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Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 67 A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Claudete Trevisan Almeida da Silva Josimara da Silva Pinheiro Resumo A Pedagogia Organizacional é uma área recente, onde, dentro de uma perspectiva interdisciplinar, o pedagogo é convidado a atuar junto aos recursos humanos da organização em atividades relativas a docência em organizações não escolares. Este projeto teve como objetivo buscar explicações teórico-práticas para o seguinte problema:- O trabalho do pedagogo nas organizações contribui para a melhoria das competências na gestão dos recursos humanos? Nesse sentido realizou a pesquisa-ação que teve por objetivo estudar o desempenho do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização. Fez-se um estudo comparativo do antes e o depois de serem trabalhadas algumas competências através da inter- venção do pedagogo, possibilitando assim, identificar a importância desse profissional para que houvesse melhorias no desenvolvimento da organização. Palavras-chave: Pedagogia organizacional, Interdisciplinariedade, Equipe de trabalho, Educação. The pedagogue intervention to improve the competence of team work inside an organization Abstract The Organizational pedagogy is a recent area, where, in an interdiscipline perspective, the pedagogue is invited to act along with the human resource sector of a company in activities related to teaching in non- educative companies. For a company to achieve changes in people’s behavior, the means to do that need to be suitable to its goals and ideals. This project was developed to obtain theorical and practical explanations for the problem. Does the work of a pedagogue in companies contribute to improve competences in human resource management? Thus, an action-research, aimed to study the performance of a pedagogue in improving work competences in a team of a company, was carried out. A comparative study was made to compare competences before and after the pedagogue’s intervention, identifying the importance of this professional in order to improve the devolopment of a company. Key words: Organizational Pedagogy, interdiscplinarity, team work Introdução As organizações passaram por muitas mudanças no mercado de trabalho, adotando uma estrutura organizacional flexível, baseada em unidades estra- tégicas de negócios interdependentes, compostas por uma equipe de trabalho. Na nova organização deve- se ter em mente que existem novas metodologias e novos procedimentos de desenvolver as competênci- as, que podem ser através da intervenção do pedagogo, para que os funcionários tenham condições de com- preender as relações do mundo em que atuam. O clima organizacional autoritário ou confuso nas empresas, pode causar comportamentos 6868 Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. p. 67-78, jan./jun. 2004 Claudete Trevisan Almeida da Silva; Josimara da Silva Pinheiro insatisfatórios para o ambiente de trabalho, geran- do alienação do trabalhador, má vontade e o declínio da produtividade. Então faz-se necessário encontrar formas que venham ao encontro da cultura de cada indivíduo, de suas necessidades, refletindo também nos valores de ou (a) organização. Para o colaborador ser produtivo não basta ape- nas ter um emprego, ele deve sentir-se valorizado e no lugar certo, desempenhando funções adequadas que considerem também suas capacidades, com isso o nível de satisfação pessoal aumenta e ele passará a ser mais produtivo. As organizações, no mercado competitivo, se vi- ram despreparadas para organizarem processos edu- cacionais que garantissem a performance de seus colaboradores. Os setores de recursos humanos es- tavam carentes de organização de processos e pro- gramas para a efetivação da educação continuada. Assim, destaca-se o papel do pedagogo interagindo com outros profissionais, trabalhando questões de aprendizagem. O pedagogo é um dos profissionais habilitado para atuar na escola e nas organizações, desenvolvendo projetos educacionais, propondo ações estratégicas que possam otimizar resultados, considerados dife- renciais em seus processos. O pedagogo está capacitado para desenvolver tec- nologias educacionais eficientes e eficazes que podem atender perfeitamente as necessidades das organiza- ções. Percebe-se hoje, um vasto mercado pouco explo- rado por este profissional da área da educação e que poderá fazer a diferença no momento que atuará com as pessoas, inserindo nas diversos setores da organiza- ção. Assim, Gramigna Apud Thomas D. descreve: A inovação como uma atitude que pene- tra e se propaga, permitindo às empresas enxergarem além do presente, criando uma visão de futuro. Faz-se presente quando in- troduzimos melhorias nos processos já exis- tentes e garantimos a vantagem competiti- va da empresa. (Kuczmarski, 2002, p.05). Analisando a citação da autora, fica claro que toda inovação traz em seu bojo indícios de mudanças e estas devem ser trabalhadas pela organização em sua totalidade, ou seja empresários, colaboradores e todos os profissionais que estão preocupados em reconstruir a organização com base nas necessida- des apontadas pelo mercado de trabalho. E é neste contexto que se percebe o trabalho do pedagogo pro- pondo ações que estão diretamente ligadas ao com- portamento humano. Intervenção do pedagogo nas organizações Competências As habilidades do pedagogo, com as mudanças do mercado de trabalho, têm sido muito valorizadas dentro das empresas, tendo em vista que ele é um profissional que pode contribuir para o crescimento das pessoas, através de atividades formativas, des- cobrindo seus verdadeiros potenciais, levando-as à produtividade, através de motivação e treinamen- tos. Aumentar a capacitação dos colaboradores para atingir os objetivos determinados de acordo com as necessidades da organização e do próprio emprega- do são atributos que podem ser designados ao pedagogo. De acordo com Gramigna: Vivemos um momento inusitado em nos- sa história. Organizações que se compor- tavam como se tivessem talentos de so- bra vêem se diante de um cenário novo: apresentam dificuldades, em seus própri- os quadros profissionais, que atendem à demanda de competência exigida pelo mundo globalizado. (Gramigna, 2002 p.11). As competências podem ser complexas, envol- vem diversos esquemas de percepção, pensamento, avaliação e ação, que suportam interferências, an- tecipações, transposições analógicas, generalizações, apreciação de probabilidades, estabelecimento de um diagnóstico a partir de um conjunto de índices, bus- ca da informação pertinente, formação de uma de- cisão, e outras. 69A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 Sendo assim as pessoas precisam ser prepara- das, através de treinamento, para desenvolver com- petências. O treinamento poderá ser associado a um “aprendizado no campo” relativamente independen- te, quaisquer que sejam a duração e a qualidade da formação anterior. Gramigna define que: Usaremos o termo competência para de- signar repertórios de comportamentos e capacitações que algumas pessoas ou or- ganizações dominam melhor que outras, fazendo as eficazes em uma determinada situação. (Gramigna Apud Levy-Leboyer, 2002, p.16) Competência trata-se do conjunto de informações que a pessoa armazena e lança mão quando preci- sa. Quanto maior este conhecimento, mais a com- petência se fortalece e permite que o profissional enfrente com flexibilidade e sabedoria os diversos desafios do seu dia-a-dia. As pessoas precisam de um tempo, ou seja, um treinamento para adaptarem-se a um determinado posto de trabalho em uma empresa, pois, somente após terem assimiladoo que há de singular em seu novo ambiente de trabalho: a organização do local e das atividades, as tecnologias, a cultura da empre- sa, as relações profissionais, é que as pessoas de- senvolvem o seu potencial para o trabalho. Existe até a tentação, nessa perspectiva, de re- duzir a competência à aquisição de “conhecimentos locais” que completam os conhecimentos gerais as- similados durante a formação de base. Isso equiva- leria a ignorar o fato de que, mais além dessa aqui- sição indispensável, a competência situa-se além dos conhecimentos. Não se forma com a assimilação de conhecimentos suplementares, gerais ou locais, mas sim com construção de um conjunto de disposições e esquemas que permitem mobilizar os conhecimen- tos na situação ou no momento e com discernimento. Segundo Gardner: Faz sentido pensar na competência cognitiva humana como uma capacidade emergente, que tende a manifestar-se na interseção de três contribuintes diferen- tes: o “indivíduo”, com suas habilidades, conhecimento e objetivos; a estrutura de um “domínio de conhecimento”, na qual essas habilidades podem ser despertadas; e um conjunto de instituições e papéis – um “campo” circundante – que julga quan- do um determinado desempenho é aceitá- vel e quando ele não satisfaz as especificações. (Gardner, 1995, p. 149) Mesmo de posse desses conhecimentos, as pes- soas saberão em que circunstância e em que mo- mento aplicá-los. É na possibilidade de relacionar, pertinentemente os conhecimentos prévios e os pro- blemas que se reconhece uma competência. Segundo Gramigna: É necessário discutir e refletir sobre os fatores que atraem um profissional em seu ambiente de trabalho. Percebe-se que, nos dias atuais, a lealdade de um colaborador está atrelada a um conjunto de condições diferentes daquelas que eram valores an- teriormente. Estabilidade, plano de bene- fícios abrangente ou possibilidade de tra- balhar em uma grande corporação já não atraem tanto os talentos. (Gramigna, 2002, p. 05). Conforme a autora, o domínio de determinadas competências faz com que profissionais e organiza- ções façam a diferença no mercado. Para que uma equipe seja bem sucedida é neces- sário que certas competências sejam desenvolvidas por parte de seus membros. Comunicação, coopera- ção, motivação, criatividade, delegação de tarefas e percepção são algumas dessas competências. O ge- rente precisa estar desenvolvendo e utilizando es- sas competências, além de fazer com que os mem- bros de sua equipe as utilizem. As habilidades de trabalho em equipe entram em pauta sempre que as pessoas executam tarefas em conjunto, visando uma meta comum. 7070 Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. p. 67-78, jan./jun. 2004 Claudete Trevisan Almeida da Silva; Josimara da Silva Pinheiro ... Seres humanos: profundamente diferen- tes entre si, dotados de personalidades própria com muita história particular e diferenciada, possuidores de habilidades e conhecimentos, destrezas e capacidades indispensáveis à adequada gestão dos re- cursos humanos. Pessoas como meros re- cursos da organização (Site, Vieira, 2003). No cenário atual, onde as organizações buscam maior competitividade, o mundo do trabalho vol- tou-se para o tema competência. Comunicação, Criatividade e Motivação são fatores que uma pes- soa com poder de competência precisa desenvolver para influenciar e orientar os profissionais na execu- ção ou realização de suas atividades, buscando aper- feiçoamento no seu dia-a-dia pessoal e profissional. Comunicação A maior queixa dos colaboradores é a pouca co- municação com a gerência. Ser um comunicador competente é a chave de todas as habilidades soci- ais, então estabelecer uma comunicação aberta com alguém possibilita a obtenção do melhor que essa pessoa pode oferecer. A capacidade de comunicar de modo adequado com outro, de reencontrá-lo psicologicamente e de, com ele, estabelecer o diálogo não é um dom inato, mas uma atitude adquirida por aprendizado. Somen- te aqueles que aprenderam a abrir-se ao outro e a se objetivar a seu respeito, tornam-se capazes de realizar trocas autênticas com ele mesmo. A troca de informações é fundamental para o bom funcionamento da equipe. Desse modo, é essencial que os componentes das equipes de trabalho tenham conhecimento daquilo que os afeta, direta ou indi- retamente, em detalhes e de modo completo. O ca- nal de comunicação gerente - subordinado deve es- tar sempre aberto. Para facilitar a interação entre as partes é ne- cessário expressar de forma clara, precisa e objeti- va, ter habilidade para ouvir, processar e compre- ender o contexto da mensagem, argumentar com coerência, usando conhecimento de forma adequa- da. “As competências que compõem um sistema devem ser conceituadas e desdobradas em atitudes, conhecimentos e habilidades”. (Gramigna, 2002, p.15). A autora desdobra a competência comunica- ção da seguinte maneira: Atitudes para: · Manter seu grupo atualizado, informando fa- tos novos. · Demonstrar atenção aos outros em sua postu- ra corporal (olhar direto, sorriso, gestos aber- tos e relaxados). · Fazer anotações enquanto ouve. · Esclarecer seus pontos de vista quando os ou- tros necessitam. · Reagir de forma natural às trocas de conheci- mentos que incluem críticas. · Buscar informações e perguntar quando tem dúvidas. · Oferecer feedback com propriedade, cortesia e respeito com a outra parte (mesmo quando essa incluir uma crítica). Conhecimento no(a) · Processo de comunicação. · Língua portuguesa. Habilidades para · Ser capaz de se comunicar com argumentos, fatos e dados coerentes. · Apresentar a comunicação falada, escrita ou gráfica de forma organizada. · Saber ouvir, dar e receber feedback de forma educada e cortês. · Estabelecer contatos com facilidade, sendo ob- jetivo e claro em suas colocações. · Quando se comunicar, os outros entenderem. · Ter tom de voz agradável. · Usar termos adequados ao contexto, (evitar gí- rias e palavras desconhecidas ou estrangeiras). · Interpretar a comunicação com propriedade. · Escrever ou falar com facilidade e sem erros. · Ter um estilo agradável de comunicação. · Conseguir prender a atenção das pessoas pela fala. · Não ser prolixo (subjetivo e cansativo). · Apresentar os relatórios conclusivos nas equi- pes em que atua com propriedade. 71A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 Criatividade A criatividade é um processo de formar e combi- nar idéias e hipóteses originais que resultem em novos produtos verbais ou não verbais, concretos ou abstratos, aceitos como úteis e satisfatórios para determinados grupos sociais e em determinada épo- ca; que permitam relações interpessoais do “eu” ao meio ambiente, sendo a criatividade uma qualidade humana a surgir com o homem. E este um ser sen- sível, cultural e consciente. A criatividade passa por um processo de apren- dizagem renovada que envolve liberação pessoal, e empatia para liberar os outros. Desenvolve-se atra- vés de atividades resultantes de fenômenos extre- mamente complexos que ocorrem nos processos mentais. Visa a produção de algo novo, seja uma invenção técnica, uma nova descoberta na ciência, ou uma realização artística, Conner, afirma que: “O melhor recurso de uma organização para obter informações vitais, soluções criativas e apoio oportuno, são seus recur- sos humanos – seus empregados. O geren- ciamento participativo tem uma filosofia tanto quanto um método para gerenciar recursos humanos, num ambiente onde empregados são respeitados e suas con- tribuições apreciadas e utilizadas”. (Conner, 1995, p.170). A criatividade pode ser observada através de novas formas de expressar sentimentos, de execu- tar algo técnico, de mudar princípiosbásicos ou seja, originalidade na sensibilidade para solucionar diver- sos problemas, na redefinição de usos e atributos para o mesmo objeto, na fluência com a quantidade de idéias e palavras, no relacionamento de situa- ções remotas através da associação de idéias, ge- rando elementos com os quais os indivíduos expres- sam o que têm dentro de si. Para liberar a criatividade de uma equipe, não se pode rotular ou inibir seus membros: todos são capazes de ter ou desenvolver novas idéias. Promo- ver sessões de troca onde podem ser geradas as maiores quantidades possíveis de sugestões é fun- damental para estimular a criatividade. Nessas ses- sões, é importante valorizar a diversidade de visões, porém mantendo o foco no consenso. Murshawka esclarece que: O desenvolvimento desse potencial criati- vo pouco tem a ver com inspiração e atua como catalisador de outras habilidades assim como a comunicação, o relaciona- mento interpessoal e a capacidade de im- proviso. A Criatividade é 1% de inspira- ção e 99% de transpiração. (Murshawka, 2003, p. 44). Inovar em produtos, serviços e gestão passam a constituir uma nova exigência do mercado, que se reflete num adequado preparo de seus futuros pro- fissionais inclusive para lidar com as dificuldades internas das empresas. O desafio consiste em saber colocar em prática uma idéia genial, reinventando novas maneiras de administrar empresas. Origina- lidade, flexibilidade, fluência e sensibilidade são ca- racterísticas que o mercado busca em seus profissi- onais. Criatividade, portanto, é requisito básico em qualquer processo de seleção das organizações. Por isso uma preocupação dos empresários em buscar profissionais com esta característica. Motivação É uma energia direta ou intrínseca, ligada às próprias necessidades humanas e ao significado dado à natureza do próprio trabalho realizado. Segundo Dubin: O problema da motivação e do incentivo em relação à burocracia é complexo. Olha- do sob o prisma da organização, é um pro- blema que admite dois pressupostos: proporcionar incentivos para fazer com que o funcionário se considere engajado numa car- reira ao se tornar membro da organização; assegurar a necessária concordância do fun- cionário às exigências do regulamento in- terno da organização. (Dubin, 1971, p. 204). 7272 Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. p. 67-78, jan./jun. 2004 Claudete Trevisan Almeida da Silva; Josimara da Silva Pinheiro Considerando que a motivação fica estabelecida quando o próprio trabalho é revestido de significa- do. Também quando seus executantes possuem con- siderável autonomia para determinar os meios pe- los quais as tarefas serão efetivamente realizadas, e quando são regularmente informados sobre os resultados daquilo que estão desempenhando. O significado e sentido do trabalho são os únicos sinônimos de motivação para o trabalho. Aprofundando as implicações desta abordagem, as- socia-se o significado e sentido da vida, uma vez que o sentimento de realizar algo importante e útil aca- ba permeando a própria existência do indivíduo, fa- zendo com que ele considere também sua vida útil e com sentido. A motivação tem importância decisiva para o bom desempenho de uma equipe. É a força que estimula a agir. Sabe-se que cada pessoa tem motivações pró- prias, geradas por fatores distintos. No ambiente de trabalho, o líder deve procurar estimular sua equipe a aliar motivações pessoais às necessidades da organização. Para motivar uma equipe é preciso suprir suas necessidades e fixar estratégias para al- cançar os objetivos. Conforme Gardner (1995, p. 210), “estimular o desenvolvimento das competências in- dividuais é um esforço com múltiplas aplicações”. No momento da distribuição das tarefas, é preci- so levar em conta as habilidades e os interesses de cada membro da equipe. Se os colaboradores forem responsáveis por tarefas compatíveis com seus in- teresses e competências, estarão mais motivados, voltados para os seus objetivos. Se os membros da equipe tiverem interesse pelas metas e empenha- dos em atingi-las, eles se esforçarão mais e os re- sultados serão melhores. Uma postura positiva é fundamental para alcançar objetivos. O gerente deve tentar manter sua equipe otimista. O pedagogo e o desenvolvimento das competências O papel do educador é o de problematizar e in- centivar a investigação nas diversas áreas de co- nhecimento em determinados grupos de trabalho, visando estabelecer uma rede de comunicação para torná-los seres autônomos, criativos, competentes e responsáveis na produção de novos saberes. Esse trabalho de construção deve ocorrer no exercício do dia-a-dia das organizações. É o aprender a pensar, pois o maior poder que o ser humano adquire é o do conhecimento. O pedagogo é considerado um dos profissionais na área da educação que ajuda no processo de mu- danças, pois é qualificado para trabalhar as compe- tências, para que os colaboradores possam desenvol- ver por meio de comunicar-se adequadamente, do- minando a capacidade de falar e ouvir os outros, ou seja, conviver em equipe no ambiente de trabalho. Ele deve conduzir o cidadão ao permanen- te desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, intimamente integrada às dife- rentes formas de educação, ao trabalho, a ciência e à tecnologia (Cordão, 2002, p. 11). O pedagogo é aquele que conduz as pessoas, e direciona as suas verdadeiras funções, não implicando na mudança do seu comportamento, e sim ajudando a descobrir o seu verdadeiro potencial, para que possam desempenhar a sua função dentro da empresa, elabo- rando projetos, visando aumentar o preparo e a dispo- nibilidade para atingir os objetivos determinados de acordo com as necessidades de cada organização. Para o colaborador ter o reconhecimento no mercado de trabalho, precisa desenvolver compe- tências que são evidenciadas em suas atitudes, co- nhecimentos e habilidades, conduzindo-o a ter senso crítico, a compreensão de determinações sócio-eco- nômica, a valores humanos e gosto pelo aprender. É preciso saber que existem outras ma- neiras para aquele fazer e saber porque se escolheu fazer desta ou daquela maneira. Em suma é preciso deter a inteligência do trabalho, com a qual a pessoa se habilita a desempenhar com competência suas funções e atribuições ocupacionais, desenvolvendo permanentemente suas “aptidões para a vida produtiva” (Cordão, 2002, p. 11). 73A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 A competência é evidenciada quando ocorre pro- cesso mental de transposição de conhecimentos, levando o indivíduo a construir respostas novas di- ante de novos desafios. Um conceito mais completo, na medida em que combina o enfoque individual da carreira com a pers- pectiva organizacional, é o de que as competências são resultados de posições ocupadas e de trabalhos realizados durante a vida de uma pessoa. Envolve uma série de estágios e ocorrência de transições que refletem necessidades, motivos e aspirações individuais e expectativas e imposições da organi- zação e da sociedade. Do lado do indivíduo, engloba o entendimento e a avaliação de sua experiência profissional, do lado da organização abrange políti- cas, procedimentos e decisões ligadas a espaços ocupacionais, níveis organizacionais, compensação e movimentos das pessoas. Estes enfoques devem ser conciliados na dinâ- mica organizacional por meio de mecanismo de aconselhamentos, orientação e negociação, princi- palmente na forma da administração e gestão com- partilhada da competência. Nas organizações, o pedagogo pode contribuir de forma determinante para instaurar um clima de confiança e uma atitude positiva diante das inova- ções educativas. No trabalho, o ser humano encontra a sua mai- orrealização, pois é nesse local que passa grande parte do seu tempo diário. O pedagogo precisa conhecer o meio e finalidade de seu propósito, e com isto aprender a fazer um equilíbrio entre conteúdo e o conhecimento, trazen- do uma qualificação ao comportamento social de um trabalho em equipe. Transmitindo assim, conheci- mentos sobre a diversidade da espécie humana, le- vando as pessoas tomarem consciência do seu tra- balho dentro da empresa. O desenvolvimento das novas tecnologias da in- formação e da comunicação devem suscitar uma reflexão conjunta sobre o acesso ao conhecimento no mundo de amanhã, porque grandes mudanças da globalização estão deixando o trabalhador intranqüilo, pois este precisa ser mais flexível, reativo e competitivo. As funções do pedagogo como condutor do com- portamento das pessoas em direção a um objetivo determinado associadas à função da pedagogia como ciência e arte da educação, levam ao processo de influências que formam a personalidade humana. Concluí-se que educar é fazer as pessoas enten- derem os princípios do que fazem os fundamentos e o conceito do que fazem, bem como a responsabili- dade do seu trabalho e a importância de sua tarefa. Metodologia da pesquisa Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográ- fica sobre o tema objeto deste estudo e, posterior- mente, uma pesquisa de campo descritiva, e pes- quisa-ação que visou identificar e melhorar as com- petências das pessoas envolvidas na realização do trabalho realizado pela equipe de colaboradores da organização. A pesquisa de campo descritiva segundo Trivinos (1995, p. 110) “pretende descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade”. As- sim, é um tipo de pesquisa que proporciona a análi- se detalhada de um determinado fato ou dado de uma realidade. A pesquisa foi feita junto aos colaboradores dos setores, Higienização, Internação e Nutrição de uma empresa da área de saúde de Santa Maria. A popula- ção envolvida na pesquisa foi 150 colaboradores dos setores acima citados prescrevendo a sua totalidade. Como instrumento de coleta de dados foi utiliza- do o questionário, (Anexo 1), constituído de 21 ques- tões fechadas, que após respondidas foram tabula- das, (Anexo 2), para que se pudesse diagnosticar as competências com menor percentual das competên- cias a serem trabalhadas, para serem desenvolvi- das através da intervenção do pedagogo. Para a realização da coleta dos dados, os questi- onários foram entregues pessoalmente aos colabo- radores, sendo solicitado o seu preenchimento e após, recolheu-se para que os dados fossem devida- mente tabulados e analisados. Os colaboradores envolvidos na pesquisa respon- deram o questionário sem nenhuma intervenção da 7474 Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. p. 67-78, jan./jun. 2004 Claudete Trevisan Almeida da Silva; Josimara da Silva Pinheiro autora que realizou este trabalho, apenas foi expli- cado o objetivo da pesquisa . Os dados foram tabulados e analisados descriti- vamente, sendo apresentados em figuras para faci- litar sua compreensão. Após identificadas as competências de menor pontuação a serem trabalhadas: comunicação, criatividade e motivação, foi elaborado um plano de ação, seguindo-se um trabalho prático para a imple- mentação e desenvolvimento das melhorias daque- las competências. Para desenvolver a segunda etapa da investiga- ção utilizou uma pesquisa-ação do tipo qualitativa. A pesquisa-ação segundo Gil citado por Thiollent (1986), pode ser definida como: ...um tipo de pesquisa com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a reso- lução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e participantes represen- tativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou parti- cipativo. (Thiollent, 1986). Encerrados os trabalhos práticos com os três setores, aplicou-se novamente a pesquisa, seguindo a mesma sistemática já apresentada, para verificar se a atuação do pedagogo influenciou de maneira positiva a postura dos colaboradores, através do desenvolvimento das competências trabalhadas. Os módulos foram trabalhados em doze encon- tros, com duração de uma hora cada encontro. Plano de ação Primeiro Módulo Comunicação: trabalhou-se da seguinte maneira: 1º momento: realizada uma dinâmica de apre- sentação onde os participantes apresentavam seus nomes, tempo de trabalho na organização, seu se- tor de trabalho, com o objetivo de conhecê-los me- lhor para se planejar os próximos encontros com mais equidade. 2º momento: a partir deste momento, trabalhou- se a Árvore das Competências, com tarjetas, onde cada participante colocou seus objetivos e expecta- tivas com referência ao trabalho a ser desenvolvi- do. “Árvore das Competências é uma ferramenta que possibilita o direcionamento para a definição dos planos de autodesenvolvimento.” Gramigna, (2002, p. 17). 3º momento: apresentação de slides, abordan- do o tema Comunicação da seguinte forma: O que é comunicação? A comunicação no relacionamento com os clientes; As ferramentas de comunicação no atendimento aos clientes; Os pontos positivos da boa comunicação e pro- blemas ocasionados da má comunicação; Para encerramento desse encontro, realizou-se a dinâmica do Telefone Sem Fio, que permite evi- denciar a importância da comunicação para a reali- zação das rotinas e condições adequadas do traba- lho em equipe. 4º momento: foi realizada apresentação de fita de vídeo: “O que é comunicação?” e também a apre- sentação de um Teatro, onde os colaboradores par- ticiparam de atividade representando os diferentes modos de comunicação e seus processos de interfe- rência (ruídos) que podem acontecer no dia-a-dia. Segundo Módulo Criatividade: os encontros aconteceram da seguinte forma: 5º momento: foi realizada a apresentação de slides sobre o tema Mudança e Criatividade, abor- dando os seguintes tópicos: Novos paradigmas: o que impede? Reação à mudança Também houve apresentação de uma fita de vídeo: “O que precisamos fazer para sermos criati- vos” e a partir daí houve uma discussão do assunto abordado pelo grupo. 6º momento: fez-se uma peça teatral, onde fo- ram encenados os pecados do mau atendimento, e um atendimento com excelência. Após esse momen- to, houve um debate, onde todos participaram, ci- tando exemplos dos atendimentos que ocorrem no dia-a-dia de trabalho. 75A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 7º momento: trabalhou-se uma técnica de inte- gração, e debateu-se a importância do trabalho em equipe. 8º momento: exposição sobre o tema: O cliente interno/externo da organização, com apresentação de slides sobre o tema: Quem é o cliente? Normas gerais para atendimento ao cliente; Os pontos de valorização profissional. Terceiro Módulo Motivação: os encontros reali- zaram-se através de dinâmicas de grupo e mensa- gens conforme se descreve: 9º momento: neste momento trabalhou-se o tema Motivação utilizando técnicas vivenciais de di- nâmica de grupos de forma a permitir que cada um conhecesse melhor o seu colega. Os participantes nesse momento ficaram mais integrados para ex- por suas idéias. 10º momento: leitura de mensagens motivacio- nais e aplicação de técnicas vivenciais, que permiti- ram trabalhar a importância da integração para re- alização do trabalho em equipe. 11º momento: foi realizada avaliação dos encon- tros, permitindo verificar se as expectativas do gru- po foram atendidas e se o trabalho realizado sinali- zou melhorias no ambiente de trabalho. 12º momento: aplicou-se novamente a pesquisa realizada anteriormente, para verificar se a atua- ção do pedagogo influenciou de forma positiva para melhoria das competênciasComunicação, Criatividade e Motivação. E ao finalizar, realizou-se uma dinâmica vivencial, onde foi trabalhada a importância do cres- cimento e desenvolvimento do ser humano para a vida pessoal e profissional, encerrando-se as ativi- dades com uma confraternização entre todos os par- ticipantes. Apresentação dos resultados e análise da pesquisa Este capítulo apresenta os resultados dos ques- tionários aplicados nos setores de Higienização, Internação e Nutrição, antes e após o trabalho rea- lizado pela autora desse projeto, com a finalidade de identificar e melhorar as competências Comuni- cação, Criatividade e Motivação. Observa-se que após a intervenção do pedagogo o índice da necessidade de se desenvolver a comu- nicação no setor Higienização reduziu de 63,6% para 8,9%. Já no setor de Internação o índice que era de 66% reduziu para 6,6%. No setor de Nutri- ção o índice apresentado inicialmente foi de 43%, caindo para 6,6%, como percentual que ainda falta para ser trabalhado no setor para melhorar a co- municação. Gramigna define que: Capacidade de ouvir, processar e compre- ender o contexto da mensagem, expressar- se de diversos formas e argumentar com concorrência usando o feedback de forma adequada, facilita a interação entre as partes. (Gramigna, 2002, p.55) Diante disso observa-se que atuação realizada pelo pedagogo para melhorar a competência comu- nicação vai de encontro com as recomendações das literaturas que abordam o tema. No setor de Internação o índice de criatividade a desenvolver que antes da atuação da autora deste trabalho era de 42,8% , reduziu para 10%. No setor de Nutrição observa-se que tal índice passou de 58,4% para 7,1%. No setor de Higienização a neces- sidade da competência criatividade a ser desenvol- vida de 61,5% reduzindo para 5,8%. Pelos resultados da melhoria dos índices, verifi- ca-se que à medida que as pessoas são educadas para desenvolverem a criatividade, elas respondem com ações que provocam situações e resultados positi- vos para as equipes e para a empresa. Conforme Gramigna (2002,p.) afirma que criatividade é: “Ca- pacidade para conceber soluções inovadoras viáveis e adequadas para as situações apresentadas”. No setor de Internação verifica-se que após a realização dos trabalhos práticos o índice da compe- tência motivação a ser desenvolvida que inicial- mente era de 42,6% passou para 10,1%, já no setor 7676 Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. p. 67-78, jan./jun. 2004 Claudete Trevisan Almeida da Silva; Josimara da Silva Pinheiro de Higienização houve uma redução do índice de 64,2% para 7,5%, e no setor de Nutrição, o índice passou de 58,1% para 2,3%. Diante deste resultado observa-se que a compe- tência Motivação, é importante para ser trabalhada com a equipe, pois os resultados obtidos trarão be- nefícios, tanto para o ambiente de trabalho, quanto para a empresa. Conforme Gramigna diz que: Capacidade de demonstrar interesse pe- las atividades a serem executadas, toman- do iniciativas e mantendo atitude de dis- ponibilidade e de apresentar postura de aceitação e tônus muscular, que indica energia para os trabalhos. (Gramigna, 2002, p.55). Conclusão Um dos indicadores de desempenho organizaci- onal importante no atual contexto de mercado é a capacidade de atrair, desenvolver e reter pessoas talentosas. As organizações, mesmo possuindo em seu qua- dro funcional pessoas competentes e talentosas, têm dificuldades para identificá-las, e com isso atender às demandas sinalizadas pelo mundo globalizado. Faz-se então necessários investimentos no po- tencial humano. Na fundamentação teórica desse trabalho, per- cebeu-se que competências como comunicação, criatividade e motivação são fundamentais para o sucesso da realização de trabalhos em equipe, e que freqüentemente as organizações não usufruem das vantagens que essas competências trazem para o crescimento organizacional. O trabalho é realizado pelas pessoas para tanto elas precisam ser educadas e treinadas de maneira a desenvolver habilidades e talentos necessários para executá-lo. Trabalhar para desenvolver competências, incen- tivando os profissionais através de técnicas vivenciais e promoção de reuniões, oferta de semi- nários, participação de palestras e uso de veículos internos de comunicação é uma ferramenta funda- mental para os processos nas empresas no merca- do competitivo, organizarem seus processos educa- cionais que garantam a performance de seus cola- boradores. Na execução do trabalho prático realizado du- rante a pesquisa-ação, para desenvolver competên- cias conclui-se que: O trabalho do pedagogo na organização está di- retamente atrelado ao desempenho produtivo das pessoas, proporcionando o equilíbrio entre a técni- ca e a humanização. Por meio das atividades interativas, empresas alcançam resultados, antes não conseguidos com tantas outras ferramentas de gestão apenas com foco no fim, e não no processo, como é o trabalho pedagógico. Os treinamentos coletivos e a valorização de po- tencialidades e talentos são pontos essenciais da pedagogia empresarial, que respeita o limite de aprendizagem de cada colaborador propondo metas reais em seus trabalhos diários. Baseado neste estudo, concluí-se ainda, ser im- portante a intervenção do pedagogo para as melhorias das competências na organização. Através da pesquisa, constatou-se também que trabalhando as competências por meios de proces- sos educativos, os trabalhadores exercem suas ati- vidades mais motivados, havendo maior integra- ção na equipe de trabalho, gerenciando melhor seu estilo de vida, tornando-o mais saudável, feliz e produtivo, independente do meio em que vivam ou atuam. É indispensável a atuação do profissional como mediador e agente de transformação pois este tem formação profissional para proporcionar a aprendi- zagem de novas habilidades que o mercado está em falta e as organizações estão a procura. 77A intervenção do pedagogo para melhorar as competências do trabalho em equipe numa organização Revista do Mestrado em Educação, UFS, v. 8, p. 67-78, jan./jun. 2004 Referências bibliográficas CONNER, Daryl R. Gerenciando na velocidade de mudança: como gerentes resilienses são bem suce- didos e prosperam onde outros fracassam. Rio de Janeiro, 1995. CORDÃO, Francisco Aparecido. Boletim Técnico do SENAC. 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