Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Presidente da República Itamar Augusto Cautiero Franco Ministro de Educação e do Desporto Murílio de Avellar Hingel Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos PORTUGUÊS, MATEMÁTICA, ESTUDOS SOCIAIS e CIÊNCIAS 1ª a 4ª SÉRIES MEC - Ministério da Educação e do Desporto FAE - Fundação de Assistência ao Estudante SAS Quadra 01 - Bloco A - CEP 70.729-900 Brasília-DF (061) 212-41 75 e 212-4142 Definição de Critérios para Avaliação dos Livros Didáticos PORTUGUÊS, MATEMÁTICA, ESTUDOS SOCIAIS e CIÊNCIAS 1a A 4a SÉRIES Ministério da Educação e do Desporto Fundação de Assistência ao Estudante Programa Nacional do Livro Didático FAE/MEC - UNESCO Brasília-DF, 1994 Presidente da FAE Iveraldo Lucena da Costa Diretoria de Apo io Didát ico-pedagógico Walter Esteves Garcia C o o r d e n a ç ã o do Grupo de Trabalho Léa Cutz Gaudenz i Colaboração: Rita de Cássia de Freitas Coe lho (FAE/IRHJP) Cecília Mar ia Silva Rego (FAE/MEC) Mar ia Inez Pereira Caldas (FAE/MEC) Mar ia Luisa de Souza Fragoso (IPHAN) Apoio: Organ ização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cul tura - UNESCO D313 Definição de critérios para avaliação dos livros didáticos: 1º a 4a séries. - Brasília : FAE, 1994. p. cm. O presente trabalho origina-se de relatório composto de 5 vols.: 4 vols. compreendem as análises de cada livro do PNLD nas áreas de Português, Matemática, Estudos Sociais e Ciências e o vol. principal apresenta uma análise global dos demais. 1. Ensino de Io grau - Avaliação técnica. I. Fundação de Assistência ao Estudante, Brasília, ed. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO 07 INTRODUÇÃO 09 CONSULTORES 11 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLINGÜÍSTICA PARA A FORMULAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DOS MATERIAIS DIDÁTICOS - Leonor Scliar-Cabral 13 CRITÉRIO PARA ANÁLISE E SELEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS - Paulo Bernardo Vaz 19 PORTUGUÊS 29 Critérios de Análise e Obras Analisadas 31 Avaliação Global das Obras 35 Conclusões e Recomendações 53 MATEMÁTICA 55 Conclusões Gerais da Análise 61 Recomendações 63 Relação de Livros Analisados 64 ESTUDOS SOCIAIS 67 Conclusões 70 Relação dos Livros Analisados 73 Critérios de Análise dos Livros Didáticos de Estudos Sociais 76 CIÊNCIAS 79 Livros Didáticos Analisados 81 Procedimentos de Análise Adotados 83 Conclusões 88 Recomendações 92 Critérios de Análise dos Livros Didáticos 93 CONCLUSÃO GERAL/RECOMENDAÇÕES 101 APÊNDICES 105 ANEXOS DE PORTUGUÊS 107 Alegria de Saber , 111 Coleção Aquarela: Língua Portuguesa 114 Brincando com as Palavras 118 Como é Fácil 121 Escola é Vida; Ação e Transformação 125 Festa das Palavras 128 Integrando o Aprender 131 Mundo Mágico „ 134 Português: Educação e o Desenvolvimento do Senso Crítico 137 Texto e Contexto 140 ANEXOS DE MATEMÁTICA 151 Crescerem Matemática 153 Matemática - Educação e o Desenvolvimento do Senso Crítico 158 Como é Fácil 160 Brincando com os Números - 1a e 2a Séries 170 A Nova Matemática - 2a Série 172 Mundo Mágico 174 Texto e Contexto em Matemática - 3a e 4a Séries 184 Alegria de Saber 186 É Hora de Aprender 190 A conquista da Matemática - 1ª, 3a e 4a Séries 192 A Conquista da Matemática - 2a Série 193 Aprender com Alegria 199 A Mágica da Matemática - Volume 1 203 A Conquista da Matemática - Método Experimental - 1ª a 4a Séries 206 Aquarela - Matemática 212 Viajando com o Saber - Multi 223 Integrando o Aprender 237 ANEXOS DE ESTUDOS SOCIAIS 247 E. T. - Entendendo Tudo de Estudos Sociais 249 Nossa Terra, Nossa Gente; Coleção Aquarela; Estudos Sociais, Ciências, Programa de Saúde 250 Mundo Mágico 252 Escola é Vida 254 Estudos Sociais - Educação e Desenvolvimento do Senso Crítico 255 Construção: Novos Estudos Sociais 256 Ainda Brincando; Estudos Sociais 257 Estudos Sociais 257 Conhecendo a Terra Goiana 258 Caminhando Ceará 259 Caminhando Nordeste 259 Maranhão: Terra das Palmeiras 260 Distrito Federal 261 Viajando pela Sociedade 261 Viajando com o Saber 262 A Criança, sua Família e sua Escola 264 A Natureza e a Pessoa 264 A Criança, a Família e a Escola 265 A Criança e sua Comunidade 265 Eu Gosto de Estudos Sociais 266 Descobrindo o Mundo de Estudos Sociais e Ciências 267 Descobrindo o Mundo de Comunicação e Expressão, Matemática, Estudos Sociais e Ciências 267 Como é Fácil 268 Aprender com Alegria 269 E Hora de Aprender 270 Integrando o Aprender 271 Alegria de Saber, Estudos Sociais, Ciências e Programa de Saúde 272 ANEXOS DE CIÊNCIAS 277 Viajando com o Saber 279 Ciências - 1o Grau 284 Ciências: Realidade e Vida 289 Descobrindo o Mundo de 294 Como é Fácil 298 Meio Ambiente, Vida e Saúde 303 Caminhando 308 Pelos Caminhos das Ciências e Saúde 313 Estudos Sociais, Ciências e Programa de Saúde 318 Ciências e Meio Ambiente para a Vida 323 Ciências no Mundo de Hoje 328 Ciências um Mundo Encantado 333 Eu Gosto de Ciências 338 Aprender com Alegria 342 Alegria de Saber 347 Ainda Brincando 352 Ciências - A Criança e a Natureza 357 Mundo Mágico 362 Mundo Mágico 365 Mundo Mágico 368 A Criança no Mundo das Ciências 373 APRESENTAÇÃO A História sempre contribuiu para a interpretação das ações decorrentes das decisões governamentais. Em 19 de agosto de 1985, o Decreto n° 91.542 instituiu o Programa Nacional do Livro Didático - PNLD, com o objetivo de distribuir livros escolares a todos os estudantes matriculados nas escolas públicas e comu- nitárias do País, garantindo a qualidade pedagógica e física do l ivro e sua reutilização, pelo menos, nos três anos subseqüentes à sua aquisição. Objetivo ainda, do Programa, a participação do professor nas ações de análise, seleção e indicação dos títulos e a oferta de parâmetros definidores de sua qualidade, como guia à sua aquisição. Muitos obstáculos foram vencidos para o alcance desses objetivos, destacando-se a correção procedida no percurso do caminho do l ivro até chegar às mãos dos alunos. Passou-se, então, à preocupação com a necessidade de se adquirir um melhor conhecimento das obras indicadas pelos professores. Eis que o propósito da Fundação de Assistência ao Estudante - FAE de assegurar a oferta aos alunos da 1ª à 4ª Série do ensino fundamental de um l ivro mais "inteligente", mais "competente", conduziu-me à instituição de um Grupo de Trabalho, pela Portaria 1.130, de 05 de agosto de 1993, com a finalidade de analisar a qualidade dos conteúdos programáticos e os aspectos pedagógico-metodológicos de livros adequados às séries iniciais do ensino fundamental, usualmente adotados em Português, Matemática, Estudos Sociais e Ciências. Para essa análise foram apontados os dez títulos mais solicitados pelos professores em 1991, em cada área, representando cerca de 94% das aquisições feitas pela FAE. O resultado final das atividades do Grupo é, agora, apresentado nesta publicação. E um trabalho de importantes conseqüências por subsidiar os sistemas de ensino e seus professores, com critérios iniciais para a verificação crítica dos livros a serem escolhidos, bem como a montagem do seu próprio processo de avaliação; por incentivar outras formas de análise; por apontar caminhos aos autores e ao setor editorial; por concretizar o ideal sempre defendido pela atual gestão do MEC, da incorporação, nos projetos educacionais, da prática da parceria, do que resulta um empreendimento sempre mais enriquecido. Educação para todos, com qualidade, exige professores bem preparados. Desempenho de qualidade dos professores exige livro-texto "inteligente" para seus alunos. A experiência de uma década do PNLD ficará marcada pela sistematização do processo de avaliação do l ivro didático. E um feito. Um grande feito. Brasília, 06 de dezembro de 1994. Murilio de Avellar Hingel Ministro de Educação e do Desporto INTRODUÇÃO Até há bem pouco tempo não havia no MEC/FAE parâmetros definidores de qualidade dos livros didáticos adquiridos pelo Programa Nacional do Livro Didático - PNLD. Por sua vez. os sistemas estaduais e municipais de educação não realizaram, até agora, uma escolha adequada às suas propostas pedagógicas, mesmo naquelas unidades federadas (tais como Rio de Janeiro. Bahia. Ceará. Paraná. São Paulo. Rio Grande do Sul) em que equipes curriculares produziram estudos e estabeleceram critérios. Para avaliar, pois. a produção utilizada pelos professores de todo Brasil foram estabelecidos critérios que focalizam tanto os aspectos da produção física do livro, como os aspectos relativos à formulação metodológica. à atualização e acerto da informação científica, concebidos em um projeto gráfico que incorpore as diversas linguagens da era da imagem, em que vivemos. Esses critérios são apresentados inicialmente nos textos Contribuições da Psicolingüística para a For- mulação da Política Nacional dos Materiais Didáticos ( p. 1 5) e Critérios para Análise e Seleção de Livros Didáticos - quanto ao projeto visual (p. 21) e que servem como contexto para os quatro subgrupos constituídos. Nas páginas 32,33 e 34 são apresentados os critérios para Português que percorrem quatro grandes áreas - Leitura. Oralidade. Produção de Texto e Conhecimentos Lingüísticos com a necessária ressalva de que "a língua propriamente não apresenta tal divisão, devendo um bom l ivro didático estabelecer relações constantes entre as áreas". A abordagem da Matemática traz à discussão cinco grandes parâmetros, (p. 57). que vão dos conteúdos matemáticos, aos aspectos psico-metodológicos com o foco no aluno, às exigências estruturais do sistema de Ensino como seriação, ambiente sócio-cultural, e tc . ao texto enquanto estruturação e apresentação gráfica até ao Manual do Professor. Aqui os autores alertam para uma visão que considere as relações entre professor, aluno e livro-texto, indicando a dinâmica existente entre os três atores como fator de relevo. O grupo que definiu critérios para Estudos Sociais, (p. 76 e 77), tinha como preocupação central o signi- ficado dos Estudos Sociais. História e Geografia para a formação do cidadão e para o fato de que o l ivro didático voltado para esta área "deve contribuir decisivamente para a compreensão da realidade social, política c eco- nômica do país". O grupo acredita que. analisando e avaliando a obra quanto a seu planejamento gráfico, seu conteúdo, seus aspectos pedagógicos e metodológicos e o manual do professor, é possível definir se o título corresponde às exigências acima explicitadas. Por últ imo, estabelecendo e caracterizando, na página 84. quatro descritores, o grupo de Ciências constrói doze tabelas que percorrem todas as nuances de cada aspecto do descritor (de estrutura da concepção, das ati\ idades, para o l ivro do Professor). Pode-se perceber, desde aqui. as diferentes marcas de cada área do conhecimento na formulação dos critérios. Mas. de qualquer maneira, o trabalho pressupõe o necessário paradigma curricular para a escola pública de qualidade e, de certa forma, os critérios apresentados podem assim ser considerados. Por isso. merecem um amplo debate, de forma a permitir que os professores das redes os utilizem no momento de fazerem suas escolhas. Propõe-se. a partir das conclusões, um redirecionamento na produção, oferecendo, às editoras e às gráficas. o tempo necessário para que novos livros didáticos venham a público. CONSULTORES GT/Português Antenor Antônio Gonçalves Filho Mestre em Filosofia da Educação Doutor em História e Filosofia da Educação Professor universitário/UNESP, Campus de Marília Heliane Gramiscelli Ferreira de Mello Mestra em Educação Escolar Doutora em Psicologia Escolar Professora universitária/UFMG Jaqueline Moll Mestra em Educação Professora universitária/UFRGS Luiz Percival Leme Britto Mestre em Lingüística Professor universitário/UNICAMP Leonor Scliar-Cabral Mestra em Lingüística Doutora em Psicolingüística Aplicada Professora universitária/UFSC Magda Becker Soares Doutora e Livre-Docente em Educação Professora universitária/UFMG Nadja da Costa Ribeiro Moreira Mestra em Educação Doutora em Lingüística Aplicada Professora universitária/UFCe GT/Matemática Anua Franchi Mestra em Psicologia da Educação Professora universitária/PUC-SP Iara Augusta da Silva Cursando Mestrado Técnica do Setor de Supervisão de Avaliação e Capacitação da Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul João Bosco Pitombeira Mestre em Ciências Doutor em Matemática Professor universitário/PUC-RJ Martha Maria de Souza Dantas Professora universitária/UFBa Tânia Mara Mendonça Campos Doutora em Matemática Professora universitária/PUC-SP GT/Estudos Sociais Edna Maria Santos Mestra em Educação Professora universitária/UERJ e USU Elza Nadai Mestra em História Social Doutora em História Social e Livre-Docente em Educação Pós-Doutorado em Educação Professora universitária/USP Léo Stampacchio Mestre em História do Brasil Membro da Equipe Técnica de História para 1º e 2o graus da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo Selva Guimarães Fonseca Mestra em História do Brasil Cursando Doutorado Professora universitária/UFU Valéria Trevizani Burla de Aguiar Cursando Doutorado Professora universitária/UFJF GT/Ciências Catarina Fernandes de O.Fraga Cursando Mestrado Professora universitária/UFPe Demétrio Delizoicov Neto Mestre em Ensino de Ciências Naturais Doutor em Didática do Ensino de Ciência Professor universitário/UFSC Hilário Fracalanza Mestre em Metodologia de Ensino de Ciências Doutor em Metodologia de Ensino de Ciências Professor universitário/UNICAMP Miguel Castilho Júnior Professor da Escola Nova Lourenço Castantro/SP Ronaldo Mancuso Mestre em Educação Professor lotado no Centro de Ciências da Secretaria de Estado da Educação do Rio Grande do Sul Projeto gráfico Paulo Bernardo Vaz Mestre em Ciências e Técnicas da Comunicação/Editoração Doutor em Ciências da Educação e da Comunicação Professor universitário/UFMG CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLINGÜÍSTICA PARA A FORMULAÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DOS MATERIAIS DIDÁTICOS LEONOR SCUAR-CABRAL INTRODUÇÃO Na primeira etapa da formulação da política nacional dos materiais didáticos, em que pesquisadores vinculados às disciplinas ministradas nas primeiras quartas séries do ensino fundamental se propõem efetuar uma avaliação dos respectivos livros didáticos mais adotados, fui convidada para aportar as contribuições da psicolingüística, como uma ferramenta acrescida às demais, para uma melhor análise. Como primeiro passo, delimitaremos o campo em que tal contribuição se insere. A psicolingüística é a ciência que investiga os processos envolvidos na recepção e produção dos textos, aí incluídos os que ocorrem no desenvolvimento das capacidades e hábil idades para a aquisição e aprendizagem dos sistemas que permitirão tais processamentos. Sob tal referencial, o enfoque em relação à apreciação do l ivro didático é dinâmico, ou seja, o produto (estrutura, apresentação, etc.) é examinado na perspectiva do contexto de uso, de como tal texto será processado por professores e alunos para a construção do conhecimento. Eventualmente, podem ser examinados (e seria aconselhável) os processos envolvidos na produção do l ivro didático por seus autores. Esta últ ima análise nos permitiria explicitar causalmente vários problemas já conhecidos, tais como os que resultam do que eu chamaria de autocentrismo, ou seja, a dificuldade de o autor idealizar com melhor aproximação os futuros usuários de seus textos: alunos e professores. É, pois, tendo em vista como os futuros usuários, professores e alunos, vão processar o texto do l ivro didático, que pretendemos contribuir com alguns instrumentos para os analistas que integram este projeto, sugerindo-lhes algumas das perguntas a serem feitas. PARA QUEM? 1. Função social do texto A pergunta para quem, no que diz respeito à função social do texto, gira em torno das expectativas do usuário, as quais conformam a tipologia do que se costuma denominar como gêneros. Em virtude da diversificação dos meios (multimídia) possibilitados por novas tecnologias e respectivos novos contextos de uso, ainda não se tem uma tipologia abrangente dos gêneros contemporâneos. No entanto, de uma forma simplif icada, podem-se definir as seguintes como as principais funções sociais do l ivro didático: 1. Internalização e domínio de linguagens (por ex.: cartilhas de alfabetização; introdução à linguagem matemática; manuais para uso de software: material pedagógico para o ensino de línguas estrangeiras); 2. Construção do conhecimento através do processamento do texto impresso (ampliação e aprofundamento de forma estruturada dos universos de conhecimento); Incluem-se neste ponto tanto propiciar as inferências entre a informação nova que o texto apresenta e a experiência que o aluno traz, a tradição dos conhecimentos, quanto o cruzamento de vários textos (intertextualidade e interdisciplinaridade), residindo neste últ imo aspecto da função de construção do conhecimento no mundo contemporâneo o maior desafio, qual seja, o de resolver o impasse criado pela especialização crescente e suas novas formas de alienação. Voltaremos a esta questão no item Adequação Social, porquanto a especialização, responsável por verdadeiros guetos lingüísticos, se manifesta particularmente no léxico e respectiva estruturação semântica, acarretando muitas vezes a impossibilidade de processamento por parte do leitor. Algumas das estratégias para contornar este problema são sugeridas em outras das funções sociais do l ivro didático: - 3. Aprender a aprender. Em virtude da reformulação vertiginosa da ciência e da tecnologia e mesmo dos acontecimentos históricos, para que o l ivro didático não se torne rapidamente obsoleto e mesmo descartável, é necessário que o eixo pedagógico desloque sua prioridade de mero repassador de informação para o de ensinar: a) como saber selecionar o que é relevante; b) processar criticamente; c) incorporar de forma estruturada o conhecimento; d) acessá-lo adequadamente para a resolução de problemas. 4. Aprender a resolver problemas numa sociedade em mudanças. Os desajustamentos que os indivíduos enfrentam decorrem também do despreparo que uma educação inflexível ensejou para enfrentar mudanças bruscas decorrentes de novas tecnologias, novas relações de trabalho, novos papéis sociais, novos valores, a mobilidade social, etc. O l ivro didático não pode obedecer a esquemas semelhantes ao trivium e ao quadrivium da Idade Média. Um exemplo de como a maior parte dos livros didáticos de língua portuguesa não obedece a este princípio são os testes de compreensão de texto, nos quais os autores arrolam perguntas localizadoras, nas quais se desenvolve no aluno o artifício de saber detectar a resposta no texto, sem sequer compreender o que ele contém. 5. Desenvolver as capacidades do indivíduo como um todo: lúdicas, heurísticas, estéticas, éticas, afetivas. PSICOLINGÜÍSTICA O livro didático muitas vezes se constitui no primeiro texto impresso que o indivíduo vai utilizar de forma funcional. Para outros, compete com outros meios de comunicação mais atrativos, como os videogames. Seja qual for o caso, é preciso terem mente que não há. nem deve haver incompatibilidade entre as funções acima mencionadas e aquelas que paralelamente também definem a especificidade do ser humano. Tenho examinado cartilhas nas quais se veiculam idéias racistas; outras, nas quais são apresentados pseudos poemas que deseducam esteticamente o leitor e muitos textos nos quais transparece o machismo. Sobretudo, qualquer livro didático deve desenvolver o gosto pela leitura. ADEQUAÇÃO SOCIAL 2. Registro Neste espaço, desenvolveremos a questão da adequação social (social editing), questão que tem sido muito mal compreendida, confundida com o populismo. Por adequação social deve-se entender o planejamento de um texto cuja escolha de registro seja adequada ao que o receptor (no caso. aluno e professor) espera em termos de quem o produziu (papel do autor), assunto (no caso, por ex. livro de Ciências Sociais para a 3* série), meio (escrita em livro) e situação em que será usado (sala de aula e preparação dos deveres em casa). Neste passo, convém assinalar que. embora aluno e professor possuam somente uma variedade lingüística (construída no processo de aquisição da linguagem na interação criança/pessoas que com ela convivem), todo o indivíduo possui vários registros, condicionados pelos fatores assinalados no parágrafo anterior. Para contornar o problema das variedades lingüísticas, deve ser escolhido o léxico comum ao âmbito onde o material vai circular, evitando-se privilegiar o especifico de cada variedade sociolingüística, seja ela geográfica ou social. Este último deverá ser dosado na medida em que os sentidos puderem ser depreendidos contextualmente e/ou através de pesquisa. No que diz respeito aos registros, quem redige um livro didático deverá ter em conta todos estes fatores: o registro (que se manifesta principalmente na escolha do léxico e dos respectivos sentidos, mas também na sintaxe) deverá ser adequado à série à qual se destina. Trata-se. a rigor, de traduções: a fisiologia do aparelho digestivo é apresentada em registros diferentes, em materiais que se destinam a um Curso de Pós-Graduação, à Graduação, à 8a ou à 3" série. No entanto, a escolha do registro adequado não é sinônimo de "falar como o aluno", nem de '"ficar no universo do aluno", pelos motivos que veremos a seguir. 2.1 A informação velha e a nova O princípio da comunicação é o intercâmbio de informações novas graças à informação velha que os interlocutores compartilham, havendo um balanceamento entre ambas. Tal princípio é bastante familiar ao contexto pedagógico, sendo conhecido como gradação, embora não seja exitosamente operacionalizado na prática. Em relação ao texto didático, isto significa que, se a informação for total ou excessivamente nova, o aluno não terá condições de processá-la e, se for total ou excessivamente conhecida, o aluno se desinteressará. A novidade poderá dizer respeito ao conteúdo mas também ao registro. Convém assinalar que tal princípio não é válido para o texto literário, onde o que prevalece são os objetivos estéticos, baseados na recorrência. As dificuldades de operacionalizar o principio do velho/novo decorrem também da falta de continuidade entre as várias séries e da falta de interdisciplinaridade. Entendemos, pois, que a análise do livro didático deverá levar em conta sua inserção no universo onde ele está sendo adotado, de onde proveio o aluno e para onde se destina. 2.2 Competência de recepção e de produção Convém assinalar que a adequacidade social do livro didático ao aluno não pode ser mensurada pelo que ele produz, uma vez que a competência de recepção sempre é mais ampla que a de produção. O aluno pode compreender a variedade lingüística do professor (da cidade de São Paulo, por ex.), sendo incapaz de falar esta variedade se praticar a variedade caipira. O aluno de quarta série é capaz de ler os livros de Lígia Bojunga sem ser capaz de redigir como Lígia. A conclusão mais importante a este respeito é a de que embora o autor busque adequar-se ao registro que alunos e professores dele esperam, isto não significa que escreva como os alunos "falam" (o que aliás seria impossível, dadas as diferenças entre o texto oral e o escrito): os alunos vêm à escola entre outras coisas para reestruturar continuamente sua memória cognitiva. 2.3 Contextualização c descontextualização Consideramos oportuno clarificar uma rotulação proveniente dos Estados Unidos e veiculada originalmen- te por Ochs (1979) e Tannen (1982). de que o discurso escrito é descontextualizado. O discurso escrito não é descontextualizado: ele não pode é ser dependente do contexto situacional circundante temporal ou espacial, uma vez que a característica da situação comunicativa prototípica na lecto-escritura é a ruptura espaço temporal entre redator e leitor. Sendo assim, o redator escreve para um futuro leitor ausente no espaço e no tempo e o texto deverá contextualizar verbal e/ou graficamente toda a informação, o que muitas vezes não ocorre por falhas na competência de quem escreve e pela falta de articulação entre a escrita e a ilustração. Mas também é freqüente, por falhas do leitor, a dificuldade de extrair e/ou recriar tais informações a partir do texto. PARA O QUÊ A análise do livro texto nas séries iniciais coloca-o dentro de toda a filosofia educacional, já que ele é um meio e não um fim em si mesmo. A questão teleológica nos remete ao problema central da desigualdade brutal na distribuição e detenção do conhecimento, talvez tão brutal quanto a má distribuição da renda e compartilhando com ela de vários traços: assim naquela como nesta, o distanciamento entre os que mais detêm o saber e os que dele são alijados cresce geometricamente e a pergunta que aqui se coloca é como, através do livro didático poderá ser diminuída esta distância. LETRAMENTO Gostaríamos de finalizar nossas colocações com um alerta sobre a noção de letramento, também originária dos Estados Unidos, de onde temos a mania de copiar os bons e os maus modelos. Recentemente tem-se veiculado a noção de letramento (literacy) como sinônima de representação mental. Conforme Lynda Miller (1990:1) "Letramento nestas culturas incorpora como as pessoas pensam, como agem, no que acreditam e o que valorizam e como visualizam a mudança" (trad. de Scliar-Cabral). Nesta concepção, letramento engloba alfabetização, conhecimento matemático, musical e até esquema corporal, o que encobriria a distância à qual acima aludimos. CONCLUSÕES Como conclusão, resumimos as perguntas que a psicolingüística sugere como roteiro para a avaliação do livro didático nas primeiras séries e que, caso aceitas, poderão ser acrescidas a outras que os pesquisadores de outras áreas aportarem: - Para quem se destina o texto? - Qual a função social? - Possibilita a internalização e o domínio de uma dada linguagem? - Possibilita a construção, a ampliação e o aprofundamento de universos de conhecimento? - Ensina a aprender a aprender? - Possibilita aprender a resolver problemas numa sociedade em mudanças? - Desenvolve as capacidades do indivíduo como um todo: lúdicas, heurísticas, estéticas, éticas e afetivas? - Existe adequação social? - O registro é adequado? - Há um equilíbrio balanceado entre a informação de que o aluno já dispõe e a nova? - O texto leva em conta a competência maior de compreensão do aluno? - O texto é contextualizado? - Permite ao aluno desenvolver a capacidade de distanciamento e de auto-referencialidade? - O texto ajuda a diminuir a distorção na distribuição do conhecimento? REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS MILLER. L. Language. Learning and Literacy In K.Butler(Org.)Topics in Language DisonJers. 1990(2): 1-24. OCHS. E.Planned and Unplanned Discourse. In:T .Givon (Org.) Syntax and semantics;discourse and syntax. New York. Academic Press. 1979. v 12. TANNKN. I). Oral and l.iteraie Strateuies in Spoken and Written Narratives. Language, 58(1 ):t-21.1982. CRITÉRIOS PARA ANÁLISE E SELEÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS - Quanto ao Projeto Visual PAULO BERNARDO VAZ A concepção de projetos gráficos para livros didáticos deve levar em conta uma série de fatores concernentes a: a) boa legibilidade tipográfica; b) visualização das hierarquias em suas páginas; c) ilustrações objetivas, bem relacionadas com os textos, propiciadoras da melhoria da aprendizagem. FATORES PARA UMA BOA LEGIBILIDADE TIPOGRÁFICA (CF.RICHAUDEAU,1979:4) 1. Dimensão dos caracteres (tamanho das letras] Limites de visibilidade seg. Tinker (1965) nível de ensino idade corpo tipográfico 1 6 anos 14 a 18 2-3 7 e 8anos 14 a 16 4 9 anos 12 5 e mais 10 anos e mais 10 a 12 adulto 8 Para o público-alvo dos livros didáticos distribuídos pela FAE é importante adaptar-se o quadro do pesquisador americano, considerando as características próprias dos leitores brasileiros: nível de ensino idade corpo tipográfico (altura em médio) 1 7 anos 18 a 24 (aprox. 6,7 a 9,0 mm) 2-3 8 e 9 anos . 14 a 16 (aprox. 5,2 a 6,0 mm) 4 10 anos 12 (aprox. 4,5 mm) 5 e mais 11 anos e + 10 a 12 (aprox. 3,7 a 4,5 mm) adulto 9 (corpo utilizado nas matérias das revistas Veja e Istoé por ex.) 1.1 Desenho dos caracteres Os textos devem ser compostos em redondo em ex.alta e baixa, reservando o uso de itálico para expressões especiais, como termos técnicos, palavras estrangeiras, citações e textos curtos especiais (prefácios, legendas, notas, etc). Letras maiúsculas tanto em redondo quanto em itálico devem ser empregadas só em títulos e subtítulos. 1.2 Estilo dos caracteres (detalhes de execução do desenho das letras) E variadíssima a oferta de variações de tipos, cujas classificações são bastante complexas. Sua legibilidade depende basicamente do hábito de leitura, isto é, do costume do leitor com um ou outro tipo de letra. Nos livros didáticos, sobretudo nesses destinados às primeiras séries, deve-se evitar o uso de tipos demasiados fantasiosos, que podem chamar mais a atenção para o detalhe das letras do que para a mensagem que elas contêm. Observar se a letra empregada não dá margem a nenhuma confusão, como naquelas fontes (grupo completo de um alfabeto e sinais gráficos para composição) onde o o ligado ao i se assemelha muito ao a, onde o b se confunde com o I ligado ao o, e o d se parece com o o ligado ao I, etc. 13 Espaço entre letras e entre palavras A confusão causada por letras coladas acontece quando o espaço entre letras está muito apertado, embolando as palavras. O espaço interliteral e intervocabular muito cerrado ou muito aberto pode prejudicar a leitura. Através do bom senso - como referência temos diferentes textos que nos propiciam boa leitura - deve- se observar se esses espaços têm sido mantidos dentro do padrão "normal". 1.4 Texto blocado ou alinhado apenas pela esquerda (justificação do texto) As linhas justificadas nao apresentam nenhuma dificuldade de leitura para os leitores adultos. Mas a justificação livre - textos alinhados apenas pela esquerda - tem sido recomendada para jovens leitores por não apresentar cortes de palavras. Devemos estar atentos sobretudo para as cartilhas que devem facilitarão máximo a aprendizagem e a da leitura, evitando cortar palavras ao final da linha. 1.5 Comprimento das linhas O bom senso desaconselha tanto linhas demasiado curtas (mais estreitas do que uma coluna de jornal )quanto demasiado longas (mais largas do que a da coluna daquele livro que lemos deleitosamente). Traduzindo em números: • coluna de jornal - cerca de 34 caracteres - media de 6 palavras 'linha • coluna de revista - cerca de 40 caracteres - média de S palavras/linha • coluna de livro literário (juvenil) - cerca de 50 caracteres - média de 9 a 10 palavras/linha • coluna de livro literário (adulto) - cerca de 70 caracteres - média de 12 palavras/linha Pode-se obser\ ar. portanto, que a média desejada para livros para o primeiro grau não deve ultrapassar 12 palavras por linha. correndo-se o risco de dificultar a leitura. Deve ser lembrado que os livros didáticos no Brasil têm sido produzidos no formato aproximado de 20 x 27 em. Este formato permite a feitura de manchas (área impressa da página) bastante largas que muitas vezes têm sido utilizadas em toda a sua extensão para os textos. tornando as linhas muito longas. Projetos visuais inteligentes recorrem a diagramas (gabaritos) que possibilitam a utilização de colunas distintas para variados textos, notas, legendas e outros, deixando as ilustrações percorrer por uma e outra coluna ou pelas duas juntas. 1.6 Espaço entre linhas O espaço entre linhas deve também manter um padrão de "normalidade", evitando ser muito compacto. Demasiado aberto certamente não será pois a produção de livros didáticos tem-se caracterizado pela economia. Tecnicamente a entrelinha adotada para textos tem sido a de 2 pontos tipográficos acima do corpo adotado. Assim, um texto composto em corpo 10 apresenta uma leitura agradável com a entrelinha 12 (escreve-se c. 10/ 12). Na prática é importante obser\ ar se as letras de linhas diferentes não estão se encostando (hastes ascendentes e hastes descendentes das letras minúsculas), o que causa prejuízo na leitura. 1.7 Tintas e papéis Tinker e Paterson (1931) afirmam que o contraste entre a cor do texto e a do suporte (papel) assegura a legibilidade do texto. Conseqüentemente, os textos impressos em preto sobre branco são o que apresentam melhor grau de legibilidade. O papel opaco é o preferido para apresentação gráfica do texto (em detrimento da pior qualidade para impressão de ilustrações sobretudo coloridas). O editor de livros didáticos deve assegurar o uso de papel que não permita a transparência da impressão no verso da página, terrível ruído na comunicação impressa. CAPA PRIMEIRA CAPA: nome do(s) autor(es). título da obra (e da coleção, se for o caso) número da série, editora. SEGUNDA E TERCEIRA CAPA: uso discutível. QUARTA CAPA: uso recomendável para um pequeno texto (talvez institucional da FAE) 2. Miolo 2.1 Parte pré-textual 2.1.1. Folha de rosto contendo: nome(s) do(s) autor(es) credenciais/origem do(s) autores) título da obra série editora local e data da edição Se a paginação permitir a inclusão de um falso rosto (primeira página contendo apenas o título da obra com ou sem ilustração) é preferível inseri-la no livro do que manter página branca no princípio ou no final do livro. O verso cio falso rosto pode ser utilizado para a ficha catalográftca. 2.1.2. Verso do rosto contendo: Copyrightt isto é. reservas de direitos em ... (ano) a ... (autor/es ou editora que adquiriu os direitos de publicação) Ficha catalográfica Créditos, trazendo os nomes dos responsáveis por supervisão ou coordenação editorial edição de texto projeto gráfico arte-final seleção iconográfica ilustrações realização gráfica Maiores dados da Editora 2.1.3. Sumário (cujo layout deve permitir boa visualização das partes da obra e respectivos capítulos). Fundamental para o usuário obter unia rápida localização ao abrir o livro. Uma boa paginação permite a disposição do sumário em duas páginas espelhadas, isto é, com o livro aberto pode-se ver num só quadro toda a estrutura do livro com a devida referencia ao número da página. 2.1.4. Lista de abreviaturas e siglas 2.1.5. Prefácio 2.1.6. Agradecimentos 2.2 Parte textual 2.2.1. Página de abertura de parte da obra. com bastante destaque aber tura de capítulo (ou lição) com título evidenciado texto principal e ilustração (se houver) também destacado, iniciando-se com letra capitular numeração de páginas (preferencialmente nos cantos externos, ou centralizada na página) cabeças nos cantos superiores externos da página (permitindo ao leitor situar-se facilmente em cada parte/ capitulo ou lição do livro em que ele se encontra ao abri-lo casualmente) ilustrações acompanhadas de legendas e referências (dependendo da complexidade das referências elas podem vir no final da obra devidamente numeradas com todos os dados necessários à identificação de suas fontes, de detalhes da obra reproduzida etc.) notas. 2.3 Parte pós-textual 2.3.1. Glossário (se necessário) 2.3.2. Bibliografia 2.3.3. Colofão na última página do livro. Esta última página pode ser utilizada também com a seguinte alternativa: deslocam-se para cá os créditos do verso do rosto (cf. item 1.2) junto aos dados completos da Editora e o colofão (quem imprimiu, em que local e data). PRINCÍPIOS BÁSICOS PARA A VISUALIZAÇÃO DAS HIERARQUIAS O livro didático deve apresentar seu layout numa estrutura hierarquizada. As grandes divisões da estrutura da obra e suas respectivas subdivisões (capítulos e subcapítulos), títulos em destaque, ilustrações diversas e variados tipos de textos, notas e legendas, toda essa diferenciação dever ser evidenciada. Devem ser considerados os seguintes princípios traçados por Richaudeau (1985:5): 1. títulos e subtítulos bem destacados, posicionados no alto da página à esquerda ou no centro; 2. títulos e subtítulos em destaque, compostos em corpos maiores ou de maior força tipográfica: 3. blocos tipográficos compostos em corpos menores envolvidos em branco podem dar maior destaque ao texto; 4. os cuidados na utilização dos três princípios precedentes representa grande economia de meios, desejável em projetos gráficos de livros didáticos (simplificação tipográfica/funcionalidade); 5. referências fáceis para o leitor: os cantos superiores externos das páginas bem utilizados, servindo para títulos correntes ou para indicações sinópticas do conteúdo daquela(s) páginas, facilitando a busca rápida da informação; 6. quanto maior a ilustração, maior a atração exercida sobre o leitor; 7. ilustrações em cores: maior atração para o leitor; 8. os dois princípios precedentes podem ser atenuados ou mesmo anulados pelo uso inteligente dos princípios 1, 2 e 3. Pfromm Neto et alii (1974:3) sugerem que os professores façam testes de legibilidade junto aos alunos. Através de um teste de leitura em voz alta, com o livro a uma distância de aproximadamente 30 em dos olhos do leitor, pode-se avaliar a legibilidade do texto verificando-se a fluidez das orações, a ausência de erros, hesitações, eventual pisca-pisca etc. Esses autores enumeram alguns fatores essenciais no projeto gráfico do livro didático para garantia de sua qualidade: 1. planejamento gráfico adequado ao assunto tratado: 2. programação visual que facilite a leitura e a compreensão; 3. simplicidade no planejamento gráfico (que pode ser entendido como "economia de. meios" como descrito no princípio 4 da enumeração acima); 4. uniformidade na programação visual, dando continuidade e ritmo natural na utilização de caracteres e espaços tipográficos (melhor detalhados por Richaudeau); 5. uso parcimonioso dos tipos, escolhendo aqueles que garantam a boa legibilidade. 6. arranjo harmonioso da página e da obra, resultado de um bom layout que cuida da disposição de diferentes textos e títulos, diferentes tipos de ilustrações, de sua inter-relação, bem como dos espaços que os envolve a todos. FORMATO DO LIVRO A maioria dos livros didáticos brasileiros tem sido produzida no formato fechado de 20 x 27 em aproximadamente. Apenas para a primeira série o livro se apresenta "deitado", isto é, no formato oblongo (formato italiano). Duas páginas espelhadas destes livros apresentam uma grande panorâmica horizontal de 54 em de largura. Possibilita-se, assim, a composição de textos com letras bem grandes e o uso de grandes ilustrações. A partir da segunda série os livros se põem "de pé" (formato francês), padrão identificado como o livro de adulto. Tais formatos são assim padronizados por economia de produção (uso adequado do papel) e ambos permitem arquiteturas gráficas que atendam à boa legibilidade tipográfica. Projetistas gráficos devem explorar òtimamente esses grandes espaços recorrendo a gabaritos (grid, inglês) de duas, três ou mais colunas numa página. A estrutura tipográfica de base - às vezes próxima daque- la utilizada em revistas de formato similar- facilita muito a boa visualização das hierarquias necessárias no li- vro didático. Dessa forma, títulos, vários blocos de textos e ilustrações variadas podem ser melhor dispostos num bom layout. O gabarito com duas ou mais colunas facilita a relação "texto-imagem" fundamental para o di- dático. RECURSOS GRÁFICOS RELEVANTES Dentro do objetivo pedagógico de pontuar, destacar, dar r i tmo às divisões da obra e subdivisões dos capítulos, há recursos como linhas, tarjas, pontos e outros sinais gráficos que podem ajudar na boa apresentação do layout e cuja utilização em nada encarece o l ivro. ILUSTRAÇÕES - FUNÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E VANTAGENS Apesar de constar como princípios de visualização do l ivro didático (maior e mais colorida a ilustração, maior a atração sobre o leitor), deve ser levado em conta que os principais objetivos das ilustrações, nesse caso, são: a. aumentar o interesse do leitor pela matéria; b. melhorar a compreensão da mensagem; c. melhorar a aprendizagem. Isso é resultado tanto da qualidade da ilustração do l ivro quanto da integração "texto-imagem". A ilustração deve estar inscrita no projeto pedagógico do l ivro. Jamais ser gratuita. Emanuel Araújo (1986:1) é categórico ao afirmar que "ilustrações não relevantes, sem integração com o texto, podem prejudicar a compreensão e confundir o aluno". A imagem deve ser escolhida ou adaptada ao tipo de ensino desejado, estreitamente ligada ao texto. Nessa escolha de ilustração mais adequada, autor(res) e equipe editorial não devem negligenciar a referência às fontes, quando se trata de reproduções. A menos que as ilustrações sejam criadas e/ou produzidas fotograficamente para a obra - constando o nome do artista e/ou fotógrafo na página de créditos - todas as ilustrações devem vir acompanhadas das referencias à sua origem. Tais referências podem ser compostas em corpo diminuto, bem junto à reprodução. Exemplo: se é reproduzido um quadro a óleo do acervo do Museu X., conste ao lado da reprodução o nome do pintor, t i tulo do quadro, técnica, formato e acervo onde pode ser visto em exposição. Dessa forma um l ivro de Estudos Sociais, Português ou Ciências pode trazer grandes contribuições à Educação Artística, além de ensinar aos usuários do l ivro princípios básicos de Deontologia: ao fazer e expor suas pesquisas todos (estudantes, professores e autores) devem citar corretamente suas fontes. As legendas redigidas de maneira clara e sucinta complementam o texto e chamam a atenção do leitor para a importância da matéria. Aguça sua curiosidade. São textos de fácil leitura devido à enorme atração exercida pela imagem-acoplada-ao-pequeno-texto. Exemplo disso é a experiência diária na leitura dinâmica de jornais e revistas, onde o olhar do leitor navega pelas páginas e se dirige diretamente às legendas das ilustrações. Se a frustração que provoca uma ilustração jornalística sem a respectiva legenda é imperdoável, o que dizer de "ilustrações didáticas" não legendadas? Estética na ilustração do l ivro didático pode permanecer secundária em relação à funcionalidade. Mas permanece importante, sobretudo na formação estética do aluno. Ilustrações bem elaboradas e bonitas podem suprir uma enorme carência na formação do bom gosto ressentida sobretudo por alunos menos privilegiados sem acesso a outras fontes de informação impressas. A criança cujos pais adquirem revistas bem elaboradas graficamente tem seus parâmetros para achar a imagem proposta pelo Iivro boa ou ruim. Mas a criança que tem no livro didático o veículo único da comunicação impressa, que "formação" estará recebendo? Luís Camargo (1990:2) ao analisar o papel da ilustração nos livros infantis pergunta qual seria sua contribuição. "Servem apenas para reiterar o que o texto já diz?(...) São apenas efeitos sedutores ou enriquecem a leitura do texto?" Analisando as principais funções da ilustração, destaca a função "descri t iva" como aquela que mais caracteriza as ilustrações dos didáticos. Vale enumerar as demais funções descritas por Camargo para uma reflexão sobre outras serventias que as ilustrações didáticas brasileiras poderiam e deveriam ter. Preservados os objetivos pedagógicos, elas talvez pudessem se valer também das funções de pontuação; narrativa; expressiva; estética; simbólica; metalingüística e lúdica. Cada qual a seu modo, no seu lugar adequado, dentro dos objetivos traçados. 3. Classificação Pragmática das Ilustrações (cf.Richaudeau) Três diferentes tipos de ilustrações podem ser produzidos a: I fotografias quatro cores (quadricromia) 2 desenhos realistas (em semitons) duas cores (preto e cor de acompanhamento) 3 desenhos esquemáticos (em traço/chapado) uma cor (geralmente preto) Combinando-se esses seis fatores, dois a dois, podem ser nove os tipos de ilustrações que vão da mais realista e mais cara (fotografia em quatro cores) à mais abstrata e de produção mais barata (desenho a traço/ chapado em preto e branco). A escolha entre esses nove tipos de ilustrações deve recair sobre aquela que melhor se adeqüe às características pedagógicas visadas para o livro didático. De conformidade com as técnicas de criação e de produção. Richaudeau sugere uma análise dessas ilustrações de acordo com quatro fatores: 1. força afetiva, 2. clareza e precisão. 3. riqueza informativa e 4. vantagem financeira. 3.1 Força afetiva Características que suscitam o interesse espontâneo do leitor independentemente do tema e do texto. Fotografias e desenhos hiper-realistas em quatro cores são as ilustrações que mais concorrem para esse fator. 3.2 Clareza e precisão Um bom desenho pode ser mais esclarecedor do que uma fotografia. O desenhista pode recorrer à sua técnica para ressaltar através de contornos e sombreados. personagens, objetos, valorizando diferentes planos da ilustração de conformidade com os objetivos pedagógicos. O desenho esquemático constituído apenas de contornos - extremamente simplificado e orientado - constitui uma imagem legível mas sem afetividade. Diagramas e esquemas fazendo uso de uma única cor são exemplos disso. A ilustração é esclarecedora, mas "fria". 3.3 Riqueza informativa Um desenho bem executado, com motivação pedagógica, pode ser carregado de informações Sendo o traço o meio gráfico mais eficaz para marcar detalhes, distinguir formas, seu uso associado a diferentes tonai idades do desenho permite que o desenhista simule cores, sombras, formas. O olho do leitor pode distinguir melhor as informações objetivadas pelo(s) autor(es). 3.4 Vantagem financeira Na decisão sobre as ilustrações a serem utilizadas no livro didático devem ser considerados vários custos: a. criação, b. fotogravura. c. fixos de impressão, d. variáveis de impressão. a. Custos de criação da imagem original Se a ilustração é feita especialmente para a obra, o editor costuma pagar ao artista pelo trabalho encomendado, com o direito de reproduzi-la em novas edições. Se a ilustração é reproduzida de um original pertencente a algum banco de imagens, acervo, arquivo ou de outras publicações, deve ser negociada a autorização para reprodução. Esses custos variam conforme a competência e notoriedade do autor da imagem. b. Custos de fotogravura (fotolitos para impressão) Serão mais onerosos se a ilustração for impressa em quatro cores, em semitons. Exemplo: fotografias ou desenhos sombreados, em cores. Se as cores empregadas no desenho forem "chapadas" (sem sombras), os custos de fotolitos serão menores. Exemplo: diagramas e gráficos coloridos. As ilustrações mais baratas nessa fase da produção gráfica são aquelas feitas "a traço" com superfície 100% tintadas. Já as fotografias e desenhos com sombra, em preto e branco, elevam um pouco os custos devido à utilização de retículas. imprescindíveis para dar os semitons na impressão do livro. c. Custos fixos de impressão Os cálculos para esses custos são bastante complexos devido a diversos fatores exigidos na preparação de máquinas, tintas e papéis para impressão. Se uma ilustração é feita em preto e branco não há despesas suplementares na impressão, pois passa na máquina impressora junto com o texto. Se a ilustração, contudo, é feita em duas ou quatro cores, seus custos se elevam proporcionalmente ao número de cores utilizadas. A cada cor suplementar corresponde nova matriz impressora, lavagem de máquina e acerto do papel. d. Custos variáveis de impressão Ilustrações em quatro cores só se viabilizam economicamente em obras de grande tiragem, pois elevam muito os custos. Os custos de impressão são inversamente proporcionais à tiragem. Resumo da classificação pragmática das imagens e sua avaliação RANKING cons iderando CLAREZA, PRECISÃO E RIQUEZA INFORMATIVA desenho realista em 4 cores desenho a t r aço / chapado em 4 cores fo togra f ia em 4 cores desenho realista em 2 cores desenho a t r aço / chapado em 2 cores fo togra f ia em 2 cores desenho realista em 1 cor desenho a t r a ç o / c h a p a d o em 1 cor fo togra f ia em 1 cor RANKING cons iderando t a m b é m VANTAGEM FINANCEIRA, a l ém de CLAREZA, PRECISÃO E RIQUEZA INFORMATIVA desenho a t r aço / chapado em 4 cores desenho realista em 4 cores desenho a t r aço / chapado em 2 cores desenho realista em 2 cores desenho a t r aço / chapado em 1 cor desenho realista em 1 cor fo togra f ia em 4 cores fo togra f ia em 2 cores fo togra f ia em 1 cor REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Emanuel. A Construção do Livro. Princípios da Técnica de Editoração Rio de Janeiro: Brasília. Nova Fronteira: INL, 1986 CAMARGO. Luís. "O papel da Ilustração nos Livros para Crianças" Jornal da Alfabetizadora. Rio de Janeiro. 1990. n.8. PFROMM NETO, Samuel: ROSAMII.I 1ª. Nelson e ZAKI , Cláudio Dib. O l ivro na Educação. Rio de Janeiro. Primor: INL. 1974. RICHAUDEAU, François. Conception et Production des Manuels Scolaires. Guide pratique. Paris. Unesco. 1979. RJCHAUDEAU, François. "La scienee de 1ª Lisiblité et les Formes Modemes de 1ª Communication de l 'ecr i t Schéma et Schématisation. Paris. 1985. n.22 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PORTUGUÊS ANTENOR ANTÔNIO GONÇALVES FlLHO HELIANE GRAMISCELU FERREIRA DE MELLO JAQUEUNE MOLL LUIZ PERCIIVAL LEME BRITTO LEONOR SCUAR-CABRAL MAGOA BECKER SOARES NADJA DA COSTA RIBEIRO MOREIRA ste relatório apresenta a avaliação global dos livros didáticos de Língua Portuguesa para as primeiras séries do ensino de primeiro grau. resultante da análise exaustiva dos livros mais demandados pelos professores à Fundação de Assistência ao Estudante - FAE no ano de 1991. O relatório está estruturado em três partes: I. Critérios de análise e obras analisadas II. Avaliação global das obras III. Conclusões e recomendações Acompanha o relatório, como anexo, a análise de cada uma das obras. CRITÉRIOS DE ANÁLISE E OBRAS ANALISADAS É ponto de vista consensual que a finalidade do ensino de Língua Portuguesa (doravante LP) em nível de primeiro grau c oferecerão educando condições de produção de conhecimento lingüístico que o habilite a usar a língua de maneira eficiente e crítica nas diversas situações sociais em que se insere. Isso implica, obviamente. o conhecimento e o manejo do sistema de escrita, mas implica também a percepção do fenômeno lingüístico como um todo e das exigências próprias de cada contexto. Os critérios estabelecidos para avaliar o modo como o conhecimento lingüístico c trabalhado no Livro Didático (doravante LD) de 1ª' a 4ª séries indicam, por si sós. as principais questões a serem abordadas e os princípios fundamentais a serem perseguidos. O mais fundamental desses princípios é que a língua deve ser considerada em toda a sua diversidade, valorizando-se situações de seu uso real e de reflexão e construção de conhecimento sobre a linguagem. Outro principio fundamental é que não haja conceitos ou teorias sem justificativa suficiente para sua apresentação. Um terceiro principio é a necessidade de adequação dos conteúdos e procedimentos didáticos, no ensino de LP no 1º grau. às significativas contribuições que a Lingüística Moderna e suas especialidades- Psicolingüística. Variação Lingüística. Lingüística Textual, entre outras- lêm trazido a© entendimento do fenômeno lingüístico e ao modo como a criança adquire seja a língua falada, seja o sistema de escrita. Para fins analíticos, e levando em conta esses princípios, foram estabelecidas quatro grandes áreas para a análise dos LD: Leitura, Oralidade, Produção de Texto e Conhecimentos Lingüísticos -. áreas que. aliás. a tradição do ensino de língua no Brasil legitima. Deve estar claro, no entanto, que a língua propriamente nao apresenta tal divisão, devendo um bom LD estabelecer relações constantes entre as áreas. Em cada área foram identificadas subáreas. E o seguinte o quadro de áreas c subáreas analisadas nos LDs: 1. Leitura 1.1 Seleção de textos 1.2 Atividades de estudo de texto 1.3 Atividades com outros textos e/ou outros tipos de portadores de texto 2. Ora l idade 2.1 Condições de produção e de recepção 2.2 Exercícios e atividades 3. Produção de texto 3.1 Condições de produção 3.2 Exercícios e atividades 3.3 Avaliações 4. Conhecimentos lingüísticos 4.1 Escrita: sistema de representação e convenções gráficas 4.2 Vocabulário 4.3 Morfossintaxe 4.4 Variedades lingüísticas Para cada subárea foram fixados critérios de avaliação dos LDs: para as cartilhas e pré-livros, dada sua especificidade, foram acrescentados alguns critérios objetivando identificar as propostas metodológicas a elas subjacentes e os pressupostos teóricos, lingüísticos e psicológicos que as sustentam. Os critérios foram os seguintes: 1. Leitura .1.1 Seleção de textos 1.1.1 Tipologia • gêneros • registros e variedades 1.1.2 Temática • caráter universal, caráter regional • contexto urbano, contexto rural • aspectos ideológicos: raça, sexo. classe, religião, idade, dialeto... • assuntos dominantes 1.1.3 Autoria • época, região, representatividade 1.1.4 Textualidade • texto versus pseudotexto • texto: integral fragmento com unidade fragmento sem unidade 1.1.5 Tamanho dos textos 1.2 Atividades de estudo de texto • capacidades c habilidades que os exercícios desenvolvem • gradação das habilidades: - nos exercícios para cada texto - nos exercícios de texto para texto (ao longo do livro) - nos exercícios de livro para livro (ao longo da coleção) • recorrência das habilidades ao longo do livro e da coleção • variedade na formulação dos exercícios • clareza e correção na formulação dos exercícios, nível de complexidade da formulação • integração dos exercícios com as demais partes da unidade 1.3 Atividades com outros livros e outros portadores de texto • incentivo para a leitura de outros materiais além do LD • temática, autores, tipologia • sugestão de atividades: habilidades e atitudes que desenvolvem 2. Oral idade 2.1 Condições de produção e de recepção • situações de uso da linguagem oral (falar e ouvir) • objetivos do uso da linguagem oral (falar e ouvir) • definição de locutor(es) e interlocutor(es) • tipologia: gêneros, registros 2.2 Exercícios e atividades • capacidades e habilidades que os exercícios desenvolvem • organização dos exercícios - variedade na formulação dos exercícios - gradação dos exercícios - recorrência de condições de produção e de recepção, tipologia, habilidades - clareza e correção na formulação dos exercícios 3. Produção de textos 3.1 Condições de produção • situações de uso da escrita (contextualização) • definição de objetivo e de interlocutor(es) para a produção do texto 3.2 Tipologia • gêneros • registros 3.3 Exercícios e atividades 3.3.1 capacidades e habilidades desenvolvidas • tipos de exercícios 3.3.2 organização dos exercícios • variedade na formulação dos exercícios • gradação dos exercícios • recorrência de condições de produção, tipologia, habilidades • clareza e correção na formulação dos exercícios, nível de complexidade da formulação 3.4 Avaliações dos textos produzidos • avaliação e auto-avaliação dos textos - critérios - procedimentos • atividades de socialização dos textos produzidos 4. Conhecimentos lingüísticos 4.1 Escrita: sistema de representação e convenções gráficas 4.1.1 Organização do conteúdo • conteúdos incluídos em: ortografia, estrutura silábica, estrutura vocabular, sinais gráficos 4.1.2 Conceituação • definições e conceituações apresentadas 4.1.3 Exercícios e atividades • habilidades que os exercícios desenvolvem • seqüência dos exercícios • recorrência das habilidades • variedade na formulação dos exercícios • clareza e correção na formulação dos exercícios 4.2 Vocabulário • capacidades e habilidades que os exercícios desenvolvem • tipos de exercícios • gradação das habilidades (em cada texto, de texto para texto, de livro para livro) • variedade na formulação dos exercícios • recorrência das habilidades ao longo do livro e ao longo da coleção • clareza e correção na formulação dos exercícios • presença/ausência de glossário 4.3 Morfossintaxe 4.3.1 teoria gramatical (teoria em que se fundamenta a gramática proposta) 4.3.2 conteúdo seleção, importância, pertinência, necessidade 4.3.3 gradação do conteúdo em cada livro, ao longo da coleção 4.3.4 conceituação definições e conceituações apresentadas 4.3.5 exercícios e atividades • habilidades que desenvolvem • tipos de exercícios • relação com atividades de leitura e escrita • gradação das habilidades • recorrência das habilidades (ao longo do livro, ao longo da coleção) • variedade na formulação dos exercícios • clareza e correção na formulação dos exercícios, nível de complexidade da formulação 4.4 Variedades Lingüísticas • inclusão/exclusão de variações regionais ou dialópicas. diastráticas, de gênero, de profissão • atitudes (reveladas pelo autor c/ou incutidas nos leitores) em relação às variedades lingüísticas. 5. Cartilha 5.1 Proposta Metodológica • identificação • fundamentos psicológicos, lingüísticos, psicolingüísticos 5.2 Período Preparatório • objetivos • tipos de exercícios - aspectos perceptomotores - aspectos ligados à língua escrita 5.3 Leitura Ver item I (1.1. 1.2 e 1.3) 5.4 Oralidade Ver item 2 (2.1 e2.2) 5.5 Produção de Textos Ver item 3 (3.1,3.2e 3.3) 5.6 Conhecimentos Lingüísticos Ver item 4 (4.1.4.2.4.3e 4.4) Com relação aos LDs para as quatro primeiras series, foram analisadas as obras em que toda a coleção de 1ª a 4ª série estivesse na lista dos dez LDs de Língua Portuguesa mais demandados pelos professores à FAE, no ano de 1991. Quanto às cartilhas e pré-livros, foram examinados todos os livros que constam da lista dos mais demandados pelos professores à FAE, em 1991. São as seguintes as coleções de 1ª a 4a séries analisadas: Alegria do Saber, I.ucina Passos. Albani Fonseca e Marta Chaves, Scipione Aquarela. D'Olim Marote, Ática Brincando com as Palavras. Joanita Souza. Ed. do Brasil Como é Fácil. Maria Emília Correia c Mauro Galhardi. Scipione Educação e Desenvolvimento do Senso Crítico, Eloísa Gianini, Maria S. Avilcz e Márcia M. da Silva, Ed. do Brasil Escola é Vida, Lenita Venantte c Rosanc de Mello, Ed. do Brasil Festa das Palavras, Dircc Guedes de Azevedo, FTD Integrando o Aprender, Maria Eugênia Bcllucci e Luiz Gonzaga Cavalcanti, Scipione Mundo Mágico, Lídia M. de Moraes e Mariana Andrade, Ática Texto e Contexto, Janice J. Persuhn. Ed. do Brasil As cartilhas analisadas estão indicadas no item 5. AVALIAÇÃO GLOBAL DAS OBRAS 1. Leitura Em todos os LDs de LP, as "unidades" ou "lições" partem de textos para leitura, a respeito dos quais são propostas perguntas era seções com títulos tais como: "Compreensão do texto" (Festa das Palavras). "Entenda o "texto" (Texto e Contexto), "Vamos ver se você entendeu o que leu" (Brincando com as Palavras). "Vamos entender melhoro texto" (Mundo Mágico). "como é fácil entender o texto" ( c o m o é Fácil), etc. Além disso. os exercícios de vocabulário, gramática e escrita freqüentemente baseiam-se no léxico, nas ocorrências lingüísticas e nas idéias do texto. A leitura e o estudo de textos são. pois. atividades centrais nos LPs de LP. Sobre elas dois aspectos fundamentais devem ser analisados: o primeiro é a natureza e qualidade dos textos selecionados pelos autores e os critérios para sua escolha: a segunda refere-se à natureza e qualidade das ati\ idades de estudo de texto propostas. 1.1 Seleção de textos como. idealmente, as atividades como texto, no ensino de LP. têm como objetivo maior o desenvolvimento de habilidades de leitura e de atitudes e valores em relação ao convívio com a língua escrita, a escolha dos textos de um I I) deveria atender a certos critérios básicos: abranger larga gama de gêneros, de modo que o aluno se familiarizasse com diferentes tipos de textos e de portadores de textos: apresentar diferentes registros e variedades, representando a diversidade dos usos e funções sociais da escrita: voltar-se para temas variados e adequados aos interesses da faixa etária para qual o livro se destina: garantir a representatividade da literatura nacional. A análise dos LDs revelou que essas características não estão presentes nos textos selecionados. Em primeiro lugar, os autores tendem a privilegiar a prosa de ficção: os textos são. em sua maioria. narrativas (por ex, em Alegria do Saber. vol. 3. 24 dos 32 textos são fragmentos de narrativas de ficção: 6 são poesias e 1 é para ser jogralizado: nao há nenhum texto informativo ou enciclopédico): a poesia aparece em muito menor proporção, sobretudo, nas primeiras séries, em geral mais como pretexto para atividades lúdicas (recitar, cantar, realizar "jogral )ou para atividades que pretendem o desenvolvimento da consciência fonológica (trabalho com aliterações, rimas) ou. ainda, para atividades de ortografia (estudo de certos fonemas/grafemas), que como experiência de leitura e fruição de poema (em Festa das Palavras. 10 dos 20 textos iniciais são poesia; em todas as unidades há alguma poesia associada aos exercícios de fixação da escrita). Outros gêneros -texto informativo. correspondência (carta, bilhete, telegrama), texto jornalístico, história em quadrinhos, publicidade, cartaz, texto injuntivo (regulamentos, instruções), texto teatral -aparecem raramente e sempre de forma esporádica, eventual. Na verdade, o que se verifica é que não há planejamento na seleção dos textos, no que se refere a gêneros, nem ha trabalho progressivo e sistemático com diferentes tipos de textos. Em segundo lugar, os textos apresentam-se quase sempre dentro do chamado "registro padrão"; quando ocorrem casos de linguagem regional, esta é. no mais das vezes, qualificada como "errada", solicitando-se ao aluno que reescreva a frase de forma "correta". Além disso, o registro padrão traduz-se em um estilo infantilizado - infantilização da sintaxe e da escolha lexical -. caracterizando-se mais como linguagem para a criança que como linguagem da criança. Na verdade, em sua maioria, os textos expressam-se numa pseudolinguagem, nem padrão nem coloquial, nem formal nem informal. Sirva de exemplo de pseudolinguagem o seguinte texto do vol. 1 da coleção Aquarela, de D'Olim Marote: O chipanzé Chuchu Chuchu é um chipanzé. Ele é um macaco de circo. É dò circo Chapecó. Chuchu fuma charuto e toca chocalho. O palhaço pede ao chipanzé: - Dança, Chuchu, dança'. Chuchu pega um guarda-chuva, dança e pula no arame. Chuchu é uma invenção completamente descolada da realidade; o que faz não tem outro motivo que a presença do "ch"; o texto não é poesia, mas as frases se distribuem em linhas; o enredo é quase um nonsense, nem ficção nem informação. Quanto à temática, a quase totalidade dos livros analisados privilegia a temática de caráter universal - o regional raramente aparece nos textos; no entanto, o caráter universal reflete antes uma pretensa "neutralidade" que a intenção de privilegiar temas genéricos. Em outras palavras, trata-se de um universal descaracterizado e neutralizado. Ainda no âmbito da temática, cabe registrar a grande recorrência, nos LDs, de texto em que o assunto dominante são os animais ou a criança e seu universo; em ambos os casos, há uma forte ruptura com a "realidade": os animais são sempre transformados em bonecos ou figuras de desenho animado; as crianças são antes o que o adulto pensa ser a criança, subestimando suas capacidades, que aquilo que a criança propriamente é. Assuntos como trabalho, meio ambiente, negros, índios, folclore, lendas e fábulas aparecem esporadicamente, e sem motivo aparente. É representativo o texto abaixo, transcrito de Integrando o Aprender, vol. 2, p. 52: O Gatinho Trapalhão - Miau, miau, vou passear no quintal, disse Fofo, o gatinho. Andou, correu, subiu, desceu e "tibum ", tropeçou. Caiu na lata de óleo e saiu melado igual a pinto melado. - Au. au, fez o cachorro. Nao conheço você, nao. - Quá, quá, disse o pato. Fofo você não é, não. - Currupaco, papaco, papaco. Sai senão te empaco, disse o papagaio. Fofo ficou muito triste. Seus amigos não o conheciam mais e ninguém queria brincar com ele. At mamãe gata chegou. - Miau, meu filho, por que você está tão triste? - Você me conhece, mamãe? Perguntou Fofo. - Claro, meu filho! Mesmo vermelho que nem tomate, verde igual a abacaxi, amarelo como marmelo, eu conheço sempre você, Fofo querido. como se pode perceber, a história tira do animal a sua natureza de animal, humanizando-o, mas de um modo que também não o torna ser humano; é, assim, um fantoche, um animal de pelúcia. Em suma, a exemplo do que se observou em relação ao gênero dos textos, também aqui o que se verifica é que não há planejamento na seleção de textos segundo o critério da temática. E necessário, entretanto, destacar um aspecto positivo: certamente como conseqüência da produção e divulgação, nos anos 80, de estudos e pesquisas sobre o conteúdo ideológico dos LDs, textos que revelem discriminação de raça, sexo, idade, classe são atualmente raros nos LDs de LP, ao contrário do que ocorria anteriormente, embora continue dominante nos textos o universo ideológico das classes médias. Finalmente, cabe considerar a seleção de textos nos LDs de LP sob o ponto de vista de sua representatividade, no quadro da literatura nacional. A grande maioria dos textos é extraída da literatura infantil, embora seja significativo o número de textos do próprio autor do livro, sobretudo nos volumes destinados às duas primeiras séries. Estes são, em geral, de má qualidade, já que quase sempre criados com objetivos utilitaristas: prover palavras com certos grafemas, fornecer certas estruturas gramaticais, etc. Vejamos um exemplo extraído de Texto e Contexto, vol. 2, p. 94: A Rima do Cedilha (Elza Cezar) Bastava Otavinho encontrar-se com Senhor Fogaça, a brincadeira com rima começava: - Senhor Fogaça, você vai na praça fazer graça? - Sabe, Otavinho, só se tiver açúcar de iguaçu e caldo de babaçu. Porém não quero cachaça mesmo que venha de graça. - Quando você dança o que balança, senhor Fogaça? - Ih! Balanço a cabeça, o pescoço, os braços, faço-me de palhaço, fico engraçado, beiçudo, as pernas fazem laço, faço, enfim, um estardalhaço. - Ricaço sem pança ou poupança? - Há ricaço sem pança como há rico sem poupança? Ah - ah- ah! O texto é puro nonsense, sem enredo verdadeiro, sem articulação entre as perguntas e, praticamente, sem outra lógica senão a presença constante do "ç". Quanto à escolha de autores da literatura infantil, verificam-se, nas várias coleções, as seguintes tendências: recorrência de determinados autores (por exemplo, Ruth Rocha e Pedro Bandeira são presenças constantes e obrigatórias em todas as coleções); privilégio daqueles autores tidos como "autoridades" na literatura infantil (há uma dúzia de autores "oficiais" sempre presentes em todas as coleções); privilégio de obras específicas de alguns autores (por exemplo, a Arca de Noé, de Vinícius de Morais, Ou Isto Ou Aquilo, de Cecília Meirelles, O Menino Maluquinho. de Ziraldo). Em contrapartida, verificam-se ausências significati- vas, como a dos clássicos da literatura infantil ou de autores da literatura adulta. Se na seleção de textos os LDs não atendem às características básicas anteriormente indicadas - abranger larga gama de gêneros, apresentar diferentes registros e variedades, trazer temas variados e adequados aos interesses da criança, garantir a representatividade da literatura nacional - o problema mais grave situa-se no âmbito da textual idade. Certamente pressionados pela tradição escolar de que o texto para a leitura, nas aulas de português, deve ser curto, e pelo utilitarismo que parece governar a seleção de textos, os LDs de LP apresentam, quase sempre, pseudotextos, e não propriamente textos; isto é, os LDs apresentam fragmentos textuais sem unidade e sem contexto, pretensas narrativas a que faltam elementos essenciais de estruturação. Na verdade, a concepção que prevalece é a da leitura como decodificação e não como acompanhamento do discurso da escrita. Pergunta-se que conceito de texto e de leitura a criança formará, tendo como "modelo" os fragmentos sem unidade com que é levada a conviver nas aulas de Português. Observe-se o exemplo abaixo, transcrito de Educação e Desenvolvimento do Senso Crítico, vol. 1, p. 33: O Gato que Pulava em Sapato - Agora você nunca mais vai subir no telhado. Não é, querido? Aprendeu a lição? - Aprendi sim. Aprendi que não sou um verdadeiro gato. Onde já se viu, gato que sobe em telhado de dois em dois meses? E assim mesmo, fugindo! Foi por isso que eu caí. - Mimi! Que idéias são essas?!!! - Agora eu vou subir todos os dias. Preciso praticar. - Meu Deus! E Mimi passou afazer treinamento de telhado todas as manhãs. A história inicia-se pelo meio, sem que o leitor saiba o que aconteceu antes, quem é Mimi, que lição aprendeu, etc. Trata-se de um fragmento de uma história, sem contexto e sem outra razão senão os interesses ''pedagógicos" das autoras (que, pelo título da unidade em que é apresentado o texto, pretendem desenvolver o tema "independência"; quanto ao negrito na palavra subir, não há motivo aparente). 1.2 Atividades de estudo do texto A leitura é um processo que envolve várias estratégias cognitivas e lingüísticas: ativação de conhecimentos prévios, identificação de indicadores de objetivos do autor, percepção da estrutura do texto, reconstituição da coerência textual (pela interpretação dos elementos coesivos e de elementos anafóricos), formulação de inferências e de extrapolações, etc. Pode-se afirmar, sem risco de exagero, que essas estratégias são ignoradas pelos autores dos LDs de LP. De fato, os exercícios de estudo dos textos privilegiam, na sua imensa maioria, a cópia e a localização de informações (por exemplo, em Festa das Palavras, vol. 2, unidade 9, a autora propõe como atividade de interpretação do texto "Saci" um quadro em que uma coluna traz um traço físico do saci cuja descrição correspondente deve ser localizada no texto e copiada no quadro); menos freqüentemente, ocorrem exercícios de ordenação de fatos ou idéias e exercícios que demandam a "opinião" do aluno sobre personagens ou idéias do texto. Em Brincando com as Palavras, por exemplo, a autora pergunta à criança, sobre a história "O Sapo no Céu", se ela acha certo o que fizeram com o sapo e se existe gente como ele; observe-se que, mesmo neste caso, a atividade se dá de forma aleatória e não vinculada a um projeto temático. Além disso, não há gradação das habilidades, quer nos exercícios de cada texto, quer nos exercícios de texto para texto, quer ainda nos exercícios de livro para livro. Vejam-se as seguintes propostas de exercícios com vocabulário em Alegria do Saber: vol. 2, unidade 7: "copie a frase, substituindo a " pelos sinônimos de marota " (oferecidos no quadro ao lado); "observe as expressões do quadro, copie e complete as frases ". Também não há recorrência das habilidades ao longo de cada livro ou da coleção - o que há é mera repetição das mesmas atividades de cópia, de localização de informação, de ordenação de frases do texto. Na verdade, a comparação entre o volume 1 e o volume 4 de cada coleção não revela nenhum crescimento em número e complexidade de habilidades de leitura; o nível e a natureza das estratégias cognitivas e lingüísticas solicitadas dos alunos são os mesmos, distinguindo-se os volumes das séries mais adiantadas apenas pelo maior número de exercícios. Tudo isto evidencia que não há um planejamento prévio para o desenvolvimento progressivo e sistemático das habilidades de leitura, mas sim uma proposta aleatória de perguntas eventualmente sugeridas pelo texto. 1.3 Atividades com outros livros e outros portadores de texto Finalmente, com relação às atividades de leitura, cabe lembrar que raramente os LDs de LP sugerem ou incentivam a leitura de outros materiais alem cio I I ) . Quando isso ocorre, a sugestão ê de livros de literatura infantil: ou a recomendação ao aluno para que procure o l ivro de onde foi extraído o texto, "para ler toda a historia*" (como em Mundo Mágico), ou a orientação ao professor. no "exemplar do professor", para que promova a condições para a criação de uma biblioteca de classe (como em Alegria de Saber), ou o oferecimento. também no "livro do professor", de uma ""bibliografia para o aluno"" (como em Aquarela). Algumas coleções, por motivos certamente muito mais comerciais que pedagógicos, sugerem, ao fim de cada unidade ou lição . a leitura de um livro de literatura infantil sempre e apenas da mesma editora que o publica (Educação e Desenvolvimento do Senso Cr í t i co ; Texto e Contexto; Escola é Vida; Vou Construindo, todas da Editora Brasil). A leitura de outros portadores de texto- jornais. revistas. folhetos, propaganda, etc. - e o desenvolvimento de estratégias adequadas a leitura desses tipos de textos é desprezada pelos LDs. Do que foi exposto, pode-se concluir que o tratamento que se dá ao texto nos 1.1) é extremamente negativo, pouco contribuindo para a formação critica do educando, para o desenvolvimento das habilidades do manejo do texto e da língua. I )e fato. impera em todas as obras, com raras exceções, um espirito estreito de senso comum. que considera a criança como um ser pouco capaz e que de\ e ser moldado atraves da repetição e da imitação. O que parece claro ê que os autores dos LDs de LP desconhecem completamente os processos de aquisição de conhecimento e o significado real de leitura e de texto. 2. Oralidade uma das maiores contribuições da Lingüística pós-saussurreana a compreensão do fenômeno lingüístico f o i , sem dúvida. a mudança de enfoque da língua padrão referenciada na escrita para a língua oral. A partir dos estudos cia Sociolingüística, da Psicolingüística e da l ingüíst ica Textual, principalmente, redefiniram-se vários conceitos a respeito da língua - oral. escrita -. passando-se a reconhecera legitimidade dos diferentes dialetos. falares e variedades de uma mesma língua: além disso, descobriu-se que a mesma pessoa pode variar quanto ao modo como usa a linguagem em função do contexto e do interlocutor; finalmente, evidenciou-se que a língua escrita, mais que a mera transposição gráfica da oralidade, é um sistema próprio - ainda que correlato à fala - . com características especificas diferentes das da oralidade. A questão da oralidade no ensino de LP em nível de 1º grau tem sido muito mal entendida e. conseqüentemente, mal trabalhada. De maneira geral têm-se ignorado as questões acima levantadas, confundin- do-se atividades em que se usa a oralidade (ou. mais precisamente, em que não se exercita a escrita) com atividades em que a língua oral. em suas diversas modalidades, registros e \ariedades. e objeto de reflexão e estudo. Assim, praticamente inexistem atividades nos LDs que trabalhem tipos de registro, variações lingüísticas. procedimentos coesivos e de coerência próprios da fala. processos fonéticos de aglutinação segmentação de palavras, r i tmo, entoação etc. Nas poucas vezes em que se desenvolve um desses assuntos - normalmente a distinção entre padrão "cu l to" e padrão "popular" ou dialeto "caipira" e dialeto "urbano" ou "culto""-, prevalece o enfoque normativo e preconceituoso inspirado na Gramática Tradicional. Além disso,há uma total dissociação entre "fonética'' suposta nos compêndios de Gramática Tradicional. cuja apresentação se faz de maneira acrítica e banalizada nos LDs em nível de 1ª a 5ª série (cf. item VI deste relatório), e a percepção CHI O estudo da língua oral: assim, há no português apenas 5 vogais orais ao invés de 7!. nao se discute a diferença entre letra e som. desconhece-se o conceito de sílaba, confunde-se silabação com translineação . perde-se um tempo enorme com encontro consonantais, dígrafos. etc. O mais curioso ê que todos os manuais insistem em afirmar a importância de se trabalhar e valorizar a oralidade. D"Olim Marote. autor da coleção Aquarela, chega a dizer. no manual do professor, que "o ensino cia língua materna deverá ser orientado no sentido de valorizar a língua falada " ( vo l . 3, p. V). No entanto. em toda a coleção há um único exercício em que propriamente se discute a questão da língua oral. e . ainda assim. para dizer que tal forma é "não padrão" em oposição a outra, tomada como "•padrão". O que de fato ocorre ê que os autores dos LDs entendem por trabalho com a oralidade algo muito diferente do que aqui se expôs: a oralidade seria, no contexto dos LDs (e. por conseqüência, para a grande maioria dos professores para quem o LD é a principal, senão a única, referência e modelo de ensino), qualquer atividade em que a fala. a conversa. o diálogo, a leitura, a canção, a declamação, etc. predominem, mesmo que não haja nenhum estudo ou reflexão especifica sobre a oralidade ela mesma. I rata-se de uma visão equivocada, de senso comum, do que seja trabalhar a oralidade, conseqüente de uma má leitura da critica pedagógica dos anos sessenta c seguintes, que defendia um ensino mais participativo e dinâmico. Vejamos alguns exemplos. Em como É Fácil, vol . 3, L ivro do professor, p. V I I : ' . 1 linguagem oral é explorada de maneira diversificada através de conversas, discussões, palestras, hora da história, hora da novidade, hora da poesia, cantiga e dramatização" - segue-se breve explanação sobre cada item. Nas unidades da coleção ha duas seções em que se trabalha a oralidade-"Como é fácil conversar e escrever" e "como é fácil recitar"; observe-se que não nelas há nenhuma atividade de reflexão sobre a fala. Em Alegria do Saber, matinal do professor, p. VI: "Técnicas criativas para ampliar e enriquecer as atividades: a) conversas, discussões e debates (objetivos: favorecer a expressão oral dos alunos...) b) adivinhações e jogos ( ) c) panfomima
Compartilhar