Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DISCIPLINA 150649– LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS – BÁSICO Prof. Jusélio Mattos do Amaral Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas - LIP Universidade de Brasília - UNB Unidade I – A Língua de Sinais Brasileira e a constituição linguística do sujeito Surdo CONSTITUIÇÃO LINGUÍSTICA DA PESSOA SURDA IDADE ANTIGA (4.000 a.C. - 476 d.C.) No Egito Antigo (4000 a.C – 355 a. C), os Surdos eram: • Considerados como criaturas privilegiadas (comunicação em segredo com os Deuses, mediador do Faraó) •Respeitados, temidos e adorados; •Protegidos, mas não eram educados. (Vida inativa) Grécia (384 a.C.) Os Surdos eram considerados incapazes para o raciocínio e incômodo para a sociedade. O filósofo Aristóteles acreditava que os surdos não possuíam linguagem e tampouco pensamento. Achava absurdo a intenção de educá-los: “... De todas as sensações, é a audição que contribui mais para a inteligência e o conhecimento..., portanto, os nascidos surdos se tornam insensatos e naturalmente incapazes da razão” COM O MESMO PENSAMENTO, O FILÓSOFO SÊNECA: “Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as cabeças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem defeituosos e monstruosos, afogamo-los, não devido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis” ATENAS: Surdos eram rejeitados e abandonados em praças públicas ou nos campos. ESPARTA: Eram jogados do alto dos rochedos. No entanto, em 360 a.C., Sócrates, declarou que era aceitável que os Surdos comunicassem com as mãos e o corpo. Certa feita, perguntou ao seu discípulo Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu:”Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” Heródoto: “Seres castigados pelos Deuses” ______________________________________________________ Roma: surdos pessoas castigadas ou enfeitiçadas: Eram abandonados ou eliminados (Rio Tibre). Os sobreviventes se tornavam escravos. China: Os surdos eram lançados ao mar como oferenda ao “DEUS TEUTATES”. IDADE MÉDIA (476 D.C. - 1453) Os Surdos: Eram proibidos de receber a comunhão (não confessava); Eram colocados em imensa fogueira; Não podiam receber heranças; Eram proibidos de votar. Duas pessoas surdas não poderiam se casar sem autorização do Papa. Final da Idade Média –inicia a educação de surdos com o bispo John Hagulstat . IDADE MODERNA (1453-1789) Bartollo Della Marca D’Ancora: primeira alusão à possibilidade de que o surdo possa aprender por meio da língua oral ou de sinais. Girolano Cardano (1501- 1576): Médico e filósofo que reconhecia a habilidade do surdo para a razão. Pedro Ponce de Léon (1520- 1576): Monge beneditino da Espanha, estabeleceu a primeira escola para surdos; Iniciou com a educação de dois irmãos surdos. Depois, todos os filhos de nobres; Usava como metodologia a dactilologia, escrita e oralização. Fundou uma escolas para professores de surdos. Não publicou nada em vida e sua obra caiu em esquecimento. Melchor de Yebra: Monge Franciscano de de Madrid, escreveu livro chamado “Refugium Infirmorum”, que descreve e ilustra o alfabeto manual da época. Samuel Heinicke (1729- 1790), “Pai do Método Alemão” – Oralismo puro – iniciou as bases da filosofia oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala, na Alemanha. Charles Michel de L’Epée (1712-1789): Defendia que a língua de sinais constituiu a linguagem natural dos surdos e que é um verdadeiro meio de comunicação e desenvolvimento do pensamento IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 – DIAS ATUAIS) Jean Marc Itard (1774 - 1838): Médico francês, afirmava que o surdo podia ser treinado para ouvir palavras; Responsável pelo clássico trabalho com Victor, o “garoto selvagem” (o menino que foi encontrado vivendo junto com os lobos na floresta de Aveyron, no sul da França). Insucesso na transformação de surdos em ouvintes Surdez como doença: para descobrir sua causa: 1. Dissecou cadáveres de surdos; 2. Aplicou cargas elétricas nos ouvidos; 3. Furou membranas timpânicas (morte de um aluno) 4. Fraturou crânios de alguns alunos; 5. Infeccionou pontos atrás das orelhas deles; 6. Usou sanguessugas dentro dos ouvidos Thomas Hopkins Gallaudet (1787 – 1851) “Em Hartford o reverendo observava as crianças brincando no seu jardim quando percebeu que uma menina, Alice Gogswell, não participava das brincadeiras por ser surda e era rejeitada das demais crianças.” Na época não existia escolas para Surdos e Gallaudet ficou profundamente tocado pelo mutismo de Alice, foi quando pensou em criar uma escola para Surdos. Logo Thomas partiu para a Europa para buscar métodos de ensino aosSsurdos. Passados 52 dias Thomas voltou trazendo Laurent Clerc (professor Surdo). Thomas e Laurent Clerc fundaram no dia 15 de Abril a primeira escola permanente para surdos dos Estados Unidos, em Hartford. ALEXANDER MELVILLE BELL (1819 – 1905) Professor de surdos, queria criar o que chamava de “Fala visível” ou “linguagem visível” sistema que utilizava desenho dos lábios, garganta, língua, dentes e palato para que os surdos repetissem os movimentos e os sons indicados pelo professor. Em 1871 foi convidado a treinar professores de uma escola de surdos em Boston, para ensinar o método de pronúncia. No ano seguinte Bell abriu sua própria escola para surdos e depois se tornou professor da Universidade de Boston. EDUARD HUET (1822 – 1882) Professor surdo, francês com mestrado em Paris. Chega ao Brasil sob aprovação do imperador Dom Pedro II, com a intenção de abrir uma escola para iniciar um trabalho de educação de pessoas surdas. Fundou-se no Rio de Janeiro a primeira escola para surdos no Brasil, o Instituto de Educação dos Surdos (INES) em 26 de setembro de 1857. Dia 26 de setembro comemora-se o Dia Nacional dos Surdos no Brasil. HELEN ADAMS KELLER (1880 – 1968) Foi escritora, conferencista e ativista social estadunidense, nascida no Alabama. Foi dos maiores exemplos de que as deficiências sensoriais não são obstáculos para se obter sucesso. Ficou cega e surda desde tenra idade, devido a uma doença diagnosticada na época como febre cerebral. Helen tinha menos de 2 anos de idade quando ficou cega devido a uma febre intensa. Pouco tempo depois, perdeu também a audição. Foi estudar em uma escola pública para deficientes visuais, mas a linguagem braile não fazia sentido para ela. Porém ela lutou até conseguir dominá-la. Keller decidiu por conta própria sair da escola de cegos e passou a freqüentar uma escola pública comum a partir de 11 anos. A conquista de Keller é resultado de um trabalho conjunto com Anne Sullivan, sua Professora, companheira e protetora. Keller superou todos os obstáculos, tornando-se uma das mais notáveis personalidades do nosso século. Tornou-se uma célebre escritora, filósofa e conferencista, uma personagem famosa pelo extenso trabalho que desenvolveu em favor das pessoas portadoras de deficiência. CONGRESSO DE MILÃO – IMPÉRIO ORALISTA (1880) Antes do Congresso, na Europa, durante o século XVIII, surgiam duas tendências distintas na educação dos surdos: o gestualismo (ou método francês) e o oralismo (ou método alemão); A grande maioria dos surdos defendia o gestualismo enquantoque apenas os ouvintes apoiavam o oralismo. O Congresso de Milão, em 1880, foi um momento obscuro na História dos surdos, uma vez que lá um grupo de ouvintes, tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos, substituindo-a pelo oralismo; Em consequência disso, o oralismo foi a técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. Alexander Graham Bell Século XX: inicia a decadência do oralismo: os surdos educados nesse método não os ajudava a conseguir um emprego, comunicar com ouvintes desconhecidos ou manter uma conversa fluída. William C. Stokoe (1919 - 2000) foi um estudioso, que pesquisou extensivamente Língua Gestual Americana enquanto trabalhava na Universidade Gallaudet. Inventou uma escrita para a língua gestual (agora chamado notação Stokoe). Congresso Mundial de surdos (1971): a língua de sinais passou a ser novamente valorizada. 1997: Foi implantado no Brasil o Sistema closed caption (acesso de exibição de legenda na tv); 2002: É sancionada em 24 de abril a lei que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como de comunicação entre surdos. 2006: Na UFSC foi iniciado o primeiro curso universitário Letras/Libras e mais nove pólos de outros estados. A trajetória histórica dos Surdos faz referência a atendimentos sobre como as representações dos Surdos seguem um padrão por parte dos educadores, médicos, fonoaudiólogo, entre outros, quem atuam com estes sujeitos. Segundo PERNIL, o sujeito Surdo, para esta bem integrado á sociedade, deveria aprender a falar, porque somente assim poderia viver “normalmente”. INFORMAÇÕES IMPORTANTES... GRUPO DE SURDOS LÍNGUA IDENTIDADE MANIFESTAÇÕES PRINCIPAIS Surdos-Libras LSB Cultura Surda Se manifesta através dos artefatos culturais que possibilita interações e a comunicação através da LSB. Surdos Oralizados Língua Portuguesa Não dependem da LSB para sua comunicação. Se manifesta na cultura majoritária, através da comunicação na Língua Portuguesa. Surdos implantados Língua Portuguesa Dependem da língua oral para sua comunicação. Transita muito bem através das manifestações na língua oral. Surdos bilíngue LSB / Língua Portuguesa Cultura Surda Transita muito bem e sabe articular as duas línguas muito bem. Surdo índio Língua de sinais indígena / Língua Portuguesa geralmente usa-se a LSB para possibilitar o desenvolvimento da Língua indígena. Cultura Surda - indígena A cultura indígena é mais forte, mas os Surdos-indígena apresentam particularidades, onde as manifestações visuais, que advém de um Surdo possibilita as interações visuais, as orações indígenas em Língua de sinais. Surdo Pós-lingual Língua Portuguesa Cultura ouvinte São as pessoas que ouviram durante um bom tempo e depois tiveram perda da audição, não dependendo da LIBRAS para se comunicar. TERMINOLOGIA PARA DEFINIR A PESSOA SURDA TERMO VISÃO CONCEPÇÃO surdo Clínica A surdez é vista como uma doença, que precisa ser curada. Quando se escreve surdo, é notável e perceptível o total assistencialismo e partenalismo das pessoas que acreditam na incapacidade e não evolução do Surdo. Surdo Social Estratégia de empoderamento, de posição e divulgação do sujeito Surdo enquanto cidadão que luta por seus direitos políticos, lingüísticos, educacionais e outros para que seja respeitado as manifestações através da LSB e uma efetiva inclusão. Deficiente auditivo Educacional Os profissionais da educação acreditam que os Surdos são sujeitos que necessitam de adaptações, de meios que possibilitam a sua real aprendizagem. O deficiente auditivo é visto como alguém deficiente da fala, do pensamento, dentre outras questões. Surdo-mudo Cultural Durante muito anos, tivemos os defensores da língua de sinais, pois esta foi proibida como abordagem educacional. E os primeiros defensores eram chamados Surdo-mudo e, por isso, este termo é utilizado como respeito os sujeitos Surdo- mudo que preservaram a cultura surda, bem como, a língua de sinais do povo Surdo. • O que é a Libras? A Língua Brasileira de Sinais ou Língua de Sinais Brasileira (Libras ou LSB) é língua utilizada pela comunidade Surda brasileira, é uma língua visual-espacial. Os Surdos brasileiros usam a Língua de Sinais Brasileira , uma língua visual espacial que apresenta todas as propriedades específicas das línguas humanas. É uma língua utilizada nos espaços diversos pelos falantes de Libras. LEI 10.436 e regulamentada pelo Decreto 5.626. Aspectos Legais No ano de 2002, O Congresso Nacional aprovou e o Presidente da República sancionou a Lei nº 10.436, que reconhece como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais. De acordo com a Lei, o poder público deve garantir formas institucionalizadas de apoiar o uso e a difusão da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. Lei 10.436 de 24 de abril de 2002 Aspectos Legais Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Em 2005, através do Decreto nº 5.626, tornou-se dever do poder Público garantir tratamento diferenciado aos surdos, por meio do uso e difusão de LIBRAS. Neste decreto, há a informação de que as instituições públicas deverão capacitar em pelo menos, 5%, os seus servidores, funcionários e empregados, para que estejam aptos a prestar o atendimento que os surdos necessitam. Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005. LIBRAS
Compartilhar