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Curitiba 2013 Psicologia da Educação Fernanda Bordignon Luiz Gabriel Gomes de Luca Fabiana Bechara Fonseca PSE - BOOK.indb 1 10/05/13 16:09 Editora faEl Gerente Editorial Denise Gassenferth Projeto Gráfico Sandro Niemicz Edição Mariana Duarte revisão Cláudia Helena Carvalho Weigert diagramação Karina Silveira Capa Sandro Niemicz fotos da Capa Suat Gursozlu Toria Yuralaits Albert PSE - BOOK.indb 2 10/05/13 16:09 Sumário Apresentação | 5 1 A Psicologia da Educação | 9 2 A Psicologia do Desenvolvimento | 29 3 Principais abordagens do desenvolvimento: estudos com ênfase em diferentes dimensões | 49 4 Contribuições da Psicologia para a Educação: Aprendizagem | 75 5 Contribuições da Psicologia para a Educação: programação de ensino | 111 6 Temas contemporâneos em Psicologia da Educação | 153 Referências | 171 PSE - BOOK.indb 3 10/05/13 16:09 PSE - BOOK.indb 4 10/05/13 16:09 Apresentação Vivemos em uma época em que a Educação ocupa um espaço de destaque. O conhecimento produzido para lidar com fenômenos como ensino e aprendizagem é de grande importância para melhorar a qualidade do trabalho daqueles se dedicam a trabalhar com Educação. Longe de esgotar todas as polêmicas ou de responder às antigas e modernas questões que assolam a Educação em nosso tempo, a Psicologia pode, com base nos conhecimentos acumulados ao longo de seus anos de pesquisas e estudos, contribuir para fortalecimentos e transformações necessários aos diferentes contextos educacionais da modernidade. PSE - BOOK.indb 5 10/05/13 16:09 – 6 – Psicologia da Educação No capítulo 1, estudaremos o que é a Psicologia, qual seu objeto de estudo e a sua relação com Psicologia da Educação e a Psicologia do Desen- volvimento. Estas são áreas da Psicologia? Que tipos de contribuições cada uma pode nos oferecer? Essas são algumas perguntas que seremos capazes de responder ao estudarmos esse capítulo. No capítulo 2, abordaremos aspectos filosóficos a respeito da condição humana para aprofundarmos nosso entendimento acerca dos principais fun- damentos do desenvolvimento da vida humana em suas diversas dimensões. No capítulo 3, apresentaremos as principais contribuições da Psicologia do Desenvolvimento, em que são enfatizados diferentes aspectos ou dimen- sões. Na primeira parte, estudaremos as contribuições que salientam os aspec- tos cognitivos do desenvolvimento, começando pelos estágios de desenvolvi- mento cognitivo da criança e, posteriormente, ressaltando o desenvolvimento do juízo moral e da inteligência. Na segunda parte, é abordada a contribui- ção que enfatiza o papel dos aspectos sociais e culturais do desenvolvimento, incluindo o desenvolvimento do pensamento e da linguagem. A ênfase nas variáveis biológicas que determinam o desenvolvimento é apresentada na ter- ceira parte. Por fim, veremos que o desenvolvimento psicológico humano consiste na integração entre aspectos biológicos, sociais e culturais. No capítulo 4, estudaremos algumas contribuições da Psicologia sobre o que constitui o processo de aprendizagem. Veremos que esse não é um fenô- meno simples, mas algo que envolve muitos aspectos a serem considerados. No capítulo 5, apresentaremos as características de uma contribuição da Psicologia denominada “Programação de Ensino”, infelizmente ainda pouco conhecida apesar de sua importância na Educação. Estudaremos aspectos relacionados ao contexto em que tal contribuição teve origem, conceitos fun- damentais, procedimentos a serem apresentados por um professor ao progra- mar ensino e algumas técnicas de ensino que podem ser utilizadas como meio para ensinar novos comportamentos. No sexto e último capítulo, abordaremos alguns temas contemporâneos em Psicologia da Educação, como comunicação entre pais e filhos, educação de jovens e adultos e o problema da biologização das chamadas “dificuldades de aprendizagem”. PSE - BOOK.indb 6 10/05/13 16:09 – 7 – Apresentação Convidamos você, leitor, a nos acompanhar nessa exploração – que deve se configurar como um passo de uma longa caminhada rumo à melhoria e ao desenvolvimento contínuo da Educação –, em que buscamos a complementa- ção de todas as áreas, a fim de construirmos uma sociedade mais justa e feliz. Boa leitura! Fernanda Bordignon Luiz1 Gabriel Gomes de Luca2 Fabiana Bechara da Fonseca3 1 Graduada e mestranda (na área de concentração “Organizações, trabalho e aprendizagem”) em Psicologia na Universidade Federal de Santa Catarina. Experiência em proposição e análise de objetivos de ensino, programação de condições de ensino, ensino de Psicologia, ensino de História. Graduanda em História na Universidade do Estado de Santa Catarina. 2 Graduado e Mestre (na área de concentração “Organizações, trabalho e aprendizagem”) em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina. Doutorando em Psicologia na Univer- sidade Federal de Santa Catarina e professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná. Experiência profissional em psicologia clínica, programação de ensino e análise do comportamento em diferentes tipos de organizações. 3 Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001), fez Pós-gradu- ação em Administração e Sistemas de Informação (2005) na Universidade Federal Fluminense. Como mais de 14 anos de experiência, atual principalmente em temas voltados à Educação a Distância. Mestre em Educação pela UNESA (2010), vem atuando como tutora no curso de Pegagogia da UNIRIO desde 2008. PSE - BOOK.indb 7 10/05/13 16:09 PSE - BOOK.indb 8 10/05/13 16:09 1 A Psicologia da Educação A Psicologia é uma área de conhecimento presente em dife- rentes contextos. Em nosso dia a dia, podemos ver psicólogos traba- lhando em escolas, hospitais, clínicas particulares, empresas, repar- tições públicas e em muitos outros lugares. A Psicologia é também parte do currículo de estudantes de cursos de graduação distintos, como Administração e Medicina. O conhecimento da Psicologia é muito relevante para profi ssionais de diferentes campos e não pode- ria faltar aos profi ssionais que trabalham com Educação. Mas o que estuda, afi nal, a Psicologia? Por que ela é tão importante? E Psicolo- gia da Educação, o que signifi ca? PSE - BOOK.indb 9 10/05/13 16:09 – 10 – Psicologia da Educação Neste capítulo, vamos entender qual o objeto de estudo da Psicologia e quais as contribuições dessa área de conhecimento para a Educação. 1.1 A Psicologia e seu objeto de estudo Uma área do conhecimento é caracterizada pela organização do conhe- cimento existente, ou em produção, acerca de um assunto ou fenômeno. A Psicologia, por exemplo, é uma área que produz conhecimento a respeito do fenômeno psicológico. Existem diferentes formas de produzir conhecimento. A Ciência, a Filosofia, a Arte, a Religião e até mesmo o Senso Comum são processos de conhecer (BOTOMÉ; KUBO, 2002). O aspecto fundamental que difere um processo do outro é o método utilizado para produzir conhecimento. Vamos imaginar uma mãe que observe que, por duas vezes, seu filho cho- rou ao ver a avó usando um vestido verde. Essa mãe, então, conclui que crian- ças de quatro anos (a idade de seu filho) não gostam de roupas verdes e conta para outras pessoas a sua descoberta. Essa mãe está produzindo algum tipo de conhecimento? Que conhecimento é esse? Ela está falando acerca do com- portamento de uma criança, o qual, por sua vez, é um fenômeno psicológico. Assim, podemos afirmar que essa mãe produziu conhecimento a respeito do comportamento ao observar seu filho chorar diante do vestido da avó. O método por meio do qual ela chegou a tal conclusão é o do senso comum, uma vez que observou apenas uma criança, fê-lo em poucas situaçõese inferiu que foi a cor do vestido que a fez chorar, sem observar outros aspectos possíveis deter- minantes da ação da criança. O método utilizado pelo senso comum é pouco rígido nesse sentido, e o conhecimento produzido por meio de tal método nem sempre é confiável, mas não deixa de ser conhecimento produzido. O conhecimento acerca do fenômeno psicológico é, portanto, produzido de diversas maneiras. Nesta disciplina, estudaremos principalmente aquele produzido por meio do método científico. Tal método, como o conhecemos hoje, não existia em outros períodos históricos, tendo surgido principalmente no século XIX. Apesar disso, o estudo acerca daquilo que é chamado psicó- logo é objeto de curiosidade há muito mais tempo. PSE - BOOK.indb 10 10/05/13 16:09 – 11 – A Psicologia da Educação Fo nt e: S hu tt er st oc k O que é, afinal, o fenômeno psicológico? A partir de diversos estudos, realizados por meio do método científico, podemos dizer que o fenômeno psicológico é o comportamento humano. Mas tal conceito não é simples- mente a ação de uma pessoa, ou aquilo que ela faz. PSE - BOOK.indb 11 10/05/13 16:10 – 12 – Psicologia da Educação Comportamento Para a Psicologia, o conceito de comportamento é diferente daquele apresentado em geral nos dicionários. No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2010), por exemplo, comportamento é defi nido como “maneira de se comportar ou de se conduzir; conjunto de ações de um indivíduo, observáveis objetivamente”. Na Psicologia, o compor- tamento é defi nido como “interações entre aquilo que um organismo faz, o meio em que o faz e o que é produzido a partir desse fazer” (SKINNER, 2003; CATANIA, 1999; BOTOMÉ, 2001). Envolve, portanto, mais do que a ação que um organismo apresenta, mas as condições do ambiente antes e depois de tal ação. O que isso quer dizer? Para entendermos melhor o conceito de compor- tamento, vamos observar o quadro a seguir, que representa um comporta- mento de uma pessoa em uma boate. Quadro 1: Representação do comportamento de paquerar de uma pessoa em uma boate. Situação antecedente Ação Situação consequente - pessoas dançando em uma boate; - pessoa especí- fica olhando em sua direção. - piscar o olho. - aproximação da pes- soa para conversar. Conforme consta no quadro anterior, a pessoa que apresenta o compor- tamento analisado está em uma situação em que, entre outros aspectos, há pessoas dançando em uma boate e uma delas está olhando em sua direção. A ação apresentada é piscar o olho; e, com isso, a outra pessoa se aproxima para conversar. Conhecemos esse comportamento como “paquerar”. Tal compor- tamento não é defi nido pela ação de piscar o olho, mas pela interação entre essa ação e o ambiente, antes e após a ação ocorrer. PSE - BOOK.indb 12 10/05/13 16:10 – 13 – A Psicologia da Educação Qual a diferença entre ação e comportamento? Por que a ação “piscar o olho” não é simplesmente “paquerar”? Dois aspectos nos ajudam a respon- der a essas perguntas. Em primeiro lugar, se pensarmos no comportamento de paquerar, não é apenas um piscar de olhos que define o que está ocorrendo, certo? Segurar a mão de outra pessoa, dizer certos tipos de frases e olhar de certa maneira podem ser também ações que compõem o comportamento de paque- rar. Portando, piscar o olho é apenas um dos componentes do comportamento de paquerar, mas que também pode ser parte de outro comportamento. Outro importante aspecto nos ajuda a entender a diferença entre ação e comportamento. Vamos imaginar que uma pessoa está sozinha em uma sala, em frente ao computador, e algo começa a pinicar seu olho esquerdo. Essa pessoa então pisca o olho e expulsa o cisco intruso. Esse comportamento, denominado “retirar o cisco do olho”, é representado no quadro que segue. Quadro 2: Representação do comportamento de retirar o cisco do olho. Situação antecedente Ação Situação consequente - sala com computa- dor, livros, material de escritório; - cisco no olho. - piscar o olho. - retirada do cisco do olho. Conforme representado nos dois quadros anteriores, a ação apresentada é a mesma, embora sejam parte de comportamentos muito diferentes. Quando dizemos que alguém está paquerando, não observamos apenas a ação dessa pes- soa, mas a interação entre as características do meio ou da situação em que ela se encontra e aquilo que ela produz a partir de tal ação. É por isso que o comporta- mento não é definido pela ação de alguém, mas pela interação entre aquilo que uma pessoa faz, o meio em que o faz e o que é produzido a partir desse fazer. Embora uma pessoa apresente a mesma ação, o que define seu comportamento é aquilo que acontece com o meio no qual realiza tal ação. Como nomeamos um comportamento? O nome de um comportamento enfatiza em geral a sua consequência. Observe o quadro a seguir, onde são apresentadas as características do comportamento de uma criança em uma sala de aula. PSE - BOOK.indb 13 10/05/13 16:10 – 14 – Psicologia da Educação Quadro 3: Representação de um comportamento de uma criança em sala de aula. Situação antecedente Ação Situação consequente - professora aten- dendo outro aluno. - criança faz uma pergunta à professora. - professora inter- rompe o atendimento do aluno e responde à pergunta da criança; - obtenção de atenção da professora. Já sabemos que “fazer pergunta” é uma ação, e não um comportamento. Então, em qual interação a ação “fazer pergunta” está inserida? O que acon- tece a partir dessa ação? Conforme mostrado no quadro anterior, a criança obtém a atenção da professora; comportamento esse denominado “chamar a atenção”. Mesmo que a criança passe a gritar em vez de fazer pergunta, se a consequência é obtenção de atenção da professora, o comportamento recebe o mesmo nome. Por isso, dizemos que há classes (conjuntos) de comporta- mentos, que possuem a mesma função (consequência), mas podem ser apre- sentadas por meio de ações diferentes. O conceito de comportamento não é algo simples. De acordo com Botomé (2001), quando um organismo age em um meio ou situação, as interações entre os componentes do comportamento estão se estabelecendo, podendo ser fortalecidas, enfraquecidas, aperfeiçoadas etc. As relações entre cada componente do comportamento estão o tempo todo em transformação. Então, vamos imaginar uma adolescente que conta para seu irmão mais velho que deixou de ir à escola pela manhã. No quadro que se segue, está represen- tado o comportamento do irmão. Quadro 4: Representação de componentes de um comportamento que pode variar conforme propriedades da ação. Situação antecedente Ação Situação consequente - relato da irmã indicando que faltou à escola. - Dizer: “Isso não é coisa que se faça, você pode repetir o ano”. ? PSE - BOOK.indb 14 10/05/13 16:10 – 15 – A Psicologia da Educação Conforme mostrado no quadro anterior, diante do relato da irmã de que não foi à escola, o irmão apresenta uma frase. O ponto de interrogação na representação da consequência indica que há várias possibilidades dela, pois existem diferentes maneiras de dizer a mesma frase que alteram as consequ- ências produzidas. Qual o tom de voz usado pelo irmão? Qual o volume da voz? Que expressão facial ele fez ao dizer a frase? Se falou de maneira ríspida, o comportamento dele pode ser denominado “brigar com a irmã”. Nesse caso, a consequência pode ser aumento do desconforto da irmã, esta sentir-se enca- bulada ou mal, alívio do irmão por ter explicitado o que é certo fazer para a irmã, além da clareza desta acerca do que pode acontecer caso falte à aula. Se o irmão falou baixo, com tom de voz suave, chamamos o comportamento do irmão de “aconselhar a irmã”, que tem outros tipos de consequências, como sentimento de confortoda irmã diante da atitude do irmão. Por meio do exemplo representado no quadro anterior, vemos que as ações que as pessoas apresentam não são caracterizadas apenas pela forma, mas por muitas outras variáveis ou propriedades. Quando a ação é “dizer algo”, ela envolve o tom de voz, o volume da voz, as expressões faciais, a velocidade da fala etc. Se a ação for “segurar algo”, isso abrange a força apli- cada, a duração, entre outros aspectos. Conforme exemplo apresentado por Botomé (2001), ao termos um copo de papel entre os dedos, há a possibi- lidade de apresentarmos diferentes comportamentos, alterando apenas uma propriedade da ação, a força. Aquilo que chamamos de “segurar o copo de papel” pode se tornar “amassar o copo de papel”. Para isso, fazemos o mesmo movimento, alteramos apenas a força com que seguramos o copo. Em cada exemplo, podemos identificar diferentes tipos de variáveis que podem carac- terizar comportamentos distintos. Outro relevante aspecto que nos mostra como o comportamento não é um fenômeno simples é a necessidade de considerarmos as características do ambiente em que a ação é apresentada. Conforme Botomé (2001), o movi- mento de balançar a mão direita à altura do ombro pode ser “acenar para alguém”. O mesmo movimento sobre a superfície de uma porta seria cha- mado “limpar”. Se há algo escrito na porta, poderia ser denominado “apagar”, e assim por diante. Ou seja, apesar de uma pessoa apresentar uma mesma ação, as características do ambiente em que ela ocorre indicam qual o com- portamento que está sendo apresentado. PSE - BOOK.indb 15 10/05/13 16:10 – 16 – Psicologia da Educação O fenômeno psicológico Agora que já temos claro que comportamento não é sinônimo de ação, mas é caracterizado pela interação entre aquilo que um organismo faz, o meio em que o faz e o que é produzido por esse fazer, podemos caracterizar melhor o que constitui o objeto ou fenômeno da Psicologia. Sabemos que o comportamento é um fenômeno psicológico, mas e os processos mentais? E aquilo que chamamos de pensamento? E os sentimen- tos? Tudo isso representa fenômenos psicológicos, afinal, não deixam de ser tipos de comportamentos. Os chamados processos mentais, como “lembrar”, “pensar”, “raciocinar”, também são interações entre aquilo que uma pessoa faz e o ambiente em que o faz. No quadro a seguir, é representado o compor- tamento de raciocinar. Quadro 5: Representação do comportamento de raciocinar. Situação antecedente Ação Situação consequente - informações acerca de algo. -concluir algo. - aumento da clareza acerca de algo; - aumento da possibilidade de tomar decisões em relação a esse algo. Os sentimentos também são comportamentos. Então, em vez de falar- mos em “inveja”, “ciúme” e “cobiça”, vamos falar em “invejar”, “enciumar” e “cobiçar”. Os verbos ajudam a entender os sentimentos como processos, e não algo que existe isoladamente e está dentro do organismo. Para ajudar a entender os sentimentos como comportamentos, vamos observar o quadro a seguir, que representa o comportamento de “enciumar-se” de uma criança. PSE - BOOK.indb 16 10/05/13 16:10 – 17 – A Psicologia da Educação Quadro 6: Representação do comportamento de enciumar-se apresentado por uma criança. Situação antecedente Ação Situação consequente - crianças brincando no jardim de infância; - presença do melhor amigo; - outra criança chama o melhor amigo. - dizer: “Ele é meu amigo, não seu!”. - diminuição da probabilidade de a criança nova brincar com o amigo. Conforme mostrado no quadro anterior, diante de um colega novo para brincar com seu melhor amigo, a criança diz “Ele é meu amigo, não seu!”. Essa frase tem a função de diminuir a possibilidade de perda do amigo. Este é o aspecto nuclear do “enciumar-se”: apresentar ações que têm a função de diminuir a possibilidade de perda de alguma “coisa” que é importante para a pessoa que demonstra ciúmes. O que significa dizer que sentimentos são comportamentos? Significa que os sentimentos são constituídos e produzidos por interações que uma pessoa estabelece com o mundo. Ou seja, os sentimentos não são causas de comportamento, uma vez que eles próprios consistem em comportamentos que também são produzidos. A principal implicação dessa concepção a res- peito da relação entre sentimentos e comportamentos é que, se alguém explica o comportamento que alguém apresentou usando como causa o sentimento dessa pessoa, essa explicação é insuficiente. Por quê? Porque os sentimentos também precisam ser explicados! E o que significa dizer que sentimentos constituem interações que as pessoas estabelecem com o mundo? Significa que as pessoas apresentam sen- timentos distintos, mesmo que elas estejam lidando com um mesmo tipo de situação. Por exemplo, no quadro anterior, aparece o comportamento de um menino que fica enciumado porque outro amigo seu poderá brincar com outra criança. Será que todas as pessoas apresentariam o comportamento enciumar-se nessa situação? A resposta para essa pergunta é: “Não”! Cada pessoa vai apresentar sentimentos diferentes nessa situação, uma vez que cada uma tende a estabelecer uma interação específica com ela. PSE - BOOK.indb 17 10/05/13 16:10 – 18 – Psicologia da Educação Fo nt e: S hu tt er st oc k Nessa situação, o enciumar-se será apresentado apenas pelas pessoas que consideraram que a presença de uma nova pessoa constitui uma “possibilidade de perda de alguém importante”, e somente no caso de essas pessoas conside- rarem tal perda algo ruim, que mereça ser evitado. No caso de pessoas que não percebem tal situação como algo ruim, o enciumar-se não é apresentado. O comportamento é multideterminado Na Religião e na Filosofia, há muito tempo o comportamento é objeto de estudo. O estudo do conceito de comportamento em diferentes períodos nos mostra que a descoberta de suas causas foi alvo de curiosidade de vários estudiosos. De acordo com Millenson (1967), Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) acreditava que as causas do comportamento eram entidades internas e abstra- tas, por exemplo, vontade. Apesar disso, Aristóteles não explicava o que faz com que uma pessoa tenha vontade de fazer algo. No período Medieval, sob forte influência do cristianismo, os estudiosos atribuíram à alma a causa do comportamento. Nesse período, causas naturais deixaram de ser explicações para os fenômenos, e não foi diferente em rela- ção ao estudo do comportamento. Millenson (1967) examina que as almas PSE - BOOK.indb 18 10/05/13 16:10 – 19 – A Psicologia da Educação sobrenatural, imaterial e insubstancial passaram a ser consideradas as causas do comportamento nesse período. Como decorrência disso, houve pouco desenvolvimento do estudo desse fenômeno na Idade Média, visto que essas causas eram consideradas algo além do universo humano e, por isso, pouco acessíveis ao estudo. No século XVII houve a perda da força de explicações metafísicas do comportamento a partir da contribuição de Descartes (1596-1650). Para explicar o movimento do corpo humano, o filósofo e matemático usou como analogia figuras mecânicas dos jardins reais de Versalhes (MILLENSON, 1967). Tais figuras eram movidas por princípios hidráulicos; a água era bom- beada em tubos para impulsionar os membros à medida que os visitantes dos jardins passavam por cima de ladrilhos escondidos. Descartes sugeriu que animais e homens eram um tipo de máquina, sendo a água que impulsiona os membros das figuras reais equivalente a espíritos que fazem com que os nervos entrem nos músculos, causando expansão e contração, e o “pisar nos ladrilhos” equivalente a estímulos externos do ambiente que determinavam os movimentos corporais (MILLENSON, 1967). A contribuição de Des- cartes constituiu uma mudança na concepçãodaquilo que causava o com- portamento, pois já incluía, de certa forma, o ambiente como determinante, apesar de continuar defendendo que alguns tipos de comportamentos eram governados pela alma. No século XVIII, um pesquisador escocês chamado Robert Whytt fez experimentos relacionados ao princípio do estímulo (MILLENSON, 1967). Ele observou a contração da pupila ao receber luz, descrevendo a relação entre um estímulo externo e uma ação do organismo, no caso contrair a pupila. Whytt demonstrou que reflexos eram eliciados em uma rã decapitada, e com isso a explicação de que a alma era causa do comportamento humano foi enfraquecida. No entanto, Whytt acreditava que a alma se difundia na medula e no cérebro, retendo o controle dos reflexos. Estímulos ambientes e alma eram considerados “causas” do comportamento. No final do século XIX, uma descoberta mudou os rumos estudo do com- portamento. Ivan Pavlov (1849-1936), fisiologista russo, estava estudando as secreções digestivas por meio de um experimento em que introduzia cirurgi- camente um tubo na mandíbula de um cachorro, de modo a coletar o fluxo PSE - BOOK.indb 19 10/05/13 16:10 – 20 – Psicologia da Educação de saliva das glândulas. Em seguida, Pavlov colocava alimento na boca do ani- mal para medir a produção de saliva em função do alimento (MILLENSON, 1967). Em dado momento, Pavlov descobriu que o fluxo de saliva do cachorro quando o experimentador aparecia era semelhante ao produzido pela introdu- ção de alimento na boca do animal (MILLENSON, 1967; KELLER; SCHO- ENFELD, 1968). Havia, portanto, algo que ocorria no ambiente que poderia eliciar a saliva sem ser algo que naturalmente a elicia, como alimento na boca. Com isso, a clareza acerca de que a história de aprendizagem é um aspecto rele- vante no estudo do comportamento humano foi fortalecida. De acordo com Millenson (1967), Pavlov não foi o primeiro a observar que alguns comportamentos dependem de uma história de aprendizagem. Outros pesquisadores já haviam chegado à mesma conclusão, mas Pavlov nomeou de reflexo condicional os comportamentos aprendidos por meio de associação entre dois estímulos do ambiente que ocorriam quase ao mesmo tempo. Os estudos de Pavlov são muito conhecidos na Psicologia devido à sua importância e contribuição para o estudo do comportamento, ainda que esse não fosse o seu objetivo quando descobriu esses processos. No século XX, um psicólogo estadunidense chamado B. F. Skinner (1904-1990) contribuiu ainda mais para demonstrar a importância da his- tória da aprendizagem no comportamento humano. Foi a partir das contri- buições de Skinner que o conceito de comportamento, tal como vimos, foi desenvolvido. Mas o que causa, afinal, um comportamento? Os estudiosos que citamos são apenas alguns exemplos entre tantos outros que estudaram o comportamento humano, buscando entender suas causas. Vimos que diversas causas de comportamento já foram consideradas, por dife- rentes pesquisadores, em contextos distintos: alma, espíritos, estímulos do meio. Em relação àquilo que determina um comportamento, há pelo menos dois aspectos que devemos considerar. Em primeiro lugar, quais, de fato, estudiosos da Psicologia já conseguiram comprovar o que determina o comportamento humano. A alma, por exemplo, já não é considerada causa de comportamento. Outro aspecto é a relação causal entre eventos. Será que ela existe? Quando dizemos que uma criança lê com dificuldade por conta de estu- dar pouco, estamos dando uma explicação simplista e incompleta acerca de seu comportamento de ler. As características da maneira como foi ensinada na PSE - BOOK.indb 20 10/05/13 16:10 – 21 – A Psicologia da Educação escola, a relação com a família, com colegas e outros aspectos, em conjunto, são determinantes desse comportamento. Se dizemos que uma pessoa faz algo de certa maneira pois sofre de mal funcionamento cerebral, também estamos explicando o comportamento dessa pessoa de maneira equivocada. Aquilo que é chamado de “mal funcionamento cerebral” também pode ser explicado pela combinação de diferentes fatores, não havendo apenas uma causa de comportamento. Tal fenômeno, como qualquer outro, é multideterminado. Vimos que o comportamento é o fenômeno o qual a Psicologia estuda, o fenômeno psicológico. O comportamento é multideterminado e estudado há muito tempo, por diferentes estudiosos. Muitos destes não eram psicólogos. Isso porque a Psicologia foi consolidada como área de conhecimento apenas no século XIX. Vamos estudar, de forma sintética, um pouco da História da Psicologia, para entendermos o contexto em que foi desenvolvida e que rela- ções essa história tem com a maneira como a Psicologia é configurada hoje. Breve histórico da Psicologia Como vimos, muito antes de ser entendida como uma área de conhe- cimento que estuda o comportamento, filósofos gregos já se dedicavam a entender questões da “alma” e do comportamento humano. A palavra Psico- logia tem sua origem na união das palavras psiché e lógos, significando “estudo da mente ou da alma”. Desde a Grécia Antiga, a Psicologia vem se desenvolvendo e contri- buindo para a compreensão do “fazer humano”. Porém, somente na metade do século XIX, época em que assistimos à consolidação da ciência moderna, a Psicologia começou a se edificar como uma área de conhecimento, bus- cando observar, mensurar e comprovar fenômenos. Foi nesse período que a Psicologia aderiu ao método científico das ciências naturais, fundamentado na quantificação e matematização dos fenômenos. A Psicologia ficou, assim, mais próxima da Biologia e mais distante da Filosofia, se considerarmos o método de produção de conhecimento. Assim como as demais áreas do conhecimento ditas humanas ou sociais, os estudiosos da Psicologia se dedicaram, durante o século XIX, a legitimar seus conhecimentos a partir dos pressupostos científicos em vigor. Para isso, houve muitos estudos baseados na observação e experimentação de comportamentos. PSE - BOOK.indb 21 10/05/13 16:10 – 22 – Psicologia da Educação Podemos citar as pesquisas do filósofo e físico Gustav Fechner (1801- 1887) como um bom exemplo desses estudos, que tentaram comprovar que era possível, através de métodos científicos, estudar a mente humana. Alguns autores, como Goodwin (2005, p. 115), chegam a afirmar que “Fech- ner poderia ser considerado o primeiro psicólogo experimental”. Ao lado de Ernest Weber (1795-1878), como professor na conceituada Universidade de Leipzig, na Alemanha, Fechner produziu diferentes estudos psicofísicos, atra- vés dos quais concretizou a origem da psicologia experimental. Na história da Psicologia, destaca-se a escola de Leipzig: foi lá que Wilhelm Wundt (1832-1920) fundou, em 1879, o primeiro Instituto de Psi- cologia, onde consolidou seus estudos, após ter passado por outras instituições alemãs. Nesse instituto, foi inaugurado por Wundt o primeiro laboratório de Psicologia Experimental, sendo esse um marco na história da Psicologia. Com isso, podemos dizer que o médico fisiologista Wundt foi o grande fundador da Psicologia Científica. Para ele, os psicólogos deveriam estudar a consciên- cia humana ‒ seus processos, suas combinações e suas relações ‒ através de métodos oriundos da Fisiologia e de práticas de observação (DAVIDOFF, 2001). Rapidamente, os estudos de Wundt e da escola de Leipzig ficaram famosos e ganharam adeptos em toda a Europa, Canadá e Estados Unidos, provocando a disseminação da Psicologia Científica. É importante sinalizarmos que iniciativas como essa aconteciam em todo o mundo. Merecem destaque as pesquisas de William James (1842- 1910), que se opunha às ideias de Wundt. Buscando uma psicologia mais prática, James estudava a consciência humana a partir de uma visão mais funcionalista e, apesar de também possuir um famoso laboratórionos Estados Unidos, baseava suas pesquisas na observação da vida humana. Dica de leitura Para entender como as chamadas ciências humanas se desenvolveram, sugerimos a leitura da obra Um discurso sobre as ciências, de Boaventura de Sousa Santos, publi- cada em Portugal pelas Edições Afrontamento em 1988 (15ª edição) e também no Brasil pela Editora Cortez (7ª edição em 2010). PSE - BOOK.indb 22 10/05/13 16:10 – 23 – A Psicologia da Educação Em 1913, John Watson lançou o Manifesto Behaviorista. Influenciado pela concepção de ciência da época, ele afirmava que a Psicologia deveria estudar apenas o comportamento, e não processos mentais e sobrenaturais. Ele não afirmava que tais processos não existiam, apenas indicava que não era possível estudá-los cientificamente, por isso não deveria ser objeto de estudo da Psicologia. O behaviorismo de Watson foi denominado posteriormente por Skinner de Behaviorismo Metodológico, pois enfatizava o método de estudo como importante para definir o que deveria ou não ser objeto da Psi- cologia (MATOS, 1995). O behaviorismo de Watson teve avanços a partir de contribuições de Skinner, que contrapôs algumas de suas ideias. Uma delas foi a concepção de que o método de estudo é importante para indicar o que é ou não objeto de estudo da Psicologia. O behaviorismo de Skinner foi chamado por ele pró- prio de Behaviorismo Radical, pois, para esse autor, o que é nuclear no Beha- viorismo (ou seja, sua “raiz”; por isso, Behaviorismo Radical) é o objeto de estudo, o comportamento, e não o método para investigar esse fenômeno, como propunha Watson em décadas anteriores (MATOS, 1995). O conceito de comportamento teve um forte avanço a partir das contribuições de Skinner. Outro autor que apresentou importantes contribuições à Psicologia foi Sigmund Freud (1856-1939), conhecido médico austríaco. Talvez o ponto mais importante das descobertas de Freud é que aquilo que as pessoas fazem é governado por instâncias inconscientes, ou seja, aspectos de que as pessoas não têm a devida clareza. A partir dessas descobertas, a resposta à pergunta “Por que alguém se comporta de alguma forma específica?” dificilmente pode ser apresentada pela própria pessoa que se comporta sem algumas distorções. Isso acontece porque nem sempre as pessoas têm clareza a respeito dos aspectos que influenciam seu comportamento. E, ainda pior, por decorrência de alguns pro- cessos, conforme as descobertas de Freud, há alto grau de probabilidade de que as pessoas relatem aspectos distorcidos que governam o seu comportamento. O processo pelo qual isso acontece é decorrência da impossibilidade de a pessoa satisfazer todos os seus desejos em uma cultura repressiva, a qual impede que tais desejos sejam satisfeitos. Como isso acontece? As pessoas têm certos desejos que precisam ser satisfeitos de algum modo, mas nem sempre a sociedade aceita a ocorrência de tais desejos ou a maneira pela qual as pessoas PSE - BOOK.indb 23 10/05/13 16:10 – 24 – Psicologia da Educação tendem a satisfazê-los. Em certo sentido, a sociedade impede ou reprime que elas satisfaçam tais desejos. Contudo, o que acontece a partir disso é que o desejo da pessoa não desaparece, mas se torna inconsciente. E esses desejos, quando não satisfeitos, acabam por influenciar aquilo que as pessoas fazem sem nem mesmo elas terem consciência disso. A história da Psicologia é composta de diversos estudiosos que se dedi- cam para desenvolver conhecimento acerca do fenômeno psicológico. Aquilo que deve ser objeto de estudo da Psicologia e métodos de observar o fenô- meno psicológico se constituíram em contradições em diferentes contextos. É fácil entender o porquê disso. Cada pesquisador foi influenciado por carac- terísticas de contextos distintos, que inclui períodos históricos diferentes. É por isso que, na Psicologia, há diferentes abordagens ou escolas psicológicas: cognitivismo, existencialismo, análise do comportamento, psicanálise, sócio- -histórica, por exemplo. Em cada uma dessas abordagens, há profissionais que produzem conhecimento acerca do fenômeno psicológico, ainda que enfa- tizando aspectos distintos. Alguns salientam as emoções e os sentimentos; outros, a inteligência, a relação com a cultura ou o meio etc. Dica de leitura Para aprofundar o conhecimento acerca do desenvolvi- mento da Psicologia como área de conhecimento, pes- quise o livro A definição da psicologia, de F. S. Keller, publicado pela EPU Editora em 1979. 1.2 A Psicologia da Educação Já sabemos que a Psicologia é uma área de conhecimento que produz e organiza o conhecimento acerca do fenômeno psicológico, o comportamento humano. E a Psicologia da Educação? Com que fenômeno trabalha? É uma subárea da Psicologia? Vamos estudar alguns conceitos para entender o que é a Psicologia da Educação e também por que há tantos nomes que comple- mentam “Psicologia”, como Psicologia da Saúde, Psicologia Organizacional, PSE - BOOK.indb 24 10/05/13 16:10 – 25 – A Psicologia da Educação Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Escolar, Psicologia Hospitalar e assim por diante. Em primeiro lugar, precisamos diferenciar os conceitos de campo de atuação profissional e de área de conhecimento. Como já vimos, uma área de conhecimento se caracteriza pela produção e organização do conhecimento a respeito de um fenômeno ou assunto. O campo de atuação profissional, segundo Botomé e Kubo (2002), tem como núcleo do conceito intervir nos problemas e nas necessidades sociais, mudar situações indesejáveis existentes. As possibilidades de atuação no que se referem às necessidades sociais são o que delimitam a intervenção, e não técnicas ou instrumentos conhecidos. Quais as possibilidades de intervenção em escolas e organizações, por exemplo? A Psicologia, como campo de atuação profissional, intervém nesses contextos. É por isso que há os nomes Psicologia Organizacional, Psicologia Hospitalar, Psicologia Escolar etc.; são campos de atuação da Psicologia onde se realizam intervenções psicológicas em necessidades relacionadas a esses contextos. Mas e Psicologia do Desenvolvimento? É também um campo de atuação? E Psicologia da Educação? A Psicologia do Desenvolvimento é um tipo ou subárea de conheci- mento em Psicologia, pois produz e organiza o conhecimento acerca do desenvolvimento humano. A Psicologia da Educação, por sua vez, é enten- dida por alguns autores como uma área independente da Psicologia e por outros como aplicação do conhecimento psicológico em Educação (COLL; PALACIOS; MARCHESI, 1996). Segundo Coll, Palacios e Marchesi (1996), a pesquisa psicológica propor- ciona conhecimento, e este pode ser empregado tanto na educação como em outras áreas da atividade humana, sendo outro exemplo a saúde. Há autores que defendem que aquilo que caracteriza a Psicologia da Educação não é a natureza do conhecimento com o qual maneja, mas sua aplicação nos fenômenos educa- tivos. A Psicologia da Educação não tem um objeto próprio de estudo, continua tendo como objeto o comportamento humano, ainda que aqueles que ocorrem em contextos educacionais ou relacionados ao objetivo desse sistema. Há, por sua vez, autores que caracterizam a Psicologia da Educação como uma disciplina-ponte entre a Psicologia e a Educação (COLL; PALACIOS; PSE - BOOK.indb 25 10/05/13 16:10 – 26 – Psicologia da Educação MARCHESI, 1996). No entanto, a educação não é uma área de conheci- mento, como a Psicologia. O que é, então, a educação? Segundo Brandão (1981), a educação teria a função de transformar e manter a sociedade por meio da transmissão e do compartilhamento da cul- tura entre as gerações. Outros autores, como Sampaio (2002, p. 2), definem a educação como “um processo de vida, de construção, de experimentação”. Postman e Weingartner (1974), ao denunciaremque a sobrevivência da espécie humana está ameaçada por um número crescente de problemas, examinam que algo pode ser feito para melhorar essa situação. Para aperfei- çoar o ambiente no qual vivemos, os autores indicam como meio a educação. Complementando a ideia de Postman e Weingartner (1974), Paulo Freire (1996) caracteriza a educação como forma de intervir no mundo, em oposi- ção à ideia de “transmissão de conteúdo ou informação”. Nesse sentido, que tipo de contribuição a Psicologia pode oferecer para que isso seja feito? É isso que estudaremos nos próximos capítulos desta disciplina. Breve histórico da Psicologia da Educação Seja como campo de atuação ou tipo de conhecimento em Psicologia, podemos datar o surgimento da Psicologia da Educação para os primeiros anos do século XX, quando, no âmbito da Psicologia Científica (a partir da importância que passava a ser atribuída à infância e à necessidade de maior embasamento para as práticas e políticas educacionais), o interesse em pesqui- sas relacionadas aos processos inerentes à educação foi ampliado. Alguns autores ainda acrescentam outros fatores que impulsionaram esse surgimento. Entre eles, podemos citar Pato (1984, p. 96): O advento da Psicologia voltada para a educação escolar con- funde-se com as próprias origens da Psicologia Científica. As novas condições de trabalho geradas pela sociedade industrial capitalista, na passagem da economia do tipo liberal para a cen- tralização da produção nas empresas, requerem novos tipos de recrutamento de mão de obra e um certo número de aptidões e traços de personalidade que serão a condição de sua eficiência. Como vimos, a Psicologia nasce com a marca de uma demanda: a de prover conceitos e instrumentos “científicos” de medida que garantam a adaptação dos indivíduos à nova ordem social. PSE - BOOK.indb 26 10/05/13 16:10 – 27 – A Psicologia da Educação Já nos últimos anos do século XIX, muitos pensadores da educação (como Herbart (1776-1841), estudioso alemão que trouxe grandes contri- buições para a área educacional, o precursor de uma psicologia experimental aplicada à Pedagogia) apontavam para o fato de que a Psicologia deveria pro- curar os meios para os objetivos definidos pela Pedagogia apoiada na Filosofia serem alcançados. Ao longo do século XX, encontramos inúmeras pesquisas e estudos da Psicologia da Educação. Um dos primeiros psicólogos a propor suas bases foi Edward Lee Thorndike (1874-1949), que insistia na “necessidade de funda- mentar as propostas educativas sobre os resultados da pesquisa psicológica” (COLL; PALACIOS; MARCHESI, 1996, p. 9). Nesse mesmo período, na Suíça, Édouard Claparède (1873-1940), médico e psicólogo, estudioso do desenvolvimento infantil, criava o Insti- tuto de Pesquisa Psicológica e Educativa Jean-Jacques Rosseau e militava em defesa de uma pedagogia científica cuja base seria a psicologia, bem como defendia a ideia de que os professores deveriam conhecer os métodos experi- mentais da Psicologia. Apoiada em suas teorias e em seus instrumentos de mensuração, a Psico- logia Científica invade o cenário educacional e traz a ele grandes benefícios. Até 1940, como nos conta Coll, Palacios e Marchesi (1996), a Psicologia da Educação seria a principal ciência da Educação. No entanto, a partir da década de 1950, a Psicologia da Educação, diante do status conquistado, começa a se ocupar com fenômenos educacionais cada vez mais amplos e complexos e perde seu foco. Além disso, contaminada pelas oscilações e diver- gências causadas pelas diversas correntes da Psicologia Científica, a Psicologia da Educação cai no descrédito e enfraquece. Essas divergências e as discordâncias acerca da definição da Psicologia da Educação permaneceram. Todavia, com o fortalecimento da Psicologia e da Educação na sociedade moderna (caracterizada por novos paradigmas cien- tíficos, multiculturalidades, novas formas de comunicação e relacionamento e transformações socioeconômicas de proporções globais), assistimos a várias tentativas de se reestruturar essa área de conhecimento – como um rótulo ou uma disciplina –, mas sempre pautadas no mesmo princípio. PSE - BOOK.indb 27 10/05/13 16:10 – 28 – Psicologia da Educação Síntese Neste capítulo, vimos que a Psicologia é uma área de conhecimento que produz e organiza o conhecimento acerca do fenômeno psicológico. Tal fenômeno é o comportamento caracterizado pela interação entre aquilo que um organismo faz, o meio em que o faz e o que é produzido a partir desse fazer. Esse conceito inclui, portanto, “raciocinar”, “invejar”, “enciumar-se”, “deprimir-se”, “pensar”, entre muitos outros. Observamos que o objeto de estudo da Psicologia, o comportamento, é estudado muito antes de a Psicologia configurar-se como área de conheci- mento. A formação de cada profissional e o contexto em que está inserido ao produzir conhecimento faz com que existam divergências de ênfases em distintos aspectos relacionados ao fenômeno psicológico, e é por isso que há diversas abordagens ou escolas psicológicas. Onde há comportamento humano, há Psicologia. É por isso que existem tantos campos de atuação profissional na Psicologia, denominados Psicologia Organizacional, Psicologia Hospitalar, Psicologia Escolar, Psicologia Clínica, Psicologia do Trânsito etc. Por sua vez, a Psicologia da Educação é conside- rada por alguns autores como uma disciplina independente da Psicologia e, por outros, como aplicação do conhecimento psicológico na Educação. Nesta disciplina, estudaremos as contribuições da Psicologia para a Educação. PSE - BOOK.indb 28 10/05/13 16:10 2 A Psicologia do Desenvolvimento Como vimos até aqui, a Psicologia é uma área do conheci- mento que estuda o comportamento humano. Sua história como conhecimento científi co esteve alinhada às ciências naturais de forma a poder alcançar maior adequação com relação aos métodos de pesquisa utilizados. Desse modo, os primeiros grandes psicólogos eram, em sua maioria, também médicos. Portanto, é natural que os primeiros estudos da Psicologia estejam relacionados aos processos de percep- ção e desenvolvimento humanos. PSE - BOOK.indb 29 10/05/13 16:10 – 30 – Psicologia da Educação A Psicologia do Desenvolvimento se definiu como a área que estuda o desenvolvimento1 humano. Foi, dessa maneira, um dos primeiros ramos da Psicologia Científica a se consolidar, estabelecendo, por sua vez, relações com outras disciplinas: Biologia, Medicina, Antropologia, Sociologia e, como estamos vendo, Educação. Como é na infância que o desenvolvimento humano ocorre de modo mais intenso, os olhares da Psicologia do Desenvolvimento sempre estiveram muito atentos a esse período da vida. Portanto, é comum se encontrar, mesmo nos dias de hoje, psicólogos do desenvolvimento voltados exclusivamente para os estudos de crianças. Podemos, então, falar de uma Psicologia Infantil ou Psi- cologia da Infância quase como uma das designações da Psicologia do Desen- volvimento. Bee (1984) reforça que o estudo do desenvolvimento humano pri- vilegiou o estudo da criança e do adolescente, de maneira que muitos manuais de Psicologia do Desenvolvimento abordam apenas essa fase da vida. Consideramos que isso é consequência tanto do trajeto histórico dessa área quanto da Psicologia de forma geral. A seguir, vamos conhecer um pouco mais sobre esse histórico. 2.1 A Psicologia do Desenvolvimento e a infância A Psicologia do Desenvolvimento se fortaleceu ao final do século XIX, mais precisamente no despertar do século XX, acompanhando e possibilitando a estruturação e o reconhecimento da Psicologia como um saber científico. Esse fortalecimento pode ser entendido como resultado da forte influência da Medicina nos estudos psicológicos acerca do desenvolvimento humano, uma vez que métodosreconhecidamente científicos – como a observação e a men- suração – podiam ser utilizados para a explicação dos fenômenos em questão. No entanto, apesar do consenso acerca da compreensão do desenvolvi- mento como um processo contínuo e não restrito à infância, é esse período da vida que passa a ter destaque nas pesquisas da Psicologia do Desenvolvimento. 1 Desenvolvimento é o processo contínuo de evolução, transformação. PSE - BOOK.indb 30 10/05/13 16:10 – 31 – A Psicologia do Desenvolvimento Parece-nos evidente esse maior interesse da área na infância, pois, enten- dendo a Psicologia do Desenvolvimento como um ramo que se configura como uma forma de compreender a criança, o adolescente e o adulto através da des- crição de seus comportamentos e de suas mudanças psicológicas ao longo do tempo, ocorreriam, nessa fase da vida, as mudanças mais marcantes e intensas. Todavia, aspectos socioeconômicos, éticos, políticos e até religiosos con- tribuíram de forma significativa para a relevância atribuída à infância no meio científico no início do século XX. Até o século XVII, a criança apenas demandava cuidados especiais em seus primeiros anos de vida. A partir dos três anos de idade, aproximada- mente, passava a ser tratada como um pequeno adulto (RAPPAPORT, 1981). Assim, podemos afirmar que, naquele tempo, não havia uma ideia de infância ou de criança como atualmente. A ideia ou conceito de criança ou de infância tal como conhecemos hoje foi sendo construída ao longo do tempo e é fruto da cultura em questão. Configura-se, assim, como uma representação social, ou seja, uma ideia social- mente compartilhada, situada histórica e culturalmente e construída a partir da união de diversas ideias, imagens e teorias conscientes e inconscientes. Frota (2007, p. 147) comenta: Os dicionários da Língua Portuguesa registram a palavra infância como o período de crescimento que vai do nas- cimento até o ingresso na puberdade, por volta dos doze anos de idade. Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1989, “criança são todas as pessoas meno- res de dezoito anos de idade”. Já para o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), criança é considerada a pessoa até os doze anos incompletos, enquanto entre os doze e dezoito anos, idade da maioridade civil, encontra-se a adolescência. Etimologicamente, a palavra infância vem do latim, infantia, e refere-se ao indivíduo que ainda não é capaz de falar. Essa incapacidade, atribuída à primeira infância, estende-se até os sete anos, que representaria a idade da razão. Percebe-se, no entanto, que a idade cronológica não é suficiente para carac- terizar a infância. É o que Khulmann Jr. (1998, p. 16) afirma categoricamente: Infância tem um significado genérico e, PSE - BOOK.indb 31 10/05/13 16:10 – 32 – Psicologia da Educação como qualquer outra fase da vida, esse significado é função das transformações sociais: toda sociedade tem seus sistemas de classes de idade, e a cada uma delas é associado um sistema de status e de papel. Uma das obras mais conceituadas acerca do tema é a História social da criança e da família, de Philippe Ariès (1914-1984), publicada em 1978. Nessa obra, Ariès apresenta suas descobertas sobre a construção social da ideia de infância e de criança e situa o surgimento dessa construção social na modernidade, o que impulsiona uma série de mudanças na forma de se con- ceber essa fase da vida e influencia também os estudos na área da Psicologia. Para esse famoso historiador, no entender de Frota (2007), com o advento da modernidade, o fortalecimento da família burguesa e a valori- zação da educação escolar, a infância passou a ocupar um espaço central e a demandar cuidados específicos, inaugurando, assim, novas exigências sociais. Segundo Ariès (1978), antes da sociedade industrial, a duração da infân- cia estava atrelada ao tempo durante o qual a criança necessitava de cuidados físicos para viver. Após esse período, as crianças se misturavam aos adultos em suas diversas atividades, e assim aprendiam valores, habilidades e costumes. Por volta do século XVIII, com o surgimento da ideia de família a partir da união afetiva dos casais e destes com seus filhos, evidenciam-se alterações no tratamento das crianças, o que aponta para a necessidade de uma vida privada. Paralelamente, nessa nova vida moderna, não fazia mais sentido apenas um modelo de aprendizagem social. Dessa forma, surge a preocupação com uma aprendizagem mais formal e sistematizada, o que origina a educação escolar. Como consequência, amplia-se a duração da infância e dá-se espaço à ideia de que a criança é um ser que necessita de maiores cuidados, portanto, precisa ser compreendido mais profundamente. Outros autores, como Heywood (2004), discordam dessa visão de Ariès (1978), salientando que a ideia de infância já existia na Idade Média, pois muitas eram as preocupações da Igreja quanto ao desenvolvimento moral das pequenas gerações. Segundo aquele autor, já existiam, nos séculos XVII e XVIII, ações no âmbito da educação – também relacionadas à Igreja – nas quais as crianças eram alvo de atenção. Conforme Heywood (2004, p. PSE - BOOK.indb 32 10/05/13 16:10 – 33 – A Psicologia do Desenvolvimento 36-37), já havia “uma consciência de que as percepções de uma criança eram diferentes das dos adultos”. De fato, é possível encontrarmos, ainda no século XVIII, estudiosos que buscavam compreender a natureza infantil com premissas filosóficas famosas no campo educacional, como a de que a criança é uma tábula rasa – dissemi- nada pelo filósofo John Locke (1632-1704) – ou possui uma natureza boa, defendida por Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). Podemos dizer que a ideia moderna de infância, até os dias de hoje, transita entre dois extremos. De um lado, há uma visão quase medieval e romântica da criança como um ser ingênuo e inocente que demanda cuida- dos especiais; de outro, a visão que a entende como um ser imperfeito e inaca- bado que necessita de moralização e educação por parte da família e da escola. Nesse sentido, devemos nos lembrar dos estudos de Sigmund Freud (1856-1939) acerca do desenvolvimento infantil: ele desconstrói a inocência infantil e aponta para o desenvolvimento da sexualidade desde os primeiros anos de vida da criança. No Brasil, podemos dizer que a lógica de construção da ideia de criança seguiu o padrão europeu, instalando-se na sociedade colonial. Porém, Costa (1979) nos lembra que a ideia de uma família dedicada aos filhos era inconce- bível no Brasil-Colônia devido à organização social da época. Logo, a família moderna e, consequentemente, o sentimento de infância moderno passam a ser difundidos no Brasil somente no século XIX. Segundo alguns autores, no Brasil devemos sempre lembrar que a cons- trução do conceito de criança passa também por outras questões de ordem social, como as ações sanitárias emergenciais, a valorização da educação for- mal por parte da Igreja e do Estado e ainda questões referentes às desigualda- des sociais. Isso faz surgir, por exemplo, a ideia do menor carente. Portanto, podemos afirmar que, independentemente de quando surgiu a preocupação ou a conceituação desse período da vida humana chamado infância, foi no século XIX que o estudo mais sistemático dessa fase se con- cretizou e surgiram os primeiros estudos da Psicologia do Desenvolvimento tendo a criança como objeto de estudo. PSE - BOOK.indb 33 10/05/13 16:10 – 34 – Psicologia da Educação Fo nt e: S hu tt er st oc k Dica de leitura Para conhecer diversos aspectos acerca da história da infância do Brasil, sugerimos a leitura do livro organizado pela historiadora Mary del Piore: História das crianças no Brasil, publicado pelaEditora Contexto em 2009. PSE - BOOK.indb 34 10/05/13 16:10 – 35 – A Psicologia do Desenvolvimento 2.1.1 Os primeiros estudos da Psicologia do Desenvolvimento A Psicologia do Desenvolvimento é centrada no desenvolvimento infan- til e tem seus primeiros estudos caracterizados pela descrição dos comporta- mentos típicos de cada faixa etária, os quais possibilitaram a criação de escalas capazes de medir e comparar o desenvolvimento das crianças. Muitas foram as pesquisas e escalas criadas, mas nos cabe aqui destacar três grandes estudos: os trabalhos de Arnold Lucius Gesell (1880-1961), nos Estados Unidos; os de Alfred Binet (1857-1911), na França; e os ensaios de Granville Stanley Hall (1844-1924), também nos Estados Unidos. Em seus trabalhos, o psicólogo Gesell descreveu estágios para o desenvolvimento humano baseados no processo de maturação, que, segundo ele, era genetica- mente herdado e predefi nido. As escalas e os padrões defi nidos pelo estudo de Gesell são, até os dias de hoje, base para testes médicos capazes de identifi car atrasos no desenvolvimento infantil. Binet, por sua vez, concentrou seus esforços na descrição e medição dos padrões de inteligência, o que resultou na construção da famosa escala de coefi ciente intelectual (QI), que, ainda atualmente, possibilita o diagnóstico de défi cit intelectual em indivíduos. Stanley Hall foi fundador do American Journal of Psychology e teve sua formação infl uenciada pela escola de Leipzig, onde estudou. Foi pioneiro no estudo da criança, por meio do qual buscou decifrar os comportamentos desta, e tornou-se também um estudioso da Psicologia Educacional. Stanley defendia a premissa de que a Psicologia do Desenvolvimento era o ponto de partida para os estudos na área da educação. Seus estudos descritivos não foram passíveis de comprovação, de forma que ele passou a se preocupar com questões referentes ao relacionamento das crianças com os pais, os comportamentos de riscos e os aspectos emocionais PSE - BOOK.indb 35 10/05/13 16:10 – 36 – Psicologia da Educação dessa fase da vida. Hall foi um dos primeiros estudiosos a falar sobre a adoles- cência. Por isso, foi considerado um dos pais da Psicologia da Adolescência. Diversos estudos da Psicologia do Desenvolvimento foram sendo rea- lizados. De forma didática, podemos agrupá-los em quatro fases, conforme sistematizaram Biaggio e Monteiro (1998). Primeira fase Corresponde ao período de 1920 a 1939, aproximadamente, marcado pelos estudos do desenvolvimento intelectual, da maturação e do crescimento. Apesar de se estudarem, nesse período, o envelhecimento e a adolescência, o estudo sobre a criança era o alvo das atenções e dos investimentos. Segunda fase Período compreendido entre 1940 e 1959. Por causa das guerras e de suas consequências, caracterizou-se pela escassez de investimentos em pesqui- sas. O interesse pelo estudo da criança ainda prevaleceu centrado no estabele- cimento das variáveis que afetam o desenvolvimento. Terceira fase Corresponde ao período de 1960 a 1989. As primeiras décadas foram marcadas por estudos fortemente influenciados por teorias Behavioristas e teorias da Aprendizagem Social. Posteriormente, houve o fortalecimento das Teorias Piagetianas no campo do desenvolvimento. Nos últimos anos, assis- tiu-se à chegada dos pressupostos cognitivistas à Psicologia do Desenvolvi- mento, reativando o interesse nas bases biológicas do comportamento. Quarta fase De 1990 aos dias de hoje. A Psicologia do Desenvolvimento assume uma posição interdisciplinar, e o estudo do desenvolvimento passa a conside- rar todo o ciclo da vida. Os objetos de estudo permanecem, mas se observa a utilização de novos paradigmas e métodos de pesquisa. PSE - BOOK.indb 36 10/05/13 16:10 – 37 – A Psicologia do Desenvolvimento Dica de filme Para perceber os diferentes aspectos da evolução cientí- fi ca que infl uenciam todos os campos do saber e, princi- palmente, o surgimento de novos paradigmas e métodos de pesquisas, sugerimos que você assista ao fi lme Ponto de mutação, do físico, teórico e escritor Fritjof Capra. Analisando a trajetória dos diversos estudos na área e levando em consi- deração a necessidade de mensurar e comprovar cientifi camente os resultados encontrados, podemos perceber a grande infl uência da psicometria nos estu- dos da Psicologia do Desenvolvimento. A psicometria pode ser entendida como uma área que estuda as possibilidades de atribuição de medida aos fenômenos psicológicos, através da defi nição de modelos e padrões para a criação e o uso de testes, lançando mão de conceitos e técnicas estatísticas. Um dos principais impulsionadores da psicometria foi Charles Spear- man (1863-1945), psicólogo inglês que ampliou os estudos sobre a inteligên- cia a partir da utilização de medidas estatísticas. O uso dessas escalas, tanto no contexto clínico quanto no contexto educa- cional, marca a história da Psicologia, por contribuir com inúmeros benefícios, contudo, também levanta alguns questionamentos que merecem atenção. A mensuração, a avaliação e o consequente diagnóstico possibilitados pelas escalas de desenvolvimento criadas são de grande valia para a defi nição de ações posteriores, não só de cunho clínico – um tratamento médico ou psicológico, por exemplo – como também de cunho educacional. Além disso, a constante utilização desses instrumentos permitiu, e permite, seu aprimoramento, impul- sionando novos estudos e assegurando a evolução da ciência psicológica. Entretanto, a própria história da Psicologia do Desenvolvimento nos mos- tra que existem inúmeros cuidados a serem tomados. A utilização reducionista PSE - BOOK.indb 37 10/05/13 16:10 – 38 – Psicologia da Educação dessas escalas que, naturalmente, criam a ideia de “normal” e “anormal” pode trazer consequências desagradáveis e prejudiciais para todos os envolvidos. Vale destacarmos que o conceito de normalidade é, a priori, estatístico, isto é, relaciona-se à curva normal. Através dessa curva, podem ser definidas pro- babilidades em relação a um evento, considerando a média e os desvios quanto às suas ocorrências. Assim, o sentido de normalidade está ligado ao conceito de frequência, de quantidade de ocorrências, àquilo que é comum à maioria. Figura 1: Representação gráfica da variação de normalidade entre indivíduos. Indivíduos com resultados frequentes, próxi- mos à média Indivíduos com resultados meno- res que a média, mas ainda normais Indivíduos com resultados dife- rentes da maioria Como podemos observar na figura anterior, a normalidade ou a anorma- lidade estão ligadas à relação entre o resultado alcançado pelo indivíduo e a fre- quência com que esse mesmo resultado acontece em uma população já estudada. No entanto, socialmente, o conceito de normalidade passou a ser atre- lado ao conceito de saudável; por isso, os pontos fora da curval normal ou mais distantes de sua média adquiriram uma conotação negativa. Dessa maneira, um dos grandes desafios da Psicologia do Desenvolvimento reside na redução dos impactos negativos de suas descobertas, para buscar alterna- tivas e medidas que permitam a disseminação consciente e cuidadosa de suas teorias e de seus instrumentos. PSE - BOOK.indb 38 10/05/13 16:10 – 39 – A Psicologia do Desenvolvimento 2.2 Principais abordagens do Desenvolvimento Como vimos até aqui, as premissas de objetividade e cientificidade e as exigências sociais de cada época influenciaram a evolução e a construção do conhecimento da Psicologia do Desenvolvimento. Antes de nos aprofundar- mos nos conceitos e nas teorias dessa importante área da Psicologia, é interes- sante refletirmos sobre nosso principal conceito: o desenvolvimento. Já ensaiamos algumas definições para essetermo e, assim como fizemos em relação ao conceito de infância, não podemos perder de vista seu caráter histórico. Qualquer que seja o termo objeto de nosso estudo, sempre existirão muitas formas de entendê-lo. E, no processo de construção desse entendi- mento, utilizamos uma espécie de filtro, um conjunto de premissas básicas anteriores que, de certa maneira, norteiam essa tarefa. A esse filtro estamos atribuindo a designação “abordagem”. De forma didática, vamos considerar uma abordagem quase como um conjunto de concepções filosóficas que nos permite melhor delimitar ou embasar o conceito ou a teoria que desejamos determinar. No caso em ques- tão, ao tentarmos definir o que é desenvolvimento humano, encontramos três grandes correntes: a inatista, a ambientalista e a sócio-histórica. A abordagem inatista Essa abordagem está fundamentada nas ideias racionalistas e tem como base as filosofias de René Descartes (1596-1650), Baruch Espinoza (1632- 1677) e Immanuel Kant (1724-1804). A abordagem inatista privilegia a razão, em detrimento da experiência, como a única forma de se chegar ao conhecimento e considera que tudo existe a priori. Dessa forma, as capacidades e características humanas básicas seriam ina- tas, ou seja, já estariam prontas e definidas desde o momento do nascimento do indivíduo – sua manifestação dependeria apenas do amadurecimento. Assim, ao nos debruçarmos sobre a questão do desenvolvimento, teríamos o enten- dimento de que esse seria um processo regido por leis próprias, um processo interno que não depende do conhecimento, da experiência ou da cultura. Podemos encontrar teorias do desenvolvimento que partem desses pres- supostos e que, como consequência, apresentam uma expectativa limitada PSE - BOOK.indb 39 10/05/13 16:10 – 40 – Psicologia da Educação quanto ao papel da aprendizagem e da educação, uma vez que as capacidades humanas já seriam herdadas geneticamente. A abordagem ambientalista Pautada nas ideias empiristas e positivistas de Francis Bacon (1561- 1626), John Locke (1632-1704) e Augusto Comte (1798-1857), essa abor- dagem atribui exclusivamente ao ambiente a constituição das características e capacidades humanas, destacando a experiência como fonte de conhecimento e de formação de hábitos de comportamento. O desenvolvimento humano, segundo essa forma de pensar, seria um processo determinado pelo meio, modelado e condicionado por ele. Ao contrário do que acontece com a visão inatista, na visão ambienta- lista a educação ganha um destaque especial, sendo quase capaz de definir os comportamentos do indivíduo a partir da modelação e do condicionamento de seus comportamentos. A abordagem sócio-histórica Entendendo o homem como um ser construído pelas forças históricas e sociais, fruto da sociedade e da cultura em que está inserido, essa abordagem tem como fundamento os princípios do materialismo dialético de Karl Marx (1818-1883) e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). Com base nessa concepção, o processo de desenvolvimento humano seria compreendido como uma transformação mútua entre a realidade e o homem. A educação teria um papel ativo na construção do homem, cen- trada em sua autonomia, problematizando e refletindo acerca da realidade e mediando a relação do homem com a cultura. Existe uma abordagem correta? Após percorrer cada uma das abordagens apresentadas, ficamos com uma questão: Qual seria a mais adequada? É possível vislumbrarmos verdades em cada uma delas e, ao mesmo tempo, apontarmos algo com que não con- cordamos em uma primeira instância. PSE - BOOK.indb 40 10/05/13 16:10 – 41 – A Psicologia do Desenvolvimento Isso ocorre porque apresentamos essas abordagens em seus formatos mais extremos. Na verdade, essas concepções coexistem e se mesclam (quando possível) em boa parte dos estudos da Psicologia do Desenvolvimento, e até mesmo em outras áreas da Psicologia. Davidoff (2001, p. 51) enfatiza que “há séculos os cientistas vêm deba- tendo se a mais poderosa influência sobre o desenvolvimento das característi- cas específicas é a hereditariedade ou o ambiente”, todavia, até hoje, o que se sabe é que ambos determinam o desenvolvimento humano. O que encontraremos nos estudos da Psicologia do Desenvolvimento são teorias que privilegiam uma ou outra abordagem, seja por pressupostos filosóficos ou por cortes metodológicos. Além disso, podemos observar que, ao longo da expansão da ciência, algumas abordagens ganham mais força em determinados momentos histó- ricos, sendo posteriormente questionadas e superadas. Isso faz parte do pro- cesso de construção do processo de conhecer científico e, portanto, deve ser encarado de forma natural e positiva. Assim, para darmos prosseguimento ao nosso estudo sobre a Psicologia da Educação, é preciso nos despirmos de verdades absolutas e procurarmos compreender o que cada cientista busca desvendar, refletindo de forma crítica acerca dos resultados encontrados. 2.3 Procedimentos e desafios Com o propósito de melhor compreendermos os estudos e resultados da Psicologia do Desenvolvimento, é preciso conhecermos os principais procedimentos utilizados em suas pesquisas, bem como termos clareza dos desafios enfrentados. Dessa forma, nesta seção buscaremos apresentar alguns dos procedimentos mais empregados, vislumbrando suas vantagens e desvantagens. A partir disso, discutiremos alguns desafios que se impõem para essa área do saber psicológico. PSE - BOOK.indb 41 10/05/13 16:10 – 42 – Psicologia da Educação Principais procedimentos Com a pretensão de descrever e explicar os comportamentos humanos nas diferentes fase da vida, a Psicologia do Desenvolvimento propõe-se a explicar como: [...] a partir de um equipamento inicial (inato), o sujeito vai sofrendo uma série de transformações decorrentes de sua pró- pria maturação (fisiológica, neurológica e psicológica) que, em contato com as exigências e respostas do meio (físico e social), levam à emergência desses comportamentos. Por- tanto, a nossa ciência pretende: a) Observar e descrever os fenômenos (exemplo: choro, agres- são, linguagem, solução de problemas, etc.). b) Explicar os fenômenos. Explicar quais os processos subja- centes, quais os mecanismos psicológicos, internos, que atuam para possibilitar o aparecimento destes fenômenos comporta- mentais. (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981, p. 3). Dessa forma, muitos são os procedimentos e métodos científicos que podem ser adotados nas pesquisas para que essas pretensões sejam alcançadas. Para atender aos seus objetivos, a Psicologia do Desenvolvimento, como área que produz conhecimento por meio da Ciência, faz uso de métodos tra- dicionais de observação e descrição de fenômenos. Dessa forma, nessa área, há pesquisas cuja principal finalidade é a descrição de dado comportamento, tendo como resultado a elaboração de teorias que representam os modelos explicativos desses fenômenos comportamentais. Os métodos de observação e o posterior registro de comportamentos através de técnicas descritivas detalhadas são, sem dúvida, os mais utilizados, principalmente na coleta de dados. Entretanto, esses métodos apresentam a desvantagem da impossibilidade de serem aplicados para fenômenos ou processos psicológicos não observáveis diretamente e para o estudo do desen- volvimento humano. Esse fato se configura como uma importante limitação, pois muitas são as variáveis internas que podem influenciar o desenvolvi- mento, as quais não seriam, por tais métodos, exploradas. Assim, outros métodos precisavam ser empregados na tentativa de se assegurar o estudo mais aprofundado do desenvolvimento. A partir da influ- PSE - BOOK.indb 42 10/05/13 16:10 – 43 – A Psicologia do Desenvolvimento ência da metapsicologia de Sigmund Freud, métodos de investigaçãoclínica e estudos longitudinais ganharam espaço nas pesquisas da área. Os métodos de investigação clínica permitem o maior aprofundamento na compreensão dos fenômenos a partir da observação e da exploração das variáveis relacionadas ao indivíduo. Esse tipo de coleta de dados é bastante rico, todavia possui limitações quanto à possibilidade de se estabelecerem generalizações, por- que os resultados encontrados são muito específicos e individuais. Além disso, essas investigações demandam muito tempo e também investimento. A necessidade de investimento aparece, inclusive, como uma desvanta- gem dos estudos longitudinais. Esse tipo de estudo tem como característica assegurar maior possibilidade de generalização e comparação, pois utiliza uma grande quantidade de indivíduos que são observados ao longo de um período de tempo. Contudo, os estudos longitudinais apresentam como limitação a frequente perda de indivíduos no decorrer do período de pesquisa. Ao longo do tempo, métodos mais sofisticados, como os métodos corre- lacionais e os etológicos, também incrementaram as pesquisas sobre o desen- volvimento humano. A partir do uso de métodos estatísticos de correlação, algumas limitações de outros métodos puderam ser reduzidas, facilitando, por exemplo, a com- paração de resultados oriundos de investigações clínicas. Os estudos etológicos também contribuíram para as pesquisas da Psico- logia do Desenvolvimento. Tais estudos são desenvolvimentos com animais e, com base na aplicação de métodos científicos e estatísticos, há a transposição para a descrição e o entendimento dos fenômenos humanos. Muitas desco- bertas da Etologia2 foram migradas para a Psicologia e adaptadas e aprofun- dadas de modo a permitir significativos avanços para a área. Desafios Muitos são os desafios para a Psicologia do Desenvolvimento. De acordo com Frota (2007, p. 151): Podemos ver que, numa perspectiva histórica de milhares de anos, em que predominou o total desconhecimento da 2 Etologia é o estudo do comportamento animal. PSE - BOOK.indb 43 10/05/13 16:10 – 44 – Psicologia da Educação criança, a Psicologia do Desenvolvimento Infantil encon- trou no seu início uma série de dificuldades para se impor como estudo sério, importante e necessário. Mas ela tem conseguido se firmar. Hoje, o estudo do desenvolvimento da criança é necessário e indispensável para quem deseja traba- lhar com essa fase da vida humana. Além disso, a perspectiva extremamente positivista assumida pela Psicologia do Desen- volvimento, que se preocupava principalmente em observar, medir e comparar as mudanças exibidas pelas crianças ao longo de sua trajetória de vida, foi substituída por uma pers- pectiva mais histórica. Hoje se estuda a criança e a infância como categorias construídas historicamente, o que nos abre possibilidades de compreendê-las de modo concreto, na sua expressão de vida. Como vimos até aqui, um dos principais desafios da Psicologia do Desenvolvimento desde seu surgimento reside no fato de que as metodo- logias de estudo tradicionais – baseadas na observação direta e na descrição – não atendem mais às exigências e às características dos estudos da área, pois impossibilitavam o estudo de alguns fenômenos. Além disso, Rappaport, Fiori e Davis (1981) e outros estudiosos tam- bém nos lembram que, mesmo a partir da utilização de diferentes métodos de pesquisa, não podemos esquecer que todos os métodos possuem limitações no que se refere à melhor adequação aos estudos dos fenômenos do desen- volvimento humano, colocando em questionamento a validade científica dos resultados encontrados. Assim, apresenta-se para a Psicologia do Desenvol- vimento um grande desafio metodológico. Cabe aos estudiosos dessa área a busca e a adequação de diversos métodos e estudos que permitam a melhor compreensão do desenvolvimento humano em toda a sua complexidade. Com a emergência de novos paradigmas científicos e diante da influ- ência de abordagens mais sistêmicas, torna-se necessário considerar diversos contextos e variáveis que se articulam, influenciando e sendo influenciadas pelo desenvolvimento humano. Como vimos, cada vez mais a análise do con- texto histórico dos indivíduos deve ser incorporada aos estudos da área. A consideração desses contextos pode dificultar generalizações e comparações para a construção do conhecimento da área, todavia enriquece as pesquisas; além disso, a partir da emprego de métodos mais flexíveis, oriundos de outras ciências humanas, esses estudos podem alcançar maior validação. PSE - BOOK.indb 44 10/05/13 16:10 – 45 – A Psicologia do Desenvolvimento Logo, é demandada uma maior preocupação quanto aos padrões meto- dológicos utilizados, bem como um estudo mais aprofundado acerca das limitações e adequações possíveis para cada um dos métodos aplicados nas pesquisas da Psicologia do Desenvolvimento. Outro grande desafio para a área reside na constante ampliação de seu objeto de estudo. Segundo Davidoff (2001, p. 418-419): [...] a psicologia do desenvolvimento é agora definida em ter- mos de todo o ciclo da vida. Ela abrange a investigação do crescimento da estrutura física, o comportamento e o fun- cionamento mental desde qualquer ponto do tempo após o nascimento até qualquer ponto do tempo antes da morte. O fato de englobar todo o ciclo vital aponta para a necessidade de se repensar a metodologia de pesquisa, como já citamos, mas também demons- tra ampliação da Psicologia do Desenvolvimento, trazendo-lhe novas exigên- cias e desafios, especialmente diante de sua interseção com as áreas da saúde e da educação. Assim, outros desafios se colocam, tal como ressalta Mota (2005, p. 110): “esses desafios envolvem, sobretudo, o caráter multidisciplinar dessa disciplina, fazendo com que psicólogos do desenvolvimento precisem encon- trar uma linguagem que facilite a comunicação entre profissionais de diferen- tes áreas de atuação”. Logicamente, assistimos ao surgimento de novas perguntas e até mesmo de novos objetos de estudos relacionados ao desenvolvimento que se apresen- tam como desafios a essa área, ainda considerada recente. Portanto, há muito a ser feito para a efetiva consolidação e estruturação da Psicologia do Desenvolvimento. No entanto, é necessário reconhecer que há diversas contribuições feitas pelos estudiosos dessa área para muitas outras áreas do conhecimento, especialmente para a Educação. A dimensão política Não poderíamos encerrar este capítulo sem uma pequena reflexão acerca da dimensão sociopolítica da Psicologia do Desenvolvimento, pois, como vimos, sua trajetória esteve atrelada ao surgimento de diferentes conceitos e categorias historicamente construídos, como a infância e a família. Dessa PSE - BOOK.indb 45 10/05/13 16:10 – 46 – Psicologia da Educação maneira, devemos analisar de forma crítica a relevância e a aplicação dadas aos resultados alcançados pela área. Assim como os conceitos utilizados por essa área, seus resultados e suas teorias também são historicamente situados. Assim, devemos ter o cuidado de, ao empregá-los, contextualizá-los e até adaptá-los ou atualizá-los. Precisamos também levar em consideração que os resultados encontra- dos buscavam responder às exigências da época em que foram obtidos. Logo, não estariam isentos de interesses de políticos, religiosos ou mesmo econô- micos. Dessa forma, assim como em qualquer área, as pesquisas e as teorias da Psicologia do Desenvolvimento não podem ser meramente transpostas aos diversos campos de atuação para os quais contribui sem as devidas reflexões e análises acerca dos impactos sociais e culturais que possa causar. Síntese Este capítulo foi dedicado à Psicologia do Desenvolvimento. Iniciamos nosso estudo conceituando essa área básica do saber psicológico: vimos que ela
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