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Comunicação e representação social os efeitos da TV Assembléia na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais

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Leonardo Batista Quintino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia 
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2008 
1 
 
Leonardo Batista Quintino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia 
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais 
 
 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada à 
Faculdade Estácio de Sá, como 
requisito parcial para obtenção 
do grau de bacharelado em 
jornalismo. 
 
Orientadora: Hila Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2008 
2 
 
Leonardo Batista Quintino 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMUNICAÇÃO E REPRESENTAÇÃO SOCIAL – os efeitos da TV Assembléia 
na performance e oratória dos deputados estaduais de Minas Gerais 
 
 
 
Monografia apresentada à 
Faculdade Estácio de Sá, como 
requisito parcial para obtenção 
do grau de bacharelado em 
jornalismo. 
 
Orientadora: Hila Rodrigues 
 
 
 
 
 
 
 
Aprovada em: 
 
 
Banca examinadora: 
 
 
 
______________________________________________ 
Professora Hila Rodrigues – Orientadora 
 
 
______________________________________________ 
Professor Gilvan Araújo 
 
 
 
 
 
3 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha família, 
meu tudo, minha vida. 
5 
 
Agradecimentos 
 
Agradeço à Faculdade Estácio de Sá pelos dois últimos anos de minha 
formação acadêmica. Na instituição, aprendi boa parte do que sei, adquiri 
experiência acadêmica e, sobretudo, de vida. Agradeço ao corpo docente do Curso 
de Comunicação/Jornalismo pela convivência, pelas oportunidades de debate, 
discussão, crescimento – e até pelas dores de cabeça. Agradeço também aos 
funcionários que nos “suportaram” e ajudaram durante o percurso. 
 
Agradeço à Rodrigo Barreto de Lucena, diretor da TVA; Lúcio Pérez, diretor 
de Comunicação Institucional da ALMG; e ao jornalista João Carlos Amaral, 
consultor de imagem e âncora plenário da ALMG; fundamentais para esse trabalho. 
Agradeço aos deputados que responderam aos questionários dessa pesquisa e aos 
demais que, indiretamente, colaboraram com ela, permitindo que eu os analisasse. 
Agradeço aos funcionários da ALMG que me acolheram e auxiliam no que foi 
preciso. 
 
Agradeço aos professores Cássio Martinho, Marcos Barreto, Piedra Magnani 
e Ricardo Figueiredo, que me ajudaram a dar os primeiros passos desse projeto. 
 
Meu agradecimento especial à grande “pessoa pequena” Hila Rodrigues, 
orientadora, jornalista apaixonada e grande mestre, sem a qual seria impossível a 
realização desse trabalho. Ela acompanhou as agruras dessa pesquisa, da minha 
vida atribulada e me incentivou em todos os momentos. Deu-me força quando foi 
preciso, foi dura quando necessário e sempre acreditou em minha capacidade. Fez 
só aumentar minha paixão pelo jornalismo. 
 
Agradeço aos grandes mestres, dos quais tive a honra de ser aluno: 
professores Alexandre Freire, Cássio Martinho, Célia Nonata, Helcira Lima, Júlio 
Buere, Luciana Oliveira, Maurilio Santigo e Ricardo Figueiredo. 
 
 
 
6 
 
Aos meus novos amigos de turma agradeço nas pessoas de: Jonatas 
Andrade, Margareth Almeida, Renan Damasceno e Maurício Ângelo, pelo nosso 
futuro. 
 
Aos meus velhos amigos, Aline Tavares, Caio Pacheco, Emmerson Maurilio, 
e Fernanda Silva, “pelos nossos sonhos”. 
 
Agradeço à minha família, sem a qual não poderia realizar tamanho feito. A 
meu pai, Quintino, que me deu carinho, amor e dedicou todos os seus esforços para 
que eu me formasse; à minha mãe, Marinalva, que me deu carinho, amor e suporte 
para poder estudar; à minha irmã, Danny, que foi companheira, amiga e conselheira 
em todos os momentos; à minha avó, Conceição, linda, meu xodó. À minha 
namorada, Daphne, amor da minha vida, imprescindível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Na vida a gente tem que aprender, 
desaprender e reaprender”. 
João Carlos Amaral, jornalista apaixonado 
pela profissão. 
8 
 
Resumo 
 
Este trabalho tem por objetivo principal a análise do comportamento dos 
deputados estaduais de Minas Gerais frente às câmeras da TV Assembléia. Trata-se 
de mostrar como a TV, com seu potencial de comunicação, afeta a performance e o 
discurso dos parlamentares no exercício de sua função. Examinou-se, assim, o tipo 
de relação estabelecida entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Tentou-
se, ainda, evidenciar os processos pelos quais os deputados voltam suas ações 
para as câmeras quando estão em plenário – e não para os outros deputados e 
cidadãos presentes à Casa –, e os motivos que os levam a se comportar dessa 
maneira. A partir do exame desse comportamento, pretende-se verificar se a TV, na 
condição de meio de comunicação que agrega som e imagem, afeta a qualidade do 
mandato político, refletida, entre outros itens, na performance e no discurso dos 
parlamentares – os dois principais componentes em foco nessa pesquisa. 
 
Palavras-chave: comportamento, televisão, representação, performance, discurso 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
SUMÁRIO 
 
1 - INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 10 
 
2 – TELEVISÃO: imagem, revolução e interação .................................................. 13 
2.1 - A representação ................................................................................................ 17 
 
3 - A TV LEGISLATIVA E O EXERCÍCIO DO MANDATO ....................................... 22 
3.1 – História: o caso da Lei do Cabo ....................................................................... 22 
3.2 – A TV Câmara .................................................................................................... 25 
3.3 – A TV Senado .................................................................................................... 26 
3.4 – A TV Assembléia .............................................................................................. 27 
 
4 - INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................... 31 
4.1 – TVA: a dinâmica interacional ............................................................................ 35 
4.2 – Câmera, ação e desempenho do mandato parlamentar: elementos analíticos ........ 40 
4.3 – Representar para a câmera .............................................................................. 42 
4.4 – O efeito da performance ................................................................................... 43 
 
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 46 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 49 
 
ANEXO A – TVA E DESEMPENHO DO MANDATO ...............................................51 
ANEXO B – RESPOSTAS DOS DEPUTADOS ........................................................ 52 
ANEXO C – ANÁLISE EM CAMPO .......................................................................... 53 
ANEXO D – ENTREVISTA LUCENA, DIRETOR DA TVA ....................................... 55 
ANEXO E – ENTREVISTA JOÃO CARLOS AMARAL ............................................ 61 
ANEXO F – ENTREVISTA LÚCIO PÉREZ ............................................................... 65 
ANEXO G – FOTOS ................................................................................................. 69 
 
 
 
10 
 
Introdução 
 
Esse trabalho pretende mostrar como a TV, com seu potencial de 
comunicação, afeta a performance e o discurso dos parlamentares no exercício de 
sua função. Para isso, pretende evidenciar como deputados se comportam quando 
diante das câmeras da TV Assembléia – e os efeitos desse comportamento no 
desempenho do mandato. Parece pertinente, sob esse aspecto, examinar o tipo de 
relação estabelecida entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Para isso, 
tentou-se responder a três questões básicas: até que ponto o fato de ser “flagrado” 
pelas câmeras prometendo ações específicas, defendendo ou repudiando 
determinado tema compromete (ou favorece) o deputado do ponto de vista do 
eleitor? A TV, embora instrumento proporcionador da divulgação do trabalho do 
parlamentar, também funciona como instrumento de fiscalização do trabalho desse 
parlamentar? Como se dá esse processo? 
Tentou-se revelar, aqui, portanto, como os deputados voltam suas ações para 
as câmeras quando estão em plenário – e não para os outros deputados e cidadãos 
presentes à Casa –, e os motivos que os levam a se comportar dessa maneira. A 
partir do exame desse comportamento, pretende-se verificar se a TV, na condição 
de instrumento de comunicação que agrega som e imagem, afeta a qualidade do 
mandato político, refletida, entre outros itens, na performance e no discurso dos 
parlamentares – os dois principais componentes em foco nessa pesquisa. 
A análise foi feita a partir de ampla pesquisa bibliográfica sobre o processo de 
comunicação e sobre a televisão como veículo de informação. As obras consultadas 
trabalham o conceito de imagem e suas implicações no mundo real – algumas 
destacando episódios específicos que envolvem, por exemplo, TV e política. É o 
caso de Mario Sergio Conti (1999), que analisa a eleição do ex-presidente Fernando 
Collor sob grande influência da Rede Globo de Televisão, e de Ney Lima Figueiredo 
(1986), que aborda a derrota de Richard Nixon para John Kennedy na disputa pela 
presidência dos Estados Unidos, também sob enorme influência do veículo. 
Recorreu-se, ainda, a outros trabalhos e estudos acerca das TVs legislativas e dos 
fatores e contextos que marcaram o processo de criação desse tipo de canal. 
A pesquisa acabou evidenciando, durante o seu curso, que os parlamentares 
possuem a arte de representar diante das câmeras. Esse aspecto demandou 
consulta a outras obras, desta vez no campo da sociologia. Um autor fundamental 
11 
 
nesse processo foi o canadense Erving Goffman (2001), com sua abordagem das 
interações sociais na obra A Representação do Eu na Vida Cotidiana. 
Três entrevistas específicas foram fundamentais para esse trabalho. A 
primeira, com Rodrigo Barreto de Lucena, 44 anos, diretor de rádio e TV da ALMG, 
jornalista e há 11 anos na emissora; a segunda, com o diretor de comunicação 
institucional da ALMG e jornalista, Lúcio Perez, 46 anos e há 14 anos na instituição; 
e a terceira, embora não menos importante, com o jornalista João Carlos Amaral, 
consultor de imagem, âncora do plenário da ALMG e há 13 anos na instituição. As 
informações, observações, comentários e análises coletadas a partir da conversa 
com esses três profissionais foram essenciais ao exame das relações estabelecidas 
entre os parlamentares e a TVA. 
Paralelamente, trabalhou-se também com a aplicação de um questionário 
específico destinado aos 77 deputados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, 
e com observação de campo – esta última para detectar e registrar as ações, gestos 
e tipos variados de oratória adotados pelos parlamentares diante das câmeras da 
TVA. 
O trabalho evidenciou a existência de grande influência da TV Assembléia na 
performance e no discurso dos parlamentares, que, de fato, voltam suas ações para 
as câmeras em busca de uma representação social eficaz, capaz de convencer os 
eleitores da eficiência de suas idéias e ações. Assim, a pesquisa demonstra 
claramente que existem intenções específicas por trás de cada termo, cada 
movimento, cada entonação de voz dos deputados – um fator que não chega a 
surpreender quando se considera a capacidade da TV de edificar e propagar as 
imagens, posturas e atitudes aceitas e aprovadas por uma determinada sociedade. 
Trata-se de um fenômeno que só confirma a análise empreendida por Goffman 
(2001). Segundo ele, quando um indivíduo representa um papel para outros, tende a 
incorporar em sua performance valores reconhecidos socialmente, de maneira que 
sua atuação seja eficiente. 
A pesquisa está estruturada em seis capítulos, incluindo esta introdução – o 
primeiro deles. O segundo traça um panorama histórico da televisão, suas 
implicações no campo do jornalismo e da política, além de abordar a idéia 
sociológica de representação social. O terceiro capítulo está focado no surgimento 
das TVs legislativas, entre elas, a TV Senado, TV Câmara e TV Assembléia de 
Minas, bem como na lei que possibilitou o surgimento desses canais legislativos. 
12 
 
Trata, ainda, de discorrer sobre aspectos levantados a partir das entrevistas com 
especialistas e parlamentares, revelando, com alguma ênfase, o ponto de vista dos 
deputados sobre a televisão. No quarto capítulo, é apresentado o objeto de pesquisa 
e a metodologia de análise, com um detalhamento dos métodos escolhidos para a 
coleta e análise dos dados. Ao quinto capítulo coube a análise dos resultados da 
pesquisa, fundamentada num cuidadoso exame da performance dos deputados 
diante das câmeras, bem como das representações empreendidas e do efeito dessa 
performance sobre o desempenho do deputado no exercício do seu mandato. Por 
fim, no sexto capítulo, apresentamos as considerações finais e a conclusão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
2 – Televisão: imagem, revolução e interação 
 
O ser humano luta desde os primórdios para criar meios de receber e passar 
adiante a informação e o conhecimento. Depois da descoberta da prensa no século 
XV, do telégrafo, do rádio, do telefone e do cinema no século XIX, a TV revolucionou 
o mundo das comunicações na virada desse século. 
 
 As novidades tecnológicas se incorporavam a comunicação e os meios de 
informação se afirmavam. O homem na sua ânsia de vencer barreiras, no 
tempo e no espaço, os queria mais velozes e eficazes. É nesse processo 
que surge a televisão, com informação na sua forma mais dinâmica e 
universal: a imagem. (PATERNOSTRO, 2006, p. 20) 
 
Muito popular, já que abrange toda sociedade, a televisão é um meio de 
comunicação que transforma a vida das pessoas: “muda conceitos, forma opiniões, 
cria hábitos, inspira comportamentos, reduz distâncias, aproxima. É veículo de 
informação e entretenimento” (PATERNOSTRO, 2006, p.20). 
No Brasil, a TV ainda é um veículo muito recente, implantado pelo empresário 
Assis Chateaubriand. Desde o início de seu funcionamento no país, em 1950, a 
televisão brasileira, que herdou muitos valores do rádio, preocupou-se em veicular 
notícias. Contudo, a utilização da televisão como instrumento de informação, de 
maneira sistemática e organizada, é mais recenteainda. O primeiro telejornal 
transmitido em rede para todo país, o Jornal Nacional, da Rede Globo, é de 1969. 
Desde que passou a funcionar no Brasil, a TV é vista com um campo 
privilegiado para a difusão de idéias – uma concepção que ganhou força durante a 
ditadura militar, período em que o veículo experimentou grande desenvolvimento 
tecnológico. 
 
A partir de 1964, durante o regime militar, que a ingerência do Estado na 
indústria de televisão aumenta e muda de qualidade. As telecomunicações 
foram consideradas estratégicas na política de desenvolvimento e 
integração nacional do regime. Os militares investiram na infra-estrutura 
necessária à ampliação da abrangência da televisão e aumentaram seu 
poder de ingerência na programação (...). (HAMBURGER, 1998, p. 454) 
 
Na década de 1980, a televisão deu um salto graças à comunicação via 
satélite, fruto dos investimentos dos governos militares, e começou a ser transmitida 
por todo território nacional. A televisão “capta expressa e alimenta as angústias e 
14 
 
ambivalências” que caracterizam as mudanças sociais da época “se constituindo em 
veículo privilegiado da imaginação nacional” (HAMBURGER, 1988, p. 455). 
Na década de 1990, a relação das emissoras de televisão com o Estado 
mudou. A partir daí, a TV passou a ser um fator constituinte “de uma esfera pública 
cuja legitimidade está calcada [...] em mecanismos de mercado” (HAMBURGER, 
1988, p.459). Trata-se de um contexto no qual, segundo a autora, os “indivíduos 
telespectadores se formam em consumidores antes mesmo de cidadãos e 
constituem a unidade de referência desse mercado televisivo” (idem, p. 459). 
São aspectos que evidenciam a capacidade da TV de captar, expressar e 
atualizar “representações de uma comunidade nacional imaginária” (HAMBURGER, 
idem, p.441), embora as informações veiculadas não sejam consensuais. O veículo 
usa um repertório comum por meio do qual telespectadores completamente 
diferentes posicionam-se e situam-se uns em relação aos outros. Segundo 
Hamburger, ao tornar esse repertório comum acessível a cidadãos diversos, a TV 
oferece a possibilidade de uma integração plena – integração essa que passa 
necessariamente por uma outra capacidade da TV, que é a de mobilizar, ao mesmo 
tempo, dois dos sentidos humanos mais importantes: a audição e a visão. Por meio 
da visão, o homem estabelece a maior parte das relações com o mundo e, como 
destaca Maciel (1995), “é através do olhar que as pessoas seduzem e são 
seduzidas. É através da relação olho-no-olho que se estabelece a verdade e a 
credibilidade entre as pessoas” (MACIEL, idem, p. 15). Na televisão, onde a imagem 
é, muitas vezes, a própria notícia, o telespectador é seduzido através do olho e 
passa a acreditar naquilo que vê na tela. Na avaliação de Maciel (1995), a relação 
estabelecida pelo olhar entre o fato que é mostrado na tela e o telespectador que 
recebe a informação é quase mágica. 
Trata-se de um fato diretamente relacionado à questão da credibilidade da TV 
e da notícia que ela veicula. Para alguns autores, a “entrega” das imagens 
capturadas pelas equipes de reportagem ao telespectador, em casa, é, muitas 
vezes, o suficiente para atestar o caráter de verdade de uma notícia. 
 
O ver da televisão é muito mais poderoso do que o contar dos outros veículos 
de comunicação. O telespectador pode duvidar do que lê num jornal ou do 
que ouve no rádio, mas dificilmente vai deixar de acreditar no que ele próprio 
viu. A imagem que fascina e prende a atenção das pessoas, aliada ao som 
envolvente e emocionante, muitas vezes mostrando ao vivo os 
acontecimentos mais importantes, transforma a televisão no veículo mais 
15 
 
poderoso que já foi inventado. (...) Embora texto e imagem devam sempre 
andar juntos, um complementando o outro, a imagem é mais forte que a 
palavra. É a imagem que permanece gravada no cérebro do telespectador 
depois que a notícia já foi esquecida (MACIEL, 1995, p.16-18). 
 
Na concepção de estudiosos como Bistane e Bacellar (2005), ao transmitir 
uma imagem, que é a representação do real, a televisão transforma o telespectador 
numa espécie de testemunha – até porque, como ressaltam as autoras, um fato só 
se transforma em realidade quando as pessoas tomam conhecimento dele. Se 
ninguém toma conhecimento, esse fato fica restrito ao universo no qual ocorreu. É 
desta forma, aliás, que os meios de comunicação interferem na forma por meio da 
qual cada indivíduo percebe a realidade. 
Para se ter uma idéia dessa interferência, é pertinente relembrar a discussão 
sobre a influência da televisão desencadeada pelo último debate entre o então 
candidato à Presidência da República pelo PRN e governador de Alagoas, Fernando 
Collor de Mello e o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial 
de 1989. A edição feita para o Jornal Nacional foi criticada por jornalistas, artistas e 
telespectadores porque teria, segundo Conti (1999), beneficiado Collor, já que 
mostrava o então governador derrotando o adversário no discurso por sucessivas 
vezes. No entanto, o material editado não correspondia ao que, de fato, havia 
ocorrido no debate, quando o candidato petista respondeu a todas as questões 
colocadas, contra-argumentando. A fala de Lula, contudo, foi “cortada”. Conti lembra 
que jornalistas envolvidos na edição do primeiro compacto do debate que foi ao ar 
no jornal Hoje – elogiado, inclusive, pelo diretor da Central Globo de Jornalismo, 
Armando Nogueira – e da versão do Jornal Nacional, além dos próprios dirigentes 
do PT e telespectadores consultados pelo instituto de pesquisas Vox Populi, 
acreditavam que Collor se saiu melhor. Contudo, na condensação do Jornal 
Nacional, Lula falou sete vezes e Collor, oito. No total Lula falou 2:22 minutos. Collor 
3:34 minutos, ou seja, 1:12 minutos a mais que Lula. No resumo feito pelo Jornal 
Nacional, Collor foi o tempo todo sintético e enfático, enquanto Lula apareceu 
inseguro e trocando palavras. Porém, de acordo com Conti, é possível argumentar 
que a escolha das falas dos dois candidatos tentou refletir o conteúdo total do 
debate. “Mas é impossível argumentar que a escolha das falas dos dois candidatos 
tentou refletir o conteúdo total do debate de modo neutro e fiel: dar 1min12 a mais 
para Collor foi uma maneira clara de privilegiá-lo” (CONTI, 1999, p. 269). 
16 
 
O caso Collor é bom exemplo do poder do marketing político e, sobretudo, do 
poder da televisão nesse processo, com todo o seu poder de representação 
simbólica, tantas vezes evidenciada de maneira especial durante as campanhas 
eleitorais. Nesses casos, fica claro que a eficácia da TV está na sua capacidade de 
unir a representação simbólica com as expectativas do eleitorado (FIGUEIREDO, 
2004). 
O potencial simbólico não é, entretanto, o único elemento apreciado pelos 
estudiosos do marketing político quando o assunto é a televisão. Os recursos 
técnicos de alta qualidade tão próprios desse veículo reforçam esse potencial e 
fazem com que os políticos se tornem mais agradáveis na telinha. Não por acaso, os 
programas políticos na televisão têm se adaptado às características do meio, na 
tentativa de adequar a mensagem ao gosto dos telespectadores. Na prática, “este 
espaço permite ao cidadão comum participar indiretamente da campanha, pois os 
programas são feitos com o objetivo de despertar seu interesse e conquistar o seu 
voto” (FIGUEIREDO, 2004, p. 50). 
Bom exemplo desse fenômeno está na eleição de John Kennedy, em 1960, 
que concorria à presidência dos Estados Unidos contra Richard Nixon. Não são 
poucos os estudiosos que atribuem a vitória à TV. Tanto que, como ressalta 
Figueiredo (1986), uma comissão do Congresso norte-americano decidiu examinar o 
caso, “a fim de verificar até que ponto se aplicava a doutrina da liberdade de 
imprensa ao formidável veículo de propaganda queé a TV” (FIGUEIREDO, idem, 
p.83). Pesquisas divulgadas duas vezes por semana pelo Instituto Gallup, durante a 
campanha eleitoral, mostravam que a situação mudava minuto a minuto. “Uma coisa 
ficou patente: a decisiva influência da televisão” (FIGUEIREDO, idem, p. 83). Isso 
era evidente nas pesquisas, tanto que, quando um candidato fazia boa aparição na 
TV, inclinava-se para este a média da opinião pública. No debate decisivo, em 1960, 
o índice de telespectadores chegou a 70 milhões de pessoas. Mas Nixon levou a 
pior, porque não se apresentava bem no vídeo e não seguia as orientações de seus 
assessores de comunicação. Chegou a ponto, como lembra Figueiredo, de um 
colega de chapa advertir Nixon no sentido de melhorar a aparência, “de forma a 
desmanchar a imagem de assassino que vendia na televisão” (FIGUEIREDO, idem, 
p. 84). A eleição terminou com a apertada vitória de Kennedy com 34.221.463 votos, 
ou 49,7% do total, contra 34.108.582 votos, ou 49,6% dados a Nixon. A diferença 
mínima foi, portanto, de 0,1% (um décimo por cento) para Kennedy. Concluiu-se que 
17 
 
a oratória de cada candidato, tantas vezes veiculados pela TV, fizeram a diferença 
no momento da decisão. Ficou claro, portanto, a importância de se adequar a fala a 
cada momento, local e ocasião. 
O fenômeno televisivo que marcou a batalha eleitoral Kennedy versus Nixon 
coincide com a assimilação do potencial da TV pelos profissionais da Publicidade. 
Quando surgiu, a televisão era vista com certa timidez pelos anunciantes. Com o 
tempo – que trouxe o crescimento da produção do aparelho, a conseqüente redução 
dos preços e o aumento do número de pessoas com acesso ao equipamento, bem 
como a instalação de emissoras em vários estados – houve uma ampliação da área 
de penetração da TV. A partir daí, ela começa a atrair as agências de propaganda e 
os anunciantes. “Os anos 60 consolidam a TV no Brasil. Na disputa pelas verbas 
publicitárias, ela assume, definitivamente, o seu caráter comercial: começa a briga 
pela audiência” (PATERNOSTRO, 2006, p. 31). 
Vários estudos apontam, no entanto, para o caráter “elitizador” que marcou a 
história da TV durante muito tempo. A literatura registra que, até o início da década 
de 1990, a televisão era feita para a classe média. As classes D e E não eram 
consideradas consumidoras. Esse cenário mudou a partir do Plano Real, na década 
de 1990, após a eleição do então presidente da República, Fernando Henrique 
Cardoso (PSDB). O plano econômico aumentou o poder aquisitivo da população, 
que investiu de maneira especial na compra de eletrodomésticos. “Entre 1993 e 
1996 foram vendidos mais de dez milhões de televisores e o número de casas com 
aparelhos aumentou em 5,5 milhões, segundo pesquisa do IBGE/PNAD” (BISTANE 
E BACELLAR, 2005, p.85). 
 
2.1 - A representação 
 
Tanto o campo do Marketing Político quanto o da Publicidade evidenciam a 
capacidade da TV de construir e disseminar representações sociais, ou seja, de 
construir e disseminar as imagens e comportamentos aceitos e valorizados por uma 
determinada sociedade. A idéia de representação, aqui, está necessariamente 
ligada aos comportamentos performáticos e ao esforço das pessoas para construir 
imagens de si mesmas. Sob esse aspecto, pode ser útil recorrer à obra do sociólogo 
norte-americano Erving Goffman (2001), em um de seus trabalhos pioneiros, A 
Representação do Eu na Vida Cotidiana. 
18 
 
De acordo com Goffman, a autoconstrução se dá a partir do modo como 
alguém representa a si mesmo na presença do outro. O autor parte do pressuposto 
de que os indivíduos podem ser divididos em duas partes: o ator e o personagem. 
 
A expressividade do individuo (e, portanto, sua capacidade de dar 
impressão) parece envolver duas espécies radicalmente diferentes de 
atividade significativa: a expressão que ele transmite e a expressão que ele 
emite. [...] O indivíduo evidentemente transmite informação falsa 
intencionalmente por meio de ambos estes tipos de comunicação, o 
primeiro implicando em fraude, o segundo em dissimulação" (GOFFMAN, 
2001, p. 12). 
 
É certo, contudo, que, para Goffman, as auto-encenações apresentadas pelos 
indivíduos nos lugares mais públicos dizem tanto a respeito deles mesmos quanto 
aquelas encarnadas no espaço da intimidade. Assim, qualquer dado sobre um 
determinado sujeito (identificado via encenação ou representação) contribui para a 
descoberta de qual é a situação desse sujeito num contexto específico. 
 
A informação a respeito do individuo serve para definir a situação, tornando 
os outros capazes de conhecer antecipadamente o que ele esperará deles e 
o que dele podem esperar. Assim informados, saberão qual a melhor 
maneira de agir para dele obter uma resposta desejada (GOFFMAN, 2001, 
p. 11) 
 
A noção de personagem trabalhada por Goffman parece bastante útil a essa 
pesquisa, na medida em que ela propõe um exame da forma pela qual os deputados 
estaduais de Minas Gerais se comportam diante das câmeras da TV Assembléia e, 
ao mesmo tempo, da maneira pela qual a presença imaginária do telespectador e a 
presença física de deputados, jornalistas e cidadãos, influencia as decisões e ações 
desses parlamentares. 
O sociólogo canadense afirma, por exemplo, que as pessoas estão sempre 
procurando representar personagens ideais, de forma que possam ser aceitas pela 
sociedade. Essas representações são, portanto, guiadas a partir da relação com o 
outro. Ao representar a si mesmo, um indivíduo mostra ao outro o comportamento 
que espera dele. Nesse sentido, a forma como X trata Y está baseada nas 
impressões que X tem de Y, construídas a partir das ações e reações de Y e X 
durante a interação. 
As performances também variam conforme o lugar e o contexto. Para marcar 
o lugar das interações, Goffman trabalhou com a noção de região. O sociólogo 
19 
 
afirma que as ações do ser humano situam-se em dois tipos de regiões: as de frente 
e as de fundo. As primeiras, também designadas como oficiais, abertas ou públicas, 
são aquelas que abrigam as representações mais aparentes. São nessas regiões 
que as personagens construídas intencionalmente atuam e onde se mostram mais 
preocupadas em controlar suas ações – que estão sob a supervisão de um olhar 
alheio, atento a qualquer descuido. 
Meniconi (2005) indica que já as regiões de fundo demarcam a intimidade e 
os lugares de maior privacidade. São espaços nos quais uma pessoa convive com 
um grupo seleto de indivíduos, diante dos quais não precisa se preocupar. É onde 
ela pode relaxar e agir naturalmente. Como destaca Meniconi (2005), é nas regiões 
de fundo que o indivíduo prepara sua atuação para as regiões de frente. 
Outro ponto ressaltado por Goffman, e enfatizado por Meniconi, é o fato de 
que, durante as representações, cada sujeito acaba apresentando determinadas 
características físicas e sociais que a priori já sinalizam aos seus interlocutores o 
papel que ele deverá encenar. Ou seja, a presença de determinados objetos e o fato 
de estar num dado ambiente influenciam a atuação desse personagem. A todo esse 
conjunto de dispositivos que ajuda a criar as representações, Goffman convencionou 
chamar de “fachada”: 
 
Será conveniente denominar de fachada a parte do desempenho do 
indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de 
definir a situação para os que observam a representação. Fachada, 
portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou 
inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação 
(GOFFMAN, apud MENICONI, 2005, p. 57). 
 
Na concepção de Goffman, portanto, as fachadas – estruturas fixas e pouco 
mutáveis – nada mais são que a encenação de papéis. Assim, dificilmente cria-se 
uma nova fachada, um novo papel; ao desenvolver uma performance, o indivíduo 
seleciona, na verdade, a representaçãoque mais lhe convém. E faz isso baseado 
em princípios, crenças e valores próprios. 
 
(...) as interações cotidianas (...) são decorrentes de inúmeros fatores 
relacionados às dinâmicas culturais, sociais e econômicas que perpassam a 
sociedade. (...) As representações, antes de tudo, encarnam valores, que 
estão longe de serem práticas fixas; valores são constantemente 
apreendidos e modificados pelos sujeitos que os tomam (MENICONI, 2005, 
p. 57). 
 
20 
 
Contudo, também é certo que, quando um indivíduo representa um papel para 
outros, tende a incorporar em sua performance valores reconhecidos socialmente, 
de maneira que sua atuação seja bem sucedida. E, como acentua Goffman, “ao 
encarnar esses valores em sua representação, ele faz com que estes se perpetuem 
na sociedade” (MENICONI, 2005, p.58). Portanto, os sujeitos agem, inicialmente, 
para defender seus próprios interesses, mas acabam executando seus papéis na 
sociedade, de modo a cooperar com os demais. Na maior parte das situações, as 
pessoas acabam por se mostrar como realmente são – ainda que, em algumas 
ocasiões, exagerem em suas performances. 
Nesse sentido, as performances dos indivíduos não são apenas a extensão 
da decisão individual dos atores; elas são criadas a partir do cruzamento de 
exigências do próprio papel e de sua projeção social, construída conjuntamente com 
os outros indivíduos. Por isso mesmo, apesar de agirem sempre tendo em vista o 
maior controle possível sobre suas respectivas performances, as pessoas estão 
sujeitas a imprevistos que escapam de seu controle. Segundo Goffman, isso ocorre 
porque “as representações põem em destaque uma decisiva discrepância entre 
nosso eu demasiado humano e nosso eu socializado” (GOFFMAN apud MENICONI, 
2005, p. 61) 
Ainda sob esse aspecto, um outro ponto enfatizado por Goffman diz respeito 
à consciência que as pessoas têm da dificuldade enfrentada por cada indivíduo para 
sustentar o personagem que forja para o outro e para si mesmo. Por isso mesmo, as 
pessoas costumam buscar sinais reveladores da intimidade do outro – expressões 
das regiões de fundo, onde o indivíduo “baixa a guarda”. Desta forma, os pequenos 
detalhes que compõem as representações de um indivíduo – como os gestos, por 
exemplo – podem conferir maior credibilidade à performance desse indivíduo, mas 
também podem liquidá-la. “Além disso, mesmo que um ator consiga sustentar seu 
papel da forma que julga ser a mais conveniente, tal representação estará sempre à 
mercê das mais diversas interpretações do público” (MENICONI, 2005, p.61). 
Aqui, há, ainda, um outro aspecto acentuado por Meniconi: ela lembra que 
todo público tem, não raras vezes, a sensação de que pode estar diante de uma 
representação falsa e tomá-la como verdadeira. Na posição de membros de uma 
“platéia”, as pessoas têm, portanto, a consciência de que podem ser enganadas. 
Assim, estarão freqüentemente colocando em dúvida a veracidade das 
representações. Exatamente por isso, também estarão sempre em busca de algum 
21 
 
sinal – um gesto mal executado, por exemplo –, capaz de indicar a verdadeira 
natureza de uma performance. 
Considerando todos esses aspectos, o trabalho de pesquisa aqui proposto 
pretende examinar a influência da TV Assembléia – e do seu poder de disseminar 
diferentes representações – sobre a atuação dos parlamentares no exercício de sua 
função. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
22 
 
3 – A TV Legislativa e o exercício do mandato 
 
3.1 – História: o caso da Lei do Cabo 
 
As TVs legislativas surgiram em 1995, a partir da criação da Lei de TV a cabo, 
n° 8.977/95. Negociada entre governo, empresários e sociedade, foi a primeira lei do 
setor de telecomunicações desde o Código Brasileiro de Telecomunicações de 
1962. Segundo Rosseto (2006) a história da regulamentação da Lei de TV a cabo foi 
construída com a participação da sociedade civil – o que fez com que ela ganhasse 
grande repercussão. O processo pode ser dividido em três atos. Num primeiro 
momento, entre 1970 e 1987, tentou-se implantar algo semelhante à lei do cabo em 
vigor hoje, mas sem qualquer amparo legal. Porém, como lembra Rosseto (2006), 
existia vontade popular e de movimentos pela democratização da comunicação de 
dar início ao processo de forma diferente. Nesse sentido, havia um projeto da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, enviado ao Ministério das 
Comunicações, de montar uma estrutura de televisão segmentada na cidade 
Venâncio Aires, Rio Grande do Sul, com o objetivo de estudar a nova tecnologia de 
transmissão. Porém, o projeto foi barrado pelo Ministério das Comunicações e, 
nesse momento, ficou clara a intenção do governo de instalar o serviço sem 
qualquer discussão, de forma a não abrir espaço para concorrência. Em 1975 
entidades culturais denunciaram o projeto secreto do Ministério das Comunicações, 
para implantação de um sistema de distribuição de sinais por cabos. O Ministério 
das Comunicações tentou, ainda, por dois anos, regularizar o serviço diretamente 
com a Presidência da República por decreto, sem submetê-lo ao congresso. 
Entretanto, o governo não aceitou o pedido e se comprometeu a fazê-lo somente 
com o apoio do Congresso. Paralelamente, segundo Rosseto, o mercado continuou 
se expandindo sem amparo legal até 1988. 
Num segundo momento, começavam a ser editados os primeiros textos legais 
para o serviço. Pode-se dizer que o primeiro amparo jurídico foi o decreto 95.744, de 
23 de fevereiro de 1988, “que regulamentou, sem discussão pública, o chamado 
Serviço Especial de Televisão por Assinatura, lançando as bases da política para as 
tecnologias do UHF codificado e do satélite”. (ROSSETO, 2006, p. 4). No tocante à 
tecnologia a cabo, a portaria 143, de 21 de junho do mesmo ano, foi a primeira 
provisão legal firmada diretamente através do Ministério das Comunicações com o 
23 
 
nome de Serviço de Recepção de Sinais de TV via Satélite e sua Distribuição por 
Meios Físicos a Usuários. Um ano mais tarde, com o intuito de garantir mais 
segurança aos investidores do setor do cabo, o então ministro das Comunicações, 
Antonio Carlos Magalhães, editou a portaria 250, em substituição a 143, que instalou 
o serviço de Distribuição de Sinais de TV por Meios Físicos - DISTV –, que 
disciplinava a distribuição de sinais por meios físicos, sem a necessidade de 
utilização do espectro radioelétrico para chegar aos usuários1. 
Todavia, Rosseto lembra que o DISTV ainda não era a televisão a cabo como 
conhecemos hoje, e não durou muito para que fosse suspensa a distribuição de 
licenças para esse serviço, além de ser estabelecida, em junho de 1991 pela 
Secretaria Nacional de Comunicação2, outra portaria, a n° 051/91, transformando a 
DISTV em Serviço Especial de TV a Cabo. Contudo, essa portaria foi contestada 
durante uma audiência pública pelo Fórum Nacional pela Democratização das 
Comunicações (FNDC), liderado pelas federações dos jornalistas, trabalhadores de 
rádio e televisão, artistas e técnicos em diversão e teatro. De acordo com Rosseto, o 
Fórum acreditava que a TV a cabo, como havia sido regulamentada, não dava 
possibilidade de disputa por licitação e excluía os órgãos públicos do direito de 
exploração. 
 
O Fórum defendia que esse serviço de distribuição por cabos fosse 
regulamentado da mesma forma que a radiodifusão, passando pelo 
Congresso e se transformando em lei e baseado nos conceitos de 
desestatização, reprivatização e controle público (ROSSETO, 2006, p. 5). 
 
 
A entidade encontrou o apoio do então deputado Tilden Santiago – hoje filiado 
ao PSB, mas que, à época, pertencia ao PT de Minas Gerais –, que apresentou o 
projeto de lei nº 2.120, em outubrode 1991. O projeto para implantação da 
transmissão a cabo também incluía os canais legislativos, educativos e de acesso 
público, além da criação de um Conselho de Cabodifusão. 
Nos idos de 1993 e 1994, o mercado se organizou em oligopólios. Esses anos 
foram marcados por novidades no que tange à questão da propriedade e da 
 
1
 ABTA – Associação Brasileira de TV por assinatura. Disponível em < 
http://www.abta.com.br/site/content/panorama/historico.php> Acesso em 25/11/2008. 
 
2
 Durante o governo de Fernando Collor de Mello o Ministério das Comunicações foi transformado na Secretaria 
Nacional de Comunicação – SNC, subordinada ao Ministério da Infra-Estrutura. 
24 
 
programação, porém sem grande evolução do ponto de vista da legislação. O ano 
de 1993, especificamente, foi marcado pela criação de uma representação 
empresarial forte no mercado. “Em decorrência da entrada definitiva no negócio de 
TV paga das grandes empresas das Organizações Globo, a recém-criada Multicanal 
e o Grupo Abril, no final do ano nasceu a Associação Brasileira de Televisão por 
Assinatura” (ROSSETO, 2006, p. 5). 
Já num terceiro momento desse processo, que começou em 1995, o mercado 
brasileiro de televisão paga registrou, segundo Rosseto, o maior crescimento de 
número de assinantes da sua história: passou de 250 mil para 1 milhão, em dois 
anos. Entretanto, o grande marco dessa fase do desenvolvimento do mercado foi a 
aprovação da Lei 8.977/95, em 6 de janeiro, a chamada Lei do Cabo. É a única lei 
que rege o sistema de TV por assinatura e regulamenta a tecnologia do cabo. O fato 
não foi apenas um marco para o mercado. Foi, sobretudo, um grande exemplo de 
trabalho legislativo para a história da política brasileira, pois, na concepção de 
Rosseto, traduziu em lei um processo que contou com a participação ativa não só do 
empresariado, mas também da sociedade civil. 
Rosseto acredita, ainda, que, após as reordenações do mercado ocorridas em 
1993 e 1994, iniciou-se um período mais ou menos definido e com um quadro 
regulatório mais seguro para o cidadão. 
A lei 8.977/95 diz que a televisão a cabo é um serviço de telecomunicações, 
orientado pelas noções de rede única, rede pública e participação da sociedade. Na 
avaliação de estudiosos como Rosseto, não por acaso a disponibilização de 30% 
dos canais permanentes para terceiros, sem ligação com a operadora, é 
considerada um grande avanço. 
Ainda conforme a lei, o serviço de TV a cabo só pode ser explorado mediante 
concessão. O texto define que uma operadora pode distribuir sinais televisivos 
próprios ou de terceiros, através de redes; que uma programadora está encarregada 
da produção e/ou fornecimento de programas; que a rede de transporte é de 
responsabilidade das concessionárias de telecomunicações e que as redes locais 
pertencem às operadoras. O texto permite, ainda, o overbuilding – a existência de 
mais de uma rede de cabos em uma mesma localidade. 
Contudo, o maior avanço na lei talvez tenha sido o estabelecimento dos 
canais de acesso público. São três legislativos: um para o Senado Federal, outro 
para a Câmara dos Deputados e um terceiro, que deve ser partilhado entre as 
25 
 
Assembléias Legislativas e as Câmaras de Vereadores. Os demais canais foram 
subdividos numa estrutura educativo-cultural, para ser usado pelos órgãos que lidam 
com educação e cultura nos municípios e nos governos estaduais e federal. Há 
também um canal universitário, que fica sob a responsabilidade das universidades 
localizadas na área de prestação do serviço, além de um canal comunitário, de uso 
livre e gratuito por qualquer entidade sem fins lucrativos. Outros dois canais foram 
reservados para uso em caráter eventual, como transmissão de assembléias 
sindicais. 
Em 1997 foi sancionada a Lei Geral de Telecomunicações, nº 9.472/97, que, 
entre outros serviços, regula o DTH (abreviatura do termo inglês Direct to home, 
transmissão por satélite) e o MMDS (Serviço de Distribuição Multiponto Multicanal, 
tecnologia de telecomunicações sem fio), ratificando que ambos devem ser 
outorgados simplificadamente, sem prazo determinado e mediante autorização. De 
acordo com Rosseto, o texto foi aprovado praticamente sem discussão, num período 
de três meses, apoiado na idéia de que a lógica de mercado acarreta 
desenvolvimento. Esse texto jurídico em grande parte substitui o Código Brasileiro 
de Telecomunicações. “Diferentemente da Lei do Cabo, segundo a qual 51% do 
capital das operadoras deve estar sob controle de brasileiros natos, a Lei Geral não 
estabelece limites ao capital estrangeiro” (ROSSETO, 2006, p. 6). A única mudança 
na TV a cabo, desde então, foi a inclusão de um canal destinado ao Supremo 
Tribunal Federal em 2002. Depois disso, como lembra Rosseto, nada mais se 
produziu, relatou ou discutiu sobre a regulamentação do setor. 
 
3.2 – A TV Câmara 
 
A TV Câmara, canal aberto de televisão da Câmara dos Deputados, foi criada 
em 20 de janeiro de 1998, com o intuito de transmitir as discussões e votações do 
Plenário e das comissões, “dando maior transparência à rede de elaboração das leis 
que regem o dia-a-dia da sociedade”3. 
As sessões do Plenário são exibidas ao vivo e a TV conta com equipes de 
jornalismo que acompanham os trabalhos das comissões permanentes, Comissões 
Parlamentares de Inquérito (CPI), seminários e qualquer manifestação de interesse 
público. “A linguagem recebe especial atenção, para traduzir ao telespectador o 
 
3
 TV CÂMARA. Disponível em <http://www2.camara.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008. 
26 
 
processo legislativo e tornar a notícia e a informação claras e acessíveis”4. O canal 
tem telejornais diários que mostram os bastidores e detalham assuntos importantes 
do dia – caso da inserções intituladas Câmara Hoje e Primeira Página, além dos 
flashes ao vivo do Câmara Agora e a revista eletrônica semanal Panorama. Há 
ainda programas temáticos e de debates, que tentam ampliar a visão do 
telespectador, facilitando sua tomada de posição. São eles: Expressão Nacional, 
Personalidade, Mulheres no Parlamento, Brasil em Debate, Participação Popular, 
Palavra Aberta, Comitê de Imprensa e Ver TV. 
A TV Câmara cobre 100% do território nacional, com sinal disponível em 
redes abertas e por assinatura. Via parabólica, operadoras de TV a cabo ou, no 
Distrito Federal, em UHF, a programação está no ar 24 horas por dia. 
 
3.3 – A TV Senado 
 
A TV Senado é anterior à TV Câmara: foi criada no dia 5 de fevereiro de 
1996. Inicialmente, era transmitida apenas para assinantes de TV a cabo. Hoje, 
contudo, o canal pode ser sintonizado em todo território brasileiro. “As transmissões 
simultâneas alcançam, pelo menos, as 8 milhões de antenas parabólicas instaladas 
no país e os mais de quatro milhões de televisores com TV por assinatura”5. 
O canal faz a cobertura de todas as sessões plenárias do Senado Federal e 
da Câmara, além de reuniões das comissões permanentes, comissões 
parlamentares de inquérito, comissões especiais e comissões mistas, formadas por 
senadores e deputados, com imagens disponibilizadas também para as emissoras 
comerciais, em tempo real, via satélite. Quando não são exibidas ao vivo, as 
reuniões das comissões são gravadas e programadas para serem veiculadas nos 
intervalos que se seguem na programação do mesmo dia ou dos dias seguintes. 
De acordo com informações do site do Senado, a cobertura institucional 
resulta em diversos tipos de programas: transmissões ao vivo, íntegras de reuniões 
pré-gravadas, entrevistas e produção de especiais e programas jornalísticos. Há 
espaço, inclusive, para o campo cultural, com destaque para a música. Atualmente, 
há pelo menos três espaços fixos na programação reservados para os programasmusicais: no Espaço Cultural, são veiculadas apresentações de música popular e 
 
4
 TV CÂMARA. Disponível em <http://www2.camara.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008. 
 
5
 TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008. 
27 
 
erudita. O programa Quem tem medo da música clássica? é, segundo o site do 
Senado, “um dos maiores sucessos de público da TV Senado, é recordista em 
telefonemas e mensagens recebidas”6. Já no programa Conversa de Músico, são 
apresentadas entrevistas e curiosidades sobre instrumentos, grandes compositores 
e sobre o que pensam os profissionais dessa área. 
Ainda como parte da programação cultural, o canal apresenta o programa 
Leituras, dedicado à análise e à divulgação da literatura brasileira, com entrevistas e 
apresentação de obras lançadas no Brasil. Nos Especiais da TV Senado, são 
retratados ainda temas históricos e turísticos, além de programas educativos, que 
versam sobre a saúde, por exemplo. São documentários, debates e entrevistas 
sobre diversos assuntos. 
Entretanto, o forte da programação é mesmo a atividade legislativa. Os 
noticiários Jornal do Senado e Senado Agora, agregados aos boletins Aconteceu no 
Senado, explicam a atuação dos senadores e esclarecem os trabalhos desta Casa 
legislativa, detalhando o processo de tramitação de propostas que mudam o dia-a-
dia dos cidadãos. “Ao longo do dia, vídeos institucionais explicam a estrutura interna 
do Senado. É possível conhecer, por exemplo, o trabalho da Secretaria Geral da 
Mesa, da Biblioteca ou da própria Secretaria de Comunicação Social”7. 
 
3.4 – A TV Assembléia 
 
Poucos eleitores mineiros sabem que a Assembléia Legislativa de Minas 
Gerais foi, na verdade, a pioneira na criação de um canal do Poder Legislativo. A TV 
Assembléia de Minas (TVA) foi a primeira emissora legislativa criada após a 
publicação da Lei do Cabo. Aos 30 dias do mês de novembro de 1995 – portanto, 
antes da TV Câmara e da TV Senado – entrou em operação no canal 40, em Belo 
Horizonte, hoje canal 11. A idéia era facilitar o acompanhamento dos trabalhos da 
instituição e dos parlamentares pelos cidadãos. No primeiro ano, eram transmitidas 
duas horas e meia de programação, contendo basicamente reprises de reuniões do 
Plenário da Assembléia. 
No ano seguinte, a TVA cresce e passa a exibir 12 horas de programação, 
apresentando os primeiros programas gravados e editados. Já em 2007 essa 
 
6
 TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008. 
 
7
 TV SENADO. Disponível em <http://www.senado.gov.br/tv> Acesso em 28/10/2008 
28 
 
tendência de crescimento se firmou e a emissora passou a ter uma grade básica de 
programas – muitos produzidos em estúdio, como os debates e entrevistas 
especiais. 
Em pouco mais de um ano, em 1998, a TVA chega a todas as regiões do 
Estado, através do satélite Brasilsat B3. A partir daí são transmitidas 17 horas de 
programação diária. A grade contava com documentários e programas nas áreas do 
direito, da política e da cultura. Ainda naquele ano, a TVA faz sua primeira grande 
cobertura das eleições, “iniciando um projeto que a transforma em referência no 
jornalismo político”8. Já em 1999, o canal aumenta sua grade de programas e passa 
a ter 18 horas diárias. A essa altura, estava consolidado o processo de expansão 
para o interior do Estado. A partir de 2000, a TVA se consolida como canal 
legislativo. Nesse ano a emissora fez uma grande cobertura das eleições, o que se 
repete em 2002 e permanece até os dias de hoje. 
O sinal da TVA chega atualmente em 237 cidades9 mineiras via satélite (o sinal 
pode ser captado por antenas parabólicas) e por cabo. Pela internet, pode ser 
acessada em qualquer lugar do mundo pelo endereço eletrônico: 
http://www.almg.gov.br. A programação é constituída basicamente de transmissão 
ao vivo, no Plenário, ou seja, das veiculações das reuniões ordinárias realizadas às 
terças, quartas e quintas-feiras (com início sempre às 14 horas), e, eventualmente, 
das reuniões extraordinárias, em dias e horários alternados às reuniões ordinárias. 
Também fazem parte da grade as reuniões destinadas a debates, realizadas sempre 
às segundas-feiras, às 20 horas, e às sextas-feiras, às 9 horas, além das reuniões 
especiais para homenagens e comemorações de datas festivas. Nessa grade, o 
Plenário da casa tem prioridade de exibição ao vivo na TVA. Todas essas reuniões 
são públicas e podem ser acompanhadas das galerias (lugares reservados ao 
público para assistir às sessões) por qualquer cidadão. 
Segundo Lucena10 nunca foi realizada pesquisa especifica para medir a 
audiência da TVA. Ele explica que é muito difícil aferir isso, pois, na capital, a TV só 
pode ser sintonizada por assinante de TV a cabo. O sinal é aberto em algumas 
 
8
 TV ASSEMBLÉIA. Disponível em <http://www.almg.gov.br/index.asp?diretorio=tvalmg&arquivo=tv_historia> 
Acesso em 08/11/2008. 
 
9
 TV ASSEMBLÉIA. Disponível em < http://www.almg.gov.br/index.asp?diretorio=tvalmg&arquivo=tv_sintonia> 
Acesso em 25/11/2008. 
 
10
 LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008. Ver 
anexo D. 
29 
 
cidades do interior e aguarda autorização do Congresso para ser aberto em Belo 
Horizonte. Lucena lembra que essa audiência é muito qualificada, já que, se 
perguntados, esses telespectadores sabem identificar os programas, a programação 
e o que eles gostam ou aprovam. “Aí os resultados são muito significativos, 
favoráveis para a TV”, diz ele. 
A emissora avalia o perfil dos telespectadores da TVA por meio de pesquisas. 
Esse perfil, entretanto, varia muito de região para região e conforme a maneira pela 
qual o sinal é captado. Segundo Lucena, o público que tem acesso à programação 
pela TV a cabo é diferente daquele que a assiste pela TV aberta. Há ainda o fator da 
localização desse público: o público de uma cidade grande costuma divergir sob 
vários aspectos do público de uma cidade pequena. Dito de outra forma, o público é 
essencialmente heterogêneo, principalmente quando o sinal da TV é aberto. 
Seja qual for o público, contudo, as possibilidades de interação da TVA com 
as pessoas que garantem a sua audiência estão centradas no correio eletrônico. O 
processo se dá geralmente por e-mail. Segundo Lucena, o telespectador pode até 
ligar, mas a emissora não divulga esse canal, uma vez que ainda não possui 
estrutura adequada para atender a todos por esse meio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
30 
 
4 – Instrumentos metodológicos 
 
No regime democrático, o Poder Legislativo é o responsável pela 
representação popular e é nele que se encontra espaço para as negociações 
políticas e manifestações sociais do país. Além disso, o Parlamento se propõe a dar 
voz ao povo. Nesse sentido, é importante conhecer a estrutura, abrangência e 
eficácia da TVA – principal veículo de comunicação da ALMG. O canal foi criado 
para democratizar e ampliar o acesso ao cotidiano do Poder Legislativo, dando mais 
transparência às atividades dos deputados e facilitando o acompanhamento dos 
trabalhos legislativos pela sociedade. 
É fato, contudo, que os parlamentares, como qualquer pessoa que se vê 
diante das câmeras de uma TV, estabelecem uma relação com o veículo que, não 
raras vezes, resulta na representação – não no sentido pejorativo, ligado, por 
exemplo, à dissimulação, mas no sentido social proposto por Erving Goffman (2001), 
para quem a representação faz parte das interações sociais, podendo facilitar o 
processo de comunicação e contribuir para a redução da áreade conflito. 
Este trabalho mostra como os deputados voltam suas ações para as câmeras 
quando estão em plenário – e não apenas para os outros deputados e cidadãos 
presentes –, e os motivos que os levam a se comportar dessa maneira. A partir do 
exame desse comportamento, pretende verificar se a TV, com seu potencial de 
comunicação, afeta a qualidade do mandato político, tantas vezes refletida na 
performance e no discurso dos parlamentares no exercício de sua função – os dois 
principais elementos aqui analisados. 
Parece pertinente, sob esse aspecto, examinar o tipo de relação estabelecida 
entre o deputado e seu eleitorado através da TVA. Para isso, tentou-se responder a 
três questões básicas, que parecem relevantes: o fato de prometer, defender ou 
repudiar determinado tema ou ação em frente às câmeras compromete o 
parlamentar do ponto de vista do eleitor? A TV, embora instrumento proporcionador 
da divulgação do trabalho do parlamentar, também funciona como instrumento de 
fiscalização do trabalho desse parlamentar? Como se dá esse processo? 
Para tentar entender essa dinâmica entre os parlamentares e a TVA, foi 
empreendida ampla pesquisa bibliográfica sobre a história da comunicação, assim 
como a história da televisão no Brasil, do ponto de vista técnico, mas também 
político. Recorreu-se, ainda, aos manuais de redação e estilo em TV, bem como a 
31 
 
obras que trabalham o conceito de imagem e suas implicações na televisão. 
Episódios específicos, que envolvem TV e política, foram reexaminados: caso da 
eleição do ex-presidente Fernando Collor sob grande influência da Rede Globo de 
Televisão, como apontam vários estudiosos, com destaque para Mario Sergio Conti 
(1999), e do ex-presidente norte-americano Richard Nixon, que perdeu as eleições 
para John Kennedy, também sob a influência do veículo, como registra o estudo 
clássico de Ney Lima Figueiredo (1986). A pesquisa também inclui dados coletados 
em obras e em entrevistas sobre a história das TVs legislativas, com destaque para 
o processo que possibilitou a existência desse tipo de canal. 
Para entender o fator representação, foi de fundamental importância o estudo 
das interações sociais, o que se deu a partir da leitura da obra do sociólogo 
canadense, Erving Goffman (2001), A Representação do Eu na Vida Cotidiana. 
Num segundo momento, recorreu-se a entrevistas específicas com três 
personagens considerados essenciais à análise aqui pretendida. Trata-se de 
Rodrigo Barreto de Lucena, 44 anos, diretor de rádio e TV da ALMG, jornalista e há 
11 anos na emissora; o diretor de comunicação institucional da ALMG e jornalista, 
Lúcio Perez, 46 anos e há 14 anos na instituição; e João Carlos Amaral, jornalista, 
consultor de imagem, âncora do plenário da ALMG e há 13 anos na instituição. 
Optou-se pela entrevista semi-estruturada – um dos modelos apresentados por Tim 
May (2004), na obra Pesquisa Social: Questões, métodos e processos –, na qual “as 
perguntas são normalmente especificadas, mas o entrevistador está mais livre para 
ir além das respostas” (MAY, 2004, p. 148). Esse tipo de método permite ao 
entrevistador buscar mais esclarecimentos ou maior elaboração das respostas por 
parte do entrevistado, além de possibilitar o registro de informação qualitativa sobre 
o assunto abordado. Como ressalta May, esse tipo de entrevista permite, ainda, que 
as pessoas respondam em seus próprios termos, fornecendo ao pesquisador uma 
boa estrutura de comparabilidade. 
O terceiro passo – concentrado na tentativa de avaliar se a TVA pode ser útil 
ao desempenho de um mandato – constituiu-se na construção de um quadro com 
algumas categorias de análise centradas no cruzamento de dois fatores-chave: de 
um lado, os elementos que, a rigor, seriam capazes de assegurar a um parlamentar 
um mandato positivo. De outro, a capacidade ou não do canal legislativo de 
proporcionar esses elementos (ver ANEXO A). Para a indagação “O que garante um 
32 
 
bom mandato?” foram pontuados, aleatoriamente11, os seguintes itens: Recursos 
Financeiros (orçamento); pessoas qualificadas na equipe (gabinete); bom trânsito na 
imprensa; divulgação do trabalho na mídia; contato com o eleitorado; prestação de 
contas ao eleitorado; bom diálogo com outros parlamentares e representantes dos 
governos (municipal, estadual e federal); boa equipe de comunicação; boa imagem 
pessoal. 
Paralelamente, foi elaborado um questionário específico para os 77 
deputados da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O material, encaminhado a 
todos os parlamentares, é constituído de perguntas também fundamentadas na 
concepção de May (2004) sobre esse método de pesquisa. Optou-se, desta vez, 
pela entrevista estruturada. Nessa modalidade, a mesma pergunta é feita a cada 
pessoa da mesma maneira, “de modo que quaisquer diferenças entre as respostas 
são consideradas reais e não resultado da situação da entrevista” (MAY, idem, p. 
146). Assim, segundo o pesquisador, o papel do entrevistador é neutro, já que as 
regras para conduzir essas entrevistas são a padronização. May considera que esse 
método também permite a comparabilidade entre as respostas, uma vez que baseia-
se em uma estrutura uniforme. 
Tabulamos as respostas dos deputados num quadro analítico (ver ANEXO B), 
que considera todos os pontos abordados pelo questionário: o potencial da TVA; a 
importância da TVA; o zelo pela imagem pessoal; a percepção da reação do eleitor; 
a percepção do retorno dos cidadãos; a avaliação do retorno (positivo ou negativo); 
a existência ou não de eventuais riscos à imagem; a percepção de estar sendo 
fiscalizado ou não por meio da TVA; divergência de comportamento antes e depois 
do advento da TVA; e os efeitos da TVA na maneira de ser e de agir como 
parlamentar. 
Embora o questionário aplicado aos deputados possua questões abertas, 
dicotômicas, de múltipla escolha e de estimação12, optou-se, aqui, pela restrição das 
respostas ao sim e ao não, de maneira a simplificar a tabulação para a análise. 
Assim, se um deputado, ao dar sua resposta, demonstrou uma avaliação pelo 
menos “mediana” do tema abordado (portanto, uma resposta que pode ser 
 
11
 Os parâmetros foram escolhidos aleatoriamente, considerando a experiência política acumulada pelo autor, 
que convive no meio político há 09 anos, tendo sido, inclusive, candidato a vereador pelo PL nas eleições 
municipais de 2004 e pelo PHS nas eleições de 2008. 
 
12
 Segundo Lakatos e Marconi, as perguntas de estimação ou avaliação são aquelas que permitem “emitir um 
julgamento através de uma escala de vários graus de intensidade para um mesmo item” (1999, p. 105) 
33 
 
considerada mais ou menos positiva, mas nunca negativa), optou-se pela inserção 
da opção “sim” no quadro analítico. Em contrapartida, as respostas entendidas como 
avaliação negativa resultaram na inserção do “não”. Em ambos os casos, contudo, a 
opção pelo sim ou pelo não foi influenciada pelas respostas dadas pelo parlamentar 
nas questões abertas. 
Outro instrumento de pesquisa foi a observação dos parlamentares (das 
ações, gestos e oratória) diante das câmeras da TVA, realizada nos dias 19 e 20 de 
novembro de 200813. Tal instrumento se fez necessário diante da percepção de que 
um deputado trabalha, concomitantemente, com pelo menos três “enquadramentos 
interacionais” (MENICONI, 2005, p. 4) enquanto discursa no plenário: as interações 
com outros deputados; com as pessoas nas galerias, visitantes que têm livre acesso 
para assistir às sessões plenárias; e com o público telespectador. Assim, procurou-
se examinar, aqui, a performance dos deputados em frente às câmeras da TVA em 
três momentos: a) o discurso na tribuna; b) interação com outros parlamentares; c) 
interação com público e galerias. Para empreender essa análise, parâmetros 
específicos deobservação foram adotados: (1) gestos (naturais ou teatrais?); (2) 
vocabulário (simples ou rebuscado?); (3) tom de voz (normal ou teatral?); (4) 
conteúdo (comenta o que é de interesse de quem? A partir daí, defende ou ataca?); 
(5) interação com outros deputados (normal ou teatral?); (6) assunto da reunião; (7) 
Situação do plenário (cheio, vazio ou quase vazio); (8) fase do discurso14 (nas 
reuniões discursos podem ser feitos em três momentos: na fase de oradores, num 
aparte15 ou no fim da reunião, usando o artigo 7016); (9) observações. 
 
 
 
13
 Os dados e o quadro analítico estão no ANEXO C. 
 
14
 Na ordem do dia há reuniões ordinárias e, eventualmente, reuniões extraordinárias. As reuniões são dividas 
em duas partes e cada uma delas subdivida em duas fases. A primeira fase da primeira parte é chamada de 
Expediente e dura 15 minutos. Aqui, ocorrem a leitura e a aprovação da ata da reunião anterior, além da leitura 
da correspondência. A segunda parte, chamada de Grande Expediente, tem duração de uma hora, quando são 
feitas apresentações de proposições e discursos dos oradores inscritos. Já na segunda parte, a primeira fase 
pode durar até uma hora e serve para comunicações da presidência e apreciação de pareceres e requerimentos. 
A segunda fase pode durar até duas horas e 15 minutos, quando são discutidos e votados os projetos de lei. 
 
15
 Ocasião em que um deputado pede a palavra durante o discurso de outro deputado na tribuna. 
 
16
 Artigo 70 - Segundo o artigo 70 do Regimento Interno, será facultado ao líder, em caráter excepcional, usar da 
palavra pelo tempo que o Presidente da Assembléia prefixar, a fim de tratar de assunto relevante e urgente ou 
responder a crítica dirigida à Bancada ou ao Bloco Parlamentar a que pertença. O parágrafo 1° estipula que, 
quando o líder não puder ocupar a tribuna, poderá transferir a palavra a um dos seus vice-líderes ou a qualquer 
de seus liderados. O parágrafo 2° determina que a palavra somente será concedida, em ambas as fases da 
Ordem do Dia, depois de discutidas ou votadas as matérias nelas constantes. Em suma, é um artifício que os 
deputados usam para falar depois da chamada da fase dos oradores, ao final da votação. 
34 
 
4.1 – TVA: a dinâmica interacional 
 
Mesmo antes de 1995, ano de inauguração da TVA, a Assembléia Legislativa 
de Minas Gerais já guardava alguma afinidade com os processos de gravação para 
TV. Na época, era produzido o Assembléia Informa, um boletim de dois minutos 
veiculado na mídia. Assim, já havia alguma experiência por parte dos deputados, 
pois eles sabiam que determinadas reuniões estavam sendo filmadas. A partir daí, o 
comportamento adotado pelos parlamentares começava a se modificar. Rodrigo 
Barreto de Lucena, jornalista, diretor de Rádio e TV da ALMG e há 15 anos na Casa, 
conta que as reuniões transcorriam de forma diferente antes do advento das 
câmeras. “Eu me recordo de muitas reuniões: de como era a postura, de ver 
deputado, por exemplo, mais relaxado na mesa, grupinhos conversando – situações 
que hoje são evitadas na presença da TV. Com a TV, eles se cuidam um pouco 
mais, inclusive na forma de se expressar”17, diz. João Carlos Amaral, jornalista, 
consultor de imagem e âncora da TVA há 13 anos, concorda: “É claro que a TV 
altera o comportamento de todos nós. Você sabe que está captando som e imagem 
para milhares de pessoas ou para um segmento específico”18. 
Antes do início das transmissões da TVA, o deputado discursava na tribuna e 
sua fala apenas entrava nos anais da ALMG, além de ser publicada no Diário do 
Oficial. Esporadicamente, os discursos ganhavam alguma divulgação na mídia. 
Hoje, além de entrar nos anais da Casa, a cobertura dos trabalhos dos 
parlamentares pela TVA é constante. É possível ver os deputados constantemente 
no plenário e nas comissões cujas reuniões são transmitidas ao vivo e repetidas em 
horários alternativos. 
 
Hoje os parlamentares chegam ao interior antes de chegarem fisicamente. 
Eles chegam pela TV. Isso é um novo universo que exige de cada ator, de 
cada participante, nós como âncoras, repórteres, analistas, comentaristas e 
também dos parlamentes, novos procedimentos, posturas, gestos, roupas, 
entender que a câmera é o olho do telespectador. Falar para a lente da 
câmera para olhar no olho de quem está em casa assistindo (AMARAL, 
2008, anexo E) 
 
 
17
 LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008, ver 
anexo D 
 
18
 AMARAL, João Carlos. Jornalista, consultor de imagem e âncora do plenário da ALMG. Entrevista concedida 
em outubro de 2008, ver anexo E 
35 
 
Essa revolução na comunicação entre o parlamento e a população alterou, 
segundo Amaral, o comportamento não só dos deputados, mas também dos 
profissionais que cobrem a Casa Legislativa. O comportamento no plenário hoje é 
adequado às necessidades impostas pelo veículo. Para Amaral, a TVA é uma 
ferramenta importante no exercício da democracia, uma vez que todo o movimento 
nos plenários e nas comissões é transmitido ao vivo e sem edição. 
Lúcio Pérez, jornalista, diretor de comunicação institucional da ALMG e há 14 
anos na instituição, também acredita que a TVA provocou grandes mudanças no 
parlamento. Para ele, num primeiro cenário, o trabalho das comissões permanentes 
ganhou mais importância, mais presença dos parlamentares e mais participação de 
convidados com a emissora, uma vez que tudo é filmado. Num segundo cenário, 
segundo Pérez, a participação dos deputados na tribuna para fazer 
pronunciamentos ou revelar posicionamentos durante o processo de votação 
também foi valorizada. Para o diretor de comunicação, esse é um aspecto 
extremamente importante, uma vez que, “por causa da visibilidade que a TV 
começou a dar às atividades do Legislativo, os deputados, internamente, passaram 
a dar mais importância à qualidade dos trabalhos das comissões e do plenário”19. 
Para Pérez, a introdução da TVA no cotidiano dos deputados modificou um 
conjunto de hábitos. Eles passaram a dar mais importância à aparência, às roupas e 
ao modo de se expressarem. Essa percepção e as mudanças decorrentes dessa 
percepção se deram gradualmente. “Os deputados que perceberam isso mais 
rapidamente começaram a se preparar melhor para falar para uma câmera de TV, a 
procurar ocupar mais a tribuna para aparecer mais, a usar um terno que não 
atrapalhe a imagem na TV” (PÉREZ, 2008, anexo F). A preocupação com a TV hoje 
é tamanha que, quando um há uma reunião no interior, por exemplo, ela só começa 
com a presença da equipe da emissora. Outro exemplo, segundo Perez, é que, há 
14 anos, poucos eram os deputados que tinham um assessor de imprensa 
contratado. Hoje isso mudou radicalmente e uma ampla maioria tem. “Essa é a 
questão da imagem do deputado: cada vez mais, ele tem consciência que a imagem 
pesa muito na vida política junto ao eleitorado e nas cidades”, afirma Perez, em 
entrevista. 
 
19
 PEREZ, Lúcio. Jornalista e diretor de comunicação institucional da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 
2008, ver anexo F. 
36 
 
De acordo com Lucena, atualmente muitos deputados sabem aproveitar bem 
o potencial da TVA. Por isso mesmo, eles se preparam, fazem cursos e buscam 
alternativas para melhorar seus respectivos desempenhos no veículo. Embora 
alguns deputados invistam menos na própria imagem que outros, eles são unânimes 
ao afirmar que a TVA tem grande potencial e importância. Sávio Souza Cruz 
deputado estadual eleito pela primeira vez em 1999 pelo PSB e hoje no PMDB, 
acredita que o potencial da TVA deveria ser ampliado e acha positivo que as 
pessoas, através da emissora, tenham oportunidadede conferir se o trabalho dos 
deputados nos quais votaram corresponde à expectativa delas. Padre João, 
deputado estadual eleito pelo PT em 2003 e 2007, afirma que a TVA aprimora o 
exercício da cidadania e dá transparência aos trabalhos. Já o deputado João Leite, 
eleito pelo PSDB pela primeira vez em 1995, ano de fundação da TVA, gostaria que 
a TVA fosse mais assistida, de forma que os cidadãos fiscalizassem ainda mais o 
trabalho dos deputados. Nesse sentido, ele ressalta a importância desse canal para 
o eleitor que deseja checar se os parlamentares realmente cumprem o papel que 
lhes cabe num regime democrático. Jayro Lessa eleito pelo PFL (atual DEM) em 
2003 e reeleito em 2007, acredita que a TVA é um importante canal de 
comunicação, tanto para o parlamentar quanto para o cidadão, ainda que o canal 
não tenha grande audiência e ainda que a cultura de participar da política ainda não 
tenha se disseminado de forma eficaz. Eleito pela primeira vez em 1987 pelo PP e 
atualmente no PDT, o deputado Sebastião Helvécio afirma que a TVA ajuda “na 
formação do ideário coletivo do Legislativo, na medida em que informa e forma 
consciência do papel representativo na democracia”20. Já o deputado Getúlio Neiva, 
eleito pelo PMDB em 2007, acredita que o veículo oferece chance de expor as idéias 
e de defender os interesses do povo de forma transparente. Segundo ele, “a imagem 
não mente”. Também atenta aos interesses da população, Elisa Costa (PT) afirma 
que a TVA é um canal quase exclusivo de comunicação entre os deputados e a 
população. “Muitas vezes o deputado, como no caso de Minas Gerais, quando é de 
oposição ao governo do Estado, nem aparece nos jornais locais”, afirma ela. 
Lucena acredita que cada deputado carrega um determinado senso midiático 
em sua cultura – maior ou menor, dependendo da história pessoal e do jeito de fazer 
política de cada um. Deputados que trabalham nos bastidores, com partidos, com 
comunidades, com as cidades do interior, outros agentes políticos, que se dedicam 
 
20
 Todas as falas de deputados foram retiradas do questionário respondidos pelos parlamentares. 
37 
 
ao trabalho essencialmente comunitário, não são, segundo Lucena, deputados de 
muita expressão de mídia. Por outro lado, há aqueles de talento especial para 
usufruir da mídia. O diretor da TVA conta que, certa vez, um deputado, observando 
a desenvoltura com a qual alguns parlamentares de legendas progressistas lidavam 
com a mídia, perguntou a ele: “Olha eu estava querendo arrumar um jeito, soluções 
para a gente participar mais da TV, porque o que a gente percebe é que o pessoal 
do PT, que foi um pessoal basicamente criado em cima de palanque, de carro de 
som, têm mais facilidade para essa coisa de televisão e nós não temos”21. 
A julgar pelo relato acima, tudo indica que os próprios deputados percebiam 
as diferenças entre si no que se refere à cultura midiática. É fato, contudo, que isso 
independe de partidos ou plataformas políticas. Segundo Lucena, muitos deputados 
hoje conhecem profundamente as técnicas de edição de TV. “Tem deputado que 
fala até com a pausa para facilitar a edição”, conta ele, em entrevista. 
Mesmo com o domínio das técnicas, os deputados ainda têm que lidar com a 
particularidade das transmissões ao vivo. Eventualmente, os parlamentares têm que 
se posicionar a favor de um projeto que pode não ser tão popular, mas que talvez 
seja de interesse do governo, por exemplo. “Temos um volume de transmissões ao 
vivo muito grande e, ali, aparecem as verdades e as mentiras. Diante disso, elas 
servem tanto para o bem quanto para o mal”, afirma Lucena. 
Outro importante elemento característico da TVA é possibilidade de 
fiscalização que ela proporciona. Lucena acredita que essa fiscalização existe por 
parte do eleitor, embora não considere o processo simples. Para fiscalizar de forma 
eficaz por meio da emissora, o cidadão teria que acompanhar todas as comissões, 
observar o envolvimento do deputado, as posições manifestadas por ele sobre 
determinado projeto, como ele defende uma idéia e não uma outra, como se 
posiciona em relação à política nacional, se ele pertence à oposição ou à situação 
em relação ao governo, o que está fazendo, o que está apoiando. “São inúmeras 
informações que o eleitor precisaria estar acompanhando para conseguir fazer essa 
avaliação”, avalia o diretor da TVA. Por outro lado, Lucena acredita que o eleitor que 
acompanha as transmissões ao vivo é capaz de perceber elementos muito 
importantes para essa fiscalização. Pode observar, entre outros itens, o 
posicionamento do parlamentar: se ele está defendo ou não uma posição que 
 
 
21
 LUCENA, Rodrigo Barreto de. Diretor de rádio e TV da ALMG. Entrevista concedida em outubro de 2008, ver 
anexoD 
38 
 
outrora tenha criticado, por exemplo. “As transmissões são absolutamente 
transparentes, não tem nenhum efeito de corte, de censura, de absolutamente 
nada”, argumenta. 
Alguns deputados, no entanto, não se sentem fiscalizados. Ao responder à 
pergunta V.Exa. se sente (ou já se sentiu) fiscalizado pela TVA?, oito dos dez 
deputados estaduais que se dispuseram a responder os questionários aplicados, 
responderam não. Já os deputados Jayro Lessa e Sávio Souza Cruz afirmaram que 
se sentem fiscalizados. Lessa diz que a TVA expõe o trabalho dos parlamentares e 
que isso “também é um tipo de cobrança, uma maneira de fiscalizar e de prestar 
contas das ações do legislativo”. Cruz, por sua vez, afirma que é “expectativa de 
todo deputado que isso aconteça. Acompanhar, fiscalizar o mandato de quem se 
elegeu é direito e dever do cidadão”. 
Questionados sobre a adoção, por parte dos parlamentares, de 
comportamentos distintos antes e depois do advento da TVA, os deputados 
divergem bastante. Dos dez parlamentares que se manifestaram, quatro 
responderam que sim, que novos comportamentos foram adotados em função da 
TVA, contra cinco que responderam que não. Um deles preferiu não responder. 
Quando a pergunta é se o contato com a TVA provoca mudanças em seu “jeito de 
ser”, também não há consenso, embora exista uma ligeira vantagem para o conjunto 
daqueles que disseram não: são seis respostas negativas e quatro positivas. Apenas 
Elisa Costa e Sebastião Helvécio foram coerentes ao dar resposta positiva aos dois 
últimos questionamentos. Elisa Costa, por exemplo, lembra que não havia 
exposição, ao vivo, do que ocorria nas reuniões do Plenário e das comissões e que 
a TV exigiu do deputado um preparo para que o telespectador compreenda o que se 
quer dizer ali. “É inegável que a exposição ao vivo de um deputado, mostrando a 
declaração dele e seu posicionamento perante assuntos de interesse dos cidadãos, 
exige uma postura diferente de antigamente”, diz ela, em entrevista. Sebastião 
Helvécio, por sua vez, argumenta que “a exposição pública demanda maior cuidado 
no preparo de pareceres, de forma que eles possam ser compreendidos pela mídia”. 
Nesse sentido, o deputado acredita que é importante tentar, sempre que possível, 
“pedagogizar o sentido técnico de um parecer, com o objetivo de aproximar o 
telespectador da construção do processo legislativo”. 
Os deputados Délio Malheiros (PV), Jayro Lessa (DEM), João Leite (PSDB) e 
Sávio Souza Cruz (PMDB) responderam não aos dois questionamentos. Délio 
39 
 
Malheiros afirma que as atividades parlamentares sempre foram de conhecimento 
público. “Sou a mesma pessoa por onde quer que eu ande”, assegura, em resposta. 
João Leite também acredita que os deputados não mudaram o comportamento 
depois que surgiu a TVA. Ressalta, contudo, que “alguns deles possuem mais 
atenção e rigor no falar, outros procuram falar mais do que o habitual, para ficarem 
mais expostos aos telespectadores”. A exemplo de Malheiros,

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