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Direito Civil Prof. Fabio Figueiredo Matéria: Defeitos do Ato Negocial (continuação) 17/03/2011 Defeitos do Ato Negocial: 1. Inexistência (aula passada); 2. Nulo; 3. Anulável; 4. Ineficaz; 1. Da Inexistência (aula passada/revisão): Os elementos do negócio jurídico são de duas ordens: essenciais (subidivide-se em -existência e validade) e acidentais. - Essenciais: Existência - vontade humana, idoniedade objetiva, finalidade negocial. Validade – Art. 104, do CC (expostos em lei de maneira expressa). - Acidentais: termo, condição e modo/encargo. Lembrete: Os possíveis defeitos do negócio jurídico, são: Inexistência: Se faltar um dos elementos essenciais de existência. Obs.: A inexistência é uma tese, ou seja, não cabe à lei discutir sobre aquilo que não existe. - Ausência de vontade humana: Diferente dos vícios da vontade (aula passada). - Inidoniedade do objeto: Diferente de objeto ilícito (aula passada). A inidoniedade do objeto é um defeito relacionado a existência. - Finalidade negocial: O ato stricto sensu é diferente do ato jurídico . O ato stricto sensu não tem finalidade negocial quando negócio jurídico não tiver a finalidade de: modificar, adquirir, resguarda, transmitir, extinguir. Ex.: A mudança de domicílio tem efeitos relevantes no mundo do direito – depende da vontade humana. Observa-se que o simples ato de mudar apenas – não tem finalidade negocial. Qual o efeito que gera um negócio jurídico inexistente? Resp.: Nenhum, uma vez que não existe no mundo do direito. Logo, o efeito material da sentença que declara a inexistência é “ex tunc”, ou seja, retroage até a data da prática do ato. 2. Nulo/Nulidade (Arts. 166 e 167, do CC): É uma agressão à ordem pública legalmente qualificada como circunstância de nulidade, ou seja só há nulidade se houver previsão legal. Os casos de nulidade estão expressamente previstos no Art. 166 (7 casos) e no Art. 167 (2 casos), do CC – perfazendo um total de 9 casos de nulidade. Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. 2.1 Celebrado por pessoa absolutamente incapaz (arroladas no Art.3º, do CC). Caso uma pessoa absolutamente incapaz não tenha um representante e celebre um negócio jurídico – este negócio será nulo. Trata-se de uma circuntância subjetiva quanto à pessoa. Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 2.2 Quando for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto. Trata-se de circunstâncias objetivas quanto ao objeto. - Ilícito: Objeto proibido em lei – negócio jurídico nulo. Ex.: drogas. - Impossibilidade: A impossibilidade pode ser: física do objeto (o objeto é fisicamente impossível de se atingir) ou jurídica – ambas possuem o mesmo efeito de negócio jurídico nulo. - Indeterminável: Observa-se que o objeto poder ser indeterminado, mas jamais poderá ser indeterminável quanto ao gênero absoluto (p.ex.:entregar “x” de coisas ao Fábio). O objeto indeterminável é vedado no ordenamento jurídico, pois facilitaria a ocorrência de fraude – nulo de pleno direito. 2.3 Motivo determinante, comum a ambas as partes e ilícito. Ambas as partes devem ter objetivação ilícita (quando apenas uma das partes tiver objetivação ilícita – não é considerado caso de nulidade). 2.4 Formalidade e Solenidade. A formalidade é um aspecto da constituição do ato (formal ou não formal). Já a solenidade trata-se do aperfeiçoamento do ato. Em regra os negócios jurídicos são não solenes, salvo exceção prevista em lei (exige solenidade do ato, sob pena do negócio jurídico ser nulo de pleno direito). Ex.: Art. 108, do CC – o registro é uma solenidade indispensável para à aquisição de um bem imóvel. O contrato de gaveta é considerado nulo, pois falta lhe o registro, ou seja, não há transmissão de propriedade. Art. 108. “Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.” 2.5 Objetivo de fraudar a lei imperativa. Qualquer circunstância em que os particulares tiverem objetivo de fraudar a lei imperativa (cláusula geral à ordem pública), autoriza ao magistrado nulificar o negócio jurídico. 2.6 A lei taxativamente o declarar nulo. Sobre o viés do Art. 166, do CC existem duas circunstâncias relevantes, são elas: 1º Quando a lei proibir-lhe a prática, sem cominar qualquer sanção (=nulo). Ex.: O Art. 1.521, do CC dispõe as pessoas que estão impedidas de casar, mas não descreve expressamente qualquer sanção, apenas proibindo a prática da constituição do matrimônio (se por acaso casarem será nulo o casamento). 2º Quando a lei taxativamente descreve ser nulo o negócio jurídico. Art. 167. “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. § 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando: I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira; III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. § 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado”. 2.7 Simulação: Na simulação os sujeitos do ato negocial simulam um determinado negócio jurídico, visando obtenção de resultado diverso do que aparece, com a finalidade de criar uma aparência de direito, para iludir terceiros (prejuízo de engana-lo) ou burlar a lei. Espécies de simulação: a) Absoluta/Total: As partes na realidade não realizam nenhum negócio (trata-se de uma mentira realizada pelas partes do começo ao fim). Apenas fingem, para criar uma aparência, uma ilusão externa, sem que na verdade desejem o ato. Diz-se absoluta porque a declaração de vontade se destina a não produzir resultado nenhum. b) Relativa/Parcial: Houve um negócio jurídico entre as partes. A simulação relativa divide-se em duas espécies: - Simulação Relativa Objetiva: Mentir sobre o objeto contratado. Ex.: Vender um imóvel por 2 milhões, mas declara um valor inferior ao vendido – finalidade burlar o imposto de renda. - Simulação Relativa Subjetiva: Mentir sobre os sujeitos contratantes. Na simulação as partes fingim um negócio jurídico, visando o prejuizo de 3º particular. Obs.: Este 3º não poderá ser o Poder Público. Caso seja o Poder Público irá ser considerado um negócio nulo, mas tendo por fundamento a fraude à lei imperativa. Diferença entre negócio jurídico simulado e dissimulado: As partes pretendem realizar determinado negócio, prejudicial a terceiro particular em fraude à lei. Para escondê-lo, ou dar-lhe aparência diversa, realizam outro negócio. Compõe-se de dois negócios: um deles é o “simulado”, aparente, destinado a enganar; o outro é o “dissimulado”, oculto, mas verdadeiramente desejado. O negócio aparente, simulado, serve apenas para ocultar a efetiva intenção dos contratantes,ou seja, o negócio real. Ex.: Simula uma compra e venda para dissimular (esconder) uma doação. Obs.: O negócio jurídico simulado é nulo de pleno direito, conforme o Art. 167, do CC. Já o negócio dissimulado é anulável, para que possa ser conferida a validade de uma eventual sanção. Negócio Jurídico Nulo: - Não gera efeito; - Não pode ser confirmado, porque agride à ordem pública; - Não convalece por decurso do tempo. 2.8 Efeito da Nulidade: Em regra, negócio jurídico nulo não gera efeitos, razão pela qual recebe uma simples sentença declaratória de nulidade. Exceção – Conversão do negócio jurídico nulo. - Efeito Processual do Negócio Jurídico: Sentença declaratória de nulidade. - Efeito Material do Negócio Jurídico: A sentença declaratória de nulidade, gera efeito “ex tunc” (retroage a data do fato do ato). Características do Negócio Jurídico Nulo: Art. 169, do CC Art. 169. “O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo”. 2.9 Conversão do Negócio Jurídico Nulo (Art. 170, do CC): Art. 170. “Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”. Diante, do princípio da conservação dos pactos até mesmo o negócio nulo poderá ser aproveitado, sendo convertido em outro negócio jurídico válido. Obs.: A conversão não é convalidação (transformação do negócio jurídico nulo, mas trata-se de outro negócio jurídico) Requisitos para Conversão: 1º Que o negócio seja nulo; 2º Que os requisitos preenchidos pelo negócio nulo atendam aos requisitos de outro negócio; 3º Que o negócio tenha sido entabulado de boa-fé; Procedimento da Conversão: Ex.: O contrato de compra e venda, firmado por instrumento particular, nulo de pleno direito por vício de forma, converte-se em promessa irretratável de compra e venda (decorre do princípio da conservação dos pactos). 3. Anulabilidade/Nulidade Relativa: É uma agressão à ordem privada, legalmente qualificada como circunstância de anulabilidade. A anulabilidade tem previsão espara no Código Civil. O fato do negócio ser anulável, significa que ele está sujeito à ser anulado. Portanto, o negócio anulável gera efeitos. - Efeito materal que declara à anulabilidade – “ ex tunc” (os efeitos gerados antes da sentença são plenamente válidos). Casos de Anulabilidade: - Incapacidade relativa; - Erro; - Dolo; - Coação; - Lesão; - Estado de perigo; - Fraude contra credores; - Negócio jurídico entre herdeiros necessários. Obs.: O erro, dolo, coação, lesão e o estado de perigo – são vícios de consentimento (atuam sobre a vontade do individuo). Já a fraude contra credores é um vício social. Obs.: A simulação e a fraude contra credores = são considerados vícios sociais. Os vícios sociais geram nulidade do negócio jurídico? Resp. Não, pois podem gerar tanto a nulidade quanto a anulabilidade. - Nulidade = simulação; - Anulabilidade = fraude contra credores. Art. 171. “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”. 3.1 Incapacidade relativa do agente. Os relativamente incapazes estão arrolados no Art. 4º, do CC, sendo que, caso este relativamente incapaz não tenha um assistente e celebre um negócio jurídico – este negócio será anulável. Art. 4º “São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos; Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial”. 3.2 Vícios de consentimento: erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão. - Erro: O agente, por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias (falsa cognição), age de um modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação (não há má-fé de quem quer que seja). O erro pode ser: sobre a coisa “in res” (quando a equivocidade do sujeito verter sobre o objeto do negócio jurídico) ou sobre a pessoa “intuitu personae” (quando a equivocidade do sujeito ocorrer em negócio jurídico personalíssimo – erro com relação à pessoa, ou seja, sobre característica essencial da pessoa). Tanto o erro sobre a coisa quanto sobre a pessoa, gera negócio jurídico anulável. - Dolo: Artifício empregado para enganar alguém. Ocorre dolo quando alguém é induzido a erro por outra pessoa. O dolo pode ser classificado em: a) Dolo principal, essencial ou substancial – Causa determinante do ato, sem ele o negócio não seria concluído. Possibilita a anulabilidade do negócio jurídico. Ex.: Preço, sujeito em contrato personalíssimo, objeto do contrato etc. b) Dolo acidental – É aquele que verte sobre elementos acidentais (periféricos) do negócio. Portanto, dolo acidental é aquele que não atua especificamente sobre a vontade do indivíduo, de maneira a ser conclusivo para que ele decida entabular o negócio. É o dolo aplicado para que o indivíduo imagine estar entabulando um pacto mais vantajoso quando na realidade não está. Aqui o negócio jurídico não sofre anulação, mas a vítima do dolo terá direito a indenização (perdas e danos). Obs.: O dolo pode ser cometido por 3º. Caso a situação era ou tinha de ser do conhecimento da outra parte – o negócio será anulável, conforme o Art. 148, do CC. Art. 148. “Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.”
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