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Estereoquímica Área da química que estuda a influência do arranjo espacial dos átomos em uma molécula. Classificação dos estereoisômeros Estereoisômeros (Isômeros que apresentam a mesma sequência de ligações covalentes e diferem na disposição relativa de seus átomos no espaço) Enantiômeros (estereoisômeros que são imagem especular não-sobreponível um do outro) Diastereoisômeros (estereoisômeros que não guardam relação imagem especular um do outro) (+)-Ácido láctico (-)-Ácido láctico Enantiômero Imagem refletida, não superponível!!! * * Centro estereogênico: um átomo tetraédrico de carbono, e.g. designado com um asterisco (*), em que um intercâmbio de quaisquer dois grupos produzirá um estereoisômero (enantiômero). não superponívelmão esquerda mão direita espelho Centro Estereogênico Molécula Quiral e Teste de quiralidade: planos de simetria Se a molécula apresentar pelo menos um plano ou centro de simetria será aquiral (imagem especular superponível). Uma molécula quiral não apresenta plano de simetria, é não sobreponível a sua imagem e pode existir como um par de enantiômeros. Teste com plano imaginário CH3CHClCH3 CH3CHClCH2CH3 Uma molécula com um único carbono tetraédrico ligada a quatro grupos diferentes. Uma molécula com mais de um carbono tetraédrico ligado a quatro grupos diferentes pode não ser quiral (se apresentar plano de simetria). Moléculas “quirais” Moléculas “aquirais” O corpo humano, de forma geral, é estruturalmente “quiral”. Plantas e animais exibem certa quiralidade estrutural, adicionalmente, alguns movem-se sempre em uma direção. A importância da estereoisomeria para a vida Lonicera sempervirens (enrosca-se para a esquerda ) O caramujo Lignuus virgineus apresenta casca helicoidal enrolada para direita I. Quiralidade é um fenômeno que preserva o universo ---- E ix o b ila te ra l Usualmente, existe em umas das formas enantioméricas para uma dada espécie. Os aminoácidos naturais que constituem as proteínas são quirais e em geral, apresentam configuração L. Os açúcares naturais, em geral, apresentam configuração D, incluindo os do DNA e RNA. II. A maioria das moléculas que compõem seres vivos é quiral 8 centros quirais 256 estereoisômeros apenas 1 é produzido naturalmente. * * ** * * * * * Cadeia principal Cadeia lateral Fragmento de polipeptídeo colesterol A interação específica do sítio quiral de um receptor com uma molécula quiral é, usualmente, o único caminho favorável para uma resposta biológica específica (p.e. o caso do cheiro dos diferentes enantiômeros). III. As propriedades biológicas estão relacionadas à quiralidade Mentha spicataCarum carvi odor do cominho odor do hortelã Limoneno Monoterpeno encontrado em frutas cítricas (cascas de limões e laranjas). (S)-Limoneno (R)-Limoneno As reações bioquímicas, normalmente, envolvem apenas um dos estereoisômeros. Para exercer sua ação biológica, um estereoisômero em particular precisa encaixar-se no sítio ativo de um receptor quiral de forma complementar apropriada. Em função do arranjo tetraédrico dos aminoácidos, três pontos de interação podem ocorrer, com alinhamento para um único estereoisômero. IV. A estereoisomeria é a responsável pela especificidade das reações bioquímicas Easson e Stedman (1933) propuseram que o reconhecimento molecular de um ligante com um centro assimétrico pelo bioreceptor, deveria envolver participação de pelo menos três pontos. Modelo de três pontos de Easson-Stedman Epinefrina ou adrenalina é um neurotransmissor e hormônio simpaticomimético (prepara o corpo para o estresse). Somente a (-)-epinefrina exerce esse papel no nosso organismo. A atividade antihistamínica (anti-alérgico) do (E)-triprolidina é 1000 vezes maior do que (Z)-triprolidina isômero. Alterações no arranjo espacial dos grupos envolvidos nas interações ligante-receptor implicam em perda de complementaridade e, consequentemente, perda de afinidade e atividade intrínseca. mais ativo Quando lançada, a talidomida (sedativo hipnótico) era considerada segura para tratamento de náuseas no período inicial da gravidez, administrada na forma racêmica. Em 1960, ocorreu a tragédia decorrente do uso indiscriminado do sedativo por gestantes, resultando no nascimento de aproximadamente 12.000 crianças deformadas. A tragédia causada pela talidomida Anomalias de formação causadas pelo enantiômero S da talidomida O estudo do metabolismo da talidomida permitiu evidenciar que o enantiômero (S) era seletivamente oxidado (CyP450), levando à formação de espécies eletrofílicas reativas do tipo areno-óxido que reagem com nucleófilos bioorgânicos, induzindo teratogenicidade. Esse lamentável episódio despertou a atenção da comunidade científica e das autoridades farmacêuticas sobre a importância do centro assimétrico na atividade farmacológica. “Eutômero” Nomenclatura (R-S): Sistema Cahn-Ingold-Prelog 1. Colocar os 4 grupos (ou átomos) ligados ao átomo quiral em ordem de prioridade de Cahn-Ingold-Prelog. 2. Projetar a molécula com o grupo de menor prioridade para trás. 3. Selecionar o grupo de maior prioridade e desenhar uma seta curva em direção aos grupos de menor prioridade. 4. Se a seta está na direção horária é R, se estiver na direção anti-horária, a configuração é S. Horário (R) Rectus = direita Anti-horário (S) Sinistrus = esquerda Regras de prioridade de Cahn-Ingold-Prelog 1. Para átomos diferentes: Quanto maior o número atômico, maior a prioridade: F<Cl<Br<I. CH3CH3CH2CH3CH2CH2 > > CH3CH2>HOCH2 HO C CH3 H CH2 CH3 1 4 2 or 3 2 or 3 HO C C H C C 1 4 H H HH H HH H 3 (H, H, H) 2 (C, H, H) 2. Se dois isótopos do mesmo elemento estão presentes, o isótopo de maior massa recebe a maior prioridade: H < D 3. Se dois átomos são idênticos, os números atômicos dos próximos átomos são usados para o assinalamento de prioridade: 4. Átomos ligados por ligações duplas e triplas são contados como duas e três ligações simples equivalentes. ≈ ≈ Configuração R Limoneno Enantiômeros da frutose Lewis Carroll (C. L. Dodgson), autor de “Alice’s Adventures in Wonderland”, foi contemporâneo de Emil Fischer. Estereoisômeros e atividade ótica (±) Mistura racêmica, 1:1 → [α]D = 0 Propriedades dos enantiômeros Forma Ponto de Ebulição (ºC) pKa (+) 53 3,8 (-) 53 3,8 (±) 16,8 3,8 Enantiômeros apresentam quase todas as propriedades físicas iguais (ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade), exceto a interação com a luz plano-polarizada. S-Ácido láctico R-Ácido láctico Luz ordiária Luz plano-polarizada Campo elétrico Campo magnético Componente magnético Componente elétrico Direção do feixe de luz A oscilação de uma luz ordinária em um campo elétrico ocorre em todas as possíveis orientações no plano perpendiculares à direção de propagação (difusa). Quando a luz é passada através de um polarizador apenas um plano emerge. Polarímetro e rotação específica Se a luz plano polarizada sofre desvio no tubo do polarímetro, o analizador necessita ser girado para permitir a passagem da luz. Rotação no sentido horário (+): molécula dextrorotatória. Rotação no sentido anti-horário (-): levorotatória. Medindo a rotação específica: Compostos Quirais são opticamente ativos, ou seja, desviam o plano da luz linearmente polarizada. Compostos Aquirais não desviam o plano da luz linearmente polarizada. Eles são opticamenteinativos. Se α < 0 (anti-horário) é o enantiômero levógiro (l) ou (-) Se α > 0 (horário) é o enantiômero dextrógiro (d) ou (+) Esta designação não tem correlação com a atribuição R e S. Rotação (não presente) Na ausência do (S)-2-butanol não ocorre cancelamento da rotação Rotação Enantiômeros puros » desviam a luz plano polarizada em valor igual e direção oposta. Mistura racêmica (±) » apresenta composição 1:1 de cada um dos enantiômeros: mistura oticamente inativa, [α]D = 0 HO C CH3 H CH2 CH3 H C CH3 OH CH2 CH3 25Dα (R)-(–)-2-Butanol (S)-(+)-2-Butanol = +13.52°= –13.52° 25Dα (R)-2-butanol TDα (S)-2-butanol A rotação específica [α]D pode ser calculada por: cl x ][ TD T = Temperatura em °C D = Comprimento de onda (lâmpada Na Raia D 5896 Å) α = Medida da rotação em graus l = Comprimento do tubo de amostra em decímetros c = Concentração da amostra em g/mL TDα = Rotação específica Composto [a]D (°) Composto [a]D (°) Cânfora +44.26 Penicilina V +223 Morfina –132 Glutamato monosódico +25,5 Sacarose +66,47 Benzeno 0 Colesterol –31,5 Ácido acético 0 Rotações específicas de algumas substâncias conhecidas: Enantiômeros e Diasterioisômeros Isômeros cis-trans são diasterioisômeros Enatiômeros (imagens especulares) Enatiômeros (imagens especulares) Diastereoisômeros (não são imagens especulares) Ácido maleico (cis) Ácido fumárico (trans) Enantiômeros Enantiômeros Diasterioisômeros Moléculas com mais de um centro estereogênico possuem no máximo 2n estereoisômeros, onde n é igual ao número de centros estereogênicos. 22 = 4 2,3-Dibromopentano Colesterol apresenta 8 centros quirais, 256 é o número de estereoisômeros, no entanto, apenas 1 é produzido naturalmente. Esteróides série 5b Esteróides série 5 211 = 2048 R = CH(CH3)CH2CH2CH2CH(CH3)2 Outro esteroide com 11 átomos de carbono quiral Isômeros da treonina Estereoisômero Enantiomérico com Diastereoisomérico com 2R,3R 2S,3S 2R,3S e 2S,3R 2S,3S 2R,3R 2R,3S e 2S,3R 2R,3S 2S,3R 2R,3R e 2S,3S 2S,3R 2R,3S 2R,3R e 2S,3S Relações estereoisoméricas Diasterioisômeros Enantiômeros Enantiômeros Efedrina componente do remédio chinês tradicional 'Ma Huang', extraído de espécies de Ephedra, usado também em sprays nasais (descongestionante). Pseudoefedrina é o componente do descongestionante Sudafed. Efedrina e Pseudoefedrina Plano de simetria - Composto Meso - compostos aquirais, mas que contém centros quirais. Enantiômeros ??? Opticamente inativo Quando esta estrutura sofre um giro de 180° no plano da página pode ser superposta a estrutura C. 2,3-Dibromobutano N = 2, no entanto, apenas 3 isômeros são possíveis Enantiômeros ??? Opticamente inativa (plano de simetria) “meso” Isômeros do ácido tartárico Qual relação do meso com os demais isômeros?? Estereoisomeria em sistemas rígidos Composto Ponto de fusão (ºC) Ponto ebulição (ºC) Momento de dipolo (D) cis-1,2-dicloroeteno -80 60 190 trans-1,2-dicloroeteno -50 48 0 cis-1,2- dicloroeteno trans-1,2- dicloroeteno CH3 > H (Z)-2-Buteno (cis-2-buteno) (E)-2-Buteno (trans-2-buteno) C C H CH3 H H3C C C CH3 H H H3C Nomenclatura E-Z: Sistema Cahn-Ingold-Prelog Z = Zusammen (mesmo lado) E = Entgegen (lados opostos) Isômeros cis-trans em processos biológicos: a química da visão Fotorecepção ocorre nos bastonetes e cones (nervo óptico) Isômeros cis-trans em processos biológicos: a química da visão Fotorecepção (células visuais) Impulso elétrico gerado no nervo óptico e transmitido ao cérebro para processamento como evento visual 1) O interesse da indústria farmacêutica (FDA-USA) na produção e comercialização de “fármacos quirais“ tem crescido acentuadamente. 2) Em alguns casos, fármacos na forma racêmica têm sido comercializados por anos, mesmo que apenas um enantiômero seja ativo. Curiosidade: Fármacos Quirais O CH3 OH Ibuprofeno (Advil, Motrin, Nuprin) Anti-inflamatório. Metildopa (Aldomet) antihipertensivo H2N CO2H HO HO CH3 HS H2N CO2H H Apenas o isômero S é ativo. O isômero R é tóxico. (S)-Penicilamina Antiartritite Comercializado na forma racêmica » Apenas o enantiômero (S) do ibuprofeno é ativo. (R) é convertido lentamente para o enantiômero (S) no organismo (metabolismo). (S)-Metildopa é o isômero ativo Discodermolideo Paclitaxel (Taxol® Bristol-Myers Squibb) A preparação de fármacos enantiomericamente puros faz da resolução de misturas racêmicas e da síntese enantioseletiva áreas de pesquisa em destaque. Biotina Atorvastatina (Liptor® Pfizer) mercado de US$13 bilhões Noretindrona Primeiro contraceptivo oral (S)-Naproxeno Aleve, Naprosyn Resolução química do Naproxeno (análogo do Ibuprofeno) Quando produtos quirais são formados a partir de reagentes aquirais obtêm-se mistura racêmica de produtos na ausência de influência quiral (reagentes, catalisador ou solvente). Síntese de moléculas quirais: Sínteses Assimétricas CH3CH2 + * CH3CH2 CHCH2 Br H HBr A formação de produto(s) opticamente ativo(s) requer reagentes e/ou solventes quirais: Diastereoisômeros Sínteses Enantiosseletivas: Enzimáticas Um dos enantiômeros é produzido predominantemente sobre seu enantiômero (imagem especular). Um reagente quiral, catalisador ou solvente deve guiar ou influenciar no curso da reação. As enzimas são catalisadores biológicos de extraordinária eficiência (velocidade e seletividade). Resolução quiral enzimática (ou cinética) CaLB = Lipase de Candida antarctica B (S) (R) Prêmio Nobel 2001: Reconhecimento da Catálise assimétrica P Rh P Ph Ph H3CO OCH 3 BF4 P Ph H3CO H3C (R)-CAMP ((R,R)-DIPAMP)Rh(cod)BF4 W. S. Knowles Aminoácido efetivo no tratamento do mal de Parkinson CO2H NHAc H3CO AcO CO2H NHAc H3CO AcO CO2H NH2 HO HO H3O + RhLn* H2 L-DOPA100%; 95% ee Processo Monsanto para L-DOPA R. Noyori NEt2 NEt2 OH b-pineno 100 o C (-)-mentol >98% ee 100% Processo Takasago para o (-)-mentol (S)-BINAP/ Rh(I) cat PPh2 PPh2 Rh ClO4 (S)-BINAP/ Rh(I) cat Prêmio Nobel 2001: Reconhecimento da Catálise assimétrica mol % cat. HO OH HO CO2Et CO2EtHO HO Ti(OiPr)4 ; (+)-DET t-Bu00H (R)-Glicidol >95% ee (+)-DET Prêmio Nobel 2001: Reconhecimento da Catálise assimétrica B. Sharpless Estabilizador para óleos naturais e polímeros e desmulsificante Exercício 4. Os compostos abaixo mostrados são quirais? Desenhe as estruturas em perspectivas para justificar sua resposta. Exercício 4. Discuta a estereoquímica destes compostos. (Dica: discutir nesse caso, significa dizer quantos diastereoisômeros são possíveis, desenhar as estruturas em perspectivas de cada um, dizendo se são ou não quirais). Exercício 5. Atribua configurações R ou S a cada um dos centros estereogênicos das seguintes moléculas: R R R Exercício 6. Determine nas estruturas de (a) a (d), quais são idênticas e quais são imagens especulares do seguinte estereoisômero do ácido láctico: Solomons, T. W. G. Organic Chemistry, Vol. 1 10a ed.; John Wiley & Sons, Inc., 2009. Carey, F. A. Química Orgânica - volumes 1 e 2 7a Ed, Bookman, 2012. Clayden, J.; Greeves, N.; Warren, S. & Wothers, P. Organic Chemistry, 2a Ed, Oxford University Press Oxford, 2012. Nelson, D.L. & Cox, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger, 6a Ed. Artmed, Porto Alegre, 2014. Barreiro, E. J.; Fraga, C. A. M. Química Medicinal – As Bases Moleculares da Ação dos Fármacos; ArtMed; 2ª ed., 2008 Fraga, C. A. M. Razões da atividade biológica – Interações micro- e biomacromoléculas. Cadernos Temáticos QNESC 2001, 3, 33. Coelho, F. A. S. Fármacos e quiralidade. Cadernos Temáticos QNESC 2001, 3, 23. Pilli, R.A. Catálise assimétrica e o Prêmio Nobel de Química de 2001. Novos paradigmas e aplicações práticas. QNESQ 2001, 14, 16. Textos complementares:
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