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Direito e Pensamento Político I ( RESUMO P2)

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Direito e Pensamento Político I – Resumo para a P2
Introdução à história das idéias políticas – Nay Oliver 
Capítulo 3 
 As doutrinas do Estado: das teorias absolutistas ao modelo da monarquia limitada
 A monarquia se fortalece graças à unificação territorial e à concentração do poder, um duplo processo que permite que o rei domine as autoridades concorrentes no interior do reino.
“Realeza Feudal” “Monarquia Moderna”
As grandes interpretações doutrinarias sobre a monarquia são abordadas no texto sob 3 ângulos:
• São um crisol de idéias novas de onde saem as primeiras representações intelectuais do Estado moderno (seção1)
• O pensamento monárquico extrai sua argumentação de obras diversas, ora de inspiração religiosa, ora de obras profanas, cujo objetivo é afirmar o princípio do absolutismo régio (seção2)
• O pensamento monárquico não segue necessariamente uma tendência autoritária (seção3)
Seção 1
A edificação da monarquia e o pensamento do Estado
 A potência régia se afirma progressivamente na Europa entre os séculos XIII e o XVII. O fortalecimento dos poderes régios resulta de dois fatores principais:
• As guerras feudais concentração dos recursos militares, fiscais e administrativos em beneficio dos príncipes e dos mais poderosos;
•As estratégias de aliança matrimonial e a utilização hábil das regras de sucessão permitem às casas régias proteger seus bens e, sobretudo fazer entrar novos domínios no regaço da coroa.
OBS: um outro fator importante para a edificação da monarquia foi o Mercantilismo, pois fortaleceu os reis através das grandes navegações no sentido em que precisava de segurança jurídica (para o cálculo dos lucros), união monetária e união da língua.
 Nesse contexto houve a transformação das representações políticas. A ordem monárquica foi se tornando estável e permanente. Maquiavel, ao apresentar o poder secular como uma ordem separada da religião e da moral, estabelece os fundamentos propriamente racionais do poder político.
§1. O ASCENSO DA FUNÇÃO RÉGIA E A GÊNESE DO ESTADO
 O processo histórico de concentração do poder em beneficio do rei conduz, de fato, durante vários séculos, à edificação de instituições políticas centrais de onde sairão os primeiros fundamentos do Estado moderno.
A consolidação da monarquia no fim da Idade Média
 Afirmação do poder real:
Plano externo: Refutação das pretensões universais do imperador
Plano interno: Reivindicação do poder de comandar o conjunto das autoridades concorrentes.
1-O rei e o imperador: a contestação da tese do dominus mundi
 Desde o final do século XIV, o papado não representava mais uma ameaça importante para os grandes poderes seculares. No entanto, em 1302, o soberano pontífice afirmava ainda na bula Unam sanctam a pretensão de governar os príncipes temporais. A recusa persistente de uma parte do clero em se dobrar à centralização autoritária imposta pelo papa, por um lado, depois a rivalidade dos clãs em Roma que conduz ao Grande Cisma de 1378, por outro lado, vencerão a resistência da vontade da Santa Sé de expandir –se sobre o conjunto da cristandade. No começo do XV nasce o “conciliarismo”, que pretende reconduzir o papa à categoria de “ministro da Igreja”. A partir do XVI, os papas são todos originarios da Peninsula Italica e se comportam como príncipes italianos.
 A principal ameaça para os príncipes seculares vem agora do Sacro Império Romano-Germânico. Desde o fim do século XII o imperador Oto IV reivindica a posição de dominus mundi (senhor do mundo) evocada no direito romano. Convencidos da legitimidade dos Capetos de reinar sobre o reino de França, os juristas régios começam a elaborar novas teses em favor da independecia política do rei de França.
 Os defensores da autoridade régia se apóiam numa sentença enunciada por canonistas no final do século XII e imediatamente reproduzida pelos juristas régios: “o rei é imperador em seu reino” (rex imperator in regno suo). Esta fórmula afirma sem ambigüidade que o rei não reconhece, no seu reino, nenhuma autoridade superior.
 Bastante paradoxalmente, o papado sustenta esta tese durante todo o século XIII. Entretanto, ao mesmo tempo, o pontífice romano vê no poder do reino francês a melhor defesa contra seu principal rival: o imperador. Estas motivações levam o papa Inocêncio III a afirmar que “o reida França não reconhece superior em matéria temporal.”
 A recusa da autoridade universal do Império será amplamente retomada, no século XIV, nas cidades independentes da Itália do norte que pretendem dotar-se de um governo “republicano”. Juristas italianos começam a defender o direito das cidades a se auto governarem.
2-O rei e os senhores: a dinâmica de monopolização do poder
 O Ascenso da monarquia moderna tira vantagem também do movimento histórico de unificação dos reinos de França, de Inglaterra e de Espanha. Somente com a ajuda de um longo processo histórico de concentração do poder em proveito da coroa regia é que o rei consegue progressivamente elevar-se acima dos poderes senhoriais. Os conflitos internos ao reino, assim como as lutas externas, concorrem amplamente, durante esse período, para a afirmação da superioridade régia.
 As rivalidades entre os príncipes, antes de tudo, contribuem poderosamente para o processo de centralização do poder. Nesse sistema feudal, onde a existência política do príncipe depende fundamentalmente de seu poderio militar, os poderes seculares fazem da guerra e das conquistas a sua principal atividade.
 Esta dinâmica é mais forte, na França, entre os séculos XII e XIV. Os reis capetíngios fazem guerra ai para aumentar o domínio régio, em concorrência com as outras grandes “casas” que reinam sobre os ducados de Borgonha, de Anjou, de Normandia, de Aquitânia e sobre os condados de Blois, de Flandre ou de Toulouse.
 A situação é um pouco diferente na Inglaterra onde a oposição feudal ao rei não é tão violenta. Isso se deve à 3 fatores:
• os conflitos recorrentes com a poderosa Igreja da Inglaterra;
• a organização de numerosas expedições militares sobre o contine;
•a autonomia concedida aos “barões” pela Grande carta de liberdades inglesas de 1215 (liberdade de eleger os bispos, obrigações de o rei consultar seus vassalos e os dignitários religiosos para impor certas taxas).
 A construção da monarquia na Espanha apresenta também singularidades. Nos séculos XII-XIII , a Reconquista contribuiu para a constituição de uma vasta coalizão de príncipes cristãos decididos a lutar contra a presença árabe. No século XIV, as duas províncias mais poderosas, Castela e Aragão, são unificadas (através do casamento de Isabel de Castela e Fernando de Aragão) e se tornam, no século seguinte, o reino de Espanha.
 No Sacro Império Romano-Germânico, bem como na Itália do Norte, a saída da feudalidade não conduz à constituição de um verdadeiro centro político. Os imperadores afundam em incessantes conflitos com o papado e encontram uma resistência durável do lado dos principados e das cidades-estado italianas. O império permanecerá um conjunto político fragmentado ate os séculos XVII-XVIII.
 Os conflitos sucessivos que opõem os capetíngios à coroa da Inglaterra, a concorrência entre o rei de França e os reis germânicos na reivindicação do título imperial, as múltiplas guerras de conquista( em particular as cruzadas), ou ainda a luta espanhola contra o ocupante árabe, fato alianças militares entre príncipes que, no tempo do conflito, se colocam atrás d bandeira régia. Permitem que a coroa, quando tem êxito, aumente a sua legitimidade em comandar os príncipes do reino.
 Além disso, a dinâmica de monopolização do poder, é estimulada paralelamente pelas estratégias matrimoniais. As alianças entre famílias, através do casamento, se tornam de fato determinantes desde os séculos XII-XIII e à medida que se desenvolvem as regras de sucessão patrimonial.
A construção do Estado moderno e da unidade nacional
O rei e a coroa
 A distinção entre o rei e a coroa é uma das primeirasetapas na lenta formação da idéia de Estado. Alguns clérigos, na França e na Inglaterra, começam a falar da “coroa” (corona), símbolo mais visível da realeza, para evocar o reino e seus interesses, considerados como distintos dos interesses privados do rei. É preciso esperar o século XV para que a noção de Estado (status) , entendida como uma potencia pública e impessoal, faça sua aparição no discurso dos juristas.
 A coroa encarna a instituição monárquica na sua permanência e no seu primado. Designa o conjunto das estruturas, das regras e dos costumes em torno dos quais está organizada a monarquia. Assinala a existência de uma ordem de poder superior e imanente, distinta da pessoa mutável dos reis.
O surgimento da instituição monárquica 
 O nascimento do Estado monárquico aparece como o fruto de um tríplice processo de despersonalização, de racionalização e de sacralização do poder.
A despersonalização do poder
 O rei perde progressivamente a liberdade de modificar como bem entende os usos monárquicos. É identificado mais com as regras codificadas e os símbolos da monarquia do que com sua historia pessoal.
 Os “bens do reino”, a partir dos séculos XIII-XIV, começam a ser distinguidos do “patrimônio do rei” (dominium). 
 Enfim, a construção da coroa deve muito à institucionalização de “leis fundamentais” do reino. Sua força é tal que nenhum rei pode anulá-las.
Princípio da sucessão hereditária por ordem de primogenitura;
Lei sálica – afastava as mulheres e os parentes das mulheres da sucessão régia
Indisponibilidade da coroa – estão não é a propriedade do rei, mas um cargo que se impõe a ele
 Continuidade da coroa - impedia os períodos de interregno (entre reinados) após a morte do rei “O rei não morre em França”
Inalienabilidade do domínio – o rei não pode ceder livremente todo ou parte do domínio régio
Catolicidade do rei – colocado no momento das guerras religiosas
A racionalização do poder
 Traduz-se por uma racionalização maior das atividades políticas, que pode ser entendida de duas maneiras: a codificação das regras monárquica e a burocratização do aparelho de Estado. Assim, na França, juristas dedicam a formular as bases de um direito público. Multiplicam os argumentos doutrinários que protegem o poder monárquico contra as ambições temporais dos papas e dos imperadores germânicos. Participam do desenvolvimento da justiça e do fisco régios.
 São colocados a encardo do rei: a justiça, o exercito e as finanças. Essas instituições tomam, primeiro a forma de “conselhos” ou de “cortes” compostas de grandes feudais. A curia regis aconselha o rei sobre os assuntos do reino, e desempenha também um papel de corte de justiça. 
A sacralização do poder
 Desde o século XIV, os mitos que cercam a pessoa do rei e sua função são aperfeiçoados. Enquanto, no século XIII, os conselheiros régios louvavam essencialmente as “ virtudes cristãs” do rei, os teóricos da monarquia moderna reatam com valores antigos: a potencia e a força, a razão e a sabedoria, a prudência e o domínio das paixões.
 Os clérigos apresentam a realeza como um governo ideal, justo e potente. Todo rei é identificado por um traço característico e por sua contribuição para a fundação do reino.
 Finalmente, a construção da monarquia é acompanhada da multiplicação, em todos os níveis da sociedade, de símbolos e de rituais que põem em cena o poder e a majestade do rei (coroa, flor de lis, brasão...).
A unificação do reino e a construção do sentimento nacional
 A edificação do Estado, enfim, da estabilização das fronteiras dos reinos. Até o século XIII, devido a fragmentação territorial possibilitada pelas regras de sucessão feudal, as populações se identificavam mais facilmente com o senhor ao qual devem fidelidade, que ao território político no qual vivem.
 Está nascendo a ligação à pátria lá onde o pensamento feudal conhecia apenas a sociedade cristã. Na França, nada forjará melhor o sentimento nacional que a a aventura heróica de Joana d’Arc – novo ícone do sacrifício patriótico.
 Assim se formam os três atributos que permitem o surgimento do Estado nacional nos séculos XVI-XVII: uma população que partilha o sentimento de pertencer a uma mesma comunidade de destino; um território materializado por fronteiras estáveis; um governo soberano que reina sobre esse território.
§2. O MOMENTO MAQUIAVELLIANO: A RUPTURA ENTRE A POLÍTICA E A MORAL
 Niccolò Machiavelli não é propriamente falando, um teórico do Estado. Preocupado em dar soluções para a instabilidade das cidades italianas na virada do século XVI, sua filosofia não se interroga sobre os fundamentos abstratos do Estado, mas sobre a maneira concreta de governar.
 A obra, O Principe, rompe abertamente com o pensamento cristão, recusando todo comprometimento com a moral, expõe friamente os princípios que deveriam reger o exercício do poder.
O maquiavelismo, uma ética da eficácia política 
 
 Sua ambição é simultaneamente modesta e imensa. Não é estabelecer princípios formais de governo, mas restaurar a estabilidade e a independência das cidades da península.
A recusa da tradição humanista 
 Maquiavel recusa uma tal atitude filosófica. Para ele , os humanistas cometem um erro fundamental: concentram-se um governo ideal e recusam-se a considerar as realidades existentes.
O pessimismo sobre a natureza humana, chave do amoralismo maquiaveliano
 A política so pode ser a imagem dos homens. A perfídia e a crueldade são seus traços mais destacados. A violência é seu privilégio. Quanto à moral, ela é totalmente estranha. A política não conhece, de fato, nem a virtude nem a paz. É dominada, pela força e pela paixão. É um lugar de confronto entre clãs que lutam por seus interesses. Ai reina a astucia, a corrupção e o desejo de conquista. Mais amplamente, a história ensina que entre os príncipes a guerra é um estado permanente. Em política, é precis, portanto, sempre viver a paz no pensamento da guerra e fazer a guerra para manter a paz.
Os fins da política maquiavélica
 A única prioridade do dirigente é conservar o poder. “Os fins justificam os meios”. Maquiavel defende uma ética da eficácia, a saber: em política, só o resultado permite apreciar a justeza da ação. O príncipe deve, portanto, buscar a maneira mais eficaz de exercer o poder e utilizar todos os meios para chegar aos seus fins, inclusive aqueles que parecem condenáveis no plano moral.
A modernidade de Maquiavel: a razão, a vontade e a dúvida metafísica 
 O pensamento maquiavélico rejeita, em primeiro lugar, a dimensão metafísica da reflexão política. Sua posição “realista” leva o filósofo a estudar o poder apenas pelo que ele é, não pelo que deveria ser.
 Maquiavel, portanto, se dedica a uma leitura racional da vida política. Esforça-se sempre em observar os fatos e tirar deles categorias inteligíveis que permitam explicá-los. Pretende estabelecer uma análise objetiva e crítica dos fenômenos de dominação a partir dos estudos dos traços característicos da vida política. Funda, de alguma maneira, antes da hora, a ciência política moderna.
 Diferentemente de seus contemporâneos, Maquiavel acha que o ser humano pode forçar sua oportunidade e melhorar a sua vida pelo exercício de sua vontade. Reconhece a existência da “fortuna”, termo latim que designa, na época, o “destino”, a “sorte”, mas também a “probabilidade” e o “acaso”.
 Os homens, a fortiori os príncipes, devem, ao contrário, saber resistir aos “ventos da fortuna” e, em todo caso, adaptar-se permanentemente a eles. A política maquiavélica traduz, portanto, a recusa de toda resignação diante da força dos acontecimentos.
 O Príncipe lança um véu de ceticismo sobre o papel da Igreja. Maquiavel não é anti-religioso. Não pretende destruir a Igreja. Pensa ate que a religião pode servir ao governo político sob a condição de ser controlada pelo príncipe. 
As qualidades do príncipe maquiaveliano
 Maquiavel sustentaque o uso da força e da astúcia é o coração da atividade política.
A virtù dos grandes homens
 Maquiavel está em busca de “grandes homens” que saibam, graças à sua virtù (virtude), governar seus súditos e opor-se às potencias estrangeiras. A noção de virtù designa o conjunto de qualidades que o príncipe deve ter para conquistar o poder, consolidá-lo e, por conseguinte, garantir a sua estabilidade e sua preservação. Exige em primeiro lugar, a audácia, a moderação e a energia necessárias para a tomada de decisão. Grande homem é aquele que sabe permanecer senhor de si, identificar os perigos que o ameaçam e tomar as decisões necessárias. É homem de ação aquele que se distingue por sua força de caráter. O príncipe deve saber analisar a contingência dos acontecimentos e adaptar sua ação às circunstâncias do momento.
A força e a astúcia
 O príncipe maquiaveliano sabe que os homens são pérfidos(desleais) e cruéis. Não há outra solução, quando as leis são impotentes para proteger o seu poder, senão utilizar a coerção. Esta justificação do recurso à violência se apóia, em Maquiavel, sobre a idéia de necessitas(necessidade); esta supõe que a exigência de preservação do poder triunfe sobre todas as outras, em particular sobre a exigência de “moralidade”.
 Um dos mais potentes remédios que um príncipe tem contra as conspirações é não ser odiado pela multidão. Cabe a ele encontrar um equilíbrio entre as duas forças, dispor favoravelmente o povo, ao mesmo tempo em que garante o apoio dos grandes.
 Esta consideração do pelo povo leva Maquiavel a defender uma dupla atitude do príncipe. Ele deve poder recorrer à força, mas deve saber também utilizar a astúcia para manter as aparências. É preciso, pois, ser raposa para defender-se das redes e ser leão para amedrontar os lobos. O soberano prudente, portanto, é aquele que sabe alternar a força bruta e a inteligência astuta.
 Deve manter o povo no respeito, castigar os traidores e ser inflexível diante de seus inimigos. Em política, o fim justifica os meios. Eis uma regra de prudência. O príncipe deve dissimular o seu modo de agir, “colorir” sua verdadeira natureza. A aparência da virtude, no príncipe, tem por meta única evitar que o opróbrio (desonra) popular se abata sobre o poder e desestabilize o Estado.
Direito e Pensamento Político I – Resumo para a P2
Introdução à história das idéias políticas – Nay Oliver 
Capítulo 3 
 As doutrinas do Estado: das teorias absolutistas ao modelo da monarquia limitada
LIBERALISMO 
b- O nascimento do liberalismo político
 A “Gloriosa Revolução” inglesa de 1688-1689 é o ponto de partida de uma reflexão fundamentalmente nova sobre a justiça e os direitos. A Declaração de Direitos (Bill of Rights, 1689), atribui poderes maiores ao Parlamento de Westminster e proclama a superioridade da lei, fazendo a Inglaterra entrar na era da monarquia constitucional. Autores defendem a nova constituição por sua tolerância e sua prudência.
 Numerosos exilados franceses como Pierre Jurieu, se contem em criticar o absolutismo de Luis XIV e retomam as idéias da origem popular do poder e do contrato para defender o princípio de uma soberania “limitada” ou “partilhada”. Colocam-se também as bases de uma concepção dos direitos centrada na idéia de liberdades.
 
Na origem do pensamento liberal
 O liberalismo se enriquece com influências múltiplas nos domínios da reflexão moral, política ou econômica.
A gênese de uma nação
 Fala-se em “artes liberais” – todos os saberes que apelam para a razão humana Para eles, “liberal” se opõe a “despótico”. A palavra, assim, é designada para designar toda atitude favorável à defesa das liberdades individuais e políticas.
 O termo “liberalismo” vulgariza-se na linguagem política somente depois de 1848, num período em que o termo “socialismo” conhece um sucesso em precedente. E é bem difícil reduzi-lo a uma só definição. Os filósofos liberais se encontram, no entanto, em torno de uma intuição principal: à autonomia e à liberdade do individuo.
 Os liberais se apóiam em 3 grandes reivindicações inextricavelmente misturadas:
Preferem o princípio de liberdade ao de autoridade – liberdade como um atributo individual; ela é o direito de todo ser humano à autonomia e à segurança
Os liberais consideram que a vida privada tem um valor superior às metas perseguidas pela sociedade em seu conjunto
Cabe pôr em ação os meios de controlar e de limitar todos os poderes, de maneira a proteger os direitos dos indivíduos contra os abusos de autoridade.
Os liberais são, neste momento, os mais ferrenhos opositores de todos os sistemas políticos autoritários.
As dúvidas sobre os fins do poder civil
 A reflexão de Locke e de Montesquieu exprime uma dúvida sobre os fins do poder civil. Ela faz uma reviravolta de perspectiva ao substituir a pergunta clássica “o governo político está de acordo com a ordem imutável natural e divina, reproduzida pela tradição dos homens?” por uma interrogação sobre a finalidade do poder: “o governo político está de acordo com as metas que a sociedade de fixa e com os valores que a inspiram?” 
 Com os pensadores liberais, o fim da associação política se torna infinita, apoiando-se na concepção moderna dos direitos, a associação não tem como único objetivo proteger o homem do despotismo, mas permitir que ele realize plenamente a sua existência. 
Os grandes princípios do liberalismo político 
A recusa do absolutismo – visa por um lado impedir a concentração do poder no seio do Estado, por outro, proteger os diferentes “corpos intermediários” que formam a sociedade fora do Estado
A defesa da liberdade – está ligada a duas problemáticas centrais: a) à segurança e à propriedade; b) à liberdade religiosa
O pluralismo – exprime a rejeição do absolutismo, entretanto, é simplesmente um princípio de organização da vida social. Deve caracterizar o funcionamento do Estado
A soberania do povo – a soberania, para os liberais, designa simplesmente a origem do poder. Não justifica que seu exercício seja confiado ao povo. Será preciso esperar ate meados do XIX para que o pensamento liberal se insira no pensamento democrático
A defesa do governo representativo – garantem que o poder seja exercido sob o controle daquele que obedecem a ele.
Esses 5 princípios formam o que certos historiadores chamam de “liberalismo constitucional”. A expressão designa as diferentes teorias que aspiram a lutar contra o despotismo monárquico por uma transformação de sua arquitetura institucional.
John Locke e os limites do poder civil
 Contra todos os argumentos em favor do poder absoluto do soberano, Locke desenvolve um sistema filosófico que afirma a necessidade de uma limitação estrita do poder de Estado. Toda a sua demonstração visa mostrar que o consentimento com o poder civil (pelo contrato) não pode coagir os homens a abandonarem seus direitos naturais. Desde sua apresentação do estado natural, Locke contesta as idéias de Hobbes.
O contrato, os direitos naturais e os fins do governo civil
 Locke considera, com efeito, que a passagem do estado natural para o estado social se faz em dois tempos: 1) os homens realizam um primeiro pacto a fim de consentir com a formação da sociedade; 2) concordam, por um segundo pacto, a dar-se um governo. Esta distinção feita entre o que se chamará depois a “sociedade civil” (lugar da vida social) e o Estado (lugar da vida política) se tornará clássica no discurso liberal em particular sob o impulso de Adam Smith e dos economistas clássicos.
 Nada é mais absurdo, segundo ele, que abandonar todos os seus direitos ao poder soberano. Se os homens renunciam a uma parte de sua liberdade para associarem-se, é com a finalidade de conservar seus direitos naturais e não para perdê-los. Sua renúncia só tem sentido porque lhes traz uma situação mais favorável que a de sua vida natural.
 Locke reduz o papel do poder civil ao seu fim , que é sua única razão de ser. Esse fim é definido no momento em que os homensdecidem associar-se. Ele não sofre nenhuma ambigüidade: “o grande fim que se propõem aqueles que entram numa sociedade é gozar de suas propriedades, em segurança e sem repouso.”
 Assim surgem na teoria do contrato 3 grandes princípios do liberalismo político:
Direitos naturais 
O governo civil tem poderes limitados pelos fins que lhe são atribuídos
A delegação da soberania ao poder civil é provisória – direito à resistência 
O respeito pela lei e a distinção dos poderes
 Ele considera o respeito à lei como uma das garantias fundamentais da proteção dos direitos naturais. Uma das reivindicações centrais do constitucionalismo do século XVIII: a garantia da primazia do direito. Só um Estado respeitoso do direito pode agir com benevolência e não cair na tirania.
 Locke é também um dos primeiros a tentar sistematizar a idéia de separação dos poderes. Contra todos os princípios absolutistas, de fato, Locke defende o projeto de dividir o poder civil em 3 entidades:
Poder legislativo – deliberar sobre leis comuns
Poder executivo – garantir a execução regular das leis
Poder federativo – garantir a segurança nas relações com os outros Estados
 Locke dá forma a outra idéia cara aos adversários do absolutismo, a saber: o princípio do governo representativo. O filósofo inglês considera de fato que o mecanismo da delegação da autoridade com “representantes” é preferível para fundar um poder civil ao serviço do interesse geral.

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