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resenha pedagogia da hegemonia

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Ciências Sociais – U.F.M.S 
Sociologia da Educação – Profa. Dra. Silvia Helena Andrade de Brito
Acadêmico: Ariovaldo Toledo Penteado Junior RGA 2011 0344 045 4
O neoliberalismo do consenso: a educação a serviço do capital
Ariovaldo Toledo Penteado Junior
Numa época ímpar dentro da democracia brasileira onde as ruas estão sendo 
tomadas pelas multidões que desfilam as mais variadas bandeiras torna-se de suma 
importância a leitura da obra “A nova pedagogia da hegemonia” (Xamã, 2005, 311 páginas), 
fruto de um trabalho de três anos do Coletivo de Estudos de Política Educacional da 
Universidade Federal Fluminense e da Fundação Oswaldo Cruz, sob a organização da 
professora Lúcia Maria Wanderley Neves.
Tendo-se em vista que a grande mídia diante de tal reclamo popular somente 
direciona suas câmeras para alguns vândalos e baderneiros, bem como mascara a grandeza 
dos números, camuflando claramente a existência do conflito e da insatisfação popular, faz-se 
necessário a menção à obra em tela que traz as “Estratégias do capital para educar o 
consenso”; que a autora e seus colaboradores elencam com fulcro em categorias marxistas e 
na doutrina gramsciana. Segundo o prefácio de Carlos Nelson Coutinho “as teorias de 
Gramsci são utilizadas para conceituar as novas formas de luta pela hegemonia nos marcos 
do atual predomínio da ideologia e da prática do neoliberalismo, sobretudo na versão que 
estas têm assumido na chamada 'Terceira Via'” (pg. 12). Assim, as ideias trabalhadas pelos 
neoliberais vão de encontro aos clamores que presenciamos nas ruas posto que visam negar o 
conflito de classes, pregam o voluntariado, a conciliação e o que chamam de responsabilidade 
social das empresas.
Na apresentação e introdução da obra, a autora Lucia Maria Wanderley 
Neves traz a ideia da chamada “Terceira Via” (sistematizada pelo sociólogo inglês Anthony 
Giddens) bem como desenvolve as teorias de Gramsci acerca da suma importância do 
1
consenso dentro das sociedades ocidentais para que um processo se torne hegemônico. Assim, 
trabalha a figura do “Estado Ampliado” como educador e, mais especificamente, no caso 
brasileiro, a pedagogia da hegemonia visando a estabilidade do projeto neoliberal.
 
Na primeira parte da obra, de autoria de Kátia Regina de Souza Lima e 
André Silva Martins, são trazidos os pressupostos, princípios e estratégias do neoliberalismo 
em transformar a sociedade num “terceiro setor” caracterizado pelo voluntariado e consenso 
das classes subalternas em relação a uma política que alimente o grande capital. Surge a 
“Terceira Via” que é retratada como um programa burguês responsável por uma pedagogia 
voltada a criar uma unidade moral e intelectual preocupada com a “coesão social” e não com 
a opressão dos trabalhadores, ou seja; praticamente realiza uma negação da história como 
processo da luta de classes. Por sua vez, Adriana Almeida Sales de Melo trata da participação 
de organismos internacionais como o FMI e Banco Mundial como protagonistas da nova 
agenda de governança do século XXI visando um novo bloco histórico marcado por 
liberalizações, desregulamentações e privatizações de cunho anti-social.
Na segunda parte são analisados os fenômenos da “Pedagogia da 
hegemonia no Brasil”, onde a burguesia dominante visa também constituir-se e manter-se 
como dirigente. Para tanto, analisa “A sociedade civil como espaço estratégico de difusão da 
nova pedagogia da hegemonia”, de autoria da organizadora Lucia Maria Wanderley Neves 
que labora a metamorfose da sociedade civil (do desenvolvimentismo ao neoliberalismo da 
Terceira Via) como resumo da apropriação burguesa do Estado, a estratégia de repolitização 
da classe trabalhadora (consolidação do “americanismo” no Brasil, cooptação de lideranças 
sindicais, criação de partidos não ideológicos) e o redirecionamento do foco da luta política 
com a fragmentação e subordinação dos movimentos sociais às diretrizes burguesas através 
de novos sujeitos políticos coletivos maquiados em ONGs, Fundações e Institutos. As 
“Estratégias burguesas de obtenção do consenso nos anos de neoliberalismo da Terceira 
Via”, de autoria de André Silva Martins, relatam as estratégias modernas de convencimento 
político-social que substituíram os mecanismos antigos baseados na força. Assim, analisam 
instituições de suma importância como a Confederação Nacional das Indústrias (CNI), os 
clubes de serviço (Rotary e Lions), o Sesi, o Instituo Liberal (IL) e o Instituto de Estudos para 
o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que se utilizam de várias frentes na formação do 
2
consenso neoliberal, sobretudo sob o lema da chamada “responsabilidade social empresarial” 
onde, com cunho ideológico, visam o encerramento de crises e tensões sociais. Como se não 
bastasse, surgem os “Aparelhos produtores de hegemonia” representados pelo Gife, Instituto 
Ethos de Responsabilidade Social Empresarial e Fundação Abrinq, visando a difusão de 
novos padrões de sociabilidade que caminham ao encontro aos anseios do grande capital. 
Ao analisarem a “Reforma da aparelhagem estatal: novas estratégias de 
legitimação social” os autores Marcelo Paula de Melo e Ialê Failleiros salientam a ideia 
difundida de uma Terceira Via na condução do Estado (nem o Estado de bem-estar-social nem 
o neoliberalismo radical), ideia que encontrou seu ápice no governo Fernando Henrique 
Cardoso incorporando diversos elementos do projeto neoliberal como a abdicação da moeda 
nacional em nome de uma fictícia paridade com o dólar, privatização de empresas e bancos 
estatais, pagamento de juros vultosos, cortes orçamentários e a criação do Ministério da 
Administração e da Reforma do estado (Mare). No mesmo sentido tal política encontrou 
terreno fértil no governo Lula da Silva onde ganhar as eleições tornou-se a estratégia central 
do Partido dos Trabalhadores (PT). Essa reformulação da aparelhagem estatal é tratada 
também através dos “Mecanismos regulatórios como elementos constitutivos da nova 
pedagogia da hegemonia” de autoria de Maria Emilia Bertino Algebaile. Surgem o Instituto 
Brasileiro de Análise Sociais e Econômicas (Ibase) e a implantação do International 
Organization for Standardization (Iso).
Já na terceira parte da obra “A nova pedagogia da hegemonia no Brasil: 
experiências concretas” são analisados os “Parâmetros curriculares nacionais para a 
educação básica e a construção de uma nova cidadania” sob a batuta de Ialê Falleiros que 
traz à tona a clara influência alienígena da Unesco e de Edgar Morin (crítico contumaz do 
marxismo). Sob o título “Fundação Belgo-Mineira: o empresariado em ação” a autora 
Adriane Silva Tomaz estuda a atuação da Fundação Belgo-Mineira que se transformou em um 
dos mais importantes organismos de difusão da ideologia da “responsabilidade social” na 
atualidade e, em sintonia com a política neoliberal vigente, atende o objetivo de uniformizar o 
comportamento das classes dominadas. No mesmo sentido “Igreja Católica e educação no 
Brasil de FHC e Lula da Silva: tempos modernos, sonhos antigos” Ronaldo Sant'Anna 
analisa o papel das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e conclui no interesse da 
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instituição em manter sua posição de prestígio e quedar-se longe dos conflitos e contradições 
que desse mesmo projeto é parceira, posicionamento refletido nas suas Campanhas da 
Fraternidade comungando com a chamada noção de “responsabilidade social” tão pregada 
pela Terceira Via. Por fim, é aludida por Marcelo Paula de Melo a experiência“Via Olímpica 
da Maré e as políticas públicas de esporte em favelas do Rio de Janeiro”enfatizando mais 
uma vez o papel das ONGs, fruto da característica do projeto neoliberal de redução dos 
direitos sociais. 
Assim, frente a todo o acima aludido, socorremo-nos aos ensinamentos de 
Gramsci que reza que o consenso torna-se de suma importância para que um processo se 
torne hegemônico e, como a burguesia dominante visa manter-se como dirigente, nada melhor 
que os aparelhos privados de hegemonia para o convencimento social. A grande mídia tenta 
esconder, mas o conflito existe e está nítido nas ruas brasileiras. Os vândalos que são 
apontados no meio de uma verdadeira multidão que clama por reformas são ínfimos e 
irrisórios diante dos vândalos que assaltam os cofres públicos com estádios e outros desvios 
que interessam diretamente ao grande capital. Este, por sua vez, necessita do consenso e nesse 
sentido, a escola assume esse papel central posto que para Gramsci, toda relação de 
hegemonia é necessariamente uma relação pedagógica. Só o consenso interessa e isso fica 
mais do que comprovado na obra em tela.
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