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Reflexão Casa e Morar

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REFLEXÃO 
CASA/MORAR 
2º semestre 
	2017
Texto introdutório para o exercício arquitetônico 
projetual 
Estúdio II 
 
 1
ESTUDIO II 
PUCPCaldas / 2º período - 2º semestre 2017 
 
 
 
 
 
 
 
 
Reflexão CASA/MORAR (palavras chave) 
Discussão conceitual 
Jorge Villar 
 
 
 
 
 
 
 
 
 2
Na disciplina Estúdio II, Estruturações, se trabalha o tema morar, em residência unifamiliar isolada e, 
geralmente também, em residências agrupadas em condomínio ou, como alternativa, em edificação 
coletiva verticalizada. Para isso é necessário discutir previamente algumas questões fundamentais que 
irão orientar o desenvolvimento dos projetos. 
Que significa morar? O que é uma casa? Como ela é? 
Estas perguntas podem parecer estranhas. Como assim, o que é morar ou uma casa? Todo 
mundo sabe que residência é o lugar físico, a edificação onde se mora. Por que temos que refletir 
sobre isso? É necessário? Que mais há para saber ou discutir que a gente não tenha experimentado? 
Não sabemos já o suficiente sobre o tema? Ou uma casa é o deveria ser diferente do que nós 
conhecemos como casa? Há casas diferentes? 
Diferente significa que não é semelhante ou que é desigual, diverso, que pode ser nem 
mesmo um pouco parecido com outro ou outra coisa, objeto, pessoa, que conheçamos ou não, 
do que entendemos, sabemos ou acreditamos. Em arquitetura o diferente entende-se como 
original, condição muito valorizada por arquitetos e clientes. Claro que esta originalidade 
deve ser entendida como de qualidade positiva. Originalidade a qualquer custo pode ser 
não tão interessante ou desejável assim. 
Em outros países e culturas as habitações são diferentes? São melhores? As necessidades são 
outras? Todos têm a mesma idéia sobre o que é uma casa? A distribuição dos ambientes é diferente? 
O problema está no tamanho? No dinheiro disponível para edificar? Com recursos financeiros vou ter 
uma casa melhor? Precisa de alguma outra coisa? Há algumas outras considerações a fazer? 
Estes e outros interrogantes podem nos estimular a pensar sobre o tema. 
Há algumas questões que podem nos auxiliar a refletir sobre alguns aspectos fundamentais. 
Como por exemplo: 
 Uma casa é composta do que? 
 Existe um modelo universal? 
 Os modelos podem ser vários ou diversos? 
 Quem decide o modelo? 
 Se já existem por que deveria inventar outro? 
 Se existem não poderia escolher de um catálogo? 
 O que o arquiteto faz quando alguém solicita o projeto de uma casa? Usa os modelos? 
 Usar modelos tira a originalidade na criação arquitetônica? 
 Posso repetir o modelo da minha casa? 
 Ele é o melhor? Para quem? 
 Se eu tiver que fazer um projeto de uma casa, saberei como fazer? Como eu faço? Por 
onde começo? 
 Um iglu é uma casa? 
 Uma oca é uma casa? 
 E um apartamento, é uma casa? 
 
 
Bom, responder de maneira mais ou menos objetiva a estas questões depende da amplidão 
ou restrições com que se considerem os termos; da interpretação ou o do conceito que deles se tenha... 
Oooppppsssss! Que é isso de conceito? Interessa para a arquitetura? 
 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
 3
 Dentre outros fatores, é o conceito que nos temos sobre uma casa o que orienta o projeto. 
E este conceito muda, de acordo com o local, clima, usuário, tipo de vida, época, 
etc. e também com o arquiteto que projeta. 
Então o tal do conceito tem alguma importância no que vou a projetar? Do que se trata 
exatamente? 
Conceito, Conceitual, Conteúdo. 
Todos os substantivos1 são conceitos e expressam uma idéia síntese, a essência daquilo que 
tentam representar. 
Por exemplo: um cachorro é um animal quadrúpede, peludo, de tamanho médio, geralmente 
carinhoso e fiel ao dono, guardião, que mexe o rabo e faz “au-au”, etc.. Mas...será que isso descreve 
a todos os cachorros? É claro que não. Tem cachorro baixo, alto, grande, pequeno, de pelo curto ou 
longo, de cor única ou várias, orelhas pequenas, grandes, que ficam de pé ou penduradas, com rabo 
e sem rabo, manso, amigável, companheiro, agressivo, independente, etc., etc., etc. Tem até cachorro 
sem pelo e uma raça que não late! 
Deu para entender? 
Da mesma maneira podemos imaginar uma cadeira. São todas iguais? Teoricamente sim, 
mas...tem de madeira, de plástico, de aço, brancas, vermelhas, pesadas, leves, arredondadas, de 
ângulos retos, com espaldar alto ou baixo, com ou sem estofamento, confortáveis ou não, etc., etc., etc. 
Podemos dizer que em geral têm dimensões parecidas e a mesma forma: com quatro pés (mas nem 
todas), espaldar e assento. Se todas têm características de semelhança básica o que as diferencia é o 
formato que faz com que cada modelo seja diferente de outro. 
A mesma coisa acontece com pessoas, carros, mesas, aparelhos de som, etc. Certo? Ou seja: 
temos o conceito fundamental em relação a sua forma, ainda que não necessariamente seja a mesma, 
a não ser que, no caso de uma moradia reduzamos o conceito de forma a uma casa que tem paredes, 
piso e teto, coisa que nem sempre sequer esta redução seja de fato verdadeira, pois nem mesmo 
assim identifica a todos os modelos ou conceitos de casa que há pelo mundo. Mas se em geral se 
corresponde a uma ideia genérica elementar, nos detalhes há uma mudança bastante sensível. 
Repetimos: cadeiras e mesas têm (cada uma delas) uma forma “igual”, mudando o formato. Se 
entende? E lembremos, tal qual no exemplo anterior do cachorro, que o conceito de cadeira excede a 
idéia da sua forma física2. 
Voltando ao assunto: E uma casa? Vide abaixo a representação quase constante com que as 
crianças desenham sua idéias de casa/lar, não necessariamente coincidente com a construção real. 
Pela forma e características mais ou menos constantes com que são representadas diríamos que o 
conceito que elas têm de casa, pelo menos quanto à sua forma básica é mais ou menos similar. E esse 
tipo de representação se reproduz em regiões e países diferentes. Curioso, né? Globalização? 
Talvez... Mas não é esta curiosidade que vamos continuar discutindo. 
 
1 Auxiliando a memória: substantivo é toda palavra que, sem ajuda de outra designa a substância, seja ela real 
ou metafísica. Ex: flor, homem, carro, tempo, diabo...vade retro! 
2 Confortável ou não, luxuosa, rústica, apenas decorativa e/ou funcional, simbólica como trono, etc. 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
 4
 
As diferenças entre estas ideias e conceitos de casas podem ser mais significativas se for 
considerado o conceito individual de morar, de lar, dos laços familiares, de família, que têm forte 
influencia cultural. Mas, tanto quanto uma casa, o conceito de uma coisa, ideia, pode mudar com o 
tempo... 
 
Então um conceito pode mudar!? 
Observe-se o caso do conceito relativo à moral. O que é moral ou não mudou nos últimos 
tempos. Não interessa aqui se a mudança foi para bem ou para mal, se perdeu valores ou se ganhou 
em liberdade. O fato é que mudou. Antigamente um casal estar morando juntos ou ter filhos sem estar 
formal e legalmente casados era impensável e um fato condenado, se não pela justiça (em alguns 
casos o era), pela dita “sociedade”. Hoje a condição e esse conceito mudaram radicalmente, certo? E 
mulher fumando? E fumar num ambiente onde há não-fumantes? (Neste último caso o problema já não 
é de moral e sim de ética). 
 
Ok. Mas como é que mudou o morar? 
Vejamos: Todas as pessoas moram da mesma maneira? O ambiente físico é igual? Uma casa 
japonesa “tradicional” é igual que uma casa pobre do nordeste brasileiro? Uma casa de favela é 
igual a outra de bairros ricos do Rio de Janeiro ou São Paulo? Com uma boa dose de imaginação e 
tolerância pode-se aceitar que todas são casas, mas... 
Obviamentenão dá para pensar que a forma é igual, ou suas dimensões, sua localização, o 
tipo de espaço e ambiência, a qualidade dos ambientes, as possibilidades que oferecem sejam 
sequer remotamente parecidas se considerar extremos. E se recursos financeiros são evidentemente 
importantes tampouco pode-se dizer que o problema se resolve apenas com dinheiro. 
 
Particular
Realce
Particular
Realce
 5
Entre uma casa e outra de digamos, exatamente o mesmo padrão, teremos diferenças 
qualitativas que farão que em caso de ter que escolher se decida por uma e não por outra. Algumas 
são condições ou detalhes evidentes. Em outros nem tanto. A diferença será apenas relativa ao 
“estilo” ou a decoração? Ou há diferenças significativas que resultam de mudanças conceituais? 
 
A rigor, é sabido que as pessoas procuram um arquiteto não apenas porque pretendem que 
ela seja uma casa linda, mas também porque a querem aconchegante e que proponha algo 
“diferente”. Não se trata apenas de um modismo, ainda que em muitos casos possa ser exatamente 
isso que se procura. 
 
 
O que é diferente? 
O que um arquiteto pode oferecer de novidade sem perder qualidade ou ainda 
melhorar a forma de vida? 
 
Pode propor novas formas de morar que signifiquem uma melhoria em relação a tudo 
quanto seja possível e que estejam adequadas a uma forma moderna (nos aspectos “positivos”) de 
habitar e curtir o ambiente e tudo o que lhe diz respeito e não apenas em relação a questões 
tecnológicas. 
 
Curtir o ambiente?! Pois é... Hoje de trata mesmo de encontrar não apenas bem-estar, mas 
de sentir verdadeiro prazer no morar, de curtir a casa e tudo que tem dentro e o que ela representa 
(família, conforto, proteção, calor, alimentação, beleza, paz, lazer... tudo é relativo à pessoa, ao que 
ela quer, pensa e pretende. Oferecer a possibilidade de poder vivenciar um lar com tudo que isto 
significa, e não de apenas oferecer um espaço físico, pois afinal, o homem se adapta a quase 
qualquer estado, condição e situação. Disse homem... (e mulher, criança, também...via das dúvidas...) 
 
 
 
 
 
Então é possível encontrar nuanças e formatos diferentes no projeto de uma casa? 
Sim, assim como é possível ter outros conceitos sobre o morar e a casa. Imaginemos a 
grande diferença que existe entre morar numa casa que não possibilita a interatividade familiar, ou 
fria, com ambientes escuros, mal ventilados, todos fechados e para nada ligados entre si, janelas e 
portas pequenas que não possibilitem eventualmente usufruir de uma paisagem bonita, ou em área 
Ainda bem que não nascí na China, 
Senão acabaria ensopado... 
Particular
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Particular
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Particular
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Particular
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 6
barulhenta, situada num bairro violento, de fronte a uma grande avenida de muito trânsito e 
atmosfera poluída... e comparemos com uma casa situada em um lugar fantástico e paisagem 
exuberante (praia, rio, montanha, conforme desejo), em áreas seguras, tranqüilas, muito verde, muito 
sol, e céu azul que se desfrutam pelos pátios ou espaços abertos que oferece, por grandes áreas 
envidraçadas, com temperatura agradável, família convidativamente estimulada para o convívio pela 
ambiência arquitetônica, vizinhos ótimos... Será que nossa casa deveria renunciar a usufruir de todas 
essas maravilhas? Não é legal ter ambientes amplos, bem ventilados, claros, com portas e janelas 
grandes abertas e ligadas a áreas externas com muito verde, onde seja possível o dilema de se 
preferível ficar dentro ou fora? Com varandas, cheirando a flores e com espaços internos que possam 
ligar-se a vontade, etc. etc.? Será que a forma de morar que estes exemplos propõem é a mesma? 
 
Aqui se faz necessária uma parada para apontar para algo fundamental em termos de 
arquitetura: 
Arquitetonicamente, uma obra é 
conceitual, tem conteúdo, substância, quando a 
idéia como elemento vital predomina sobre a 
materialidade da obra, quando ela é fonte de 
conhecimento3, que se expressa através de uma 
síntese que denota o que ela é, ou tenta ser 
enquanto íntegra. 
 
Esta síntese se traduz como partido4. 
 
Para os arquitetos, o valor deste 
projeto está no (bom, ótimo) conceito de 
habitabilidade (ou na composição volumétrica, 
na ligação com o contexto, na funcionalidade, e 
outras ou todas essas e mais algumas outras) 
que ele propõe. 
 
 
É conveniente afirmar que toda obra 
arquitetônica (que se preze como tal, ou não) 
deve ser precedida na sua concepção pelo 
conceito geral que a orientará e definirá e 
pelos conceitos sistêmicos que a complementam. Defini-la conceitualmente é fundamento básico. Uma 
obra sem conceito arquitetônico claro é essencialmente somente uma construção e, como tal, vê seu 
valor diminuído. Vide a propósito o comentário de Leupen (1999) sobre o trabalho de Jean Nouvel no 
texto “Introdução à prática projetual” disponível na Aula rede. 
Mas afinal, o que é uma casa? 
A definição de casa é extremamente variável e obedece a critérios nem sempre assimiláveis 
por todos e que são principalmente de origem cultural. Um iglu ou uma oca podem não ser aceitáveis 
como casas na nossa cultura, mas são reconhecidos como tais, ou coisa mais ou menos similar, tanto 
pelos esquimós quanto pelos aborígenes que as habitam. 
 
3 Esta conceituação de conceito (desculpando a redundância) é de autor que não foi identificado. 
4 Vide Partido e Arché em “Composição arquitetônica. Teoria, fundamentos e conceitos básicos” deste mesmo 
professor. 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
 7
 
Shell house em Karuizawa, Japão. Artechnic 
Quer dizer, portanto, que a princípio são locais de habitação, de moradia, ainda que não 
exclusivamente, pois podem ter ou possibilitar outras diversas funções e ser também um local de 
trabalho ou lazer. A rigor e ainda que a função morar seja a predominante uma casa pode ter 
múltiplas funções que obedecem à vontade ou a forma de vida de quem ocasionalmente a ocupa. 
Morar pode ser reduzido a sua essência utilitária, mas na verdade esta tem uma dimensão maior, 
onde aspectos simbólicos, contextuais, paisagísticos, culturais e comportamentais, dentre outros, 
confluem para sua melhor, mais abrangente e precisa definição. 
 
 
 
A princípio pode-se dizer que um apartamento (também) é um lugar de moradia, mas não 
uma casa. O que os diferencia? A casa, grande ou pequena, boa ou nem tanto, funciona como uma 
unidade autônoma implantada num terreno que tem limites próprios dela, que pode ser térrea ou ser 
distribuída em vários andares, 2, 3 ou até 4, conforme algumas soluções ou situação topográfica. O 
Essa sim que parece 
uma casa... 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
 8
apartamento, ainda que também em alguns lugares se denomine assim a cômodos de uma habitação, 
forma parte de uma edificação coletiva de maneira solidária, com uma relativa autonomia de partes 
e de uso. 
Não existe um limite preciso para a altura em metros ou para o número de andares de uma 
casa. A maioria das prefeituras, através dos seus códigos de edificações dá uma orientação quanto 
aos pés direitos (distância livre entre piso e forro do teto ou do teto mesmo) mínimos e números de 
andares máximos e das características dimensionais, tipos de iluminação e ventilação, materiais 
construtivos e outras indicações dos ambientes, locais que podem compor uma casa. Dependendo do 
caso podem até regulamentar o estilo arquitetônico a ser observado ou dar algumas orientações a 
respeito que devem ser observadas, ainda que não configurem propriamente um “estilo”, como por 
exemplo, no caso em que as edificações são implantadas em áreas consideradas patrimônio histórico, 
onde se tenta não descaracterizar o local ou o grupode construções existentes. 
O dicionário Aurélio define o que é uma casa mais ou menos dessa forma sendo, nas 
acepções que nos interessam, ou 1. Um edifício ou 2. Cada uma das divisões de uma habitação. 
E o que é um edifício? O próprio Aurélio serve para entender a idéia: “Construção de 
alvenaria, madeira, etc., de caráter mais ou menos permanente, que ocupa certo espaço de terreno, 
geralmente limitada por paredes e teto, e serve de moradia, etc., edificação, casa, prédio, imóvel.” E 
nesta definição a imprecisão do tal do caráter já pré-anuncia outras tantas imprecisões ou 
subjetividades que a discussão sobre o tema pode acarretar. 
O que seria mais ou menos permanente? Corresponderia a uma vida potencial de 1, 5, 10, 
20, 40, 50, 100 anos? O gelo de um iglu pode ser considerado um material de construção? Por que 
não? É viável durante o inverno ou para o ano todo em algumas latitudes do Pólo Norte (ou do sul, se 
fosse o caso). Se durar até a chegada da primavera seria de caráter permanente, ainda que durasse 
4 ou 5 meses, mas servindo de casa durante todo esse tempo? Um trailer pode ser considerado casa? 
Sim? Não? Por quê? 
O tal do caráter de permanente sugere duas alternativas básicas: 1) de objeto ou artefato 
permanente (ou durável, imutável, persistente, estável, firme) que apresenta condições de resistência e 
vida útil, em condições de habitabilidade e 2) de ocupação permanente (constante, persistente, 
duradoura), ou seja: que possibilita a permanência ou presença habitual de pessoas. O Aurélio sugere 
atender à alternativa 1). E se não for ocupada? Continua sendo uma casa? Uma casa, porém 
desocupada? Apenas uma edificação com função presumida, porém não necessariamente definida? 
Mas, não há edificações que foram concebidas como casas que hoje funcionam como lojas, 
consultórios, como escritórios de profissionais liberais ou ainda como oficinas? Quer dizer então que o 
que aparenta ser uma casa ou foi concebida como tal não necessariamente o é. 
Parece que as definições claras e absolutas não são tão precisas nem definitivas assim. Ou 
mostram que os ambientes são muito mais flexíveis do que se imagina, ou que podem ser facilmente 
adaptados ou que o homem se ajusta às circunstancias e contextos sem maiores dificuldades. 
Se for pelo nosso padrão habitual ou pelo conceito mais ou menos generalizado, uma casa é 
um imóvel que possui ambientes tais como sala de estar, cozinha, dormitório e banheiro. Poder-se-ia 
incluir garage (ou garagem), copa, área de serviço ou lavanderia, e outros ambientes como lavabo, 
despensa, quarto de jogos, etc. Para alguns em condição de extrema pobreza a casa fica restrita a 
um único ambiente, sem banheiro onde podem estar incluídos equipamentos tais como cama, sofá, 
fogão e geladeira. Nem por isso para esse morador deixa de ser uma casa, ainda que pouco 
confortável ou sem atender a requisitos que consideraríamos mínimos. Mas lembremos que um 
ambiente de 3x4 pode ser tanto um dormitório como servir para muitas outras funções. Vai ser seu 
formato, condição e situação em relação a outros ambientes que vai caracterizar melhor seu potencial 
de uso ou função principal. 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
 9
 
Casa em Nova Lima. Minas Gerais. Arq. Ulisses Morato 
O que afinal significa “morar”? Residir? Habitar? Habitar vem de hábito, o que corresponde 
ao que habitualmente, freqüentemente, costumeiramente, se faz. Algo que acontece regularmente ao 
longo do tempo. Mas explica? Habitar pode ser explicado como o atendimento ou albergue das 
funções básicas do ser humano? Lugar para refugiar-se, dormir, alimentar-se, relaxar, conviver com a 
família, etc.? Ou há algo ou muito mais? O que seria? 
E estas funções, são similares para todos? Todos têm as mesmas necessidades e hábitos? 
O morar de uma família brasileira urbana de classe média será por acaso similar ao morar 
de uma família pobre do sertão? Parecido? Remotamente parecido? No que? São extremos? E se 
comparássemos duas famílias de renda similar e mesma localização urbana de uma mesma cidade, 
terão as mesmas necessidades, costumes, comportamentos? Até que ponto? No que se parecem ou 
diferenciam e por quê? O dormitório (e o dormir) de um adolescente é similar ao quarto e dormir dos 
seus pais? A configuração e arranjo do local e o mobiliário são ou devem ser diferentes? Qual a 
razão? 
Um quarto ou dormitório é para dormir? Só? Qual deve ser a sua localização? Neste local o 
adolescente recebe seus colegas? Para estudar, ouvir música, divertir-se, compartilhar seus segredos, 
namorar, etc. e, também...dormir...? Não funciona de maneira similar a um apartamento? Um local 
privativo da pessoa? Um apartamento dentro de uma casa? 
Por que chamar-lo de dormitório então? 
Será esta sua função única ou principal? 
Talvez no caso dos pais o seja. Pareceria ser (mais ou menos, novamente a imprecisão) que 
para os pais o quarto ou dormitório deveria (ou deve?) ter uma localização mais reservada (íntima). 
Mas será que no caso de um ambiente destinado a um adolescente a localização também deve 
corresponder ao de uma área (menos?) íntima ou deveria ser (mais) social? Devem estar num mesmo 
lugar, numa mesma região da casa? Devem de estar separados? Um deles (o dos pais) dando toda a 
garantia de privacidade e possibilitando a relação social (dos amigos, namorada, namorado...) no 
outro? A configuração física pode até ser parecida (um quadrado, um retângulo, se o que se 
pretende é um melhor aproveitamento do espaço) mas o arranjo, o layout (organização, disposição 
de mobiliário e equipamentos), conforme os tipos e formas de uso serão diferentes. 
Particular
Realce
 10
 
O dormitório dos pais portanto, poderá ser mobiliado como um dormitório onde a cama de 
casal tem função principal e posição dominante. Mas, e no caso dos adolescentes? Deverá ter cama 
ou seria desejável que fosse um sofá cama que têm outra aparência e utilidade (extra)? É uma área 
de dormir ou deveria se parecer (mais, ou também) com uma área social, uma sala de estar, ou de 
estudo, ou de lazer? Ou deveria ser ou ter todo isso e ser ou ter mais alguma coisa? Imagine você 
como gostaria que seu “dormitório” fosse. Onde deveria estar localizado, quais suas dimensões, que 
tipo de mobiliário teria, que funções ou que uso possibilitaria. 
Não sonhe demais... 
Mas... e se de repente o quarto do adolescente também vira quarto de casal? Se estiver em 
área “social” não ficará assim em uma condição não desejável quanto a privacidade e barulho? Uma 
situação de desconforto também poderia resultar do fato de um ambiente deixar de ter como função 
principal a de ser um dormitório para transformarse em escritório. Há de se pensar então que os 
ambientes deveriam ser flexíveis e readequáveis às circunstancias? Isto não complicaria o projeto? 
Obviamente teria uma complexidade maior. 
A cozinha e sua mesa eram antigamente lugares e elementos multiuso. Raramente tinham 
bancadas realmente funcionais. Geralmente na cozinha existia um fogão e uma pia. Os alimentos se 
preparavam na mesa onde também se reparavam artefatos com defeitos, se estudava, se costurava e 
também se faziam as refeições. Era um lugar natural para a reunião familiar, porque a preparação 
de alimentos e cozinhar demandavam muito tempo. Os frangos se criavam no fundo/quintal da casa e 
para servir de refeição dava um trabalho extra, além de desagradável (e triste, como ao matar o 
pobre frango). O quintal provia também de legumes, verduras e frutas. A família ficava muito tempo 
no local, fonte de informações e fofocas e lugar também onde se recebiam os familiares e amigos 
mais íntimos. 
 
 11
A cozinha atual (planejada, de custo extremamente alto) deve ser considerada como uma 
área de “serviço” oculta ou reservada parapessoal de serviço como o era “antigamente”, na época 
da escravidão ou quando ter “empregada” em casa era muito comum ou, pelo contrário, pode 
(também?) ser destinada a atividades sociais? Depende de que ou de quem? Qual a disposição em 
relação à sala de estar e/ou jantar? Deve servir como copa também? Junto com o banheiro é uma 
das áreas mais caras da construção. Estará reservada ao pessoal de “serviço”? A empregada 
doméstica ainda existe? É de presença habitual? Fica o tempo todo à serviço da família ou do 
morador? Reside neste local? É horista e de presença eventual? É parte da família? Tem livre acesso a 
todos os ambientes? A cozinha funciona (apenas?) regularmente durante a preparação e cocção das 
refeições familiares? Quantas refeições? Todos os ocupantes almoçam, jantam, etc. (juntos?) em casa? 
Ou as refeições acontecem fora porque todos trabalham ou estudam em outros lugares? São 
preparadas esquentando no microondas alimentos já prontos e congelados? Qual será o futuro da 
cozinha? Ainda é o lugar de reunião familiar? Deve continuar assim ou deve mudar? Por quê? 
E a área de serviço (ou lavanderia)? Onde fica? Tem que ficar fora de casa, isolada num 
outro local? É um tanque junto com uma máquina de lavar ou ainda uma secadora que ficam quase ao 
relento? Onde se passa a roupa? Antigamente a área de passar era necessário que ficasse próxima 
do fogão porque os ferros eram a carvão e não existiam as tábuas de passar no formato atual. É um 
lugarzinho acanhado, mal ventilado e iluminado, onde raramente há proteção para resguardar-se da 
chuva, do vento e do frio? Não deveria ser um lugar arejado, ordenado, amplo, ventilado, bem 
iluminado e confortável? Não deve ser um local tão planejado quanto a cozinha? Não é o lugar onde 
se deve também passar a roupa? Dormitório, sala ou cozinha são lugares para isso? Por falta de 
opção? Não deveria se abrir para um jardim ou para um lugar agradável? Esse lugar tem aparelho 
de som, ou um rádio? 
 
Escolha uma área de serviço... 
 
 12
E onde deve ficar o varal e que características deve ter? É necessário que exista ou vou 
somente utilizar a secadora de roupas, ainda que o custo de aquisição e funcionamento seja alto? Este 
varal é um fio pendurado nas paredes de qualquer canto no “fundo de quintal”? Quanto mede? Não 
deve haver lugares tanto com cobertura, com sombra quanto com sol direto? Existem outros 
mecanismos e artefatos para secar a roupa? Por que nas casas não é previsto adequadamente este 
local? Deve ficar próximo da área de serviço? Forma parte de esse local? Fica próximo da cozinha ou 
esta proximidade pode prejudicar as roupas penduradas? 
A sala “social” deve funcionar (apenas) como sala de visitas (quem são estas visitas?)? Deve 
existir um local apenas para receber outras pessoas, estranhos inclusive? É necessário construir e 
mobiliar um ambiente para isso? 
Ou deve ser uma sala de estar (o living room) destinada ao uso pleno e constante da família e, 
eventualmente, para receber as visitas? (para os filhos, para os pais, para todos? Familiares? 
Amigos? Desconhecidos?). Deve abrir-se para a rua? Ou para um espaço social (exterior) do lote em 
que implantada? Qual é a relação da casa com a rua, um local que de social, passou a ser um local 
perigoso? Esta sala é mais um local ou o ambiente sobre o que se estruturam os outros? (Depende da 
proposta, que se estrutura sobre um conceito de vida, né?) 
 
Existe ainda o “fundo de quintal”? 
Ou pomar? Se antigamente servia para 
criar galinhas, eventualmente porcos ou 
cabras, ou para plantar legumes e 
hortaliças qual a utilidade hoje? Plantam-se 
hortaliças e legumes? Colhem-se frutas? Há 
então galinheiro ou criação de outros 
animais? Devem existir áreas deste tipo? 
Para quê? Ainda se praticam este tipo de 
atividades nas residências? Em alguns 
casos, circunstâncias e lugares? Há quarto 
de despejo no fundo? Por que de despejo? 
Não seria interessante se este fundo de 
quintal fosse uma área de lazer, com 
varanda, piscina, churrasqueira, gazebo, 
belos jardins, recantos com usos diferentes, 
etc. em vez de um lugar que eventualmente 
funciona como depósito de bugigangas? 
Armários suficientes não resolveriam a 
questão. As casas têm número suficientes 
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de armários? Onde guardo a enceradeira, escada, mangueira, as ferramentas, a cortadora de 
grama, a ração dos cães? 
 
“Fundo” diferente... 
E o banheiro? Não confundamos com o lavabo. Banheiro é o local onde pode-se tomar 
banho. É o lugar onde as pessoas se asseiam e fazem suas necessidades fisiológicas. Mas também 
lêem, tratam seu corpo e guardam alguns tipos de equipamentos, objetos, etc. Como deve ser? Qual o 
tempo de permanência das pessoas neste local? Há pesquisas que constatam uma permanência 
relativamente longa neste ambiente, principalmente no caso das garotas. Todos consideram este local 
apenas como de “serviço” e uso apenas eventual? É necessário que exista uma banheira? E bidê? 
Deveria ter mictório para uso dos homens? É um lugar que deveria ser personalizado para cada 
pessoa? É um ambiente onde a intimidade deve ser resguardada? Poderia se abrir a um pátio ou 
jardim? Sim? Não? 
 
Onde se guarda o botijão de gás? Deve ficar próximo da cozinha? A pessoa que renova a 
carga entra na casa? Como deve ser pensada a entrada de outros equipamentos, fiações e elementos 
diversos, tais como eletricidade, água, internet, TV a cabo ou via satélite, telefonia, correio? Onde vai 
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a caixa de água? Posso ter acesso fácil para limpeza ou tenho que entrar por uma portinhola no 
forro e engatinhar sob o telhado espantando ratos e baratas para chegar nela? Há iluminação 
natural, artificial, que possibilite o trabalho nesse local? Posso ficar de pé? E como subo no telhado? 
Devo ter uma escada que não sei onde guardar para trabalhosamente subir para arrumar a antena 
de TV, recolocar as telhas que escorregaram ou quebraram, verificar se o painel para aquecimento 
está em condições de funcionar? As tubulações e fiações passam por onde? Se um tubo entupir tenho 
que quebrar as paredes para poder consertá-lo? 
E onde fica meu cachorro? Onde coloco sua casinha? Onde guardo minha bicicleta e a 
esteira para ginástica? 
Como se vê, há muitas dúvidas elementares a pensar e sobre as que podemos refletir sobre 
estes ambientes mais do que convencionais. Serão estes usos e funções estanques, totalmente definidas 
e inalteráveis? É o arquiteto que deve pensar nessas coisas? Senão ele, quem? 
Pode-se imaginar uma situação tal como apresentada no (primeiro) filme “A Máquina do 
Tempo” onde um viajante no tempo (vamos admitir que seja possível, coisa que não é, porque senão, 
como já disse o físico inglês Stephen Hawking, nosso tempo estaria cheio de turistas do futuro, a não 
ser que tal futuro não exista...), a bordo da sua máquina situada num lugar fixo vê a cidade se 
transformar à medida que aceleradamente passam os anos, onde novos edifícios aparecem, outros 
são demolidos, crescem na altura e mudam no estilo, e melhor ainda, vemos a vitrine de uma loja com 
um manequim feminino, que também permanece no mesmo lugar, mudando apenas o tipo e estilo de 
roupa, conforme mudam as estações do ano, a moda e os anos mesmo. 
As coisas mudam... 
 
Bom... não precisa ser tão radical... 
Se fosse possível estar a bordo de uma máquina do tempo numa viagem similar, poder-se-
ia notar situações bastante diferentes e mudanças significativas. Apenas para citar o caso brasileiro, a 
São Paulo primitiva mudaria substancialmente de um mísero casario com poucos transeuntes na rua, 
algum que outro cavalo e poucas carroças para uma cidade que cresceria lentamente na horizontal, 
com alguns poucos palácios (dos nobres barões e governamentais) e edifícios notáveis e alguma que 
outra igreja ou catedral na área central e bairros pobres e de operários na periferia para depois,lentamente ainda, mudar o traçado irregular para outro mais regular, planejado, com parques e 
jardins, grandes galpões industriais também nas bordas. 
De repente, há uma transformação bastante abrupta, com um crescimento rápido, tanto na 
horizontal quanto na vertical, com áreas de comércio espalhadas, shoppings, conjuntos habitacionais, 
conjuntos de edifícios de todo tipo em grandes alturas, com um adensamento notável e em especial, 
com uma miríade de gente e veículos circulando pelas ruas até ficarem congestionadas, e com aviões, 
ônibus, metrô, etc. Novos estilos de edificações e nas roupas das pessoas seriam também notados. Esta 
cidade tem uma história de crescimento (não estamos avaliando se para melhor ou pior). Crescimento 
nem sempre significa evolução. Infelizmente, a cidade que foi pensada para uma casa por lote, gente 
apenas caminhando e alguma que outra eventual carroça se vê abarrotada por gente, edifícios 
veículos e objetos de todo tipo, poluída e gigante. Mas há coisas boas também. Felizmente. 
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Se a máquina estivesse num outro lugar, como Brasília, a mudança seria quase instantânea, 
passando de um planalto deserto a uma cidade moderna, arejada, arborizada, com veículos 
circulando sem conflitos com o transeunte, edifícios com escala humana, descolados do verde chão 
possibilitando uma visão através deles, etc. Pessoas, veículos e edifícios apresentariam uma mudança 
menos significativa. A cidade nasce pronta e “moderna”, com um “estilo” uniforme e definido. Sem 
história. Ela seria narrada daí em mais, apresentando (teoricamente) poucas alterações. Depois, e a 
contragosto, a cidade cresceria na periferia, curiosamente seguindo o “modelo” anterior e 
teoricamente superado. 
Se a máquina estivesse situada em um lugar, como Ouro Preto, a cidade aumentaria menos 
rapidamente até atingir um tamanho que somente depois, bastante mais tarde, apresentaria também 
um crescimento na periferia bem diferente do casco urbano da época da colônia. Se o olhar se 
detivesse apenas nesta área, a mudança até hoje seria pouco, muito pouco significativa, se 
comparada com os dois casos anteriores. Não mudariam nem o estilo, nem a densidade nem a altura 
das edificações, que são preservadas através da legislação por ser este lugar considerado um 
patrimônio histórico-cultural. Equipamentos de iluminação pública com energia elétrica, algumas 
antenas e cartazes diferentes seriam os elementos fixos mais notáveis. O número de pessoas nas 
praças e ruas seria grande em algumas épocas do ano. Turistas ou em épocas de festas ou de aulas. 
O mais notável seria o aparecimento de veículos motorizados circulando pelas ruas (numa cidade 
“equivalente”, como Veneza, isto quase não existe, porque veículos deste tipo é exceção). Aqui se 
veria que ruas e veículos parecem incompatíveis, brigando uns com os outros para circular pelo mesmo 
apertado lugar. 
Três casos diferentes. Se os veículos e pessoas desaparecessem das ruas aparentariam 
corresponder a três períodos históricos bastante diferentes. O são realmente. Mas coexistem e 
funcionam simultaneamente. Como é isto possível? A diferença entre uma carroça puxada por bois e 
um automóvel de última geração é muito notável. Entre um edifício colonial e um edifício dos 
chamados “inteligentes” também há uma diferença similar. 
Se a carroça ainda é eventualmente encontrada e também aparecem “novas” residências 
com aparência colonial, poder-se-ia dizer que são anacronismos resultantes da pobreza, da 
preservação cultural e/ou para turismo ecológico no primeiro caso (da carroça) ou dos caprichos de 
quem pretenda recriar uma aparência edilícia ou um modus vivendus de 200 ou 300 anos por motivos 
que só esta pessoa conhece. Por que algumas pessoas solicitam dos arquitetos um projeto com 
aparência de residência colonial e não abrem mão da geladeira elétrica, da TV de LCD e LED’s, do 
computador, do carro flex, celular, internet, nem se vestem à caráter conforme o modelo da época e 
nem andam pela cidade montados num cavalo, ou a pé? O que pretendem ao querer construir uma 
casa com esta aparência? Reviver uma época passada? Status social? Esnobismo? E por que um 
arquiteto faz este tipo de projetos que mais está para um usuário da colônia do que para um 
cidadão do moderno e contemporâneo mundo globalizado? 
Excetuadas as novas condições tecnológicas, a mesma diferença significativa deveria existir 
entre o moderno apartamento ou casa em Brasília e um antigo (e pequeno?) sobrado em Ouro Preto. 
Quer dizer, a princípio, pela antiguidade das casas, poder-se-ia pensar que estariam obsoletas e que 
com as mudanças havidas entre a data em que foram erguidas e a atualidade as casas da cidade 
mineira deveriam estar transformadas num grande museu ou num cenário para eventos do tipo 
turístico ou cinematográfico, desabitadas. 
Mas isto não acontece e está longe da realidade. Qualquer casa preservada de Ouro Preto 
não apenas apresenta total condição de ser habitada, mas oferece também uma qualidade de 
ambiência pouco menor, igual, ou até melhor do que muitas casas contemporâneas. Adequações 
tecnológicas necessárias (retrofit) para sua atualização não resultariam em grandes transformações, e 
basicamente exigiriam novas instalações, elétricas e hidráulicas, mas não muito além disso, se bem 
conservadas, claro. 
O que seria bem diferente então? Equipamentos e mobiliário, decoração, arranjos, desde 
que não houvesse a necessidade de se ter uma garagem. Quem tenha visitado as ruínas da cidade de 
Pompéia, na Itália, sabe que da mesma maneira, aquelas casas exigiriam apenas este tipo de 
adequação (instalações) para ser atualmente habitadas sem maiores problemas. 
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Casas em Pompeia, cidade romana sepultada pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. 
 
O que pode-se deduzir disto? 1) Que o homem se adapta com certa facilidade a qualquer 
ambiente construído, desde que este apresente, desde a sua origem, condições de habitabilidade 
condizente com a sua cultura e posição social; 2) Que adequações necessárias à vida atual podem 
ser relativamente simples, superficiais ou cosméticas; 3) Que reformas de maior consideração são 
possíveis se as dimensões e condições de conservação dos ambientes e a técnica construtiva utilizada 
o permitem; 4) Que a evolução sofrida pelas construções do tipo residencial e/ou de áreas não muito 
grandes ou de algumas funções não foi tão significativa assim com o passar de alguns séculos; 5) 
Que os projetistas não tem mudado à forma de projetar ou o resultado do processo projetual a não 
ser de maneira limitada; 6) Que aspectos de técnicas mais recentes e importantes não são do 
conhecimento geral ou específico do público e/ou dos profissionais, ou são pouco relevantes, caros ou 
não valem a pena do ponto de vista da relação complexidade-custo-benefício. São dúvidas... 
É possível então viver confortavelmente em qualquer habitação construída de acorde com 
alguns poucos princípios? Em geral e salvo exceção pode-se afirmar com segurança: sim, com alguma 
adequação técnica e funcional ou com um ajuste do morador. Indo a extremos: pôde-se habitar uma 
oca, desde que se aceite morar nessas condições. Mas é uma oca o que se corresponde com o desejo, 
possibilidades e necessidades de um morador do século XXI? Observe na imagem seguinte a 
fotografia de hotetontes frente a sua vivenda em Kalahari, Namibia. 
 
Particular
Realce
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Um outro tipo de habitação que remonta a tempos primitivos, quando o homem habitava as 
cavernas são habitações em Capadoxia que em alguns casos aproveitam formações naturais com 
algumas intervenções e outras são levantadas utilizando barro e pedras seguindo o modelo natural e 
que semelham enormes cupinzeiros. O curioso é que estas habitações são utilizadas até hoje e 
aparentemente oferecem um tipo de conforto que satisfaz as necessidades (básicas?) dos usuários. 
Vide as figurasa seguir. 
 
Figura da esquerda: Capadócia, Construções em terra/rocha 1 (Capadócia) 
Figura da direita: Construções em terra/rocha 2 (Capadócia) 
 
O que nós projetistas vamos a oferecer para o nosso cliente e futuro morador? Podemos 
oferecer alguma condição de moradia melhor da que ele conhece? 
Ou: 
Quais são os critérios por nós utilizados para projetar? 
Qual o conceito de morar que apresentamos para este ser ou família? 
Que vamos oferecer como alternativa de melhor qualidade? 
Lembremos: o ambiente deve ser adequado ao morador, às suas necessidades, satisfazer as 
suas expectativas, lhe oferecer todo o conforto possível. 
Mas e se ele não solicita um projeto novo adequado ao que pretende ou se tiver que se 
conformar com o que compra pronto o aluga? Ele deverá se ajustar, se adaptar a este imóvel. 
O que como arquitetos podemos oferecer é um ambiente que também possa ser adaptável 
ou ajustável, ou ter a flexibilidade (o termo utilizado habitualmente em arquitetura) necessária, assim 
como um banco ou um volante podem ser ajustados num automóvel. Por que não? 
Por último: quando se trata de um ambiente, independente da sua beleza, resistência e 
funcionalidade, lembremos que até um galpão poderia atender a estes requisitos dependendo o tipo 
de consideração que sobre o resultado se faça. E lembremos que há um tipo de arquitetura 
denominada de contêiner ou na versão portuguesa: de contenedor, que conceitualmente não é 
essencialmente diferente de um galpão industrial. Mas o que se pretende não é oferecer somente um 
esqueleto frio, tecnicamente eficiente e funcional, mas um abrigo, uma construção, uma casa, que 
ofereça condições para ser efetivamente um lar, que possa ser usufruído e vivenciado como tal. Deve 
provocar uma sensação de afeição. Esta, do ponto de vista da nossa profissão, também é nosso 
objetivo. 
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
Particular
Realce
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Reflexão final: 
A casa é geralmente composta por diversos ambientes. Estes podem ser autônomos, ter uma 
independência ou diferenciação funcional, mas configuram um conjunto, com elementos ou partes de 
uma mesma coisa, tal qual tronco, cabeça e extremidades são partes de um mesmo corpo. Devemos, 
pois pensá-los integrados. Isto significa estabelecer vínculos, uma relação funcional e espacial entre 
eles. O critério a utilizar, as formas em como se dão esta estruturação, integração, articulação e 
ambiência são os fatores que vão dar o caráter da casa. Isto é definido através do partido adotado. 
Temos partido quando todas as questões abertas são respondidas e harmonizadas. 
Esta harmonia se dá em base a intenções e critérios, estruturados num (melhor) conceito de 
forma de vida, de morar, proposto pelo arquiteto. Tirando partido (aproveitando), claro, tudo aquilo 
(potencial) que o local, o programa, os recursos e o futuro morador nos possibilitam. 
A casa, ou qualquer outra “engenhoca” não é um artefato estranho que pousa em qualquer 
lugar independente das condições deste. Deve estabelecer uma correta e proveitosa relação com o 
contexto, aproveitando ao máximo seu potencial geral e em corretas condições bioclimáticas e de 
sustentabilidade, oferecendo o máximo conforto possível. 
E por último: não deve ser um monumento ao ego do arquiteto. A não ser que seja o próprio 
dono e seja quem em definitivo vai morar nela. 
 
 
 
Particular
Realce
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Bibliografia 
Algumas leituras extras podem ajudar a refletir sobre estes e outros assuntos da arquitetura, 
em particular do tratado na disciplina: a questão da casa e do morar: 
RASMUSSEN, Steen Eiler. Arquitetura vivenciada. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
246p. (Coleção A) Número de Chamada: 72.01 R225e.Pc 2.ed. 
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. 10. ed. São Paulo: Perspectiva, 
2002. 211p. Número de Chamada: 72(81) R375q 10.ed 
RYBCZYNSKI, Witold. Casa: pequena história de uma idéia. 3. ed. Rio de Janeiro: Record, 
2002. 261p. Número de Chamada: 728.1 R989h.Ps 3.ed.

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