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Presidente da República Federativa do Brasil Ernesto Geisel Ministro da Educação e Cultura Ney Braga MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS / CADERNO TÉCNICO-DIDÁTICO ATLETISMO ' Departamento de Documentação e Divulgação Brasília-DF -1977 Assessoramento técnico: Prof. João de Oliveira SUMÁRIO Apresentação ................................................................................................. 5 Introdução .................................................................................................. 7 Organograma ...................................................................................... 8 Composição dos grupos ......................................................................... 9 Capítulo I Treinamento desportivo de alto rendimento ....................................... 11 Capítulo II Força ..................................................................................................... 25 Capítulo III Velocidade ......................................................................................... 71 Capítulo IV Resistência ......................................................................................... 101 Capítulo V Generalidades .................................................................................... 127 Implementos ....................................................................................... 135 APRESENTAÇÃO A marcante evolução dos resultados verificados no atletismo brasileiro, na área estudantil, culminando com os significativos recordes anotados nos V JEBs, realizados em 1973, em Brasília, e ainda a convincente atuação de uma equipe de jo- vens estudantes (até 17 anos) no I Campeonato Mundial de Atletismo, realizado no mesmo ano em Atenas (Grécia), vieram demonstrar, não mais no terreno da especulação, mas através do contato di- reto em competições com países tradicionalmente desenvolvidos no atletismo, as nossas possibilidades quanto a confrontos internacionais a nível juvenil. Posteriormente, isto seria enfatizado com os vários recordes mundiais batidos por nossos estudantes- atletas nos campeonatos de Florença (1974), Poitiers (1975) e Orleães (1976) e pelas quarenta e uma medalhas conquistadas ao longo dessas competições. Assim, não mais restando dúvidas quanto ao nosso potencial atlético, cabe uma pergunta: por que nossos atletas ao atingirem a idade adulta inter- rompem o caminho rumo ao podium olímpico? Às inúmeras causas detetadas e já exaustivamente ana- lisadas poderíamos acrescentar a dificuldade de nossos técnicos se atualizarem, seja através da aqui- sição de literatura especializada, seja através de contatos com centros de treinamento de excelência no exterior. Da constatação deste fato e em consonância com as diretrizes que orientam a estratégia de ação do DED na condução dos desportos na área estu- dantil, nasceu, em 1973, o projeto Estágio de Aper- feiçoamento de Professores-Técnicos e Treinamento de Estudantes-Atletas, no exterior. Os objetivos a serem alcançados através da execução desse projeto eram dirigidos prioritaria- mente para a capacitação técnica de profissionais militantes nas modalidades de ginástica olímpica e atletismo numa primeira etapa. A inclusão de estu- dantes-atletas no projeto tinha uma dupla finalidade: a de dar-se início a um programa de treinamento a longo prazo visando às olimpíadas de 1980 (selecionaram-se os atletas mais jovens) e a de permitir aos nossos professores-técnicos estagiários a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos. O destaque conquistado pelo Brasil no âmbito do atletismo mundial estudantil é o resultado do talento de nossos jovens, orientados pela emergente equipe de técnicos de satisfatório padrão que começou a se formar a partir do I Estágio Técnico de Atletismo realizado em 1974, na cidade de Mo-gúncia (Mainz, Alemanha Ocidental). O presente trabalho é o resultado dos ensina- mentos colhidos por nossos técnicos no decorrer dos 3 estágios de atletismo realizados no Instituto de Esportes da cidade de Mogúncia nos anos de 1974,1975 1976. O Departamento de Desportos e Educação Física, órgão do Ministério da Educação e Cultura, responsável pela promoção desses estágios técnicos, vem, através da publicação deste documento, ofere- cer aos técnicos, professores, atletas e desportistas que militam no atletismo brasileiro subsídios que esperamos venham enriquecer o acervo de seus co- nhecimentos. INTRODUÇÃO Na composição estrutural deste Caderno técnico foi respeitada a versão original elaborada pelas equipes de trabalho distribuidas em suas áreas de a- tuação, conforme o organograma estabelecido pela chefia da delegação. Entretanto, para efeito de me- lhor compreensão do leitor,obedeceu-se uma seqüên- cia expositiva que permitiu um acompanhamento à distância do que foram as sete semanas de trabalho árduo de professores-técnicos e estudantes-atletas durante o III Estágio Técnico de Mogúncia. O Capítulo I — Treinamento desportivo de alto rendimento — condensa as aulas teóricas abor- dando os múltiplos aspectos referentes à ciência do treinamento e representam, como de resto todo o trabalho aqui apresentado, o pensamento dos pro- fessores e técnicos do Instituto de Esportes da Uni- versidade de Mogúncia (Mainz, Alemanha). Os Capítulos II, IIIe IV se referem às qualidades físicas básicas e contêm as aulas teóricas, pesquisas mais recentes, treinamento cumprido pelos atletas e resultado dos testes a que foram submetidos. Finalmente, o Capítulo V, além de reunir re- sultados de pesquisas genéricas, apresenta um cro- qui do recinto coberto onde se desenvolveu a maior parte das atividades práticas, além de alguns implementos utilizados que poderiam servir de mo- delos. COMPOSIÇÃO DOS GRUPOS VELOCIDADE Professores: José Ferreira da Silva, Antônio Carlos Feijão, Erica Lopes Rezende, Gipe Alves de Oliveira, Jorge Okimoto, Carlos Souza Pimentel, Margot Ritter da Costa, Raimundo Nonato e Roberto Yasuto Yoshige. Atletas: Antônio Euzébio Dias Ferreira, Antônio Carlos Nunes dos Santos, Elias Gonçalves Pereira, Francisco de Assis Campos Neto, lonide Souza Cruz, Homero Sérgio Gomes, Maria Tereza Ferreira, Míriam Inácio da Silva, Pedro Ivo da Silveira e Tânia Regina da Silva Santos. MÉDIA E LONGA DISTÂNCIA Professores: Waldemar Montezano, Atílio Dinardi Alegre, Eduardo Barbosa Vieira, Gaspar Theodoro de Melo, Sebastião Alberto Corrêa de Carvalho. Atletas: Agberto Conceição Guimarães, Aloísio de Araújo, Antônio Luiz Ranzani, José Arnaldo E. de Oliveira, Elói Rodrigues Schlader, Eva Batista Dias, Eva da Silva Góes, José Romão Andrade da Silva, Júlio de Souza Oliveira, Leonardo Vidal de Oliveira, Mara Fuhrmann, Marcos da Silva Frost, Paulo Ricardo Ferrugem e Jesus Navarro Pérez. SALTOS Professores: Benedicta Souza Oliveira, Adilson Ra- mires Tassara, Altevir Aluísio Berezowsky, Carlos Francisco de José, Celby Rodrigues Vieira dos San- tos, Celso Teixeira, Fernando Melo Andrade, Luiz Fernando Ribeiro de Moraes, Luiz Geraldo Pontes Teixeira, Marcelo Machado Ramos, Sebastião Cunha e Warlindo Carneiro Filho. Atletas: Ana Maria de Oliveira, Bárbara Vieira do Nascimento, Beatriz Bonfim, Hussein Zaghloul, João Luiz Fonseca, Maria Luisa Domingos Betioli, Marília Seifert, Mar-lene Gomes do Nascimento, Paulo Antônio Martins, Ricardo Seroa, Themis Zambryski e Ubiratan Sanchez Fernández. ARREMESSOS Professores: José Carlos Jacques, Alberto Carlos Amadio, Aristides de Andrade Junqueira Neto, Ivo da Silva, João Batista Freire da Silva, Jucílio Fernandes, Mara da Costa Dutra. Atletas:Antônio Aparecido Cunha, Antônio Carlos Barbieri Soares, Denise Maria Zen, Elida Eliane Mabeline, Fernando Sérgio Barwinski, Maria Angelina Boso, Maria Elizabeth Pedri, Maria Cristina Cavalheiro, Marly dos Santos, Manoel Leopoldo Pirovics Ferreira, Maurício Augusto Borges Aguiar, Moacyr A. D. Figueiredo, Odete Valentino Domingues, Roberto Nobuo Abe, Thea Maria Reinhart, Olga Maria Veríssimo e Celso Joaquim de Moraes. A ciência do treinamento busca tecnologias práticas com o objetivo de conseguir o máximo rendimento, pelo caminho mais curto. O rendimento é determinado por diversos fa- tores. Isto significa que, dentro da ciência do trei- namento, deve haver uma relação entre diversas ciências. Outros estudos, como o do movimento e da sociologia do desporto, não passam de subciên- cias da ciência do treinamento. Durante muito tempo a ciência do treinamen-to foi vista de maneira unilateral. Só nos últimos anos é que o treinamento autógeno foi empregado na ciência do desporto. Outro exemplo parecido é o estudo do treinamento mental. Este treinamento é no fundo uma prática na qual se aprendem seqüências do movimento sem praticá- las; isto significa assimilar o movimento sem realizá- lo, e sim imaginando-o. Temos uma experiência recente, realizada em Darmstadt, cidade perto de Mogúncia (Mainz, Ale- manha), em que, através do método mental combi- nado com a prática, se conseguem resultados me- lhores e se aprende a técnica do volibol mais rapi- damente. Não há dúvida de que, em relação à movi- mentação no atletismo, pode-se concluir a mesma coisa, qual seja, chegar a resultados satisfatórios. Isto exige da ciência do desporto um programa de treinamento realizado em colaboração com a psico- logia do desporto. As perspectivas do futuro indicam que, dentro de certo tempo, a ciência do treinamento poderá ter estes programas feitos através de computador. A primeira tentativa realizada na Alemanha sobre este trabalho foi aplicada em corrida sobre barreiras e apresentada na revista Leichtatletic. Treinamento geral. A ciência do treinamento geral visa à formação de regras básicas em relação ao treinamento. Temos como base a teoria de que todos os movimentos no desporto são movimentos segundo certas regras básicas. O objetivo da ciência do treinamento geral é conseguir determinantes do rendimento desportivo. Chegamos assim a 3 componentes: condição física, condição técnica e condição tática. Entretanto, com uma apresentação tão abstrata não se obtêm resultados concretos. Por causa disto, a ciência do treinamento geral vai sempre em direção à ciência do treinamento especial. — Regras básicas — São leis, e lei significa ciência natural, lei natural. Na ciência do treinamento distinguimos 2 for- mas de leis: a) Leis determinísticas — São todas as leis naturais. Por exemplo: a velocidade com que um salta-dor ornamental mergulha na água depende da altura de que salta; quanto mais alto o ponto de salto, tento maior a velocidade com que mergulha. Em relação ao atletismo, quanto maior a velo- cidade da saída da tábua, tanto maior é o compri- mento do salto em extensão. As leis determinísticas têm sempre estas com- binações: "quanto mais ... tanto mais" ou "quantos menos ... tanto menos". Dentro do desporto, normalmente não exis- tem leis determinísticas, mas sim leis estatísticas. b) Leis estatísticas — São leis que se estabelecem resultantes mais propriamente de pesquisas estatís- ticas realizadas. Mantêm a relação "quanto mais — tanto mais", em certa porcentagem. Numa lei estatística, aumentando a velocidade da corrida, aumenta o comprimento do salto, mas somente em alguns casos. A velocidade de corrida não é idêntica à velocidade de saída da tábua, por- que ela é diminuída através da própria tábua. Exemplo: um saltador que tem nos últimos 6 metros uma velocidade de 1 m/seg mais que outro saltador tem um resultado de 1,20m mais longo no salto; isto, porém, não é válido para todos os casos. A velocidade de saída da tábua é significante em todos os casos, o que não acontece com o comprimento do salto. Um velocista de 100m pode, nos últimos 6m, ser mais rápido que um saltador; entretanto, isto nao quer dizer que ele salte mais longe, pois perde na saída da tábua, detalhe que o saltador realiza com maior habilidade. Os resultados da ciência do treinamento se ba- seiam quase sempre em leis estatísticas. As leis esta- tísticas não se aplicam apenas por um exemplo iso- lado; elas são significativas sempre para um conjun- to. A seguir faremos uma representação gráfica de um salto em extensão, como exemplo. Supomos que um grupo de saltadores tem o mesmo ângulo de saída e a mesma técnica de que- da. Podemos concluir, através do gráfico, que cada atleta que melhora sua velocidade de saída da tábua, em certo nível, vai melhorar também o comprimento do seu salto em certo nível; quem tem o valor x =1 tem também y = 1. Se temos um ponto comum a todos os salta- dores e se medimos a velocidade de saída da tábua junto com o comprimento do salto, é evidente que esta combinação nos dá a relação "quanto maior — tanto maior". Quando temos uma lei determinística, não há variações: os pontos não podem sair da linha. Um O presente gráfico será analisado segundo as leis estatísticas. O eixo de y representa a velocidade do saltador nos últimos 6m. Cada saltador perde velocidade na tábua; o objetivo dele será, portanto, perder o mínimo de velocidade. A velocidade de corrida de A diminui, muitas vezes, menos que a velocidade de corrida de B. Combinando a velocidade nos últimos 6m com o comprimento do salto, vemos que os diferentes corredores perdem, de maneira diferente, a velocidade na tábua. Observamos, então, uma varia- ção entre a combinação do comprimento do salto com a velocidade dos últimos 6m. Tomemos como exemplo os saltadores A e B; os dois correm com a mesma velocidade, mas ape- sar disto B salta mais que A. Comparando os dois atletas, temos: a lei que preconiza que "o saltador mais veloz salta mais lon- ge" não é, aqui, válida; isto quer dizer que "nem sempre o saltador mais veloz é o que tem o melhor salto", o que leva a estabelecer uma lei estatística. De maneira geral, apesar da variação dos pon- tos um pouco afastados da linha reta, podemos es- tabelecer, respeitando as exceções, uma regra geral: "os que correm mais rápido saltam mais longe". — Leis estatísticas: falta de prognose com res- peito a cada atleta. — Leis determinísticas: temos dados concre- tos. Um saltador que corra 1 seg mais rápido nos 100 m tem a probabilidade de saltar 1m ou 1,20m mais longe. Não asseguramos, entretanto, que ele, melhorando 1 seg, salte exatamente 1,20m mais; não podemos garantir em que proporção a melhoria de velocidade irá ser transformada na tábua. Em experiências realizadas pelo Dr. Letzelter com as melhores velocistas alemãs, os resultados mostraram que as corredoras que correm com maior freqüência obtêm melhor resultado nos 100m pelo número de passadas dadas e não por causa da amplitude das passadas. Hoje, novas pesquisas vieram confirmar que "um corredor que au- aumento de y - 1 na velocidade do salto tem un aumento de x = 1 no comprimento do salto. menta a sua freqüência em x seg pode também aumentar a sua velocidade" e "um corredor que tem sua amplitude aumentada terá também sua ve- locidade melhorada", com probabilidade de erro em 5% sobre estas conclusões. A diferença entre as pesquisas anteriores e posteriores é que: "podia-se falar de maneira geral que o aumento da freqüência resultaria em correr mais rápido"; hoje, já se pode dizer que quem tem uma freqüência maior vai correr tantos centésimos porsegundo mais rápido. Limitações aos métodos — Os resultados es- tatísticos se baseiam sempre na comparação de di- ferentes atletas. Então, perguntaremos: em que se distinguem os melhores atletas dos piores, em certos elementos? Os métodos estatísticos se baseiam sempre na comparação interindividual entre A e B, A e C, B e C, e assim por diante. Através da comparação inter- individual, chegamos à comparação intra-individual, isto é, através da comparação de muitos, observa- mos uma mudança de um atleta do grupo. A com- paração de um atleta consigo mesmo é intra-indi- vidual. A comparação de um atleta dentro do grupo é interindividual. — Exemplo de comparação interindividual Perguntamos se os melhores corredores de 100m têm mais unidades de trabalho que os piores. Tivemos como resultado que os melhores corredores têm mais unidades de treinamento que os piores e concluímos que eles correm mais rápido porque têm mais unidades de treinamento por semana. - Exemplo de comparação intra-individual Um atleta treina determinadas unidades por semana; medimos seu resultado. Em seguida, aumentamos as unidades de treinamento semanal; medimos seu resultado novamente e melhorou. Concluímos que seu rendimento melhorou porque aumentaram suas unidades de treinamento. Variando a freqüência de unidades de treino, observamos que, à medida que muda o resultado, temos uma variável independente, que são as unida- des de treinamento, e outra dependente, que é o resultado da corrida. Numa comparação interindividual não temos uma experiência, mesmo porque não variamos as unidades de treinamento, mas variamos os resulta- dos da corrida, porque tomamos corredores com resultados diferentes. No fundo, comparamos atletas de diferentes resultados com unidades de treinamento, mas não podemos concluir com certeza absoluta que aqueles que correm mais rápido o fazem porque têm mais unidades de treinamento; mas em relação à comparação intra-individual (com relação à expe- riência) concluímos que o atleta que aumenta a unidade de treinamento aumenta também a velo- cidade de sua corrida por causa do aumento da unidade de treinamento. Aqui temos a complicação destes métodos, e o outro problema é a validade dentro da represen- tabilidade. Leis determinísticas são válidas sempre para tudo, em todos os ângulos; não as podemos transformar através de manipulações. As leis esta- tísticas permitem essa manipulação; por isso são válidas para as partes específicas. Exemplo: num grupo de corredores de 100m com 10" e 10"5, os melhores podem ter mais unidades de treino. Mas, se treinarem 20 a 25 vezes por semana, podem pio- rar o resultado, pelo excesso de treinamento; aí teremos o contrário da lei "quanto mais — tanto mais". Se usarmos as leis estatísticas consciente- mente e com fundo de informações bem grande, muito se consegue, em relação ao treinamento, em- bora nunca tão certo como 2 e 2 são 4; em tudo que elas dizem há sempre uma probabilidade de engano. REGRAS BÁSICAS PARA O TREINAMENTO DESPORTIVO A ciência do treinamento ainda é bastante jo- vem. As leis básicas do ensino de treinamento surgi- ram por volta da década de 50. Antigamente, por treinamento entendia-se aquele dirigido ao atleta de alto nível. Então, simplesmente, foi feita uma generalização do treinamento de atletas de alto nível; não eram, porém, resultados científicos, e sim, resultados de experiências subjetivas. Temos o exemplo da imitação do treinamento de Zatopek, que nada servia para generalização, pois era um treinamento especial. A adequação científica do treinamento especial para o treinamento geral foi feita através de experiências subjetivas de muitos treinadores e atletas. Estas experiências foram ana- lisadas e generalizadas, e hoje o que é denominado "ciência do treinamento" significa a transformação das leis subjetivas em leis objetivas. Uma regra básica é o princípio do treinamento contínuo, isto é, continuidade e aumento do rendimento, num treinamento sem interrupção; mesmo na manutenção do treinamento não deve haver interrupção. Por este princípio, a interrupção significa perda de rendimento. O treinamento desportivo é determinado por uma relação ót ima entre treinamento e recuperação. Esta relação entre sobrecarga e recuperação é idêntica ao fenômeno da supercompensação. O objetivo é ganhar mais energia do que a que se gastou anteriormente, o que se explica por processos bioquímicos. O segredo do treinamento é que o gasto de energia redunda em novo ganho energético; ou seja, o gasto de energia é a razão para o ganho de mais energia em um nível maior que o anterior (a curto, médio e longo prazo), o que implica em cargas de curta, média e longa intensidade. Está relacionado com o problema de carga e recuperação, e diretamente ligado com a periodização do treinamento. Essa recuperação após a carga é importante, porque o ganho de energia é conseguido na fase de descanso. Atletas muito treinados têm uma recupe- ração mais rápida, e daí a possibilidade de se au- mentar o número de treinamentos para esses atletas. Supertreinamento - Os intervalos são pequenos demais, provocando uma queda no rendimento. Esta resposta retorna em forma de feedback, e isto nos dá a informação da intensidade do estímulo. Princípio ótimo do treinamento — Respostas adequadas: quanto maior a adaptação, maior pode ser o novo estímulo (em quantidade e intensidade). Princípio de sobrecarga progressiva (PSP) — O princípio da sobrecarga progressiva baseia-se no aumento das cargas à medida que ocorrem as adaptações. A subida do potencial de rendimento deve crescer paralelamente ao aumento da inten- sidade de estímulos. Essa subida inicialmente acontece em linha reta, e a partir de um certo nível forma uma curva. Por isso, observamos uma melhora mais rápida em principiantes que em atletas qualificados. Por exemplo, é mais rápida a melhora em um velocista de 11 ".5 para 10".8 do que em um de 10".3 para 10".1. Segundo o PSP, quando sobe o potencial de rendimento, sobe também a intensidade do estímulo, e isto até o limiar das possibilidades de rendimento. O treinador deve ter capacidade de saber limitar as cargas, para conseguir uma relação ótima entre carga e rendimento. Interrupção do treinamento — Intervalos grandes demais, ultrapassando-se o ponto ótimo de novo estímulo, o que acarreta queda do rendimento. Quanto maior a carga, maior o tempo de re- cuperação, e vice-versa. O treinamento do velocista, por exigir mobili- zação intensa do sistema nervoso, deve ser menos freqüente que o dos outros, porque implica também o cansaço mental, que exige um maior tempo de Fe- cuperação. Fatores de cansaço emocional, senso- rial, mental e físico exigem muito no treinamento Supercompensação — Intervalos adequados. do velocista, o que explica menor freqüência de seu treinamento. Princípio da sobrecarga — Podemos considerar 2 (dois) aspectos: 1) Intensidade — É dada em metros por se- gundo ou carga desenvolvida. Pode ser: objetiva, quando é medida diretamente em metros por se- gundo, ou peso, por exemplo; e subjetiva, quando se dá a porcentagem do máximo da carga do atleta. 2) Duração do estímulo — É o tempo de du- ração de uma sobrecarga. Exemplo para um velocis- ta: 10 X 100m em 15" para cada 100m. Quanto maior a duração do estímulo, menor a intensidade, e vice-versa. Treinamento desportivo é qualificado como uma relação ótima entre volume e intensidade. Duração e freqüência multiplicadas dão como resultado o volume. De maneira geral pode-se quantificar a freqüência. Exemplo: o número de repetições na corrida, o número de saltos ou de flexões de joelhos (agachamento com halteres), dentro deuma unidade de treinamento. Numa corrida, duração X freqüência, é igual ao volume. Exemplo: 10 X 100 m 1.000m. Entre freqüência e intensidade existe uma re- ação contrária: "quanto maior a velocidade, menor a duração". Assim como uma 'intensidade muito grande só permite poucas repetições. Temos a mesma regra em relação à intensida- de e duração. Ambas têm como resultado o volu- me Relações contrárias: intensidade — freqüência; intensidade — duração; intensidade — volume. Se temos uma relação contrária entre intensi- dade e freqüência e entre intensidade e duração, temos também uma relação contrária entre volume e intensidade. O volume pode ser medido em quilômetros, quilogramas ou no tempo geral de uma unidade de treinamento. Temos sempre que distinguir a duração de unidade de um treinamento e a duração de um só exercício. VOLUME X INTENSIDADE Em relação a cada atleta, torna-se necessário saber em que ponto se deve dar prioridade, porque a relação entre volume e a intensidade não é estável. Nesta relação existe uma variação contínua. Isto é importante para o planejamento a médio e longo prazo. De maneira geral, no princípio do processo de treinamento existe uma acentuação do volume de treinamento; um aumento de volume significa o treinamento de base. Aumentando-se o volume no início, podem-se conseguir 2 objetivos principais: a) a base geral, que é a fundamentação do treina- mento, é melhorada; b) com o aumento de volume em relação a princi- piantes, consegue-se já um aumento de rendimento. Em se tratando de atletas de alto nível, através do volume só se consegue um aumento da base. Nestes atletas, a melhoria do rendimento dentro de determinadas provas só é conseguida através de in- tensidade. Isto é importante dentro de um programa de curto prazo. Exemplo: no treinamento de um ano. No treinamento de um ano, no início, aumenta- se a base através do volume; um pouco antes da competição, aumenta-se a intensidade. Este é um problema de periodização. Em termos concretos, concluímos que pode- mos distinguir duas formas de volume: o aumento do volume em relação ao trabalho de base ótima; o aumento do volume em relação ao trabalho de base máxima. Uma base ótima existe quando ela é suficiente para permitir um treinamento específico em relação a uma determinada prova. Uma base máxima é a que, em relação à competição, é muito importante. Exemplo: um velocista necessita somente de um nível ótimo de resistência, e quando atinge este nível não tem sentido continuar aumentando-o. O fundista necessita de uma resistência de base máxima. Segundo pesquisas científicas, o velocista só Precisa de nível ótimo de força; acima deste nível, não há razão para aumentar força. No dina-press, fazendo trabalho de força, o velocista necessita de um índice de força de mais ou menos 1,25. Isto não significa que valores menores não sirvam para o melhor rendimento, e sim que valores mais altos são ineficientes. — Forma de achar este nível — Medir a força de pressão da perna direita e da perna esquerda num dinamômetro. Somar e dividir por 2. Exemplo: Valor médio entre as duas pernas ............ 96 Peso do corpo ............................................. 75 75 Podemos concluir que, atingindo-se um índice de força máxima superior ou igual a 1,25, não se necessita mais fazer trabalho de força máxima, e, sim, de força submáxima, porque esses exercícios melhoram a força rápida. 0 treinamento especial só para melhorar a força máxima não teria sentido; o importante é ver que o objetivo não é a força máxima, e sim a força ótima, É preciso analisarmos se precisamos de uma base máxima ou ótima. Quanto mais se precisa de uma base, tanto mais se precisa de volume. Quanto menos precisamos de uma base, tanto mais temos que treinar intensidade. Ainda com relação aos velocistas, é sabido que o volume do coração maior que 850 a 950 cm3 já não tem valor para o rendimento. O velocista precisa de resistência ótima para treinar com intensidade. — Base ótima — quanto mais, melhor, até certo ponto. — Base máxima — quanto mais, melhor, em todos os casos. Um aumento de rendimento em conseqüência do aumento do volume é lento; um aumento devido à intensidade é rápido. Um certo nível de rendimento adquirido através do aumento do volume, sofrendo interrupção no treino, não baixa rapidamente; o rendimento adquirido através da intensidade, depois de uma interrupção, cai rapidamente. O treinamento desportivo é caracterizado por uma relação ótima entre o treinamento geral e o treinamento especial. Treinamento geral é treina- mento básico e abrange todos os aspectos gerais. Treinamento especial abrange aqueles exercícios que distinguem uma prova de outra. A relação entre ambos é instável e é qualificada como um processo contínuo de especialização; isto significa que a percentagem de treinamento especial aumenta com o aumento do rendimento. O importante é que aqui se pode falar em percentagem. Isto quer dizer que "a percentagem do treinamento especial vai aumentando, em relação ao geral, apesar de haver um aumento contínuo do treinamento geral". Exemplo: Um esquema de treinamento para um atleta vai a aproximadamente 10 anos. Exemplo: começando aos 10 anos, pode aos 20 estar com o rendimento máximo. Isto, entretanto, não quer dizer que não existam atletas que não alcancem seu rendimento máximo em menos tempo; trazem, porém, uma base de outras atividades esportivas: João Carlos de Oliveira, com 3 anos de treinamento, bateu o recorde mundial do salto triplo; antes, todavia, jogava futebol. Assim, a transformação da base geral para uma base especial depende das práticas anteriores. Exemplo: um atleta de 17 anos; verificamos em que nível está sua formação geral. Temos que avaliar se este nível é essencial para sua especialização ou se temos que aumentar o nível geral para ter uma boa especialização. Seria muito mais fácil se, dentro da ciência do treinamento, tivéssemos conhecimento que permitisse dizer que, para esta ou aquela prova, seriam necessários tais valores para continuar o trabalho. Em relação a 3 características, já se consegue dar valores aproximados. No salto em extensão uma saltadora com resultado de 6m teria que correr os 100m em 12" ou 12".2, conseguir no salto sêxtuplo (canguru) 15,80m, ter um índice aproximado (IR) de 0,25 a 1,05, ter uma força de salto vertical de 56 a 58cm e ter um nível geral para correr mais ou menos 10km devagar, sem interrupção. Se não conseguir estes resultados, deverá, então, aumentar certos componentes do nível geral. Não se pode, entretanto, dizer que não pode saltar 6m sem um ou dois destes componentes. Para usar este esquema, seria melhor que a ciência já fosse capaz de dar os valores para as dife- rentes idades. Se a ciência conseguisse esses resulta- dos para todos os diversos níveis de atletas, seria muito mais fácil dirigir o processo de treinamento. Já existem pesquisas neste sentido. O treinamento desportivo é caracterizado também por uma periodização. Temos 4 pontos importantes em relação à periodização do treina- mento: 1) conseguir bases da forma desportiva; •2) conseguir de maneira imediata a forma desportiva; 3) estabilização da condição desportiva; 4) destruição da condição desportiva. 1) Base — Certos elementos da forma geral são aumentados. 2) Forma — Conseguir, de maneira imediata, a forma do atleta. Os elementos mais importantes são trabalhados. 3) Manutenção — Estabilização da condição do atleta. 4) Destruição — Esta destruição da forma é cons- ciente, e os elementos que estavam numa relação ficam particularizados. Isto não significa que o níveldos elementos é baixado, e sim que a sincronização antes existente é dissolvida. Estes vários elementos são interdependentes, têm uma influência uns sobre os outros. Se mudamos um elemento, o conjunto todo começa a ser destruído. Esta destruição é condição básica para se conseguir um novo aumento dos diferentes elementos. Assim, temos todos os anos o mesmo ciclo, mas sempre em um nível cada vez mais alto. Se não tivéssemos esta destruição da condição, ela continuaria no mesmo nível. Todos os anos esta destruição é, portanto, condição para um novo treinamento de base, pois o objetivo do treinamento é aumentar cada vez mais. No período de destruição da forma, usa-se dar ao atleta atividades que não as de seu treinamento esportivo normal. Exemplo: volibol, natação. BASES DO RENDIMENTO ESPORTIVO O rendimento esportivo é condicionado por diferentes elementos: características intensivas do treinamento: aquelas que se podem melhorar pelo treinamento (ex.: força máxima); características in- diferentes ao treinamento: as que não podem ser melhoradas (ex.: altura do atleta). Quanto às características intensivas definimos certos graus ou níveis de intensidade. Existem as que se podem melhorar mais, e outras menos; exemplo: características de resistência são mais in- tensivas que as de velocidade; estes graus definem também o volume do treinamento. As características indiferentes são tomadas em relação à seleção e quase sempre são limitações ne- gativas (apenas limitam-se as possibilidades). Classificamos as características, em relação ao rendimento, em: distintas ou relevantes e indiferentes ou irrelevantes. — Grupo das características relevantes: carac terísticas relevantes absolutamente lógicas e ca racterísticas relevantes empiricamente estatísticas. Exemplo: a velocidade de reação de saída tem rele vância lógica, ou seja, é relevante em relação ao rendimento se melhorarmos 0,1 seg na saída; impli ca numa melhora de 0,01 a 0,02 seg no resultado total. A relevância empírico-estatística apenas des taca o pior atleta do melhor. Todas as característi cas com relevância empírico-estatística têm uma re levância lógica, mas o contrário não é verdade. Com o treinamento é possível aumentar o nível em relação às duas características. O objetivo do treinamento é procurar características com rele- vâncias empírico-estatísticas. Os componentes do rendimento e as caracte- rísticas indiferentes são as bases do rendimento es- portivo. Portanto, "rendimento é o resultado da capacidade de rendimento". — Capacidade de rendimento (elementos): ca- pacidade de rendimento — parte física; disposição do rendimento - parte psíquica. — Objetivos do rendimento: objetivos cognitivos: realização mental de de- terminados objetivos do treinamento (ex.: planeja- mento); objetivos psíquicos: determinam a força de vontade (por disposição do rendimento entendemos superação da força de vontade); objetivos motores: qualidades motoras e téc- nicas motoras implicam condição física. É com esta soma de habilidades e capacidades técnicas que criamos bases técnicas para a experiên- cia do movimento analisador "kinestésico" —kinas- thetik (avalia o movimento). Quer dizer, quanto mais são incorporadas novas experiências no movimento, tanto mais fácil se torna a aprendizagem de novas técnicas ou sua correção. Puni (Rússia) fez questionário com 100 das melhores atletas russas, que, depois de filmadas, apresentavam certos erros, mas as atletas não viram os filmes; depois, em novo questionário, perguntou-se qual o erro de cada uma e 90 por cento acertaram. Com iniciantes isto não acontecia; faltava consciência do movimento. Em atletas de nível médio acharam-se 50 por cento de acertos. Em crianças acharam-se apenas 20 por cen- to. — Condição física: soma das qualidades físicas (motoras). Conceitos abstratos: capacidade de força; ca- pacidade de resistência; capacidade de velocidade; capacidade de coordenação. Temos ainda habilidade, mobilidade, capaci- dade de movimentação. A capacidade em si não existe; temos diferentes capacidades específicas (a força do velocista é diferente da força do arremes- sador). Dada a mistura das qualidades trabalhadas, te- mos: condição física geral — base de todos os ele- mentos da condição física; condição física especial — trabalham-se as qualidades importantes para certas provas e que sejam importantes também no desenvolvimento do treinamento. Se destacamos características em níveis dife- rentes, temos o trabalho da condição física especial, quando são desenvolvidas no treinamento as valências físicas mais relevantes, segundo o objetivo da prova (mistura de elementos empírica e estatisti- camente relevantes). Na condição física geral, quanto mais as va- lências físicas são desenvolvidas harmoniosamente, tanto mais facilmente se desenvolvem as qualidades específicas. Em pesquisa de Utecht (Leipzig — Alemanha Oriental), formaram-se 3 grupos (10 a 11 anos): G1 — treinou condição física geral em 3 anos; G2 — treinou à base de velocidade (condição física especial); G3 — grupo de controle (desportos escolares). Depois de um ano, G1 e G2 estavam no mesmo nível. Dois anos mais tarde, o aumento de níveis foi proporcional a ambos (portanto, o treinamento geral teve o mesmo efeito que o treinamento especial). No terceiro ano, G1 também fez treinamento especial e então teve o dobro do ganho em relação a G2. Tiveram os dois grupos, no início, o mesmo aumento, mas a partir de certo momento G1 tinha um nível de potencial bem maior, dado o trabalho de condição física geral. APRENDIZAGEM MOTORA Aprendizagem motora significa aprender ou adquirir capacidades motoras em conjunto, gerais ou especiais. Ao professor de educação física cabe dar con- dições motoras gerais ao aluno, e ao técnico cabe dar uma capacidade motora parcial ou especial, isto é, fazer o aluno aprender um movimento novo ou reaprender certos movimentos. Regras de comportamento 1 — Idade — Certas capacidades motoras gerais e especiais só são possíveis de aprender após certa idade. Denomina-se a isto "ontogênese motora" Ontogênese motora é a aprendizagem motora que vai desde o nascimento até a morte. Divide-se em ontogênese motora de capacidade e ontogênese motora de qualidade. Em uma determinada idade, o aluno possui condições de combinar determinados movimentos (ex.: correr e transformar a velocidade horizontal em um impulso vertical). Para o atletismo, é possível aprender todas as capacidades motoras nas se- guintes idades: meninas: entre 8, 9 e 10 anos; rapa- zes: entre 9, 10 e 11 anos. A essas crianças já se podem ensinar todas as bases técnicas. A aprendizagem motora é mais fácil na pré- puberdade que na puberdade. Mais exatamente, segundo Meinel, dois anos antes da puberdade. Uma boa base na infância permitirá mais facilmente uma especialização. Partindo desta premissa, já é possível descobrir crianças de talento entre 9, 10 e 11 anos, desenvolvendo-lhes um sentido de movimento (analisador cinestésico). Podemos definir aprendizagem como um pro- cesso de input e output, isto é, o que entra são as diretrizes do treinador e o que sai é o resultado do atleta. Nunca podemos dar informações demais ao aluno, porque o mesmo não poderá captar tudo. Temos que selecionar essas informações. Não só as informações, mas também a maneira de dá-las é importante. Isso também depende da idade. A criança, por exemplo, sente necessidade de ver ima- gens para captar melhor as informações. Já com um atleta de 19 anos, por exemplo, a informação é dada de tal maneira que o atleta, por sua própria cabeça, orienta os seus movimentos. 2 — As informações devem ser dadas durante um longo período — Por exemplo,no salto em altura não se deve dar uma nova informação antes que se tenha acertado a anterior. 3 — Para a qualidade da aprendizagem, são decisi- vas as condições interiores do aprendiz — A capa- cidade de aprendizagem diminui com o cansaço. Depende, além da concentração, da transformação das informações pelo sistema nervoso central, e isso não é possível quando se está cansado, ou melhor, não se obtém o resultado desejado. Além do mais, para aprender ou melhorar determinados movimen- tos, não se deve executá-los por um tempo exces- sivo. Por outro lado, o treinador deve dar o trabalho técnico, de correção de movimentos, sempre no início do treinamento, logo após o aquecimento. 4 - A aprendizagem não se mede pelo resultado, mas sim observando-se a razão ou motivo da falha ou progresso - Um mau resultado provém, muitas vezes, de erros no treinamento; o treinador deve corrigir esses erros. Se um atleta aborda errada- mente a tábua de saltos em extensão, não adianta dizer-lhe para acertar a batida do pé, pois o erro estará certamente nas últimas passadas da corrida. 5 — As informações devem ser claras. Não devem ter duplo sentido — É muito importante criar con- dições ótimas para a aprendizagem. Esta aprendiza- gem se processa através do sistema nervoso central. Uma ótima técnica é proveniente da relação ótima entre as unidades motoras estimuladas e as que opõem resistência a essas unidades. A partir disso, podemos concluir que o movimento executado por um principiante é feito com grande gasto de energia, pois estimula muitas unidades motoras, tanto ativas como oponentes, em excesso. O objetivo final da aprendizagem é a automa- tização: estereótipo dinâmico motor, forma de mo- vimento completamente automatizada, podendo o executante, inconscientemente, executar o movi- mento, favorecendo a concentração em outros pe- quenos detalhes. Sem essa automatização, não se conseguirá dar pequenos detalhes técnicos como in- formação, pois o atleta, ao se concentrar nessas minúcias, esqueceria o conjunto de movimentos, É importante aos treinadores saber quais as melhores informações a dar e como dá-las. "O PROBLEMA DO ACOMPANHAMENTO EM COMPETIÇÃO E EM TREINAMENTO NO ATLE- TISMO" (trabalho apresentado em 1975, em uma conferência em Moscou, pelo Prof. Berno Wisch- mann) 0 trabalho de acompanhamento em treinamento e em competição é de grande importância no desporto. Muitas vezes, uma regressão em termos técni- cos e de rendimento se deve a uma deficiência de um trabalho de acompanhamento e de orientação. Existe um ditado alemão que diz: "Não se pode pentear todos os indivíduos da mesma maneira". Num trabalho de Schmolinsky e Van Aaken, o relacionamento entre técnicos e atletas ocupa uma importância muito grande. 0 sueco Aleman analisou algumas dessas relações entre atletas e treinadores e encontrou como fatores positivos de relacionamento: simpatia, companheirismo, amizade, fatores estes que estão sempre relacionados com bons resultados atléticos. Atletas mal sucedidos estão geralmente rela- cionados com os fatores negativos, quais sejam: antipatia pelos treinadores, apatia, etc. Em termos de quantidade, pode-se dizer que muitos desses problemas são tratados, às vezes, de maneira bem superficial, não sendo levados devidamente a sério. Esse acompanhamento não é empregado apenas no atletismo, mas também em outros esportes, levando- se em conta a diferença de cada um deles, ou seja, esporte coletivo, esporte individual e a característica de cada atleta. Com relação às dificuldades internas, estão também relacionados os fatores externos que atuam no atleta: problemas relacionados com a família, profissão, escola, problemas íntimos, afetivos, etc. São bastante conhecidos e diferenciados os caminhos utilizados pelos treinadores nesse acompanhamento. Todo treinador vai sempre deixar a sua marca, o seu carimbo, em todo trabalho de acompanhamento, ou seja, sua forma pessoal de fazer o acompanhamento. O professor Dr. Steinbach, 4º colocado no salto em extensão em Roma, faz referências e observações a vários tipos de característica, dentro desse trabalho. Existe num grupo o chamado líder: é o que se manifesta dentro de um grupo sempre através de suas idéias e opiniões. Todo aquele que tiver a capa- cidade de liderança, num trabalho de acompanha- mento em uma competição, provavelmente vai ser melhor sucedido, desde que não perca o controle, devido a pressões externas ou outros estados varia- dos. Essa mesma característica o treinador poderia utilizar em atletas de níveis altos, atletas inseguros; o treinador agiria motivando e encorajando o atleta, para os seus resultados e possibilidades. Atletas individualistas, tipos fechados, isolados, mesmo possuindo autoconfiança, são freqüentes dentro do esporte. Há necessidade de acompa- nhamento, principalmente quando o resultado lhe sobe à cabeça, com influências negativas, por força de fatores externos que atuam no seu rendimento. Em grupos de atletas que o Prof. Berno tem acompanhado, existem vários tipos: uns têm medo, outros se realizam com promoções em jornais, exis- tindo ainda outras manifestações. O atleta não complicado, livre de problemas, não é freqüente no esporte. Atleta inteligente, des- contraído, sem complicação, praticamente não apresenta problemas para o técnico; atletas sem es- sas características de personalidade devem ser acompanhados em competições, tanto de nível na- cional como internacional. A distância do lar apresenta, como conseqüên- cia, problemas de relacionamento e de acompanha- mento. O treinador que trabalha com um atleta por mais tempo é o que vai ter melhor condição de acompanhar esse atleta no setor esportivo, com maior precisão. Não é correto treinadores nacionais acompa- nharem atletas que durante todo o ano treinaram com seus treinadores locais, sem ter tido contato anterior algum com esses atletas. O bom treinador faz observações e experiên- cias em vários sentidos, para colher elementos a fim de melhorar o rendimento esportivo. Outro fator importante é a nutrição. Atletas comem durante todo o ano mel, leite, cevada, carnes e verduras. Deve ser observado o efeito do café em relação a aumentar ou diminuir determinadas funções orgânicas. Alguns atletas às vezes tomam, 20 minutos antes de uma competição, café forte com pouco açúcar; deve ser observada a dosagem do café antes de determinadas provas cuja duração é bastante grande (ex.: salto com vara): pode trazer efeitos negativos no rendimento justamente na hora mais difícil, pois seu efeito vai de 40 a 45 minutos. Horário de refeição é outro ponto importante: três a quatro horas antes da prova tomar refeição, para que não se realize a digestão durante a compe- tição; também deve ser observado o cuidado com os intestinos, indo à toalete antes da competição. Foram citados exemplos de atletas que conse- guiram alto rendimento em competições, e com ou- tros, deu-se o contrário. Há o exemplo de atleta que 10 dias antes da competição não manteve relações sexuais, e outro que manteve intensas relações na véspera da competição e bateu o recorde mundial. Há também o exemplo do saltador de vara sueco que, na véspera da competição, ingeriu bastante bebida alcoólica e no dia seguinte bateu o recorde europeu da prova: o atleta estava bastante alegre, motivado, e isto pode ter sido de efeito marcante. Outro aspecto será o tipo de massagem indi- cado para nosso atleta. Os massagistas americanos empregam uma massagem passiva, para aquecer, a qual deve ser encerrada 20 minutos antes da com- petição; após a massagem, o atleta se movimenta levemente. O Prof. Wischmann citou também o emprego do placebo, com efeito psicológico. O técnico austríaco Procópio,em 1957, usou o placebo em 65 atletas masculinos e 35 femininos, com idade média de 28 anos. Ingeriram pílulas feitas com mal-te, lactose, leite condensado, manteiga de cacau, supondo tratar-se de veneno da planta americana caladium purpureo, usado pelos índios para aumentar o rendimento em canoagem e em guerra, e cujo emprego levou atletas russos e americanos a atingi- rem vários recordes mundiais. Após a ingestão, várias manifestações se suce- deram: tontura, sensação de calor, transpiração, au- mento de freqüência cardíaca. Diziam sentir defí ciência de alimentação sangüínea no cérebro e pres são nas têmporas. Foram realizados testes com dinamômetro e em um caixão de 40cm de altura para a força de pressão das mãos e força de perna, antes e depois do uso do placebo, sendo constatado que cerca de 68% dos pesquisados apresentaram grande progresso no rendimento. Este exemplo prova que o uso do placebo, de nenhum efeito fisio lógico, pode trazer o aumento do rendimento através do efeito psicológico. As influências de ordem psicológica são bas- tante grandes e podem-se usar vários meios. Interes- sante notar que no trabalho de Procópio os resulta- dos foram proporcionalmente maiores com as mu- lheres do que com os homens. Dentro do período de treinamento, também o acompanhamento individual tem importância bas- tante grande. Aproximadamente em 15 de outubro, quando tem início o período preparatório de inverno, reúnem-se atletas e treinadores num local de recuperação, numa cidade de repouso, com o objetivo de se analisar o período competitivo pas- sado e planejar o novo período competitivo para o qual se vai treinar. Esse trabalho conjunto de orga- nização e acompanhamento deve ser realizado tanto no período de transição como no preparatório e no de competição. Para poder reconhecer os efeitos dessas medi- das de treinamento, deve o treinador, de tempos em tempos, realizar testes, com o objetivo de comprovar a progressão da condição do atleta. Dado o fato de se realizarem muitos treinos em locais fechados, é necessária, principalmente no inverno, a utilização complementar de vitaminas e sais minerais que venham complementar o atleta, em termos de nutrição. Uma visão bastante ampla do treinador é de dirigir o trabalho de seu atleta com vistas às condi- ções que deverão ser encontradas posteriormente. Assim, o atleta que vai aos Jogos Olímpicos e tem uma prova eliminatória às 9:00 horas já deve, com antecedência, em treinamento, se habituar a acordar, pelo menos uma vez por semana, às 4:30 horas, tomar o seu café e ter aquele espaço ideal entre levantar, alimentar-se e competir. Como exemplo foi citado o caso do marteleiro Uwe Bayer, que, nos Jogos Olímpicos do México, poderia ter sido medalha de prata ou bronze. Recomendado que se levantasse às 4:30 horas, pois teria prova às 9:00 horas, só o fez às 6:00 horas, por achar suficiente. Na hora da prova, o atleta ainda estava meio sono-lento e nem se classificou para a final. As condições levantar cedo, passear, tomar a primeira refeição, tomar massagem entre as compe- tições, diferença entre as provas são fatores que devem ser levados em grande consideração. Todo atleta deve estar em condições, indepen-' dente de ajuda ou acompanhamento, para ser bem sucedido. Não tem sentido que, em grandes ou pe- quenas competições, o treinador sempre esteja perto do atleta. O treinador deve acostumar-se a se distanciar cada vez mais do atleta com o objetivo de deixá-lo confiante, firme de si, convencido de sua capacidade. O atleta deve encontrar as melhores condições para a prova. Deve conhecer, dentro do local da competição, qual o material que vai utilizar, quer seja disco, peso ou dardo; deve escolher entre os materiais que estão à disposição aquele de melhor qualidade. Ele cita o exemplo do atleta Salomon, que, antes de uma grande competição, observava os vários tipos de dardo e a empunhadura; ele via os atletas arremessarem e então podia ver qual o dardo melhor. O atleta, na competição, deve estar equipado o suficiente para evitar pequenos problemas — óleo, cordões para sapato adicionais, pregos para sapatilhas, etc. Deve ter sempre à disposição guar- da-chuvas, capas de nylon, mantas ou cobertores, etc. Visando a uma boa preparação e obtenção de um bom rendimento, deve-se permitir que o atleta treine em condições de tempo variáveis. Exemplo: com chuva, contra vento, com vento a favor. Basi- camente é falso que o atleta treine sempre em con- dições ideais de tempo. Todas essas medidas visam dar segurança ao atleta. O atleta aplicado terá sempre, independente do treinador, a motivação. Periodicamente devem ser avaliadas suas condições técnicas através de videoteipes, seqüências fotográficas, etc. Dentro de um bom acompanhamento tem principal importância o planejamento tático. O Prof. Berno Wischmann cita aqui a altura inicial do sarrafo em relação ao primeiro salto, o aspecto tá- tico no decatlo, as variações na meia e longa distância, etc. Ele sempre recomenda que o atleta se aqueça de forma ideal para que na primeira tentativa, principalmente no arremesso, consiga o máximo, com o objetivo de chocar o adversário. POSSIBILIDADES NO RELACIONAMENTO TÉCNICO COM O ATLETA Veremos a seguir o procedimento de 3 técni- cos para a resolução dos problemas dos seus atletas. O primeiro exemplo é o de um velocista ame- ricano: quando corria com adversários mais fracos conseguia atingir sempre resultados de bom nível, e o mesmo não se verificava quando ele participava de grandes competições, com adversários de nível melhor ou igual ao dele. Seu treinador tentou encontrar fórmulas dentro da competição e do treinamento, visando à su- peração dessa deficiência. Aplicou o seguinte méto- do: pediu ao atleta que antes da competição corresse no sentido contrário ao seu desenvolvimento, o que dava ao atleta a sensação de estar correndo contra uma resistência, especialmente quando sentia o vento contrário. Na competição, tendo que correr no sentido oposto ao anterior, sentia-se mais liberto, pois a oposição que sentira anteriormente dava-lhe agora a impressão de estar recebendo uma ajuda no sentido de trás para a frente que o facilitava correr. O segundo exemplo é o de um saltador em altura que somente iniciava a corrida de aproximação quando lhe restavam apenas 15 segundos para se esgotar o tempo regulamentar de 2 minutos. Essa característica foi observada durante a prova nas Olimpíadas da cidade do México, e posteriormente, também, por ocasião do Campeonato Europeu de Halle, em Viena, quando então se ratificou essa característica do saltador. Perguntado sobre a causa dessa característica, o técnico respondeu: "Meu atleta é bastante nervoso e geralmente sua corrida é feita sem concentração, e nesses 15 segundos que lhe restam seu nervosismo muda, pois lhe resta neste curto espaço de tempo a alternativa única de executar o salto". Algum tempo depois, esse mesmo procedi- mento foi usado pelo Prof. Wischmann, com um de seus atletas, com bons resultados. O terceiro exemplo é o de um triplista alemão, atleta do Prof. Wischmann, que, em competições, só alcançava bons resultados se próximo à caixa de salto sentasse uma menina muito bonita que o aplaudisse. Então o Prof. Wischmann solicitou o auxílio de uma menina bastante bonita, que, na competição seguinte, sentou-se próximo à caixa e o aplaudiu, advindo daí um resultado muito bom. 0 objetivo do treinador é, do ponto de vista psicológico, contribuir para que tanto o atleta como ele próprio tirem vantagens dessa situação. O treinador deve situar-se na base de todo processo de relacionamento do atleta, com seu empregador, seus professores, sua família, etc. Deve ser, antes de tudo,um amigo do atleta: participar não apenas do treinamento, mas também de aspectos particulares, jogando, brincando, etc. Uma de suas principais funções é a motivação do atleta, levando-o a melhorar seus resultados. To- dos nós conhecemos métodos utilizados para incen- tivar, ou mesmo para destruir, nossos atletas antes, durante e depois da competição. Sabemos da influ- ência de fatores que levam o atleta a uma auto-su- peração ou a um mal-estar que o impede de conse- guir bons resultados. Temos aqui um exemplo ocorrido nas Olim- píadas de Melbourne, onde o técnico norte-ameri- cano, depois de muitas manobras, conseguiu mudar o local e o horário dos treinamentos, para que seus arremessadores de martelo treinassem antes dos russos. Ao final do treinamento, antes que os russos chegassem, fez com o martelo um grande número de marcas próximas ao recorde do mundo e esperou por eles. Os russos, ao verem aquelas marcas, ficaram nervosos, e no dia da competição perderam para os americanos. Esse exemplo serve para mostrar-nos como determinados "truques" podem ter resultados positivos ou negativos sob o ponto de vista psicológico. A condição básica para a execução ideal de um trabalho está na autoridade dentro de uma base natural de conhecimento, ou seja, uma autoridade formada do treinador. Ele deve mostrar conheci- mento, tranqüilidade, expressar segurança mesmo em situações difíceis na competição. Atualmente, na Europa, o Prof. Wischmann vê o problema da seguinte forma: a teoria tem muito valor. O treinador que, em seu local de trabalho, se destaca através de elevado conhecimento, não é re- conhecido. Ele, que durante 32 anos foi técnico nacional da Alemanha, deixou a tarefa, mas conti- nuaria caso não houvesse essa teorização dos pro- blemas do atletismo, pois não se chega a bons resul- tados através de palavras bonitas, e sim de um tra- balho aplicado e consciente do treinador baseado em suas experiências. Em termos de vitória da equipe, o fator principal é a palavra do treinador, que irá motivar o atleta, criando nele a vontade de vencer; treinador que negligencia o cuidado com seus atletas perde o controle da situação; nunca pode cuidar primeira- mente dos seus interesses, alojar-se ou alimentar-se antes dos atletas, por exemplo. Diz ainda o Prof. Wischmann que todo aquele que vive essa problemática chega à conclusão de que, dentro deste contexto, a obtenção de bons resultados não é mais possível em termos amadoris- tas. O que deveremos fazer então com atletas que demonstrem qualidades para obter bons resultados? Deveríamos fazer uma análise das causas que levam esses atletas de alto nível a conseguirem bons resultados. A base para o sucesso desportivo é um trabalho sistemático desde idades tenras, começan- do com a iniciação até se chegar aos mais altos níveis. Segundo Wischmann, não existem mais na Eu- ropa atletas amadores, que talvez possam existir no Brasil ou no Japão. Mesmo os seus atletas são estu dantes, militares ou empregados de firmas cuja jor nada de trabalho prevê um período para treinamen to. A importância principal neste tipo de trabalho e a disponibilidade de tempo para treinamento inten sivo. Relação entre escola e treinamento de alto nível, estudo e resultado, prestação de serviço militar e época de resultado, profissão e treinamento, todos esses aspectos devem ser encarados sob um único ponto de vista, que nos leva ao seguinte caminho: — massificação e desenvolvimento de trabalho a nível escolar e iniciação; — distinção de atletas talentosos através de um processo de seleção; — desenvolvimento de planos de perspectivas que levem os atletas a uma condição financeira que os possibilite à obtenção de resultados de nivel, ou seja, criar condições semelhantes ao profissionalismo; pois o fato de o atleta participar de esportes de alto nível não pode trazer-lhe prejuízos, sejam em termos de estudo ou de outras atividades. Em síntese, devemos cuidar dos aspectos escolares, materiais e profissionais que lhes são necessários, não existindo outro caminho senão esse para a obtenção de resultados de alto nível. Cito como exemplo o grande progresso espor- tivo dos Estados Unidos, no período entre as 2 guerras mundiais: esse progresso deve-se exclusiva- mente a um trabalho sistemático de atividades físicas básicas nas escolas elementares e high schools e às facilidades de estudo nas universidades oferecidas aos atletas de talento. Esse sistema norte-americano de apoio ao esporte serviu de base para a estruturação do programa esportivo da RDÁ para o período de pós-guerra. Em 7 de janeiro de 1955, foram criadas escolas de esporte de nível infanto-juvenil, às quais eram encaminhados os atletas; elas tinham o objetivos de levá-los a uma especialização. Estabeleceram-se, através de um órgão competente da RDA, as bases, as formas e os objetivos desse trabalho, nessas escolas. O ceticismo dos pais dos atletas quanto ao funcionamento dessas escolas foi logo substituído pela aceitação ao que era oferecido aos seus filhos, como, por exemplo: aulas de recuperação, após o período letivo normal, a todo e qualquer aluno, nas matérias em que tivesse apresentado dificuldades. A freqüência e a igualdade dessa formação, em termos intelectuais e esportivos, levaram os pais a mandarem suas crianças a essas escolas esportivas. Temos, como exemplo desse tipo de trabalho, o caso da velocista recordista mundial Renate Stecher, que em idade escolar manifestou qualidades de sprint. Foi então desenvolvido com ela um plano de perspectivas visando criar condições para o desenvolvimento de suas potencialidades esporti- vas em concordância com suas atividades escolares profissionais, chegando mesmo a ter um professor à sua disposição para ajudá-la a sanar deficiências escolares. Temos aí um exemplo de trabalho planejado, objetivando resultados de nível olímpico. Do mesmo modo são planejadas as atividades profissionais de outros atletas, junto ao exército, polícia, como professores de esporte, etc. Toda a atividade profissional do atleta, com relação ao treinamento, é ajustada. Segundo o Prof. Wischmann, apenas países que fazem o mesmo que a RDA podem atingir resultados de alto nível, pois caso contrário os atletas irão se deparar com grandes obstáculos, de diferentes ordens, que os impedirão de obter tais resultados. ALGUNS PRINCÍPIOS DA INICIAÇÃO EM ATLETISMO COM JOVENS O Prof. Berno Wischmman realizou pesquisa a respeito da idade adequada para a iniciação em atletismo, chegando à seguinte conclusão: deve co- meçar, para meninas, aos 9 anos de idade, e para meninos, aos 10 anos. Apesar de alguns estudiosos no assunto acha- rem esta idade bastante prematura para trabalho com disco e martelo, o Prof. Wischmman vê a pos- sibilidade de iniciação também nessas provas, dada a grande variedade de implementos disponíveis e adequados para uma boa orientação em forma de pequenos jogos e atividades recreativas, com grande motivação para o trabalho. Ainda ilustrou a possi- bilidade de orientação na iniciação das atividades, através de meios e formas práticas, levando o edu- cando ao prazer pelo exercício, bem como gradativa evolução de técnica para as diversas provas, sempre de forma simples e agradável, aumentando aos poucos o grau de dificuldade dos exercícios, num clima de trabalho bastante salutar e agradável. Exemplos de formas de atividades práticas orientadas para o atletismo: correr na ponta dos pés, com ligeira elevação dos joelhos, ombros descontraídos e completa soltura dos movimentos, favorece as qualidades de sprint. A força só pode ser desenvolvida com descon- tração completa em todos os movimentos, onde se recomenda sapatear.Exercícios para desenvolver a força de salto têm como objetivo básico dar ao iniciante as qualidades de base para o atletismo. Outro aspecto de máxima importância, que pode ser desenvolvido bastante cedo, é a coordena- ção de movimentos, através de tarefas acompanha- das da pergunta: quem é capaz? Em pé, saltar e dar um giro de 360°, para a direita ou esquerda. Coor- denar este giro na corrida. Correndo na ponta dos pés, saltar e cair de pernas afastadas. Idem, saltar, afastar as pernas e cair de pés unidos. Idem, baten- do os pés duas vezes no ar, caindo também de pés juntos, etc. O princípio dos movimentos é desen- volver, dentro da corrida, exercícios de habilidades, onde o educando é sempre levado a cumprir uma tarefa nova. Em seguida, é importante desenvolver a coor- denação motora com movimentos combinados com outros segmentos: salto com movimentos de cabeça, de tronco, com trabalho de braços, etc. Estas formas de trabalho visam formar, generalizando, futuros atletas, por estar sempre presente, em todos os exercícios, o fator coordenação, habilidade, além do fortalecimento geral. Todo exercício executado deve trazer indicações de resultados. Isto nos dá uma segura orientação da evolução e progresso de cada um, individualmente. Podemos também incluir nesta forma de trabalho exercícios de maior complexidade, segundo níveis estabelecidos que nos mostrarão o nível de habilidade e coordenação adquiridos com o trabalho já executado e as deficiências a serem vencidas. Sempre com os mesmos objetivos e princípios já definidos desenvol-ver-se-á um trabalho para angariar qualidades de base, um fortalecimento geral, ganho de novas habilidades através de coordenação de movimentos, orientando futura especialização do jovem iniciante nas diferentes provas. O caminho escolhido para orientar a atividade física não deve conter sobrecargas nos aspectos orgânico e psicológico, seguindo a evolução e formação da pessoa humana, no decorrer dos anos. Segundo o Prof. Wischmman devemos tomar consciência de que esporte é vida, temperamento, vontade, prazer, força, gosto e necessidade para a formação geral do ser, em todos os seus aspectos. Portanto, devemos estar sempre atentos para a simplicidade dos movimentos na iniciação técnica do atletismo. CAPITULO II FORÇA ELEMENTOS DA CONDIÇÃO FÍSICA Sao elementos básicos da condição física: FORÇA - RESISTÊNCIA - VELOCIDADE Distinguem-se 3 capacidades de força: força máxima, força rápida e resistência de força. - Força especial — É o resultado da interação das diferentes capacidades de força. Em relação ao atletismo, a resistência de força não tem importância direta na competição; entre- tanto, é de relevância no treinamento, pois forma a base para o desenvolvimento de força rápida e força máxima. No atletismo, à medida que se trabalha com cargas, distinguem-se: "forças internas" e "forças externas". Forças internas — São aquelas que nós consegui-os através do trabalho da musculatura. Forças externas — São aquelas que vêm de fora e que temos que movimentar através da nossa mus- culatura. Ex.: peso, halteres. Se as forças internas forem maiores que as externas, elas vencerão a resistência das forças externas e haverá movimento. Se as forças internas forem iguais às externas, não haverá movimento. Se as forças externas forem maiores que as internas, teremos um movimento de recuo. Ex.: ao saltarmos de cima de uma cadeira para o chão, somos obrigados a flexionar as pernas, para amortecer a queda, porque a atuação da força externa é maior que a da força interna. Outro exemplo: trabalho de força com halteres. Quando os halteres são erguidos, as forças internas são maiores do que as externas; quando são mantidos acima sem movimento, as forças são iguais; quando descem, as forças exter- nas são maiores que as internas. O movimento desportivo é caracterizado pelo jogo de forças internas e externas. Por causa das possibilidades deste jogo de forças, classificamos: 1) — Força dinâmica positiva — quando num tra- balho de superação, as forças internas são maiores que as externas. 2) — Força estática — quando forças internas e externas se equilibram. Embora no atletismo usemos mais a força dinâmica, esta forma também é empregada. 3) - Força dinâmica negativa — quando as forças externas são maiores do que as forças internas. Ex.: fase de amortimento em todos os saltos. Podemos aumentar a força máxima, através de 2 caminhos; o melhor e que dá mais resultado é pelo aumento dos músculos (hipertrofia). O segundo é utilizado pelos atletas que realizam trabalhos de força rápida, É a melhoria da coordenação intra e intermuscular. Um trabalho intramuscular é aquele em que se trabalha ao mesmo tempo diversas fibras muscula- res. A melhoria da coordenação intramuscular se faz aumentando o número de fibras musculares que conseguem trabalhar ao mesmo tempo. Esse aumento do número de fibras atuantes ao mesmo tempo é limitado. Através do treinamento de força, o atleta con- : segue uma capacidade de contrair maior número de fibras musculares ao mesmo tempo. O resultado disto é o aumento da força máxima sem plena hi- pertrofia muscular. Estas conclusões foram conse- guidas através da eletromiografia de Kusiserav. Por meio deste método podemos ver quantas fibras musculares trabalham ao mesmo tempo e em que quantidade são utilizadas no movimento. Isto é importante porque se pode ver quais os músculos que trabalham em determinadas provas. Este estudo encontra-se ainda em fase pouco adiantada; para movimentos simples podemos ver os músculos atuantes; porém, com relação a movi- mentos mais complexos, isto se torna impossível. Coordenação intermuscular — Devemos distinguir entre grupos agonistas e antagonistas. Os agonistas são os músculos que se contraem durante o trabalho muscular; os antagonistas são aqueles que se relaxam. Quanto maior o relaxamento dos antagonistas, menor é a exigência dos agonistas; portanto, a possibilidade do trabalho é bem maior. Isto é muito importante em relação à força rápida, porque nela temos uma contração muscular muito rápida; aqui os músculos antagonistas têm um lapso de tempo muito pequeno para relaxarem. Por isto, quando não existe um equilíbrio entre o relaxamento e contração, podem ocorrer lesões. Estas lesões, principalmente do tipo ruptura, sucedem quando os músculos agonistas iniciam a contração e os músculos antagonistas ainda não se relaxaram, quebrando o equilíbrio entre o trabalho de um e outro. Podemos definir a força rápida como "a capa- cidade de superar uma resistência de maneira ve- loz"; é a capacidade de aceleração. Ao contrário da força máxima, o resultado da força rápida é sempre dinâmico. No desporto quase nunca temos movimentos estáticos; temos sempre movimentos de aceleração. A força rápida é uma habilidade de coordenação. Exemplo: De um lado temos a força máxima e de outro a velocidade, e entre elas a força rápida, que, por isto, não é considerada absoluta, mas relati- va, pois pode pender mais para a força máxima ou mais para a velocidade. Quando um velocista tem que superar um adversário, sua força rápida está mais próxima da velocidade. Para o arremessador de peso, por encontrar também resistências externas, sua força rápida está muito mais próxima da força máxima. No atletismo temos forças especiais, tais como força de salto, força de sprint, força de arremesso e força de lançamento. - A força de salto subdivide-se em: — Força de salto vertical — Força de salto horizontal Entre estas duas forças não existe uma relação determinística, mas, sim, uma relação empírico-es tatística, o que significa que o atleta que tem maisforça de salto vertical terá também mais força de salto horizontal, ou vice-versa. Estas forças de salto podem ser treinadas juntas porque são parecidas uma com a outra, mas ao mesmo tempo é impor- tante haver um trabalho especial para a melhoria de cada uma delas. Todas as forças têm elementos comuns que melhoram com o treinamento geral. 0 treinamento é um processo contínuo de especialização; quanto mais elevado for o nível do atleta, maior será o treinamento específico de força rápida. Em crianças de 8 a 10 anos encontrou-se, en- tre FSH e FSV,uma igualdade de 50 a 60 por cento, onde concluímos que no trabalho com iniciantes é importante o trabalho geral de força rápida, mas, à medida que melhora o nível, entra o trabalho especial. Em fase de especialização, há uma transfor- mação de força rápida geral em força rápida espe- cial, havendo uma perda nesta transformação, isto é, certa quantidade de força rápida geral não é transformada em força rápida especial. DIFERENCIAÇÃO SISTEMÁTICA DO TREINA- MENTO DE FORÇA Todo o treinador deve saber diferenciar o tipo ou espécie de força que deve estar em primeiro plano dentro de um treinamento. Existem 3 elementos ou formas de força: Força máxima, força rápida, resistência de força. São conhecidas três diferenciações sistemá- ticas no treinamento de força. 1. Diferenciação didática — que é determinada se- gundo o objetivo do treinamento, ou seja, pelos elementos imediatamente importantes ou me- diatamente importantes. 2. Diferenciação sistemática segundo o conteúdo do treinamento que se divide em treinamento de força geral e treinamento de força especial. São meios de treinamento em relação à força geral e à força específica: Exercícios desenvolvidos de maneira geral. Exercícios específicos. Exercícios de competição com sobrecarga. Os exercícios desenvolvidos de maneira geral correspondem ao treinamento geral. Os exercícios específicos e os de competição com sobrecarga correspondem ao treinamento específico. Os exercícios desenvolvidos de maneira geral nao correspondem, nem na dinâmica e nem na es- trutura, aos de competição. 0 conjunto de movimentos e a relação entre força e tempo nada têm a ver com competição. Os exercícios especiais correspondem em parte à dinâ- mica da competição e em parte à estrutura da com- petição. Os exercícios de competição correspondem em relação a estrutura à competição, e em relação à dinâmica apenas assemelham-se à competição. Ex.: o arremessador de peso, ao se deslocar em bus- ca do anteparo com um haltere às costas, faz um exercício que, quanto à estrutura, assemelha-se ao movimento da competição, e, quanto à dinâmica, tentará atingir a velocidade de deslocamento em competição. Outro exemplo: para um velocista, a flexão dos joelhos com halteres (semi-agachamento e aga- chamento) é um exercício geral, pois quanto à es- trutura não se parece com movimento de corrida e quanto à dinâmica será mais lento que o movimento de corrida. Portanto, é básico que o exercício especial te- nha uma estrutura parcial em relação à competição e uma imitação à dinâmica de competição. Exercício de competição (exemplo): o ar- remessador de peso ao arremessar um peso maior que o normal. O velocista ao subir correndo uma rampa ou escada. Um saltador executando saltos da prova ou educativos com colete lastrado. Os exercícios de competição em relação à es- trutura imitam a competição e em relação à dinâmica não se assemelham completamente, pois a carga não permite. O atleta deve buscar a dinâmica próxima da competição, isto é, a sobrecarga não deve ser grande. Ex.: um saltador em extensão com colete de 30 kg não terá velocidade para o salto. O velocista não deve subir ou correr em planos muito inclinados. Em todo o planejamento deve haver uma rela- ção ótima entre os três grupos de exercícios para se conseguir uma força ótima. O treinamento é um processo contínuo de es- pecialização. Dentro de um ciclo anual de treina- mento, os exercícios específicos e de competição com sobrecarga deverão ser dados mais no fim, e nao no princípio do período de treinamento. 3. Sistematização segundo o método de treinamento Existem: a) método de duração; b) método de trabalho de intervalo extensivo; c) método de trabalho de intervalo intensivo; d) método de trabalho de repetição. O somatório destes 4 métodos serve também para melhorar a resistência de força. a) Método de duração - é importante para a resistência geral de força. Exercício contínuo e sem interrupção com carga pequena e velocidade mais lenta. Ex.: corrida de duração com colete lastrado. (Esse método é pouco usado no atletismo.) b) Método de trabalho de intervalo extensivo — é um método para treinamento da resistência de força, importante para o trabalho básico. Normas de sobrecarga: carga entre 25 e 50%. Volume: 300 a 500 repetições Repetições por série: 20 a 30 Intervalo: não superior a 90". Exemplo de método de trabalho extensivo para saltadores, com objetivo de melhorar a resistência de força de perna: Intensidade: 40% Volume: 400 repetições. Repetições por séries: 20. Intervalo: 90". Número de séries: 20. Tipos de saltos a executar: — Saltitar com ambas as pernas, halteres nas costas (extensão total das pernas). — Saltitar com ambas as pernas, halteres nas costas e com afastamento ântero-posterior das pernas. — Saltar sobre um banco sueco, elevando o corpo e pronunciando os joelhos num ângulo de 90°. — Saltos de trabalho de força dinâmica negativa e positiva. Podemos usar duas formas para realizar este trabalho: 1 — Formando um circuito: 1ª estação: exercício a) — 20 rep. 2ª estação: exercício b) — 20 rep. 3ª estação: exercício c) — 20 rep. 4a estação: exercício d) — 20 rep. Dar 5 voltas pelo circuito. 2 — Repetir o circuito anterior com apenas 5 re petições em cada estação, devendo repetir 20 vezes o circuito. Cuidados a tomar: — Ter conhecimento das capacidades individuais em cada exercício. — Conhecer a capacidade máxima do atleta para aplicar certo os 40%. — O primeiro circuito só pode ser feito se houver no máximo 4 atletas, com rendimento de força máxima mais ou menos idêntica. Podem-se alterar as normas de sobrecarga den- tro de uma sessão de treinamento, assim: — variando a percentagem das cargas nas esta- ções. Ex.: 50% na 1º, 25% na 2º, 40% na 3º e 30% na 4a estação; — variando o número de repetições por estação; — variando o tempo de intervalo entre as esta- ções; — variando o trabalho de grupos musculares em cada estação; — aumentando o número de estações no circuito, para fazer trabalhar mais a musculatura mais fraca ou a mais exigida na prova de salto. c) Método de trabalho de intervalo intensivo— é a forma típica de trabalho para melhorar a força rápida; é ideal para o treinamento da força especial. Normas de trabalho: 1 - Intensidade: 40% a 70% FM-W- FR-40% Vel. A força rápida está entre a força máxima e a velocidade. Força rápida para força máxima — in- tensidade de carga de 70%. Força rápida para velo- cidade — intensidade de carga de 40%. 2 — Repetições: 6 a 10, dependendo da intensidade. Devem ser feitas tantas repetições quantas forem possíveis, sem perda de velocidade do movimento. Com velocidade maior, reduzir para 6 a 7 repetições; a queda da velocidade deve limitar o n? de repetições. 3 — Intervalo: O suficiente para que a série seguinte seja feita na mesma velocidade que a anterior (2 a 4 minutos). 4 — Volume: É menor, porque a intensidade é maior e os movimentos devem ser executados com explosão, fator de alta importância (100 a 200 re- petições). Observações: Tendo pouco tempo disponível para
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