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NAVES, Márcio Bilharinho - Direito, Circulação Mercantil e Luta Social

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NAVES, Márcio Bilharinho. (2004) Direito, Circulação Mercantil e Luta Social. Alaôr Caffé ALVES (org.). Direito, Sociedade e Economia – leituras marxistas. Barueri: Manole
[o texto mostra que é na transição de uma sociedade pré-capitalista para uma sociedade burguesa que nascem os ideais jurídicos da liberdade e igualdade.]
{da perspectiva marxista, como a estrutura determina a super-estrutura, interpreto o texto como a tentativa de mostrar a liberdade e igualdade como produtos super-estruturais de uma mudança do modo de produção}
O texto irá mostrar a relação existente entre o surgimento das categorias jurídicas liberdade e igualdade e a constituição da sociedade burguesa. Por fim, analisaremos as conseqüências dessa relação.
O nascimento da sociedade burguesa e a necessidade das categorias jurídicas liberdade e igualdade.
O duplo sentido do “homem livre”.
O homem livre é fundamental para a existência de uma sociedade burguesa. Isso porque o capitalismo requer pessoas que não sejam proprietárias dos meios de produção, mas que sejam donas da própria mão-de-obra, podendo, portanto, negociá-la.
“a força de trabalho como mercadoria só pode aparecer no mercado à medida que e porque ela é oferecida à venda ou é vendida como mercadoria por seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é força de trabalho. Para que seu possuidor venda-a como mercadoria ele deve dispor dela, ser, portanto, livre proprietário de sua capacidade de trabalho, de sua pessoa. Ele e o possuidor de dinheiro se encontram no mercado e entram em relação um com o outro como possuidores de mercadorias iguais por origem só se diferenciando por um ser comprador e o outro, vendedor, sendo portanto ambos pessoas juridicamente iguais.
	Para transformar dinheiro em capital, o possuidor de dinheiro precisa encontrar, portanto, o trabalhador livre no mercado de mercadorias, livre no duplo sentido de que ele dispõe, como pessoa livre, de sua força de trabalho como sua mercadoria, e de ele, por outro lado, não tem outras mercadorias para vender, solto e solteiro, livre de todas as coisas necessárias à realização de sua força de trabalho.”
MARX, Karl – O Capital
As sociedades pré-burguesas (feudalismo).
Nas sociedades pré-burguesas a dominação de classe é feita por meios de coerção extra-econômicos por parte da classe dominante. Haviam vínculos de subordinação pessoal, que davam conta da dominação. Não se falava em liberdade e igualdade entre os homens, mesmo porque a dominação pela coerção não precisava dessas ideias que o capitalista precisa, através do mercado, para dominar.
Capital (estrutura) e liberdade/igualdade (super-estrutura). De repente, direito!
Com o desenvolver do capitalismo vai surgindo a idéia da liberdade e igualdade como inerentes ao ser humano.
Mas, como assim? No sistema anterior a classe dominada é coagida, de repente todo mundo tem direito à liberdade e igualdade? Eis o ponto: transformar todo e qualquer homem num sujeito de direito é reconhecer sua capacidade. Capacidade do que? De celebrar todos os atos da vida civil, inclusive... celebrar contratos!
“a liberdade do homem é o seu livre consentimento: o momento mais elevado de realização da liberdade é o momento em que o homem manifesta sua vontade de dispor de si mesmo por tempo determinado através de uma troca de equivalentes.”
“o direito para respeitar e tornar real a faculdade de alienação de si mesmo que é reconhecida a toda a pessoa física deve pôr a pessoa humana em termos de propriedade. A estrutura mesma do sujeito de direito é tão somente a expressão jurídica da comercialização do homem”.
EDELMAN, Bernard
“o capitalismo exige a presença do homem livre, que possa vender a sua força de trabalho, porque ele se funda numa relação de assalariamento e não na coerção direta sobre o trabalhador.”
A transição das sociedades pré-burguesas para o capitalismo. A classe dominada durante o período da acumulação primitiva do capital.
Através da experiência histórica descrita por Marx, o autor mostra como o desenvolvimento do capitalismo vai implantando o status jurídico da liberdade e igualdade. Daí a afirmativa do autor de que “na origem do capitalismo, o trabalhador é obrigado a ser livre” e a citação aO Capital em que Marx diz que no processo da acumulação primitiva as pessoas “são forçadas a se venderem voluntariamente”.
O experiência histórica dada por Marx diz que com a decadência do feudalismo os trabalhadores são expulsos da terra e só podendo vender a mão-de-obra deparam-se com um estatuto de 1527 do rei Eduardo VI da Inglaterra que proíbe a vadiagem. Assim, quem não estivesse vendendo sua força produtiva iria sofrer a punição de... tornar-se escravo!
“o indivíduo, para ser livre, se transforma em escravo, ou seja, a pessoa não tem a opção de não ser livre; o capital obriga o trabalhador a ser livre, isto é, o capital disciplina esse trabalhador para que ele reconheça a sua própria liberdade.”
Também é no período do surgimento da sociedade burguesa que os sistemas prisionais são desenvolvidos.
Interesses do capital escondidos atrás do Direito.
A liberdade e a igualdade são ideologias que não permitem que o trabalhador perceba a exploração que lhe é exercida. Como sua força de trabalho é mercadoria e consegue ser valorada pelo dinheiro, parece que não há injustiça na relação de trabalho, posto que a mais-valia passa despercebida.
“as categorias de direito impedem que as determinações do capital sejam visíveis. O trabalhador não identifica, não reconhece a exploração do capital, justamente porque ele vive imerso no campo imaginário da sua liberdade, da liberdade e da igualdade burguesas. A exploração capitalista é encoberta pelo efeito ilusório do direito: a extração de mais-valia, no processo de produção capitalista é encoberta pela relação jurídica de compra e venda a que se submetem, por sua livre vontade, dois sujeitos de direito formalmente iguais.” 
Liberdade e Igualdade: conseqüências da penetração da ideologia jurídica burguesa no seio do próprio movimento dos trabalhadores.
A classe dominada, ou seja, a classe trabalhadora é a única que pode dar cabo das relações de produção nos moldes do capitalismo. Contudo, o poder da ideologia jurídica da liberdade e da igualdade é tão forte que, ao invés de lutar contra o sistema explorador, o movimento obreiro é seduzido pelo programa burguês, pautando suas reivindicações na liberdade e igualdade que, como vimos, faz parte do domínio burguês.
“a classe trabalhadora não pode exprimir plenamente a própria condição de vida na ilusão jurídica da burguesia. Só pode conhecer plenamente essa mesma condição de vida se enxergar a realidade das coisas sem as coloridas lentes jurídicas.”
ENGELS e KAUTSKY – O Socialismo Jurídico
Legalização da classe operária.
Quando a classe operária se legaliza, ou seja, entra dentro do sistema jurídico, ela perde sua capacidade de ser um agente de mudança. Isso porque só entra no sistema jurídico quem é capaz de se adequar a alguns critérios. Ou seja, sendo o Direito um instrumento de dominação, ele não é um instrumento que viabilize a luta da classe operária contra a exploração do capital.
A greve legal.
“Uma greve só é admitida pela ordem legal – ela só é um direito – quando se limita a reivindicações profissionais; a greve é inadmissível pela ordem legal – ela não é um direito – quando ela se torna política, e ela se torna política quando desorganiza a produção, quando ela interrompe o processo de valorização, passando a questionar, assim, a própria exploração do trabalho.”
 
A ideologia jurídica dissolve o potencial político da classe operária, permitindo e incentivando somente a representação atomizada da sociedade.
“A ideologia jurídica burguesa circunscreve a greve ao domínio da sociedade civil, ao espaço das reivindicações profissionais, no qual se manifestam os sujeitos de direito, o patrão e o empregado, em torno do contrato de trabalho que celebraramcomo pessoas livres e iguais. Quando os trabalhadores questionam a própria organização da produção, o próprio poder do capital, eles se erigem em um contrapoder, eles fazem política. Ora, diz a ideologia jurídica burguesa, a política é o espaço reservado à manifestação dos cidadãos na esfera do Estado, o espaço no qual se exprime a vontade geral dos cidadãos, não é o espaço dos interesses particulares dos indivíduos, que, enquanto tais, habitam o espaço conflituoso da sociedade civil. Assim, se o operário quiser se manifestar politicamente, ele deve se despir de sua condição de trabalhador, e, como indivíduo-cidadão, por meio do processo eleitoral e do sistema de partidos, se elevar até a esfera do Estado, a esfera pública, onde se compõe a vontade feral e se realiza o bem comum. Isso significa que a ideologia procura dissolver a condição operária, produzindo uma representação atomizada da sociedade na qual o próprio conceito de classe se torna desprovido de sentido, e, assim, busca anular a potencialidade contestadora das formas próprias de luta dos trabalhadores conduzindo-os à resignação e à passividade.
Vejam que esse deslocamento acaba provocando a negação da própria luta de classes, ou seja, a luta de classes é expulsa do seu próprio território, é diluída, é transformada em outra coisa, no contrário dela, que é a representação política burguesa, a representação da cidadania. Esses efeitos da liberdade, da igualdade, das categorias jurídicas, da ideologia jurídica, são formas de intervenção da classe dominante na luta de classes. [...] o conhecimento dos mecanismos de funcionamento da ideologia jurídica, do movimento complexo e sutil das categorias da liberdade e da igualdade burguesas, é condição essencial para que as massas trabalhadoras possam formular uma estratégia que permita a ultrapassagem efetiva do domínio do capital.”
Novembro de 2010

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