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1 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts DIREITO PENAL - PARTE GERAL AULA 2 – CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO 1. Iter criminis 2. Crime consumado 3. Crime tentado 4. Tentativas “abandonadas” a) Desistência voluntária b) Arrependimento eficaz 5. Arrependimento posterior 6. Crime impossível 1. ITER CRIMINIS Iter criminis é o caminho do crime, composto das diferentes fases de desenvolvimento do delito. Segundo a doutrina, o crime se divide em 4 fases, uma interna e três externas. - cogitação - fase interna - iter criminis - preparação - execução - fases externas - consumação Obs.: Alguns autores incluem no iter criminis uma 5ª fase, o exaurimento do crime. I – Fase interna É a fase que antecede a exteriorização da conduta do autor. Não há, ainda, ofensa ao bem jurídico tutelado. Essa fase é chamada de cogitação. Cogitação é a simples ideia do crime. Pode ser espontânea ou provocada. Ex.: João resolve matar sua sogra Maria. Obs.: a mera cogitação é impunível (o Direito Penal não pune o pensar, somente atos externos que ofendam bens jurídicos alheios). II – Fases externas São fases em que há exteriorização da intenção do autor por meio da prática de condutas, as quais podem ofender o bem jurídico protegido. Nessas fases há a possibilidade de punição. São elas: preparação, execução e consumação. a) Preparação ou atos preparatórios (conatus remotus): o agente prepara o crime, procurando criar as condições necessárias para sua realização. Ex.: João adquire uma arma de fogo para matar sua sogra. Atenção: em regra, os atos preparatórios são impuníveis. Exceção: quando o ato preparatório é previsto como crime autônomo. Exemplos: associação criminosa (art. 288, CP); petrechos para falsificação de moeda (art. 291, CP). b) Execução ou atos executórios: é a atuação externa do autor que inicia a conduta prevista como proibida (o núcleo do tipo penal - verbo). Ex.: João aperta o gatilho da arma para matar sua sogra. Observações: 1ª) Iniciada a execução, são quatro os possíveis resultados: - a consumação do crime (art. 14, I); - a tentativa do crime(art. 14, lI); - a desistência voluntária (art. 15); - o arrependimento eficaz (art. 15). 2ª) Quando tem início a execução do crime? 2 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts Prevalece no Brasil a teoria objetivo-formal, pela qual o ato executório é aquele que inicia a realização do núcleo do tipo penal, idôneo e inequívoco a ofender o bem jurídico. Ex.: Se o núcleo do tipo é “subtrair”, só se considera ato executório quando o agente começa a subtrair. Atualmente, muitos doutrinadores defendem a teoria objetivo-individual, que diz que a execução do crime inicia-se com a conduta imediatamente anterior à realização do núcleo do tipo penal, conforme o plano do agente. Ex.: no caso de furto à residência, o fato do autor estar no interior do domicílio já configuraria ato executório de furto, ainda que não iniciada a subtração. c) consumação: ocorre quando há a reunião de todos os elementos da definição legal, ou seja, o crime se realiza integralmente (art. 14, I). Ex.: João resolve matar sua sogra Maria (cogitação). Para tanto, adquire uma arma de fogo (preparação). Após, vai até a casa da vítima e dispara a arma de fogo (execução), causando a morte de Maria (consumação). Obs.: Exaurimento: são efeitos da conduta previstos no tipo penal e que ocorrem posteriormente à consumação do delito. Ex.: pagamento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP). Também é chamado de crime exaurido ou esgotado. Não integra o iter criminis, mas influi na dosimetria da pena. 2. CRIME CONSUMADO O crime consumado está previsto no art. 14, I, CP (conceito legal de consumação). Art. 14, CP: Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Observações: 1ª) Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo, perdurando até que cesse o comportamento do agente. Ex.: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) – Enquanto a vítima estiver sob o poder do sequestrador, a consumação do crime permanece. 2ª) Classificação do delito quanto ao momento consumativo: - Material Crime - Formal - Mera conduta a) Crime material: o tipo penal (artigo) descreve a conduta e o resultado naturalístico, dependendo da ocorrência deste para a consumação do delito. Ex.: art. 121, CP (O homicídio se consuma com a morte). Crime - tipo penal = conduta + resultado Material - consumação = resultado b) Crime formal (ou de consumação antecipada): o tipo penal descreve a conduta e o resultado, porém, a consumação ocorre desde a prática da conduta. No crime formal, a ocorrência do resultado natural configura exaurimento do crime. Ex.: art. 159, CP. - tipo penal = conduta + resultado Crime formal - consumação = conduta - resultado = exaurimento c) Crime de mera conduta: o tipo penal descreve somente a conduta (sem resultado natural). Ex.: art. 135, CP (omissão de socorro), art. 150, CP (violação de domicílio). Crime de - tipo penal = conduta mera conduta - consumação = conduta 3. CRIME TENTADO Está previsto no art. 14, II, CP (conceito legal de tentativa). 3 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts Art. 14, CP: Diz-se o crime: Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. - Elementos do crime tentado a) Início da execução; b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; c) Dolo de consumação. - Consequências do crime tentado Art. 14, Parágrafo único: Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. O CP adotou, como regra, o sistema objetivo, pelo qual a tentativa é punida com a mesma pena da consumação, reduzida de determinada fração (1/3 a 2/3). Critério: quanto mais próximo da consumação, menor a redução; quanto mais distante da consumação, maior a redução. - Crime de atentado ou crime de empreendimento Ocorre quando, excepcionalmente, a lei prevê, para o crime tentado, a mesma pena o crime consumado, sem redução. Ex.: Evasão mediante violência contra a pessoa Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. - Formas de tentativa I - Quanto ao iter criminis percorrido: - Tentativa imperfeita - Tentativa perfeita a) Tentativa imperfeita (inacabada): o agente inicia a execução do crime e é impedido de prosseguir no seu intento, deixando de praticar todos os atos executórios à sua disposição. Ex.: Pretendendo matar seu inimigo José com cinco tiros, João municia seu revólver com cinco projéteis. Após o primeiro disparo, Carlos consegue imobilizar João, evitando o homicídio. b) Tentativa perfeita (acabada) ou crime falho: o agente, apesar de esgotar todos os atos executórios à sua disposição, não consegue consumar o crime. Ex.: João tinha cinco projéteis no revólver e, pretendendo matar José, efetua cinco disparos, porém, a vítima sobrevive. II - Quanto ao resultado produzido na vítima: - Tentativa não cruenta - Tentativa cruenta a) Tentativa não cruenta (tentativa branca): o corpo da vitima não é atingido pela conduta do autor (não há lesão à vítima); b) Tentativa cruenta (tentativa vermelha): o corpo da vítima é atingido pela conduta do autor (a vítima é lesionada). III - Quanto à possibilidade de alcançar o resultado: - Tentativaidônea - Tentativa inidônea a) Tentativa idônea: o resultado era possível de ser alcançado. b) Tentativa inidônea (crime impossível): o resultado era absolutamente impossível de ser alcançado. Ex.: matar a sogra já morta. 4 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts Pergunta: é o que “crime manco”? Resposta: Crime manco é o crime tentado. Essa expressão deriva da ideia de que, na tentativa, o elemento subjetivo (vontade do agente) ocorre por inteiro, mas os aspectos objetivos do crime (conduta e resultado) não se dão inteiramente, de modo que o crime fica “manco”. elemento subjetivo elementos objetivos Pergunta: existe crime que não admite tentativa? Resposta: Sim. Não admitem tentativa: a) crimes culposos; b) crimes preterdolosos; c) contravenções; d) crimes unissubsistentes; e) crimes omissivos próprios; f) crimes condicionados ao resultado; g) crimes habituais; h) crimes de atentado. 4. “TENTATIVAS ABANDONADAS” São duas as formas de “tentativas abandonadas”: - Desistência voluntária - Arrependimento eficaz Estão previstas no artigo 15 do CP. Art. 15, CP: O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução [desistência voluntária] ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados [arrependimento eficaz]. a) Desistência voluntária: ocorre quando, iniciada a execução do crime e podendo nela prosseguir, o autor desiste, voluntariamente, de continuar a executar o delito. Obs.: a desistência deve ser voluntária (por vontade), não necessariamente espontânea (admite interferência externa). b) Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente, após terminar a execução do crime, desenvolve voluntariamente nova conduta e evita a ocorrência do resultado. - Consequência: o agente responde pelos atos até então praticados. Ex.: o agente dá cinco tiros na vítima, mas quando ela está quase morrendo, ele a leva ao hospital e consegue salvá-la. Responderá pelas lesões corporais provocadas na vítima. - Consequência: o agente responde pelos atos já praticados. Ex.: João deseja subtrair um carro e, após destruir a fechadura da porta, desiste e vai embora, sem nada subtrair. Responderá pelo crime de dano (art. 163, CP), pois destruiu a fechadura do veículo. Lembrar sobre desistência voluntária: 1) a fase de execução se inicia e é interrompida pelo próprio agente. 2) a fase de execução planejada não se esgota. 3) o agente responde pelos atos até então praticados. - Lembrar sobre arrependimento eficaz 1) a fase de execução se inicia e se esgota. 2) o agente evita, por vontade própria, o resultado. 3) o agente responde pelos atos até então praticados. 5 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts 5. ARREPENDIMENTO POSTERIOR Está previsto no art. 16, CP: Arrependimento posterior Art. 16, CP: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. Ocorre quando o autor, após consumado o crime sem violência ou grave ameaça, repara, voluntariamente, o dano ou restitui a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime. - Requisitos: a) Crime sem violência ou grave ameaça à pessoa; b) Reparação do dano ou restituição da coisa; c) Até o recebimento da inicial; d) Por ato voluntário do agente. - Natureza jurídica: causa de diminuição de pena (1/3 a 2/3). 6. CRIME IMPOSSÍVEL Está previsto no art. 17, CP: Crime impossível Art. 17, CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Como visto, é também chamado de “tentativa inidônea”. O CP Brasileiro adotou a teoria objetiva temperada, pela qual não há tentativa quando a conduta do autor for absolutamente inidônea a provocar o resultado. Assim, pouco importa a presença de dolo (teoria subjetiva) e de periculosidade do agente (teoria sintomática). - Requisitos do crime impossível: a) Início da execução; b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; c) Resultado absolutamente impossível de ser alcançado por ineficácia absoluta do meio ou absoluta impropriedade do objeto material. a) Ineficácia absoluta do meio: o meio escolhido pelo agente é absolutamente ineficaz para cometer o crime. Exemplos: 1. querer praticar abortamento com reza. 2. desejar matar com uso de arma de fogo desmuniciada. 3. uso de documento falsificado grosseiramente. b) Absoluta impropriedade do objeto: a pessoa ou coisa sobre a qual recai o crime é absolutamente imprópria para a consumação do delito. Exemplo: 1. tentar matar alguém já morto. 2. Tentar abortar sem estar grávida. Obs.: se o meio for relativamente ineficaz ou o objeto for relativamente impróprio, o crime será tentado. Ex.: arma que falha no momento do disparo. Pergunta: o que é “crime de alucinação”? Resposta: É hipótese em que o agente pratica intencionalmente uma conduta que acredita ser crime, mas que não está prevista em lei como tal. Ex.: casal pratica incesto pensando se tratar de crime. Obs.: Não é caso de crime impossível, mas sim de “delito putativo por erro de proibição” ou “erro de proibição invertido”. 6 Direito Penal Geral | Material de Apoio Prof. Tiago Salvador | Fb.com/ tiagoantonio.salvador?fref=ts QUESTÕES DE CONCURSO 1) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Atendente de Necrotério Policial Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime tentado é punido, salvo exceção, com a pena a) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um a dois terços. b) igual à do crime consumado. c) correspondente à metade da prevista para o crime consumado. d) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obrigatoriamente inferior à correspondente à prevista para o crime consumado. e) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um ano. 2) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Fotógrafo Técnico Pericial Referente ao crime tentado, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado a) diminuída de um terço. b) de forma idêntica. c) de forma proporcional. d) diminuída de um a dois terços. e) diminuída de dois terços. 3) Ano: 2013 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Auxiliar de Papiloscopista Policial Com relação ao arrependimento posterior, é correto afirmar que a) somente é aplicável aos crimes culposos. b) somente é aplicável aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. c) é uma das causas excludentes de ilicitude. d) é aplicável como causa obrigatória de diminuição de pena, ainda que tenha havido dano pessoal e patrimonial à vítima. e) pode ser aplicável aos crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, desde que o arrependimento seja espontâneo. 4) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Técnico de Laboratório Médico devidamente contratado pela Administração Pública e que está lotado em hospital público exige de familiar de paciente do Sistema Único de Saúde o pagamento de um valor indevido para a realização de uma cirurgia imprescindível. O familiar finge aquiescer com a exigência, mas ao sair do hospital aciona a autoridade policial e não efetua qualquer pagamento. Nesse caso, considerando as previsões do Código Penal, houve crime a) tentado, pois não houve o pagamento, circunstância alheia à vontade do médico. b) culposo, porque o agente deu causa ao resultado por imprudência. c) impossível, por ineficácia absoluta do meio, já que a polícia foi acionada. d) tentado, pela superveniência de causa relativamente independente. e) consumado, pois o crime reuniu todos os elementos de sua definição legal.5) Ano: 2013 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Agente de Polícia De acordo com o Código Penal, a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente, caracteriza o(a) a) arrependimento eficaz. b) arrependimento posterior. c) tentativa. d) crime frustrado. e) desistência voluntária.
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