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A Coisa Julgada no Direito Processual Civil Brasileiro Rennan Thamay

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28/09/2017 Envio |  Revista dos Tribunais
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A coisa julgada no direito processual civil brasileiro
A COISA JULGADA NO DIREITO PROCESSUAL CIVIL BRASILEIRO
Res judicata under Brazilian civil procedural law
Revista de Processo | vol. 269/2017 | p. 151 ­ 196 | Jul / 2017
DTR\2017\1816
Rennan Thamay
Pós­doutor pela Universidade de Lisboa. Doutor em Direito pela PUC­RS e Università degli Studi di Pavia.
Mestre em Direito pela UNISINOS e pela PUC Minas. Especialista em Direito pela UFRGS. Professor titular
do programa de graduação e pós­graduação (doutorado, mestrado e especialização) da FADISP.
Professor da pós­graduação (lato sensu) da PUC­SP. Presidente da Comissão de Processo Constitucional
do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP). Advogado. rennan.thamay@hotmail.com
 
Área do Direito: Processual
Resumo: Trata­se de texto que investiga a coisa julgada do clássico ao contemporâneo, chegando ao
novo Código de Processo Civil, concluindo que, com a nova norma, ampliaram­se os limites objetivos da
coisa julgada em face da questão prejudicial.
 
Palavras­chave:  Coisa julgada ­ Novo Código de Processo Civil
Abstract: The text is about the scrutiny of res judicata from the classical era to the current days; as
such, the final point of the research has linked the past to the new Brazilian Code of Civil Procedure. The
conclusion is that with the new rule, the limits set before for res judicata have been widened considering
the issues that had been a detriment to the subject.
 
Keywords:  Res judicata ­ New Brazilian Civil Procedure Code
Sumário:
 
1Introdução ­ 2A coisa julgada no CPC/1973 ­ 3A coisa julgada no CPC/2015 ­ 4Considerações finais ­
5Referências bibliográficas
 
1 Introdução
De forma geral, a coisa julgada1  tem previsão  infraconstitucional, além, é claro, de sua demarcação no
campo das garantias fundamentais do art. 5º da Constituição.
Historicamente,  por  ordem  cronológica,  a  res  iudicata  veio  prevista  no  art.  4672  do  CPC/1973
(LGL\1973\5), muito embora haja conflito doutrinário3 sobre a teoria adotada. Posteriormente, veio a Lei
de  Introdução  às Normas do Direito Brasileiro,  Lei  4.707/1942,  conceituando,  no  art.  6º,  §  3º4,  o  que
poderia  ser  a  res  iudicata,  mas  em  seu  âmbito  formal  para  alguns,  o  que  em  verdade  se  trata  de
preclusão.
Com  efeito,  além  dessas  situações,  resta  recordar  que  a  coisa  julgada  detém  previsão  no  CDC
(LGL\1990\40), bem como previsão em outras normas que não são objeto desta pesquisa.
Destarte,  cabe  referir  que,  em  substituição  ao  CPC/1973  (LGL\1973\5),  foi  editado  o  CPC/2015
(LGL\2015\1656), prevendo o instituto da coisa julgada a partir do art. 502.
Sabe­se,  ademais,  que  a  res  iudicata detém  influência  sobre  outras  normas, muito  embora  não  sejam
objeto desta pesquisa, fazendo­se necessário, para tanto, neste momento, compreender como se deu a
coisa  julgada  no  CPC/1973  (LGL\1973\5)  para  depois,  então,  apreciar  a  res  iudicata  no  CPC/2015
(LGL\2015\1656).
2 A coisa julgada no CPC/1973
A res iudicata perante o CPC/1973  (LGL\1973\5)  (assim como o CPC/2015  (LGL\2015\1656))  tem como
base  fundante  a  teoria  de  Enrico  Tullio  Liebman5,  em  tese,  muito  embora  em muitos  aspectos  acabe
adotando posições que não são, realmente, consequentes do pensamento do processualista italiano.
Em verdade,  justifique­se a  influência de Enrico Tullio  Liebman pelo  fato de  ter este vindo a morar em
São Paulo,  lecionando na Universidade de São Paulo, sendo professor de Alfredo Buzaid, então Ministro
da Justiça e motivador do CPC/1973 (LGL\1973\5). A res iudicata está disposta, nesse Código, a partir
do art. 467.
Para  o  CPC/1973  (LGL\1973\5),  denomina­se  coisa  julgada  material  a  eficácia  que  torna  imutável  e
indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.
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Nesse sentido, percebe­se que o Código buscou inspiração na construção de Enrico Tullio Liebman, pois
este  observa  a  res  iudicata  não  como  efeito,  mas  como  uma  qualidade  que  torna  todos  os  efeitos
imutáveis e indiscutíveis.
Evidentemente,  essa  é  uma  das  vertentes  da  coisa  julgada,  que  sofreu  dura  crítica  de  José  Carlos
Barbosa Moreira6, compreendendo que a res iudicata é a qualidade que se agrega aos efeitos para tornar
imutável e, consequentemente, indiscutível o conteúdo decisório da sentença.
Com efeito, deve­se observar que o dispositivo (art. 467 do CPC/1973 (LGL\1973\5)) acaba confundindo
a coisa julgada material com a coisa julgada formal, por não pontuar as distinções.
A coisa  julgada pode ser dividida em material e  formal, o que faz parcela da doutrina, muito embora se
acredite,  neste  ensaio,  que  a  coisa  julgada,  como  imutabilidade  do  conteúdo  decisório,  só  pode  ser  a
substancial,  pois  dotada de  tal  qualidade.7  A  suposta  coisa  julgada  formal,  em verdade,  não passa de
preclusão. Desse modo, as partes no mesmo processo não poderão discutir determinada situação, visto
que o seu momento temporal e processual já passou. Nesse caso, as partes terão em seu (des)favor a
ocorrência  da  preclusão  temporal8,  instituto  distinto  da  res  iudicata  que  é  comprometida  com  a
imutabilidade e, consequente, indiscutibilidade do conteúdo da sentença.
Efetivamente, a partir da construção do referido art. 467 do CPC/1973 (LGL\1973\5), deve­se perceber
que  a  coisa  julgada,  para  essa  norma,  é  a  imutabilidade  e,  consequentemente,  indiscutibilidade  da
sentença9, e não, como informa o texto normativo, a eficácia. Esta é algo distinto, pois, na verdade, é a
aptidão para a produção de efeitos.
Lançadas  essas  bases,  cabe,  agora,  observarem­se  os  limites  objetivos  da  coisa  julgada  que  são
demarcados pelo art. 468 do CPC/1973 (LGL\1973\5), pois a sentença que julgar total ou parcialmente a
lide  tem  força de  lei nos  limites da  lide e das questões decididas. Portanto, os  limites objetivos da  res
iudicata  estão  comprometidos  com  aquilo  que  receberá  o  manto  protetor  da  coisa  julgada.  Nesse
peculiar, vislumbra­se qual o conteúdo, ou o quê, receberá a proteção da coisa julgada.10
De fato, aquilo que não estiver contido na causa de pedir e pedidos, levado ao conhecimento do julgador
pelo mecanismo processual adequado, não receberá o manto da res iudicata, pois aqui está a delimitação
dos limites objetivos, porque vinculados ao que fora objeto de exame judicial.11
Destarte, no Brasil, em relação à coisa  julgada12, adotou­se a  teoria  restritiva dos  limites objetivos da
coisa  julgada  (diversamente  do  modelo  alemão)13,  possibilitando  que  somente  a  parte  dispositiva  da
decisão  receba  a  proteção  da  imutabilidade  e,  consequente,  indiscutibilidade.  Por  essa  razão  é  que,
seguindo a ordem do art. 469, caput, I, II e III, do CPC/1973 (LGL\1973\5), não fazem coisa julgada: a)
os motivos,  ainda  que  importantes  para  determinar  o  alcance  da  parte  dispositiva  da  sentença;  b)  a
verdade  dos  fatos,  estabelecida  como  fundamento  da  sentença;  c)  a  apreciação  da  questão
prejudicial14, decidida incidentemente no processo.
Em verdade, essa opção sistêmica  feita pelo Brasil, e constantemente reafirmada pela  jurisprudência15,
deixa claro que o que importa para a formação da coisa julgada é aquilo que compõe a parte dispositiva
da sentença, assim como estruturou o CPC/1973 (LGL\1973\5).
Contudo,  assim  como  alerta  o  art.  470  do  CPC/1973  (LGL\1973\5),  faz  coisa  julgada  a  resolução  da
questão  prejudicial,  se  a  parte  o  requerer,  o  juiz  for  competente  em  razão  da  matéria  e  constituir
pressuposto necessário para o julgamentoda lide.
Desse modo, muito embora como se observou anteriormente, a regra é a de que questão prejudicial não
receba a proteção da coisa julgada; entretanto, havendo a propositura de ação declaratória  incidental,
descrita no art. 325 do CPC/1973 (LGL\1973\5), formar­se­á a coisa julgada16, caracterizando­se, dessa
forma,  a  exceção  apresentada  pelo  sistema  à  regra  do  art.  469,  III.  Do  contrário,  se  as  partes  não
suscitarem  a  declaração  incidente,  não  se  formará  a  res  iudicata  segundo  as  regras  do  CPC/1973
(LGL\1973\5).
Outro aspecto imprescindível a este estudo é compreender qual a limitação temporal da coisa julgada17.
A  res  iudicata,  dessa  maneira,  foi  constituída  para  ter  validade  temporal,  ou  seja,  não  eternamente.
Incongruente seria acreditar que uma decisão poderia valer para sempre,  sabendo da mutabilidade das
questões fático­sociais e do próprio ordenamento jurídico.
Nessa senda, faz­se necessário compreenderem­se os limites temporais da coisa julgada, os quais fazem
com que esse instituto tenha aplicação temporal enquanto não se alterarem os fatos jurídicos, pois, em
isso ocorrendo, a  res iudicata  não mais  persistirá  em virtude  da  qualidade  de mutabilidade  da  cláusula
rebus sic stantibus, que é inerente à coisa julgada.18
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Com efeito, nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide, em regra,
assim como determina o art. 471, caput, do CPC/1973 (LGL\1973\5). Todavia, excepcionalmente, assim
como permite o art. 471, I e II, do mesmo Código, poderá ser novamente decidida demanda que se trate
de:  a)  relação  jurídica  continuativa  (as  relações  jurídicas  continuativas  são  aquelas  em  que  há  trato
sucessivo  entre  os  envolvidos  que  necessariamente  se  estendem  no  tempo),  na  qual  sobreveio
modificação  no  estado  de  fato  ou  de  direito;  caso  em  que  poderá  a  parte  pedir  a  revisão  do  que  foi
estatuído na sentença; b) nos demais casos prescritos em lei.
Além do mais, entender os limites subjetivos19 da coisa julgada se faz necessário. A sentença faz coisa
julgada  às  partes  entre  as  quais  é  dada,  não  beneficiando  nem  prejudicando  terceiros.  Nas  causas
relativas  ao  estado  de  pessoa20,  se  houverem  sido  citados  no  processo,  em  litisconsórcio  necessário,
todos  os  interessados,  a  sentença  produz  coisa  julgada  em  relação  a  terceiros.  Essa  conotação  dos
limites subjetivos é advinda da determinação do art. 472 do CPC/1973 (LGL\1973\5).
Portanto,  a  coisa  julgada  só  envolve  as  partes  do  litígio  e  seus  sucessores,  sendo  a  eles  imposta  a
imutabilidade e a consequente indiscutibilidade do conteúdo decisório da sentença. No entanto, nasce a
dúvida da figura dos terceiros. Aclare­se que estes não recebem a imutabilidade e a indiscutibilidade do
conteúdo  decisório  da  sentença,  ou  seja,  a  coisa  julgada.  Recebem,  entretanto,  sim,  as  eficácias  da
sentença, que não se confundem com a res iudicata.21
Ademais,  como  informa  o  CPC/1973  (LGL\1973\5)  no  art.  473,  é  defeso  à  parte  discutir,  no  curso  do
processo,  as  questões  já  decididas,  a  cujo  respeito  se  operou  a  preclusão22.  Além  disso,  importante
salientar que, passada em julgado a sentença de mérito,  reputar­se­ão deduzidas e  repelidas  todas as
alegações e defesas que a parte poderia opor assim ao acolhimento como à rejeição do pedido, tal como
determina o art. 474 do CPC/1973  (LGL\1973\5). Nesse  caso,  se está diante da eficácia preclusiva da
coisa julgada, que se caracteriza por verdadeira proteção que o sistema lançou sobre a res iudicata.23
Por fim, deve­se dizer que as alegações e defesas dedutíveis não recebem a proteção da coisa julgada,
em relação ao seu limite objetivo, pois podem ser livremente debatidas em outro processo.24
Dessa forma, foi tratada a coisa julgada pelo CPC/1973 (LGL\1973\5), sob forte influência do pensamento
de  Enrico  Tullio  Liebman,  muito  embora  a  doutrina  nacional  tenha  construído  novas  formas  de
compreender a res iudicata, que, sabidamente, é a matriz de segurança jurídica do sistema jurídico.
Sopesados esses delineamentos, resta agora, obviamente, examinar como foi tratado o instituto no CPC/
2015 (LGL\2015\1656).
3 A coisa julgada no CPC/2015
O  CPC/2015  (LGL\2015\1656)  vem  demarcado  pela  manutenção  de  muitos  instrumentos  e  algumas
novidades pontuais que poderão ter o condão de, realmente, tornar o processo mais célere, eficiente e
até de duração razoável. Mas, quanto a isso, somente o tempo poderá nos fazer constatar.
3.1 A coisa julgada e sua definição: a interpretação do art. 502
Sobre  o  tema  da  coisa  julgada,  há  tempos  debatido,  questionado  e  problematizado,  o  CPC/2015
(LGL\2015\1656)  muda  alguns  aspectos  já  definidos  anteriormente  pela  doutrina  com  base  nas
construções de Enrico Tullio Liebman, indo adiante.
Dessa  forma,  como  determina  o  art.  502  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  denomina­se  coisa  julgada
material a autoridade que torna imutável e indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
Aqui, como se pode perceber, atribui­se à coisa julgada a qualidade de autoridade, assim como defendido
por Enrico Tullio Liebman. Essa autoridade, que se traduz em verdadeira força, tem a qualidade de tornar
imutável e, consequentemente, indiscutível a decisão de mérito não mais sujeita a recurso.
Com  essa  definição  normativa  da  coisa  julgada,  mantém­se  no  sistema  pátrio  a  possibilidade
interpretativa já conhecida da divisão da res iudicata em material e formal, pois se emprega, no texto do
art. 502, a expressão “não mais sujeita a recurso”.
Discorda­se dessa orientação, como já afirmado, pois coisa julgada como imutabilidade e, consequente,
indiscutibilidade é somente a substancial, ou seja, a material (aquela que resolve questão de mérito, quer
por  sentença,  quer  por meio  de  decisão  interlocutória),  já  que  aquilo  que  se  chama  de  coisa  julgada
formal  não  passa  de  preclusão máxima  que  estabiliza  as  decisões  com  base  no  trânsito  em  julgado25.
Destacadamente, a res iudicata só se forma, em verdade, se houver enfrentamento definitivo do mérito
da causa posta em juízo, pois decisões processuais realmente não têm o condão de adquirir a qualidade
de coisa julgada, já que apenas transitam em julgado26.
Outro  ponto  que  resolve  definir  o  CPC/2015  (LGL\2015\1656)  é  o  de  que  a  coisa  julgada,  como
autoridade, só atinja a decisão de mérito, o que já se vislumbrava na antiga sistemática, muito embora
se falasse em “sentença”.
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Assim,  a  decisão  de mérito  concretizada  por meio  da  sentença  como  de  decisão  interlocutória  (o  que
ocorrerá  quando  a  decisão  interlocutória  contiver  juízo  definitivo  total  ou  parcial  do  mérito27,  por
exemplo,  no  caso  do  art.  356  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656))  terá  o  condão  de  ser  imutável  e,
consequentemente, indiscutível pela coisa julgada.
Ademais,  deve­se  observar  com  cuidado  a  potencial  confusão  entre  a  eficácia28  da  sentença  e  sua
autoridade, conceitos que não se confundem. Sabidamente, a eficácia da sentença é a sua aptidão para
produção de efeitos29, enquanto que a autoridade da sentença é a sua força, que, em sendo imutável e
indiscutível, traduzir­se­á na coisa julgada.
Com  efeito,  a  coisa  julgada  não  é  eficácia  da  sentença,  mas,  de  outro  lado,  a  imutabilidade  e,
consequente,  indiscutibilidade  do  conteúdo  da  decisão  de  mérito,  sendo  correto,  a  nosso  ver,  o  art.
50230, CPC/2015 (LGL\2015\1656), ao evitar a utilização do termo “eficácia”para conceituação da coisa
julgada.
A res iudicata  projeta os efeitos da  sentença ou da decisão  interlocutória de mérito para o  futuro, de
maneira estável, sendo essa a sua função positiva, impedindo o Poder Judiciário de se manifestar acerca
daquilo que já foi decidido novamente, sendo essa, portanto, a sua função negativa31.
Assim, pode­se afirmar, com segurança, que a coisa julgada representa, em verdade, a estabilidade mais
forte  do  processo,  ao  tornar  definitivo  o  próprio  resultado  final  do  processo,  já  que  realmente  torna
imutável  e,  consequentemente,  indiscutível  a  decisão  de  mérito,  quer  por  sentença  ou  decisão
interlocutória,  que  resolva  a  questão,  ou  parte  dela,  posta  em  juízo,  gerando,  enfim,  a  esperada
segurança jurídica.
3.2 A coisa julgada e seu limite objetivo: a interpretação do art. 503
Como observado anteriormente,  os  limites  objetivos  estão  ligados às matérias que  serão analisadas na
decisão  de mérito,  o  conteúdo  que  será  parte  da  decisão  emanada  pelo  Poder  Judiciário,  recebendo,
então, a força da coisa julgada. Realmente, os limites objetivos da coisa julgada são determinados pelo
pedido, porque a coisa julgada não pode ser maior que a res iudicanda.
Segundo  preceitua  o  art.  50332  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  a  decisão  que  julgar  total  ou
parcialmente  o  mérito  tem  força  de  lei  nos  limites  da  questão  principal  expressamente  decidida.
Efetivamente,  as  questões  devem  ser  postas,  em  causa,  pelas  partes  e,  consequentemente,
expressamente  decididas  pelo  julgador.  As  questões  não  expressamente  decididas,  mesmo  que  digam
respeito  ao  mérito  da  causa,  não  restarão  acobertadas  pela  res  iudicata33,  mas  consideram­se
simplesmente preclusas no próprio processo, permitindo por meio de outra demanda serem tratadas tais
questões.
Pontualmente,  a mudança  desse  texto  veio  ligada  a  duas  relevantes  palavras,  substituindo  a  anterior
“sentença” por “decisão” e também alterando a noção de “lide” por “mérito”.
Muita  coisa  muda,  pois  se  pode,  com  base  no  novo  texto,  falar  em  coisa  julgada  não  somente  das
sentenças, mas  também, como  já  se defendia, das decisões de mérito de natureza distinta. Com base
nesse  fato,  nasce  aqui  a  possibilidade  de  falar­se,  normativamente,  em  coisa  julgada  de  decisões
interlocutórias de parcela do mérito, de acórdãos e,  inclusive, de decisões  tipicamente unipessoais que
são aquelas proferidas pelo relator monocraticamente, desde que também abordem o mérito.
Os  limites  objetivos  da  coisa  julgada  estarão  determinados  pela  decisão  de  mérito  em  sua  parte
dispositiva, definido que a questão passará a receber a imutabilidade e a consequente indiscutibilidade.
Diferentemente do que  foi  adotado no CPC/1973  (LGL\1973\5), o CPC/2015  (LGL\2015\1656) amplia os
limites  objetivos  da  coisa  julgada  para  fazer  com  que  as  questões  prejudiciais34  (aquelas  que
incidentalmente venham a ser decididas e possam trazer prejuízo à matéria principal sob judice) estejam
protegias  pelo  véu  da  imutabilidade,  assim  como  determina  o  art.  503,  §  1º,  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656).
Realmente  as  questões,  tecnicamente  consideradas,  “são  matérias  sobre  as  quais  autor  e  réu  não
concordam.  Isso  significa  que  há  pontos  (de  direito)  que  talvez  nunca  se  tornem  questões,  porque
ambas as partes concordam sobre sua existência e validade. Entende­se que essas questões, as quais
são antecedentes porque devem ser consideradas antes da questão seguinte (que pode ser o mérito),
podem ser classificadas como pertencentes a dois grupos: preliminares ou prejudiciais”35.
A questão verdadeiramente depende do desacordo entre autor e réu sobre a existência ou a validade de
determinada relação jurídica, que será considerada necessariamente antes da decisão do mérito, sendo,
então, a depender do caso, uma questão prejudicial que poderá receber a  imutabilidade e consequente
indiscutibilidade da coisa julgada.
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Nesse  contexto, o CPC/2015  (LGL\2015\1656)  optou  por  flexibilizar  o  princípio  da  inércia  da  jurisdição,
que encampa todo o processo civil e encontra guarida no CPC/2015 (LGL\2015\1656) (art. 2º), uma vez
que  determinada  questão  que  diga  respeito  à  existência  ou  inexistência  da  relação  jurídica  entre  as
partes recairá sob o manto da coisa julgada,  independentemente da vontade das partes, o que poderia
afrontar, até mesmo, o princípio dispositivo36, todavia não nos parece assim.
Em  análise  a  esse  tema,  Barbosa  Moreira37,  antes  mesmo  da  entrada  em  vigor  do  CPC/1973
(LGL\1973\5),  já  trazia  elementos  de  ordem prática  capazes  de  sustentar  a  impossibilidade  de  a  coisa
julgada  recair,  sem  pedido  expresso  das  partes,  sobre  a  questão  prejudicial,  à  medida  que  as  partes
podem estar despreparadas para enfrentar uma discussão exaustiva acerca das questões prejudiciais, o
que poderia, em alguns casos, desestimular o ajuizamento da demanda pela parte, com receio de serem
vinculadas a questões meramente incidentais aos seus interesses atuais38.
De outro lado, parece­nos que, pela sistemática do CPC/2015 (LGL\2015\1656), com a extinção da ação
declaratória incidental, que vinha prevista no CPC/1973 (LGL\1973\5) (art. 325), ganhou ainda mais força
o  argumento  de  que  realmente  a  questão  prejudicial39  será  abrangida  pela  coisa  julgada,  com ou  sem
pedido40,  pois  questão  que  interessa  ao  processo  e  que  pode  ser marcante  para  o  resultado  final  da
questão posta em juízo.
Ainda assim, foi essa a conotação do CPC/2015 (LGL\2015\1656), pois fará coisa julgada a resolução de
questão  prejudicial41,  decidida  expressa  e  incidentalmente  no  processo  (art.  503,  §  1º,  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656)), se: a) dessa resolução depender o julgamento do mérito (inciso I); b) a seu respeito
tiver havido contraditório prévio e efetivo, não se aplicando no caso de revelia (inciso II), e, por fim, c)
o  juízo  tiver  competência  em  razão  da  matéria  e  da  pessoa  para  resolvê­la  como  questão  principal
(inciso III).
Destarte, como evidenciado anteriormente, modificando a estrutura anterior do CPC/1973 (LGL\1973\5),
o  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  no  art.  503,  §  2º,  determina  que  as  hipóteses  do  §  1º  (questões
prejudiciais que  recebem o manto da coisa  julgada), do mesmo artigo, não  se  aplicam se no processo
houver restrições probatórias42 ou limitações à cognição que impeçam o aprofundamento da análise da
questão prejudicial, evitando, nesse caso, a formação da coisa julgada, já que os elementos necessários
para uma decisão coerente – em processo democrático – não estão presentes.
Assim, preenchidos os pressupostos previstos nos §§ 1º e 2º do art. 503 do CPC/2015 (LGL\2015\1656),
as questões prejudiciais, então, poderão ser atingidas pela coisa julgada, sem necessidade de pedido ou
provocação específica43. Reforçando essa compreensão, vem o Enunciado 165 do Fórum Permanente dos
Processualistas Civis44.
Portanto, o CPC (LGL\2015\1656) estendeu a coisa julgada à questão prejudicial, suposto que a decisão
de mérito  seja  delas  dependente,  observados  os  requisitos  da  competência  do  juiz  para  conhecer  da
matéria como questão principal e do contraditório efetivo (não se aplicando no caso de revelia e no de
restrições  probatórias  ou  cognitivas  impedientes  de  seu  exame  em  profundidade),  devendo,  pois,  ter
havido controvérsia efetiva e decisão do juiz a respeito.
Assim,  a  extensão  da  coisa  julgada  às  questões  prejudiciais  decorre  da  lei,  independentemente  de
requerimento da parte.
3.3 Questões que não fazem coisa julgada: a interpretação do art. 504
O CPC/2015(LGL\2015\1656)  teve  a  oportunidade  de  retirar  qualquer  dúvida  quanto  ao  que  não  faz
coisa julgada, ou seja, a que parte do conteúdo decisório da decisão judicial não recebe a imutabilidade
e, consequente, indiscutibilidade característica da res iudicata.
Assim,  não  fazem  coisa  julgada  (art.  504  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656)):  a)  os motivos,  ainda  que
importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença (inciso I); e b) a verdade  dos
fatos, estabelecida como fundamento da sentença (inciso II).
Nesse  particular,  não  houve  inovação,  com  exceção  da  já  trabalhada  possibilidade  de  a  questão
prejudicial  fazer  coisa  julgada,  pois  se mantém aquilo  que  antes  vinha  previsto  no  art.  469,  I  e  II,  do
CPC/1973 (LGL\1973\5).
Sabe­se que os motivos não significam, em origem, fundamentos, pois questões diferentes. Dessa forma,
deixa o novo CPC (LGL\2015\1656) espaço aberto para que venham interpretações conflitantes quanto a
isso, pois deveria ter modificado a expressão motivos para fundamentos, impedindo, de uma vez, a tese,
por alguns pretendida, da formação da coisa julgada sobre os fundamentos da decisão.
Se o dispositivo referido fala em motivos, realmente acaba abrindo essa possibilidade referida, que muita
confusão poderá trazer ao sistema brasileiro da coisa julgada.
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Contextualizando, por necessário, sabe­se que no Brasil se adotou a noção de que só faz coisa julgada o
dispositivo  da  decisão,  pois  “existindo  contradição  entre  a  motivação  e  a  conclusão  do  acórdão,
prevalece o contido na parte dispositiva do aresto”45.
Assim,  para  a  sistemática  brasileira  da  coisa  julgada,  os  motivos,  por  mais  que  importantes  para
determinar o alcance da decisão, bem como a versão dada pela sentença aos fatos, adotada como seu
respectivo  fundamento,  não  fazem  coisa  julgada46,  pois  apenas  o  dispositivo  da  sentença  faz  coisa
julgada47.
Desse  modo,  para  o  sistema  brasileiro,  deve­se  falar  em  formação  da  coisa  julgada,  unicamente  em
relação  ao  dispositivo  da  decisão  de  mérito,  pois  assim  o  determinou  a  lei  (art.  504  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656)).
Todavia,  sabe­se,  como  já  referido  quando  estudado  o  sistema  do  CPC/1973  (LGL\1973\5),  que,  para
alguns,  possível  seria  falar  de  formação  da  coisa  julgada  em  relação  aos  fundamentos  da  decisão,  ou
seja,  da  fundamentação,  pois  esta  efetivamente  compõe  a  estrutura  da  decisão  de  mérito  que  se
tornaria  imutável. O  raciocínio  faz  sentido, no entanto,  em outro  sistema, pois o nosso o afastou pela
determinação normativa e pela vontade do legislador.
Esse debate ainda persiste, de certa forma, por equívocos que a própria legislação, no caso o CPC/2015
(LGL\2015\1656),  mantém,  pois  desde  o  CPC/1973  (LGL\1973\5)  manteve­se  a  noção  de  que  os
motivos48 não fazem coisa julgada. Entretanto, o correto seria afirmar, para que dúvida não pairasse, é
que  os  fundamentos,  algo  diferente  dos motivos,  não  fazem  coisa  julgada,  pois  essa  parece  ser,  faz
tempo, a vontade do legislador.
Em complemento, afirme­se que, segundo estabelece a Súmula 304 (MIX\2010\2029) do STF,  “decisão
denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso
da ação própria”.
Assim, pode­se afirmar que a decisão que  concede a  segurança pretendida  faz  coisa  julgada material,
visto que implica declaração do direito afirmado pelo impetrante.
Ademais, a decisão que  rejeita o pedido efetivado no mandado de segurança não produz coisa  julgada
material, caso não aprecie o mérito, como nos casos de extinção do processo por falta de pressupostos
processuais,  de  impropriedade  da  via  escolhida  e  de  perda  do  direito  a  essa  via,  dita  decadência  do
direito à impetração do mandamus49.
Existem, como se verá nesta obra, outras tantas situações em que a coisa julgada não se forma, mas,
para  este momento,  de  interpretação  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  importante  fixarem­se  as  balizas
até aqui tratadas, com os exemplos afirmados.
Portanto,  para  evitar  tautologia  sobre  a  opção  sistêmica,  optou­se  no  Brasil  por  excluírem­se  da
proteção  da  res  iudicata  os motivos  determinantes  (diferentemente  do  sistema  alemão50,  que  inclui  a
fundamentação como objeto de proteção da coisa  julgada) para a sentença, bem como a verdade dos
fatos, por mais relevantes que sejam para a conclusão sentencial.
3.4 Limite temporal da coisa julgada: a interpretação do art. 505
Em  plena  simetria  com  o  que  foi  determinado  no  CPC/1973  (LGL\1973\5),  vem  o  CPC/2015
(LGL\2015\1656), dispondo no art. 505 que, em relação aos  limites temporais da coisa julgada, nenhum
juiz decidirá novamente as questões já decididas relativas à mesma lide. Essa regra (art. 505) comporta
ressalvas nos casos de: a) relação jurídica de trato continuado do qual sobreveio modificação no estado
de  fato  ou  de  direito;  caso  em  que  poderá  a  parte  pedir  a  revisão  do  que  foi  estatuído  na  sentença
(inciso I); e b) nos demais casos prescritos em lei (inciso II).
Sabe­se  que  a  coisa  julgada,  embora  imutável  e  indiscutível  em  relação  ao  conteúdo  decisório,  foi
planejada,  como  opção  política,  para  durar  por  certo  tempo.  Como  já  anunciado  anteriormente  neste
estudo,  os  limites  temporais  da  coisa  julgada  impõem a  noção  de  que  a  res  iudicata  vincula  em  dado
espaço  de  tempo.  Permanecendo  o  contexto  fático­jurídico51  que  deu  lugar  à  sua  formação,
permanecerá também a sua autoridade. Entretanto, modificando­se a realidade dos fatos jurídicos sobre
os  quais  decidiu  e  se  pronunciou  o  Judiciário,  a  res  iudicata  não mais  se  verifica52,  pois  se  trata  de
situação  sobre  a  qual,  pela modificação  dos  fatos  jurídicos,  o  Poder  Judiciário  não  se  prenunciou,  não
sendo  razoável  que  se queira  impor  a  coisa  julgada em situação  como a  referida,  por  tratar­se,  desta
feita, de uma nova situação.
No  que  concerne  às  relações  jurídicas  de  trato  continuado,  conhecidas  por  alguns  como  relações
continuativas, que são de trato sucessivo entre os envolvidos e que perduram no tempo, resta dizer que
são suscetíveis de modificação em seu estado de fato e de direito53, permitindo­se, por isso, a mutação
do conteúdo da decisão54,  desde  que,  para  tanto,  promova  o  interessado  a  respectiva  demanda55­56
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ou,  ainda,  que  na  mesma  demanda  faça  pedido  da  alteração  a  ser  implementada,  permitindo  o
“rejulgamento da causa nos mesmos autos”57.
A título de exemplo, no que se refere à aplicação da teoria dos limites temporais da coisa julgada, pode­
se  referir  a  ação  de  alimentos,  pois,  por  mais  que  definido  o  quanto  a  título  de  alimentos,  havendo
modificação  no  binômio  possibilidade­necessidade,  desde  que  haja  pedido  poderá  o  juiz  decidir
novamente a dos alimentos, tanto para majorar como minorar, tudo  isso em decorrência do art. 505, I,
CPC/2015 (LGL\2015\1656).
Ademais,  segundo prescreve o art.  505,  II, CPC/2015  (LGL\2015\1656),  pode  o  juiz  novamente  decidir
questão já solucionada quando se referir, por exemplo, “às situações que excetuam a regra da preclusão
pro  judicato  prevista  no  caput  do  artigo.  Fogem  à  regra,  por  exemplo,  as  questões  ditas  de  ordem
pública  (requisitos  de  admissibilidade,  pressupostos  processuais,  condições  da  ação),  pois  poderão  ser
revistas mesmo já tendo sido objeto de decisão durante o processo”58.
Outro  caso  de  representa  bem  a  previsão  do  art.505,  II,  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  está  nas
hipóteses do art. 494, I e II, do CPC/2015 (LGL\2015\1656), pois, publicada a sentença, o juiz só poderá
alterá­la  para  corrigir­lhe,  de  ofício  ou  a  requerimento  da  parte,  inexatidões  materiais  ou  erros  de
cálculo; bem como por meio de embargos de declaração.
3.5 Limites subjetivos da coisa julgada: a interpretação do art. 506
O  disposto  no  art.  506  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656)  trata  dos  limites  subjetivos  da  coisa  julgada,
definindo quem  recebe a  imutabilidade e,  consequentemente,  indiscutibilidade do  comando decisório da
decisão de mérito.
Com  efeito,  segundo  o  texto  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  “a  sentença  faz  coisa  julgada  às  partes
entre  as  quais  é  dada,  não  prejudicando  terceiros”59.  Nesse  sentido,  merece  ajuste  o  texto  do
dispositivo, pois tanto para as sentenças como para as decisões interlocutórias de mérito a res iudicata
terá a qualidade e força de atingir as partes entre as quais é dada, ou seja, proferida, bem como a seus
sucessores.
Evidencia­se  que  a  coisa  julgada  não  pode  prejudicar  terceiros,  em  relação  ao  comando  decisório
imutável, porque o terceiro não participou da demanda, em pleno exercício do contraditório,  razão pela
qual não poderá ser compelido a receber a imutabilidade da coisa julgada, visto que não foi parte e não
teve a oportunidade de debater a  causa de pedir  e os pedidos que envolveram a demanda,  sendo­lhe
possível,  ao  que  nos  parece,  promover  nova  demanda  com  a  finalidade  de  obter  decisão  judicial  em
relação à temática que foi decidida em demanda da qual não foi parte.
Recentemente, pela abertura do texto do art. 506, surge interpretação60 de que, embora aparentemente
favorável, acaba sendo sistematicamente contraditória, bem como, ao que nos parece, inadequada para
o processo que respeita o contraditório e o princípio do dispositivo.
Afirma­se atualmente que a coisa julgada pode beneficiar terceiros, somente não podendo prejudicá­los.
Mas  qual  a  lógica  nisso?  Somente  pelo  fato  de  ter  o  novo  CPC  (LGL\2015\1656)  excluído  a  antiga
“restrição” de beneficiar terceiros?
A questão realmente não nos parece assim tão simplória.
A res iudicata é  fruto da  jurisdição e, portanto, da ação. Aqueles que dela participam, se se  tratar de
demanda de cunho individual, são os sujeitos processuais, partes, que têm a seu dispor o contraditório, a
ampla defesa e as demais garantias constitucionais do processo, sendo a eles plenamente produzível a
coisa julgada.
Isso, notadamente, pelo  fato de que a decisão de mérito  faz  coisa  julgada às partes entre as quais é
dada,  assim  como  anuncia  o  CPC/2015  (LGL\2015\1656).  Evidentemente,  por  isso,  não  prejudica
terceiros.
Em  verdade,  o  comando  decisório  imutável  e,  consequentemente,  indiscutível,  com  a  força  da  coisa
julgada,  somente  atinge  as  partes  que  da  demanda  individual  participaram,  pois,  se  assim  não  fosse,
certamente, estar­se­ia a romper com uma série de garantias constitucionais do processo.
Uma das questões que merece esclarecimento para essa construção vem a ser o entendimento de que a
coisa julgada não é efeito da sentença, mas, sim, a imutabilidade e, consequentemente, indiscutibilidade
do comando decisório da decisão de mérito. De fato, o que atinge terceiros, nas demandas de natureza
individual, para beneficiar ou prejudicar, são os efeitos da sentença, ou seja, os resultados, mas não a
coisa julgada que precisa, para se formar, que o sujeito tenha tido a oportunidade de, naquela demanda,
exercer o contraditório e a ampla defesa, fazendo­se presente o limite subjetivo da coisa julgada.
Enrico Tullio Liebman61 sensibilizou a doutrina, demonstrando que a coisa julgada poderia produzir efeitos
a terceiros, mas sendo estes secundários, ou indiretos.
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Esses  efeitos  que  alcançam  os  terceiros,  de  forma  secundária,  acabam  por  caracterizar  os  chamados
efeitos  reflexos da  sentença,  que  produzem  seus  resultados  para  fora  da  sentença,  atingindo­lhes  no
mundo  fático.  Esses  efeitos  têm o poder de  levar  aos  terceiros  os  resultados da  res  iudicata, mas  de
modo  secundário.  O  efeito  reflexo  relatado  por  parte  da  doutrina  italiana  é  logo  chamado,  por  Enrico
Tullio Liebman62, de eficácia reflexa.
Ovídio A. Baptista da Silva63 explana que a coisa julgada reluz, em relação aos terceiros, de forma geral,
a  sua  declaração.  Assim,  todo  e  qualquer  terceiro  poderá  sofrer  algum  efeito  da  sentença.  Dessa
maneira,  sob  outra  matriz  teórico­argumentativa  a  partir  das  construções  de  José  Carlos  Barbosa
Moreira,  vem  José  Maria  Rosa  Tesheiner64  referindo  que  é  possível  a  eficácia  da  sentença  atingir
terceiros. Para ele, a eficácia da sentença pode atingir terceiros, com maior ou menor intensidade.
Os efeitos da sentença podem ser observados e vividos, por vezes, no mundo dos fatos, pois a sentença
como  ato  processual  do  juiz,  que  pode,  em  alguns  casos,  decidir  a  questão  controvertida,  tem  como
qualidade  inicialmente  gerar  eficácia  (potencialidade  de  gerar  resultados)  e  depois  efeitos  (resultados)
daquilo que fora decidido.
Dessa  forma, a sentença concretiza­se no mundo dos  fatos por meio dos seus  resultados, ou seja, de
seus efeitos.
Assim, caso uma sentença declare que A deve R$ 100,00 a B, condenando aquele a pagar essa quantia a
este,  ter­se­á,  no  processo,  a  sentença  e  suas  eficácias  (potencialidade  de  gerar  resultados)
efetivamente  concretizadas,  produzindo­se  efeitos  somente  se,  no  mundo  dos  fatos,  efetivamente,  o
devedor pagar a quantia determinada ao credor, caso contrário, não se terá nada mais do que eficácia.
Com efeito, as eficácias da sentença são as potencialidades de se concretizar a ordem judicial, enquanto
os efeitos se consubstanciam na realização do que foi estatuído judicialmente no mundo dos fatos.
Em  vista  disso,  de  outro  lado,  a  coisa  julgada,  traduz­se  pela  imutabilidade  do  conteúdo  decisório  da
sentença, ou seja, a imutabilidade do comando decisório.65
Essa  distinção  é  relevante,  pois  o  que  realmente  se  torna  imutável,  a  coisa  julgada,  vem  a  ser  a
determinação  judicial,  como  comando  decisório  do  juiz,  enquanto  os  efeitos  da  sentença,  como
resultados  fenomênicos  da  decisão  judicial,  podem  ser  realizados  ou  não  e,  inclusive,  mutáveis  pelas
próprias partes, que podem estipular, entre si, distintas  formas de cumprir aquilo que  fora determinado
judicialmente.
Esse aspecto demonstra a distinção efetiva entre os efeitos da sentença e a coisa julgada, que acaba
sendo relevante para este estudo, pois, diferenciada de forma clara, perceber­se­á que a coisa julgada,
das  demandas  de  natureza  individual  com  eficácia  inter  partes,  não  atinge  terceiros,  quer  para
beneficiar, que para prejudicar, visto que a decisão de mérito faz coisa julgada entre as quais é dada.
A título de exemplo, imagine­se que a sentença imutável (com coisa julgada) determine que entre A e B
exista uma relação jurídica, C, incorporadora, que não poderá receber a imutabilidade em seu (des)favor,
pois a coisa  julgada deve atingir somente as partes envolvidas no  litígio, como observar­se­á, mas, de
outro  lado,  o  que  atinge  a  sociedade  empresária  incorporadora  vem  a  ser  exatamente  os  efeitos  da
sentença, bem como suas eficácias, porque estas sim atingem e podem fazer  realizar­se aquilo que  foi
decidido entre A e B sobre C.
Assim,  em  resumo  dessa  primeira  construção,  afirme­se  que  a  coisa  julgada,  como  imutabilidade  e,
consequentemente,  indiscutibilidade  do  comando  decisório  da  decisão  de  mérito  só  podevincular
benéfica ou maleficamente às partes envolvidas na tutela individual (eficácia inter partes), muito embora
os efeitos da sentença, algo totalmente diferente de coisa julgada, possam atingir a terceiros, beneficiar
ou prejudicar seus interesses. Em vista desses aspectos, permite­se afirmar que o terceiro, caso queira,
poderá se opor à coisa julgada produzida entre A e B e promover sua demanda para discutir a questão,
visto que sobre ele, terceiro, ainda não  impera a coisa julgada, ou seja, a  imutabilidade e consequente
indiscutibilidade do comando decisório da decisão de mérito.
Na tutela coletiva (eficácia erga omnes ou ultra parte), a  coisa  julgada pode beneficiar  terceiros, mas
não é disso que o art. 506 do CPC/2015 (LGL\2015\1656) está a abordar, pois o CPC (LGL\2015\1656)
trata, como se sabe, das demandas de processos com interesse intersubjetivo, porém não de interesses
coletivos.
O  grande  exemplo  de  que  coisa  pode  beneficiar,  e  não  prejudicar,  terceiros  está  no  art.  103  do  CDC
(LGL\1990\40), pois  “nas ações coletivas de que  trata este código, a sentença  fará coisa  julgada:  I –
erga omnes, exceto se o pedido for  julgado  improcedente por  insuficiência de provas, hipótese em que
qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo­se de nova prova, na
hipótese  do  inciso  I  do  parágrafo  único  do  art.  81;  II  –  ultra  partes,  mas  limitadamente  ao  grupo,
categoria  ou  classe,  salvo  improcedência  por  insuficiência  de  provas,  nos  termos  do  inciso  anterior,
quando  se  tratar  da  hipótese  prevista  no  inciso  II  do  parágrafo  único  do  art.  81;  III  –  erga  omnes,
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apenas  no  caso  de  procedência  do  pedido,  para  beneficiar  todas  as  vítimas  e  seus  sucessores,  na
hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81”.
Ainda  assim,  os  efeitos  da  coisa  julgada,  previstos  nos  incisos  I  e  II  do  referido  art.  103  do  CDC
(LGL\1990\40),  não  prejudicarão  interesses  e  direitos  individuais  dos  integrantes  da  coletividade,  do
grupo,  da  categoria  ou  da  classe.  Com  efeito,  na  hipótese  prevista  no  inciso  III,  em  caso  de
improcedência  do  pedido,  os  interessados  que  não  tiverem  intervindo  no  processo  como  litisconsortes
poderão propor ação de indenização a título individual.
Isso  tudo, como visto, em tutela coletiva, e não  individual, sendo situação que  já se  impunha desde o
CDC (LGL\1990\40), sem haver, ao que nos parece, grande novidade e reflexos para o art. 506 do CPC
(LGL\2015\1656), pois são normas distintas, com regramentos próprios que têm objetivos diversos, visto
que a previsão do art. 506 do CPC/2015  (LGL\2015\1656) está vocacionada às demandas de natureza
individual, enquanto a previsão do art. 103 do CDC (LGL\1990\40) é voltada para as demandas coletivas.
Assim como assentou o STJ, os terceiros se submetem apenas à eficácia da sentença, não se sujeitando
à coisa julgada66.
Essas  premissas  mostram­nos  que  o  que  pode  atingir  os  terceiros,  seja  na  tutela  individual,  seja  na
coletiva, são os efeitos da sentença, mesmo sabendo que estes são amplamente mutáveis no mundo da
realidade,  pois  a  coisa  julgada  (repita­se)  atinge  com  sua  força  unicamente  aqueles,  como  afirma  o
próprio art. 506 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.
3.5.1 Interpretação do art. 274 do Código Civil à luz do art. 506 do novo CPC
Estabelece o art. 274 do Código Civil (LGL\2002\400), com redação dada pelo art. 1.068 do novo CPC/
2015 (LGL\2015\1656): “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o
julgamento  favorável  aproveita­lhes,  sem  prejuízo  de  exceção  pessoal  que  o  devedor  tenha  direito  de
invocar em relação a qualquer deles”.
A  real  e  substancial  intenção  da  legislação  civil  diz  respeito  ao  favorecimento  do  terceiro  que  tem
interesse jurídico na causa. O antigo CPC de 1973 (Código Buzaid) estabelecia que a coisa julgada não
poderia  beneficiar  nem prejudicar  terceiros. No  entanto,  a  novel  codificação,  em  seu  art.  506,  apenas
determina que o  terceiro não possa ser prejudicado. Daí  surge a seguinte  indagação: com o CPC/2015
(LGL\2015\1656), quem não é parte no processo pode se favorecer da coisa julgada?
Tendo como premissas iniciais que os limites subjetivos da coisa julgada correspondem à determinação de
imutabilidade e  indiscutibilidade do comando decisório contido na decisão de mérito, nos termos do art.
502  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  caracterizando  aquilo  que  se  entendeu  como  a  eficácia  da  coisa
julgada material, tem­se uma primeira importante delimitação para a temática.
Como salientado, seguindo o posicionamento apresentado por Enrico Tullio Liebman67, a eficácia natural
da  sentença,  como  ato  de  poder  do  Estado,  atinge  todos,  mas  por  certo  que  a  autoridade  da  coisa
julgada  só  alcança  as  partes. Dessa  forma,  os  terceiros  juridicamente prejudicados,  portanto,  poderão
opor­se à autoridade da coisa julgada.
Daí dizer­se que a coisa julgada, nas demandas de natureza individuais, não atinge terceiros, em especial
porque  o  comando  decisório  da  decisão  de  mérito  só  pode  vincular  as  partes  envolvidas  na  relação
jurídica processual, nas quais é dada (eficácia inter parte).
Para Fredie Didier Jr.68,  o art. 274 do Código Civil  (LGL\2002\400)  instituiu a possibilidade de extensão
dos  limites subjetivos da coisa julgada ultra partes, ou seja, a respeito da possibilidade de terceiros se
beneficiarem do comando decisório da sentença. Trata­se, pois, para o autor, da ampliação dos  limites
subjetivos da coisa julgada, no caso, para alcançar também o litisconsorte ausente (credor solidário), de
acordo com a coisa julgada secundum tenorem rationis69.
No entanto, o que se deve deixar claro, por evidente, é que os  terceiros,  interessados ou não, podem
ser naturalmente atingidos pelos efeitos secundários da decisão de mérito, assim entendido, como bem
explicado  por  Liebman,  como  a  eficácia  reflexa  ou  efeito  anexo  da  sentença,  cujos  resultados  se
projetam para  fora  da  relação  jurídica  processual  (processo),  concretizando  seus  resultados no mundo
fenomênico.
E  a  razão  pela  qual  a  eficácia  da  coisa  julgada  é  circunscrita  às  partes  que  integraram  a  lide  é
justamente pela efetiva  incidência e garantia dos princípios constitucionais do contraditório e da ampla
defesa, não podendo a autoridade da decisão de mérito alcançar diretamente os terceiros  interessados
que não tenham sido sequer citados para participar da demanda, ou seja, que o comando decisório possa
se tornar imutável e indiscutível para aquele que não participou do processo.
Analisando o art. 274 do Código Civil (LGL\2002\400), verifica­se que a vinculação possibilitada ao credor
solidário não deve ser observada sob a ótica do mero aproveitamento do resultado do processo que lhe
tenha sido favorável (secundum eventum litis70), mas sim dos próprios efeitos emanados pelas decisões
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de mérito  (incluindo  os  efeitos  da  sentença),  ou  seja,  aqueles  efeitos  que  a  elas  lhe  são  inerentes71,
pelo  simples  fato de existirem, não podendo  se  falar  em aproveitamento da  coisa  julgada em si  (assim
entendida  como  a  imutabilidade  ou  indiscutibilidade  do  comando  decisório  entre  as  partes  nas  quais  é
dada72).
Advirta­se,  ainda,  que  há  quem  defenda  o  mesmo  raciocínio  para  a  solidariedade  no  polo  passivo  da
obrigação  divisível.  Nesse  contexto,  o  devedor  estranho  ao  processo  também poderiase  beneficiar  de
pronunciamento favorável ao codevedor demandado.
Nesse  sentido  é  o  Enunciado  234  do  Fórum  Permanente  de  Processualistas  Civis:  “A  decisão  de
improcedência na ação proposta pelo credor beneficia todos os devedores solidários, mesmo os que não
foram partes no processo, exceto se fundada em defesa pessoal73”.
Portanto,  o  que  poderá  atingir  os  terceiros  da  relação  jurídica  (devedores  ou  credores  solidários)  são
meramente os efeitos secundários e naturais da sentença que lhes sejam favoráveis (efeitos reflexos ou
anexos), ressaltando, repita­se, que tais efeitos são reconhecidamente mutáveis no mundo da realidade,
pois a coisa  julgada atinge com sua força da  imutabilidade do comando decisório unicamente as partes
da relação  jurídica processual, ou seja, aqueles entre as quais é dada, não prejudicando terceiros, nos
termos do art. 506 do Novo CPC.
3.6 Preclusão e coisa julgada: a interpretação do art. 507
Com  efeito,  seguindo­se  as  diretrizes  do  art.  507  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656),  é  vedado  à  parte
discutir  no  curso  do  processo  as  questões  já  decididas  a  cujo  respeito  se  operou  a  preclusão,
acompanhando identicamente aquilo que já previa o art. 473 do CPC/1973 (LGL\1973\5). Nesse caso se
está diante da eficácia preclusiva da coisa julgada.
Essa  eficácia  preclusiva  da  coisa  julgada  dever  ser  considerada,  observando­se,  portanto,  que
modalidade  de  eficácia  preclusiva  terá  a  res  iudicata,  pois  pode  ser  temporal,  consumativa  ou  lógica,
separada  ou  conjuntamente.  A  preclusão  caracteriza­se  pela  impossibilidade  de  realização  de
determinado  ato  processual,  por  exemplo,  o  de  recorrer  ou  realizar  diligência  forense  que  tenha  prazo
fatal  determinado  e  que,  por  conseguinte,  não  comporte  superação  do  prazo  determinado  pela  norma
processual ou, até mesmo, pelo juiz74. Realmente, trata­se de mecanismo de estabilidade das decisões
judiciais que se alia, fortemente, à segurança jurídica para, consequentemente, trazer paz social.
A  preclusão  temporal  consubstancia­se  na  perda,  por  não  exercício  tempestivo  ou  intempestivo,  do
direito  de  praticar  ato  processual.  Por  outras  palavras,  “a  mais  usual  das  modalidades,  a  preclusão
temporal,  consiste  na  perda  do  direito  de  praticar  determinado  ato  processual  pelo  decurso  do  prazo
fixado para o seu exercício”75. Pode­se aqui, portanto, visualizar­se essa modalidade de preclusão, caso
determinada decisão seja prejudicial a uma das partes, abrindo­se o prazo para que a parte prejudicada
possa  recorrer  e  combater  a  referida  decisão.  Caso  a  parte  interessada  na  reforma  da  decisão  deixe
escoar o prazo determinado para a interposição do recurso e, nesse contexto, queira, depois de vencido
o  prazo,  recorrer,  restará  obstaculizada  pela  preclusão  temporal,  ou  seja,  pela  perda  do  direito  de
recorrer no tempo determinado pela norma processual76, não mais podendo recorrer daquela decisão que
lhe fora prejudicial e desfavorável.
A  título  de  exemplo  dessa  modalidade  de  preclusão,  pode­se  observar  o  art.  223  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656),  visto  que,  decorrido  o  prazo,  extingue­se  o  direito  de  praticar  ou  de  emendar  o  ato
processual,  independentemente  de  declaração  judicial,  ficando  assegurado,  porém,  à  parte  provar  que
não o realizou por justa causa.
De outro lado, a preclusão consumativa é aquela que se concretiza por já ter sido praticado determinado
ato processual específico, sendo, por isso, descabido querer realizá­lo novamente em momento posterior.
De outra forma, a preclusão consumativa “se origina de fato de já ter sido praticado um ato processual,
não importando se com total êxito ou não, descabendo a possibilidade de, em momento ulterior, tornar a
realizá­lo,  emendá­lo  ou  reduzi­lo”77.  Nesse  contexto,  pode­se  explicá­la,  em  concreto,  a  partir  da
mesma situação  lançada anteriormente. Caso haja uma decisão  judicial desfavorável a uma das partes,
pode esta, tempestivamente, combatê­la por meio do recurso adequado e cabível no sistema processual
próprio.  Caso  o  interessado  recorra,  esquecendo­se  de  combater  determinado  ponto  relevante  da
decisão, não poderá, depois de já interposto o recurso, querer agregar ou modificar a estrutura recursal,
assim  como não poderá novamente  recorrer  para  combater  o  ponto não arguido pelo  fato  de  já  haver
anteriormente,  no  momento  da  interposição  do  recurso,  consumado  sua  possiblidade  de  recorrer,  por
meio daquele recurso específico, sendo, por isso, impossível novamente querer recorrer consubstanciado
em fundamento não trazido no recurso anteriormente interposto.
Ainda se deve compreender, por fim, como se desenvolve a sistemática da preclusão lógica. Nesse caso,
a  preclusão  se  desenvolve  pelo  fato  de  que  o  sujeito,  o  qual  poderia  realizar  determinado  ato,  acaba
realizando antes ato totalmente contrário ao que pretende posteriormente realizar, tornando­se extinta a
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possibilidade de realizar ato posterior contrário ao anterior. Assim, “a preclusão lógica é a que extingue a
possibilidade  de  praticar­se  determinado  ato  processual,  pela  realização  de  outro  ato  com  ele
incompatível”78.  Nesse  caso,  pode­se  trazer  à  baila,  com  base  na  mesma  situação  anteriormente
analisada, o caso de um cidadão que obtenha determinada decisão  judicial desfavorável. Podendo este
recorrer da decisão combatendo os  seus  fundamentos, acaba por,  livre e expressamente,  renunciar ao
direito de recorrer79, por exemplo, sendo por isso impossível depois da desistência pretender recorrer da
referida decisão. Nessa situação, obrada a renúncia ao direito de recorrer, será impossível ao interessado
que  renunciou  tentar,  posteriormente,  recorrer  da  mesma  decisão,  visto  que  renunciou  ao  direito  de
recorrer, fazendo com que se implemente a preclusão lógica.
A título de exemplo dessa modalidade de preclusão, pode­se afirmar que a parte que aceitar, expressa ou
tacitamente,  a  decisão  não  poderá  recorrer,  assim  como  determina  o  art.  1.000  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656).
Essas  modalidades  de  preclusão,  efetivamente,  acabam  por  estabilizar  a  decisão  judicial  proferida,
dando­lhe não somente a estabilidade mas também a concretização da segurança jurídica pelo fato de,
em  princípio,  dar  estabilidade  à  decisão,  garantindo­lhe  a  autoridade,  mas  não,  de  outro  lado,  a
imutabilidade.
De fato, a coisa julgada não se assemelha à preclusão, assim como não se trata de mesmo instituto. A
res  iudicata  caracteriza­se  como  a  qualidade  que  torna  imutável  o  conteúdo  decisório  da  decisão  de
mérito  (e não os  seus efeitos,  que podem ser mutáveis)  e que  se  torna, por  consectário,  indiscutível,
gerando a segurança e estabilidade jurídica esperada pela sociedade e necessária ao Estado. Todavia, a
preclusão  não  garante  imutabilidade,  pois  basta  uma  nova  demanda  com  os  mesmos  fundamentos  da
anterior,  entre  as  mesmas  partes,  ou  seja,  idêntica  (em  alguns  casos),  para  que  a  decisão  anterior,
estabilizada pela preclusão, venha a ser desconstituída, visto que a preclusão não passa de uma “perda”
ou de uma “impossibilidade” de realização de ato processual, seja pela perda do prazo (temporal), seja
pela já realização do ato processual (consumativa) ou, ainda, pela realização anterior de ato processual
amplamente contrário ao ato processual que se pretende realizar na atualidade (lógica).
Feita  essa  distinção  necessária,  que  demonstra  a  diferença  entre  a  coisa  julgada  e  a  preclusão,  fica
demarcada a realidade de tratar­se de institutos distintos, muito embora, em algumassituações, possam
restar ocorrentes em conjunto.
Nesse  sentido,  uma  vez  decidida  a  questão,  por  meio  de  decisão  de  mérito,  restará  vedado  à  parte
discutir no mesmo processo as questões já decididas a cujo respeito se operou uma das modalidades de
preclusão,  bem  como  a  coisa  julgada,  tornando­se  a  decisão  imutável  (coisa  julgada)  e  indiscutível
(preclusão).
Dito  isso,  de  fato,  há  situações  em  que,  por  determinação  de  lei,  não  se  dará  a  preclusão,  quer
consumativa,  temporal  ou  lógica,  sendo  o  caso  das  decisões  interlocutórias  não  agraváveis,  pois  não
estão previstas no rol do art. 1.015 do CPC/2015 (LGL\2015\1656). Nesses casos, as questões resolvidas
na  fase de conhecimento,  se a decisão a  seu  respeito não comportar agravo de  instrumento, não são
cobertas  pela  preclusão  e  devem  ser  suscitadas  em  preliminar  de  apelação,  eventualmente  interposta
contra a decisão final, ou nas contrarrazões (art. 1.009, § 1º, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
Assim, fora esses casos, é de ser destacar que, uma vez decida a questão, recaindo a preclusão sobre a
decisão,  quer  em  conjunto  com a  coisa  julgada,  quer    não,  não  será  autorizado  às  partes  novamente
discutir  a  questão  decidida  no mesmo  processo,  o  que  não  impede  que  em  outro  processo  a  questão
possa ser novamente  trazida, desde que não atingida pela coisa  julgada,  ressalvadas as situações que
autorizam a flexibilização da coisa julgada.
Fora  isso,  embora  o  art.  507  afirme  que  às  partes  é  vedada  a  rediscussão  da  questão  no  mesmo
processo, hoje resta compreensível também que ao Estado­juiz é proibido rever suas decisões na mesma
instância  e  no mesmo  processo,  sem  que  exista  um  acréscimo  de  questão  de  cognição,  por  exemplo,
alterações  fáticas  ou  normativas,  situações  que  permitiriam  a  modificação  nessa  sede,  assim  como
alertado pelo STF80.
Por  fim,  em  relação  às  questões  de  ordem  pública,  resta  dizer  que  são  insuscetíveis  de  preclusão,
podendo ser novamente examinadas pelo Judiciário no mesmo processo e grau de jurisdição, ainda que já
decididas as questões, não se concretizando sobre as questões de ordem pública a preclusão81.  Nesse
sentido, vale conferir o art. 485, § 3º, CPC/2015 (LGL\2015\1656), pois o  juiz conhecerá, de ofício, da
matéria  constante  dos  incisos  IV,  V,  VI  e  IX,  em  qualquer  tempo  e  grau  de  jurisdição,  enquanto  não
ocorrer o trânsito em julgado. Igualmente é de se observar o art. 505, II, do CPC/2015 (LGL\2015\1656).
3.7 Eficácia preclusiva da coisa julgada: a interpretação do art. 508
Por  fim,  sem  grande  inovação,  mas,  sim,  manutenção  do  sistema  anterior,  o  art.  508  do  CPC/2015
(LGL\2015\1656) determina que, transitada em julgado a decisão de mérito, considerar­se­ão deduzidas
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e  repelidas  todas  as  alegações  e  as  defesas  que  a  parte  poderia  opor  tanto  ao  acolhimento  como  à
rejeição do pedido.
Essa disposição vem a ser praticamente a mesma estabelecida no art. 474 do CPC/1973  (LGL\1973\5),
mudando­se somente a noção de “passada em julgado a sentença de mérito” para “transitada em julgado
a decisão de mérito”.
Isso se dá em decorrência da adoção clara do CPC/2015 (LGL\2015\1656) pela noção de que recebem o
manto da coisa julgada as decisões de mérito, alterando­se a concepção restritiva anterior por uma mais
ampla no novo Código.
Dessa forma, com base nesses elementos, afirme­se que, pela nova sistemática, transitada em julgado a
decisão de mérito, formar­se­á a coisa julgada82.
Portanto,  transitada  em  julgado  a  decisão  de mérito,  considerar­se­ão  deduzidas  e  repelidas  todas  as
alegações  e  defesas  que  a  parte  poderia  e  deveria  opor  tanto  ao  acolhimento  quanto  à  rejeição  do
pedido.
Nesse  sentido,  todas  as  questões  que  merecem  conhecimento  judicial  deveriam  ser  suscitadas,  pois
relevantes para a causa de pedir e pedidos, mas não sendo suscitadas as questões, restarão preclusas,
caso transitada a demanda, pela eficácia preclusiva da coisa julgada.
Nesse contexto, relevante distinguir bem as causas de pedir de meros argumentos que giram em torno do
pedido. Assim, “se A intentar ação indenizatória em face de B, por acidente de veículos, alegando que o
veículo  de  B,  por  este  dirigido,  colidiu  com  o  seu  (de  A),  porque  B  estava  bêbado  e  em  excesso  de
velocidade  e  perder  a  ação,  não  pode  propor  posteriormente  ação  contra  B,  alegando,  agora,  que
chovia, por ocasião do acidente, que o carro de B estava com revisão por fazer e com pneus ‘carecas’.
Isto porque não se estará, aqui, diante de outra causa de pedir, mas de argumentos que gravitam em
torno da mesma causa de pedir: conduta culposa de B. Portanto, todos aqueles argumentos se reputam
como tendo sido utilizados, embora não o tenham sido, efetivamente”83.
Esse cenário muda caso a ação posterior movida tenha como centro outra causa de pedir, sendo o que
se dá, por exemplo, no caso de “ação de despejo, tida por improcedente, quando fundada em desvio da
finalidade do contrato locatício. Mais tarde, pode o mesmo locador A intentar ação de despejo em face
do mesmo locatário B, baseada na falta de pagamento de aluguéis, ainda que esta causa de pedir tenha
ocorrido concomitantemente (no tempo) ao desvio de finalidade do contrato locatício. Ainda assim, o não
pagamento  dos  aluguéis  não  deixa  de  ser  ‘causa  de  pedir’,  por  ser  ratio  que,  por  si  só,  autorizaria  a
procedência do pedido”84.
Ademais, as alegações e defesas dedutíveis e suscitáveis  realmente não estão abrangidas pelos  limites
objetivos da res iudicata, podendo ser debatidas em outro processo85, desde que não tenha a intenção
de, indiretamente, ofender a coisa julgada86 e relacionadas a outra causa de pedir.
Assim,  a  eficácia  preclusiva  do  art.  508  do  CPC/2015  (LGL\2015\1656)  é  realmente  invocável  em  se
tratando de  fatos de  idêntica natureza, como no caso de se afirmar  literal violação de um e depois de
outro dispositivo legal.
De fato, se o réu se defendeu unicamente arguindo a prescrição, não pode, posteriormente, achando o
recibo  assinado  pelo  autor,  propor  ação  de  repetição  de  indébito  fundada  no  pagamento  dúplice.
Portanto, rejeita­se a alegação de pagamento, bem como a de prescrição.
De outro  lado, o que poderia ser feito, sim, seria a propositura de ação rescisória, com fundamento em
documento novo (CPC (LGL\2015\1656), art. 966, VII).
4 Considerações finais
No sistema do novo Código de Processo Civil, entre as  inovações, é possível perceber que as questões
prejudiciais podem receber o manto da res iudicata, sendo caso de nítida ampliação dos limites objetivos
da coisa julgada.
Também se aclara que a coisa  julgada, com arrimo em Enrico Tullio Liebman, é a autoridade que  torna
imutável e indiscutível a decisão de mérito vinculada ao dispositivo da decisão.
A coisa julgada atinge as partes às quais é dada, não podendo prejudicar nem beneficiar terceiros, pois o
que  realmente  os  atinge  são  os  efeitos  da  sentença,  mas  não  a  coisa  julgada,  que,  para  se  formar,
precisa realmente ser concebida em pleno exercício do contraditório.
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1 Sobre os elementos da coisa julgada, pode ser observada a contribuição de Donot quando elenca como
elementos naturais à coisa julgada a identidade de objeto, de causa e de partes. Nesse sentido, DONOT,
F. L’autorité de la chose jugée en matière d’état des personnes. Coulommiers: Imprimerie Dessaint et
Cie, 1914. p. 85­106.
 
2 “Art. 467. Denomina­se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença,
não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário.”
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3 Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, observando o art. 467 do Código de Processo Civil, assim se
posiciona: “Quando da sentença não mais cabe recurso, há res iudicata. As questões, que havia, de fato
e de direito, foram julgadas. Passa em julgado a decisão e não os fundamentos, e o que se julga de
quaestiones facti apenas concerne a decisão” (PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários
ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1974. t. V. p. 143­144).
 
4 “Art. 6º A Lei em vigorterá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito
adquirido e a coisa julgada.
(...)
§ 3º Chama­se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.”
 
5 Para Enrico Tullio Liebman, que foi discípulo de Giuseppe Chiovenda e que, com sua vinda para o Brasil,
fundou a Escola Paulista, a coisa julgada não é um efeito da sentença, mas sim uma qualidade especial
da sentença. Nesse sentido, conferir LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença. 2. ed.
Rio de Janeiro: Forense, 1981. p. 46­47. Observando Enrico Tullio Liebman, percebe­se a sua
preocupação em distinguir a eficácia da autoridade da coisa julgada. Para ele, a autoridade da res
iudicata não é efeito da sentença, como postura da doutrina da época, mas sim modo de se manifestar e
se produzir dos efeitos da própria sentença, algo que a esses efeitos se junta para qualificá­los e
reforçá­los em sentido bem determinado. Deste modo refere o processualista italiano: “Não é efeito da
sentença, como postura da doutrina unânime, mas sim modo de manifestar­se e produzir­se dos efeitos
da própria sentença, algo que a esses efeitos se ajunta para qualificá­los e reforçá­los em sentido bem
determinado” (LIEBMAN, Enrico Tullio. Eficácia e autoridade da sentença. Trad. Alfredo Buzaid e Benvindo
Aires. Rio de Janeiro: Forense, 1945. p. 36). Aduz, ainda, com firmeza, o autor que a autoridade da coisa
julgada “(...) não é efeito da sentença, mas uma qualidade, um modo de ser e de manifestar­se dos seus
efeitos, quaisquer que sejam, vários e diversos, consoante as diferentes categorias das sentenças”
(Ibid., p. 16).
 
6 Nesse contexto, José Carlos Barbosa Moreira concorda com a distinção da eficácia da sentença com a
autoridade da coisa julgada, assim como Enrico Tullio Liebman, mas se distingue deste ao pensar que a
imutabilidade não atinge os efeitos da decisão, mas sim ao seu conteúdo, não se limitando ao elemento
declaratório. Observando o posicionamento de Enrico Tullio Liebman e sua construção, José Carlos
Barbosa Moreira constitui verdadeiro adendo à teoria do processualista italiano ao concluir que os efeitos
das sentenças estão sujeitos à mudança, razão por que tal qualidade, referida por Enrico Tullio Liebman,
não poderia acobertar a sentença e seus efeitos com a coisa julgada, mas somente o conteúdo da
decisão. (MOREIRA, José Carlos Barbosa. Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada. Revista de
Processo, São Paulo, ano 9, n. 34, p. 273­285, abr./jun. 1984. p.273­279.)
 
7 Partindo de Ugo Rocco, na Itália, alerta­se que o conceito de coisa julgada formal é inútil, pois algo
que se amolda à preclusão, e não à coisa julgada. Refere, dessa forma, o autor que “(...) crediamo che
tale distinzione sai priva di qualunque utilità e che, anzi, invece di chiarire i concetti serva a confonderli;
dato in fatti, che nell’attuale sistema legislativo, la forza obbligatoria e unicamente inerente alla sentenza
inoppugnabile, si potrà al massimo dire, che la inoppugnibilità della sentenza constituisce un presupposto
formale (e non il solo) dell’autorità do cosa giudicata della sentenza” (ROCCO, Ugo. L’autoritá della cosa
giudicata e i suoi limiti soggettivi. Roma: Athaeneum, 1917. t. I. p. 6­7). No mesmo sentido, conferir:
BARBI, Celso Agrícola. Da preclusão no processo civil. Revista Forense, São Paulo, n. 158, 1955. p. 62 et
seq.; MARCATO, Antônio Carlos. Preclusões: limitação ao contraditório? Revista de Direito Processual
Civil, São Paulo, n. 17, p. 105­114, jan./mar. 1980. p. 110. Um dos autores que sustenta essa posição,
inclusive diferenciando coisa julgada formal de preclusão, é Ovídio A. Baptista da Silva, aduzindo que “A
esta estabilidade relativa, através da qual, uma vez proferida a sentença e exauridos os possíveis
recursos contra ela admissíveis, não mais se poderá modificá­la na mesma relação processual, dá­se o
nome de coisa julgada formal, por muitos definida como preclusão máxima (...)” (SILVA, Ovídio A.
Baptista da Silva. Teoria geral do processo civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 484).
Igualmente, Egas Dirceu Moniz de Aragão aduz que a denominação coisa julgada formal chega a ser
contraditória, pois se a coisa está julgada e por isso se fala em res iudicata (coisa julgada), é
inadmissível utilizar a locução para designar fenômeno de outra natureza, correspondente ao
pronunciamento que não contém o julgamento da res. Refere o processualista: “A denominação ‘coisa
julgada formal’ chega a ser contraditória; se a coisa – ‘res’ – está julgada e por isso se fala em ‘res
iudicata’ (coisa julgada), é inadmissível empregar esta locução para designar fenômeno de outra
natureza, correspondente ao pronunciamento que não contém o julgamento da ‘res’” (ARAGÃO, Egas
Dirceu. Sentença e coisa julgada. Rio de Janeiro: Aide, 1992. p. 219).
 
8 “A mais usual das modalidades, a preclusão temporal, consiste na perda do direito de praticar
determinado ato processual pelo decurso do prazo fixado para o se exercício.” (RUBIN, Fernando. A
28/09/2017 Envio |  Revista dos Tribunais
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preclusão na dinâmica do processo civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010, p. 101).
 
9 “A imutabilidade reveste todo o conteúdo decisório, e não apenas o elemento declaratório. Se a
sentença, por exemplo, é constitutiva, não se poderá contestar que a modificação se operou, muito
embora possa cessar ou alterar­se a situação constituída pela sentença.” (MOREIRA, José Carlos
Barbosa. Eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada. Ajuris, Porto Alegre, n. 28, jul. 1983. p.
30). “A coisa julgada é efeito do trânsito em julgado da sentença de mérito, efeito consistente na
imutabilidade (e, consequentemente, na indiscutibilidade) do conteúdo de uma sentença, não de seus
efeitos. Posso renunciar a um direito declarado por sentença: assim agindo, afasto os efeitos da
sentença, sem modificar o seu conteúdo. O que não se pode é renunciar à própria coisa julgada, o que
teria por efeito a possibilidade de instauração de novo processo, a fim de ser outra vez julgada a res.”
(TESHEINER, José Maria Rosa. Eficácia da sentença e coisa julgada no processo civil. São Paulo: RT,
2001. p. 72).
 
10 “Os limites objetivos estão ligados às matérias que serão analisadas na sentença, o conteúdo que
será parte da decisão emanada pelo Poder Judiciário, separando o que fará ou não parte da res
iudicata.” (THAMAY, Rennan Faria Krüger. A relativização da coisa julgada pelo Supremo Tribunal
Federal: o caso das ações declaratórias de (in)constitucionalidade e arguição de descumprimento de
preceito fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013. p. 52). Verbis: “Ma oggetto del
giudicato è la conclusione ultima dei ragionamenti del giudice” (CHIOVENDA, Giuseppe. Princippi di diritto
processuale civile. Napoli: Casa Editrice E. Jovene, 1980. p. 918). “Por límites objetivos se entiende la
frontera que tiene el fallo judicial para no transponer su eficacia hacia otro proceso donde no existe
identidad con lo pedido y la causa petendi, esto es, de la extensión de la cosa juzgada hacia situaciones
fuera del proceso donde se dicta.” (GOZAÍNI, Osvaldo A. Teoría general del derecho procesal:
jurisdicción, acción y proceso. Buenos Aires: Sociedad EDIAR, 1996, p. 265­266).
 
11 Nesse sentido, STJ, 2ª Turma, REsp 861.270/PR, rel. Min. Castro Meira. Ementa: “284/STF. Preclusão
pro judicato. Eficácia preclusiva da coisa julgada. 1. É impossível conhecer­se do recurso especial pela
alegada violação ao art. 535 do CPC (LGL\2015\1656) nos casos em que a argüição é genérica, por
incidir a Súmula 284 (MIX\2010\2009)/STF, assim redigida: ‘É inadmissível o recurso extraordinário,
quando a deficiência na fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia’. 2. Não pode
prevalecer, em face do óbice da preclusão pro judicato, a decisão do

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