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��� ��� CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL - UNINTER CURSO BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL – EaD A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL Resumo: O presente trabalho tem como objetivo mostrar o processo de construção da identidade nacional brasileira, que devemos entender como um discurso, criado no sentido de adquirir uma consciência de unidade para o povo, ou seja, a nacionalidade é “inventada”, algo que os meios de comunicação e entretenimento disseminam até os dias atuais. Para isso o IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, logo após a independência teve participação importante neste processo, no qual teve que elaborar um projeto para “contar” a história do Brasil criando, assim uma identidade brasileira. Palavras-chave: Identidade nacional. Símbolos nacionais. IHGB. 1 INTRODUÇÃO Estabelecer uma discussão acerca da construção da identidade nacional é uma atividade relativamente complexa, tendo em vista a dificuldade em identificamos materialmente todas as colaborações culturais, étnicas e sociais, mas esta dificuldade repousa, sobretudo, na necessidade de construirmos um entendimento sobre o paradigma identitário que surge em meados do século XVIII no Brasil. O objetivo geral proposto será analisar os aspectos e características socio culturais e étinicas da população brasileira, buscando verificar pontos de convergência ou dscontinuidades que sejam capazes de corroborar ou não com a ideia de que há uma identidade nacional. Quanto aos objetivos específicos, estes serão norteados pela percepção acerca da construção da identidade do povo brasileiro enquanto identidade nacional, concebida a partir de um discurso proposto pelo Estado. O presente estudo utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, buscando subsídios e fundamentos para a problematização do tema, sem ter, contudo, a pretensão de esgotar o assunto, mas identificar elementos fundamentais para a compreensão da sociedade da qual fazemos parte. Assim considerando, o presente trabalho busca levantar questões sobre a formação e a existência de uma identidade nacional brasileira e simultaneamente, propor uma discussão sobre a construção identitária nacionalista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB. 2 CONTRIBUIÇÕES ETNOCULTURAIS À FORMAÇÃO DA IDENTIDADE SOCIAL BRASILEIRA Ao buscarmos na memória historiográfica referências sobre as culturas e etnias que seriam responsáveis pela elaboração do que hoje determinamos de povo brasileiro, encontramos uma infinidade, vindas das mais variadas regiões do mundo, mas principalmente do próprio território nacional. O grau de sincretismo cultural e etimológico deixa clara a dificuldade que temos em determinar uma identidade única que possa se afirmar a expressão do “ser brasileiro”. Muitas foram as experiências que foram responsáveis pela formação das identidades etnicoculturais brasileiras. Inicialmente, temos as várias identidades indígenas que habitavam o território nacional antes dos europeus aqui chegarem, a exemplo do Tupi-Guaranis, os Tupiniquins, os Tupinambás, dentre outros inúmeros povos. A colonização européia trouxe consigo os portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, dentre outros. Em seguida, a experiência da escravidão arrancou incontáveis povos, de incontáveis etnias africanas de suas terras, os quais vieram parar no Brasil. O imigrantismo, uma estratégia de branqueamento da população brasileira, foi responsável pela vinda de pessoas ao Brasil, dos mais variados países da Europa, e também da Ásia. Importante ressaltar que alguns grupos étnicos ainda buscam guardar os costumes trazidos dos países de onde vieram, como uma forma de memória cultural e também de distinção, entretanto, a miscigenação é fator irrefutável. Ao juntarmos todos estes fatos, chegamos a um inevitável questionamento: é possível determinar objetivamente uma única identidade étnico-cultural brasileira? A primeira conclusão a quepodemos chegar é que o Brasil é um país multi-étnico, multi-cultural, logo não há como determinar uma única formação etinico-cultural. Entretanto, poderiamos buscar encontrar um ponto de semelhança entre esses diversos grupos e determinar uma identidade nacional a partir da integração social e um sentimento de pertencimento à nação brasileira. Ao falarmos em identidade entendemos que esta denota situação ou sentimento de pertencimento, estabelece uma relação ou um vínculo com determinado lugar ou determinado grupo social, logo, identidade nacional seria o pertencimento à determinada nação. Neste sentido, há dificuldade de pontuamos objetivamente essa situação de pertencimento, uma vez que esta também deve ser abordada como uma questão subjetiva, pois temos grupos étnicos brasileiros que ainda guardam sentimento de pertencimento ao lugar de origem. Então, a construção da identidade nacional brasileira, a seguir comentada, é ineficaz enquanto elemento determinante de uma identidade homogênea. 3 O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO - IHGB E A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL BRASILEIRA O IHGB, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, criado em 1831, sob o reinado de Dom Pedro II, tinha como objetivo criar um projeto que fosse capaz de estruturar o Brasil enquanto uma nação, civilizada e rumo ao progresso. Neste sentido, era indispensável um projeto elaborado de escrita da História do Brasil que caracterizasse essa estrutura nacional, uma História que fosse “capaz de contribuir para o desenho dos contornos que se quer definir para a Nação brasileira”. (GUIMARÃES, 1988, p.07). Uma historiografia com contornos próprios, obedecendo a interesses particulares, fundamentos de estabilização da monarquia e covergência com os estados modernos. A construção nacional implica necessariamente a construção de uma identidade cultural e social nacional. Delimitar quem é o nacional que faz parte desta nação que esta sendo construída, construir uma identidade no plano interno. Logo, no plano externo, há a necessidade de delimitação do outro, do estrangeiro, ouseja, aquele que não faz parte da nação. Quando buscamos nos aprofundar sobre a história da construção das mais váriadas nações, percebemos que a delimitação de quem é o nacional e quem é o estrangeiro, o outro, o bárbaro, é o ponto fundamental, pois é o momento que se cria um elemento de identidade, um sentimento de unidade e pertencimento, fundamentado em um passado imemorial e comum; e, por outro lado, há o expurgo daqueles que não pertencem. Esses elementos, a priori, também ocorreram no Brasil, com a escrita historiográfica do IHGB. Entretanto, essa construção buscava reafirmar a condição dos portugueses, europeus, em seus papéis civilizadores, “heróicos”, ao passo em que relegava aos indígenas o papel de selvagem que deveriam ser integrados e dos negros como fundamento da colonização em seu papel civilizador. A metodologia deste instituto era a de produzir relatórios científicos sobre a população das várias regiões do território brasileiro, buscando criar uma única identidade cultural, social, ou seja, uma identidade nacional. A perspectiva do IHGB considerava três fontes identitárias raciais na construção da identidade nacional: Brancos, índios e negros, elementos representativos da nação brasileira, cada uma com seu papel, porém a clara evidência do papel civilizador europeu (portugueses), como afirma Armond: O branco e o índio foram os elementos eleitos como positivos na formação do brasileiro. Os negros foram praticamente ignorados pelos autores do IHGB, ou quando mencionados apareciam em situação inferior ou contrária à “civilização” moderna e à nacionalidade brasileira. Assim, verifica-se que o Brasil era plural, contando com membros não apenas europeus em sua composição. Apesar de mestiça, seus elementos originários eram apresentados de modo diferenciado qualitativamente. (ARMOND, 2016, p. 31). A pluralidade na concepção identitária nacional proposta pelo IHGB, como citado pelo autor,é referência para entendermos que, mesmo marginalizadas e desqualificadas, as etnias negras eram imprescindíveis para a formação de uma identidade nacional, se assim queriam que esta fosse compreendida como tal. A composição intelectual do IHGB era de cunho propriamente elitista, tinha como fundamento teórico as ideias iluministas, sobretudo francesas, que apresentam também um vértice elitista. Nesse prisma, o processo de nacionalização do Brasil deve ser interpretado como um processo de legitimação e fortalecimento da monarquia nacional e o fortalecimento do poder do Estado, a estabilização da administração pública, que era em sua maioria ocupada por funcionários portugueses. Implica reconhecer que entraria em xeque o processo de legitimação do sistema que se queria fortalecer, se minimamente a identidade nacional não fosse concebida tendo os portugueses o papel central em sua missão civilizadora, representando a modernidade e o progresso nacional. A partir destas considerações, podemos perceber que este paradigma identitário promovido pelo IHGB traz consequências sociais ainda nos dias de hoje, quando difundem-se discursos raciais, sociais e regionais buscando legitimação à discriminação, seguindo uma suposta superioridade racial. Destarte, a identidade nacional, em uma perspectiva historiográfica inicialmente concebida, atende um anseio de um segmento social, mas não reflete realmente a identidade nacional, ou a pluralidade de identidades, o sincretismo, a miscigenação, as contribuições intelectuais, as tradições, as diversas etnias, as memórias regionais e locais, o sentimento de pertencimento local e regional em detrimento do nacional. Multiperspectivar a identidade nacional é considerar que esta não é única, mas diversa em suas peculiaridades, não pode ser reduzida a um conceito de raça ou de língua, tão pouco pode ser considerado como pertencente a uma identidade nacional específica aquele que mora em determinado território nacional. 4 Considerações finais Podemos concluir que existem várias etnias culturais, vários modos de ser e viver em várias regiões do país, então o termo mais próprio para utilizarmos é “identidades nacionais brasileiras”, considerando-as em suas diversidades. Esse é um ponto fundamental sobre o qual devemos atender com criticidade quando vemos os meios de informação e comunicação se referirem ao povo brasileiro como uma identidade homogênea, pois esta qualidade não lhe é atribuível. Neste sentido, devemos dar como superada a concepção de identidade nacional proposta pelo IHGB, sendo certo que, elementos como a história comum, a língua, os monumentos culturais, o folclore, o hino, a bandeira, os símbolos, costumes, culinária, as religiões, dentre inúmeros outros elementos, são responsáveis pela determinação das identidades nacionais brasileiras em sua pluralidade. Para o profissional de serviço social, torna-se indispensável entender a formação identitária nacional, pois foi o caminho traçado e “inventado” para o nosso país, junto com esse discurso nacionalista veio a exclusão social de diversos grupos, fator este que ajuda a formar a desigualdade social que infelizmente temos hoje em dia e que é o campo de trabalho de um assistente social. 5 Referências ARMOND. Víctor Ribeiro Leiva Dias Ferreira. Um Estado sem nação: o IHGB e a construção da identidade nacional brasileira no século XIX. Brasília, 2016. FIORIN. José Luiz. A Construção da Identidade Nacional Brasileira. BAKHTINIANA. V. 1, n. 1, 1º sem. p. 115-126. São Paulo, 2009. GUIMARÃES. Manoel Luís Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história Nacional. p. 1 – 24. Rio de Janeiro, 1988. OLIVEIRA. Denisson. História do Brasil: Política e Economia. Curitiba: Editora Intersaberes, 2015.