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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO (UFOP) INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROFESSORA: LUÍSA RAUTER PEREIRA Marina Carvalho Amanda Rodrigues TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA Plano de aula: A cidade é da humanidade, mas não é da comunidade.” (pichação que se encontra gravada em vários muros pela cidade de Ouro Preto) Museu Casa dos Contos 1º Ano Ensino Médio Tempo total de duração da aula: 100m Tema da aula: Compreendendo e desvendando a Casa dos Contos Etapas da aula Objetivos específicos Conteúdos Metodologias Recursos Tempo estimado Apresentação do tema e dos objetivos da aula e das formas de avaliação . Compreender o museu como lugar de aprendizagem de história. . Dialogar criticamente sobre as exposições museológicas . Ensino de história; . Memória e museu . Incitar dúvidas, questões e problematizações prévias com base no conhecimento geral dos alunos através de uma roda de discussão no átrio externo do museu. . Próprio espaço do museu; . Debate aberto 30m Desenvolvimento Adicionar .Escravidão Interpretar a .Exposição 20m do tema (subdividido em diferentes etapas, conforme filiação teórico- metodológica do docente) conhecimentos relacionados à experiência e compreensão do espaço não- escolar em paralelo com outros conhecimentos obtidos durante a trajetória acadêmica e o aprendizado não formal . Memória oficial e não oficial disposição/intenção das exposições, avaliando de forma sucinta técnicas museológicas, ao deixar os alunos livres pela exposição. na “senzala” do museu Encerramento Refletir e relacionar o conhecimento prévio dos alunos com as questões geradas pela visita em questão . Exposição ideológicas . Espaço não- escolar; . Espaço não- formal; . Ensino de história; . Memória e museu .Escravidão . Memória oficial e não oficial Debater sobre a realidade das exposições e o papel educacional das mesmas, reunindo novamente os alunos no átrio externo do museu e retomando as discussões em roda . Espaço do museu 50m Roteiro utilizado Parte 1: Conversa inicial O que é um museu? Quais museus vocês conhecem? No museu pode-se aprender história? Alguém já esteve na Casa dos Contos? O que achou? O que é escravidão para vocês? O que é uma senzala para vocês? Parte 2: Exposição Como é o ambiente da exposição? Qual o objeto que chama mais a atenção de vocês? Quem é retratado na exposição? Como o mesmo é exposto? Parte 3: Conversa Final Como se dá a representação do negro na exposição? A identidade dos negros se limita ao apresentado na exposição? Para quê e para qual público a exposição se direciona? No museu pode-se aprender história? Breve consideração sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais A descrição do papel da História apontada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) aponta para a importância da construção de uma identidade e uma memória coletiva referente aos feitos dos Estados nacionais. A importância do ensino de História reside na possibilidade de se construir nesse momento a formação de uma ideia de História que ampara tanto o individua quanto a coletividade. Os PCNS do Ensino Médio esclarecem que a articulação entre a constituição da memória e das identidades sociais trabalhados a partir de diferentes temporalidades pode favorecer a reavaliação dos valores e levam a pensar a distinção de diferentes ritmos de transformações históricas. Dessa forma, partir da compreensão dos processos referentes a história local é possível pensar a relação passado, presente e suas atribuições nos espaços de convivência partilhado por grupos sociais. Passados presentes e pensar museus através da nostalgia restauradora de Svetlana Boym Dizer que toda história é uma história do presente, uma espécie de projeção dos nossos interesses sobre o passado, é dizer muito pouco (...) se admitirmos o caráter temporalmente denso do presente, ele deve ser visto não como uma dimensão fechada em si mesma, mas como o resultado da própria história viva com a qual sempre nos relacionamos. (ARAUJO, Valdei. L. de. “A aula como desafio à experiência da história") Desde o final dos anos oitenta, vários estudiosos das ciências humanas – em especial aqueles que se ocupam do tempo para a construção de seu ofício: os historiadores-, vêm percebendo um fenômeno de aceleração dos eventos (ou da percepção desses), seja no micro espaço cotidiano ou no que tange os acontecimentos de ordem global. Após o "breve século XX" 1 , revolucionário e belicoso, a ideia de progresso entra em crise, ao mesmo tempo em que se há um salto tecnológico e científico. A combinação desses fatores, a despeito das crenças futuristas que gerações anteriores projetavam para os nossos dias, resulta em um desejo de retorno ao que já passou, que se apossa de vários espaços da contemporaneidade. Fundamentado nesse desejo de simulação de um período que já se "encerrou", bem como da incorporação e até mercantilização de suas referências, o professor Andreas Huyssen elabora a ideia de "presentes passados". No capítulo intitulado “Passados presentes: mídia, política, amnésia”2, Huyssen desenvolve seu argumento partindo do pressuposto de que a emergência da memória é um fenômeno cultural e político central nas sociedades ocidentais, que contrasta com a sede de futuro sentida no início do século XX. Devido a sucessão de eventos traumáticos, a percepção dos sujeitos com relação com base em suas experiências é alterada, momento em que os "futuros presentes" (termo criado pelo historiador Rainhart Koseleck) perdem centralidade. Em uma espécie de "mal do século" 3 , a emergência das várias formas desses "passados-presentes" acarreta em consequências para a geração que tem de lidar com o paradoxo de um mundo altamente globalizado e informatizado e que, ao mesmo tempo, deseja resgatar ideias e valores de outros contextos histórico - o retorno aos ideais conservadores é um exemplo. Outra exemplificação (menos dramática) é a volta da cultura do vintage- repaginada, evidentemente, com o melhor da técnologia wireless. A historiadora Svetlana Boym identifica na nostalgia um sintoma dos nossos tempos. De maneira categórica, afirma: "O século XX se iniciou com utopia e terminou em nostalgia". Mais uma vez, a desilusão e a perda da crença da possibilidade de um futuro otimista criam a necessidade do que a autora aponta como a necessidade/vontade de retorno a um lar que talvez nunca tenha existido. "Nostalgia é um sentimento de perda e deslocamento, mas é também uma fascinação com a própria fantasia"(BOYM). Esse sentimento histórico culmina, entre tantos outros fenômenos, na emergência de uma necessidade de enaltecimento de um passado da nação - uma vez que, diferente da melancolia, nostalgia abarca o coletivo- e é nesse ponto que os museus enquanto instituições e "lugares de memória" por excelência situam-se. Erguendo-se enquanto espaços de materializações de um passado glorioso, de projeções positivas, esses espaços enquadram-se no que Boym identifica como nostalgia restauradora: "A nostalgia restauradora está no cerne do reavivamento nacional e religioso recentes. Ela apresenta dois enredos principais –o retorno às origens e a conspiração. (...) está tipificação da nostalgia permite-me distinguir entre, por um lado, a memória nacional baseada em uma única versão da identidade nacional e, por outro, a memória social, que consiste em quadros coletivos que marcam, mas não definem, a memória individual"(Boym Svetlana, p.159) Svetlana alerta em vários momentos sobre o perigo tênue que ronda esse tipo de nostalgia, embasado em uma lógica maniqueísta, uma vez que há uma espécie de perda do sentimento da nação. A complexidade da história, a variedade de evidências, as contrariedades são apagadas e adeptos mais extremistas veem a defesa contra o inimigo conspirador. Nesse sentido, Boym dialoga com o conceito de invenções de tradição de Hobsbawm. Retomando Huyssen, deve haver um cuidado ao se articular nostalgias reparadoras Segundo o autor, “se nós estamos, de fato, sofrendo um excesso de memória, devemos fazer um esforço para distinguir os passados usáveis dos passados dispensáveis.” (p.37). Faz-se necessário uma rememoração produtiva, uma seleção de memórias que possam contribuir com o futuro do presente e não apenas com o futuro do passado através da celebração de memórias.
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