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II SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO - REGIÃO SUDESTE ANAIS ENTIDADES PATROCINADORAS CAPES - Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNPq _ Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico FINEP - Financiadora de Estudos e Projetos INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais ANAIS DO II SEMINÁRIO REGIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO REGIÃO SUDESTE Belo Horizonte, 20 a 23 de outubro de 1981 COMISSÃO ORGANIZADORA Betty Antunes de Oliveira (UFSCAR) Elizabeth Maria Pinheiro Gama (UFES) Hermengarda Alves Llldke (UFF, PUC/RJ) Lia Pinheiro Paixão (UFMG) Maria Ignez Saad Bedran (UFMG) SUMARIO Apresentação Programação Abertura Metodologias qualitativas na pesquisa em educação - contribuição ao estudo da escola Alfabetização Democratização do ensino Educação pré-escolar Ensino de segundo grau Formação de professores e especialistas Da prática da pesquisa ao exercício da política em educação Educação popular, educação de adultos Ensino de Ciências e Matemática Ensino de Comunicação e Expressão Ensino superior Politica e planejamento educacional Análise da produção de pesquisa em educação na região Sudeste Pesquisas não apresentadas no seminário Assembleia geral 1 3 10 11 65 70 80 87 94 107 151 163 169 174 185 196 238 247 APRESENTAÇÃO Este volume contém os simpósios e as comunicações de pesquisas apresentados durante o II Seminário Regional de Pesquisa em Educação - Região Sudeste, realizado em Belo Horizonte, no Instituto' de Recursos Humanos João Pinheiro, de 20 a 23 de outubro de 1983. Em novembro de 1982, realizou-se, no Rio de Janeiro, o I Seminário sobre Pesquisa em Educação da Região Sudeste, contando' com a participação de 12 (doze) instituições e de quatro agencias de financiamento a pesquisa. Nas conclusões do I Seminário, os participantes,além de realçarem a importância do evento, recomendaram que houvesse "continuidade de troca de experiências iniciadas por este encontro de modo a assegurar, não apenas o prosseguimento da reflexão sobre a pesquisa educacional, como também a inclusão mais ampla de elementos de toda a comunidade acadêmica nesse trabalho". Assim, orientou-se o II Seminário a todos aqueles que desenvolvessem pesquisas em educação ou tivessem a educação como cerne de sua prática profissional. Os objetivos visados eram: divulgação da pesquisa educacional realizada na região Sudeste; promoção de intera -ção entre pesquisadores em educação para discussão de temas e abordagens metodológicas pertinentes; e discussão das formas de integração da pesquisa i politica educacional. Inscreveram-se para participar do II Seminário 290 (duzentas e noventa) pessoas, sendo 133 (cento e trinta e três) de Mi nas Gerais, 83 (oitenta e três) do Rio de Janeiro, 47 (quarenta e sete) de São Paulo, 18 (dezoito) do Espirito Santo e nove de Goiás e do Distrito Federal. Estas pessoas inscreveram-se como professores e/ou pesquisadores (196), alunos de graduação e de pós-graduação (69) e técnicos do sistema de ensino (25). Foram recebidas 95 (noventa e cinco) comunicações de pesquisas, das quais foram apresentadas 83 (oitenta e três) nas diver sas sessões de comunicações integradas de pesquisas. 0 II Seminário Regional de Pesquisa em Educação cons_ tou de: uma sessão de abertura, três simpósios, dez sessões de comuni-cações integradas de pesquisa e uma sessão de encerramento onde os participantes fizeram a avaliação das atividades realizadas e definiram as diretrizes para o III Seminário. A realização do II Seminário e a publicação dos Anais só foram possíveis graças ao valioso apoio recebido de pessoas e insti-tuições, entre as quais devem ser ressaltadas as contribuições da Coor denação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) , da Financiadora de Escudos e Projetos (FINEP), do Instituto Nacio - nal de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) e da Universidade Fede_ ral de Minas Gerais (UFMG). Com a publicação destes Anais, a Comissão Organizadora' do II Seminário Regional de Pesquisa em Educação - Região Sudeste rei- terá seus agradecimentos a todos que com ela colaboraram e dá por en- cerradas as suas atividades. Betty Antunes de Oliveira (UFSCAR) Elizabeth Maria Pinheiro Gama (UFES) Hermengarda Alves Ludke (UFF, PUC/RJ) Léa Pinheiro Paixão (UFMG) Maria Ignez Saad Bedran (UFMG) PROGRAMAÇÃO Quinta-feira, 20 de outubro de 1983 - 8:30 hs - ABERTURA 9:00 hs às 12:00 hs - SIMPÓSIO "Metodologias qualitativas na pesqui- sa em educação - contribuição ao estudo da escola": Hermengarda Al- ves Ludke (UFF, PUC/RJ, coordenadora), Aparecida Joly Gouveia (USP), Maria Malta Campos (FCC/SP) , Marli E. D. A. de André (PUC/RJ), Mi- chel Thiollent (UFRJ) e Obed Gonçalves (UFES). - 14:00 hs as 18:00 hs - SESSÕES DE COMUNICAÇÕES INTEGRADAS DE PESQUISA Tema 1 - ALFABETIZAÇÃO - Coordenação: Magda Becker Soares(UFMG) . Avaliação de uma proposta curricular para alunos de periferia urbana - alfabetização: Maria Aparecida dos Santos (CENP/SEE/SP) . Critérios para avaliação de noções sobre linguagem escrita em crian ças em alfabetização: Maria Cecília Rafael de Góes (UFSCAR) Influência da merenda escolar no rendimento em alfabetização: Cecília Azevedo D. Coitares (UNICAMP) Pesquisa exploratória da aprendizagem de leitura: Maria de Lourdes Fioravante e equipe de 1° e 2° graus (14- DRE/SEE/MG). Tema 2 - DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO - Coordenação: Zaia Brandão (PUC/ RJ) A escola reprovada - subsídios para compreensão da reprovação esco- lar: Anamaria Luchesi Mourão (IESAE/FGV) A escolarização no meio rural: condições sõcio-económicas e pedagó- gicas de seu desenvolvimento: Maria- Aparecida dos' Santos e Maria Cândida S. C. Pereira (CENP/SEE/SP). . Currículo da escola de 1° grau: o manifesto e o latente: Anna Edith Bellico da Costa e Maria Inês de Matos Coelho (IEMG) . Estudo das disparidades educacionais no Espírito Santo: pesquisa em processo e projeto de formação de pesquisadores: Elizabeth Gama (co ordenadora), Obed Gonçalves, Liney Lucas, Janete M. Carvalho, Maria de Lourdes Salviato, James Doxsey e Anna B. S. Rocha (UFES). Integração da universidade com o ensino de 1° grau: Maria Eloísa Guimarães, Vistoria M.R.B. Machado, Maria Iloni S. Machado e Maria Ignez S. Brod (USU/RJ) Merenda como suplementação alimentar e rendimento escolar: Maria An- tônia Martins Galeazzi (UNICAMP) 0 desempenho académico de alunos de 5- série provenientes de famí- lias de baixo nível económico: Denise Meyrelles de Jesus (UFES) 0 sistema de administração escolar e os determinantes do desempenho dos alunos da 1- série do 1° grau: Maria Auxiliadora C. A. Machadoe Teresinha Lopes Araújo (UFMG) Produção de material didácico de Escudos Sociais: Francisca dos Santos Gonçalves (DEMEC/MG) . Programa de pesquisa sobre a escola básica: Cândido Gomes, Clarice Nunes, Marli André, Sônia Kramer e Zaia Brandão (PUC/RJ) . Projeto ECO-1° grau: uma proposta de introdução do componente económico no ensino de 1° grau: Dalva Carolina de Menezes, Lúcia Tristão Bascos, Elisa Muller, Nivaldo José de Castro, Célia M. M. Castro (UFJF/MG) Tema 3 - EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR - Coordenação: Maria Regina Maluf (PUC/ SP) . A participação de mães na pré-escola: Arlette M.M. D'Antola, Inmacu- lada L.C. de Lucca, Maria Iginia S. Salles, Maria José P.F.P. Macha do, Maria Isabel G. Barros e Márcia Letícia de V. Parra (PUC/SP). . Assessoria pedagógica às Escolas Municipais de Educação lnfantil Es ter Buffa (UFSCAR) . Comportamento em sala de aula, qualificação esatisfação no trabalho de professores de pré-escola: Angela M. M. Casagrande (UFES) . Creche comunitária: uma análise micropolItica: Lívia M. F. Vieira e Regina L. M. Camargos (UFMG) . Programa de intervenção integrada na pré-escola: Neyde Jorge I. Ga 1 do e Eveline Maria Leal Assmar (FGV) . Trabalho feminino e comportamento materno: Sílvia M. Batista (UFES) . Um caminho em direção á pré-escola no Embu- Guaçu: Sílvia G. Daffre (PUC/SP) Tema 4 - ENSINO DE SEGUNDO GRAU - Coordenação: Nilda Alves (UFF) . Escola como representação falseada da realidade: Maria Inês F. L. Vicencini (UNICAMP) . Avaliação de escudos e pesquisas sobre a profissionalização do ensi no de 2° grau no Brasil - 1971/1982: Maria Ignez Saad Bedran (coordenadora), Carlos Roberco J. Cury, Cecília Puntel Motta de Moura e Edil Vasconcellos de Paiva (UFMG) . Avaliação da proposta curricular de educação rural da Escola Caio Martins, de Esmeraldas: Maria Aparecida da Silva (UFMG) . 0 ensino de 2° grau em Minas Gerais: caracterização e perspectivas: Leila Alvarenga Mafra (coordenadora), Ana Zuleina L. Santos, Lucília Regina de Souza Machado e Luiz Pompeu de Campos (UFMG) . 0 perfil do professor de 2° grau - um enfoque antropolótico: Maria Aparecida C. P. Franco e Clarice Numes (USU/RJ) . 0 professor de 2° grau no Estado do Rio de Janeiro: relação da política educacional (1975-1982) com a prática pedagógica concreta: Cós-mo Damião de Ãvila, Eloísa Guimarães, Sara Ghisserman e Vera de Pau- la (UFF) Tema 5 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES E ESPECIALISTAS - Coordenação: Maria de Lourdes Favero (UFRJ e PUC/RJ) . A atuação do projeto LOGOS II no Piauí: uma análise critica: Marli André e Vera Candau (PUC/RJ) . Análise das práticas de formação de educadores: especialistas e pro fessores: Ana Waleska P. de Mendonça, Isabel A. Lelis e Maria de Lourdes Favero (PUC/RJ) . Análise das práticas de formação do professor primário: um estudo ' exploratório: Isabel A. Lelis (PUC/RJ) , A percepção do professor de 1ª a 4ª série face a criança de baixo nível sócio-econômico: Zélia Domingues Mediano (PUC/RJ) . Aperfeiçoamento de professores das disciplinas de formação especial, em exercício nas escolas de 2° grau que oferecem a habilitação Magis- tério de 1° grau, em Minas Gerais: Mirene Mota S. Teixeira, Ana Amé- lia B. de M. Lopes, António de Pádua G. Pimentel, Enilse A. de M.Lima , Maria Luíza A.C. Ferreira, Maria Tereza M. Amaral, Marisa R. T. Duarte, Paulina M.M. Barbosa, Sônia M. Viegas Andrade, Zenita Cunha Guenther (UFMG/SEE/MG) , Aperfeiçoamento de professores de cursos de formação de professores' a nível de 2° grau do Rio de Janeiro: Dyla T. de Sá Brito, Irene S. Telles, Aglael Borges, António F. Moreira, Ana Neri Ponde, Luiza Siano, Catherine Ratto, Cecília Ughetto, Lúcia Fernandes e Regina L. Garcia (UFRJ) . A profissionalização no curso de Pedagogia - um estudo de caso: Hedy Silva Ramos de Vasconcellos (PUC/RJ) Avaliação sistemática da formação de recursos humanos.a nível supe- rior para o setor da educação: Centro de Recursos Humanos (SEE/MG) Efeitos de uma revisão de conteúdos de Matemática através de módulos instrucionais no desempenho das alunas do curso de formação de pro- fessores de lª a 4ª série: Beatriz Helena Alcântara M.da Silva(UERJ) Estudo sobre o manejo de classe em micro classes de Geografia: Alfre_ do G. de Faria Júnior e Marilza L. Batista (UFF) 0 ensino de História: a difícil unidade entre a formação teórica e a prática profissional: Nelma Baldin (PUC/SP) Supervisão educacional: um estudo sobre atribuições e pré-requisitos: Ruth da Cunha Pereira e Dinah Oliveira Santos (UERJ) Sexta-feira, 21 de outubro de 1983 - 9:00 hs às 12:00 hs - SIMPÓSIO "Da prática da pesquisa ao exercício da política em educação" Glaura Vasques de Miranda (UFMG, coordena- dora), Lisete R. G. Arelaro (Secretaria de Educação do Município de Sao Paulo) e Neidson Rodrigues (Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais) - 14:00 hs Is 18:00 hs - SESSÕES DE COMUNICAÇÕES INTEGRADAS DE PESQUI- SA Tema 6 - EDUCAÇÃO POPULAR, EDUCAÇÃO DE ADULTOS - Coordenação: Oder Jo_ sé dos Santos (UFMG) . A percepção de uma comunidade de favela face á escola e o desenvol- vimento de praticas educativas alternativas: Maria Lutgarda M. Maro to, Lígia de Medeiros, Solange Nogueira, Francisca E. Pirozi e Ma- ria L. Souza (PUC/RJ) . As relações de produção e a educação do trabalhador: Acácia Zeneida Kuenzer (PUC/SP) . Cotidianidade e pesquisa em educação: Betth Antunes de Oliveira (UFSCAR) . Elaboração de uma metodologia de ensino da Matemática para adultos: Newton Duarte (UFSCAR) . Estudo comparativo de configuração de situações de probreza; neces- sidades básicas: Luís Parga Nina, Maria Lutgarda M. Maroto, Maria Cecília Minayo, Otávio Neto (PUC/RJ) . 0 impacto das instituições formadoras de mão-de-obra sobre o desen- volvimento de seus egressos - o caso de uma instituição de mao-de - obra para hotelaria: Iris Pereira Rezende (SENAC/DR/ES) . 0 MOBRAL e a alfabetização; a promessa, a experiência e alguma evi- dência de seus resultados: Philip R. Fletcher (Stanford) . 0 papel da escola na estratégia de sobrevivência da população de baixa renda: Ana Maria de Rezende Pinto e Maria Eulina Pinheiro Cha gas (FJP/MG) . Participação comunitária e programas públicos voltados ao ensino ru_ ral: Anamaria Vaz de Assis Libânio (FJP/MG) . Rádio - um canal de interação entre o profissional de saúde a a co- munidade: Eymard Mourão Vasconcelos e Nelsina Melo de Oliveira Dias (UFMG) . Saúde, nunca tive e tive - estudo sobre saúde relacionada ao traba- lho: Mónica Ângela de Azevedo Meyer (UFMG) . Uma tentativa de pesquisa-ação com ex-alfabetizandos adultos: New- ton Duarte (UFSCAR) Tema 7 - ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA - Coordenação: Mirian Kra- silshic (USP) . Implementação de um projeto de metodologia para o ensino de Matemá- tica no 1° grau no município de Viçosa: Elisa M. Diniz Botelho (UFV/ MG) . Influência do uso de recursos muitisensoriais no aprendizado de Fisi ca Básica na Universidade Federal de Viçosa: Luigi Toneguzzo, Edna Cecília A. Gareau, Oderli de Aguiar, Heloísa L.B. Chagas, Luís Carlos de Alvarenga e Vicente de Paula Lelis (UFV/MG) . 0 problema do ensino da subtraçao na 1- série do 1° grau: Anna Fran-chi (PUC/SP) . Projeto de integração da Universidade Federal de Juiz de Fora com o sistema de ensino de 1° grau na zona da Mata de Minas Gerais: Equipe de Pesquisa e Apoio ao Ensino de Ciências (UFJF/MG) . Subprojeto de melhoria do ensino de Ciências e Matemática: Equipe de Pesquisa e Apoio ao Ensino de Ciências (UFJF/MG) . Uma experiência de integração de Ciências no 1° grau: Danilo Del'Du-ca, Délio da Silveira Dias, Hild- L.R. Dall'Orto, José Maurício de Andrade, Leila Amaral Luz, Lúcia Helena G. Teixeira, Maria Bellini A. Monteiro (UFJF/MG) Tema 8 - ENSINO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO - Coordenação: Magda Becker Soares (UFMG) . A linguagem e o processo educativo no Rio Grande do Norte: Sarita Ma ria A. Moysés (UNICAMP) . Aspectos da variação sintética no Português e suas repercussões sobre a escola: Euzi Rodrigues Moraes (UFES) Efeitos de um treino na flutuação das notas atribuídas pelos professores avaliadores a redações: Maria Teresinha de Jesus Castilhos (UFRJ) 0 livro didatico na área de Comunicação e Expressão: Gloria Ponde,Nil da Alves e Wanda Rollin (UFF) Problema da comunicação linguística na escola de 1° grau: Euzi Rodr-guês Moraes e equipe do Programa de Pós-graduação em -Educação (UFES) Tema 9 - ENSINO SUPERIOR - Coordenação: Laura da Veiga (UFMG) . A discussão de projeto como estratégia de ensino na pós-graduação : Maria do Carmo Guedes e Bader Burin Sawaia (PUC/SP) . Análise de dificuldades na elaboração de tesee de dissertação na identificação de prováveis contingências que controlam essa ativida de: Sérgio Vasconcelos de Luna (UNICAMP) Emprego de questionários abertos em pesquisas em educação: Lia Renata Angelini Giacaghia (USP) Formação de técnicos de nível superior no Brasil: Rosemary Doré Soares (UFMG) Implantação de um serviço de orientação educacional na Universidade Federal de Juiz de Fora: Carlos Alberto T. Crivellari, Evando G. de Castro, José Geraldo Teixeira, Maria Teresa A.F. Ribeiro, Rita de Cássia Jacometti, Sandra A. Arbex e Therezinha Lopes de Assis (UFJF/ . Mestrado em educação: é necessário mudar? e compensa?: Célia Lúcia Monteiro de Castro . 0 poder formal e sua efetivação nas instituições de ensino superior: Myrtes Alonso e Maria Christina S. de Souza Campos (PUC/SP) . Orientação de dissertação de mestrado: uma experiência renovadora:Ar lette D'Antola, Inmaculada L.C. Lucca, Marcia L.V. Parra, M. Igínia S. Sales, Maria Isabel S. Barros e M. José P. Machado (PUC/SP) . 0 "trabalhador-estudante": suas condições e especificidades: Marília P. Sposito, Cármen S.V. Moraes, Célia R.G. Falótico, Cleide Lugarini de Andrade, Ivan A. de Oliveira e Waldir Cauvilla (FAFI N.S. Medianei- ra/SP) . Programa integrado de ensino e pesquisa na Universidade Federal de Juiz de Fora: Therezinha Lopes de Assis (UFJF/MC) . Tendências filosóficas de alunos e professores da Universidade Esta_ dual do Rio de Janeiro: Dinorá Pierotti, Iranildes Rodrigues, Magda Silva, Rosiris Costa (UERJ) Tema 10 - POLITICA E PLANEJAMENTO EDUCACIONAL - Coordenação: Dermeval Saviani (PUC/SP) . A educação do menor: atitudes, aspirações e problemas para sua rein- tegração á sociedade: Ângela Valadares D. de Souza Campos (IESAE/FGV) . A função do currículo não manifesto no processo de reprodução cultu- ral: Siomara Borba Leite . A produtividade da escola improdutiva: um (re)exame das relações en- tre educação e estrutura econômico-social capitalista: Gaudêncio Fri- gotto (IESAE/FGV) . A qualidade do atendimento educacional de excepcionais em institui - ções particulares: Malca 0. Beider (UFF) . Estudo sobre o pensamento educacional das elites no Brasil - 1964/73: Maria Inês Salgado de Souza (IESAE/FGV) . Militares e educação: o caso do Brasil - 1930/1945: José Silvério Baia Horta (IESAE/FGV) . 0 sentido político da pratica pedagógica do professor universitário: Leda Scheibe (PUC/SP) . 0 trabalho coletivo em educação: Maria de Lourdes Fioravante (14- DRE/SEE/MG) . Salário-educação em Minas Gerais: um estudo exploratório: Anamaria1 Vaz de Assis Libânio e Lília Maria G. da S. Pereira (FJP/MG) . Um estudo da menor "infratora":da pedagogia "prometida" á pedagogia "praticada": Maria Angela Varella Cabral (UFES) Sábado, 22 de outubro de 1983 - 9:00 hs as 12:00 hs - SIMPÓSIO "Análise da produção de pesquisa em educação na região Sudeste": Zaia Brandão (PUC/RJ, Coordenadora) Dermeval Saviani (PUC/SP) Laura da Veiga (UFMG), Magda Becker Soa- res (UFMG), Maria de Lourdes Fávero (UFRJ e PUC/RJ), Maria Regina Maluf (PUC/SP), Mirian Krasilshic (USP), Nilda Alves (UFF) e Oder José dos Santos (UFMG) - 14:00 hs ás 17:00 hs - ASSEMBLEIA GERAL ABERTURA Vanessa Guimarães Marri, diretora da Faculdade de Educação da UFMG 0 Reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, pro fessor José Henrique dos Santos, deveria estar aqui para a abertura oficial do II Seminário Regional de Pesquisa em Educação - Região Su deste, mas foi impedido no último momento de comparecer. Em meu nome e em nome da Faculdade de Educação quero cumprimentar a todos, ressaltando a importância deste evento que vai permitir, certamente, rica troca de experiências entre os participan tes. Quero cumprimentar especialmente a comissão organizadora do II Seminário pela iniciativa e pela promoção do mesmo. Glaura Vasques de Miranda, presidente da ANPED Em nome da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-gra- duação em Educação, gostaria de cumprimentar primeiro as organizado- ras deste Seminário e realçar a importância deste momento, que é uma oportunidade excelente para o debate, para o melhor conhecimento dos pesquisadores da região e para o intercâmbio tão necessário na nossa área de conhecimento. Desejo, então, que o II Seminário transcorra com o maior sucesso possível. Léa Pinheiro Paixão, comissão organizadora Em nome da Comissão Organizadora quero agradecer a valiosa colaboração recebida da CAPES, do CNPq, DA FINEP, do INEP e da UFMG, pois a realização do II Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sudeste só foi possível graças ao apoio prestado por es- tas instituições. A Comissão Organizadora apresenta suas boas vindas ás pessoas presentes e espera que os trabalhos se realizem de forma bas- tante produtiva. METODOLOCIAS QUALITATIVAS NA PESQUISA EM EDUCAÇÃO - CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DA ESCOLA Hermengarda Alves Ludke - Coordenadora (UFF, PUC/RJ) Aparecida Joly Gouveia (USP) Maria Malta Campos (FCC/SP) Marli E. D. A. André (PUC/RJ) Michel Thiollent (UFRJ) Obed Gonçalves (UFES) HERMENGARDA ALVES Ludke Eu não tenho direito a conversar muito tempo com Vo- cês, para que possamos deixar o maior tempo possível para os deba tes. Cada um dos conferencistas vai ter mais ou menos uns 20 minu tos para sua apresentação e, em seguida, começamos o debate. Sentimos que o tema deste Simpósio era um dos assun-tos palpitantes nas atividades de todos os pesquisadores. Eu acho que o país inteiro está sentindo, esta se despertando para as possibilidades da pesquisa qualitativa dentro do campo da educação. Tivemos uma grande dificuldade, nós da comissão or- ganizadora, de centrar o foco, pois a abertura sobre a metodologia ' qualitativa é muito grande. Finalmente, achamos que o foco sobre a escola era suficientemente forte para aglutinar a discussão, trazendo uma convergência de interesses para todos. Para fazer a discussão em torno da escola, convidamos dois conferencistas - os professores Michel Thiollent e Marli André -, que vão apresentar uma reflexão mais teórica e metodológica. Foram também convidados os professores Obed Gonçalves e Maria Malta Campos, que já usaram a metodologia qualitativa no estudo da escola, que já sentiram no seu trabalho as possibilidades e as limitações desta metodologia e que vão descrever sua experiência. Convidamos a professora Aparecida Joly Gouveia, que inegavelmente, pela sua experiência, pelo seu conhecimento assegurará uma colocação crítica sobre as metodologias qualitativas em confronto com as quantitativas. ASPECTOS QUALITATIVOS DA METODOLOGIA DE PESQUISA EM OBJETIVOS DE DESCRIÇÃO, AVALIAÇÃO E RECONSTRUÇÃO MICHEL JEAN-MARIE THIOLLENT INTRODUÇÃO Nosso objetivo consiste em apresentar notas de reflexão metodológica em torno da questão da relação entre aspectos qualitati vos e quantitativos na concepção da pesquisa social e educacional Tais pesquisas podem ter diversos tipos de objetivos, por exemplo : descrição, avaliação ou (re)construção. 0 primeiro consiste em des- crever uma situação tal como ela é. 0 segundo consiste em avaliar ou medir o que ocorre em comparação a uma norma, critério ou ideal defi nido. 0 terceiro consiste em contribuir para delinear as possíveis transformações da situação vigente num sentido construtivo ou recons_ trutivo. Nos três casos, a metodologia de pesquisa abrange tanto os aspectos quantitativos quanto os qualitativos e pode ser aplicada á realidade escolar para: descrever a situação escolar, avaliar as at-_ vidades educacionais e construir ou reconstruir a escola. Deixamos ' bem claro que não pretendemos responder a todos os problemas encontrá veis cm pesquisas orientadas em função destes três objetivos. Examinaremos diversos tipos de estudo da metodologia,o possível equilíbrio entre aspectos qualitativos e quantitativos,as distorções quantitativas e qualitativas que ocorrem na descrição, em particular na visão experimentalista da pesquisa social. Apresentar- mos algumas indicações sobre o modo de conceber a função crítica na pesquisa. Finalmente, focalizaremos alguns problemas qualitativos es pecíficos das metodologias de avaliação e de reconstrução. 1. ESTUDOS DE METODOLOGIA Tendo em vista a necessidade de um esclarecimento a respeito da metodologia das ciências sociais, precisamos lembrar que este campo de estudo e muito diversificado. Existe uma pluralidade de níveis e abordagens possíveis: a - Metodologia geral (de nível epistemológico), in- cluindo: os problemas da explicação em ciência social, causalidade , teologia, compreensão etc, e a discussão da especificidade das orien taçoes gerais: positivismo, pragmatismo, behaviorismo, experimenta- lismo, fenomenologia, hermenêutica, dialética, etc. b - Metodologia aplicável na arte de conduzir projetos de pesquisa social ou educacional, incluindo: definição de temas, for- mulação de hipóteses, análise de técnicas de suas capacidades e dis- torções. c - Estudo aprofundado das técnicas convencionais,com aspectos qualitativos e quantitativos: questionários, entrevistas.aná lise de conteúdo etc. d - Técnicas quantitativas: amostragem, inferências, correlações, análise fatorial, 'pacotes' de computação etc. e - Técnicas qualitativas formalizadas: gráficos, mo- delagem, gramáticas, estruturas lógicas, inclusive, ao nível das re- lações e contradições sociais (1). f - Métodos especiais: - Métodos de intervenção: pesquisa participante , pesquisa-ação, intervenção sociológica, análise institucional etc. - Métodos de avaliação: com aplicações em educa- ção, organização e tecnologia. - Métodos de projetação: com aplicação em organi- zação, arquitetura, engenharia. - Métodos de prognosticação: técnica Delphi e ou- tras técnicas prospectivas em ciência, tecnolo- gia e politicas públicas. Como se vê, a partir da visão de conjunto da temática da metodologia, existe um leque de preocupações muito diversificadas que não podemos resumir numa oposição do qualitativo versus quantita- tivo. A metodologia não consiste num pequeno número de regras. É um amplo conjunto de conhecimentos com o qual o pesquisador procura en- contrar subsídios para nortear suas pesquisas. As escolhas são efe- tuadas em função dos objetivos das pesquisas e das características ' das instituições. 0 ensino da metodologia deveria facilitar estas esco- lhas, apresentar uma visão de conjunto e permitir o domínio efetivo de algumas técnicas especializadas. Poucos cursos oferecem esta múl- tipla capacitação cuja falta redunda numa produção de teses e pesqui sas sem justo equilíbrio entre aspectos teóricos abstratos e aspec- tos de levantamento e processamento de dados concretos. 2. QUALIDADE E QUANTIDADE No estudo da metodologia das ciências sociais, em par- ticular na pesquisa em educação, podemos distinguir uma pluralidade' de enfoques que dão privilégio quer aos aspectos qualitativos, quer aos quantitativos. Do ponto de vista do ideal geral da ciência, pen- samos que uma articulação dos dois tipos de aspectos é mais satisfa- tória. Mas, dependendo do assunto e da abrangência da observação,cer tas pesquisas são principalmente qualitativas, por exemplo, a descri ção das representações do papei da escola na sociedade, ou principal mente quantitativa, por exemplo, a análise da evasão escolar. Pesqui sas assim delimitadas poderiam ser articuladas numa visão maior na qual haveria uma real combinação de aspectos qualitativos e quantita tivos. A nosso ver, a discussão qualidade versus quantidade' corresponde muitas vezes a um problema mal colocado que, no fundo, está ligado ás características dos pesquisadores e á rivalidade en- tre centros de pesquisa. Na realidade, qualquer fato social e educativo possui aspectos que podemos descrever em termos quantitativos (tamanho da população, repartição por categorias, frequência ou intensidade dos acontecimentos observados etc) e em termos qualitativos (significa- ção, compreensão, "rotulagem" etc). Em alguns casos, a ênfase dada ao quantitativo ou ao qualitativo remete a pressupostos filosóficos divergentes: os do po- sitivismo versus os da fenomenologia ou de correntes por ela influen ciadas. Nas condições intelectuais de hoje, fora de qualquer ecleticismo, precisamos evitar duas formas de "radicalismo". 0 radi- calismo quantitativista, ainda vigente entre positivistas que consi- deram que tudo que não pode ser medido inexiste ou é mera especula - çao que não pode fazer parte da ciência e o radicalismo qualitativo, compartilhado por pesquisadores de orientações humanistas que, de modo exagerado, consideram que qualquer preocupação de ordem quanti- tativa estaria necessariamente vinculada ao positivismo enquanto fi- losofia da ciência e ao conservadorismo, em termos ideológicos. No- tamos que já entre os "neopositivistas", reconhece-se a possibilidade de formulações qualitativas bastante diversificadas. Seja como for, a saída do dilema dos dois "radicalis- mos" corresponde a difícil tarefa do desenvolvimento da ciência so- cial. Para termos uma ideia da possível articulação dos as- pectos qualitativos e quantitativos na concepção da pesquisa social, precisamos relacionar estes aspectos com outras distinções, tais como abrangência micro e macro, observação passiva e ativa etc. 0 cru- zamento desses diversos aspectos nos permite pensar diversas articu- lações entre tipos de enfoques, campos e temas metodologicos, conven- cionais ou não. Vejam fig. 1 e fig. 2 Abrangência Observaçao Macro Micro Passiva Ativa Censos demográfi Escalas de ati- cos, survey... tude e procedi- Agregados socio- mentos semelhan económicos. tes. Analise e inter- Estudos de ca- pretação de ideo sos logias Entrevistas apro Descrição do sis fundadas. tema de ensino. Quantificação Dados sobre a Amostragem população re-in Interferência es seridos em di- tatística versas formas de intervenção Categorização Interpretação de Generalização significados em intuitiva função da situa çao. Estrutura de diálogo e com- preensão. fig. 1 fig. 2 As indicações destas tabelas são apenas exemplos e não são exaustivas. Notamos que a distinção observação passiva/ obser vação ativa, por imperfeita que seja, visa a categorizar, de um lado, os procedimentos com os quais os pesquisadores pretendem minimizar, por motivo de objetividade, o papel da interação investigador/investi gados no campo de observação e, por outro lado, os procedimentos par- ticipativos ou ativos com os quais estabelece-se uma forma de interação explícita. 3. DISTORÇÕES Fazer uma investigação, cujos resultados compõem uma 'descrição, é, de fato, elaborar um discurso sobre dado assunto. Nunca devemos esquecer que os fatos ou o real nao falam sozinhos. Sempre os interesses e as características sócio-culturais de quem faz o discurso influem de alguma maneira no que é dito e no que fica escondido . Sempre há distorções tanto nas orientações quantitativas quanto nas qualitativas. As distorções quantitativas são devidas á precarie dade das fontes, á manipulação da informação oficial, á imprecisão' das técnicas. Em alguns casos as distorções quantitativas estão di-retamente ligadas as distorções qualitativas; parcialidade da abordagem, exclusão de certas variáveis, sociocentrismo dos pesquisadores e artificialidade dos procedimentos de quantificação de fenómenos subjetivos (opiniões, motivações etc). Do ponto de vista qualitativo, no modo de dar nomes ás coisas (isto é, conceituação, categorização, classificação' ou 'rotulagem') existem distorções semânticas, em particular rela -cionadas com a polissemia das palavras, com sua imperfeita conpreen sao nas situações de investigação e com as diferentes conotações a-sociadas; algumas delas têm, inclusive, implicações morais (por e-xemplo, a marginalidade). Ainda no plano qualitativo, outra fonte de distorção a ser controlada é relacionada com as generalizações ' estabelecidas nas conclusões a partir dos resultados que nem sempre permitem inferir o que os pesquisadores pretendem. Temos abordado a questão das distorções de modo mais desenvolvido em outros trabalhos (2). Sem retomarmos toda essa discussão, lembraremos ape-nas que, na concepção positivista tradicional, a objetividade é de sejada, por meio da quantificação como modo de eliminar as distor -ções devidas á subjetividade dos pesquisadores. Numa concepção critica, as distorções são consideradas como características da pesqui-sa que não podem ser eliminadas. Nem todas as distorções são de natureza quantitativa e de caráter corriglvel, tal como no caso dos erros de amostragem. As distorções mais sutis são de natureza quali_ tativa (desníveis de comunicação e de interpretação) e nao podem ser eliminadas. Só podemos pretender controlá-las por meio de recursos reflexivos epistemológicos e metodológicos. As condições de objetividade e as distorções variam em função do tipo e da concepção da observação. Retomando a distinção entre observação passiva e ativa, podemos resumir alguns aspec -tos do problema na fig. 3 Observação Passiva Ativa Quantificação Inferencia submetida Substituibilidade dos ao consenso pesquisadores Amostragem probabilis Escolhas intencionais explicitadas Efeitos de tipo s Distorçoes ideologi- "Cavalo Hans" e cas Reproduçao e represen "Rosenthal". Pre- interpretagoes e tacoes de criterios do vieses em função do grupo. sociocentrismo e ideo logias fig. 3 As distorções existem tanto no plano quantitativo quanto no qualitativo e tanto no modo de observação passiva quanto no ativo. Cada tipo de pesquisa possui suas próprias distorções. A concepção tradicional de eliminação por métodos exclusivamente passi- vos nos parece ilusória. 0 que não quer dizer que os métodos da orientação ativa estejam imunes. 4. EXPER1MENTALISM0 Na área de pesquisa psicossocial, R. Rosnov mostrou algumas das limitações e distorções introduzidas pela aplicação do método experimental, especialmente sob forma de experimentos de la- boratório (3). As distorções são de vários tipos, algumas são rela- cionadas com a artificialidade da situação das pessoas dentro de um experimento, com caráter a-histórico e fora das significações vincu- ladas ãs situações da vida real. Esta artificialidade gera "fatos" , "dados" ou representações que têm pouca relação com os problemas que estão sendo pretensamente analisados ("artefatos"). Existem distor- ções ligadas ao condicionamento dos indivíduos objetos de investiga- ção que dão respostas sempre favoráveis aos objetivos dos experimen- tadores (isto é chamado efeito "Cavalo Hans", em memoria a um famoso cavalo alemão superinteligente que respondia às perguntas do seu dono, mesmo na área de aritmética, e que, de fato, era condicionado pa ra sempre satisfazer as expectativas do dono). Hà também outras distorções ligadas á interferência das expectativas dos pesquisadores ' nas suas próprias observações (isto é chamado "efeito Rosenthal")(A). A combinação dos dois tipos de efeitos, frequente em muitas pesquisas experimentais ou quase- experimentais, gera uma enorme distorção' que contrasta com a aparente precisão numérica dos dados coletados no experimento. A artificialidade se manifesta no isolamento dos temas, dos problemas e das variáveis (por exemplo: variáveis levadas em conta nos estudos sobre a desobediência de S. Milgram) e nas técnicas de medição dessas variáveis. Além do problema da precária relevância da informação processada, a artificialidade criada pelo experimentalismo apresenta problemas de ordem ética. Rosnou e muitos outros têm questiona do a moralidade de certos experimentos de psicologia social em situa ção de laboratório, em particular, daqueles que recorrem a choques eletricos. Por sua vez, M. Bulmer questionou também a moralidade de pesquisas conduzidas com métodos diferentes, principalmente com os métodos de participação encoberta em situação real (5). De modo geral, a critica ao experimentalismo ( de tipo laboratório) no contexto social, psicossocial ou educacional não deve ser considerada como "proibição" de qualquer experimento ou de todos os levantamentos de hipóteses a serem comprovadas numericamente. A crítica ao experimentalismo é, sobretudo, a crítica de um excesso ou desvio positivista, a partir do qual os pesquisadores perdem de vista a especificidade social-humana de seu objeto de estudo. 5. ORIENTAÇÃO CRITICA A concepção da pesquisa social é, sem dúvida, de ti-po principalmente qualitativo. No entanto, se associarmos á ideia de crítica, uma função de elucidação, de denúncia ou de outros tipos de contribuição ao debate público em torno dos problemas sob observa çao, podemos considerar que os números também podem exercer uma função crítica. A quantificação dos dados não nos parece em si mesma um ato condenável do ponto de vista crítico. 0 que há de criticável na corrente concepção da quantificação é o seu empirismo grossei-ro. A nosso ver, elementos de medição podem ser inseridos numa con - cepção alternativa da pesquisa, no intuito de fortalecer os argumen tos. Independentemente de uma estrita precisão, nunca alcançável, é interessante sabermos numa pesquisa se estamos falando de 8 ou de 80. Em particular no caso de pesquisas sobre opiniões ou representações, e claro que os cálculos de frequência ou os diversos sistemas de ponderação devem ser discutidos. Do ponto de vis ta crítico, não se pode atribuir sem discussão um "peso" social que seja proporcional á frequência das opiniões no público, pois, desta maneira só chegaríamos a confirmar que as ideias dominantes dominam ou são majoritárias. A significação ou "peso" social de certas' ideias inovadoras não são determinados pela Frequência. Ideias pouco difundidas podem vir a ter um papel mais importante do que as ideias majoritárias . A função crítica de uma pesquisa social pode ser interpretada de diversas maneiras. Estamos propensos a considerar que ela consiste num questionamento da situação na qual se estabele-ce a diferença existente entre as exigências objetivas da realidade e os aspectos sociais arbitrários e transformáveis. Com isto, tra-ta-se de mostrar as tensões que existem entre o que é e o que poderia ser, de demistificar os bloqueios á transformação ou de expio -rar possíveis ações. Com a concepção crítica, abre-se um espaço para diferentes efeitos comunicativos, alguns de tipo "denúncia", o que, mediante uma adequada circulação nas redes de relações sociais, pode apressar ou contribuir a superar os obstáculos á mudança. Neste sentido, a função critica da pesquisa educa- cional seria concretizada num conjunto articulado de interrogações' precisas que é necessário ao questionamento global do sistema esco lar e á busca de alternativas sem compromisso com a reprodução da situação vigente. 6. AVALIAÇÃO Entendemos por avaliação toda forma de raciocíniona qual não se trata de observar ou de comparar fatos entre si e sim de comparar um fato (situação ou desempenho) em relação cora normas ou critérios previamente definidos e selecionados entre normas ou critérios possíveis. No contexto educacional, a avaliação é uma dimen -são permanentemente presente, tanto ao nível individual (alunos,pro-fessores) quanto ao nível coletivo (escolas, sistemas pedagógi-cos etc). A escolha e a justificativa dos critérios de avaliação são geralmente relacionadas com objetivos práticos: Seleção, reformas etc. Em termos gerais, a avaliação possui uma combinação de aspectos qualitativo (atribuição de uma qualidade a um aluno, um trabalho, uma escola) e quantitativo (intensidade da qualidade ' apreciada por meio de graus de uma escala). Muitas das distorções que ocorrem em simples des- crições reproduzem-se nas avaliações, frequentemente de modo amplia do. Assim por exemplo, as expectativas dos avaliadores (efeitos Ro-senthal) são bem conhecidas em matéria de avaliação educacional e existem tanto na pratica de ensino quanto na prática de pesquisa. Os processos de avaliação merecem ser discutidos no intuito de se evendenciarem seus aspectos sociais e ideológicos. Segundo a interpretação de P. Mchugh e outros (6), a avaliação do trabalho cientifico (e, por extensão qualquer forma de avaliação) possui uma dimensão de ação moral que os positivistas pretendem naturalizar, dando conta dela de modo descritivo como se os critérios, normas ou convenções fossem de tipo 'leis da natureza'. Quando é concebida de modo positivista, a pesquisa avaliativa e apresentada como pesquisa científica comum, sem cará-ter de relatividade associada aos critérios, normas ou convenções ' escolhidas. A avaliação sempre pressupõe uma relação de poder (admissão, sanção, Seleção, exclusão etc) cujas regras ou critérios são, em geral, utilizados como elementos de legitimidade das avaliativas. A objetividade de uma avaliação e relacionada á aplicação racional de um critério que sempre possui algum caráter arbitrário. A negação destes fatores e a objetividade absoluta das avaliações ' pertencem ao antigo ideário positivista. Uma postura crítica, em matéria de avaliação, exige que sejam qualitativamente explicitados os critérios utilizados' e desvendadas as suas implicações ao nível das relações de poder no seio das instituições. Na avaliação, não há um padrão único e ind-pendente de uma definição institucional ou de uma concepção do sa-ber (7). Avaliar um aluno ou uma situação educacional não consiste numa simples medida e não e comparável a uma medida "fisio_ lógica". A avaliação funciona a partir de um sistema de critérios que é utilizado pelos agentes avaliadores dentro de um campo social no qual mergulham, muitas vezes, sem eles terem um claro domínio das implicações em matéria de diferenciação e de reprodução de uma realidade sócio-educativa. Tal realidade não pode ser entendida em termos de simples habilidades intelectuais ou manuais independentes das definições sociais das mesmas e das manifestações de poder. Esta colocação nos leva a acentuar o papel de uma reflexão qualitativa em matéria de pesquisa em avaliação na área educacional,na qual a engenhos idade dos procedimentos quantitativos' sempre depende de pressupostos qualitativos. 7. RECONSTRUÇÃO Dentro de uma concepção do conhecimento que seja também ação, podemos conceber e planejar pesquisas cujos objetivos' não se limitem á descrição ou á avaliação. Na fase de construção ou de reconstrução, não basta descrever e avaliar. Precisamos produzir ideias que antecipem o real ou que delineiam um ideal. Neste sentido, os pesquisadores precisam definir novos tipos de exigências e de utilização do conhecimento para con- tribuírem á transformação da situação. Isto exige que sejam adequa- damente controladas as funções sócias do conhecimento para favorecer as condições do seu uso efetivo. Dentro de um realista equacio namento dos problemas educacionais, tal controle visa a minimizar os usos meramente burocráticos ou simbólicos e a maximizar os usos realmente transformadores. As ciências sociais precisam sair das armadilhas do intelectualismo. Quando é o caso, vale a pena adotar uma linguagem' mais simples, possibilitando a comunicação fora dos círculos acadé- micos fechados. Esta exigência se manifesta em particular no caso dos métodos de intervenção ativa, com objetivos de esclarecimento ' das micro-situações ou de limitadas transformações sociais. Mas a adoção de uma linguagem mais simples não deve ser entendida como de missão diante do senso comum. Os objetivos teóricos da pesquisa devem ser constantemente reafirmados e afinados no contato com as situações abertas ao diálogo com as linguagens mais populares. Na reconstrução, planejamento ou projetação, não se trata de observar e descrever como fase de descrição. 0 problema consiste em saber como alcançar determinados objetivos, produzir de terminados efeitos, conceber objetos, organizações, práticas educa- cionais, suportes materiais como características preestabelecidas. A forma de raciocínio projetual é diferente das formas de raciocínio descritivo e explicativo relacionadas com a observação de fatos. No caso da projetação, pressupõe-se que o pesquisador dispõe de um conhecimento prévio a partir do qual serio resolvidos os problemas de concepção do objeto de acordo com regras ou critérios a serem concretizados (8). não e um método de obtenção de informação: é um método de "injeção" de informação na configura çao do projeto. Numa visão reconstrutiva, a concepção das atividades pedagógicas e educacionais não é vista apenas como transmissão ou aplicação de informação. Ela tem também uma dimensão conscienti-zadora. Na investigação associada ao processo de reconstru-ção, elementos de conscientizaçao podem ser levados em consideração nas próprias situações investigadas, em particular entre professo -res e na relação professor/aluno. Uma reciclagem das ideias na fase de investigação1 acompanha a descrição ou a explicação por meio de divulgação dos primeiros resultados. A conscientizaçao não é somente um processo ex post, concebido depois da divulgação dos resultados. um proces so que pode ser associado a própria geração dos dados, pelo menos em escala reduzida. A reciclagem das ideias no contexto das práticas transformadoras e emancipatórias é diferente da comum reciclagem das opiniões na formação da opinião pública. Pois não se trata de promover reações emocionais e sim disposições a conhecer e agir de modo racional. Na reconstrução, a pesquisa esta incluída num processo de caráter conscientizador e comunicacional (que não deve ser confundido com simples propaganda ou "politicagem"). Os pesquisadores estabelecem canais de investigação e de divulgação nos meios e tudados, nos quais a interação entre os grupos os "mais esclareci -dos" e os "menos esclarecidos" gera ou prepara mudanças coletivas ' nas representações, comportamento e formas de ação. Isto corresponde a um tipo de questionamento a partir do qual a realidade é discutida, levantada, analisada e transformada em função de objetivos' e normas a serem explicitados. E necessário que os pesquisadores le_ vem em conta os aspectos comunicacionais na espontaneidade e no planejamento consciente de ações transformadoras. Tal comunicação não é concebida apenas como processo unilateral emissao-transmissao-recepçao e sim, como processo muitidirecionado e de ampla interação. Este processo é normativamente dirigido no sentido de fortale- cer as tendências criadoras e construtivas. CONCLUSÃO Apresentamos um quadro de reflexão metodológica no intuito de mostrar diversos aspectos qualitativos e quantitativos e de facilitar o desenvolvimento de pesquisa com objetivo de descri -çao, avaliação e reconstrução, tendo em vista as situações, institui coes e práticas educacionais. Nossa "tese" se resume no seguinte: de um lado, não se justifica a pretensão estritamente quantitativa da metodologia po- sitivista e, por outro lado, a metodologia de pesquisa científica não se limita ao qualitativo. Precisamos de uma articulação entre os dois tipos de aspectos.Nas pesquisas de finalidade descritiva, ao nível da observação e da experimentação, os aspectos qualitativos devem ser levados em consideração para o equacionamento e o controle das distorções. Em função dos objetivos de avaliação, a habilidade qualitativa dos pesquisadores consiste, sobretudo, em saberem lidar com a normatividade, a comparação do real e do ideal. No caso da re- construção, alem do que precede, a adequada conduta na pesquisa re- quer capacidade de criação e estabelecimento de uma estrutura comu- nicativa própria á ação transformadora. NOTAS (1) NAVILLE, P.. Sociologie et logique. Paris, P.U.F., 1982 (2) THIOLLENT, M. Crítica metodológica, investigação social e enque- te operária. São Paulo, Polis, 1980. Ver também "A captação de informação nos dispositivos de pesquisa social: problemas de distorção e relevância". Cadernos do CERU. São Paulo, (16):81- 105, 1981. (3) ROSNOW, R.. Paradigms in transition, the methodology of social inquiry. Oxford University Press, 1981. (A) _________ . pp. 37-53. (5) BULMER, M. (org.). Social research ethics. Londres, MacMillan , 1982. (6) MCHUGH, P. etc alii. The begining of social inquiry. Londres, R. K. P., 1974. (7) No contexto universitário dos anos 70, temos abordado alguns as pectos dos problemas da relatividade das avaliações em diversos textos: As relações sociais na universidade. Campinas, FAE/ UN1CAMP, 1977. 14 p. Avaliação e reavaliação do saber. Campinas, FAE/UNICAMP, 1977. 13 p. Aspectos sociais da didática universi- tária. Educação e Sociedade. São Paulo, (A): 123-136, 1979. Re- flexões sobre avaliação e valorização do conhecimento. Marco. (1): 45-57, 1979. (8) Tema desenvolvido no nosso artigo "L'analyse des inférences pra tiques dans les formes de raisonnement technologique", 1983. 39 p. (inédito). ESTUDO DE CASO: SEU POTENCIAL NA EDUCAÇÃO MARLI E.D.A. ANDRÉ Há muitos anos o estudo de caso vem sendo utilizado como forma de investigação em disciplinas como a sociologia, a an- tropologia, a história, a psicologia, o direito, a medicina, o servi- ço social, cada uma delas procurando desenvolver procedimentos que tornem a abordagem adequada a seus respectivos propósitos. 0 estudo de caso na educação, entretanto, S algo muito mais recente. Seu principal marco é provavelmente uma conferencia internacional realizada em dezembro de 1975, em Cambridge, Inglaterra sob o tema: Métodos de Estudo de Caso em Pesquisa e Avaliação Edu- cacional , onde foram levantadas e debatidas várias questões relacio- nadas ao uso dessa abordagem no campo da educação. 0 documento final do encontro (Adelman et al. , 1976) sintetiza as principais conclu- sões do grupo de participantes da conferência as quais ressaltaram a necessidade de "elucidar melhor os pressupostos epistemológicos e teóricos do estudo de caso na pesquisa educacional" e de refletir »o bre as questões metodológicas a ele associadas (Simons, 1980). A própria conceituação de estudo de caso, suas ca- racterísticas distintivas e a forma de desenvolver tal tipo de traba- lho são aspectos que pare em não ter sido ainda suficientemente dis- cutidos entre os educadores, o que tem originado uma série de incom- preensões e mistificações sobre o seu potencial efetivo na educação. Procurei tomar aqui alguns desses aspectos. 1. ESTUDO DE CASO: DEFINIÇÃO A primeira questão ao tratar do tema estudo de caso, relaciona-se a sua definição: 0 que é estudo de caso? A posição tomada na Conferência de Cambrige (Adelman et al., 1976), foi que o estudo de caso I um termo amplo, incluindo "uma família de métodos de pesquisa cuja decisão comum é o enfoque numa instância" (p. 2). Partindo desta mesma definição, Nisbett e Watt (1978) sugerem que o estudo de caso seja entendido como "uma investigação sistemática de uma instância específica" (p. 5). Esta instância, segundo eles, pode ser um evento, uma pessoa, um grupo, uma escola, uma instituição, um programa, etc. Reconhecendo que o caráter amplo da definição pode levar a interpretações indevidas, os participantes da Conferencia de Cambridge procuraram antecipar, no documento final do encontro, al- gumas das possíveis atribuições equívocas á estratégia. Em primeiro lugar, dizem eles, o estudo de caso não pode ser igualado aos estudos de observações participantes, pois isso excluiria o estudo de caso histórico, não menos interessante e relevante que os trabalhos de observação. Em segundo lugar, enfatizam eles, estudos de caso não podem ser tomados simplesmente como esquemas pré-experimentais' de pesquisa. Embora eles sirvam muitas vezes para indicar variáveis que são manipuladas e controladas posteriormente em estudos experi- mentais, esta não é sua única função. 0 conhecimento gerado através do estudo de caso tem um valor único, próprio e singular. Em tercei ro lugar, o documento esclarece que estudo de caso não ê o nome de um pacote metodológico padronizado, isto é, não é um método especí- fico de pesquisa, mas uma forma particular de estudo. As técnicas de coleta de dados utilizadas no estudo de caso se identificam com as técnicas do trabalho de campo da sociologia e antropologia. A meto- dologia do estudo de caso ê, porem, eclética, incluindo, via de re- gra, observação, entrevistas, fotografias, gravações, documentos, anotações de campo e negociações com os participantes do estudo. 2. CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS Os estudos de caso pretendem retratar o idiossincrá tico e o particular como legítimos em si mesmos. Tal tipo de in- vestigação toma como base o desenvolvimento de um conhecimento idio gráfico, isto é, que enfatiza a compreensão dos eventos particula - res (casos). 0 "caso" é assim um "sistema delimitado", algo como uma instituição, um currículo, um grupo, uma pessoa, cada qual tra- tado como uma entidade única, singular. Algumas das características ou princípios gerais' que são frequentemente associados ao estudo de caso são os seguin - tes : 1 - Os estudos de caso buscam a descoberta. Mesmo que o investigador parta de alguns pressupostos que orientam a cole ta inicial de dados, ele estará constantemente atento a elementos ' que podem emergir como importantes durante o estudo, aspectos não previstos, dimensões não estabelecidas a priori. A compreensão do objeto se efetua a partir dos dados e em função deles. 2 - Os estudos de caso enfatizam "a interpretação em contexto". E um pressuposto básico de tal tipo de estudo que uma apreensão mais completa do objeto estudado só é possível se for le- vado em conta o contexto no qual este se insere. 3 - Estudos de caso procuram representar os diferen tes e, às vezes, conflitantes pontos de vista presentes numa situa - çao social. Nesse tipo de estudo, o pesquisador se propõe a respon der ás múltiplas e, geralmente, conflitantes perspectivas envolvidas numa determinada situação. Ele o faz, principalmente, através da ex- plicitação dos princípios que orientam as suas representações e in- terpretações e através do relato das representações e interpretações dos informantes. 4 - Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação. Ao desenvolver o estudo de caso, o pesquisador faz uso frequente da estragégia de triangulação, recorrendo para isso a uma variedade de dados, coletados em diferentes momentos, em situações variadas e provenientes de diferentes informantes. Ele pode usar também a triangulação de métodos - checagem de um aspecto, questão ou problema, através do uso de diferentes métodos. E pode recorrer ainda a triangulação de investigadores - dois ou mais observadores fo- lizando o mesmo objeto. Finalmente ele pode usar a triangulação de teoria, isto é, analisar os dados á luz de diferentes pontos de vista teóricos. E ainda, ele pode combinar os diferentes tipos de trian gulaçao no mesmo estudo.5 - Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas. 0 pesquisador procura des- crever a experiência que ele está tendo no decorrer do estudo, de modo que, os leitores possam fazer suas "generalizações" naturalísti- cas". Em lugar de pergunta "Esse caso é representativo do quê?" o leitor vai indagar "0 que eu posso (ou não posso) aplicar desse caso para a minha situação?". A generalização naturalística se desenvolve no âmbito do individuo e em função de seu conhecimento expe-riencial . 6 - Os estudos de casos procuram retratara realida de de forma completa e profunda. Esse tipo de estudo pretende revelar a multiplicidade de dimensões presentes numa dada situação, fo- calizando-a como um todo, mas sem deixar de enfatizar os detalhes , as circunstâncias específicas que favorecem uma maior apreensão desse todo. 7 - Os relatos de estudo de caso são elaborados nu-ma linguagem e numa forma mais acessível do que os outros tipos de relatório de pesquisa. A própria concepção de estudo de caso implica que os dados podem ser apresentados numa variedade de formas tais como colagens, dramatizações, fotografias, apresentações orais, auditivas, visuais ou uma combinação delas. Os relatos escritos apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições. Em vista dessas várias características pode-se indagar: Em que o estudo de caso se distingue de outros tipos de estu do? Acredito que sua característica mais distintiva é a ênfase na singularidade, no particular. Isso implica que o objeto de estudo seja examinado como único, uma representação singular da realidade, realidade esta, muitidimensional e historicamente situada. Desse modo, a questão sobre o "caso" ser ou não "típico", isto é, empiricamente representativo de uma população determinada torna-se completamente inadequada, já que cada "caso" é tratado como único, singular. Como se coloca então o problema da generalização nesse tipo de investigação? A generalização aqui é tratada como um processo subjetivo e não como um ato de inferência' lógica (ou estatística). 0 reconhecimento de semelhanças ou de aspectos típicos ocorre no domínio do indivíduo. É o que Stake (1978) chama de "generalização naturalística". Na medida em que o sujeito (o leitor) percebe a equivalência de tal caso particular com outros casos ou situações por ele vivenciadas anteriormente, ele estabelece as bases da generalização naturalística. Para isso, usa priorita riamente um tipo de conhecimento que Polanyi chama de conhecimento' tácito que são aquelas sensações, intuições, percepções que não podem ser expressas em palavras. 0 estudo de caso supõe que o leitor' vá usar esse conhecimento tácito para fazer as generalizações e para desenvolver novas ideias, novos significados, novas compreensões. O estudo de caso valoriza o conhecimento experimen- tal e enfatiza o papel importante do leitor na geração do conhecimen- to. E o leitor que deve perguntar a si mesmo: "0 que existe neste es tudo que eu posso aplicar á minha situação?" E ao fazer as associa - ções e dissociações, o leitor vai construindo as suas próprias inter pretaçoes, vai desenvolvendo o seu processo de compreensão das coi- sas, da realidade, do mundo. E essencial então que o retrato vivo e completo produzido pelo estudo de caso apresente todos os elementos' necessários para que o leitor possa fazer as suas interpretações,rei- terando ou não, as representações do autor. 0 relato do caso deve deixar muito clara a distinção entre descrição e interpretação, evi- dências primárias e secundárias, afirmações gerais e depoimentos, re sumos e citacões. 3. ALGUNS DILEMAS DA PRATICA DO ESTUDO DE CASO Na própria conceituação de estudo de caso - exame apro fundado e sistemático de uma instância - está implícita a necessidade de um contato estreito e prolongado do pesquisador com a situação ou objeto pesquisado. Podemos então levantar a seguinte questão: como é possível dentro das condições de trabalho do pesquisador brasileiro- que, em geral, desenvolve suas atividades de pesquisa em paralelo a uma série de outras atividades - administrativas, docentes, cultu- rais - realiza um tipo de estudo que requer permanência longa e con- centrada no campo e uma intensa imersão nos dados? Como conciliar as exigências da prática da pesquisa com as demandas da atividade profi- sional diária? Estamos certamente diante de um dilema. Deste dilema , entretanto, partilham muitos pesquisadores, até mesmo os de contextos culturais bem desenvolvidos como a Grã Bretanha de que nos fala Robert Walker, num interessante artigo sobre a teoria, a ética e os procedi- mentos do estudo de caso em educação (Walker, 1980). Discutindo for- mas alternativas de resolver o impasse, Walker sugere que o pesquisa- dor educacional desenvolva o trabalho num período condensado de tempo mas empreenda uma intensa negociação com os sujeitos do estudo e com os responsáveis pelo financiamento do estudo de modo a poder revelar' as diferentes e talvez divergentes concepções sobre o fenômeno estuda- do. A visão do autor ê a de que o estudo de caso deve ser um retrato ' vivo da realidade educacional em suas múltiplas dimensões e complexida de própria. 0 pesquisador tem assim uma certa obrigação de apresentar' as interpretações diferentes que diferentes indivíduos ou grupos desen volvem sobre uma mesma situação e deve fazê-lo de tal forma que possibilite uma variedade de interpretações da situação. Outra exi- gência seria a explicitação dos métodos e procedimentos utilizados pe- lo pesquisador, de modo que, se os próprios informantes quissessem continuar o estudo, eles saberiam que caminho seguir. 0 processo de investigação deve envolver ainda, segundo Walker, uma constante nego- ciaçao entre o pesquisador e os informantes sobre aquilo que é relatado. As negociações, no caso, dizem respeito á acuidade e relevância daquilo que é selecionado para apresentação assim como o conteúdo das informações, isto é, o que pode ou não pode e o que deve ou não deve ser tornado público. evidente que um trabalho de campo condensado vai só agravar as criticas geralmente feitas ao estudo de caso, principalmente sobre a validade e fidedignidade dos dados. Pode-se, contudo, responder a essas criticas, lembrando que, nesse tipo de pesquisa, os conceitos de validade e fidedignidade não devem ser vistos do mesmo modo como no paradigma científico-convencional. 0 conceito u-sual de fidedignidade envolver o confronto ou a relação entre os eventos e a sua representação, de modo que diferentes pesquisadores possam chegar ás mesmas representações dos mesmos eventos. No estudo de caso, este problema se coloca de maneira bem diferente já que o proposto é apresentar a informação de forma que dê margem a múltiplas interpretações. Não se parte do pressuposto de que as representações do pesquisador sejam a única forma de apreender a realidade, mas assume-se que os leitores vão desenvolver as suas próprias re- presentações e que estas são tão significativas quanto as do pesquisador. 0 problema da validade se torna realmente grave se não i possível permanecer tempo longo no campo, quando o pesquisador teria oportunidade de corrigir falsas interpretações ou esclarecer interpretações duvidosas. Judith Dawson (1982) discute espe- cificamente a questão da validade na pesquisa qualitativa e sugere uma serie de procedimentos para aumentar a probabilidade de que os dados relatados sejam válidos. Entre outras, ela sugere que todo o trabalho de pesquisa seja desenvolvido por um grupo de pesquisadores. Alem disso, recomenda o emprego de diferentes métodos de investigação, de uma variedade de informantes e de uma diversidade de contextos e a Subsequente triangulaçãodas informações obtidas. Sugere também a definição progressiva do foco principal do estudo e outras estratégias cuja discussão exaustiva extrapolaria o âmbito deste trabalho. Uma das implicações do estudo de caso num período concentrado de tempo no campo é a de que o pesquisador provavelmente utilizará muito mais a entrevista do que é usual nos estudos de observação participante. Porque o pesquisador se propõe a retratar a situação pesquisada era suas múltiplas dimensões, ele vai buscar nos informantes a variedade de significados que eles atribuem a essa situação. Para realmente obter os dados necessários ele terá, sem dúvida, que garantir aos informantes o sigilo das informações e provavelmente o controle sobre o conteúdo e a publicação dos dados. Isso significa que, se por um lado, o sigilo garante a obtenção dos dados que podem orientar mais precisamente a pesquisa e aumentar a validade das interpretações, por outro lado, a possibilidade de con-trole das informações pelos informantes pode fazer com que aspectos cruciais da situação sejam parcial ou até mesmo integralmente elimi nados do estudo. Evidentemente aqui está uma questão ética bastante delicada e muito difícil de resolver. Para concluir eu gostaria de levantar a seguinte questão: Em que medida é o conhecimento gerado pelo estudo de caso diferente do conhecimento gerado por outros tipos de pesquisa? Repetindo um pouco Stake (1981), eu diria que o conhecimento derivado do estudo de caso é mais concreto, mais con textual e mais sujeito a interpretação do leitor do que o conhecimen to gerado em outros tipos de pesquisa. Em primeiro lugar, o estudo de caso pretende re- presentar uma instância em ação e o faz através de uma linguagem simples, coloquial, com figuras de estilo, exemplos, ilustrações, descrições, transmitindo as experiências do autor e apelando para o conhecimento pessoal, tácito e experiencial do leitor. evidente que os estudos de caso podem incluir também terminologias mais sofisticadas, concepções mais abstratas. Isso vai depender dos propósitos do estudo e da clientela a quem é dirigido. Q fato relevante aqui é que o estudo de caso não privilegia apenas um estilo de apre sentação-formal, hermético, cheio de conceitos abstratos - mas procura utilizar formas de representação que evoquem os processos de julgamento que as pessoas usualmente empregara para compreender a vida e as ações sociais que a cercam. Em segundo lugar, os estudos de caso enfatizam a importância de contextualizar as informações e situações retratadas. Tal principio se apoia no pressuposto de que a realidade é complexa e os fenómenos são historicamente determinados, daí a necessidade de que sejam levadas em conta todas as possíveis variáveis associadas' ao fenômeno. E por isso que o estudo de caso focaliza o particular1 tomando-o como ura todo, atendo-se aos seus componentes principais , aos detalhes e á sua interação. Finalmente, os estudos de caso devera ser elaborados de modo a permitir interpretações alternativas e generalizações na- turalisticas. Considerando que o processo de compreensão da realida-de social envolve não so o conhecimento lógico formal mas outros ti_ pos de conhecimento - como as intuições, sensações, impressões - o estudo de caso é estruturado de tal maneira a permitir a manifestação dessas várias formas de conhecimento e de favorecer o desenvolvimento de interpretações alternativas. Assim os relatos do estudo de caso devem conter uma grande massa de dados brutos suficientemen te ricos para admitir Subsequente interpretação. Devem também descrever os métodos de trabalho empregados assim como o processo de triangulação utilizado pelo pesquisador para que seja possível julgar a validade e os vieses da informação. Devem ainda apresentar os pontos de vista dos diferentes participantes frente á problemática' estudada assim como suas reações ao relatório do estudo, para que seja possível ao leitor compreender a situação em sua complexidade' própria e fazer julgamentos sobre as implicações do estudo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADELMAN, C. et ai. Re-thinking case study: notes fron the second Cara bridge Conference. Cambridge Journal of Education, 6,3, 1976. DAWSON, J. A. Qualitative research findigs: what do we do to improve and estimate their validity? Trabalho apresentado no Encontro Anual d' AERA, New York, i982. NISBETT, J. e WATT; J. Case Study. Redguide 26: Guides in Educatio-nal Research. University of Nottingham School of Education, 1978. SIMONS, H. (ed.) Towards a Science of the singular. Norwich, En-gland: Centre of Applied Research in Education, University of East Anglia, 1980. STAKE, R.E. The case study niethod in social inquiry. Educat ional ' Researcher, 7, 2, 1978. STAKE, R. E. Case Study methodology: an epistemological advocacy. In Welch, W.W. Case study methodology in educational evaluation. Proceedings of the Minnesota Evaluation Conference, 1981. VÍALKER, R. The conduct of educational case study: ethics, theory and procedmes. In W.B. Dockrell e D. Hamilton (eds.) Rethinking Educational Research. London: Hodder and Stoughton, 1980. INCORPORAÇÃO DE PRÁTICAS CURRICULARES NAS ESCOLAS OBÉD GONÇALVES Há, na literatura profissional, um interesse cada vez mais crescente pela utilização de métodos de pesquisa intercom- plementares (quantitativos e qualitativos), visando ao estudo das mudanças educacionais. Tal interesse é destacado, sobretudo, quando se estudam as mudanças em estruturas e em processos intra-escolares. Com a evolução dos modelos propostos,o estudo das organizações escolares (Corwin, 1974; Sander, 1983), os métodos e as estratégias de desenvolvimento do conhecimento sobre as escolas têm aberto espaço para a combinação de procedimentos visando á me- lhor compreensão das "anomalias" das organizações escolares, tais como: a análise da não incorporação de mudanças dirigidas a escola; as tentativas frustradas de coordenação, controle, inspeçao e ava- liação de suas atividades etc. Tais disfunções que, por muito tem- po, foram examinadas apenas á luz de modelos que enfatizam a efi- ciência técnica das organizações, começam a ser revisitadas e pers- crutadas através de explicações alternativas, baseadas na concepção de escola enquanto organização complexa. Na medida em que as concepções teóricas para o es- tudo das mudanças educacionais vão dirigindo maior atenção á capaci- dade de auto-renovação das organizações escolares como sistemas or- gânicos (Goodlad, 1975), como propostas de atendimento os aspectos de "cultura" de tais organizações (Sarasson, 1971), as tentativas ' de explicação de fenómenos da escola vão procurando atentar, ao mes mo tempo, para a estrutura da escola e para a sua atividade ambí- gua e incerta. o propósito do presente trabalho discutir a apli_ cação de um enfoque para o estudo das chamadas disfunções das orga- nizações escolares, ilustrando a discussão com um estudo sobre a escola de 1° grau, desenvolvido através da utilização de métodos de pesquisa intercomplementares (Gonçalves, 1981). 1. DISFUNÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESCOLARES De modo geral, são consideradas disfunções das or- ganizações escolares as práticas vistas como "ineficientes" ou "ine- ficazes", assim percebidas em virtude das avaliações que usam como parâmetro a consecução dos objetivos das organizações escolares. Weick (1976) propõe que determinadas anomalias das escolas, tais como: a não implementação de programas, a resistência a adoçao de inovações, a falta de articulação entre parte do sistema da escola etc., sejam resultados de avaliações baseadas em concepções mecanís-ticas das organizações escolares (as que procuram congruência entre forma e atividade das escolas). Ignoram-se, assim, segundo' Weich, as condições organizacionaismelhor explicadas á luz do estu do das escolas como instituições sociais complexas e não como organizações que primam pela eficiência técnica. 0 argumento de Weich (1976) i congruente com o pen samento de uma corrente de estudiosos da escola, cuja preocupação tem sido a de explicar os fenómenos educacionais observados dentro da escola, muito mais á luz da atividade das organizações educacionais' do que á luz de sua função proclamada. Tais estudiosos, a exemplo de Goodlad (1975), propõem que as escolas são mais orientadas pelas atividades que desenvolvem do que pelos objetivos que possam ter.Por esta mesma orientação, no campo da teoria curricular, Macdonald' (1975), dentre outros, procura concepções alternativas para a explicação de fenómenos curriculares á luz da atividade ambígua da es cola, contrariando o pressuposto de que os objetivos devem nortear' a atividade educativa. No campo da teoria sobre a organização escolar,tem merecido espaço importante, na literatura profissional (Meyer, 1977; March & Simon, 1976; Weich, 1972), as tentativas de explicação das disfunções das organizações educacionais enquanto instituições. 0 enfoque tem por base as conjecturas sobre as organizações fortemen te institucionalizadas (Perrow, 1972), tendo suas raízes na justif-cativa de que, como instituições sociais complexas, as organizações educacionais procuram desenvolver processos de adaptação e de crescimento tendo em vista a sua sobrevivência no meio institucional Assim sendo, as escolas sobrevivem, a despeito de suas disfunções ' técnicas, porque são, sobretudo, instituições sociais comp1exas,cuja função institucional se confunde com sua própria atividade. Uma das conceitualizações baseadas no paradigma in titucional é a apresentada por Meyer e Rowan (1978). Estes autores .buscam, através do conhecimento estruturado sobre os resultados dos sistemas escolares, uma explicação para a expansão e para o crescimento das organizações escolares, apesar de se mostrarem ineficientes. Assim sendo, procuram explicar a permanência, a recrudescência de práticas consideradas não-desejáveis, todavia mantidas com persistência nas organizações escolares. Na concepção de Meyer e Rowan, o enfoque institu -cional procura entender a estabilidade de certas práticas disfuncio nais das escolas face S necessidade que têm tais organizações de se manterem legitimas (garantidas em seu contexto institucional),ao mesmo tempo em que precisam de certo grau de proteção para a sua atividade incerta (ensino e socialização), a fim de que possam encontrar condições de adaptação e de crescimento. São estes, portanto, os pressupostos básicos da teoria proposta por Meyer e Rowan. Devido á necessidade que têm as organizações escolares de se manterem institucionalmente legitimas' e, igualmente, devido á necessidade de proteção de sua atividade am bigua, as organizações escolares são melhor compreendidas se vistas como "soltas" , isto é, com estruturas formais (e.g., funções, relacionamentos, politicas e procedimentos) não articuladas com suas atividades. Tal desarticulação, em vez de ser entendida como disfuncional, merece ser aplicada tendo em vista a missão institucio -nal das organizações escolares. Alguns teóricos da organização escolar já haviam notado a sua característica de 'baixo nível de articulação entre par tes' (March e Olsen, 1976). Por exemplo, o subsistema professor-alu no é desarticulado em relação ao subsistema técnico-administrativo; os planos formais são raramente implementados; as escolas escapam ás tentativas de coordenação, controle, inspeção e avaliação de suas atividades. E, a despeito disso, conseguem se desenvolver e se tornar cada vez mais complexas. March e Olsen chegaram a postular, a partir de investigação sistemática, que as instituições escolares ' funcionam como uma "anarquia organizada", no sentido de que parecem não estar sujeitas aos processos convencionais de integração entre' partes, mas que possuem uma consistência organizacional que garante o seu funcionamento, independentemente do questionamento de sua eficiência e eficácia. Meyer e Rowan (1978) apresentam a justificativa de que as instituições educacionais são formadas a partir de crenças sobre a atividade racionalizada, existentes no meio ambiente institucional. Assim sendo, as organizações educacionais se apresentam em isomorfismo com determinados "mitos" do meio ambiente. Tais mitos são crenças amplamente difundidas e aceitas como definições da 1 - A metáfora usada por Meyer e Rowan (1977), no original em inglês, é "loose coupling", acoplamento solto, que indica a condição de "espaço" entre es- trutura formal e atividade realidade que, aos poucos, vão se transformando em regras institu- cionais, responsáveis pela forma e pelo desenvolvimento das organ- zaçoes educacionais. 0 isomorfismo da escola com o meio ambiente, atra- vés das regras institucionais, reflete-se nas escolas através da incorporação de tais regras na estrutura formal da organização es- colar. Sempre que tais organizações incorporam elementos racionali- zados em suas estruturas formais, tendem a maximizar sua legitimi- dade e a aumentar sua capacidade de adaptação e de crescimento por que demonstram estar agindo de conformidade com propósitos valori- zados coletivamente, de maneira própria e adequada. Argumentam, ainda, os teóricos do enfoque institu- cional que as tentativas de controle e de coordenação das ativida- des nas organizações institucionais (dentre elas, a escola) condu- zem ao conflito e á perda de legitimidade. Uma vez que o sucesso e a sobrevivência das escolas dependem, por excelência, da demonstra ção de sua conformidade com regras institucionais, as organizações escolares resolvem o conflito entre as demandas de contexto (para maior eficiência) e as necessidades de sua atividade incerta e am- bígua, através de um crescimento específico de desarticulação, as- sim explicado: Já que a estrutura e a atividade da escola não são congruentes, as escolas incorporam, em sua estrutura formal, as pressões para mudança, sem que, contudo, tais mudanças penetrem até a atividade central da escola. Assim, a incerteza e a vulnera- bilidade da atividade escolar são protegidas por meio de baixos ní- veis de interdependência entre estrutura formal e atividade. As organizações escolares protegem-se, impedindo o questionamento sobre o seu desempenho técnico. A inspeção, a ava- liação e o controle de suas atividades são minimizados. A coordena çao, interdependência e ajustamento mútuo entre unidades estrutu - rais são conduzidos informalmente. Assim sendo, o "desacoplamento" (desarticulação entre forma e atividade) permite que as escolas mantenham estruturas formais padronizadas e legítimas, enquanto que suas atividades variam em resposta a considerações de ordem prática . 2. A LEGITIMIDADE DE PRATICAS CURRICULARES Não são pouco frequentes as tentativas de "melhoria do ensino" através de mudanças nas estruturas formais das escolas (Fullan, 1977), um enfoque bastante difundido em diferentes siste - mas escolares, internacionalmente. Uma das tentativas mais destacadas tendo era vista a melhoria da atividade educativa das escolas, é, sem dúvida, a da formalização de práticas de planejamento curricular, a partir de pressupostos que propõem a articulação entre plano (estrutura formal) e atividade educativa. Tais práticas são orientadas pelo enfoque de planejamento curricular conhecido na literatura como de "fins e meios". Tradicionalmente, os modelos de planejamento que incorporam uma racionalidade "fins e meios" abordam o planejamento' como um processo ordenado, linear, que se inicia com a definição de objetivos, procurando, a partir dai, encontrar os meios mais eficientes para alcançá-los. Os modelos
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