Buscar

Carga Tributária e Transparência no Brasil

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

15/02/2005 
CARGA TRIBUTÁRIA E TRANSPARÊNCIA 
HUGO DE BRITO MACHADO 
 Advogado, Professor Titular de Direito Tributário da 
Universidade Federal do Ceará e Desembargador 
 Federal do Tribunal Regional Federal da 
5.ª Região (Aposentado) 
 
Muitos afirmam que nossa carga tributária está muito elevada. 
Todos concordam em que a Administração deve pautar-se pelo princípio 
da transparência. Nossa Constituição Federal diz que a Administração 
Pública obedecerá a vários e importantes princípios, entre os quais o da 
publicidade. Apesar de tudo isto, poucos sabem quanto do que ganham é 
entregue ao governo na forma de tributo. 
Os que falam de carga tributária elevada geralmente se 
reportam à proporção desta em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) 
que é a soma da produção de riquezas no País. Bem poucos, porém, 
sabem como é determinado o PIB, nem que existem vários critérios para 
essa determinação, cuja manipulação permite alterações significativas. Em 
outras palavras, não se sabe exatamente qual é o peso dos impostos para 
os brasileiros, quer dizer, a carga tributária não tem sido definida com a 
transparência necessária para que seja entendida pela imensa maioria. 
Nosso sistema tributário é realmente muito complicado. Temos 
inúmeros tributos federais, estaduais e municipais. São impostos, taxas, 
contribuições de melhoria, contribuições sociais, contribuições de 
intervenção no domínio econômico (as famosas cides), contribuições 
profissionais, contribuições de seguridade social, formando um complexo 
sistema que nem os especialistas conseguem entender plenamente. Mas 
não é necessário entender todo o sistema tributário para que se tenha 
certeza de que nossa carga tributária é realmente muito elevada. Basta 
conhecermos as alíquotas do imposto de renda das pessoas físicas (devido 
sobre o que ganhamos), e do ICMS, da COFINS e da contribuição 
Carga Tributária e Transparência 
 
 
15/02/2005 
2
conhecida como PIS/PASEP (devidos sobre o que consumimos), para que 
se tenha uma idéia bem segura do peso dos tributos no bolso de cada um 
de nós. 
Nossa carga tributária é maior porque pagamos ao ganhar e 
pagamos também ao gastar. Vejamos primeiro os tributos que incidem 
sobre o gasto: ICMS 17%; COFINS 7,6; e PIS/PASEP 1,65. Esses outros 
tributos incidem, todos eles, diretamente sobre as vendas de mercadorias 
em geral e totalizam 26,25%. Se formos às compras e fizermos os 
pagamentos com cheques suportaremos também mais 0,38% da CPMF, 
totalizando a carga tributária sobre o nosso gasto nada menos do que 
26,63%. 
Para gastar temos de ganhar. Quem ganha até R$ 1.164,00 
por mês é isento do imposto de renda. Tem carga tributária de 26,63%, 
portanto, correspondente aos tributos sobre o consumo. Quem ganha 
acima dessa quantia e não mais do que R$ 2.326,00 teve descontado na 
fonte imposto de renda de 15%. Tem uma carga tributária, nessa faixa, 
de 41,63%. E quem ganha mais de R$ 2.326,00 por mês teve descontado 
na fonte imposto de renda de 27,5%, suportando assim uma carga 
tributária de 54,13%. 
Qualquer brasileiro com rendimento mensal superior a R$ 
2.326,00 entrega ao governo mais da metade do que ganha acima desse 
valor. Tudo isto sem falarmos no IPTU (Imposto sobre propriedade predial 
e territorial urbana), no IPVA (Imposto sobre veículos automotores), no 
IPI (Imposto sobre produtos Industrializados), no IOF (imposto sobre 
operações financeiras), no Imposto de Importação, nas contribuições 
sobre folha de salários ou de proventos dos inativos, etc, etc, etc... 
Verdadeiro confisco, não obstante a vedação constitucional (art. 150, 
inciso IV). 
Nossa Constituição Federal estabelece ainda que “a lei 
determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca 
Carga Tributária e Transparência 
 
 
15/02/2005 
3
dos impostos que incidem sobre mercadorias e serviços.” (art. 150, § 5°). 
Devemos exigir do Congresso Nacional a lei que, dando cumprimento a 
esse preceito constitucional, determine medidas que tornem transparente 
a imensa carga tributária que suportamos. Isto talvez nos dê ânimo para 
exigirmos dos governantes os serviços públicos essenciais como educação, 
saúde, e especialmente a segurança pública de que precisamos para 
desfrutar a pequena parte que nos sobra do que ganhamos. 
Devemos comunicar ao Senador e ao Deputado Federal nos 
quais votamos a nossa insatisfação. Se receberem meia dúzia de cartas, 
fax ou e-mail talvez joguem tudo no lixo. Se receberem mil, duas mil ou 
mais reclamações desse tipo com certeza começarão a pensar na próxima 
eleição. Assim se faz a democracia. Dá trabalho, certamente, mas é 
possível. E vale a pena.

Outros materiais