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CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DE INSTRUÇÃO PÚBLICA CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DE INSTRUÇÃO PÚBLICA RECOMENDAÇÕES ( 1 9 3 4 - 1 9 6 3 ) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS PEDAGÓGICOS BRASIL 1965 Í N D I C E Pág. Apresentação .................................................................................................................. IX Origens do Bureau Internacional de Educação e das Conferências Inter nacionais de Instrução Pública ......................................................................... XI RECOMENDAÇÕES N.° 1 — Extensão da Escolaridade Obrigatória (1934) ......................................... 1 N.° 2 — Admissão às Escolas Secundárias (1934) ................................................. 2 N.° 3 — Economia no Campo da Instrução Pública (1934) .................................... 4 N.° 4 — Formação Profissional do Magistério Primário (1935) .... 5 N.° 5 — Formação Profissional do Magistério Secundário (1935) .. 6 N.° 6 — Conselhos de Educação ( 1935) ...................................... ;....................... 8 N.° 7 — Educação de Grupos Especiais (1936) ................................................ 9 N.° 8 — Organização do Ensino Rural (1936) ........................................................ 10 N.° 9 — Normas Para Construções Escolares (1936) .......................................... 12 N.° 10 — Inspeção do Ensino (1937) ..................................................................... 14 N.° 11 — Ensino de Línguas Vivas (1937) ................................................................. 15 N.° 12 — Ensino da Psicologia na Formação de Professôres Primários e Secundários (1937) ...................................................................... 17 N.° 13 — Remuneração do Professor Primário (1938) ........................................... 18 N.° 14 — Ensino das Línguas Clássicas < 1938) ......................................................... 20 N.° 15 — Elaboração, Emprego e Seleção de Manuais de Ensino (1938) 22 N.° 16 — Remuneração do Professorado Secundário (1939) ................................. 24 N.° 17 — Organização do Ensino Pré-Primário (1939) ............................................... 26 N.° 18 — Ensino da Geografia nas Escolas Secundárias (1939) ............................ 28 N.° 19 — Acesso às Escolas do Segundo Grau (1946) ............................................... 30 N.° 20 — Difusão do Ensino da Higiene do Jardim da Infância ao Nível Médio (1946) ......................................................................... 31 N.° 21 — Gratuidade do Material Escolar ( 1947) ................................................... 33 N.° 22 — Educação Física no Ensino Secundário ( 1947) .................................... 35 N.° 23 — 0 Ensino da Escrita (1948) ............................................................................. 37 N.° 24 — Desenvolvimento da Consciência Internacional na Juventude e Ensino Relativo aos Organismos Internacionais (1948) 38 N.° 25 — Desevolvimento dos Serviços de Psicologia Escolar (1948) 40 N.° 26 — Ensino da Geografia e a Compreensão Internacional (1949) 4 2 N.° 27 — Iniciação às Ciências Naturais na Escola Primária (1949) 4.» N.° 28 — Ensino da Leitura (1949) ........................................................................ 45 N.° 29 — Intercâmbio Internacional de Educadores ( 1950) ...................................... 46 N.° 30 — Ensino de Trabalhos Manuais nas Escolas Secundárias (1950) 48 — VII Pág. N.° 31 — Iniciação à Matemática na Escola Primária (1950) ................................... Sl N.° 32 — Escolaridade Obrigatória e sua Extensão (1951) .................................... 53 N.° 33 — Cantinas e Vestiários Escolares (1951) ........................................................ 63 N.° 34 — Acesso da Mulher à Educação (1952) ...................................................... 65 N.° 35 — Ensino de Ciências Naturais nas Escolas Secundárias (1952) 70 N.° 36 — Formação do Magistério Primário (1953) ................................................ 73 N.° 37 — Situação do Magistério Primário (1953) ................................................... 83 N.° 38 — Formação do Magistério do Ensino Secundário (1954) ... 87 N.° 39 — Situação do Magistério do Ensino Secundário (1954) .... 92 N.° 40 — Financiamento da Educação (1955) ........................................................... 98 N.° 41 — Ensino das Artes Plásticas nas Escolas Primárias e Secun dárias (1956) ..................................................................................... 107 N.° 42 — Inspeção Escolar (1956) ............................................................................... 112 N.° 43 — Ensino da Matemática na Escola Secundárias (1956) ............................... 118 N.° 44 — Desenvolvimento das Construções Escolares (1957) ............................... 124 N.° 45 — Formação dos Professôres de Ensino Normal (1957) .................................. 132 N.° 46 — Elaboração e Expedição de Programas do Ensino Primário (1958) ................................................................................................ 137 N.° 47 — Possibilidades de Acesso à Educação nas Zonas Rurais (1958).....................144 N.° 48 — A Elaboração, a Escolha e a Utilização dos Manuais de En sino Primário (1959) .................................................................................................. 152 N.° 49 — Medidas destinadas a Facilitar o Recrutamento e a For mação dos Quadros Técnicos e Científicos (1959) ..................... 158 N.° 50 — Elaboração e Expedição dos Programas de Ensino Secundá rio (1960) ........................................................................................... 169 N.° 51 — Ensino Especial para Débeis Mentais (1960) ............................................ 176 N.° 52 — Escola Primária de Mestre Único (1961) ............................................... 182 N.° 53 — Educação Pré-Primária (1961) .................................................................. 189 N.° 54 — Planejamento da Educação (1962) ........................................................... 197 N.° 55 — Aperfeiçoamento de Professôres Primários (1962) ................................. 204 . N.° 56 — Orientação Escolar e Profissional (1963) ................................................ 210 N.° 57 — Carência de Professôres Primários (1963) ................................................. 216 A P R E S E N T A Ç Ã O Promovida inicialmente pelo Bureau Internacional de Educação e, a partir de 1947, pelo Bureau e pela UNESCO, reúne-se anualmente em Genebra, desde 1934, a Conferência Internacional de Instrução Pública, cujos objetivos principais consistem na apresentação de relatórios sobre o movimento educativo do ano ante- rior e na discussão e votação de Recomendações aos Ministérios de Educação. As Recomendações emanadas dessas Conferências intergovernamentais, de que chegam a participar até noventa nações, sem assumirem a força de decisões e sem se revestirem da forma de convênios, constituem, não obstante, um conjunto de normas da mais ampla autoridade técnica e moral, por serem elaboradas com fundamento na realidade escolar dospaíses participantes e aprovadas, após acurado exame, pelas autoridades superiores responsáveis pelo ensino nesses países. As cinqüenta e sete Recomendações, expedidas pelas vinte e quatro Conferências realizadas até 1963, abrangem aproximadamente mil e quinhentas proposições sobre problemas universais do ensino e constituem, por essa razão, uma Carta Internacional de Educação da maior importância, cuja significação não pode ser subestimada por quem quer que tenha uma parcela de responsabilidade em administração escolar. No momento em que, no nosso País, os Estados cuidam de organizar os seus sistemas de ensino à luz dos princípios de descentralização e dos critérios de planejamento ditados pela Lei de Diretrizes e Bases, afigura-se-nos extraordinariamente oportuno reunir, para facilidade de consulta por parte das autoridades do ensino, as peças desse fecundo corpo de doutrina pedagógica, que, por um lado, lhes pode servir de fonte de inspiração de providências e, por outro, pode prestar-lhes valiosos subsídios para o aprimoramento de soluções já adotadas. Rio de Janeiro, março de 1965. CARLOS PASQUALE Diretor do INEP — IX ORIGENS DO 'BUREAU INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO" E DAS CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS DE INSTRUÇÃO PÚBLICA Em 1912, a "American School Citizenship League", graças sobretudo aos esforços de sua secretária, Mrs. Fannie Fem Andrews, conseguiu interessar o governo de Washington na idéia de uma Conferência Internacional de Educação. Dessa Conferência diplomática deveria sair, logicamente, um Bureau Internacional de Educação, encarregado, especialmente, de estudar as questões ligadas ao ensino das relações internacionais, assim como de outros problemas educacionais que fossem de interesse comum a todos os povos. Os Estados Unidos sugeriram à Holanda convocar esta Conferência e medidas preliminares foram tomadas nesse sentido junto aos Ministérios de Relações Exteriores e da Educação de grande número de países, tendo sido a data da Conferência fixada para setembro de 1914. Dezesseis países, entre os quais todos as grandes nações da Europa, aceitaram o convite da Holanda e nomearam seus representantes. A guerra de 1914 adiou sine die a primeira Conferência Internacional de Educação. Contrariamente ao que se verificou em outros domínios, a paz de 1914 nenhum progresso trouxe à organização internacional de educação. Durante a Conferência da Paz, o Pacto da Sociedade das Nações, que reservou um lugar às tarefas sociais, humanitárias e econômicas, nenhuma menção fêz à educação. Entre os esforços que se desenvolveram paralelamente ao movimento americano, contam- se os diferentes projetos do M. Frédéric Zollinger, secretário do Departamento de Instrução Pública de Zurique, que, já em 1901. propunha ao Conselho federal suíço a fundação de um centro internacional para a instrução e a educação. Seus projetos foram sucessivamente aprovados e recomendados por uma série de Congressos de caráter pedagógico. Em 1922, o 3.° Congresso internacional de educação moral aprovava um relatório de Zollinger, acompanhado de um projeto de estatuto de um Bureau Internacional de Educação, ligado ao Bureau Internacional do Trabalho. Esse documento previa uma Assembléia Internacional de Educação, composta dos delegados dos Estados-membros do BIE e uma comissão executiva. Em 1925, uma Comissão de organização criou, em Genebra, com o apoio do "Institut Universitaire des Sciences de 1'Education" e sob a forma de associação corporativa, o "Bureau International d'Education". Em 25 de julho de 1929 foi assinado, no Departamento de Instrução Pública de Genebra, novo estatuto do BIE, pelo qual se tornou este uma instituição de interesse público, controlada, através de um Conselho e de uma Comissão executiva, por seus membros, na maioria Governos, que se comprometeram a sustentá-lo financeiramente. M. Jean Piaget, Diretor do BIE, em discurso pronunciado por ocasião da abertura da 3.a Conferência Internacional de Instrução Pública, em 1934, acrescentou as seguintes informações históricas: "Em julho de 1929, três Mi-nistérios de Instrução Pública — Polônia, Equador e Cantão de Genebra — assinaram um acordo pelo qual transmitiriam sua documentação ao BIE, para fins de informação mútua. Em julho de 1931, os mesmos Ministérios, juntamente com os da Tchecoslováquia. da Espanha e do Egito, já membros do BIE, apresentaram, na sessão do Conselho do BIE. relatórios sobre sua atividade pedagógica durante o último ano escolar. Tal foi a origem da Conferência Internacional de Instrução Pública. No ano seguinte, não somente os Governos membros do BIT mas todos os Ministros de Instrução Pública foram convidados a apresentar ao Conselho do BIT os relatórios sobre o movimento educativo nos respectivos países, em uma conferência que se seguiu imediatamente à sessão do Conselho. Estava, assim, fundada a Conferência, de que o primeiro volume do Anuário Internacional de Educação foi o fruto (1933).*' A partir de 1934, além dos relatórios ministeriais, teve início nas Conferências o debate de três grandes questões educacionais, segundo resultados de inquéritos promovidos pelo BIT. durante o ano. junto aos Ministérios de Instrução Pública. Até a declaração da guerra, em 1939. o BIT havia convocado, por intermédio do Governo federal suíço, conferências intergovernamentais de instrução pública, das quais participaram perto de 60 governos. A guerra deflagrada em 1939 suspendeu as reuniões anuais da Conferência. só retomadas em 1946. Em 28-2-47 foi assinado um acordo de colaboração entre o BIE e a UNESCO, tendo sido constituída uma Comissão mista para fixar as bases desta cooperação. O acordo prevê, entre outras condições, associações das duas organizações para convocarem as Conferências internacionais de instrução pública. A reunião de 1964 foi interrompida antes de haver discutido e votado recomendações. (Notas da Biblioteca do CBPE.) RECOMENDAÇÃO N.° 1 (1934) Extensão da Escolaridade Obrigatória A Conferência Internacional de Instrução Pública 1. Reconhece que o problema da escolaridade obrigatória e sua extensão apresenta acentuadas diferenças nos diversos países e que, atualmente, nenhuma medida de conjunto pode ser recomendada. 2. Verifica que nos países onde o número de escolas não cor- responde ainda à população em idade escolar, o problema consiste mais em assegurar a cada criança a possibilidade de freqüentar a escola durante um mínimo de anos determinados, do que em prolongar a escolaridade. 3. Conquanto admita que o número de anos escolares obrigatórios possa variar segundo cada país, considera que se deva desejar um número de anos de escolaridade efetiva nunca inferior a sete e constata que esse mínimo já se encontra ultrapassado em vários países. 4. Julga desejável que a idade do egresso da escola nunca deveria ser fixada antes da época em que a formação física, intelectual e moral da criança esteja satisfatoriamente assegurada. 5. Adverte os governos quanto à oportunidade de correspondência entre a adoção do princípio da obrigatoriedade escolar e das sanções contra o nao cumprimento desse princípio, e os esforços empreendidos pelas autoridades para tornar exeqüível o cumprimento integral dessa obrigatoriedade. 6. Julga que, em princípio, e para a maioria dos países, a extensão da escolaridade mesmo além de 14 anos ofereceria vantagens indiscutíveis, salvo nos casos que merecem ser examinados quanto a dispensas temporárias e de curta duração que poderiam ser concedidas, por exemplo, na época dos trabalhos agrícolas. 7. Afirma que o problema da extensão da escolaridade deve ser resolvido de acordo com a idade deadmissão ao trabalho. 8. Deseja que em âmbito nacional exista a mais completa coordenação no que se refira às medidas a serem empreendidas entre a administração do Ensino Público e a do Trabalho e que no plano internacional sejam feitos, paralelamente, estudos sobre a idade de admissão ao trabalho e a escolaridade obrigatória 9. Aconselha que o ensino dado na escola propriamente dita seja prolongado pelo ensino pós-escolar igualmente obrigatório; que a extensão do ensino escolar ou pós-escolar consista essencial mente de formação geral, cujos interesses e matérias curriculares estejam baseados nos interesses dominantes da região: rurais, indus triais, comerciais, etc. e para as meninas, no preparo às tarefas do mésticas. Deve esse ensino atribuir maior importância aos exercícios práticos, visando despertar e desenvolver as aptidões profissionais dos alunos Deseja ainda que se conceda maior importância à formação moral e física. 10. Julga recomendável que toda medida relativa à extensão da escolaridade leve em conta a necessidade de coordenar as diversas modalidades de ensino e assegurar a continuidade de seus programas. 11. Adverte as autoridades escolares para a necessidade de adaptação dos métodos de ensino prolongado às condições psicológicas dos alunos, em função da idade. 12. Ressalta que, em decorrência das peculiaridades dos programas e dos métodos a serem aplicados no ensino prolongado, devem formar-se professores para esse fim ou selecioná-los entre os que hajam demonstrado anteriormente, no exercício da profissão, aptidões específicas para esse tipo de ensino. RECOMENDAÇÃO N.° 2 (1934) Admissão às Escolas Secundárias A Conferência Internacional de Instrução Pública, reconhecendo que a diversidade de circunstâncias impõe aos diversos países organização diferente; existem alunos nas escolas secundárias que não estão aptos a seguir com êxito o ensino nelas ministrado; o número excessivo de alunos nos estabelecimentos de ensino superior e a extensão do desemprego entre os intelectuais podem causar à juventude apreensão e sentimento de insegurança; o excesso de alunos verificado no ensino superior é devido principalmente à preocupação mais do que legítima de obter uma situação material e moral privilegiada por meio de apreciável cultura geral; tendo em vista a vida social das Nações e o interesse dos indivíduos, urge preparar, paralelalmente a uma elite constituída de profissões liberais, elites comerciais, industriais, agrícolas, etc. correspondendo aos diferentes tipos da atividade econômica e possuindo também cultura realmente geral, 1. Julga necessário, a fim de evitar, na medida do possível, erros de orientação, e o desestímulo que deles podem resultar, promover a orientação dos alunos no decorrer do último ano regulamentar de ensino primário com a colaboração do professor, do médico, do serviço de orientação profissional, cabendo à família a decisão final. 2. Recomenda maior coordenação entre o ensino primário e os ensinos secundários de maneira a permitir — sobretudo durante os primeiros anos de estudos — passagem facilitada de uma categoria de ensino a outra. 3. Salienta a importância dos estabelecimentos denominados em alguns países "escolas médias", em outros "escolas primárias superiores", em outros "escolas práticas" ou "escolas de aprendizagem profissional", etc, que, não tendo por objetivo o preparo às Universidades, podem assegurar a seus alunos, além de cultura geral satisfatória, iniciação prática, de modo a prepará-los diretamente ao exercício imediato de uma profissão, ou a certas escolas profissionais superiores. 4. Considera que se devem aperfeiçoar os métodos de seleção para o ingresso nas escolas secundárias propriamente ditas. Para essa seleção seria conveniente levar em conta os seguintes ele mentos: a) certificado de estudos primários e o relatório individual elaborado pelos Professôres primários; b) exame efetuado segundo métodos científicos tendo por objetivo não somente verificar os conhecimentos adquiridos, mas ainda as aptidões do candidato para seguir os estudos. 5. Registra com interesse as atribuições concedidas seja aos representantes do corpo docente, seja aos representantes dos pais, no âmbito das comissões de orientação e de seleção. 6. Previne as autoridades escolares que, no caso de seleção comportando eliminação obrigatória, todo aluno afastado das escolas secundárias propriamente ditas deveria ser encaminhado a outros estudos ou a uma formação profissional prática em função de suas aptidões. 7. Apesar da complexidade que a gratuidade apresenta em seus diversos aspectos nos diferentes países, julga que as anuidades escolares nunca deveriam ser empecilho para o aluno cursar estudos secundários. 8. Conseqüentemente, atribui a maior importância à concessão de bolsas de estudo cujo montante possa cobrir, tão completamente quanto possível, o custo dos estudos, e mesmo todos os encargos com a manutenção da criança, caso a situação dos pais assim o exija. RECOMENDAÇÃO N.° 3 (1935) Economia no Campo da Instrução Pública. A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que seria arriscado dar às gerações futuras uma formação intelectual, moral e física incompleta, tomando-as assim inaptas a solucionar os graves problemas inerentes à reorganização do mundo, 1. Lembra aos governos as graves conseqüências que adviriam de economias realizadas no campo da educação e sugere que essas economias sejam desviadas para outros setores menos comprometidos com o progresso material e espiritual. 2. Registra com agrado a adoção de resoluções neste sentido pelo Comitê Executivo do Bureau Internacional de Educação, por diversas Associações ou Reuniões Pedagógicas Internacionais, pela Comissão Internacional de Cooperação Intelectual e pela Assembléia da Sociedade das Nações. 3. Vendo com pesar que certos países tenham sido obrigados a restringir, por injunções da crise econômica, os orçamentos educacionais, a Conferência pede a atenção dos Governos para as seguintes considerações: a) as reduções mais prejudiciais são as reduções globais efetuadas sem levar em consideração a utilidade e a eficiência das instituições atingidas; b) as restrições orçamentárias no campo da "educação pública" não deveriam ser impostas pelas autoridades responsáveis pelo orçamento antes de estudo prévio efetuado pelas autoridades educacionais; c) a redução dos vencimentos do pessoal docente representa sério dano para o recrutamento de seus membros, que devem ser homens de elite, já que o futuro do país lhes é confiado; d) nenhuma restrição deveria atingir as medidas capazes de contribuir para a saúde física e moral da criança: locais escolares bem conservados, cantinas escolares, praças de jogos e recreação, colônias de férias, bem como Serviços de Assistência Social, que deram nova orientação à escola de hoje e que são tão necessários em épocas de crise; e) deve-se evitar qualquer economia de material escolar capaz de prejudicar o rendimento do ensino; f) o número de alunos por classe não deve sofrer aumento que possa afetar a qualidade do ensino e a saúde dos alunos; g) as atribuições da inspeção escolar — de que depende em grande parte a qualidade do ensino — deveriam ser organizadas de maneira a assegurar plena eficiência. RECOMENDAÇÃO N." 4 (1935) Formação Profissional do Magistério Primário 1. A Conferência de Instrução Pública, considerando que as condições econômicas e sociais presentes e o progresso dos conhe cimentos tornaram mais difíceis e mais complexos os encargos dos professores primários; sendo a personalidade doprofessor fator decisivo para a ação educativa e que conseqüentemente o problema da formação profissional dos futuros professores é de importância capital; nessa formação deve-se levar em conta não apenas conhecimentos gerais e pedagógicos, mas ainda e sobretudo valores morais, registra com satisfação que, na maioria dos países, o problema da formação de professores constitui uma das preocupações relevantes das autoridades educacionais. 2. A Conferência distingue uma corrente de opinião favorável à formação do Magistério Primário em nível superior, seja em Universidade ou Institutos Pedagógicos Universitários, seja em Academias Pedagógicas, após prévios estudos secundários. 3. A Conferência recomenda que a idade de admissão às funções de professor primário e conseqüentemente a do ingresso nos Centros de Formação Pedagógica sejam fixadas de maneira a permitir que o jovem professor possa adquirir, antes de exercer suas funções, maturidade moral e intelectual satisfatória, e também consciência da importância de seu trabalho e de suas responsabilidades; que a seleção dos candidatos não verse apenas sobre conhecimentos adquiridos mas que dê realce às aptidões morais, intelectuais e físicas; que os estudos dos futuros professores primários sejam gratuitos ou que pelo menos sejam concedidas bolsas aos candidatos de mérito e mais necessitados. 4. Julga que o preparo profissional e pedagógico deve ser com- pletado por uma boa cultura geral; que por conseguinte, a duração dos estudos deve ser suficientemente longa, permitindo ministrar aos alunos, sem estafa, cultura geral e formação profissional satisfatória. Considera, aliás, possível ministrar em primeiro lugar essa cultura geral, cabendo em seguida aos Centros de Formação Pedagógica (Universidades, Faculdades de Educação, Institutos Pedagógicos Universitários, Academias ou Institutos Pedagógicos, Escolas Normais) dar a formação profissional específica, isto nos países que não cogitam de reunir numa mesma Escola a cultura geral e a formação pedagógica. 5. A Conferência julga necessário: que se preveja na formação dos professores primários programas de estudos e horários compreendendo, além do estudo teórico da pedagogia e das ciências correlatas, séria formação pratica; que seja, também, reservado lugar às cadeiras de Economia e de Arte, às quais os professores terão posteriormente que iniciar as crianças na escola, nas organizações extra- escolares e que se leve também em conta a importância da cultura física na formação da personalidade; deseja que o preparo profissional (pedagógico, psicológico social e prático) dos futuros mestres possa inspirar-se nos princípios da Escola Ativa, reserve tempo suficiente para trabalhos individuais de pesquisa e considere que a formação profissional deve levar o futuro professor a estabelecer contato estreito com o meio social em que deverá ensinar, sobretudo nos meios rurais; recomenda que se dê especial relevo às escolas-modêlo anexas, sejam essas escolas rurais ou urbanas. 6. Julga que o preparo de professores de zonas urbanas ou de zonas rurais, mesmo diferenciando quando necessário, deve ser de nível idêntico, conferindo os mesmos direitos. Constata que, em vários países, se proporciona aos futuros Professôres, além da formação profissional geral, especialidade em certas disciplinas para ensino posterior aos alunos das séries mais adiantadas da escola primária e elementar. 7. Julga que a nomeação definitiva dos jovens professores só deve ser efetuada após estágio de duração satisfatória, racionalmente organizado e devidamente controlado. Recomenda que a adoção de estágios de aperfeiçoamento para os professores em exercício seja generalizada e constitua objeto de medidas permanentes. RECOMENDAÇÃO N.° 5 (1935) Formação Profissional do Magistério Secundário A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que na maioria dos países o ensino secundário vem sofrendo, atualmente, profundas reformas e mesmo completa reorganização, esta oportunidade deve ser aproveitada para melhorar, cada vez mais, não só a formação geral dos futuros professores de ensino secundário mas também seu preparo profissional, isto é, pedagógico, 1. Chama particularmente a atenção das autoridades educacionais para o problema. 2. A Conferência assinala que os futuros professores secundários necessitam adquirir uma formação científica bastante desenvolvida, ministrada em instituições universitárias ou em estabelecimentos de ensino superior; por conseguinte, lembra que essa formação científica comporta obrigatoriamente especialização. 3. Julga, entretanto, que essa especialização não deve ser prematura nem demasiadamente restrita, não se limitando o preparo de futuros professores aos cursos por que optaram, compreendendo ainda: a) formação moral adequada aos deveres do educador; b) amplos estudos de disciplinas conexas; c) conhecimento da teoria pedagógica, cuja importância convém salientar, abrangendo a psicologia do adolescente e métodos modernos de avaliação da aprendizagem; d) a habilitação prática também essencial, pode ser ministrada em escolas de aplicação ou por meio de estágios periodicamente organizados. 4. Recomenda que na formação dos futuros professores do ensino secundário feminino seja levada em conta a influência que as alunas irão exercer no lar e que a formação e os programas do ensino secundário feminino compreendam a economia doméstica, a higiene, a puericultura, a educação familiar. 5. Considera que a duração dos estudos deve favorecer conciliação entre as exigências do preparo geral e as de preparo pedagógico teórico e prático; instituindo-se provas seletivas a fim de que os alunos sem aptidões necessárias à profissão docente sejam eliminados antes de obter o certificado final. 6. Recomenda que no processo de nomeação levem-se em conta não apenas os conhecimentos teóricos dos candidatos, mas sobretudo seu valor moral e sua capacidade profissional. 7. Lembra, muito especialmente, às autoridades educacionais a necessidade de proporcionar aos membros do corpo docente em exercício meios de aperfeiçoamento profissional. RECOMENDAÇÃO N.° 6 (1935) Conselhos de Educação A Conferência Internacional de Instrução Pública, verificando que há entre os povos progressiva interdependência entre a educação e as outras manifestações sociais; seria de toda conveniência associar em larga escala interesses e pessoas competentes à obra da instrução pública; reconhecendo, todavia, que a diversidade de circunstâncias impõe aos diferentes países organização diferente, 1. Acentua a importância que poderiam ter órgãos geralmente conhecidos sob a denominação de Conselhos Superiores de Educação. 2. Consigna que as funções consultivas desses órgãos podem ser de grande utilidade para os administradores escolares dos diferentes países. 3. Julga que a eficácia desses órgãos depende em grande parte de sua constituição, devendo compreender representantes da administração educacional, da opinião pública, de pais de alunos, bem como representantes do corpo docente e especialistas de educação. 4. Verifica com agrado que, na maioria dos países, os Conselhos Superiores reservam lugares destacados aos membros dos diferentes ramos de ensino. 5. Julga que em todo país onde a organização administrativa o permita Conselhos regionais de Educação podem ser de real utilidade. 6. Acrescenta que o rendimento dos Conselhos Regionais depende também de sua constituição. 7. Assinala a importância que podem apresentar em certos países os Conselhos ou comissões escolares locais, para a vida e o desenvolvimento da escola. 8. Julga que os Conselhos ou comissões escolares locais podem,em particular, desempenhar papel de relevo no campo das instituições periescolares e nas relações entre a escola e o público. 9. Charqa a atenção das autoridades escolares para os grandes serviços que podem prestar à educação, e com sua participação nos Conselhos, as Associações de Pais, sejam elas oficialmente reconhecidas ou não. RECOMENDAÇÃO N.° 7 (1936) Educação de Grupos Especiais A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que, apesar de sensível decréscimo da porcentagem de surdos-mudos e sobretudo de cegos, o número de deficientes mentais (retardados mentais, instáveis emocionais) tende a aumentar em proporções alarmantes; cabe exclusivamente aos Podêres Públicos tomar as medidas necessárias para prevenir as causas desse incremento (doenças hereditárias, alcoolismo, condições da vida moderna); mas, por outro lado, os educadores devem estudar as condições capazes de levar os deficientes do físico (cegos e surdos-mudos) e os deficientes mentais, por uma educação adequada, a se tornarem elementos úteis a si mesmos e à sociedade, preparados, tanto quanto as outras crianças, para usufruir dos valores morais, artísticos ou intelectuais que enriquecem a vida humana. Considerando, outrossim, que no diagnóstico dos anormais deve agir-se com grande prudência, evitando qualquer precipitação ao classificar prematuramente como anormais crianças que poderiam levar uma vida quase normal, anulando assim suas possibilidades pessoais e sociais, recomenda aos Ministérios de Instrução Pública dos diferentes países: 1. Que a criação de classes ou de escolas especiais, e em certos casos de internatos para os deficientes do físico e para os deficientes mentais, seja considerada obrigatória pelas autoridades encarre gadas da organização escolar. Que esses estabelecimentos sejam criados em condições de permitir o acesso ao ensino especial a crianças provenientes de outros meios e não apenas àquelas de centros urbanos. 2. Que o ensino ministrado nesses estabelecimentos tenha as mesmas condições de gratuidade das classes comuns às crianças normais. 3. Que nos internatos sejam liberalmente concedidas bolsas de estudo às crianças de famílias com poucos recursos. 4. Que a educação dessas crianças inclua não apenas: a) ensino especial (por exemplo: ensino da fala, leitura labial para os surdos-mudos, leitura e escrita para os cegos) necessário a essas crianças; b) cultura geral, que deve ser, na medida do possível, do mesmo nível daquela ministrada às crianças normais, e também uma formação profissional adequada, levando-se em conta a situação do mercado de trabalho. 5. Que se levem em alta consideração as virtualidades das crianças; que o número de crianças por classe seja pouco elevado e os métodos de ensino, de preferência, métodos individuais, ativos, concretos, cuja aplicação já se faz em alguns países. 6. Que essas crianças não sejam consideradas crianças "assistidas", mas sim crianças educáveis; que, por conseguinte, os estabelecimentos de ensino especial figurem subordinados aos Ministérios de Instrução Pública. 7. Que a inspeção médica escolar, cuja obrigatoriedade se impõe, compreenda a saúde mental e física das crianças e o diagnóstico das crianças anormais efetuado com estreita colaboração dos mestres, dos médicos escolares e, se possível, com o auxílio de psiquiatras, psicólogos escolares e que seja procedido com grande prudência. 8. Que uma prévia iniciação aos diferentes ensinos especiais seja, se possível, ministrada aos futuros professores, desde o curso normal; que se instituam estágios para aqueles que desejem posteriormente dedicar-se especificamente a essa modalidade de ensino; que o acesso aos estágios seja facilitado por meio de bolsas de estudo ou pela manutenção dos vencimentos. 9. Que uma suplementação salarial seja concedida aos professores portadores de certificado de aptidão ao ensino especial, em exercício efetivo, em classes especiais. RECOMENDAÇÃO N." 8 (1936) Organização do Ensino Rural A Conferência Internacional de Instrução Pública, conside-derando que a classe camponesa constitui em diversos países uma reserva física e moral, cuja integridade deve ser preservada a fim de impedir o êxodo rural e o despovoamento do campo; as condições da civilização moderna e o progresso das técnicas agrícolas permitem estabelecer no campo uma vida melhor e mais confortável; se o desenvolvimento das oportunidades de educação não vem contribuindo, tanto quanto julgam alguns, para desviar do campo os jovens camponeses, por outro lado, a inadaptação da escola ao meio tem sido freqüentemente responsável por esse fato; que a escola rural, pelo contrário, sem o objetivo de oferecer ensino propriamente agrícola, pode e deve levar as crianças a compreenderem a importância e a dignidade social e intelectual da vida do campo e proporcionar-lhes conhecimentos científicos básicos, indis- pensáveis hoje em dia para o exercício inteligente das profissões rurais; considerando que, em conjunto, e por motivos talvez diferentes, o problema da escola rural se apresenta atualmente em quase todos os países, recomenda aos Ministérios de Instrução Pública dos diferentes países: 1. Que a educação dispensada às crianças das escolas rurais não seja, em princípio, inferior àquela ministrada nas escolas urbanas e permita às crianças das escolas rurais o ingresso em escolas de grau médio. 2. Que, na prática, e tendo em vista assegurar justiça social na problemática do ensino, esforços sejam efetuados para atenuar, na medida do possível, as condições desfavoráveis em que pode encontrar-se a escola rural. 3. Que um mesmo nível de instrução seja assegurado nas escolas rurais e urbanas, sendo que os professores devem adaptar os programas às condições locais e sobretudo 'procurar "centros de interesse" no meio em que vivem seus alunos. 4. Que esforços devem ser empreendidos para adaptar inclusive a organização da escola rural (feriados, férias, horários, programas) às condições locais e regionais. 5. Que, tendo em vista assegurar melhor comunidade de fins entre escolas rurais e urbanas, sejam ambas subordinadas ao mesmo Ministério. 6. Que os programas gerais das escolas primárias compreendam noções concernentes à vida rural. 7. Que os mestres rurais utilizem as possibilidades didáticas proporcionadas pelo meio para dar ao ensino um caráter concreto e vivo, de modo a desenvolver nos alunos o gosto pela vida rural. 8. Que aos alunos das séries terminais da escola rural, conquanto não se ensinem especificamente técnicas agrícolas, procure-se, particularmente no ensino das ciências, dar-lhes certas noções práticas, úteis ao lavrador. 9. Que, tendo em vista possibilitar às escolas rurais darem às crianças a educação que merecem, seja limitado o número de alunos de escolas de uma só classe. 10. Que esforços sejam empreendidos para a criação de "escolas centrais" a fim de reduzir, na medida do possível, o número de escolas de uma só classe, e, na hipótese de serem elas mantidas para crianças de menos idade, possam também ser criadas escolas centrais para meninos e meninas de mais idade; que se organizem serviços de transporte e cantinas para atender às necessidades. 11. Que, tendo em vista atender os jovens de famílias rurais em condições de continuar, por algum tempo, seus estudos, con- quanto não desejem receber ensino especificamente agrícola, sejam instruídos nos estabelecimentos de ensino primário superior ou em outros correspondentes, paralelamente às seções gerais preparatórias ao certificado, outras seções em que se atribuirá particular realce à iniciação às atividades rurais. 12. Que os professores das escolasrurais não sejam considerados inferiores aos professores das escolas urbanas; que, para ambos, se promova formação geral e profissional de mesmo nível em estabelecimentos comuns ou em estabelecimentos especiais para professores urbanos ou rurais ficando assegurado tempo necessá-rio ao ensino de noções rurais e de economia doméstica para as professoras. 13. Que sejam instituídos estágios de informação agrícola ou de economia doméstica para professores e professoras querendo dedicar-se especialmente ao ensino pós-escolar ou complementar rural. 14. Que, tendo em vista assegurar estabilidade aos professores rurais, compensando-os pelos inconvenientes e pelas desvantagens de estada fora da cidade, lhes sejam concedidas vantagens especiais. 15. Que a ação da escola se complete com a criação de instituições periescolares ou pós-escolares, tais como: círculo de jovens lavradores, bibliotecas itinerantes, sessões de rádio rurais, ou de cinema educativo, missões pedagógicas ou culturais, ensino por correspondência, etc. RECOMENDAÇÃO N." 9 (1936) Normas Para Construções Escolares A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que a escola moderna deve proporcionar à criança uma educação viva, que não recorra apenas aos livros e à memória, mas também à observação do meio e às diversas atividades da criança, devendo utilizar em larga escala os novos meios de informação proporcionados pela ciência moderna (vitrola, rádio, projeções fixas e animadas, etc); por outro lado, a Escola não deve limitar-se à aquisição dos "instrumentos intelectuais" (leitura, escrita, cálculo, desenho) e das noções essenciais que não podem mais ser ignoradas, mas também dar às crianças desenvolvimento físico, intelectual, moral e social tão completo quanto possível; a Escola deve, conseqüentemente, assegurar às crianças condições sadias de vida escolar, fiscalizando seu desenvolvimento físico, fornecendo-lhes suplemento alimentar necessário e procurando ensinar-lhes bons hábitos de higiene; é conveniente favorecer o desenvolvimento homogêneo das faculdades intelectuais e das possibilidades físicas da criança e ainda proporcionar às que estão em vésperas de deixar a vida escolar boa orientação profissional, atribuindo especial relevo às atividades manuais; a educação moral e artística da criança comporta a promoção de reuniões e de festas que devem realizar-se na vida pós-escolar, permanecendo a Escola centro dessas atividades; a intensificação de novas construções escolares pode contribuir, em vários países, para combater o desemprego e a estagnação econômica, a Conferência recomenda aos Ministérios de Instrução Pública: 1. Que, na elaboração de planos de construções escolares, além da importância concedida às necessidades arquitetônicas e higiênicas, sejam altamente levados em conta os interesses educacionais e a opinião das autoridades escolares ou pedagógicas. 2. Que as escolas primárias sejam, na medida do possível, preferentemente construídas em áreas com suficiente espaço para pátios de recreio e jogos. 3. Que na distribuição de locais escolares (orientação e capacidade das salas de aula1, condições de acesso, ventilação, iluminação, equipamento) se levem em conta as condições ambientais e a necessidade de harmonia entre os locais escolares e o meio, bem como as necessidades primordiais de higiene. 4. Que a capacidade das salas de aula, a natureza e a disposição do equipamento escolar sejam estabelecidas de acordo com as injunções da Escola Ativa. 5. Que se faça previsão de instalações para bibliotecas, utilização de fonógrafo, rádio, projeções fixas e animadas, etc. 6. Que a escola seja dotada de jardim escolar, campos de de- monstração, áreas para o ensino ao ar livre. 7. Que tenha igualmente sala ambiente de desenho, oficinas, e para as meninas, salas e equipamento de artes domésticas (costura, cozinha, etc). 8. Que, tendo em vista assegurar, em boas condições, o desen- volvimento físico das crianças, a escola disponha de refeitório ou cantina, gabinete médico com equipamento e material necessários, pátio para jogos, sala de educação física, lavatórios, banheiros, duchas. 9. Que se destinem locais para atividades escolares e extraclasses (salas de leitura, projeções, reuniões) e que, nas escolas mais modestas, seja prevista a utilização de uma sala reservada para diferentes fins. 10. Que os planos e programas de novas construções escolares façam parte dos projetos de obras públicas destinadas a combater a crise econômica. RECOMENDAÇÃO N." 10 (1937) Inspeção do Ensino A Conferência Internacional de Educação Pública, considerando que a elevada significação das recentes conquistas para melhor conhecimento da psicologia da criança e ciências da educação implica na adoção de métodos ativos, mais intuitivos e concretos; para esse fim, não basta ministrar aos educadores do futuro formação mais adequada à sua missão; os professores em exercício também merecem ser amparados, estimulados e orientados; esse papel deve principalmente ser atribuído aos inspetores de todos os graus de ensino; considerando, outrossim, que não são imposições autoritárias nem processos ou receitas empíricas que conferem real eficiência à educação, mas sim o zelo dos educadores por sua missão; os educadores devem, em todos os graus de ensino, gozar de ampla liberdade no que se refere à seleção e aplicação de métodos, devendo ainda ser respeitada sua liberdade intelectual; a autoridade dos inspetores deve sempre ser exercida em condições que assegurem, a seus subordinados, garantias contra arbitrarie- dades e injustiças; para o êxito de sua missão, os inspetores necessitam não só ter profundos conhecimentos pedagógicos e psicológicos, mas também qualidades morais e intelectuais que lhes permitam compreender e orientar com simpatia os professores sob sua responsabilidade; na maioria dos países a inspeção é considerada indispensável no ensino primário, secundário e profissional, mas que, em geral, é considerada inoportuna no ensino superior, recomenda aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países: 1. Que a escolha de inspetores de todos os graus de ensino seja feita por meio de rigoroso inquérito sobre suas aptidões morais e intelectuais, tendo em vista as dificuldades da função. 2. Que nenhum candidato possa ser selecionado sem haver previamente demonstrado seu interesse e compreensão dos assuntos relativos à educação, seja durante estágios prolongados, seja através de preparo especializado em Instituto Pedagógico de nível superior. Esse preparo deve compreender o estudo da educação comparada e dos sistemas de organização educacional de outros países. 3. Que o exame de ingresso à carreira ou à função de Inspetor, onde exista, verifique não apenas os conhecimentos em geral, mas também, pela análise de casos concretos, aptidões para orientar com inteligência, tato e justiça. 4. Que a missão dos inspetores consista sobretudo em compreender e aconselhar os professores sob sua coordenação, respeitando ao mesmo tempo sua liberdade intelectual e seu espírito de iniciativa em questões pedagógicas. 5. Que, tendo em vista a conveniente execução de tarefas, bem como a atualização pedagógica, não se atribuam encargos complexos aos inspetores de circunscrições muito amplas; e que no ensino secundário particular o controle administrativo seja exercido por outros funcionários, e que a orientação pedagógica seja essencialmente a missão dos inspetores. 6. Que sejam oferecidas facilidades aos inspetores para se manterem a par dos programas da pedagogia moderna, por meio de viagens ao estrangeiro, estágios e cursos especiais, de colaboração com os professores de InstitutosPedagógicos e de Escolas Normais. 7. Que reuniões e conferências de Inspetores sejam realizadas, a fim de definir pontos de vista compatíveis com a liberdade de ação de cada um. 8. Que, no próprio interesse das crianças e dos estabelecimentos particulares, estes últimos recebam inspeção, tal como os estabelecimentos públicos; que, no ensino das escolas maternais, crianças retardadas, cegos e surdos- mudos possam receber a orientação e os conselhos de inspetores especiais; que no ensino primário, sobretudo nas grandes cidades, a missão de dirigir a educação artística, a educação física e o trabalho manual e o ensino de artes domésticas seja confiada a inspetores especiais; que no ensino secundário e profissional, onde as condições se tornem favoráveis, a especialização de inspetores se torne regular. RECOMENDAÇÃO N." 11 (1937) Ensino de Línguas Vivas A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que o estudo das línguas vivas vem tornando-se cada vez mais importante em vários países; em virtude de sua utilidade prática, tendo em vista o interesse despertado atualmente pelas viagens e as possibilidades de sua realização e o desenvolvimento das relações econômicas internacionais; em decorrência também do interesse cultural inerente ao conhecimento direto da literatura, dos costumes da história e da civilização dos países estrangeiros; uma compreensão mais exata dos diferentes povos deveria estimular o sentimento de paz universal, recomenda aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países: 1. Que o estudo das línguas vivas seja, na medida do possível, ministrado em diversos ramos de ensino, inclusive no ensino profissional e nas classes terminais do primário. 2. Que o estudo de uma língua estrangeira pelo menos seja favorecido a todos os educadores, a fim de que possam tomar conhecimento das últimas realizações no campo de sua especialidade, efetuadas no estrangeiro, e também para que possam tirar proveito moral e intelectual decorrente do conhecimento de uma civilização estrangeira. 3. Que o ensino das línguas vivas não tenha apenas finalidade de ordem prática, mas sobretudo finalidade educacional, procurando levar, pelo conhecimento das civilizações estrangeiras, à mútua compreensão entre os povos. 4. Que, tendo em vista esses objetivos, os métodos de ensino devem visar não só à possibilidade de falar e escrever com desen-baraço uma língua estrangeira, mas também o desenvolvimento da personalidade humana. 5. Que se deve, entretanto, assinalar a inconveniência de moldar os métodos e os objetivos do ensino das línguas vivas pelo das línguas mortas; que além de exercícios "formais" deve ser amplamente exercida a prática da língua estrangeira, conquanto o emprego do método direto não deva excluir, quando necessário, explicações em língua materna. 6. Que se deve atribuir grande importância não só à aquisição do vocabulário e de noções gramaticais, mas também à prática correta da pronúncia e da intonação, de modo que os exercícios de fonética, sempre indispensáveis, continuem a ser regularmente utilizados com o objetivo acima referido. 7. Que o vocabulário leve em conta a freqüência de emprego de certas palavras e seja adpatado aos interesses do aluno. 8. Que se elaborem manuais de ensino adaptados à idade e às necessidades dos alunos — com a colaboração eventual dos dois países interessados — e que se levem em conta, sem excessos, os "idiotismos" e as expressões idiomáticas; que se procure descrever o país estrangeiro e os costumes de seus habitantes. 9. Que o material de ensino — quadros-murais, bibliotecas de obras em língua estrangeira — esteja à disposição dos Professôres; que se procure estimular aulas de conversação organizadas pelas associações extra- escolares; e, finalmente, cursos de férias, intercâmbio de alunos, correspondência interescolar venham favo- recer a prática corrente da língua e conhecimento mais direto do país estrangeiro. 10. Que, sem esquecer o papel relevante do professor, se faça uso dos recursos da técnica no ensino das línguas modernas: filmes mudos ou sonoros representando aspectos da vida estrangeira, paisagens características, discos, emissões radiofônicas estrangeiras e nacionais, organizadas para o público em geral, ou escolas equipadas com esse fim. 11. Que, em virtude das exigências especiais desse ensino, o número de alunos por classe não seja demasiadamente elevado. RECOMENDAÇÃO N.° 12 (1937) O Ensino da Psicologia na Formação de Professôres Primários e Secundários A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que educação e técnica pedagógica nos diferentes níveis de ensino devem ser adaptadas à mentalidade da criança ou do adolescente; foram realizados, ultimamente, grandes progressos no campo das ciências psicológicas, cujo conhecimento é de alta importância para os educadores, mesmo quando esses progressos não impliquem na aplicação imediata e direta; mais vale transmitir aos futuros educadores o gosto e o sentido da observação para que assumam atitudes prudentes e de zelo em relação à criança e às leis do desenvolvimento psíquico, do que lhes ministrar conhecimentos psicológicos especiais, recomenda aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países: 1. Que seja proporcionada aos futuros educadores sólida formação psicológica integrada nos estudos de formação pedagógica geral e em particular, no preparo didático. 2. Que a referida formação compreenda, além da psicologia geral, a psicologia da criança e do adolescente e que não se limite a fornecer aos futuros professores noções iniciais sobre a utilização de testes diversos ou de métodos psicométricos, já que o emprego dessas medidas supõe espírito crítico desenvolvido e certa maturidade científica. Essa formação deve comportar ainda o estudo qualitativo do desenvolvimento e da estrutura mental da criança em seus aspectos intelectuais afetivos, individuais e sociais. 3. Que seja previsto, além do estudo da criança e do adolescente normais, o estudo das crianças difíceis ou anormais (em colaboração com os serviços médico-pedagógicos); de aptidões e características individuais (em colaboração com os serviços de orientação educacional e profissional) e também o estudo dos diferentes "meios": família, escola, etc, nos quais vivem as crianças. 4. Que, em cada um desses campos, o preparo psicológico consista sobretudo de observações, experiências e pesquisas indi viduais sobre o desenvolvimento intelectual, moral e social de dife rentes crianças; que as observações precedam e acompanhem os cursos ex-catedra, sem as quais poderiam eles ser mal interpretados pelos alunos, caso não fossem preparados por meio de experiências diretas a compreender o sentido de problemas e noções psicológicos, o que os levaria assim ao respeito exagerado de fórmulas, em vez de iniciá-los no exame dos fatos. 5. Que a formação psicológica dos futuros professores seja efetuada numa idade em que a maturidade de espírito, a cultura geral e o equilíbrio físico lhes permitam compreender toda a significação das experiências em que deverão colaborar. 6. Que esse ensino seja ministrado por profissionais altamente qualificados, cuja prática da experimentação científica e das técnicas da psicologia se completem por sólida cultura filosófica. RECOMENDAÇÃO N." 13 (1938) Remuneração do Professor Primário A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que o professor primário e sua família devem possuir condições satisfatórias de vida correspondendo ao nível social a que têm direito e aos serviços prestados; não poderia dedicar-se com a liberdade de espírito necessária à sua relevante missão, caso tivessepreocupações materiais constantes; merece êle remuneração suficiente para dignas condições de vida, submete aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países as seguintes recomendações: 1. As normas contratuais, seja qual fôr a situação jurídica dos professores, funcionários públicos federais, estaduais ou municipais, devem assegurar-lhes, após verificação dos requisitos de personalidade de títulos ou de aptidões, emprego de duração satisfatória e do qual só possa ser demitido por falta grave e em processo legal. 2. Em função das possibilidades financeiras do país, conviria que os educadores de todos os níveis recebessem remuneração condizente à importância de sua missão, não os colocando, assim, em condição de inferioridade às categorias de assalariados ou de trabalhadores manuais de nível social correspondente. 3. Salvo condições especiais, a remuneração básica de uma mesma categoria de pessoal docente não deve aptesenta,r diferenças acentuadas num mesmo país, Seria recomendável, em particular, que não houvesse diferença entre os vencimentos de professores e professoras. 4. Parece justo estabelecer diferença que corresponda aos tí tulos ou funções. Exemplificando: os professores de escolas primá rias superiores, cursos complementares, classes de excepcionais ou de inválidos, assim como diretores e diretoras das escolas primárias devem receber vencimentos mais elevados ou de uma complemen tação, tendo em vista seus títulos ou maiores dificuldades do cargo. Mas, quando a duração dos serviços prestados fôr comparável, as professoras de escolas maternais, cujo ensino hoje em dia apresenta acentuados progressos, devem ter direito aos mesmos vencimentos do pessoal docente primário; para fixar a remuneração dos professores em exercício nas cidades e na zona rural, devem-se levar em conta: condições peculiares às cidades (aluguéis altos, alimentação), as dificuldades materiais por que passam os mestres rurais e as despesas que devem enfrentar para a educação dos filhos, tratamento médico, etc. Essas despesas devem ser compensadas por indenizações especiais (de residência e, eventualmente, moradia, custo de vida, bolsas para os estudos dos filhos, etc). 5. Seria conveniente que os alunos-mestres se beneficiassem de gratuidade nas despesas com estudos e moradia ou que tivessem direito a bolsas de estudo para cobrir esses gastos. A remuneração dos estagiários deve assegurar-lhes condições de vida condignas, enquanto esperam nomeação definitiva. 6. Seria desejável conceder aos professores com encargos de família subsídio especial, de acordo com suas obrigações. 7. Além da promoção por mudança de categoria, que pode ser alcançada pela aquisição de novos títulos universitários, por concurso ou por seleção, os professores devem fazer jus, dentro da categoria a que pertençam, a promoções de classe nas quais as vantagens concedidas por seleção não excluam as vantagens asseguradas pela antigüidade. Convém evitar que a remuneração inicial na categoria não apresente grande diferença com a remuneração máxima; outrossim, a promoção deve ser suficientemente rápida, para que, na ocasião da aposentadoria, o montante da aposentadoria do funcionário possa ser calculado sobre a remuneração máxima da categoria. 8. Além de suas atividades profissionais normais, os professores podem legalmente exercer outras atividades conexas remuneradas. Seria recomendável que os Professôres aceitassem o encargo de cursos pós- escolares e que participassem ativamente das instituições complementares da escola; podem, também, legalmente, evitando-se abusos, ministrar aulas particulares ou superintender estudos recebendo remuneração. Deve, entretanto, ser proibido o exercício de ocupações completamente estranhas à função docente e que poderiam comprometer a autoridade moral do professor. 9. O número semanal de horas de ensino dos professores deve ser fixado de maneira a permitir-lhes não só o preparo cuidadoso de suas aulas, mas também dando-lhes tempo para leituras, atividades intelectuais e recreativas, necessárias aos educadores. 10. Os membros do pessoal docente primário devem ter direito a licenças pagas em caso de doença ou de maternidade, inclusive de longa duração, em casos especiais; têm direito, igualmente, a uma aposentadoria satisfatória, em idade não muito avançada, e ainda a uma pensão a ser conferida em caso de morte, às viúvas e aos filhos menores. 11. Salvo por falta grave, o professor primário deve ter direito a garantias contra as conseqüências de acidentes sofridos pelos seus alunos em classe, por ocasião de exercícios ou de excursões extraclasses. Seria, portanto, recomendável que em todos os países a responsabilidade civil quanto a esses acidentes coubesse às autoridades às quais se subordina o professor, sendo que essas conservariam a possibilidade de processá-lo, no caso de falta grave. 12. Seria recomendável que as autoridades competentes tivessem o direito de verificar se os professores do ensino particular gozam de condições materiais suficientes. RECOMENDAÇÃO N.º 14 (1938) Ensino das Línguas Clássicas A Conferência Internacional de Instrução Pública, fiel ao espírito que inspirou no ano passado a recomendação adotada para o desenvolvimento do ensino das línguas vivas; lembra o interesse despertado por esse ensino, mas, considerando que o objetivo da educação é o de permitir não só a aquisição de noções práticas, como uma formação moral, intelectual e artística satisfatória; que as condições da vida moderna tornam cada vez mais necessária essa formação, a fim de assegurar o justo equilíbrio de nossas faculdades e de nossas tendências; que o meio mais seguro de proporcionar à criança possibilidade de adquirir instrução na escola e na fase pós-escolar é, sem dúvida, desenvolver junto com as atividades atuais e o sentido da realidade qualidades de julgamento, de análise e de acuidade intelectual; que as humanidades clássicas possuem, quanto a esse aspecto, especial valor educativo; que cada povo tem primordial interesse em conhecer as civilizações que exerceram influência marcante sobre a sua própria e principalmente as civilizações das quais a sua se originou; que o conhecimento de civilizações anteriores pode ser adquirido pelo estudo da arte e da literatura; que o conhecimento profundo dessa última implica em contato direto com os textos, submete aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países as seguintes recomendações: 1. Na medida em que o permitirem as exigências das huma nidades modernas e os estudos de caráter científico, deve-se reservar tempo suficiente para o estudo das civilizações que exerceram in fluência marcante sobre a cultura do país interessado. Em todos os países ligados inteira ou parcialmente à civilização ocidental, deve ser atribuída importância relevante ao estudo das civilizações antigas. 2. Esse estudo não deve compreender apenas o conhecimento da arte e da civilização através de seus vestígios arquitetônicos; supõe igualmente a compreensão do modo de vida e de pensar, consignados nas obras escritas. Pelas suas qualidades de ordem e de medida, bem como ao permitir conhecimento integral do homem, as literaturas grega e latina constituem uma incomparável fonte educacional. 3. Seria recomendável que o contato com as civilizações antigas fosse estabelecido, em particular, pela leitura direta dos textos a fim de permitir compreensão total. Em decorrência, deve-se conceder, nos países de civilização ocidental, importância relevante ao estudo das línguas grega e latina. 4. Em virtude do alto valor educativo desse estudo para o desenvolvimento de qualidades de ordem, de clareza, de lógica e de análise, parece indispensável reservar-lhe lugar de relevo nãosó na formação dos futuros educadores, mas ainda na formação da maior parte possivel de alunos do ensino de segundo grau, feminino e masculino. 5. O estudo das línguas clássicas pode contribuir, especialmente através de exercícios gramaticais, para a formação intelectual; contudo, a preocupação dominante deve concentrar-se na comparação entre a civilização e o pensamento clássico e as civilizações modernas. 6. A fim de permitir contato satisfatório com essas literaturas, convém utilizar, em complementação ao estudo direto dos textos, a leitura de traduções justalineares ou de traduções em línguas modernas. 7. No estudo das línguas clássicas, deve-se recorrer aos métodos ativos, utilizados com bons resultados no ensino das línguas vivas. Evitar- se-á, assim, um ensino demasiadamente formal e abstrato e levar-se-ão em conta os interesses da criança, tais como se manifestam no decorrer de seu desenvolvimento psicológico. 8. Para se fixar a idade em que deve iniciar o estudo das línguas clássicas recomenda-se coordenar os diferentes estudos, levando em conta as virtualidades psicológicas da criança. 9. Seria recomendável que a pronúncia do latim, na medida do possível, fosse normalizada em função das recentes descobertas lingüísticas. RECOMENDAÇÃO N.,° 15 (1938) Elaboração, Emprego e Seleção de Manuais de Ensino A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que a palavra do mestre deve permanecer o elemento essencial e estimulante da aula; o método ativo recomendado pela Pedagogia moderna apela sobretudo para a espontaneidade da criança e visa o desenvolvimento de suas faculdades de observação e de raciocínio; exige o contato direto, tão freqüente quanto possível, com as coisas, e tende, assim, a diminuir a importância relativa do manual; todavia, o manual é ainda para todas as matérias, além de guia precioso e, eventualmente, uma referência ou elemento de verificação e de revisão, auxílio indispensável; as autoridades escolares devem atentar para que o livro-texto preencha de melhor maneira seus objetivos, submete aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países as seguintes recomendações: 1. Os manuais de ensino devem corresponder a três categorias de exigências: pedagógicas (fundamentação científica e métodos), técnicas (condições materiais de elaboração e de impressão) e econômicas (preço de venda). 2. Nos países em que o ensino é dirigido ou controlado pelo Estado, deve caber a esse as medidas próprias a assegurar o aperfeiçoamento dos manuais de ensino bem como a fiscalização de seu uso. Esse encargo, nos outros países, cabe às autoridades as quais as escolas estão subordinadas. 3. A concorrência comercial entre autores e editores, podendo acarretar uma diminuição da qualidade dos livros, haveria interesse em que as autoridades oficiais se encarregassem das disposições necessárias à edição de manuais elaborados nas melhores condições pedagógicas, técnicas e econômicas, destinados às escolas primárias. 4. Nos países em que exista controle por parte das autoridades, seria preferível que esse controle fosse exercido antes da impressão dos manuais e que as comissões de seleção compreendessem, além dos inspetores ou dos funcionários' ministeriais, professores escolhidos entre os mais competentes. 5. Recomendar-se-ia que as condições estabelecidas para os manuais a serem aprovados fossem estipuladas por regulamentação e que se levassem em conta, sobretudo, o conteúdo e o método pedagógico; não é preciso mencionar que o manual deve ser adaptado aos programas oficiais — caso existam, que nada deve conter, contrário às instituições do país, e que deve procurar conciliação entre os princípios básicos da vida nacional e os princípios fundamentais humanos. 6. Para evitar o inconveniente de freqüente mudança de manuais e as conseqüências nocivas dela resultante, recomenda-se que: a) o número de manuais aprovados pela autoridade oficial seja limitado para cada ramo e classe; b) a aprovação concedida seja válida por período suficiente; c) o número de manuais utilizados numa mesma classe não seja demasiadamente elevado, notadamente no ensino primário; d) não sejam autorizadas constantes alterações de texto de uma edição a outra do mesmo manual, salvo justificativas comprovadas; e) se procure, na medida do possível, assegurar colaboração entre as autoridades escolares locais, para que os alunos que mudam de escola não sejam obrigados a adquirir novos manuais; f) a margem de liberdade concedida ao professor na escolha do manual, segundo suas idéias ou preferências pedagógicas, seja atenuada pela aprovação ou ratificação de conselhos qualificados. 7. Recomenda-se que o manual de ensino fique isento de qualquer imposto ou taxa que possa onerar o preço de venda. 8. No país em que estejam afetas ao Estado a edição e a distribuição de manuais, convém utilizar, em larga medida, a distribuição gratuita, para atender particularmente às crianças necessitadas-cuja pobreza, muitas vezes, as impede de freqüentar a escola normalmente. 9. O papel do manual de ensino sendo o de guia ou de auxiliar convém dar certa liberdade ao mestre no que se refere a sua utilização, nos limites do programa. 10. Para facilitar uso metódico do manual pelos mestres po-der-se- iam editar livros especiais de referências, ou ainda intercalar no texto dos manuais certo número de indicações e anotações. 11. Seria desejável que cada estabelecimento escolar, ou o centro escolar de cada localidade, mantivesse, para uso dos profes- sores, biblioteca compreendendo os diversos manuais de cada ramo e de cada nível de ensino, a fim de possibilitar a escolha criteriosa de livros e a experimentação adequada de diferentes métodos. RECOMENDAÇÃO N." 16 (1939) Remuneração do Professorado Secundário A Conferência Internacional de Instrução Pública, considerando que os diversos ramos de ensino do segundo grau, aos quais incumbe em grande parte a formação de elites, apresentam, em decorrência, capital interesse; por conseguinte, as condições econômicas do magistério devem ser de natureza a despertar o interesse de jovens qualificados, moral e intelectualmente, para a profissão docente, submete aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países as seguintes recomendações: 1. As condições contratuais, seja qual fôr a situação jurídica dos professores,, funcionários federais, estaduais ou municipais, devem assegurar-lhes, após verificação dos requisitos necessários de personalidade, de títulos e de aptidões, emprego de duração satisfatória e do qual só possa ser demitido por falta grave em processo legal. 2. Além da estabilidade funcional, conviria garantir, no que se refere a transferências de uma localidade a outra, que essas só serão efetuadas por promoção ou a pedido, ou por imperativos da administração. Neste caso, devem ter direito a indenizações justas. Podem ainda ser efetuadas como medida disciplinar grave. 3. Em função das possibilidades financeiras do país, os professores devem receber remuneração condizente à importância de sua função, igualando-os aos funcionários de nível social correspondente. 4. Em princípio e salvo condições especiais, a remuneração básica de uma mesma categoria de professores não deve apresentar diferenças acentuadas num mesmo país. 5. Em princípio, e em iguais condições de trabalho, seria acon- selhável que não houvesse diferença entre os vencimentos de professores de ambos os sexos e que aos professores chefes de família fosse concedida uma suplementação financeira especial. 6. Os aumentos de vencimentos, sejam eles baseados sobre antigüidade, anos de serviço, resultado de concurso, importância da localidade, grau,ou tipo de escola, estudos feitos, ramos de ensino, ou concedidos em virtude de seleção, devem possibilitar, se a duração dos serviços prestados fôr normal, o cálculo do montante da aposentadoria do funcionário, baseando-se na remuneração máxima. 7. Em princípio seria aconselhável que a remuneração inicial não apresentasse diferenças acentuadas com a remuneração máxima. 8. Os estagiários e os professores nomeados a título provisório devem receber remuneração que lhes assegurem condições condignas de vida, enquanto aguardam nomeação definitiva. 9. Os diretores e diretoras das escolas secundárias devem ter direito, em virtude de seus títulos ou das dificuldades do cargo, a vencimentos mais elevados ou a uma suplementação. 10. Uma suplementação de vencimentos ou indenizações especiais de residência, custo de vida, etc, pode ser prevista para os professores em exercício em grandes centros urbanos ou em regiões ou localidades onde a vida apresente condições particulares. 11. Convém dar aos professores direito às diversas indenizações e vantagens concedidas aos funcionários de mesmo nível (vantagens especiais para os estudos dos filhos, despesas de mudança, facilidades de viagens, etc). 12. Além das atividades profissionais normais, os professores podem legalmente exercer atividades conexas remuneradas. Podem, por exemplo, dar aulas particulares, sendo que uma regulamentação especial deve ser estabelecida para evitar abusos. Recomenda-se interditar aos professores o exercício de ocupações estranhas a sua função e que poderiam comprometer sua autoridade moral. 13. O número de horas de aula semanais deve ser fixado de tal maneira que possibilite aos professores não só o preparo cuidadoso das aulas, mas ainda tempo suficiente para leituras, atividades intelectuais e lazer 14. Os professores do ensino secundário devem ter direito a uma aposentadoria condigna, representando porcentagem suficientemente elevada da remuneração, ou a uma pensão para as viúvas e filhos menores. 15. Os membros do pessoal docente secundário devem ter direito a licenças remuneradas, no caso de doença e de maternidade, e a uma aposentadoria em conseqüência de invalidez. 16. Salvo falta grave, o professor deve ter direito a garantias contra acidentes sofridos por seus alunos em classe, no decorrer de exercícios ou excursões extraclasses. Seria, portanto, aconselhável que em todos os países a responsabilidade civil quanto a esses acidentes coubesse às autoridades das quais dependem os professores, sendo que essas conservariam a possibilidade de processar o professor no caso de culpa grave. 17. Seria aconselhável que as autoridades competentes verificassem se as condições materiais dos professores do ensino privado de segundo grau são comparáveis, na medida do possível, àquelas dos Professôres do ensino público. RECOMENDAÇÃO N." 17 (1939) Organização do Ensino Pré-Primário A Conferência Internacional de Instrução Pública, reafirmando a importância da vida em familia e de uma educação dada num período mais demorado nesse meio; considerando que, em virtude das condições da vida moderna, sobretudo nos centros urbanos, grande número de mulheres trabalha fora do lar e que numerosas mães de família se vêem na impossibilidade de cuidar convenientemente de seus filhos; que, por conseguinte, a criação de instituições onde estas crianças possam ser vigiadas e educadas continua a ser de elevada importância; e, por outro lado, os progressos da pedagogia possibilitaram o aparecimento de métodos de ensino altamente fecundos para o desenvolvimento físico, mental e moral de crianças em idade pré-escolar; que a educação concernente à vida no lar e na família deve ser desenvolvida a fim de que as mães possam ser iniciadas nesses métodos, sendo aconselhável generalizar sua utilização, aplicando-os em estabelecimentos de educação pré-escolar, acessíveis às famílias que delas necessitam; e, de fato, o valor dessas instituições vem sendo comprovado pelo desenvolvimento que tomaram em muitos países, onde sua influência positiva sobre todo o ensino teve grande repercussão sobretudo através da difusão de novos métodos de ensino; que esse sucesso é devido em grande parte ao pessoal docente especialmente preparado para ministrar educação pré-escolar, submete aos Ministérios de Instrução Pública dos diversos países as seguintes considerações: 1. A educação pré-escolar destinada às crianças em idade que antecede a escolaridade obrigatória deve constituir preocupação das autoridades escolares, generalizando-a a todas as crianças. 2. Essa educação deve ser oferecida pelos podêres públicos (União, Estados e Municípios) ou por instituições particulares (associações religiosas filantrópicas, empresas industriais, cooperativas, etc). 3. Nas localidades onde não existam instituições pré-escolares, a escola primária deve ser franqueada às crianças em idade pré-escolar, em que devem encontrar condições favoráveis a seu desenvolvimento natural — psicológico e físico. 4. A idade mínima para a admissão de crianças em instituições pré- escolares deve ser fixada em idade pouco elevada, de maneira a possibilitar o ingresso de crianças cujas mães trabalhem fora. 5. A idade de egresso das instituições pré-escolares deve cor- responder à idade de ingresso na escola primária. Para atender às necessidades do ensino primário, mesmo se o ingresso na escola maternal foi permitido em qualquer época do ano, a passagem para a escola primária convém realizar-se em datas precisas (uma ou duas anuais). 6. A gratuidade da educação pré-escolar deve ser concedida nas mesmas condições do ensino primário. 7. O horário das instituições pré-escolares mais flexível que o da escola primária. Seria recomendável que um serviço especial de guarda permitisse a permanência das crianças na escola fora das horas de classe. 8. O ano escolar poderia ser estabelecido de acordo com as estações do ano, nos países onde o clima ou as condições de trabalho o exijam (jardins de infância de verão, etc). 9. Seria altamente aconselhável que o número máximo de crianças confiadas às professoras encarregadas da educação pré-escolar não excedesse o número de alunos das classes primárias e seria de grande utilidade a existência de ajudantes ou empregadas. 10. Seria também recomendável que a inspeção e a direção da educação pré-escolar fossem exercidas por inspetoras e diretoras especializadas. 11. Na construção, equipamento e instalação dos estabelecimentos pré-escolares, devem-se levar em conta as necessidades especiais das crianças a que se destinam esses estabelecimentos. 12. As autoridades devem possibilitar aos estabelecimentos pré- escolares a aquisição e utilização de material educativo especializado. 13. Ê aconselhável o uso de métodos que estimulem a atividade espontânea da criança, adaptados às condições específicas de seu desenvolvimento físico, moral e mental 14. A aprendizagem sistemática da leitura, da escrita e do cálculo deve ser realizada no ensino primário; a educação pré-escolar se limita à educação sensório-motriz, sendo essencial, em particular, o preparo ao ensino posterior do cálculo por meio de manipulações e de material permitindo a aquisição das noções numéricas e das formas. 15. As autoridades devem cuidar da saúde das crianças que freqüentam as instalações pré-escolares por meio de assistência médica, pelo desenvolvimento da higiene mental, pela criação de cantinas, distribuição de leite, etc. 16. A colaboração da família, tão necessária à vida escolar, será considerada primordial nessa idade. As reuniões de pais, as visitas a domicílio, a participação dos pais em atividades da es- cola e todas as
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