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MICROBIOLOGIA O Papel das Bactérias no Câncer

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O Papel das Bactérias no Câncer 
 
Extraído de Tortora, G.J. Microbiologia. 8. ed., Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 235 
 
 
 Em 1996, a Agência Internacional de Pesquisas em Câncer classificou a 
bactéria Helicobacter pylori como um carcinógeno. Nenhum mecanismo 
específico foi proposto para explicar a relação entre o H. pylori e o câncer 
gástrico. Os pesquisadores sabiam desde a década de 70 que existe uma 
relação entre a dieta e certos tipos de câncer. Porém, pode não ser a dieta em 
si que causa câncer, mas a interação entre a dieta e a microbiota normal, as 
centenas de espécies de microrganismos que florescem no indivíduo médio. 
 
 A importância do microrganismo nas induções de câncer foi notada pela 
primeira vez quando ratos foram alimentados com cicasina, uma substância 
que ocorre naturalmente na noz da planta cicadácea. A enzima bacteriana β-
glicosidase converte a cicasina em metilazoximetanol, que causou câncer nos 
ratos. Os ratos livres de germes não foram afetados pela cicasina, mas os ratos 
com a microflora intestinal usual desenvolviam câncer de cólon. 
 
 Para determinar o papel das bactérias intestinais na conversão de 
substâncias químicas em carcinógenos, Elena McCoy e seus colaboradores no 
New York Medical College utilizaram o teste de Ames para comparar as 
capacidades mutagênicas do 2-aminofluoreno quando ativado por enzimas das 
células hepáticas, enzimas de células intestinais isoladas, enzimas de 
Bacteróides fragilis isoladas e enzimas de células intestinais associadas a 
enzimas do B. fragilis. Eles descobriram que as enzimas hepáticas produziam a 
maior conversão desse produto químico em uma forma mutagênica. As 
enzimas intestinais isoladas e enzimas bacterianas isoladas produziam alguma 
conversão mutagênica, e uma combinação das enzimas intestinais e 
bacterianas teve um efeito quase tão grande quanto o produzido pelas enzimas 
hepáticas. 
 
 Para determinar o papel das bactérias no câncer de bexiga, 
pesquisadores no Kyushu Medical Center, no Japão, utilizaram o teste de 
Ames para avaliar a capacidade mutagênica da urina humana ativada por 
bactérias. As bactérias foram isoladas de pacientes com infecções do trato 
urinário. Os isolados bacterianos foram testados para sua capacidade de 
reduzir o íon nitrato (NO3
-) ao íon nitrito (NO2
-). A atividade mutagênica 
observada com adição do íon nitrito indica que o nitrito é mutagênico. Seus 
resultados sugerem que uma substância química que atinge a bexiga pode ser 
ativada em um carcinógeno pelas enzimas bacterianas. 
 
 No ano 2000, pesquisadores usaram o teste de Ames para determinar 
se o H. pylori causa câncer ao induzir mutações. Culturas de H. pylori foram 
isoladas de pacientes com câncer gástrico ou de pacientes com gastrite ou 
úlceras pépticas. Essas culturas foram mantidas em um meio de cultura. Após 
a incubação, a cultura foi centrifugada para separar as células de seu 
supernatante (meio de cultura). O teste de Ames foi realizado nas bactérias e 
no supernatante; a água destilada forneceu o controle negativo, e o 
carcinógeno forneceu o controle positivo. As bactérias isoladas dos pacientes 
não eram mutagênicas. Havia um pouco mais de crescimento de Salmonella na 
cultura após o tratamento com o supernatante, comparando com a cultura 
estéril. Isto sugere que alguma substância que foi secretada pelo H. pylori 
exerça atividade mutagênica.

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