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DIREITO PENAL ARTS 29 AO 120

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP 
Curso de Direito: Material Didático (Direito Penal II – 4º Semestre) 
Professora: Paola Julien O. Santos (Esp. em Processo) 
 
 
1 
 
 
 
 
APOSTILA DE DIREITO PENAL: PARTE GERAL (ART. 29 A 
120/CP) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIREITO PENAL II – 4º SEMESTRE – Prof.ª: PAOLA JULIEN 
OLIVEIRA DOS SANTOS (ESP. EM PROCESSO) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MACAPÁ 
2012-2 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP 
Curso de Direito: Material Didático (Direito Penal II – 4º Semestre) 
Professora: Paola Julien O. Santos (Esp. em Processo) 
 
 
2 
 
 
SUMÁRIO 
 
PLANO DE ENSINO 
I – CONCURSO DE PESSOAS ................................................................................................... 02 
2 – CONCURSO DE CRIMES ..................................................................................................... 12 
3 – DOS CRIMES ABERRANTES ............................................................................................... 20 
4 – CONFLITO APARENTE DE LEIS .......................................................................................... 24 
5 – NORMA PENAL EM BRANCO .............................................................................................. 28 
6 – ESPÉCIES DE PENAS .......................................................................................................... 32 
7 – APLICAÇÃO DE PENA .......................................................................................................... 47 
8 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA ............................................................................. 61 
9 – LIVRAMENTO CONDICIONAL .............................................................................................. 67 
10 – MEDIDAS DE SEGURANÇA ............................................................................................... 72 
11 – REABILITAÇÃO CRIMINAL ................................................................................................. 77 
12 – AÇÃO PENAL ...................................................................................................................... 78 
13 – EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE............................................................................................83 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP 
Curso de Direito: Material Didático (Direito Penal II – 4º Semestre) 
Professora: Paola Julien O. Santos (Esp. em Processo) 
 
 
2 
 
ASSUNTO 01: CONCURSO DE PESSOAS (OU DE AGENTES) 
- Introdução: 
Antes da análise do concurso de pessoas, previsto no Código penal a partir do art. 29, vale fazer 
algumas considerações sobre o sujeito ativo de um crime. 
Sujeito ativo da infração é aquele que tem responsabilidade acerca da infração penal. 
Geralmente estamos falando de uma pessoa física responsável, até mesmo porque na esfera 
penal não deve existir a responsabilidade objetiva, como ocorre na esfera cível, como p. ex., a 
responsabilidade do pai pelo filho menor de idade, do patrão pelo empregado ou do Estado pelo 
seu funcionário. Na esfera criminal a responsabilidade é subjetiva, sendo aplicado o princípio da 
culpabilidade, pelo qual o agente para ser responsabilizado criminalmente deve agir ao menos 
com culpa.. 
Porém com a edição da Lei n. 9.605/98 (Lei de crimes ambientais) se passou a punir 
criminalmente a pessoa jurídica (art. 3º), que desde então passou a poder ser considerada 
sujeito ativo de um crime, podendo ser punida com multa, pena restritiva de direitos e prestação 
de serviço à comunidade, segundo o art. 21 da referida lei. 
1. Conceito: O concurso de pessoas, também denominado de concurso de agentes, concurso 
de delinquentes (concursus delinquentium) ou codelinquência, implica na concorrência de duas 
ou mais pessoas para o cometimento de um ilícito penal. 
Há quem denomine, ainda, o concurso de pessoas de coautoria ou coparticipação. Ocorre, no 
entanto, que essas expressões não são propriamente sinônimos de concurso de pessoas, mas 
sim espécies deste último, que abrange tanto a autoria quanto a participação. 
Logo, um crime pode ser praticado por uma ou várias pessoas em concurso. Pode o sujeito, 
isoladamente, matar, subtrair, falsificar documento, omitir socorro à pessoa ferida etc. 
frequentemente, todavia, a infração penal é realizada por duas ou mais pessoas que concorrem 
para o evento. Nesta hipótese, está-se diante de um caso de concurso de pessoas, fenômeno 
conhecido como concurso de agentes, concurso de delinquentes, coautoria, co-deliquência ou 
participação. 
O concurso de pessoas pode ser definido como a ciente e voluntária participação de duas ou 
mais pessoas na mesma infração penal. Há, na hipótese, convergência de vontades para um 
fim comum, que é a realização do tipo penal sendo dispensável a existência de um acordo prévio 
entre as várias pessoas; basta que um dos delinquentes esteja ciente de que participa da 
conduta de outra para que se esteja diante do concurso. 
2. Teorias do concurso de pessoas 
Há, primordialmente, três teorias que cuidam do assunto: 
a) Teoria unitária (monista ou monística) - o crime ainda quando tenha sido praticado em 
concurso de várias pessoas, permanece único e indivisível. Não se distingue entre as várias 
categorias de pessoas (autor, partícipe, instigador cúmplice, etc.). Sendo todos autores (ou 
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coautores) do crime. Essa posição foi adotada pelo código penal de 1940 ao determinar no art. 
29 que “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a esse cominada”. 
b) Teoria pluralista - à multiplicidade de agentes corresponde um real concurso de ações 
distintas e, em consequência, uma pluralidade de delitos, praticando cada uma das pessoas um 
crime próprio autônomo. Como exceção, o Código Penal adota essa teoria ao disciplinar o aborto 
(art. 124 – “Provocar aborto em si mesma ou consentir que outro lho provoque” – e art. 126 – 
“Provocar aborto com o consentimento da gestante”), fazendo com que a gestante que permita a 
prática do aborto em si mesma responda como incursa no art. 124 do CP, enquanto o agente 
provocador do aborto, em lugar de ser coautor dessa infração, responda como incurso no art. 
126 do mesmo código. O mesmo se aplica no contexto da corrupção ativa e passiva (art. 333 e 
317, CP) e da bigamia (art. 235, caput e §1. °, CP). 
c) Teoria dualista ou dualística - no concurso de pessoas há um crime para os autores e 
outros para os partícipes. Existe no crime uma ação principal, que é a ação do autor do crime, o 
que executa a ação típica, e ações secundárias, acessórias, que são as realizadas pelas 
pessoas que instigam ou auxiliam o autor a cometer o delito. 
 
3. Critérios quanto à punição do partícipe 
Para que seja o partícipe punido, impera no Brasil, a teoria da acessoriedade limitada, ou seja, é 
preciso apurar que o autor praticou um fato típico e antijurídico, pelo menos. Se faltar tipicidade 
ou ilicitude, não há cabimento em punir o partícipe. 
4. Tipos de concurso de agentes. 
 
a) Necessário: ocorre nos crimes plurissubjetivos em que, para configurar-se, exige a 
presença de duas ou mais pessoas (ex. quadrilha ou bando, rixa, bigamia etc.), 
b) Eventual: ocorre nos chamados crimes monossubjetivo (unissubjetivo) em que para a 
caracterização do crime basta a presença de uma só pessoa (ex. homicídio, roubo, estupro). O 
crime plurissubjetivo, justamente porque exige mais de uma pessoa para sua configuração, não 
demanda a aplicação da norma de extensão do art. 29 (quem concorre para o crime incide nas 
suas penas), pois a presençade dois ou mais autores é garantida pelo tipo penal. 
Exemplificando: as quatro pessoas que compõem uma quadrilha são autores do delito previsto 
no art. 288 do Código Penal. 
Por outro lado, quando o crime é unissubjetivo, mas, na prática, é cometido por dois ou mais 
agentes, utiliza-se a regra do art. 29 para tipificar todas as condutas, pois certamente cada um 
agiu de um modo, compondo a figura típica total. Exemplificando: em um roubo é possível que 
um autor aponte o revólver, exercendo a grave ameaça, enquanto outro proceda à subtração. 
Ambos praticam o tipo penal do art. 157 em concurso de pessoas, necessitando-se empregar a 
regra do art. 29. 
5. Requisitos do concurso de agentes 
Para que ocorra o concurso de agentes, são indispensáveis os seguintes requisitos: 
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a) Pluralidade de condutas; 
b) Relação de causalidade material entre condutas desenvolvidas e o resultado; 
c) Vínculo de natureza psicológica ligando as condutas entre si (liame subjetivo). Não há 
necessidade de ajuste prévio entre os coautores. 
d) Reconhecimento da prática da mesma infração para todos; 
4.1. Pluralidade de agentes e de condutas. 
A própria ideia de concurso é de pluralidade, portanto impossível falar em concurso de pessoas 
sem que exista coletividade (dois ou mais) de agentes e, consequentemente, de condutas. 
Note-se, entretanto, que é necessário, até pelo primado maior da culpabilidade (isto é, da 
responsabilização das pessoas "na medida de sua culpabilidade"), que se diferencie o autor do 
mero partícipe. 
4.2. Relevância causal de cada conduta. 
Não basta a multiplicidade de agentes e condutas para que se tenha configurado o concurso de 
pessoas; necessário se faz que em meio a todas essas condutas seja possível vislumbrar nexo 
de causalidade entre elas e o resultado ocorrido. Diz-se, nesse sentido, que a conduta de cada 
autor ou partícipe deve concorrer objetivamente (ou seja, sob o ponto de vista causal) para a 
produção do resultado. Ou, ainda, que cada ação ou omissão humana (conduta) deve gozar de 
importância (relevância), à luz do encadeamento causal de eventos, para a verificação daquele 
crime, contribuindo objetivamente para tanto. 
Desse modo, condutas irrelevantes ou insignificantes para a existência do crime são 
desprezadas, não constituindo sequer participação criminosa; deve-se concluir, nesses casos, 
pela não concorrência do sujeito para a prática delitiva. Isso, porque, a participação exige 
mínimo de eficácia causal à realização da conduta típica criminosa. 
4.3. Liame subjetivo ou normativo entre as pessoas. 
Necessário, também, que exista vínculo psicológico ou normativo entre os diversos "atores 
criminosos", de maneira a fornecer uma ideia de todo, isto é, de unidade na empreitada delitiva. 
Exige-se, por conseguinte, que o sujeito manifeste, com a sua conduta, consciência e vontade 
de atuar em obra delitiva comum. 
Nos crimes dolosos, os participantes devem atuar com vontade homogênea, no sentido de 
todos visarem à realização do mesmo tipo penal. A esse fenômeno dá-se o nome de princípio da 
convergência. Neste ponto, é preciso explicar que a exigência de liame ou vínculo subjetivo não 
significa a necessidade de ajuste prévio (pactum sceleris) entre os delinquentes. Não se exige 
conluio, bastando que um agente adira à vontade do outro. 
Forçosa é a conclusão de Rogério Greco, ao afirmar que "se não se conseguir vislumbrar o 
liame subjetivo entre os agentes (crimes dolosos), cada qual responderá, isoladamente, por sua 
conduta". Exemplifica o autor: "No caso clássico em que A e B atiram contra C, sendo que um 
deles acerta mortalmente o alvo e o outro erra, não se sabendo qual deles conseguiu alcançar o 
resultado morte, dependendo da conclusão que se chegue com relação ao vínculo psicológico 
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entre os agentes, as imputações serão completamente diferentes". Vejamos as duas conclusões 
possíveis trazidas pelo eminente professor Greco: 
- "Se dissermos que A e B agiram unidos pelo liame subjetivo, não importará saber, a fim de 
condená-los pelo crime de homicídio, qual deles, efetivamente, conseguiu acertar a vítima, 
causando-lhe a morte. Aqui, o liame subjetivo fará com que ambos respondam pelo homicídio 
consumado"; 
- "Agora, se chegarmos à conclusão de que os agentes não atuaram unidos pelo vínculo 
subjetivo, cada qual deverá responder pela sua conduta. No caso em exame, não sabemos 
quem foi o autor do resultado morte. A dúvida, portanto, deverá beneficiar os agentes, uma vez 
que um deles não conseguiu alcançar o resultado morte, praticando, assim, uma tentativa de 
homicídio. Dessa forma, ambos deverão responder pelo crime de homicídio tentado". 
Frise-se que ausente o liame subjetivo entre os agentes de crime doloso não há falar em 
concurso de pessoas; pode haver, na espécie, a depender das circunstâncias do caso concreto, 
autoria colateral ou incerta ou desconhecida, mas nunca codelinquência. 
Quanto aos delitos culposos, em que pese antiga divergência sobre a possibilidade de 
concurso de pessoas, modernamente tem se admitido, com certa tranquilidade, que alguém 
possa conscientemente contribuir para a conduta culposa de terceiro, residindo o elemento 
vontade na realização da conduta, e não na produção do resultado. Observe que, aqui, 
diferentemente do concurso de pessoas no crime doloso, o binômio consciência e vontade não 
repousa sobre o objetivo de alcançar fim criminoso comum (isto é, de praticar certo crime), mas 
sim de realizar a conduta culposa, manifestada na imprudência, imperícia ou negligência. Por 
isso, importante diferenciar o liame subjetivo, que existe no concurso de pessoas em crimes 
dolosos, do vínculo normativo, apresentado em face dos crimes culposos. 
4.4. Identidade de infração penal. 
Damásio afirma tratar-se a "identidade de infração para todos os participantes" não propriamente 
de um requisito, mas sim de verdadeira "consequência jurídica diante das outras condições". 
De fato, impossível falar em concurso de pessoas se a concorrência criminosa, envolvendo dois 
ou mais agentes, cada um com sua conduta, interligados, no entanto, por vínculo subjetivo, não 
se destinar à prática de certa e determinada infração penal. 
Enfim, a unidade de infração penal apresenta-se, conforme o posicionamento adotado: a) como 
requisito indispensável ao concurso de pessoas; b) como produto lógico-necessário em face do 
concurso de agentes. 
Destaque-se que a infração penal deve ser ao menos tentada, já que o CP expressamente 
previu, no art. 31, que "o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição 
expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado". 
Importante mencionar que, à luz do princípio geral da unidade incriminatória (teoria monista), 
expressamente consagrado no caput do art. 29 do CP, tem-se que, uma vez reconhecido o 
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concurso de pessoas, todos (autores e partícipes) responderão pelo mesmo tipo penal, salvo 
raríssimas exceções pluralísticas. 
6. Autoria 
Quando na lei se inscreve uma descrição do crime, a ameaça da pena dirige-se àquela que 
realiza o tipo penal, ou seja, ao sujeito que realiza a ação tipificada. Pratica homicídio quem 
“mata” a vítima, pratica furto quem “subtrai” a coisa, etc. o art. 29 não distingue em princípio,entre o autor da conduta típica e o que colabora para a ocorrência do ilícito sem realizar a ação 
referente ao verbo-núcleo do tipo penal, considerando como autores todos quanto concorrerem 
para ação delituosa. Essa distinção está, porém, na natureza das coisas, ou seja, na espécie 
diferente de causas do resultado por parte de duas ou mais pessoas, devendo ser assinalada a 
distinção entre autor, coautor e partícipe. 
Quanto à conceituação de quem é o autor do crime, foram criadas três teorias. A primeira delas 
fornece um conceito restrito de autor (TEORIA RESTRITIVA), em um conceito formal objetivo: 
autor é aquele que pratica a conduta típica inscrita na lei, ou seja, aquele que realiza ação 
executiva, ação principal. É o que mata, subtrai, falsifica etc. 
Uma segunda corrente formula um conceito extensivo do autor (TEORIA EXTENSIVA), em um 
critério material-objetivo: autor é não só o que realiza a conduta típica, como também aquele que 
concorre com uma causa para o resultado. Não se fez assim distinção entre autor e partícipe, já 
que todos os autores concorreram para o resultado ao contribuírem com uma causa para o 
evento. 
Numa terceira posição (TEORIA SUBJETIVA), formulada principalmente pela doutrina alemã, 
conceitua-se como autor aquele que tem o domínio final do fato, trata-se de um critério subjetivo, 
ou seja, final-objetivo: autor será aquele que, na concreta realização do fato típico, consciente o 
domina mediante o poder de determinar o seu modo e, inclusive, quando possível, de 
interrompê-lo. Autor é, portanto, segundo essa posição, quem tem o poder de decisão sobre a 
realização do fato. 
Adotamos a teoria restritiva: formal-objetiva, que delimita, com nitidez, a ação do autor 
(autoria) e a do partícipe (participação), complementada pela ideia da autoria mediata. Autor é 
quem realiza diretamente a ação típica, no todo ou em parte, colaborando na execução (autoria 
direta), ou quem a realiza através de outrem que não é imputável ou não age com culpabilidade 
(autoria mediata). 
São coautores os que conjuntamente realizam a conduta típica. Os demais, ou seja, aqueles 
que, não sendo autores mediatos, colaboram na prática do delito sem realizarem a conduta 
típica, sem participarem da execução, são partícipes. A jurisprudência pátria também dá 
preferência à teoria do domínio do fato. 
Autoria mediata 
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Como já se assinalou autor não é apenas o que realiza diretamente a ação ou omissão típica, 
mas quem consegue a execução através de pessoa que atua sem culpabilidade. Chama-se isso 
autoria mediata (ex. a enfermeira, por ordem do médico, ministra um veneno ao paciente 
supondo que se trata de um medicamento). Para explicar o autor mediato, a noção do Código 
penal é complementada pela Teoria do Domínio do Fato. Para essa teoria, o autor não é quem 
pratica o verbo, e sim aquele que consegue construir o crime manipulando outras pessoas, 
detendo as rédeas das atitudes, dominado o fato. 
Autoria colateral 
Ocorre tal modalidade de colaboração, que não chega a se constituir em concurso de pessoas, 
quando dois agentes, desconhecendo a conduta um do outro, agem convergindo para o mesmo 
resultado, que, no entanto, ocorre por conta de um só dos comportamentos ou por conta dos 
dois comportamentos, embora sem que haja a adesão de um ao outro. 
Autoria incerta 
Aceita a teoria monista, o código resolve qualquer problema com relação à autoria incerta, 
determinando que todos respondem pelo resultado, ainda que não se possa saber quem praticou 
a ação prevista no núcleo do tipo. 
 A exceção encontra-se no art. 29, § 2º, que determina seja o agente punido pelo crime 
menos grave, de que queria participar, mas a ressalva vale apenas para as hipóteses de 
participação. 
7. Coautoria 
O concurso de pessoas pode realizar-se através da coautoria e da participação. Coautor é quem 
executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou omissão, que configura o delito. Assim, se 
duas pessoas disparam suas armas, alvejando a vítima e causando-se a morte, responderão 
como coautores. 
Há, na coautoria, a decisão comum para a realização do resultado da conduta. 
Inexistente a consciência de cooperação na conduta comum, não haverá concurso de pessoas, 
restando à autoria colateral (ou coautoria colateral ou imprópria). Caso duas pessoas, ao mesmo 
tempo, sem conhecerem a intenção uma da outra, dispararem sobre a vítima, responderão cada 
uma por um crime se os disparos de ambas forem causas da morte. Se a vítima morreu apenas 
em decorrência da conduta de uma, a outra responderá por tentativa de homicídio. Havendo 
dúvida insanável quanto à causa da morte, ou seja, sobre a autoria, a solução deverá obedecer 
ao princípio in dúbio pro réu, punindo-se ambos por tentativa de homicídio. 
8. Participação 
Fala-se em participação, em sentido estrito, como a atividade acessória daquele que colabora 
para a conduta do autor com a prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente 
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relevante. Essa conduta somente passa a ser relevante quando o autor, ou coautores, iniciam ao 
menos a execução do crime. O partícipe não comete a conduta descrita pelo preceito primário da 
norma, mas pratica uma atividade que contribui para a realização do delito. Trata-se de uma das 
hipóteses de enquadramento de subordinação ampliada ou por extensão, prevista na lei, que 
torna relevante qualquer modo de concurso, que transforma em típica uma conduta de per si 
atípica. Há na participação uma contribuição causal, embora não totalmente indispensável, ao 
delito e também a vontade de cooperar na conduta do autor ou coautores. 
São várias as formas de participação. 
Instiga aquele que age sobre a vontade do autor, fazendo nascer neste a ideia da prática do 
crime ou encorajando a já existente, de modo determinante na resolução do autor, e se exerce 
através do mandato, persuasão, conselho, comando, etc. 
Cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando auxílio ao autor ou partícipe, 
exteriorizando-se a conduta por um comportamento ativo (o empréstimo da arma, a revelação do 
segredo de um cofre etc.). Não se exclui, porém, a cumplicidade por omissão nas hipóteses em 
que o sujeito tem o dever jurídico de evitar o resultado. Cita-se como exemplo a omissão do 
empregado que não tranca o cofre para que seja facilitada a ação do autor do furto com o qual 
colabora o partícipe. 
9. Concurso de pessoas e crimes por omissão 
Crime Omissivo é aquele em que o agente comete o crime ao deixar de fazer alguma coisa. 
Os crimes omissivos se subdividem em: 
• a) Omissivos próprios ou puros – São os que descrevem a simples omissão de quem 
tinha dever de agir. São objetivamente descritos na conduta de não fazer. 
Exemplo: CP, Art. 135 - Omissão de socorro. O Agente não faz o que a norma manda. 
• b) Omissivos impróprios – A omissão consiste a transgressão do dever jurídico de impedir 
o resultado. Exige do sujeito concreta atuação para impedir o resultado que ele poderia e deveria 
evitar. 
Exemplo: a mãe que tinha dever jurídico de alimentar seu filho deixa de fazê-lo, provocando a morte da criança. 
Respondendo nesse caso por delito de homicídio. 
É possível a participação em crime omissivo impróprio, ocorrendo o concurso de agentes por 
instigação ou determinação. Assim, se o agente instiga outrem a não efetuar o pagamento de 
sua prestação alimentícia, responderá pela participação no crime de abandono material. 
Não se pode falar, porém, em coautoria em crime omissivo próprio. Casoduas pessoas deixem 
de prestar socorro a uma pessoa ferida, podendo cada uma delas fazê-lo sem risco pessoal, 
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ambas cometerão o crime de omissão de socorro, isoladamente, não se concretizando hipótese 
de concurso de agentes. 
Também é possível a participação por omissão em crime comissivo. Se um empregado que deve 
fechar a porta do estabelecimento comercial não o faz, para que terceiro possa mais tarde 
praticar uma subtração, há participação criminosa no furto em decorrência do não cumprimento 
do dever jurídico de impedir a subtração. Não se pode falar em participação por omissão, 
todavia, quando não concorra o dever jurídico de impedir o crime. A simples conivência não é 
punível. Também não participa do crime aquele que, não tendo o dever jurídico de agir, não 
comunica o fato à polícia para que possa esta impedi-lo. É sempre indispensável que exista o 
elemento subjetivo (dolo ou culpa) e que a omissão seja também “causa” do resultado, vale 
dizer, que, podendo agir, o omitente não o tenha deito. 
10. Coautoria de crime culposo 
De há muito está assentada a possibilidade de concurso em crime culposo. Existente um vínculo 
psicológico entre duas pessoas na prática da conduta, ainda que não em relação ao resultado, 
concorrem elas para o resultado lesivo se obrarem com culpa em sentido estrito. 
O concurso de agente no crime culposo difere daquele do ilícito doloso, pois se funde apenas na 
colaboração da causa e não do resultado (que é involuntário). Disso deriva a conclusão de que é 
autor todo aquele que causa culposamente o resultado, não se podendo falar em participação 
em crime culposo. 
11. Incomunicabilidade de elementares e circunstâncias (art. 30) 
Existem circunstâncias que não se transmitem aos coautores ou partícipes, pois devem ser 
consideradas individualmente no contexto do concurso de agentes. 
Preceitua o art. 30 do CP que “não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, 
salvo quando elementares do crime”. 
Incomunicabilidade de certas circunstâncias – importante distinguir Circunstâncias de 
Elementares. 
− Elementar é tudo aquilo que se retirado do tipo este deixa de ser aquele tipo específico 
(violência no roubo). São componentes essenciais à figura típica, sem os quais o tipo penal se 
modifica. 
− Circunstância é tudo aquilo que está ao redor do fato, mas tem natureza acessória 
(privilegiadoras no homicídio). Não interferem na existência ou não do crime, tendo o condão 
apenas de influenciar na pena (p. ex. qualificadoras, causas de aumento, causas de diminuição 
etc.). 
 
∗ Circunstâncias de caráter pessoal: é a situação ou particularidade que envolve o agente, 
sem constituir elemento inerente à sua pessoa. Ex.: confissão espontânea proferida por um 
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coautor não faz parte da sua pessoa, nem tampouco se transmite, como atenuante que é, aos 
demais concorrentes do delito. 
∗ Condição de caráter pessoal: é o modo de ser ou a qualidade inerente à pessoa humana. 
Ex.: menoridade e reincidência. O coautor menor de 21 anos não transmite essa condição, que 
funciona como atenuante, aos demais. Do mesmo modo que o partícipe, reincidente, não 
transfere essa condição, que é agravante, aos outros. 
Em regra, as condições pessoais não se comunicam ao coautor ou partícipe (p. ex., se um dos 
agentes é primário ou reincidente isso não influencia na pena do comparsa). Mas essa regra 
também traz uma exceção: quando as condições pessoais forem elementares do crime elas se 
comunicam. 
Há comunicabilidade apenas quando objetivas (ligadas ao tempo, lugar, meio ou modo de 
execução do crime). Sendo as elementares subjetivas (ligadas às qualidades da pessoa, ao 
motivo do crime ou estado anímico do agente), esta se comunicam desde que ingressem na 
esfera de conhecimento do concorrente. 
a. Exceção quanto à elementar do crime 
Elementar é um componente integrante do tipo penal incriminador. Ex.: “matar” e “alguém” são 
elementares do delito de homicídio. Estabelece o art. 30 que as referidas elementares se 
comunicam aos coautores e partícipes. 
Há determinadas circunstâncias ou condições de caráter pessoal que são integrantes do tipo 
penal incriminador, de modo que, pela expressa disposição legal, nessa hipótese, transmitem-se 
aos demais coautores e partícipes. Ex. infanticídio (art. 123, CP). 
Infanticídio: intenso é o debate acerca da coautoria e da participação no contexto desse crime 
que não deixa de ser uma forma privilegiada do homicídio. 
Artigo 123: "Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante ou logo 
após o parto". 
Por este motivo, o sujeito ativo é a mãe; embora seja admitida a hipótese de concurso de 
agentes, a maternidade uma condição elementar do crime. 
O sujeito passivo somente pode ser o próprio filho, recaindo no homicídio se a vitima for outra 
criança que não a própria. 
Este crime admite tentativa. 
A legislação vigente adotou como atenuante no crime de infanticídio o conceito fisiopsíquico do 
"estado puerperal", como configurado na exposição de motivos do Código Penal: "o infanticídio é 
considerado um delictum exceptum quando praticado pela parturiente sob influência do estado 
puerperal" 
� Circunstância (situação): Puerpério - pertubação fisico-mental exclusivo da mãe. 
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� Condição pessoal (qualidade): mãe 
10.2. Conhecimento da circunstância elementar por parte do co-autor ou partícipe. 
É indispensável que o concorrente tenha noção da condição ou da circunstância de caráter 
pessoal do comparsa do delito, pois, do contrário, não se poderá beneficiar do dispositivo do art. 
30/CP. 
Assim, caso uma pessoa não saiba que está prestando auxilio a um funcionário público para 
apropriar-se de bem móvel pertencente ao Estado (art. 132,§1º), responderá por furto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
12. Casos de impunibilidade 
Disciplina o art. 31 do Código Penal que “o ajuste, a determinação ou a instigação e o auxílio, 
salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a 
ser tentado”. 
Impuníveis são o ajuste, a determinação, a instigação e o auxílio, logo, condutas atípicas 
(meramente preparatórias), caso não se dê início à execução do delito. O disposto no art. 31, 
diante do art. 14, II, CP, é supérfluo. 
Lembremos, por fim, que ajuste é o acordo ou pacto celebrado entre pessoas; determinação é a 
decisão tomada para alguma finalidade; instigação é a sugestão ou o estímulo à realização de 
algo e o auxílio é a ajuda ou a assistência dada a alguém. 
13. Multidão delinquente 
Forma de concurso de pessoas, possível pela facilidade de manipulação de massas, 
especialmente em momentos de grande excitação, não tendo o condão de afastar os vínculos 
subjetivos entre os integrantes da multidão. Nestes casos é desnecessária a descrição 
minuciosa de cada um dos intervenientes, sob risco de inaplicabilidade da lei penal. 
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Afastada a hipótese de associação criminosa (quadrilha ou bando), é possível o cometimento de 
crime pela multidão delinquente, como nas hipóteses de linchamento, depredação, saque,etc. 
responderão todos os agentes por homicídio, dano, roubo, nesses exemplos, mas terão as 
penas atenuadas aqueles que cometerem o crime sob a influência de multidão em tumulto, se 
não o provocaram. A pena, por sua vez, será agravada para os líderes, os que promoveram ou 
organizaram a cooperação no crime ou dirigiram a atividade dos demais agentes (art. 65, III, “e” 
do CP). 
 
ASSUNTO 02: CONCURSO DE CRIMES 
1. Conceito: 
Concurso de crimes significa a prática de várias infrações penais por um só agente ou por um 
grupo de autores atuando em conjunto. Diversamente do concurso de pessoas, onde um único 
delito é cometido, embora por vários agentes, no caso do concurso de crimes busca-se estudar 
qual a pena justa para quem comete mais de um delito. 
Há dois critérios para empreender essa análise: 
a) naturalístico – o número de resultados típicos concretizados redundará no número de crimes 
cometidos, devendo o agente cumprir todas as penas; 
b) normativo – o número de resultados típicos materializados não é determinante para sabermos 
qual o número de infrações penais existentes e qual o montante da pena a ser aplicada, devendo 
haver consulta ao texto legal. Esse é o critério utilizado pela legislação brasileira, conforme os 
sistemas que verificaremos abaixo. 
2. Sistemas do concurso de crimes 
É possível que, em uma mesma oportunidade ou em ocasiões diversas, uma mesma pessoa 
cometa duas ou mais infrações penais que, de algum modo, estejam ligadas por circunstâncias 
várias. Quando isso ocorre, estamos diante do chamado concurso de crimes (concursus 
delictorum), que dá origem ao concurso de penas. Não se confunde essas hipóteses com a 
reincidência, circunstância agravante que ocorre quando o agente, após ter sido condenado 
irrecorrivelmente por um crime, vem a cometer outro delito. 
São vários os sistemas teóricos preconizados pela doutrina para a aplicação da pena nas várias 
formas de concurso de crimes. O primeiro é o sistema de acumulação material, em que se 
recomenda a soma das penas de cada um dos delitos componentes do concurso. É o que se dá 
no concurso material (art. 69, CP). 
O segundo é o sistema da acumulação jurídica, pelo qual a pena a ser aplicada deve ser mais 
grave do que a cominada para cada um dos delitos sem se chegar à soma delas. Assim leva-se 
em consideração não a soma das penas dos delitos cometidos, nem tampouco acarreta a 
aplicação da pena mais grave deles acrescidas de uma cota-parte previamente estabelecida em 
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lei, mas há uma média ponderada entre as várias penas previstas para os diversos crimes, 
impedindo que haja um excesso punitivo por meio da fixação de um teto. Ex.: caso o agente 
esteja sujeito a penas diversas (5+4+4+3+2), que somam 18 anos, notando que a mais grave 
delas atinge 5 anos, a pena não poderá passar de 15 (o triplo da mais grave), julgando-se extinto 
o montante que ultrapassar esse teto, no caso, 3 anos. Não adotamos esse sistema no Brasil. 
Pelo terceiro sistema, da absorção, só deve ser aplicada a pena do mais grave delito, 
desprezando-se os demais. Não adotamos esse sistema expressamente, mas há casos em que 
a jurisprudência, levando em conta o critério da consunção, no conflito aparente de normas, 
termina por determinar que o crime mais grave, absorve o menos grave. 
Por fim, há o sistema da exasperação, segundo o qual deve ser aplicada a pena do delito mais 
grave, entre os concorrentes, aumentada a sanção de certa quantidade em decorrência dos 
demais crimes. Trata-se de um sistema benéfico ao acusado e adotado, no Brasil, nos arts. 70 
(concurso formal) e 71 (crime continuado). 
3. Concurso Material 
3.1. Conceito 
Também conhecido como concurso real - art. 69 do CP - se dá quando o agente, mediante duas 
ou mais ações ou omissões, comete dois ou mais crimes, idênticos ou não. Quando isso ocorrer, 
as penas deverão ser somadas. Normalmente os crimes são apurados no mesmo processo, 
mas, quando isso não for possível, a soma das penas será feita na Vara das Execuções 
Criminais. 
A regra do concurso material não se aplica, entretanto, quando estiverem presentes os requisitos 
do crime continuado (crime da mesma espécie, praticados nas mesmas condições de tempo, 
local e modo de execução). 
Assim, ausente qualquer dos requisitos do crime continuado, poderá ser aplicada a regra do 
concurso material, desde que o agente tenha praticado duas ou mais condutas que impliquem o 
reconhecimento de dois ou mais crimes. 
Pode ser homogêneo, quando os crimes praticados forem idênticos (dois roubos), ou 
heterogêneo (um homicídio e um estupro). 
 O art. 69, caput, em sua parte final, esclarece que, no caso de aplicação cumulativa de penas 
de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. 
O §1° do art. 69, por sua vez, determina que, sendo aplicada pena privativa de liberdade, não 
suspensa (sem aplicação de sursis), por um dos crimes, em relação aos demais não será cabível 
a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. 
Suspensão condicional do processo: Súmula 243 do STJ – “O benefício da suspensão do processo não é aplicável 
em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a 
pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano”. 
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Já o §2° dispõe que, sendo aplicadas duas penas restritivas de direitos (em substituição às 
penas privativas de liberdade), o condenado cumprirá simultaneamente, se forem compatíveis, 
ou sucessivamente se não for possível o cumprimento simultâneo. 
3.2. Critérios para a aplicação da pena 
É imprescindível que o juiz, para proceder à soma das penas, individualize cada uma antes. Ex.: 
três tentativas de homicídio em concurso material. O magistrado deve, em primeiro lugar, aplicar 
a pena para cada uma delas e, no final, efetuar a adição, pois cada uma pode ter um iter 
criminis diferenciado, conduzindo a diminuições em montantes diversos. 
Súmula 81 do STJ – não cabe fiança ao réu se, em concurso material, as penas mínimas para os vários crimes que 
praticou, somadas, forem maiores do que 2 anos. 
No Código penal, denomina-se concurso material moderado, uma vez que é limitado pelo 
disposto no art. 75, que prevê o máximo de cumprimento da pena em 30 anos. Portanto, apesar 
das somas das penas pode ser superior a esse teto, o condenado não irá cumprir mais do que 
três décadas preso. Por isso, o concurso material adotado é atenuado. 
� Hipóteses diversas: admite-se concurso material entre quadrilha ou bando e furto 
qualificado mediante concurso de pessoas (STF, RTJ 147/615). Pode haver concurso material 
entre roubo e quadrilha armada. Igualmente entre roubo e extorsão (“sequestro relâmpago”). 
 
4. Concurso formal 
Também chamado de concurso ideal - art. 70, caput, do CP, ocorre quando o agente, mediante 
uma única ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes. Nesse caso, se os crimes forem 
idênticos (concurso formal homogêneo), será aplicada uma só pena, aumentada de 1/6 a ½. Ex.: 
agindo com imprudência, o agente provoca um acidente, no qual morrem duas pessoas. Assim o 
juiz aplica a pena de um homicídio culposo, no patamar de 1 ano (supondo-se que o magistrado 
tenha aplicado a pena mínima), e, na sequencia, aumenta-se de 1/6 (p. ex.), chegando a pena 
de 1 ano e 2 meses de detenção. Se, entretanto, os crimes cometidos não forem idênticos 
(concurso formal heterogêneo), o juiz aplicará a pena mais grave,aumentada, também de 1/6 a 
½. Ex.: em um só contexto o agente profere ofensas que caracterizam calúnia (crime mais grave) 
e aumenta de 1/6 a 1/2 deixando de aplicar a pena referente à injúria. 
 
4.1. Concurso formal perfeito 
Encontra-se na primeira parte do art. 70, vale dizer, o agente pratica duas ou mais infrações 
penais por meio de uma única conduta. Exemplo: o preso subtrai, para si, comprimidos de 
psicotrópicos quando realiza uma faxina (concurso formal – art. 155/CP e art. 28 da lei de tóxicos 
– salientando-se que não há mais pena de prisão para o sujeito nesta situação, conforme lei 
11.343/2006). Neste caso o agente tem em mente uma só conduta, pouco importando quantos 
delitos vai praticar, por isso, recebe a pena mais grave com o aumento determinado pelo 
legislador. 
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Segundo Capez, a jurisprudência, embora sem caráter vinculante propõe a seguinte tabela para 
fins de exasperação da pena no concurso formal próprio: 
Número de crimes 
Percentual de 
aumento 
2 1/6 
3 1/5 
4 1/4 
5 1/3 
6 ou + 1/2 
 
4.2. Concurso formal imperfeito 
Situa-se na segunda parte do art. 70, neste caso as penas devem ser aplicadas 
cumulativamente se a conduta única é dolosa e os delitos concorrentes resultam de desígnios 
autônomos. Exemplo: o agente enfileira varias pessoas e com um único tiro, de arma potente, 
consegue matá-las ao mesmo tempo, não merece o concurso formal, pois agiu com desígnios 
autônomos. Por isso, são somadas as penas. 
 
� Ponto relevante: conceituação de desígnios autônomos 
Em virtude de divergências doutrinárias a respeito da conceituação do requisito de desígnios autônomos, se 
significa o agente ter agido com dolo direito ou de qualquer forma de dolo (direito ou eventual), esclarecedora é a 
posição equilibrada em que o juiz deve, no caso concreto, deliberar qual a melhor forma de concurso a aplicar. Ex¹.: 
a cozinheira que, pretendendo assassinar todos os membros de uma família para a qual trabalha, coloca veneno na 
refeição a ser servida, está praticando vários delitos com uma só ação – merece ser punida pela unidade de 
resoluções (desígnios autônomos) recebendo a pena cabível pela aplicação do concurso material. Ex².: alguém vai 
à sacada de um prédio, chamando por populares, e brada-lhes “Patifes” estaria ofendendo a hora de um ou de 
todos? Qual seria a sua intenção? Teria cabimento aplicar-lhe o concurso material, somando-se as penas, num total 
de 30 a 40 injurias? Obviamente que não. 
 
Em síntese: 
a) Havendo dolo quanto ao crime desejado e culpa quanto ao(s) outro(s) resultado(s) da mesma ação, trata-
se de concurso formal perfeito; 
b) Havendo dolo quanto ao delito desejado e dolo eventual no tocante ao(s) outro(s) resultado(s) da mesma 
ação, há concurso formal perfeito; 
c) Havendo dolo quanto ao delito desejado e também em relação aos efeitos colaterais, deve haver concurso 
formal imperfeito. 
 
4.3. Concurso material mais favorável ou benéfico 
O parágrafo único do art. 70 determina ser imperiosa a aplicação do concurso material, caso seja 
mais favorável do que o formal. Ex.: se o réu esta respondendo por homicídio doloso e lesões 
culposas, em concurso formal, valendo-se da regra do art. 70, a pena mínima seria 6 anos – pelo 
homicídio simples acrescida de 1/6, resultando em 7 anos de reclusão. Se aplicada a pena 
seguindo a regra do concurso material, a pena ficaria em 6 anos de reclusão e 2 meses de 
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detenção. Portanto, já que o concurso formal é um beneficio ao réu, deve ser aplicada a pena 
como se fosse concurso material. É a opção do legislador pela regra do acúmulo material. 
5. Crime continuado 
Também conhecido como concurso específico – art. 71 do CP – ocorre quando o agente comete 
dois ou mais crimes da mesma espécie, mediante mais de uma conduta, estando os delitos, 
porém, unidos pela semelhança de determinadas circunstâncias (condições de tempo, lugar, 
modo de execução ou outras que permitam deduzir a continuidade). 
5.1. Natureza Jurídica 
Há duas teorias a respeito da natureza jurídica do crime continuado: 
1ª) trata de uma ficção jurídica 
2ª) trata-se de uma realidade 
 
Ficção Jurídica: o delito continuado é uma pluralidade de crimes apenas porque a lei resolveu 
conferir ao concurso material um tratamento especial, dando ênfase à unidade de crime. 
Realidade: o delito continuado existe, porque a ação pode compor-se de vários atos, sem que 
isso tenha qualquer correspondência necessária com um ou mais resultados. 
O Código penal adotou a teoria da ficção, por ter feito a opção pela teoria objetiva pura, sem 
buscar analisar eventual unidade de desígnios do agente. 
 
5.2. Teoria do crime continuado 
Existem três teorias para se reconhecer o crime continuado: 
a) Subjetiva: Por tal teoria, o delito continuado somente existiria caso o agente conseguisse 
demonstrar que agiu com unidade de desígnios, ou seja, que desde o inicio de sua atividade 
criminosa tinha um único propósito. É a menos utilizada pela doutrina. 
b) Objetiva: Por tal teoria, não se exige a prova da unidade de desígnios, mas única e tão 
somente a demonstração de requisitos objetivos, tais como a prática de crimes da mesma 
espécie, cometidos em semelhantes condições de lugar, tempo, modo de execução, entre 
outras. 
c) Objetivo-subjetiva: Exige-se para a prova do crime continuado, não somente a 
demonstração dos requisitos objetivos, mais ainda a prova da unidade de desígnios. 
OBS: a corrente ideal, sem dúvida, deveria ser a terceira, tendo em vista possibilitar uma autentica diferença entre o 
singelo concurso material e o crime continuado; afinal este último exigiria unidade de desígnios. Entretanto, a lei 
penal adotou claramente a segunda posição, ou seja, a teoria objetiva pura. Em virtude disso, deve-se seguir 
literalmente o art. 71 do CP, pois não cabe ao juiz questionar os critérios do legislador. 
5.3. Crimes da mesma espécie 
Como a lei não define, explicitamente, o que são crimes da mesma espécie, a questão não é 
pacifica. Há duas posições a esse respeito: 
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1. Para a primeira – são delitos de igual espécie os que se assemelham pelos mesmos 
elementos objetivos e subjetivos, ainda que não estejam descritos no mesmo artigo de lei. 
2. Para a segunda – são apenas os crimes previstos no mesmo tipo legal, mas admitindo-
se a continuidade entre as suas formas simples, agravadas, qualificadas, consumadas ou 
tentadas. 
 
A posição mais acertada é a primeira, pois o instituto do crime continuado visa o beneficio do acusado, e, também 
em razão das expressões que o legislador emprega nos arts. 69 e 70. Neles, fala em crimes “idênticos ou não”, 
enquanto que no art. 71 refere-se a “crimes da mesma espécie” o que demonstra que os delitos não precisam estar 
previstos no mesmo tipo. Porém a segunda posição é amplamente majoritária na jurisprudência. 
 
5.4. Condições de tempo 
Não há possibilidade de se fixar, a esse respeito, indicações precisas. Apesar disso, firma a 
jurisprudência majoritária o entendimento de que, entre as infrações, deve mediar no máximo um 
mês. O juiz, por seu turno, não deve limitar-se a esse posicionamento, embora possa tomá-lo 
como parâmetro. 
5.5. Condições de espaço 
Defende-se como critério básico a observância de certo ritmo nas ações do agente, vale dizer, 
que ele cometa seusdelitos em localidades próximas, demonstrando certa periodicidade entre 
todas. O critério quanto à definição fica a cargo do magistrado. 
5.6. Formas de execução 
Em virtude da complexa definição quanto às formas de execução semelhantes, deve o juiz levar 
em conta, fundamentalmente, os métodos utilizados pelo agente para o cometimento de seus 
crimes, que pode levá-lo a estabelecer um padrão. 
5.7. Outras circunstâncias semelhantes 
A semelhança seja ela temporal (período de tempo entre os crimes), espacial (igualdade de 
lugares), modal (identidade de métodos ou participantes) e outras de vem ser vistas como 
circunstâncias cuja presença não exclua a existência do crime continuado. Devem ser 
apreciadas como um todo, pois formam um conjunto, e não pelo exame separado de cada uma 
delas, portanto, singularmente, não possuem valor decisivo. 
Resumindo: para caracterizar o crime continuado é necessário verificar a presença de 4 (quatro) 
requisitos cumulativos: 
� Que os crimes sejam da mesma espécie: para a maioria da doutrina e da jurisprudência 
seria o mesmo tipo penal (para outros poderia ser da mesma natureza, como p. ex., 
concussão e corrupção passiva); 
� Que o tempo de uma atitude e outra não passe de um mês (para a jurisprudência 
majoritária); 
� Que os crimes sejam praticados na mesma região geográfica (aceita-se mesmo bairro, 
bairros próximos e até cidades próximas, desde que geograficamente próximas); 
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� Que os crimes sejam praticados sempre da mesma forma (mesmo “modus operandi”). 
 
5.8. Critério de dosagem de aumento 
O melhor critério é o que se baseia no numero de infrações ou condutas ilícitas cometidas, como 
parâmetro para o aumento de 1/6 a 2/3. Com relação ao limite da pena, deve-se atender, 
também para o caput do art. 71, á remissão do parágrafo único, que manda observar as regras 
do art. 70 e a do art. 75 do CP. 
Para a exasperação da pena do crime continuado, de acordo com Capez, propõe-se, 
embora sem caráter vinculante, a seguinte tabela: 
Número de crimes Percentual de aumento 
2 1/6 
3 1/5 
4 1/4 
5 1/3 
6 1/2 
7 ou + 2/3 
 
5.9. Crime continuado e inimputabilidade 
Quando, durante os vários delitos que constituem o crime continuado, o agente torna-se 
inimputável ou, ao contrário, iniciar os delitos inimputável e curar-se depois, surge duas 
possíveis soluções: 
a) Deve ser aplicada pena e medida de segurança – penas para os delitos relativos ao 
estado de imputabilidade e medida de segurança para os que abrangerem os praticados no 
estado de inimputabilidade. Ex.: ao praticar 4 furtos, o agente era imputável nos dois primeiros e 
inimputável nos dois últimos. 
b) Deve ser aplicada pena ou medida de segurança: depende da prática do último delito, se 
foi quando imputável aplica-se a pena, se foi quando inimputável aplica-se medida de segurança. 
Em razão de o CP adotar a Teoria Objetiva pura, esta ultima é a melhor solução. 
5.10. Crimes praticados contra vítimas diferentes e bens personalíssimos 
A jurisprudência era pacifica ao estipular não ser cabível para crimes violentos cometidos contra 
vítimas diferentes e ofendendo bens personalíssimos, tais como vida ou integridade física. 
Aplicava-se a sumula 605 do STF “Não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a 
vida”), hoje incompatível com o nosso CP. Atualmente, os acórdãos seguem tendência em 
sentido contrario, o parágrafo único do art. 71 prevê claramente a possibilidade de se acolher o 
delito continuado mesmo contra vitimas diferentes e bens personalíssimos. 
5.11. Ações concomitantes, contemporâneas ou simultâneas 
Não podem ser havidas como continuidade delitiva, pois a lei é bastante clara ao exigir que as 
ações precisam ser subsequentes. 
5.12. Espécies de crime continuado (diferença de apenação) 
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a) Crime continuado simples – previsto no caput do art. 71. 
b) Crime continuado qualificado ou especifico – previsto no parágrafo único do art. 71. 
 
5.13. Diferença entre crime continuado e delito habitual 
No delito continuado, cada uma das condutas agrupadas reúne por si mesma, todas as 
características do fato punível. Enquanto que no crime habitual a pluralidade de atos é um 
elemento do tipo, tal como o exercício ilegal da medicina, que se realiza habitualmente, na 
continuidade, ao invés, cada ato é punível e o conjunto constitui um delito, mas isso não quer 
dizer que cada furto não seja um delito. 
A reprovabilidade é mais intensa nos delitos habituais do que na continuidade. O crime 
continuado favorece o delinquente. Por derradeiro, o crime continuado surgiu como forma de 
amenizar a punição daquele que, sem dar conta disso, comete vários delitos em sequencia, 
atingindo patamares muito elevados de penalidades, caso fossem todas somadas. Já nos crimes 
habituais a finalidade foi uma sanção mais severa para o delinquente por profissão, consciente 
de que ganha a vida contrariando o ordenamento jurídico. 
6. Pena de Multa (art. 72/CP) 
Conforme determina o artigo 72 do Código Penal, as penas de multa, no concurso de crimes, 
qualquer que seja a modalidade, são aplicadas distinta e integralmente, sendo esse o 
entendimento majoritário da doutrina. Entretanto, Capez aponta a existência de algumas 
controvérsias em relação aos crimes continuados. Se os mesmos forem considerados concurso 
de crimes, então a regra deve ser a mesma do concurso formal, ou seja, aplica-se o artigo 72 do 
Código Penal. Entretanto, se forem considerados crime único, haverá apenas exasperação da 
pena, sem incidir, portanto, a regra do artigo 72 do Código Penal. Esse tem sido o 
posicionamento jurisprudencial dominante. 
7. Concurso de infrações e execução da pena 
Conforme dispõe o art. 76 do CP, “no concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a 
pena mais grave”. Logo, cumprida a pena de reclusão, deverá passar para a de detenção, já que 
ambas não comportam a somatória, pois são de espécies diferentes. 
Atenção 
1) as penas de multa (não interessa o concurso) deverão ser sempre somadas. 2) se a soma das penas for melhor 
que a utilização das regras do concurso formal perfeito w do crime continuado as penas deverão ser somadas 
(concurso material benéfico) 
 
 
 
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ASSUNTO 03: CRIMES ABERRANTES 
1. Introdução 
Muito se tem discutido ultimamente a respeito daquilo que se convencionou denominar de “casos 
de bala perdida”. Esses fatos podem ser considerados como uma das três hipóteses do 
chamado crime aberrante, que são as seguintes: 
a) aberratio ictus; 
b) aberratio criminis; 
c) aberratio causae; 
As duas primeiras encontram previsão no CP. No que diz respeito ao Aberratio Causae, está 
somente é definida pela doutrina. 
A aberratio ictus, que quer dizer desvio no golpe ou aberração no ataque veio previsto no art. 73 
do CP, sob a rubrica do erro na execução. 
Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que 
pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo‑se 
ao disposto no § 3º do artigo 20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia 
ofender, aplica‑se a regra do artigo 70 deste Código. 
 
A aberratio criminis ou aberratio delicti encontrou guarida no art. 74 do CP, discorrendosobre o 
resultado diverso do pretendido. 
 
Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém resultado 
diverso do pretendido, o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o 
resultado pretendido, aplica‑se a regra do artigo 70 deste Código. 
 
2. Erro na Execução (Aberratio Ictus). 
Erro na execução é o desvio no ataque ao objeto jurídico, no caso, o ser humano. O agente tem 
perfeito conhecimento da realidade, mas, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, 
acaba por atingir pessoa diversa da que queria acertar. Exs.: No momento em que Antonio 
dispara contra João, Rodolfo aparece na frente da vítima, recebendo o tiro e morrendo (trata-se 
de acidente, pois essa circunstância não estava sob o controle do agente). Rodrigo dispara 
contra José, mas, por inabilidade no manejo da arma, termina por atingir Ismael. 
 O erro na execução difere do erro sobre a pessoa, pois, nesse caso, o agente não tem o exato 
conhecimento da realidade, acertando uma vítima no lugar de outra. Ex.: Airton atira em Jorge, 
pensando tratar-se de Roberto, seu pai. De acordo com o art. 20, § 3° do CP, o agente responde 
como se tivesse conseguido matar a pessoa visada. No exemplo citado, Airton responde por 
homicídio, agravado por ter sido cometido contra ascendente (art. 61, II, e). 
O erro na execução não exclui a tipicidade: o crime continua sendo homicídio ou lesão corporal. 
Altera-se, somente, a identidade da vítima, que não é aquela visada pelo agente. Dando relevo à 
intenção do agente, a lei considera que ele responde como se tivesse cometido o crime contra a 
pessoa desejada, nos mesmos moldes do erro sobre a pessoa. Nesse sentido, o magistério de 
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“... o que se efetiva nos casos de desvio no ataque é um aproveitamento do dolo, pois o objeto 
visado não se altera, incidindo a mesma tipicidade básica, apenas adaptada às circunstâncias 
específicas da vítima virtual. Em outras palavras, o erro na execução envolve somente pessoas, 
motivo pelo qual se o agente queria matar A e termina matando B, para a configuração do tipo 
básico de homicídio (matar alguém) é indiferente. Logo, resta fazer a adaptação das condições e 
circunstâncias pessoais da pessoa desejada e não da efetivamente atingida, como se 
operássemos uma troca de identidade.” 
Na realidade, se A quer matar B, mas acaba por atingir C, que estava ao lado, ocorrem dois 
crimes: uma tentativa de homicídio contra B e um homicídio culposo contra C. De acordo com 
algumas legislações, deve-se aplicar a teoria da concreção ou da concretude: o agente responde 
pelos dois crimes em concurso formal. Porém, nosso Código Penal adotou a teoria da 
equivalência: por ficção jurídica, o agente responde por crime doloso consumado contra a vítima 
que pretendia atingir. 
É possível a concorrência entre os erros contra a pessoa e na execução. Ex.: Haroldo atira em 
João pensando tratar-se de Fernando e, por imperícia, acaba por matar Marina, que estava ao 
lado de João. Nesse caso, Haroldo responde como se houvesse matado João, a vítima 
desejada. 
O art. 73 do CP prevê duas formas de aberratio ictus: com unidade simples e com unidade 
complexa. No primeiro caso, existe um único resultado: lesão corporal ou morte. O agente mata 
ou lesiona apenas a vítima efetiva e não a que ele queria acertar. No caso em que o objetivo do 
agente é matar a vítima virtual, podem ocorrer duas situações: a vítima efetiva sofre lesões 
corporais, sendo que o agente responde por tentativa de homicídio; a vítima efetiva morre, 
respondendo o agente por homicídio doloso consumado. 
Na aberratio ictus com unidade complexa, existem dois resultados, ou seja, são atingidas a 
vítima virtual e uma terceira pessoa. Nesse caso, aplicam-se as regras do concurso formal (CP, 
art. 70). Se o terceiro for atingido culposamente (concurso formal perfeito), será aplicada a pena 
do crime mais grave com acréscimo de um sexto até a metade. Vejam-se os seguintes casos, 
em que João quer matar Pedro, mas também atinge culposamente Paulo: 
a) João mata Pedro e Paulo. Há dois crimes: homicídio doloso em relação a 
Pedro e homicídio culposo em relação a Paulo. João responde por homicídio doloso consumado, 
crime mais grave, com a pena aumentada de um sexto até a metade; 
b) João mata Pedro e fere Paulo. Há dois crimes: homicídio doloso em 
relação a Pedro e lesão corporal culposa em relação a Paulo. A princípio, João responderia por 
homicídio doloso consumado, com a pena aumentada de um sexto até a metade. Porém, como 
esse cálculo supera a soma das penas do homicídio doloso consumado e da lesão corporal, 
deve ser aplicada a pena como se fosse concurso material; 
c) João fere Pedro e mata Paulo. Há dois crimes: homicídio culposo em 
relação a Paulo e tentativa de homicídio em relação a Pedro. Considera-se que João matou 
Pedro, a vítima virtual; por isso, responde por homicídio doloso consumado com a pena 
aumentada de um sexto até a metade; 
d) João fere Pedro e Paulo. Há dois crimes: lesão corporal culposa em 
relação a Paulo e tentativa de homicídio em relação a Pedro. João responde por tentativa de 
homicídio, crime mais grave que a lesão corporal culposa, com a pena aumentada de um sexto 
até a metade. 
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Eventualmente, pode ocorrer que o terceiro seja atingido sem que haja culpa ou dolo por parte 
do agente. Ex.: no momento em que A estava atirando em B, C, acidentalmente, esbarra no 
braço de A, fazendo com que o tiro atinja D, que vem a morrer. Nesse caso, não houve culpa de 
A, pois o esbarrão de C era imprevisível. Trata-se, portanto, de um caso fortuito. A doutrina 
diverge no tocante à possibilidade de se imputar essa conduta ao agente: parte considera que o 
art. 73 do CP prevê a possibilidade de responsabilização objetiva, ou seja, o agente responde 
pelo resultado mesmo que tenha agido sem dolo ou culpa; outra corrente entende que não é 
possível responsabilizar alguém pela mera causalidade material do fato, sendo indispensável à 
existência de dolo ou culpa. 
É possível a ocorrência de aberratio ictus na legítima defesa. Se A, para se defender, quer matar 
B e acaba atingindo C, considerar-se-á que acertou em quem gostaria de ter atingido, ou seja, B. 
Portanto, não será responsabilizado pela morte de C. Porém, o agente será civilmente 
responsável pelo fato, nos termos do art. 930 do Código Civil. 
De acordo com o Superior tribunal de Justiça, a ocorrência de aberratio ictus não altera a 
competência, quando esta for fixada em razão da pessoa, ou seja, deve se considerar, para 
efeito de fixação da competência, a vítima efetivamente atingida. Além disso, o art. 77, II, do 
Código de Processo Penal considera que a aberratio ictus é uma das causas de reunião de 
processos pro continência. 
Paulo Queiroz realiza severa crítica à disciplina legal do aberratio ictus, que pode levar, em 
certos casos, a soluções antigarantistas e desproporcionais. Para ilustrar sua tese, ele utiliza o 
seguinte caso: 
“Clarice de tal, residente no município de Ipirá, Bahia, deliberou, em razão dos maus-tratos 
sofridos e constantes ameaças de morte, matar seu companheiro, Luís José de tal. Para tanto, 
deu-lhe uma refeição, acondicionada em vasilha plástica, composta de farinha e carne, sendo 
que, ao prepará-la, adicionou-lhe uma colher de chá do veneno conhecido por ‘chumbinho’. 
Posteriormente, Luiz José encontrou os seus filhos Rogério, 7 anos,e Gilvânia, 12 anos, aos 
quais entregou a marmita, a fim de que a levassem para casa, em razão de não haver serviço 
naquele dia. Ocorreu que os menores, antes de chegarem à residência, comeram a refeição e, 
em consequência, agonizaram até a morte. Presa, Clarice foi denunciada pelo Ministério Público 
Estadual pelo crime do art. 121, §2°, III, c/c os arts. 61, II, "f", e 73, todos do Código Penal 
(homicídio doloso qualificado e agravado).” 
Nesse caso, ele considera desarrazoada a cominação da pena do homicídio qualificado por meio 
insidioso (uso de veneno) e agravada por ser o crime cometido contra ascendente a uma pessoa 
que passou por tal tragédia. Em situações como a relatada, o juiz deveria realizar uma 
interpretação conforme a Constituição e aplicar a pena da tentativa de homicídio contra o marido 
em concurso material com o homicídio culposo dos filhos. 
3. Aberratio Ictus e dolo eventual. 
Erro na execução é quando atinge outra pessoa que não aquela que pretendia ofender, somente 
se poderá cogitar em aberratio se o resultado for proveniente de culpa, afastando-se o erro na 
hipótese de dolo, seja ele direto ou eventual. Isso porque se o agente queria (direto) ou não se 
importava em produzir o resultado por ele previsto e aceito, agindo com dolo eventual, não há de 
falar em erro na execução. 
4. Resultado diverso do pretendido (Aberratio Criminis ou Aberratio Delicti). 
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Tal qual no aberratio ictus, no resultado diverso do pretendido, também ocorre um acidente um 
erro na execução do crime em relação ao objeto jurídico. Só que o erro ocasiona um desvio do 
objeto jurídico do crime, ou seja, o agente quis atingir uma pessoa (homicídio ou lesão corporal) 
e acaba por acertar uma coisa (dano), ou, inversamente, pretende atingir uma coisa e termina 
por atingir uma pessoa. 
Nesses casos, “o agente responde por culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorrer 
também o resultado pretendido, aplica-se a regra do art. 70 deste Código” (CP, art. 74). Ao 
contrário do aberratio ictus, a lei prevê que o resultado diverso do pretendido só pode ser punido 
se ocorrer ao menos culposamente. Portanto, está expressamente vedada a responsabilização 
objetiva, ou seja, a responsabilização do sujeito que agiu sem dolo nem culpa. 
Podem ocorrer os seguintes casos de aberratio criminis: 
a) A atira em B para matar, mas acerta apenas o carro de C: trata-se de 
tentativa de homicídio contra B e dano culposo contra C. Como o dano é punido apenas a título 
de dolo, A responde somente pela tentativa de homicídio, mas deve reparar civilmente C pelo 
dano causado; 
b) A atira em B para matar, mas acerta apenas um monumento histórico: 
nesse caso, o dano culposo é punível, nos termos do art. 62 da lei 9605/1998. A responde por 
tentativa de homicídio em concurso formal com o dano culposo; 
Dos Crimes contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural 
Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar: 
I - bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial; 
II - arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato 
administrativo ou decisão judicial: 
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. 
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de seis meses a um ano de detenção, sem prejuízo da 
multa. 
c) A atira uma pedra em direção ao carro de B, com objetivo de danificá-
lo, mas, acerta C, acidentalmente, sem atingir o carro: tem-se tentativa de dano em concurso 
formal com homicídio ou lesão corporal culposa; 
d) Na mesma situação anterior, A acerta o carro de B: ocorre o dano 
consumado em concurso formal com homicídio ou lesão corporal culposa; 
e) A atira a pedra no carro de B, quase acertando C: há somente o crime 
de dano, pois não existe tentativa de crime culposo. 
Na verdade, a disciplina do resultado diverso do pretendido, constante no art. 74 do CP mostra-
se desnecessária, pois esse gênero de crimes obedece, como qualquer outro, às normas 
referentes ao dolo e à culpa, constantes no art.18. 
5. Concurso material Benéfico nas hipóteses de Aberratio Ictus e Aberratio Criminis. 
Em qualquer das hipóteses de aberratio ictus ou criminis com unidade complexa, ou seja, com a 
produção de dois resultados, deverá ser observada a regra do concurso material benéfico. A 
regra do concurso formal cederá diante do caso concreto caso a regra do cúmulo material seja 
mais benéfica ao agente. 
6. Erro Sucessivo ou Aberratio Causae. 
 
 
Na aberratio causae, o agente quer conseguir determinado resultado e pratica uma conduta com 
essa finalidade. O resultado não ocorre, mas o agente, imaginando sua ocorrência, realiza outra 
ação, que leva efetivamente ao resultado querido. Ex.: Antonio pretende
esganando-o. Imaginando que a vítima está morta, joga
ocorrer por afogamento. O erro do agente refere
Não há previsão na lei a respeito do erro sucessivo. A disciplina dessa
doutrina, na qual existem três orientações a respeito:
a) há concurso material entre a tentativa de homicídio e o homicídio culposo. A solução 
tem o mérito de prestigiar a realidade dos fatos, mas é francamente minoritária na dou
brasileira; 
b) existe somente uma tentativa de homicídio. De acordo com Damásio Evangelista de 
Jesus, no termos da teoria da imputação objetiva, o resultado morte advindo da segunda 
conduta não pode ser imputado ao agente, que não teve a intençã
c) ocorre um homicídio doloso consumado. O agente deve ser responsabilizado por 
seu dolo inicial (precedente), tendo em vista a perfeita similaridade entre o que ele fez e o que 
ele quis fazer. De acordo com Magalhães Noronha, 
persista durante todo o fato: basta que a ação desencadeante do processo causal seja dolosa
Utiliza-se o mesmo raciocínio da aberratio ictus, em que a lei considera existir um crime doloso 
em um fato culposo contra uma vítima que o agente não pretendia atingir.
 
ASSUNTO 04: CONFLITO APARENTE DE NORMAS
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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berratio causae, o agente quer conseguir determinado resultado e pratica uma conduta com 
essa finalidade. O resultado não ocorre, mas o agente, imaginando sua ocorrência, realiza outra 
ação, que leva efetivamente ao resultado querido. Ex.: Antonio pretende
o. Imaginando que a vítima está morta, joga-a no rio, vindo a morte efetivamente 
ocorrer por afogamento. O erro do agente refere-se ao ato que causou a morte.
Não há previsão na lei a respeito do erro sucessivo. A disciplina dessa situação é dada pela 
doutrina, na qual existem três orientações a respeito: 
há concurso material entre a tentativa de homicídio e o homicídio culposo. A solução 
tem o mérito de prestigiar a realidade dos fatos, mas é francamente minoritária na dou
existe somente uma tentativa de homicídio. De acordo com Damásio Evangelista de 
Jesus, no termos da teoria da imputação objetiva, o resultado morte advindo da segunda 
conduta não pode ser imputado ao agente, que não teve a intenção de causar esse risco;
ocorre um homicídio doloso consumado. O agente deve ser responsabilizado por 
seu dolo inicial (precedente), tendo em vista a perfeita similaridade entre o que ele fez e o que 
ele quis fazer. De acordo com Magalhães Noronha, “nos crimes dolosos, não é mister que o 
persista durante todo o fato: basta que a ação desencadeante do processo causal seja dolosa
se o mesmo raciocínio da aberratio ictus, em que a lei considera existir um crime doloso 
ontra uma vítima que o agente nãopretendia atingir. 
ASSUNTO 04: CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
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berratio causae, o agente quer conseguir determinado resultado e pratica uma conduta com 
essa finalidade. O resultado não ocorre, mas o agente, imaginando sua ocorrência, realiza outra 
ação, que leva efetivamente ao resultado querido. Ex.: Antonio pretende matar Rodrigo, 
a no rio, vindo a morte efetivamente 
se ao ato que causou a morte. 
situação é dada pela 
há concurso material entre a tentativa de homicídio e o homicídio culposo. A solução 
tem o mérito de prestigiar a realidade dos fatos, mas é francamente minoritária na doutrina 
existe somente uma tentativa de homicídio. De acordo com Damásio Evangelista de 
Jesus, no termos da teoria da imputação objetiva, o resultado morte advindo da segunda 
o de causar esse risco; 
ocorre um homicídio doloso consumado. O agente deve ser responsabilizado por 
seu dolo inicial (precedente), tendo em vista a perfeita similaridade entre o que ele fez e o que 
“nos crimes dolosos, não é mister que o dolo 
persista durante todo o fato: basta que a ação desencadeante do processo causal seja dolosa”. 
se o mesmo raciocínio da aberratio ictus, em que a lei considera existir um crime doloso 
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Conceito: 
É a situação que ocorre quando ao mesmo fato parecem ser aplicáveis duas ou mais normas, 
formando um conflito apenas aparente entre elas. O concurso aparente de normas, como 
também é denominado, surge no universo da aplicação da lei penal, quando esta entre em 
confronto com outros dispositivos penais,ilusoriamente aplicáveis ao mesmo caso. 
Há quem inclua o estudo do conflito aparente de normas no contexto do concurso de delitos. O 
concurso de crimes configura, efetivamente, uma concorrência de várias leis, aplicáveis a 
diversos fatos tipicamente relevantes, como ocorre na prática de inúmeros roubos, passiveis de 
gerar concurso material ou o crime continuado. Portanto, como se vê, não há conflito algum de 
leis penai, mas a aplicação conjunta e uniforme de todas as cabíveis ao fato. 
Nesse particular, para que o conflito aparente de normas seja reconhecido, deve-se partir de 
alguns elementos essenciais, sem os quais tal embate normativo inexiste: 
1) a unidade do fato 
2) pluralidade de normas 
3) aparente aplicação de todas as normas 
4) efetiva aplicação de apenas uma delas 
A unidade de fato significa que a conduta do agente tenha implicado em apenas uma infração 
penal. No tocante à pluralidade de normas, como se depreende da própria expressão, é 
imprescindível que exista mais de um dispositivo legal tipificando a mesma conduta. Por 
derradeiro, a incidência de todas as normas a uma conduta deve ser apenas aparente, 
porquanto só uma delas é que será efetivamente aplicada. 
Na verdade no Conflito Aparente de Normas existe uma ilusória ideia de que duas ou mais leis 
podem ser aplicadas ao mesmo fato, o que não é verdade, necessitando-se conhecer os critérios 
para a correta aplicação da lei penal. Não são normas que concorrem, mas que têm destino 
certo, excluindo umas as outras. Basta saber aplicá-las devidamente. Vários são os critérios que 
permitem solucionar o conflito. São, fundamentalmente, cinco: 
a) Critério da sucessividade; 
b) Critério da especialidade; 
c) Critério da subsidiariedade; 
d) Critério da absorção (consunção); 
e) Critério da alternatividade. 
 
a) Critério da sucessividade 
Se houver um período de tempo separando duas ou mais normas aplicáveis ao mesmo fato, é 
sempre preferível a lei posterior (Lex posterior derrogat priori). 
Exemplo: o art. 3°, V, da lei 1.521/51 (crime contra a economia popular) prevê ser delito (vender 
mercadoria abaixo do preço de custo com o fim de impedir a concorrência”. Entretanto,, o art. 4°, 
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VI, da lei 8.137/90, preceitua, identicamente, ser crime “vender mercadorias de abaixo do preço 
de custo a fim de impedir a concorrência”. Desta forma, havendo duas normas penais 
incriminadoras, passiveis de aplicação ao mesmo fato, resolve-se o pretenso conflito, através do 
critério da sucessividade, isto é, vale o dispositivo na lei 8.137/90, que é mais recente. 
b) Critério da especialidade 
De acordo com o brocardo jurídico lex specialis derrogat generali – a lei especial afasta a 
aplicação da lei geral ,logo a lei de natureza geral, por abranger ou compreender um todo, é 
aplicada tão-somente quando uma norma de caráter mais específico sobre determinada matéria 
não se verificar no ordenamento jurídico. Em outras palavras, a lei de índole específica sempre 
será aplicada em prejuízo daquela que foi editada para reger condutas de ordem geral. Aliás, 
encontra-se previsto no art. 12 do Código Penal. 
Para se identificar a lei especial, leva-se em consideração a existência de uma particular 
condição (objetiva ou subjetiva), que lhe imprima severidade menor ou maior em relação à outra. 
Deve haver entre os delitos geral e especial relação de absoluta contemporaneidade. Ex: furto 
qualificado exclui o simples; crime militar exclui o comum; infanticídio exclui o homicídio. 
Lembremos que, como regra, a lei especial não é afetada pela edição de lei nova de caráter 
geral. Entretanto, há exceções quando uma lei geral é benéfica ao réu, contendo nova 
sistemática para determinado instituto é natural que possa afetar a legislação especial, pois não 
teria sentido dois mecanismos paralelos voltados ao mesmo cenário, cada qual imprimindo uma 
feição diferenciada a lei penal. Desse modo, quando a lei geral, ao ser modificada afeta 
essencialmente determinado instituto, igualmente constante em lei especial, esta deve ser 
afastada para aplicação de outra, que é nitidamente benéfica. 
Exemplo: confronto entre o art. 85 da lei 9.099/95 e o art. 51 do CP, após a edição da lei 
9.268/96. A atual redação do art. 51, considerando a multa como dívida de valor, afasta a 
possibilidade de sua conversão em prisão, caso não seja paga pelo condenado. Ocorre que o 
art. 85 da lei dos juizados especiais estipula “não efetuando o pagamento de multa, será feita a 
conversão em pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos, nos termos previstos em lei”. É 
verdade que o referido art. 85 fez menção ao que preceituava o CP à época (a conversão se 
dava na proporção de um dia-multa por um dia de prisão até o máximo de 360). 
Enfim, tudo está a depender do caráter e da extensão da modificação havida nesta última: se for 
alteração na essência do instituto é benéfica ao réu, torna-se evidente a necessidade de sua 
aplicação, em detrimento da especial. 
c) Critério da subsidiariedade (tipo de reserva) 
Uma norma é considerada subsidiaria em relação à outra, quando a conduta nela prevista 
integra o tipo da principal (Lex primaria derrogat subsidiariae), significando que a lei principal 
afasta a aplicação da lei secundária. A justificativa é que a figura subsidiaria está inclusa na 
principal. Há duas formas de ocorrência: 
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a) Subsidiariedade explícita – quando a própria lei indica ser a norma subsidiaria da outra. 
(“se o fato não constitui crime mais grave”, “se o fato não constitui elemento de crime 
mais grave”). Ex. exposição de

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