTO Há discussão na doutrina sobre a possibilidade do reconhecimento de crime impossível quando o agente tenta subtrair objeto no interior de estabelecimentos que possuem vigilância de seguranças ou sistema antifurto. ROUBO Art. 157 - "Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: ROUBO PRÓPRIO Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. §1º Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro. ROUBO IMPRÓPRIO §2º A pena aumenta-se de um terço até metade: ROUBO MAJORADO I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma; II - se há o concurso de duas ou mais pessoas; III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância; IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o exterior; V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. §3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa. ROUBO QUALIFICADO (podem incidir tanto no roubo próprio quanto no impróprio). Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto o dono do objeto roubado. Sujeito passivo: Qualquer pessoa, sendo ela o proprietário ou o possuidor. Objeto jurídico: Posse, propriedade, integridade física e liberdade individual, considerando ser um crime complexo (furto + lesão|furto + ameaça). Objeto material: Coisa alheia móvel e a pessoa sobre a qual recai a violência ou grave ameaça. Elemento objetivo: "Subtrair" com violência ou grave ameaça. Elemento subjetivo: Dolo de subtrair + especial fim de agir. Momento consumativo: Retirada do bem da esfera de disponibilidade e posse da vítima, dispensando-se a posse tranquila. Tentativa: Divergente. Prevalece na doutrina e na jurisprudência, hoje, o entendimento de que se a coisa foi retirada da posse da vítima, ainda que por alguns instantes, o crime de roubo está consumado. Porém, alguns entendem que nesse caso seria apenas tentativa. Ação penal: Pública incondicionada, em qualquer das formas. OBS! O princípio da bagatela não se aplica ao roubo, mas se aplica ao furto, devido a presença da violência ou grave ameaça que não pode ser ignorada mesmo que o objeto roubado seja uma "caneta bic". Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 28 DIREITO PENAL III Crime comum, doloso, material, comissivo, de forma livre, instantâneo, de dano, monossubjetivo e plurissubsitente. ROUBO PRÓPRIO: Tradicional. Falou-se somente em roubo, considera-se roubo próprio. O roubo próprio está previsto no caput do art. 157. ROUBO IMPRÓPRIO: Não precisaria usar violência mas acaba usando. Previsto no §1º do referido artigo. OBS! No roubo impróprio (art. 157, §1º), como não há, inicialmente, subtração violenta, a consumação somente se dá quando é empregada violência ou grave ameaça para garantir a impunidade pelo crime ou a detenção da coisa (para si ou para outrem) antes subtraída. Se não houver violência ou grave ameaça subsequente, a hipótese será de furto. O ato subsequente (violência ou grave ameaça) deve ter relação de imediatidade com a subtração, pois caso contrário não haverá crime de roubo, mas sim o de furto em concurso com o delito que caracterizar a violência ou a grave ameaça. No tocante à consumação do latrocínio, Rogério Sanchez Cunha sintetiza: 1. Morte consumada, subtração consumada, gera latrocínio consumado, estando o tipo perfeito. 2. Morte consumada, subtração tentada, configura, de acordo com entendimento sumulado no STF (610), latrocínio consumado. 3. Morte tentada e subtração tentada, não há dúvida de que o latrocínio será também tentado (nos termos do art. 14, II, do CP, houve início de execução de um tipo, que não se perfez por circunstâncias alheias à vontade do agente). 4. Morte tentada e subtração consumada, há tentativa de latrocínio (se o latrocínio se consuma apenas com a morte, não havendo morte o tipo complexo do latrocínio não se perfez). Súmula 610, STF: "Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não se realize o agente a subtração de bens da vítima." Extorsão Art. 158 - "Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa. §1º Se o crime é cometido por duas ou mais pessoas, ou com emprego de arma, aumenta-se a pena de um terço até metade. Extorsão qualificada §2º Aplica-se à extorsão praticada mediante violência o disposto no § 3º do artigo anterior. §3º Se o crime é cometido mediante a restrição da liberdade da vítima, e essa condição é necessária para a obtenção da vantagem econômica, a pena é de reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, além da multa; se resulta lesão corporal grave ou morte, aplicam-se as penas previstas no art. 159, §§ 2o e 3o, respectivamente. Tal figura se assemelha ao crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP), mas acrescida da finalidade especial de obtenção de vantagem econômica indevida. Sujeito ativo e sujeito passivo: Qualquer pessoa. Objeto jurídico: Patrimônio, integridade física e liberdade individual. Nathalia Corrêa Setúbal | nathalialcorrea@gmail.com 29 DIREITO PENAL III Objeto material: Pessoa contra qual recai o constrangimento. Tipo objetivo: "Constranger" mediante violência ou grave ameaça que atinja o próprio titular do patrimônio visado ou pessoa ligada a ele, forçando-o com isso a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa. Tipo subjetivo: Somente é punida a extorsão em sua forma dolosa. Além do dolo genérico exige-se a presença da finalidade especial (dolo específico). Momento consumativo: A Súmula 96 do STJ apregoa que: “O crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida”. Ou seja, a extorsão
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