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Filiação socioafetiva a desbiologização das relações de família

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KEILA KOVALSKI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: 
A DESBIOLOGIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTA GROSSA 
2007 
 
 
 
2 
 
KEILA KOVALSKI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: 
A DESBIOLOGIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA 
 
 
Monografia apresentada ao curso de Direito do 
Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais, 
como requisito parcial à obtenção do título de 
Bacharel em Direito. 
 
Orientadora Professora Sueli Maria Zdebski 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PONTA GROSSA 
2007
 
 
3 
 
KEILA KOVALSKI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA: 
A DESBIOLOGIZAÇÃO DAS RELAÇÕES DE FAMÍLIA 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada ao CESCAGE - Centro de Ensino Superior dos Campos 
Gerais – Faculdade de Direito, como requisito parcial para obtenção do título de 
Bacharel em Direito e avaliada pela banca examinadora: 
 
 
 
 
 
____________________________________________ 
Prof. . Izabella Rodrigues Martins 
 
 
 
____________________________________________ 
Prof. Tamima Gobbo Tuma 
 
 
 
_____________________________________ 
Prof. Maurício Wisnieswski 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
À minha mãe, Maria Scolimoski Kovalski, pela 
compreensão e ajuda em todas as horas. À minha 
amiga Mariana Almeida, in memoriam, pelas 
palavras positivas que nunca me deixaram desistir. 
Às amigas, Anielle, Ionara e Veridiana, pelo 
incentivo e apoio constantes. E principalmente ao 
meu irmão Draiton Jaime Kovalski, in memoriam, 
que sempre me incentivou para estudar e ao qual 
devo, em grande parte, o que hoje sou. 
 
 
5 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
A Deus, pois, o que seria de mim sem a fé que tenho nele. 
 
Aos meus pais que com muito carinho e apoio não mediram esforços para 
que eu chegasse até esta etapa de minha vida. 
 
À professora Angelita que foi tão importante no desenvolvimento desta 
monografia. 
 
À professora e orientadora Sueli Maria Zdebski por seu apoio no 
amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me levaram a execução 
e conclusão desta monografia. 
 
À amiga Débora Eliane Calari Nunes pelo incentivo que tornou possível a 
conclusão desta monografia. 
 
Aos professores: Izabella Rodrigues Martins, Maurício Wisnieswski e a 
Tamima Gobbo Tuma, que gentilmente aceitaram participar e colaborar com este 
trabalho fazendo parte da banca. 
 
 
 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que 
cativas. 
(Antoine de Saint-Exupéry) 
 
 
7 
 
KOVALSKI, KEILA. Filiação Socioafetiva: Desbiologização das Relações de 
Família. Ponta Grossa. 2007. Monografia. (Graduação – Bacharelado em Direito) – 
Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais, Ponta Grossa, 2007. 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 
A Constituição Federal, ao acabar com a distinção ente os filhos havidos ou não do 
casamento, ao reconhecer como família tanto a edificada pelo casamento, como a 
formada pela união estável ou pela comunidade constituída por qualquer dos pais e 
seus descendentes, denominada família monoparental, nuclear, pós-nuclear, 
unilinear ou sociológica, fundamentada na busca do ideal da felicidade, do esmero, 
do carinho e da comunhão plena de vida e de afeto, deu ensejo ao surgimento da 
filiação socioafetiva a qual veio dividir o espaço social e jurídico com a filiação 
biológica, sendo a filiação socioafetiva determinada pela posse de estado de filho 
onde se prima pela dignidade da pessoa humana, dando aos filhos o direito de viver 
com pessoas que, além de lhe sustentarem materialmente, são capazes de amá-los, 
transmitir carinho e respeito. Assim, família não é mais somente aquela fundada em 
laços sanguíneos, mas, sobretudo aquela que, mesmo não tendo a linhagem 
sanguínea, passa a ser vista como uma comunidade de afeto, ressaltando-se que o 
intuito não é o de descaracterizar a paternidade biológica, mas ressaltar a 
importância do afeto em todo o tipo de ralação familiar. 
 
 
Palavras-chave: família, filiação, paternidade, afeto. 
 
 
8 
 
KOVALSKI, KEILA. Affective filiation Partner: Desbiologização of the Relations 
of Family. Thick Tip. 2007. Monograph. (Graduation - Bacharelado in Right) - 
Center of Superior Education of the General Fields, Thick Tip, 2007. 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The Federal Constitution, when finishing with the distinction being the had children or 
not it marriage, when recognizing as family in such a way the built one for the 
marriage, as formed for the steady union or the community constituted of any of the 
parents and the its descendants, called monoparental, nuclear, after-nuclear, 
unilinear or sociological family, based on the search of the ideal of the happiness, it 
care, the affection and of the full communion of life and affection, gave tries the 
sprouting of the socioafetiva filiation which came to divide the social and legal space 
with the biological filiation, being the definitive socioafetiva filiation for the ownership 
of state of son where if cousin for the dignity of the person human being, giving to the 
children the right of living with people who, beyond supporting to it materially, are 
capable to love them, to transmit affection and respect. Thus, family is not more only 
that one established in sanguineous bows, but, over all that one that, exactly not 
having the sanguineous ancestry, passes to be seen as an affection community, 
standing out itself that intention is not to deprive of characteristics the biological 
paternity, but to all stand out the importance of the affection in the type of familiar 
ralação. 
 
 
 
Kew-words: family, filiation, paternity, affection. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
SUMÁRIO 
INTRODUÇÃO .........................................................................................................................1 
1 A FAMÍLIA...........................................................................................................................13 
1.1 CONCEITO .........................................................................................................13 
1.2 A EVOLUÇÃO NORMATIVA DAS RELAÇÕES FAMILIARES ...............................14 
 
2 A FILIAÇÃO ........................................................................................................................19 
3 A FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA.........................................................................................24 
3.1 ASPECTOS GERAIS ..........................................................................................24 
3.2 A AFETIVIDADE .................................................................................................28 
3.3 A DESBIOLOGIZAÇÃO.......................................................................................31 
3.4 A POSSE DO ESTADO DE FILHO .....................................................................36 
3.4.1 Elementos constitutivos da posse do estado de filho ................................37 
3.5 ESPÉCIES DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA...............................................40 
3.5.1 A Adoção.........................................................................................................403.5.2 Filhos de criação ............................................................................................41 
3.5.3 Adoção à Brasileira ........................................................................................41 
3.5.4 Filiação eudemonista no reconhecimento voluntário e judicial da 
paternidade e da maternidade .........................................................................................42 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................43 
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 49 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
Tem o presente trabalho a finalidade de fazer uma explanação no que diz 
respeito à evolução do conceito de família no decorrer do tempo, enfatizando a 
importância da relação sócio-afetiva entre pais e filhos, reafirmando o afeto como 
 
 
10 
 
ponto importante e suficiente para determinar uma verdadeira relação de 
paternidade. 
Observa-se que nos tempos mais remotos, só se admitia chamar de família, 
homem e mulher que estivessem ligados pelo matrimônio e os filhos havidos dentro 
desse matrimônio. 
É o que se pode ver do Código Civil de 1916, que em seu capítulo II tratava 
da Família Legítima, rotulando os filhos havidos fora do matrimônio como ilegítimos, 
espúrios, incestuosos e adulterinos. 
Vê-se então que o matrimônio tracejava os limites de quem deveria integrar 
a paisagem cultural e fruir os direitos que eram provenientes dele. Assim, os filhos 
de pessoas casadas entre si tinham a qualidade de filho e podiam usufruir de todos 
os direitos de uma relação chamada então de legítima, em detrimento daquelas 
pessoas que nasciam de um casal que não tivesse certidão de casamento, 
independentemente do motivo, as quais eram execradas pela sociedade e não 
tinham direito algum perante o ordenamento jurídico. 
Todavia, com a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, houve 
grandes modificações em tais conceitos, pois, tendo como princípio a dignidade da 
pessoa humana, coibiu toda e qualquer forma de preconceito quanto aos filhos 
havidos fora da relação matrimonial, dando a esses filhos os mesmos direitos e 
qualificações, inclusive aos filhos adotivos. 
Assim, com a mudança havida no pensamento da sociedade, evoluíram-se 
também as normas, eis que o Direito deve se ajustar à sociedade onde é aplicado e, 
tanto é assim que, no Capítulo que fala sobre a filiação, no Código civil de 2002, foi 
retirado o termo legítima, eis que todos os filhos, quer biológicos ou afetivos 
passaram a ser legítimos. 
 
 
11 
 
Nesse contexto insere-se então a filiação sócio-afetiva, haja vista a tamanha 
importância que é atribuída atualmente ao afeto, quer para a identificação dos 
vínculos familiares, quer para definir os vínculos de parentesco, sobrepondo-se, 
quando em confronto, ao vínculo biológico, isto é, entre os vínculos de convívio e 
afeto e os vínculos biológicos, aqueles, em certas circunstâncias, são bem mais 
importantes do que estes, caracterizando então o fenômeno chamado 
desbiologização. José Bernardo Ramos Boeira1 foi muito feliz ao afirmar que, 
"A paternidade passou a ser vista como uma relação psicoafetiva, 
existente na convivência duradoura e presente no ambiente social, 
capaz de assegurar ao filho não só um nome de família, mas, 
sobretudo, afeto, amor, dedicação e abrigo assistencial reveladores de 
uma convivência paterno-filial, que, por si só, é capaz de justificar e 
identificar a verdadeira paternidade". 
 
Assim, não são bastantes os genes, bem como não são suficientes os laços 
sanguíneos para que se declare a filiação ou para que se caracterizem as 
obrigações entre pais e filhos, uma vez que pai é efetivamente aquele que cria e não 
aquele que só concebe. 
Atos de afeição e solidariedade são suficientes para demonstrar a existência 
de um vínculo de filiação, muito mais do que simples relações biológicas. 
Ora, a família, além de fonte de obrigações e de direitos parentais é, acima 
de tudo, célula primordial da legitimidade afetiva. Diz Luiz Edson Fachin2 que, o que 
determina a verdadeira filiação não é a descendência genética, e sim os laços 
de afeto que são construídos (...). 
Ressalte-se ainda o que diz Giselda Hironaka3 sobre a família, 
 
1 BOEIRA, José Bernardo Ramos.Investigação de Paternidade, Posse do estado de filho, paternidade sócio-afetiva. Livraria do Advogado, 1999. p. 53 
2 FACHIN, Luiz Edson. Elementos Críticos de Direito de Família. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 216 e 219. 
3 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Família e Casamento em Evolução, in Revista Brasileira de Direito de Família – nº 1 – Abr.-Mai.-Jun/99, 
Editora Síntese, pág. 8. 
 
 
12 
 
Biológica ou não, oriunda do casamento ou não, matrilinear ou 
patrilinear, monogâmica ou poligâmica, monoparental ou poliparental, 
não importa. Nem importa o lugar que o indivíduo ocupe no seu 
âmago, se o de pai, se o de mãe, se o de filho; o que importa é 
pertencer ao seu âmago, é estar naquele idealizado lugar onde é 
possível integrar sentimentos, esperanças, valores e se sentir, por 
isso, a caminho da realização de seu projeto de felicidade pessoal (...). 
A lição que fica é de que a coisa mais bonita é o sentimento que 
norteia uma criança no caminho do respeito a si mesma, do respeito 
aos outros e ao mundo (...). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
1) A FAMÍLIA 
 
 
1.1) CONCEITO 
 
Segundo o Dicionário Brasileiro Globo, família é o conjunto de pessoas 
que vivem na mesma casa. 
Boeira4 afirma que, biologicamente, família é o conjunto de pessoas que 
descendem de tronco ancestral comum, ou seja, unidos por laços de sangue. 
Em sentido estrito, a família representa o grupo formado pelos pais e filhos, 
todavia, tais conceitos se mostram frios e sem fundamento, se não se levar em 
conta, como já dito anteriormente, os laços de afetividade que unem esse conjunto 
de pessoas, pois, não são suficientes simples laços de sangue se não houver laços 
de afeto, visto que a família tem um papel de imprescindível importância para a 
formação da pessoa e para sua integração no meio social. 
Assim, ficará mais bem definido o que é a família quando ela for vista como 
o espaço mister para garantia de sobrevivência, de desenvolvimento e da proteção 
integral dos filhos e demais membros, independente de como é composta ou da 
forma como vêm se estruturando, desempenhando ela um papel decisivo na 
educação formal e informal, pois é dentro dela que são absorvidos os valores éticos 
e humanitários e onde se aprofundam os laços de solidariedade. Nas palavras de 
Bellocchi5, é sensato que a família abarque a criança, o adolescente e o idoso, 
desde que lhe são insertas no conceito e na vivência, as fraternidades morais, 
 
4 Op. cit. p. 19 
5 BELOCCHI, Roberto Antonio Vallim. A Constituição da República e a Família. In: Rev. Consulex Ano VII, nº 161, 2003. CD-ROM 
 
 
14 
 
psicológicas, emocionais, de ajuda e de colaboração daquelas fases da vida, 
acabando por ser, como um todo, proclamada a célula fundamental que rege a 
formação de sistemas pertinentes à promoção da sociedade de pessoas e da 
grandeza do Estado. 
Diz o mesmo autor ainda que o artigo 226 da Constituição da República 
encerra máxima que, tradicionalmente, orienta o Direito Civil brasileiro no que tange 
à família, sob os diversos aspectos que a notabilizam, inclusive como instituto 
venerável no contexto da organização social de um povo encartado no dinamismo 
daevolução terrena: "A família, base da sociedade, tem especial proteção do 
Estado". 
 
1.2) A EVOLUÇÃO NORMATIVA DAS RELAÇÕES FAMILIARES 
 
O sentido jurídico de entidade familiar passou, no período compreendido 
entre 1916 e 1988, por um grande processo de transformação, como já dito 
anteriormente. Segundo Viviane Girardi6 “(...) o direito privado de família, possui 
uma vinculação direta e imediata com valores vigentes e aceitos por uma 
determinada sociedade em um determinado momento histórico”. 
Ressalte-se o que diz Luana Babuska7, 
Na transição do século XIX para o XX, iniciou-se a construção jurídica 
do primeiro Código Civil brasileiro. O modelo de família apresentado à 
época era o de uma parcela social representativa, os detentores do 
poder, pessoas pertencentes a famílias de proprietários de escravos, 
fazendeiros e senhores de engenho8. 
 
 
6 GIRARDI, Viviane. Famílias Contemporâneas, filiação e afeto. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 23. 
7 SILVA, Luana Babuska Chrapak da. A paternidade socioafetiva e a obrigação alimentar. Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 364, 6 jul. 2004. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5321>. Acesso em: 03 jul. 2007. 
8 À época da elaboração do Código Civil, os detentores do poder eram representados por trezentas ou quatrocentas mil pessoas pertencentes a famílias de 
proprietários de escravos, fazendeiros e senhores de engenho, segundo o censo de 1872. 
 
 
15 
 
Funcionando a família como uma unidade de produção por ser a atividade 
rural preponderante àquela época, quanto mais componentes tivesse, maior seria a 
força de trabalho, onde o homem, além de pai e marido, detinha autoridade como 
chefe de família incumbido de zelar por ela e, por conseqüência, os demais 
membros eram inferiorizados, devendo respeito e obediência ao homem, o qual era 
o responsável pela dirigência de suas vidas. 
Esse domínio visava à proteção de interesses familiares, sendo então os 
casamentos arranjados, baseados em nomes de família e carreiras profissionais e, 
segundo a autora acima citada, o sexo e a idade eram os fatores determinantes 
do papel que cada membro desempenharia no grupo, relegando a segundo 
plano interesses pessoais de modo a perpetuar essa família transpessoal. 
Assevere-se o que diz Viviane Girardi9, que o casamento vinha de acordos 
realizados entre os patriarcas, os quais faziam promessas de casamento entre seus 
filhos visando unicamente à preservação da tradição e ao crescimento econômico 
dos clãs envolvidos. 
Ainda, segundo Orlando Gomes10 
O Código refletia ao tempo de sua elaboração, a imagem da família 
patriarcal entronizada num país essencialmente agrícola, com 
insignificantes deformações provenientes das disparidades da 
estratificação social. Sob permanente vigilância da Igreja, estendida às 
mais íntimas relações conjugais e ao comportamento religioso, 
funcionava como um grupo altamente hierarquizado, no qual o chefe 
exercia os seus poderes sem qualquer objeção ou resistência a tal 
extremo que se chegou a descrevê-la como um agregado social 
constituído por uma marido déspota, uma mulher submissa e filhos 
aterrados. 
 
Observa-se então que o casamento era a fonte única da constituição da 
família e, se o casamento estivesse fadado ao insucesso, a alternativa seria o 
desquite que, todavia, não determinava o fim de seu vínculo jurídico, resultando 
 
9 Op. cit. p. 28 
10 GOMES, ORLANDO. O Novo Direito de Família. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris, 1984. p. 64. 
 
 
16 
 
então que, qualquer outra relação havida, seria tida como extraconjugal não 
merecendo qualquer reconhecimento jurídico, tudo isso com o intuito de que o 
matrimônio devia ser mantido, mesmo que a duras penas, sacrificando-se assim os 
interesses pessoais dos cônjuges, sendo que conceitos, como afeto e carinho, 
nessas ocasiões não deveriam ser considerados. 
Citando ainda a autora acima, diz ela que, o matrimônio permanece como 
força determinante quanto à filiação, manifesta através da presunção pater is 
est, segundo a qual a prole é, por conta do casamento dos genitores, 
considerada legítima e digna de proteção legal. Neste sentido, ressalte-se o que 
diz Carbonera11, desta forma, a garantia da estrutura familiar apresentada se dava 
pela observação tanto da necessidade de matrimonialização como no modelo de 
legitimidade dos filhos, pautado na proibição do reconhecimento dos 
extramatrimoniais e na atuação da presunção pater is est. 
Assim, no limiar do século XX, o Código Civil Brasileiro trazia consigo a 
noção da família patriarcal e hierarquizada. Segundo Julie Cristine Delinski12 
Tal concepção do agregado familiar impôs uma regulamentação do 
direito positivo de forma que deixa margens a ficções – de amor 
conjugal perpetuo, de paternidade marital, de filhos havidos somente 
na constância do casamento, de fidelidade -, impossibilitando assim, o 
reconhecimento de filhos extramatrimoniais e favorecendo a família 
decorrente de casamento, bem como os filhos provenientes de relação 
matrimonial. 
 
 Assim a família conhecida como patriarcal, ou seja, a codificada, era 
hermeticamente fechada, estática e perene, a qual se perpetuava no tempo, sem dar 
qualquer importância à realização pessoal de seus membros, conforme leciona 
Viviane Girardi13. 
 
11 CARBONERA, Silvana Maria. O Papel Jurídico do Afeto nas Relações de Família. In: FACHIN, Luiz Edson. (coord.). Repensando Fundamentos do 
Direito Civil Brasileiro Contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 281. 
12 DELINSKI, Julie Cristine. O Novo Direito da Filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 16. 
13 Op. cit. p. 28. 
 
 
17 
 
Todavia, já a partir de meados do século XX, começa a se extinguir a família 
patriarcal e hierarquizada, onde a autoridade marital passou a dar lugar a uma 
parceria sentimental, buscando a realização afetiva dos cônjuges, como função 
primordial ao lado da tarefa de educação, sustento e boa formação da prole, nas 
palavras de Julie Cristine Delinski14. 
Diz Flávio Tartuce15, 
Assim sendo, pode-se utilizar a expressão despatriarcalização do 
Direito de Família, já que a figura paterna não exerce o poder de 
dominação do passado. O regime é de companheirismo ou 
colaboração, não de hierarquia, desaparecendo a figura do pai de 
família (patter familias), não podendo ser utilizada a expressão pátrio 
poder, substituída, na prática, por poder familiar. 
 
 Conforme Maria Berenice Dias16, 
O afeto talvez seja apontado, atualmente, como o principal fundamento 
das relações familiares. Mesmo não constando a palavra afeto no 
Texto Maior como um direito fundamental, podemos dizer que o afeto 
decorre da valorização constante da dignidade humana. 
 
 Assim, nítido está que o comportamento social e a vida familiar evoluíram. 
Nas palavras de Viviane Girardi17, 
As relações de convivência familiar e social já não são mais as 
rigidamente estabelecidas pelo Código Civil de 1916, em que o modelo 
único de família, fundado na desigualdade e sustentado pelo 
patriarcado, tinha na figura do homem a concentração do poder 
econômico e social da família. A família contemporânea não se 
conforma mais com as atribuições rigidamente estabelecidas pela 
qualidade de se ser homem ou mulher. (...) A família contemporânea 
não é mais (e somente) o lugar da perpetuação dos laços de sangue e 
da preservação do nome e patrimônio dos antepassados, finalidades 
estas que, outrora, se constituíam na razão de se “nascer e de se 
permanecer em família”. 
 
Há quem diga que, com as mudanças havidas na família, esse instituto se 
encontraem crise, atribuindo problemas de desordem social ao desregramento da 
 
14 Op. cit. p. 18. 
15 TARTUCE, Flávio. Novos princípios do Direito de Família brasileiro . Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1069, 5 jun. 2006. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=8468>. Acesso em: 07 jul. 2007 . 
16 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 66. 
17 Op. cit. p. 23 
 
 
18 
 
família, todavia, esta jamais deixou de ser a célula mater da sociedade, eis que 
sempre será ela o marco inicial para o estabelecimento do cidadão e a partir dela é 
que se desenvolvem outras relações sociais, as quais vão se estabelecendo ao 
longo de sua existência. Conforme traz Viviane Girardi em sua obra18, com o 
rompimento do monopólio do casamento pela Constituição Federal de 1988, deu-se 
azo para que fossem acolhidas outras formas de organização familiar, alicerçadas 
no afeto e na solidariedade. Assim, houve uma sensível mudança no núcleo familiar, 
deslocando seu centro de constituição do princípio da autoridade para o princípio da 
compreensão e do amor, atendendo-se assim à promoção da dignidade da pessoa 
humana. 
 Com razão Guilherme Calmon Nogueira da Gama19 quando diz que, 
Propõe-se, por intermédio da repersonalização das entidades 
familiares, preservar e desenvolver o que é mais relevante entre os 
familiares: o afeto, a solidariedade, a união, o respeito, a confiança, o 
amor, o projeto de vida comum, permitindo o pleno desenvolvimento 
pessoal e social de cada partícipe, com base em idéias pluralistas, 
solidaristas, democráticas e humanistas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
18 Op. cit. p. 34 
19 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Filiação e reprodução assistida:introdução ao tema sob a perspectiva civil-constitucional. In: TEPEDINO, 
Gustavo [org]. Problemas de direito civil-constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 520. 
 
 
19 
 
2) A FILIAÇÃO 
 
 
Dentro desse contexto, feitas breves considerações sobre a família como um 
todo, cumpre-se, desse ponto em diante observar como ficaram as relações entre 
pais e filhos no decorrer de tantas mudanças havidas, conforme o que já fora 
explanado no capítulo anterior. 
Assim, traz-se aqui, antes de tudo, uma consideração muito interessante 
sobre a filiação, nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho20, 
Ter filhos é uma experiência única e, embora acompanhada de 
imensas dificuldades, essencialmente gratificante. Quem passa por ela 
no momento certo da vida, enriquece-a muito. Como antes de 
transmitir conceitos e valores é preciso clarificá-los, preparar alguém 
para viver em sociedade importa reestruturar-se internamente. 
Acompanhar de perto o crescimento de novo ser da espécie, 
contribuindo de modo decisivo para sua formação, desperta o 
sentimento de responsabilidade pela preservação e renovação de uma 
herança cultural milenar. Mostrar o mundo para o filho é redescobri-lo 
nos seus perdidos detalhes: depois de crescer, agente só se recorda 
que a lagarta se metamorfoseia em borboleta, e tantas coisas mais, ao 
falar disso com ele. Ter filhos, vivenciando intensamente a relação, é 
rejuvenescer. (...) Para dar conta de educar crianças e adolescentes 
como se deve, é preciso estabilidade emocional e psíquica. Os pais 
que não as têm, ganham a oportunidade de conquistá-la. A experiência 
da paternidade ou maternidade não pressupõe necessariamente a 
geração do filho. Ela é tão ou mais enriquecedora, mesmo que a 
criança ou adolescente não seja portador da herança genética dos 
dois pais. (original sem grifo). 
 
O termo filiação deriva do latim “filiatio”, traduzindo-se pela relação de 
parentesco que se estabelece entre os pais e o filho em linha reta, gerando o estado 
de filho. 
 O Código Civil Brasileiro de 1916 classificava os filhos em legítimos e 
ilegítimos, classificação essa proveniente da necessidade de se preservar o núcleo 
familiar, ou ainda, mais que isso, a real intenção era mesmo de se preservar o 
 
20 COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 5, p. 144. 
 
 
20 
 
patrimônio familiar, fato esse que fez com que os filhos fossem catalogados de forma 
cruel por aquele diploma, sendo que, felizmente toda essa discriminação, conforme 
diz Fabio Ulhoa Coelho21, é coisa do passado, como ver-se-á a seguir. 
 Segundo o Código Civil de 1916, eram considerados filhos legítimos aqueles 
nascidos de pais casados entre si quando da concepção, ou seja, a filiação legítima 
seria a decorrente da união de pessoas ligadas pelo matrimônio válido ao tempo da 
concepção ou resultante de união matrimonial que veio a ser invalidada 
posteriormente, estando ou não de boa-fé os cônjuges, conforme o que expressa 
Maria Helena Diniz22. 
 Assim, o antigo Código no seu artigo 337, revogado pela Lei 8.560/92, 
conceituava como legítimos os filhos concebidos na constância do casamento, ainda 
que nulo ou anulado, se fosse contraído de boa-fé, sendo que a Lei 6.515/77 admitiu 
que mesmo não sendo contraído de boa-fé, os filhos seriam legítimos. 
 O princípio adotado por aquele diploma baseia-se no fato de que pai é aquele 
demonstrado pelas justas núpcias. Assim, a presunção era de que o filho da mulher 
casada fora concebido pelo marido. Segundo Silvio de Salvo Venosa23, 
A lei presume a filiação legítima com fundamento nos dados 
científicos. Desse modo, se o filho nasceu até seis meses após o 
casamento, presumimos ser legitimo. Se o nascimento ocorrer antes 
dos 180 dias, não opera a presunção. Entendemos que é de seis 
meses o período mínimo de gestação viável. Fora desses períodos, 
ainda que possam ocorrer nascimentos, a presunção não opera. 
 
 
Desta forma a filiação legítima que concedia ao gerado o status de filho 
legítimo era assegurada pela evidência do casamento civil ou matrimônio. 
 Unicamente os filhos que fossem descendentes de um casal, casados entre 
si, eram aceitos pela sociedade e se encaixavam no padrão desejado pelas 
 
21 Idem. p. 146. 
22 Diniz, Maria Helena. Código Civil Anotado. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p.317. 
23 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 6.ed. São Paulo: Atlas, 2006. v. 6. p. 232.
 
 
 
21 
 
pessoas, sendo a eles e somente a eles, atribuídos todos os direitos inerentes da 
filiação. 
Da lei extrai-se o fato de que, mesmo havido antes do estabelecimento do 
vínculo matrimonial, com este estabelece-se o vínculo de filiação, sendo que então o 
nubente era considerado pai por presunção não lhe sendo concedida a possibilidade 
de contestar sua paternidade, pois considerado legítimo aquele que mesmo nascido 
antes do prazo de 180 dias ou posterior aos 300, foi registrado pelo suposto pai uma 
vez que este, ao assumir o matrimônio estando ciente do estado gravídico, 
indiretamente estará assumindo o filho como seu não lhe cabendo o direito de 
contestar a paternidade. 
Assevere-se o fato de que o legislador legou a filiação legítima à data de sua 
concepção, considerando-se concebidos na relação matrimonial os nascidos cento e 
oitenta dias após o estabelecimento da convivência matrimonial bem como os 
nascidos dentro do período de trezentos dias posteriores à dissolução da sociedade 
conjugal por morte, desquite ou anulação, de tal modo que o novo ser poderia ter 
sido gerado anteriormente ao matrimônio, pois que se tem por presunção ter sido 
concebido na constância do casamento. 
 Já os filhos que não fossem concebidos dentro do casamento eram 
considerados ilegítimos, dividindo-se estes emnaturais, quando os pais não 
possuíam impedimentos para o casamento e espúrios, quando havia qualquer 
impedimento onde os pais então não poderiam contrair matrimônio, subdividindo-se 
em espúrios adulterinos, onde o impedimento residia no fato de um dos pais já ser 
casado com uma outra pessoa, tendo violado assim o dever de fidelidade, e 
espúrios incestuosos, quando os pais possuíam algum grau de parentesco. 
 
 
22 
 
Os filhos ilegítimos, por não estarem enquadrados nos moldes requeridos 
pela sociedade de então, não eram sequer reconhecidos pela lei, eis que a 
ilegitimidade os despia da condição jurídica de filho. Segundo Luana Silva24, 
Nesse contexto de preservação familiar, apenas os filhos concebidos 
por genitores casados foram reconhecidos perante a sociedade. 
Alegando uma suposta paz familiar, que para a sociedade seria 
abalada com o público reconhecimento de um adultério ou de relações 
incestuosas praticadas por seus membros, não se reconhecia aos 
filhos extranupciais direitos básicos à sobrevivência, relegando-os à 
execração pública em virtude de um comportamento tido como 
altamente reprovável, praticado por seus pais ao gerá-los, que se 
convencionou manter segredo. A culpa - ou crime dos pais - foi, então, 
punida na pessoa dos filhos. 
 
O artigo 355, do antigo Código dispunha que o filho ilegítimo podia ser 
reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente, admitindo-se, todavia, apenas 
três formas de reconhecimento voluntário da filiação extramatrimonial, quais sejam, 
no próprio termo de nascimento, mediante escritura pública ou por testamento. 
Dentre estas possibilidades, incidem algumas peculiaridades, como por exemplo, a 
de que o reconhecimento do filho poderia preceder seu nascimento e que tal 
reconhecimento não poderia ser subordinado a condição ou termo. 
Nesse aspecto, apenas os filhos naturais poderiam ser reconhecidos, sendo 
que os espúrios ficaram à margem do Código, não se permitindo seu 
reconhecimento. Da mesma forma ocorria com a família "ilegítima", ou seja, aquela 
constituída fora do casamento, deixando o direito de reconhecê-la, como se 
realmente não existisse. 
Vê-se assim que o sistema imposto pelo Código anterior, especialmente em 
relação à filiação extramatrimonial, era absolutamente patriarcal, fundado 
exclusivamente no casamento, contendo regras que já nasceram velhas e que já 
necessitavam de profundas alterações, dentre as quais, algumas já ocorreram e 
 
24
 Op. cit. 
 
 
23 
 
outras ainda ocorrem no seio da sociedade, verificando –se isso pela série de 
modificações inseridas pela legislação infraconstitucional brasileira acerca da filiação 
extramatrimonial, culminando com o advento da Constituição Federal que extirpa de 
vez qualquer discriminação entre os filhos havidos ou não na constância do 
casamento, prescrevendo em seu artigo 227, § 6º que os filhos havidos ou não da 
relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e 
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à 
filiação. 
Todavia, apesar de todas as inovações trazidas na seara do Direito de 
Família, percebe-se que existem ainda algumas discriminações, ainda que 
disfarçadas, em relação aos filhos biológicos e os filhos não biológicos, assim 
considerados, os biológicos aqueles que levam a herança genética de quem consta 
como pai e mãe no seu registro de nascimento, sendo natural, se a concepção 
derivou de relação sexual entre os genitores, ou não natural quando a concepção foi 
realizada in vitro e a filiação não biológica aquela em que os gametas, ou mesmo um 
deles, não foram fornecidos pelas pessoas identificadas como pai e mãe no registro 
de nascimento, chamada filiação por substituição, sendo também não biológicas as 
filiações sócio-afetiva e adotiva, nas palavras de Fábio Ulhoa Coelho25. 
 
 
 
25 Op. cit. p. 148. 
 
 
24 
 
3) A FILIAÇÃO SÓCIO-AFETIVA 
 
 
3.1) ASPECTOS GERAIS 
 
Segundo Fábio Ulhoa Coelho26, 
A filiação sócio-afetiva constitui-se pelo relacionamento entre um 
adulto e uma criança ou adolescente, que, sob o ponto de vista das 
relações sociais ou emocionais, em tudo se assemelha à de pai ou 
mãe e seu filho. Se um homem, mesmo sabendo não ser o genitor de 
criança ou adolescente, trata-o como se fosse seu filho, torna-se pai 
dele. Do mesmo modo a mulher se torna mãe daquele de quem cuida 
como filho durante algum tempo. 
 
Vê-se que, com tantas mudanças havidas, o critério afetivo assume 
relevante papel na identificação da filiação, já que, muitas vezes a paternidade ou 
maternidade biológica não é capaz de substituir a convivência necessária para que 
se construam laços de afetividade permanente. Esse tipo de filiação tem como 
marco importante, um conjunto de atos de afeição e solidariedade, companheirismo, 
amor e cordialidade, os quais demonstram com evidência a existência de um vínculo 
de filiação entre filho-pai-mãe. Segundo Leila Donizetti27, citando Jédison Daltrozo 
Maidana, 
(...) ser pai ou mãe na complexidade que esses termos comportam, 
será sempre aquele ou aquela que, desejando ter um filho, acolhem em 
seu seio o novo ser, providenciando-lhe a criação, o bem-estar e os 
cuidados que o ser humano requer para o seu desenvolvimento e para 
a construção de sua individualidade e seu caráter. Aquele que se 
dispõe a assumir, espontaneamente, a paternidade de uma criança, 
levando ela ou não a sua carga genética, demonstra, por si só, 
consideração e preocupação com o seu desenvolvimento. Será que, 
posteriormente, seria justo, sem a análise de outras circunstâncias, 
desconsiderar um vínculo dessa grandeza por uma simples 
divergência genética? 
 
 
26 Idem, p. 160. 
27 DONIZETTI, Leila. Filiação Sócioafetiva. Direito à Identidade Genética. Rio de Janeiro: Lúmen Jures, 2007. p. 38. 
 
 
25 
 
Configurando-se a filiação socioafetiva, a ela ligam-se tanto os pais, como os 
filhos, deixando o pai de ter o direito à posterior negatória de paternidade com base 
na inexistência de transmissão de herança genética. Isso acontece com a finalidade 
de não dar ensejo ao homem que, depois de tantos anos se comporta como pai de 
certo indivíduo, por razões que não estão ligadas à relação paternal, como por 
exemplo, o rompimento com a mãe, queira se desincumbir da responsabilidade 
paternal. Do mesmo modo, o filho que estiver amparado, não tem o direito de 
invocar a paternidade biológica, para que não haja desrespeito aos cuidados 
recebidos pelo pai ou mãe socioafetivo, salvo se necessitar de amparo econômico 
para sua sobrevivência. 
Nas palavras de Belmiro Pedro Welter28, 
 
A filiação socioafetiva é fruto do ideal da paternidade e da maternidade 
responsável, hasteando o véu impenetrável que encobre as relações 
sociais, regozijando-se com o nascimento emocional e espiritual do 
filho, conectando a família pelo cordão umbilical do amor, do afeto, do 
desvelo, da solidariedade, subscrevendo a declaração do estado de 
filho afetivo. 
 
Assim, a filiação fundada no afeto surge com a formação dos laços de 
afetividade que se criam com a convivência e se fortificam com o passar do tempo. 
Nas palavras de Gérard Cornu29, a filiação não é apenas o nascimento, a família 
não é apenas o sangue, mas crescer, viver, envelhecer juntos. 
Vilella30, citando Joseph Goldstein explica o nascimento emocional à luz da 
psicologia, 
Para a criança mesma os fatos físicos da geração e parto não 
conduzem diretamente a um vínculo com os pais. Suas relações de 
sentimento surgem com base na satisfação de suas necessidades por 
alimento, cuidado,simpatia e estímulos. Somente quando são os 
próprios pais biológicos que atendem a esses desejos, a relação 
 
28 WELTER, Belmiro Pedro. Inconstitucionalidade do Processo de Adoção Judicial. Disponível em: http://www.mundojuridico.adv.br. Acesso em 25/08/2007. 
29 CORNU, Gerard. Droit civil: la famille. Paris: Éditions Montchrestien, 1984. p. 36 
30 Op. cit. p. 415. 
 
 
26 
 
biológica determina uma psicológica, na qual a criança possa se sentir 
segura, apreciada e desejada. Pais biológicos que não estabelecem 
esse vínculo ou que não vivem em comunidade com a criança são, 
para os sentimento desta, nada mais do que estranhos. 
 
 
Ressalte-se então que a paternidade socioafetiva é um ato de vontade, de 
opção, sendo fundada na convivência, no cuidado, no amor. Conforme diz Fábio 
Ulhoa Coelho31, “a filiação socioafetiva constitui-se pela manifestação do afeto 
e cuidados próprios das demais espécies de filiação entre aquele que 
sabidamente não é genitor ou genitora e a pessoa tratada como se fosse seu 
filho”. 
Eduardo de Oliveira Leite32 diz, com muita propriedade que “a verdadeira 
filiação – esta a mais moderna tendência do direito internacional – só pode 
vingar no terreno da afetividade, da intensidade das relações que unem pais e 
filhos, independente da origem biológico-genética”. 
A filiação afetiva é construída, fundando-se no comportamento de quem 
expende cuidados, carinho, independente do tempo ou lugar, ou seja, tanto faz em 
público ou na intimidade do lar, demonstrando um afeto verdadeiramente paternal, 
nascendo desse comportamento um vínculo que ultrapassa os laços de sangue. Nas 
palavras de Paulo Lôbo33, “é a afirmação da finalidade mais relevante da família: 
a realização da afetividade pela pessoa do grupo familiar; no humanismo que 
só se constrói na solidariedade; com outro”. 
 Ressalte-se o que diz Luiz Edson Fachin34, 
O reconhecimento da filiação socioafetiva se impôs a partir do 
desenvolvimento da mesma engenharia genética que tornou inegável a 
verdade biológica. Se, de um lado, a ciência permite a certeza sobre os 
 
31 Op. cit. p. 161 
32 LEITE, Eduardo de Oliveira. Temas de Direito de Família. São Paulo: RT, 1994. p. 121. 
33 LOBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização nas relações de família. In: BITTAR, Carlos Alberto [org]. O Direito de família e a Constituição de 1988. São 
Paulo: Saraiva, 1989. p. 89. 
34 FACHIN, Luiz Edson. Comentários ao Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2003. p. 25. 
 
 
27 
 
laços de sangue, ela admite, sobre outro aspecto, que tais laços sejam 
postos à margem diante de uma realidade socioafetiva. 
 
Juridicamente, esse tipo de paternidade tem seu fundamento no Princípio da 
Proteção Integral da Criança e do Adolescente preconizado no artigo 227 da 
Constituição Federal. Segundo Silas Silva Santos35 
É inconcebível, em face do Princípio da Proteção Integral da Criança e 
do Adolescente, que o filho que sempre conheceu o marido de sua mãe 
como sendo seu pai e com ele manteve uma harmoniosa relação 
paterno-filial, obtendo dele amor, carinho, educação e demais tratos 
que mereça um filho, se ver, de uma hora para outra, mediante 
verificação de inexistência do vínculo biológico, sem pai! 
 
Encontram-se na Constituição Brasileira, vários fundamentos do estado de 
filiação geral, os quais não se resumem à filiação biológica: a) todos os filhos são 
iguais, independentemente de sua origem (art. 227, § 6º); b) a adoção, como escolha 
afetiva, alçou-se integralmente ao plano da igualdade de direitos (art. 227, §§ 5º e 
6º); c) a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, incluindo-
se os adotivos, tem a mesma dignidade de família constitucionalmente protegida (art. 
226, § 4º); não é relevante a origem ou existência de outro pai (genitor); d) o direito à 
convivência familiar, e não a origem genética, constitui prioridade absoluta da criança 
e o do adolescente (art. 227, caput). 
Compreende-se então que a família atual não é mais aquela fundada no fator 
biológico. Segundo Paulo Luiz Netto Lôbo36, 
A origem biológica era indispensável à família patriarcal, para cumprir 
suas funções tradicionais. Contudo, o modelo patriarcal desapareceu 
nas relações sociais brasileiras, após a urbanização crescente e a 
emancipação feminina, na segunda metade deste século. No âmbito 
jurídico, encerrou definitivamente seu ciclo após o advento da 
Constituição de 1988. 
 
 
35 Disponível em: http://www.gontijo-familia.adv.br/tex255.htm. Acesso em 22/08/2007. 
36 LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípio jurídico da afetividade na filiação . Jus Navigandi, Teresina, ano 4, n. 41, maio 2000. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=527>. Acesso em: 22 ago. 2007.
 
 
 
28 
 
Parafraseando o mesmo autor, é cabível dizer que o modelo anterior é 
inadequado, eis que a origem genética, atualmente, não é suficiente para 
fundamentar a filiação, tendo em vista os valores que passaram a fundamentar as 
relações humanas. Diz o autor ainda que, 
Os desenvolvimentos científicos, que tendem a um grau elevadíssimo 
de certeza da origem genética, pouco contribuem para clarear a relação 
entre pais e filho, pois a imputação da paternidade biológica não 
substitui a convivência, a construção permanente dos laços afetivos. 
 
Assim, como já dito antes, toda vez que um estado de filiação estiver 
constituído na convivência familiar duradoura, decorrente paternidade socioafetiva, 
esta não poderá ser impugnada nem contraditada. A investigação de paternidade só 
é cabível quando não houver paternidade, nunca para desfazê-la. 
Assim é que se conclui que a paternidade requer envolvimento afetivo e, 
sobretudo o interesse em resguardar a dignidade da pessoa humana e os interesses 
da criança. 
 
3.2) A AFETIVIDADE 
 
O afeto é fator determinante do comportamento. É ele que ajuda o ser 
humano a avaliar situações no decorrer da vida, sendo normalmente produzido por 
estímulos externos, todavia pode também ser originado no interior do indivíduo. 
Os atos dos seres humanos são determinados pelo afeto, sendo ele um 
ponto de partida para o apego ou a ligação afetiva. 
Assim, as relações afetivas são essenciais no desenvolvimento do ser 
humano e por isso devem ser cultivadas, pois ajudam a construir um indivíduo 
psicologicamente saudável. 
 
 
29 
 
 Ora, o afeto não é, senão, um sentimento de amizade e dedicação. 
 Conforme G. J. Ballone37, 
O melhor exemplo que podemos referir para entender a Afetividade é 
compará-la a óculos através dos quais vemos o mundo. São esses 
hipotéticos óculos que nos fazem enxergar nossa realidade desse ou 
daquele jeito. Se esses óculos não estiverem certos podemos enxergar 
as coisas maiores ou menores do que são, mais coloridas ou mais 
cinzentas, mais distorcidas ou fora de foco. Tratar da Afetividade 
significa regular os óculos através dos quais vemos nosso mundo. 
 
Vê-se que o afeto desempenha um papel essencial no funcionamento da 
inteligência. Sem afeto não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação. A 
afetividade é uma condição necessária na constituição da inteligência. 
Nas relações familiares o afeto tem grande importância, principalmente nos 
primeiros anos de vida do ser humano, pois dele depende o equilíbrio emocional e o 
sucesso na vida. Conforme encontrado em artigo disponível na internet38, 
A criança sente-se aceita através da energia receptiva que se cria no 
lar. Mesmo que ela tenha sofrido a experiência da rejeição durante a 
gestação, seus pais poderão proporcionar-lhe mais tarde outra 
experiência mais positiva,a experiência da aceitação. Isso poderá ser 
feito através do contato físico, do colo, do olhar carinhoso e da 
presença firme e meiga dos pais. 
 
Deste modo, afeto e família são conceitos com certas peculiaridades e que 
se encontram entrelaçados. 
 Convém destacar aqui que o afeto não diz respeito apenas ao amor, mas sim 
a todos os sentimentos que unem a família, sendo esta uma comunidade de afeto.
 
37 Ballone GJ - Afetividade - in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet, 2000 - disponível em http://www.psiqweb.med.br/afeto.html. Acessado em 21.08.2007. 
38 Disponível em: http://www.espirito.org.br/portal/cursos/gestante-03.html. Acesso em 20.08.2007. 
 
 
30 
 
 Segundo Paulo Luiz Netto Lobo39, “O afeto não é fruto da biologia. Os 
laços de afeto e de solidariedade derivam da convivência e não do sangue”. 
 Uma narrativa feita pelo mesmo autor, à qual ele deu o nome de “Nó do Afeto” 
traduz o que se pode entender como verdadeiro afeto entre pai e filho e como pode 
haver uma relação de afetividade mesmo quando quase não se convive junto, 
Em uma reunião de pais, numa Escola da periferia, a diretora 
ressaltava o apoio que os pais devem dar aos filhos. Pedia-Ihes 
também que se fizessem presentes o máximo de tempo possível. Ela 
entendia que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade 
trabalhasse fora, deveriam achar um tempinho para se dedicar a 
entender as crianças. Mas a diretora ficou muito surpresa quando um 
pai se levantou a explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha 
tempo de falar com o filho, nem de vê-lo durante a semana. Quando ele 
saía para trabalhar, era muito cedo e o filho ainda estava dormindo. 
Quando ele voltava do serviço era muito tarde e o garoto não estava 
mais acordado. Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para 
prover o sustento da família. Mas ele contou, também, que isso o 
deixava angustiado por não ter tempo para o filho a que tentava se 
redimir indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa. E, para 
que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do 
lençol que o cobria. Isso acontecia, religiosamente, todas as noites 
quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através 
dele, que o pai tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de 
comunicação entre eles. A diretora ficou emocionada com aquela 
história singela e emocionante. E ficou surpresa quando constatou 
que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola. O fato 
nos faz refletir sobre as muitas maneiras de um pai ou uma mãe se 
fazerem presentes, de se comunicarem com o filho. Aquele pai 
encontrou a sua, simples, mas eficiente. E o mais Importante é que o 
filho percebia, através do nó afetivo, o que o pai estava lhe dizendo. 
Por vezes, nos importamos tanto com a forma de dizer as coisas e 
esquecemos o principal, que é a comunicação através do sentimento. 
Simples gestos como um beijo a um nó na ponta do lençol, valiam, 
para aquele filho, muito mais que presentes ou desculpas vazias. É 
válido que nos preocupemos com nossos filhos, mas é importante que 
eles saibam, que eles sintam isso. Para que haja a comunicação, é 
preciso que os filhos "ouçam" a linguagem do nosso coração, pois em 
matéria de afeto, os sentimentos sempre falam mais alto que as 
palavras. É por essa razão que um beijo, revestido do mais puro afeto, 
cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, o ciúme do bebê que 
roubou o colo, o medo do escuro. A criança pode não entender o 
significado de muitas palavras, mas sabe registrar um gesto de amor. 
Mesmo que esse gesto seja apenas um nó. Um nó cheio de afeto e 
carinho. 
 
 
39 Op. cit. 
 
 
31 
 
Ressalte-se que, no conceito de família, o afeto possui um papel de 
fundamental importância, eis que constitutivo das relações interpessoais que a 
formam. Por isso, deve-se dar a ele, lugar de destaque, merecendo assim, maior 
atenção da área jurídica, pois, segundo Silvana Carbonera40, "[...] amplo é o 
espectro do afeto, mola propulsora do mundo e que fatalmente acaba por gerar 
conseqüências que necessitam se integrar ao sistema normativo legal". 
Nas palavras de Oliveira e Muniz41, 
a família contemporânea é tomada como a "comunidade de afecto e 
entre-ajuda", espaço onde as aptidões naturais podem ser 
potencializadas e sua continuidade só encontra respaldo na existência 
do afeto. 
 É a família eudemonista, pois traduz o meio onde "acentuam-se 
as relações de sentimento entre os membros do grupo: valorizam-se 
as funções afetivas da família que se torna o refúgio privilegiado das 
pessoas contra a agitação da vida nas grandes cidades e das pressões 
econômicas e sociais". 
 
3.3) A DESBIOLOGIZAÇÃO 
 
Diz-se que há a desbiologização quando inexiste ou quando se rompe o 
convívio entre pais e filhos biológicos, dando-se lugar a uma convivência sócio-
afetiva com pais não biológicos. 
Vê-se que, mesmo nos tempos atuais, há alguns juristas que vêem a família 
como união de pessoas ligadas pelo vínculo da consangüinidade, cônjuges e prole, 
 
40 CARBONERA, Silvana Maria. Guarda dos filhos na família constitucionalizada. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000. p. 
41 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Direito de Família: Direito Matrimonial. Porto Alegre: Sérgio Fabris, 1990. p. 11 e 
54. 
 
 
32 
 
todavia, tal conceituação está por demais distante da atual realidade. Segundo 
Rodrigo C. Duarte42, 
não observam as sutilezas e a subjetividade que envolve o assunto. 
Para termos um conceito moderno de família, mais adequado ao séc. 
XXI, precisamos analisar principalmente a multiplicidade social, 
distante do ranço e da mesmice preconceituosa que sempre 
preponderou na legislação brasileira. 
 
O mesmo autor, citando João Batista Villela, diz que “O amor está para o 
Direito de Família assim como a vontade está para o Direito das Obrigações", 
ressaltando assim a importância que é dada atualmente ao afeto, pois quando se 
fala em desbiologização, enfatiza-se a relação de afeto entre pai e filho, pois as 
relações familiares devem ser fruto da afetividade. 
Assim, caminha-se a passos largos para o Poder Familiar Desbiologizado, 
donde retira-se o fator biológico como predominante na relação familiar. 
 Conforme diz Roseli Ribeiro43, citando Gustavo Rene Nicolau, 
a doutrina está construindo a teoria da desbiologização que considera 
importante a relação de afinidade e afetividade de cada situação, 
podendo em muitos casos prevalecer esses valores na indicação de 
quem deve ficar com a guarda da criança. Seria a preferência dos pais 
afetivos em relação aos pais naturais ou biológicos, opinião que 
também é compartilhada pelo professor Nelson Shikicima. 
 
Atualmente o termo desbiologização tem sido largamente utilizado no Direito 
de Família, porque, segundo Sérgio Luiz Paulillo44, “(...) citado de forma crescente 
nos estudos do Direito de Família, o termo aflorou publicamente no meio 
jurídico por seu sentido inovador, espelhando realidade paterno-filial histórica 
mas sempre atual, portanto cogente seu estudo”. 
 
42 DUARTE, Rodrigo Collares. Desbiologização da paternidade e a falta de afeto . Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 481, 31 out. 2004. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5845>. Acesso em: 21 ago. 2007. 
43 Disponível em: http://lawyerbhz.livejournal.com/38593.html. Acesso em 21.08.2007. 
44 PAULILLO, Sérgio Luiz. A desbiologização das relações familiares . Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 78, 19 set. 2003. Disponível em: 
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4228>.Acesso em: 21 ago. 2007.
 
 
 
33 
 
Segundo o mesmo autor, o termo, por mais que pareça algo novo, não o é, 
porque já em 1979, o autor João Baptista Vilella lançou o livro A Desbiologização da 
Paternidade, sendo que foi provavelmente após o lançamento dessa obra que a 
expressão se popularizou no meio jurídico. 
Originado do campo da Biologia, o vocábulo se tornou parte do Direito de 
Família porque passou a dar nome à relação entre pais e filhos conviventes, não 
consangüíneos, parentais ou não. 
Vê-se assim que a Biologia vem influenciando cada vez mais o Direito, 
ajudando essa área a se inserir com mais rapidez ao meio social atual, sendo a 
desbiologização um grande exemplo disso, pois, segundo o autor acima citado, 
(...) alçado à matéria biossocial com ampla ramificação jurídico-
sociológica, o ambivalente termo possui duas áreas distintas de 
estudos: uma está ligada intrinsecamente ao Direito, ou seja, a 
situação do menor sob convivência sócio-afetiva com pais não-
biológicos. A outra é a área da própria Biologia, onde o estudo prima 
pela análise da concepção não-natural obtida pelas técnicas de 
reprodução humana assistida disponíveis a partir do final do século 
20. Embora distintas e até então distantes, ambas evoluem para um 
vértice comum, que é o do Poder Familiar não-natural. 
 
A finalidade da desbiologização não é a de eliminar o vínculo biológico ou de 
desconsiderar totalmente o laço biológico e sim de incluir na relação entre pais e 
filhos o laço socioafetivo. 
Assim, com o fenômeno da desbiologização põe-se termo à idéia propagada 
durante muito tempo de que a única forma de caracterizar o vínculo entre pai e filho 
era a troca de material genético, nascendo, em decorrência disso a filiação baseada 
no afeto, tendo como cordão umbilical o amor. 
Ao se falar em desbiologização, analisada a situação de fato, o que vem em 
mente é a relação entre um filho e seu pai afetivo, que, na maioria das vezes é bem 
maior do que o laço sanguíneo que une aquele filho a outro indivíduo, ou seja, seu 
pai biológico. 
 
 
34 
 
Cai por terra então o entendimento de que a verdade biológica está acima de 
tudo e deve prevalecer nos confrontos com a socioafetiva. 
Vê-se assim como o afeto tem ganhado terreno tornando-se, dependendo da 
situação fática, mais importante do que os laços sanguíneos. Criam-se, com grande 
freqüência nos dias atuais, relações puramente afetivas, desapegadas do fator 
natural. 
A jurisprudência pátria vem decidindo reiteradamente pela desbiologização, 
dando real valor à afetividade em detrimento da verdade biológica. Veja-se a seguir: 
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REIVINDICATÓRIA DE 
PATERNIDADE AJUIZADA PELO SEDIZENTE PAI BIOLÓGICO. 
EXISTÊNCIA DE VÍNCULO SOCIOAFETIVO ENTRE O MENOR E O PAI 
REGISTRAL. ÓBICE À REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA. Desatende 
aos superiores interesses da criança a realização de exame de DNA, 
destinado a averiguar a paternidade biológica, quando estabelecida 
entre o menor e seu pai registral a chamada paternidade socioafetiva. 
Ademais, o direito à verdade sobre a própria origem genética é direito 
da criança e somente por ele pode ser exercido, se assim o desejar, 
em momento oportuno. DERAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (SEGREDO 
DE JUSTIÇA) (Agravo de Instrumento Nº 70019302892, Sétima Câmara 
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, 
Julgado em 18/07/2007) 
 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. 
ADOÇÃO À BRASILEIRA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. Ainda que o 
exame de DNA aponte pela exclusão da paternidade do pai registral, 
mantém-se a improcedência da ação negatória de paternidade, se 
configurada nos autos a adoção à brasileira e a paternidade 
socioafetiva. Precedentes doutrinários e jurisprudenciais. Apelação 
desprovida. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70019125285, 
Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Ataídes 
Siqueira Trindade, Julgado em 28/06/2007) 
 
COISA JULGADA - Limites subjetivos - Negatória de paternidade - 
Circunstância em que foi reconhecida a “adoção à brasileira” em 
anterior ação proposta pelo mesmo autor - Coisa julgada caracterizada 
- Inaplicabilidade da teoria da relativização da coisa julgada - 
Condenação por litigância de má-fé mantida - Recurso conhecido e 
improvido, indicando a hipótese segura da paternidade socioafetiva 
(Apelação Cível com Revisão n. 443.488-4/1-00 - Ourinhos - 5ª Câmara 
de Direito Privado - Relator: Francisco Casconi - 18.04.07 - V. U. - Voto 
n. 13.190) asc 
 
 
Segundo a Dra. Dayse Almeida45, 
 
 
45 ALMEIDA, D. C. de. A Desbiologização das relações familiares. Disponível em http://www.pailegal.net. Acesso em 21/08/2007. 
 
 
35 
 
A relação de paternidade sempre aflorou importantes discussões na 
seara jurídica. Isto ocorre porque as relações entre pais e filhos, haja 
vista as modificações de pensamentos, e de cultura da nossa 
sociedade. Os conceitos de paternidade e maternidade ultrapassaram 
a biologia, saindo dela para adentrar ao mundo fático, contemplando a 
convivência e o sentimento de afeto em contraposição à relação 
biológica estabelecida. 
 
Tudo isso se deve ao fato de que a família, hodiernamente é vista como um 
alicerce psicológico e emocional do ser humano. Evidencia-se cada vez mais o valor 
do afeto nas relações familiares. 
Pode-se afirmar então que a verdadeira filiação não é aquela determinada 
pela descendência genética, mas muito mais aquela construída, calcada nos laços 
de afeto. Conforme afirma Maria Regina Fay de Azambuja46, “a razão maior da 
paternidade se funda ‘no desejo humano, essencial, de amar e ser amado”. 
Na concepção atual a afetividade é que vinca as relações parentais. 
É certo que nunca foi tão fácil o descobrimento da verdade biológica, o que 
hoje se consegue pelas avançadas técnicas, todavia, nunca se desprezou tanto 
essa verdade para a definição dos vínculos parentais, pois a filiação passou a ser 
identificada pela verdade sócio-afetiva. 
Parafraseando Dayse Coelho de Almeida47, o que se observa na 
consideração da paternidade socioafetiva, é a superioridade da vontade e da 
responsabilidade sobre o caráter biológico. O conceito de pai, atualmente, vai além 
do conceito meramente biológico, qual seja de fonte do espermatozóide, dando azo, 
como já frisado, à responsabilidade, à criação de laços onde o filho se sinta amado e 
respeitado com o devido merecimento. 
 
 
 
46 Disponível em www.direitodafamilia.net. Acesso em 21/08/2007. 
47 ALMEIDA, Dayse Coelho de. A Desbiologização das Relações Familiares. Jus Vigilantibus. Vitória: 2005. disponível em: 
http://jusvi.com/doutrinas_e_pecas/ver/2728. Acesso em 25/08/2007. 
 
 
36 
 
3.4) A POSSE DO ESTADO DE FILHO 
 
É a exteriorização da condição filial, ou por levar o nome, ou por ser aceito 
como tal pela sociedade como fato público e notório. 
Isso ocorre com o “estado de filho afetivo”, que além do nome, que não é 
decisivo, ressalta o tratamento e a reputação, eis que a pessoa é amparada, cuidada 
e atendida pelo indigitado pai, como se filho fosse. 
Segundo Julie Cristine Delinski48, 
Após o advento da Constituição Federal de 1988, que reformou 
profundamente o instituto da filiação, adotando um sistema unificado 
e, por isso, acabando com qualquer discriminação em relação aos 
filhos, cabe agora ao ordenamento jurídico encontrar meios 
sustentáveis para reconhecer a paternidade mais condizente com a 
realidade daqueles que a procuram, dentre as três linhas que a 
compõe: a paternidade jurídica, a biológica e a sócio-afetiva. 
 
Diz ainda a mesma autora que seria interessante que a paternidade se 
fundasseao mesmo tempo nas três espécies, mas reconhece que nem sempre isso 
é possível, existindo situações em que as mesmas entram em conflito, restando um 
grande problema jurídico para se estabelecer a paternidade. 
Assim, na busca de subsídios para que se baseie a paternidade socioafetiva 
é que surge a posse do estado de filho, fundamentada nas relações de afeto, 
caracterizada por uma intensa convivência pai-filho. 
Nas palavras da autora acima citada, o fundamento de validade da noção de 
posse de estado de filho é a valorização das relações calcadas no afeto, sendo que 
pai não é apenas aquele ligado por um laço biológico e sim aquele ligado pelos 
intensos e inesgotáveis laços de afeto, ou seja, pai é aquele que cuida, protege, 
educa, alimenta, que participa intensamente do crescimento físico, intelectual e 
 
48 Op. cit. p. 38 
 
 
37 
 
moral da criança, dando-lhe o suporte necessário para que se desenvolva como ser 
humano. 
Entendendo-se a posse do estado de filho como sendo uma relação afetiva, 
íntima e duradoura, caracterizada pela reputação frente a terceiros como se filho 
fosse, e pelo tratamento existente na relação paterno-filial, em que há o 
chamamento de filho e a aceitação do chamamento de pai, é que se revela a 
importância de tal instituto quando do surgimento de conflitos de paternidade como 
por exemplo nos casos em que as relações de afeto entre pai e filho não condizem 
com a paternidade jurídica, ou ainda quando comprovada a paternidade biológica, 
mas a existência de posse de estado de filho se dá com um terceiro, que não o pai 
genético. Em todos esses casos, assume importância primordial a posse de estado 
de filho, valorizando-se a afectio, a verdade sociológica. É a verdade socioafetiva 
ganhando o abrigo do Direito, isso nas palavras de Elisabeth Nass Anderle49. 
É na posse de estado de filho que se vê caracterizada a paternidade de 
afeto. 
Nas palavras de João Baptista Vilella50, não são os fatos físicos da geração 
e parto que fazem nascer um vínculo entre a criança e os pais; os laços da relação 
pai-filho se efetivam quando os filhos são pelos pais alimentados, cuidados, 
abraçados e protegidos. 
Depreende-se então que procriação e paternidade são fatos diferentes, onde 
procriação seria um dado e a paternidade um construído. 
 
3.4.1) Elementos constitutivos da posse do estado de filho 
 
49 ANDERLE, Elisabeth Nass. A posse de estado de filho e a busca pelo equilíbrio das verdades da filiação. Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 60, nov. 
2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3520>. Acesso em: 21/08/2007. 
50 VILELLA, João Baptista. Desbiologização da paternidade. Revista da Faculdade de Direito da UEFG, a. 27, nº 21, p. 415, maio 1979. 
 
 
38 
 
 
Afirma a doutrina que a posse de estado se constitui pela integralização de 
três elementos, quais seja, o nome ("nomem"), o trato ("tractatus") e a fama ("fama"). 
Para que se configure o primeiro elemento é necessário o uso constante do 
nome de família do pretendido pai. 
O segundo, o trato, configura-se pela criação, educação do indivíduo, tido e 
apresentado como filho legítimo pelo pai e pela mãe e, segundo Mauro Aguiar de 
Moura51, 
É considerado elemento objetivo, porque se caracteriza pelo 
comportamento do pretenso pai em relação ao suposto filho. Pode-se, 
assim, reconhecê-lo, pela assistência material e moral dada ao filho, 
como por exemplo, o carinho, os cuidados, o afeto, a educação, a 
saúde, comuns a todos os pais no tocante aos seus filhos. Neste 
aspecto, podem subsistir as assistências material e moral, ou então 
somente a material, ou a moral. Pois, para a caracterização deste 
elemento deve-se levar em consideração a situação pessoal do 
suposto pai, quer dizer, pode ocorrer que o pai não tenha condições 
econômicas para prestar assistência ou então que o filho dela não 
necessite. No caso da assistência moral, o pai pode ter dificuldades 
em expressar seus sentimentos ao filho, seja por temperamento, seja 
por conveniência. 
Assim, o uso do termo "filho" e do termo "pai", não são necessários. O que 
deve ser valorizado é o amor, o carinho, a educação e tudo mais que um pai 
dispensa a um filho. 
Já a fama resulta de ser o filho sempre considerado na família e na 
sociedade como legítimo da família que afirma ser. É a exteriorização desse estado 
da pessoa, publicamente. Conforme o autor acima citado, é o lado propriamente 
social da posse de estado, eis que, diante das atitudes do suposto pai com seu 
pretenso filho, cria-se a convicção de que se trata mesmo de pai e filho. 
 
51 74. MOURA, Mauro Aguiar de. Tratado prático de filiação. 2. ed. Rio de Janeiro: Aide Editora, 1984. p. 527. 
 
 
39 
 
Todavia, quanto ao primeiro elemento, o nome, diz a doutrina não ser 
essencial, desde que restem comprovados os outros dois elementos, necessários 
para a revelação ou não do vínculo psicológico e social entre o filho e o suposto pai. 
Convém ressaltar ainda a questão da duração da posse de estado, pois, 
segundo Rémond-Gouilloud52, 
Sem o decorrer do tempo, a posse de estado não existe. Com efeito, 
não é um fato pontual que ela revela, mas uma situação que só toma 
consistência com o tempo; tecida pela repetição de incidentes 
cotidianos, ela oferece não um instantâneo da vida de um individuo, 
mas uma seqüência de filme. 
 
Assim, para que se constitua a posse de estado de filho é necessária uma 
certa duração, não se realizando num único dia. 
Vê-se então que, além dos três elementos constitutivos, ou seja, o nome, o 
trato e a fama, é necessário que haja uma certa continuidade, eis que a existência 
da posse de estado de filho pressupõe habitualidade e estabilidade relativas, que, 
segundo Julie Cristine Delinski53, não é necessária que seja perpétua, supondo a 
continuidade uma duração suficiente para sua caracterização. A posse do estado de 
filho se intensifica com o passar do tempo. 
Ressalta então a autora acima que, 
(...) a noção de “posse de estado de filho”, como foi demonstrado, é 
formada por laços afetivos que se traduzem externamente através da 
tríade clássica: tractatus, nomen e fama (cada qual com o seu peso), 
acrescidos de certa duração. 
 
 
 
 
 
 
52 RÉMOND-GOUILLOUD, Martine. La Possession d’état d’enfant. Revue Trimestrielle de Droit Civil, Paris, v. 74, n. 3, juil./sep.1975, p. 468. 
53 Op. cit. p. 48 
 
 
40 
 
3.5) ESPÉCIES DE PATERNIDADE SOCIOAFETIVA 
 
3.5.1) A Adoção 
 
Essa espécie de paternidade tem seu fundamento num liame socioafetivo 
intenso, estabelecendo uma relação de ascendência e descendência independente 
da consangüinidade. Segundo Luiz Edson Fachin54, 
A adoção constitui espaço em que a verdade socioafetiva da filiação 
se manifesta com ênfase inegável. Mais do que os laços de sangue, o 
que une o adotante e o adotado são os laços de afeto, que se 
constroem no espaço de convivência familiar. 
 
Procura-se, com tal instituto, dar-se uma oportunidade de inserção do 
adotado em um ambiente familiar, possibilitando sua integração com a finalidade de 
atender às suas necessidades de crescimento e desenvolvimento psíquico, 
educacional e afetivo, tudo isso num ambiente de coexistência fundado no afeto. Diz 
ainda o autor acima citado que, 
A adoção de crianças ou de adolescentes se coloca como adoção 
plena: com efeito, em tais hipóteses, a preocupação do ordenamento 
deve se dar no sentido de assegurar o desenvolvimento. Ético, moral, 
afetivo e intelectual da criança, inserindo-a em um espaçode 
coexistência familiar, com pleno estabelecimento dos vínculos de 
parentesco, em igualdade de condições com os filhos consangüíneos. 
 
Chama-se adoção judicial aquela revestida de formalidades legais, onde os 
interessados em adotar devem preencher alguns requisitos e que para ser 
concretizada necessita de um pronunciamento judicial. 
Ressalte-se o que diz Vera Helena Vianna do Nascimento55: “O maior 
requisito para adotar uma criança, é a disponibilidade de amar. Ser pai ou mãe, 
não é só gerar, é antes de tudo, amar”. 
 
54 Op. cit. p. 151 
 
 
41 
 
 
3.5.2) Filhos de criação 
Outro instituto também fundamentado no liame socioafetivo, sem o vínculo 
biológico. 
Educa-se uma criança ou adolescente, dando-lhe abrigo em um lar, tendo 
por único fundamento, nas palavras de Jaqueline Nogueira56, “o amor entre seus 
integrantes; uma família, cujo único vínculo probatório é o afeto”. 
Com razão Clovis Beviláqua57 quando diz, sobre os filhos de criação que, é 
quando uma pessoa, “constante e publicamente, tratou um filho como seu, 
quando o apresentou como tal em sua família e na sociedade, quando na 
qualidade de pai proveu sempre suas necessidades, sua manutenção e sua 
educação, é impossível não dizer que o reconheceu”, não importando para tanto, 
o que realmente consta na certidão de nascimento desse filho “criado”. 
 
3.5.3) Adoção à Brasileira 
Há também casos onde o adotando é registrado diretamente no nome dos 
adotantes, sem o devido processo legal, a chamada adoção à brasileira, que é o 
reconhecimento de filho alheio como próprio. Essa prática, apesar de ser tida como 
ilegal por não ser baseada no devido processo legal, atende ao mandamento contido 
 
55 Disponível em: http://guiadobebe.uol.com.br/planej/o_que_e_adocao.htm. Acesso em 23/08/2007. 
56 NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica, 2001. p. 56. 
57 BEVILAQUA, Clovis. Direito da Família. 7.ed. Rio de Janeiro: Ed. Freitas Bastos, 1943. p. 346. 
 
 
 
42 
 
no art. 227 da Constituição, de ser dever da família, da sociedade e do Estado 
assegurar à criança o direito "à convivência familiar". 
Nesse tipo de adoção, a criança, ao nascer é registrada diretamente no 
nome dos pais afetivos como se fossem biológicos. 
 
3.5.4) Filiação eudemonista no reconhecimento voluntário e judicial da paternidade e 
da maternidade 
 
 Quando a pessoa, espontaneamente, comparece no Cartório de Registro 
Civil, para registrar alguém como seu filho, não necessitando de comprovação 
genética58. Nas palavras de Villela59, é “aquele que toma o lugar dos pais pratica, 
por assim dizer, uma ‘adoção de fato”. Assim, aceita voluntária ou judicialmente a 
paternidade ou da maternidade, é estabelecido o estado de filho afetivo com a 
atribuição de todos os direitos e deveres do filho biológico, nas palavras de Eduardo 
de Oliveira Leite60. 
 
 
 
 
 
 
 
 
58 VILLELA, João Baptista. O modelo constitucional da filiação: verdades & superstições. Revista Brasileira de Direito de Família, nº 2, 
julho/agosto/setembro de 1999. 
59 FACHIN, Luiz Edson. Da Paternidade: relação biológica e afetiva. Belo Horizonte: Del Rey, 1996. p. 124, citando RICHER, Danielle. Les enfants qui ne 
sont pas les miens: développements récents en droit familial. Québec: Yvon Blais, 1992. p. 169. 
60 Op. cit. p. 115.
 
 
 
43 
 
4) CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Vê-se que a noção de família tomou novos rumos, partindo das diversas 
mudanças ocorridas dentro da sociedade. 
O modelo patriarcal, firmado na concepção de que família era aquela 
estabelecida através do matrimônio, deu lugar às famílias plurais, ou seja, as 
formadas por pai e seus filhos ou mãe e seus filhos, por avós e netos e assim por 
diante, caracterizando o verdadeiro papel da família, compreendido como sendo o 
de amparar os seus membros, moral, psíquica e economicamente. 
Disto resulta, por óbvio, que a relação de filiação não decorre simplesmente 
do vínculo genético, sendo que o verdadeiro desenvolvimento da relação pai-mãe-
filho, se desenvolve por intermédio do convívio, não sendo suficiente o simples 
reconhecimento da paternidade ou o fato de figurar a paternidade em uma certidão 
de nascimento, mas, sobretudo, da forma como esse relacionamento é 
desenvolvido, devendo-se reconhecer como verdadeiro pai, aquele que educa, dá 
carinho, atenção, provê as necessidades do filho, independentemente de laços 
sanguíneos ou de nome de família. 
Atento a essa nova visão de família foi que o Constituinte de 1988, na 
elaboração da Carta Magna brasileira reconhece como família, tanto a edificada pelo 
casamento, como a formada pela união estável ou pela comunidade constituída por 
qualquer dos pais e seus descendentes, denominada família monoparental, nuclear, 
pós-nuclear, unilinear ou sociológica, fundamentada na busca do ideal da felicidade, 
do esmero, do carinho e da comunhão plena de vida e de afeto. 
 
 
44 
 
Foi assim que se instituiu a filiação socioafetiva, a qual dividiu o espaço 
social e jurídico com a filiação biológica (artigo 227, caput e parágrafo 6º e artigos 
1.593, 1.596, 1.597, V, 1603 e 1.605, II, do Código Civil), não devendo ser a 
paternidade biológica considerada como a única verdadeira. 
Nesse contexto, insere-se então a posse de estado de filho, onde se prima 
pela dignidade da pessoa humana, dando aos filhos o direito de viver com pessoas 
que, não só lhe trazem o sustento material, mas, sobretudo, são capazes de amá-
los, transmitir carinho e respeito. 
Segundo Sidamaia de Quevedo Vedoi61, 
Nessa nova perspectiva familiar, o objeto fundamental é a realização 
pessoal de seus membros que, unidos por sentimento afins dedicam 
carinho e amor a uma criança, independentemente de imposição legal 
ou do vínculo sanguíneo; o afeto é fruto de ato voluntário. 
 
Assim, a verdade genética não pode ser, única e suficiente para se 
caracterizar a filiação, sendo necessária a reunião de valores que privilegiem a 
convivência e que sejam capazes de construir laços afetivos e duradouros de amor, 
carinho, dedicação e respeito. 
Nas palavras do autor acima citado, a família deixa de ser vista única e 
exclusivamente pela linhagem sanguínea, passando a ser vista, sobretudo como 
uma comunidade de afeto, “onde cada indivíduo tem ali o seu “porto seguro”, 
destinado a garantir a toda pessoa, respeito e dignidade para que possa 
desenvolver seu papel na sociedade de forma segura e responsável, baseada 
em valores assimilados pelo coração”. 
 
61 VEDOI, Sidamaia de Quevedo. Filiação sócioafetiva : O elemento afetivo como critério para a definição da filiação. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 21, 
31/05/2005 [Internet]. Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=551. Acesso em 
25/08/2007. 
 
 
45 
 
Alguns Tribunais já tem reconhecido que a falta de condições econômicas 
para sustento dos filhos não pode levar à destituição do poder familiar, o que não 
ocorre com a falta de afeto, conforme se vê do seguinte julgado do Tribunal de 
Justiça de Minas Gerais62, 
EMENTA: DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. POSSIBILIDADE. 
INTELIGÊNCIA DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DE MÁXIMA 
PROTEÇÃO À CRIANÇA E DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. A 
destituição do poder familiar é algo sempre perturbador e traumático 
para o

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