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Aula 02 Crime Consumado, Crime Tentado

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Direito Penal Geral | Material de Apoio 
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DIREITO PENAL - PARTE GERAL 
AULA 2 – CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO 
1. Iter criminis
2. Crime consumado
3. Crime tentado
4. Tentativas “abandonadas”
a) Desistência voluntária
b) Arrependimento eficaz
5. Arrependimento posterior
6. Crime impossível
1. ITER CRIMINIS
Iter criminis é o caminho do crime, composto das diferentes fases de desenvolvimento do delito.
Segundo a doutrina, o crime se divide em 4 fases, uma interna e três externas. 
- cogitação - fase interna
- iter criminis - preparação
- execução - fases externas
- consumação
Obs.: Alguns autores incluem no iter criminis uma 5ª fase, o exaurimento do crime. 
I – Fase interna 
É a fase que antecede a exteriorização da conduta do autor. Não há, ainda, ofensa ao bem jurídico tutelado. 
Essa fase é chamada de cogitação. 
Cogitação é a simples ideia do crime. Pode ser espontânea ou provocada. Ex.: João resolve matar sua sogra Maria. 
Obs.: a mera cogitação é impunível (o Direito Penal não pune o pensar, somente atos externos que ofendam 
bens jurídicos alheios). 
II – Fases externas 
 São fases em que há exteriorização da intenção do autor por meio da prática de condutas, as quais podem 
ofender o bem jurídico protegido. Nessas fases há a possibilidade de punição. São elas: preparação, execução e 
consumação. 
a) Preparação ou atos preparatórios (conatus remotus): o agente prepara o crime, procurando criar as condições
necessárias para sua realização. Ex.: João adquire uma arma de fogo para matar sua sogra.
Atenção: em regra, os atos preparatórios são impuníveis. 
Exceção: quando o ato preparatório é previsto como crime autônomo. Exemplos: associação criminosa (art. 
288, CP); petrechos para falsificação de moeda (art. 291, CP). 
b) Execução ou atos executórios: é a atuação externa do autor que inicia a conduta prevista como proibida (o núcleo
do tipo penal - verbo). Ex.: João aperta o gatilho da arma para matar sua sogra.
Observações: 
1ª) Iniciada a execução, são quatro os possíveis resultados: 
- a consumação do crime (art. 14, I);
- a tentativa do crime(art. 14, lI);
- a desistência voluntária (art. 15);
- o arrependimento eficaz (art. 15).
2ª) Quando tem início a execução do crime? 
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Prevalece no Brasil a teoria objetivo-formal, pela qual o ato executório é aquele que inicia a realização do 
núcleo do tipo penal, idôneo e inequívoco a ofender o bem jurídico. 
Ex.: Se o núcleo do tipo é “subtrair”, só se considera ato executório quando o agente começa a subtrair. 
Atualmente, muitos doutrinadores defendem a teoria objetivo-individual, que diz que a execução do crime 
inicia-se com a conduta imediatamente anterior à realização do núcleo do tipo penal, conforme o plano do agente. 
Ex.: no caso de furto à residência, o fato do autor estar no interior do domicílio já configuraria ato executório 
de furto, ainda que não iniciada a subtração. 
c) consumação: ocorre quando há a reunião de todos os elementos da definição legal, ou seja, o crime se realiza
integralmente (art. 14, I).
Ex.: João resolve matar sua sogra Maria (cogitação). Para tanto, adquire uma arma de fogo (preparação). 
Após, vai até a casa da vítima e dispara a arma de fogo (execução), causando a morte de Maria (consumação). 
Obs.: Exaurimento: são efeitos da conduta previstos no tipo penal e que ocorrem posteriormente à consumação do 
delito. 
Ex.: pagamento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro (art. 159, CP). 
Também é chamado de crime exaurido ou esgotado. Não integra o iter criminis, mas influi na dosimetria da 
pena. 
2. CRIME CONSUMADO
O crime consumado está previsto no art. 14, I, CP (conceito legal de consumação).
Art. 14, CP: Diz-se o crime: 
Crime consumado 
I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; 
Observações: 
1ª) Crime permanente: é aquele cuja consumação se prolonga no tempo, perdurando até que cesse o 
comportamento do agente. 
Ex.: extorsão mediante sequestro (art. 159, CP) – Enquanto a vítima estiver sob o poder do sequestrador, a 
consumação do crime permanece. 
2ª) Classificação do delito quanto ao momento consumativo: 
- Material
Crime - Formal
- Mera conduta
a) Crime material: o tipo penal (artigo) descreve a conduta e o resultado naturalístico, dependendo da ocorrência
deste para a consumação do delito. Ex.: art. 121, CP (O homicídio se consuma com a morte).
 Crime - tipo penal = conduta + resultado
 Material - consumação = resultado
b) Crime formal (ou de consumação antecipada): o tipo penal descreve a conduta e o resultado, porém, a
consumação ocorre desde a prática da conduta. 
No crime formal, a ocorrência do resultado natural configura exaurimento do crime. Ex.: art. 159, CP. 
- tipo penal = conduta + resultado
 Crime formal - consumação = conduta
- resultado = exaurimento
c) Crime de mera conduta: o tipo penal descreve somente a conduta (sem resultado natural). Ex.: art. 135, CP
(omissão de socorro), art. 150, CP (violação de domicílio).
 Crime de - tipo penal = conduta
mera conduta - consumação = conduta
3. CRIME TENTADO
Está previsto no art. 14, II, CP (conceito legal de tentativa).
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Art. 14, CP: Diz-se o crime: 
Tentativa 
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. 
- Elementos do crime tentado
a) Início da execução;
b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
c) Dolo de consumação.
- Consequências do crime tentado
 Art. 14, Parágrafo único: Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente 
ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 
O CP adotou, como regra, o sistema objetivo, pelo qual a tentativa é punida com a mesma pena da 
consumação, reduzida de determinada fração (1/3 a 2/3). 
 Critério: quanto mais próximo da consumação, menor a redução; quanto mais distante da consumação, 
maior a redução. 
- Crime de atentado ou crime de empreendimento
Ocorre quando, excepcionalmente, a lei prevê, para o crime tentado, a mesma pena o crime consumado, 
sem redução. 
Ex.: Evasão mediante violência contra a pessoa 
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando 
de violência contra a pessoa: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. 
- Formas de tentativa
I - Quanto ao iter criminis percorrido: 
- Tentativa imperfeita
- Tentativa perfeita
a) Tentativa imperfeita (inacabada): o agente inicia a execução do crime e é impedido de prosseguir no seu intento,
deixando de praticar todos os atos executórios à sua disposição.
Ex.: Pretendendo matar seu inimigo José com cinco tiros, João municia seu revólver com cinco projéteis. 
Após o primeiro disparo, Carlos consegue imobilizar João, evitando o homicídio. 
b) Tentativa perfeita (acabada) ou crime falho: o agente, apesar de esgotar todos os atos executórios à sua
disposição, não consegue consumar o crime.
Ex.: João tinha cinco projéteis no revólver e, pretendendo matar José, efetua cinco disparos, porém, a vítima 
sobrevive. 
II - Quanto ao resultado produzido na vítima: 
- Tentativa não cruenta
- Tentativa cruenta
a) Tentativa não cruenta (tentativa branca): o corpo da vitima não é atingido pela conduta do autor (não há
lesão à vítima); 
b) Tentativa cruenta (tentativa vermelha): o corpo da vítima é atingido pela conduta do autor (a vítima é
lesionada). 
III - Quanto à possibilidade de alcançar o resultado: 
- Tentativaidônea
- Tentativa inidônea
a) Tentativa idônea: o resultado era possível de ser alcançado.
b) Tentativa inidônea (crime impossível): o resultado era absolutamente impossível de ser alcançado. Ex.:
matar a sogra já morta. 
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Pergunta: é o que “crime manco”? 
Resposta: Crime manco é o crime tentado. Essa expressão deriva da ideia de que, na tentativa, o elemento 
subjetivo (vontade do agente) ocorre por inteiro, mas os aspectos objetivos do crime (conduta e resultado) não se 
dão inteiramente, de modo que o crime fica “manco”. 
elemento subjetivo elementos objetivos 
Pergunta: existe crime que não admite tentativa? 
Resposta: Sim. Não admitem tentativa: 
a) crimes culposos;
b) crimes preterdolosos;
c) contravenções;
d) crimes unissubsistentes;
e) crimes omissivos próprios;
f) crimes condicionados ao resultado;
g) crimes habituais;
h) crimes de atentado.
4. “TENTATIVAS ABANDONADAS”
São duas as formas de “tentativas abandonadas”:
- Desistência voluntária
- Arrependimento eficaz
Estão previstas no artigo 15 do CP.
Art. 15, CP: O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução [desistência voluntária] ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados [arrependimento eficaz]. 
a) Desistência voluntária: ocorre quando, iniciada a execução do crime e podendo nela prosseguir, o autor desiste,
voluntariamente, de continuar a executar o delito.
Obs.: a desistência deve ser voluntária (por vontade), não necessariamente espontânea (admite 
interferência externa). 
b) Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente, após terminar a execução do crime, desenvolve
voluntariamente nova conduta e evita a ocorrência do resultado.
- Consequência: o agente responde pelos atos até então praticados.
Ex.: o agente dá cinco tiros na vítima, mas quando ela está quase morrendo, ele a leva ao hospital e
consegue salvá-la. Responderá pelas lesões corporais provocadas na vítima. 
- Consequência: o agente responde pelos atos já praticados.
Ex.: João deseja subtrair um carro e, após destruir a fechadura da porta, desiste e vai embora, sem nada 
subtrair. Responderá pelo crime de dano (art. 163, CP), pois destruiu a fechadura do veículo. 
Lembrar sobre desistência voluntária: 
1) a fase de execução se inicia e é interrompida pelo próprio agente.
2) a fase de execução planejada não se esgota.
3) o agente responde pelos atos até então praticados.
- Lembrar sobre arrependimento eficaz
1) a fase de execução se inicia e se esgota.
2) o agente evita, por vontade própria, o resultado.
3) o agente responde pelos atos até então praticados.
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5. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
Está previsto no art. 16, CP:
Arrependimento posterior
Art. 16, CP: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída 
a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a 
dois terços. 
Ocorre quando o autor, após consumado o crime sem violência ou grave ameaça, repara, voluntariamente, o dano 
ou restitui a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime. 
- Requisitos:
a) Crime sem violência ou grave ameaça à pessoa;
b) Reparação do dano ou restituição da coisa;
c) Até o recebimento da inicial;
d) Por ato voluntário do agente.
- Natureza jurídica: causa de diminuição de pena (1/3 a 2/3).
6. CRIME IMPOSSÍVEL
Está previsto no art. 17, CP:
Crime impossível 
Art. 17, CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta 
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. 
Como visto, é também chamado de “tentativa inidônea”. 
O CP Brasileiro adotou a teoria objetiva temperada, pela qual não há tentativa quando a conduta do autor for 
absolutamente inidônea a provocar o resultado. 
Assim, pouco importa a presença de dolo (teoria subjetiva) e de periculosidade do agente (teoria 
sintomática). 
- Requisitos do crime impossível:
a) Início da execução;
b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente;
c) Resultado absolutamente impossível de ser alcançado por ineficácia absoluta do meio ou absoluta
impropriedade do objeto material. 
a) Ineficácia absoluta do meio: o meio escolhido pelo agente é absolutamente ineficaz para cometer o crime.
Exemplos: 
1. querer praticar abortamento com reza.
2. desejar matar com uso de arma de fogo desmuniciada.
3. uso de documento falsificado grosseiramente.
b) Absoluta impropriedade do objeto: a pessoa ou coisa sobre a qual recai o crime é absolutamente imprópria para
a consumação do delito.
Exemplo: 
1. tentar matar alguém já morto.
2. Tentar abortar sem estar grávida.
Obs.: se o meio for relativamente ineficaz ou o objeto for relativamente impróprio, o crime será tentado.
Ex.: arma que falha no momento do disparo. 
Pergunta: o que é “crime de alucinação”? 
Resposta: É hipótese em que o agente pratica intencionalmente uma conduta que acredita ser crime, mas 
que não está prevista em lei como tal. 
Ex.: casal pratica incesto pensando se tratar de crime. 
Obs.: Não é caso de crime impossível, mas sim de “delito putativo por erro de proibição” ou “erro de 
proibição invertido”. 
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QUESTÕES DE CONCURSO 
1) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Atendente de Necrotério Policial
Dispõe o parágrafo único do art. 14 do CP que o crime tentado é punido, salvo exceção, com a pena
a) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um a dois terços.
b) igual à do crime consumado.
c) correspondente à metade da prevista para o crime consumado.
d) livremente estabelecida pelo Juiz, mas em patamar obrigatoriamente inferior à correspondente à prevista
para o crime consumado.
e) correspondente à prevista para o crime consumado, diminuída de um ano.
2) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Fotógrafo Técnico Pericial
Referente ao crime tentado, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado
a) diminuída de um terço.
b) de forma idêntica.
c) de forma proporcional.
d) diminuída de um a dois terços.
e) diminuída de dois terços.
3) Ano: 2013 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Auxiliar de Papiloscopista Policial
Com relação ao arrependimento posterior, é correto afirmar que
a) somente é aplicável aos crimes culposos.
b) somente é aplicável aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa.
c) é uma das causas excludentes de ilicitude.
d) é aplicável como causa obrigatória de diminuição de pena, ainda que tenha havido dano pessoal e
patrimonial à vítima.
e) pode ser aplicável aos crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, desde que o
arrependimento seja espontâneo.
4) Ano: 2014 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Técnico de Laboratório
Médico devidamente contratado pela Administração Pública e que está lotado em hospital público exige de familiar
de paciente do Sistema Único de Saúde o pagamento de um valor indevido para a realização de uma cirurgia
imprescindível. O familiar finge aquiescer com a exigência, mas ao sair do hospital aciona a autoridade policial e não
efetua qualquer pagamento. Nesse caso, considerando as previsões do Código Penal, houve crime
a) tentado, pois não houve o pagamento, circunstância alheia à vontade do médico.
b) culposo, porque o agente deu causa ao resultado por imprudência.
c) impossível, por ineficácia absoluta do meio, já que a polícia foi acionada.
d) tentado, pela superveniência de causa relativamente independente.
e) consumado, pois o crime reuniu todos os elementos de sua definição legal.5) Ano: 2013 - Banca: VUNESP - Órgão: PC-SP - Prova: Agente de Polícia
De acordo com o Código Penal, a execução iniciada de um crime, que não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente, caracteriza o(a)
a) arrependimento eficaz.
b) arrependimento posterior.
c) tentativa.
d) crime frustrado.
e) desistência voluntária.

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