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Razão e seus princípios gerais Antônio Ronaldo Introdução A capacidade de julgar e diferenciar o certo e o errado é uma das maiores habilidades do ser humano. Esta habilidade, conhecida como razão, é a base para agirmos com bom senso em nossas decisões. Objetivos de Aprendizagem Ao final desta aula, você será capaz de: • compreender o conceito de razão; • identificar os princípios gerais da razão. 1 Conceito de Razão A palavra “razão” possui duas origens principais: na palavra latina “ratio” e no termo grego “logos”, cujos significados são reunir, contar, juntar e calcular. Estes verbos pressupõem que ao realizarmos estas ações - pensar em uma decisão, juntar os pontos positivos e negativos de uma escolha, calcular os prós e contras e falar a respeito de todos os dados reunidos, de maneira orga- nizada e ordenada - estamos utilizando a razão (Chaui, 2000). Figura 1- Racionalidade Fonte: Ollyy/Shutterstock.com EXEMPLO Quando precisamos tomar uma difícil decisão, na qual impactará num grande pre- juízo ou lucro financeiro, por exemplo. Antes de darmos o primeiro passo, imagina- mos e ponderamos os prós e os contras, calculamos qual será o lucro ou prejuízo, organizamos dados em planilhas, escrevemos os possíveis impactos na decisão e, finalmente, decidimos o melhor caminho. O conceito de razão, ou racionalidade, pode assumir diversas interpretações em variadas situações. De acordo com o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, a palavra “razão” tem os significados conforme o quadro. Razão (s.f) 1. Faculdade do ser humano que lhe permite conhecer, julgar e agir de acordo com determinados princípios; raciocínio. 2. Capacidade que cada ser humano tem de ponderar. 3. Motivo que represente a explicação de certa atitude. 4. Conformidade dos fatos com a justiça. 5. Meio empregado para convencer alguém; argumento. 6. Notícia ou razão a respeito de algo. Fonte: MICHAELIS, 2001, p. 730. (Adaptado). Assim, percebemos que, em geral, utilizamos a palavra “razão” para nos referirmos à capa- cidade que o ser humano tem de julgar, aos motivos que alguém possui ou às causas de algum evento ou acontecimento. No estudo da filosofia, Sócrates afirma que “os maus te farão perder a razão” (OS PENSADO- RES, 1987, p. 65), ou seja, quando muitos episódios e acontecimentos são envolvidos é necessário reunir os fatos para ordenar as ideias de forma que se possa agir com calma e temperança, para não entrar em desequilíbrio emocional e ser tomado pelo desespero. Estes fatos nos fazem seres racionais, isto é, seres baseados na razão dos acontecimentos, nas causas e suas consequências (OS PENSADORES, 1987). Figura 2- O Pensador Fonte: NeydtStock, Shutterstock.com Segundo Japiassú (2001), a razão é a faculdade ou a capacidade que o ser humano tem de julgar, isto é, definir o que é o certo e errado em todas as suas decisões. Em última análise, pode- mos, então, definir a razão como a habilidade nata do ser humano de possuir o julgamento do verdadeiro ou falso, nas mais diversas situações. SAIBA MAIS! O livro Sócrates, da coletânea Os Pensadores, organizada por José Américo Motta Pessanha, aborda os aspectos da razão segundo o filósofo. Acesse: <charlezine. com.br/wp-content/uploads/02-S%C3%B3crates-Cole%C3%A7%C3%A3o-Os- Pensadores-1987.pdf>. 2 Princípios gerais da razão Segundo Chaui (2000), o estudo filosófico da razão é importante para a sociedade porque enquadra o homem em determinadas regras, uma vez que o conceito de razão não se sustenta sem que tenhamos alguns requisitos. Assim, a razão possui como base seus princípios gerais, ou “princípios racionais”, como são chamados pelos filósofos. De acordo com a autora a Filosofia considerou que a razão opera seguindo certos princípios que ela própria estabe- lece e que estão em concordância com a própria realidade, mesmo quando empregamos sem conhecê-los explicitamente. Ou seja, o conhecimento racional obedece a certas regras ou leis fundamentais, que respeitamos até mesmo quando não conhecemos diretamente (Chaui, 2000, p. 72). Portanto, os princípios gerais da razão são regras e requisitos para que o ser humano tenha bom senso em seus julgamentos. Segundo a filosofia, estes requisitos são divididos nos princípios da identidade, da não contradição, e do terceiro excluído (Chaui, 2000). FIQUE ATENTO! Os princípios gerais são muito importantes para o nosso estudo, pois servirão de base para que possamos solucionar os problemas mais complexos envolvendo o raciocínio lógico. Nos itens a seguir, compreenderemos as características dos três princípios gerais da razão. 2.1 Princípio da identidade O princípio da identidade afirma que tudo o que existe é o que realmente é (Chaui, 2000). Parece óbvia esta afirmativa, mas ela limita tudo o que existe (coisa, ser e objeto) em uma única definição: de ele ser ele mesmo. Podemos, por exemplo, transformar esta definição em uma afir- mação matemática, afirmando que a variável “a” será somente “a” e não mais que “a”, ou seja, a variável “a” pode assumir um único e restrito valor. SAIBA MAIS! Entre os seis e oito meses de idade, a criança começa a perceber que é um ser separado da mãe, inicia-se, então, um processo de autodescoberta, que futuramente culminará e refletirá em sua própria identidade. Para a melhor compreensão do conceito, podemos fazer uma analogia com as impressões digitais, que identificam e atribuem os dados pessoais de uma única pessoa. Deste modo, o prin- cípio da identidade atribui somente uma característica a um ser ou objeto. Figura 3- Impressão digital Fonte: Prill/Shutterstock.com No item a seguir entenderemos o princípio da não contradição e sua relação com o princípio da identidade. 2.2 Princípio da não contradição Para o princípio da não contradição, não podemos afirmar que uma coisa é e não é ao mesmo tempo (Chaui, 2000). Em outras palavras, este princípio impossibilita que possamos atribuir duas definições ao mesmo tempo para apenas um objeto, por exemplo. Vejamos: “A parede é branca e não é branca ao mesmo tempo. Não sendo branca, ela poderá ser de qualquer outra cor”. Neste exemplo, primeiro, afirmou-se que a parede possui uma deter- minada característica, e, em seguida, declarou-se o contrário, invalidando a identidade da parede. Quando atribuímos uma característica (branca) a um objeto (parede), e, ao mesmo tempo, dize- mos que este objeto é diferente, estamos cometendo uma contradição, porque o objeto já possui uma característica atribuída. Assim, o princípio da não contradição evita que uma determinada afirmativa se autodestrua ou se torne inválida. Isto é, quando um objeto tem duas definições, ele não tem identidade, ou seja, não é nenhuma das duas opções, invalidando a sua própria definição. Observe que o princípio da não contradição e o princípio da identidade se complementam, visto que no princípio da identidade afirma-se que um ser ou objeto será sempre ele próprio, e no da não contradição, admite-se que um ser ou objeto não pode ter duas definições ao mesmo tempo. 2.3 Princípio do terceiro excluído O princípio do terceiro excluído sustenta que um objeto pode ser um objeto ou outro objeto e não mais que um terceiro objeto (Chaui, 2000). Para entendermos o conceito, podemos pensar em linguagem matemática, afirmando que “a” pode ser “a” ou “b” e não “c”. Assim, estamos restringindo o objeto em apenas dois conceitos, e afirmando categoricamente que ela não poderá ser um terceiro. EXEMPLO Na frase “Faremos a guerra ou a paz” encontramos o princípio do terceiro excluído, porque não há outra maneira de resolvermos o conflito, uma vez que em uma afir- mativa só existem duas possibilidades: a certa ou a errada. FIQUE ATENTO! O princípio do terceiro excluído pode ser identificado por meio do conectivo “ou”.Com isso, compreendemos o terceiro e último princípio geral da razão. A seguir, conhecere- mos as atitudes mentais opostas à razão. 3 As atitudes mentais opostas à razão As atitudes mentais são considerações e estudos de ordem cultural da sociedade, isto é, são reflexões originadas dos costumes dos povos, desde o início da humanidade, e não estão relacio- nadas à razão (Chaui, 2000). Figura 4 – Atitudes mentais Fonte: Alphaspirit/Shutterstock.com Segundo Chaui (2000), a razão é considerada contrária a quatro atitudes mentais, a saber: • conhecimento ilusório: é muito vago e não alcança a realidade e a verdade dos fatos. Trata-se de prejulgamentos ou preconceitos de origem cultural da sociedade; • emoções: os sentimentos e as paixões são cegas, desordenadas e contraditórias, sendo que ora se diz sim e ora diz não, ou seja, as emoções são passivas e passageiras; • crenças religiosas: são reveladas por meio da fé, quer dizer, não depende do trabalho de conhecimento realizado pela nossa inteligência, ou pelo nosso intelecto; • êxtase místico: é baseado no desprendimento e desvinculação da consciência. Deste modo, percebemos que a razão é oposta às atitudes mentais que levam a desviar da capacidade de julgamento ordenado. Algumas vezes, as atitudes mentais se confundem com a consciência racional dos fatos, atrapalhando o julgamento e ponderação do ser pensante. FIQUE ATENTO! O desequilíbrio emocional, a imparcialidade e a falta de racionalidade nos leva à indecisão, ou a tomar decisões no calor da situação, que geralmente conduz a ati- tudes impensadas (Chaui, 2000). Fechamento Neste estudo, compreendemos que o conceito de razão implica, como base, no julgamento e bom senso nas tomadas de decisões. Entendemos, também, que embora saibamos deste conceito, muitas vezes, somos tomados por atitudes, como a emoção, que fazem com que desprendamos do pensamento racional ou da própria razão, o que prejudica a faculdade ou habilidade de julgar. Nesta aula, você teve a oportunidade de: • aprender o conceito de razão, suas principais definições e seus vários significados; • conhecer os princípios da razão e suas definições; • compreender as restrições impostas pelos princípios da razão e suas implicações. Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993. CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: J Zahar, 1991. MATRIX. Direção de Lana Wachowski e Lilly Wachowski. EUA: Warner Bros. Pictures, 1999. MICHAELIS: dicionário escolar da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2009. OS PENSADORES. Sócrates. Seleção de textos de José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
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