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editorial Manipulação emocional Gláucia Viola, editora “Há muitas espécies de ciúme; o mais raro é o do coração.” Duque de Lévis 12 3R F R elacionar-se não é tarefa fácil em nenhuma esfera do comportamento humano. Seja entre o casal, na FAMÓLIA��NO�GRUPO�DE�AMIGOS��COM�OS�lLHOS��3OMOS�SERES�COMPLEXOS�E�SABER�LIDAR�COM�O�OUTRO�EXIGE� GRANDE�MAESTRIA��%SSE�TEMA�PODE�RENDER�UMA�SÏRIE�DE�BONS�DEBATES�NAS�PÉGINAS�DESTA�REVISTA��MAS�A� Psique�DIRECIONA�OS�HOLOFOTES�DESTA�EDI¥ÎO�PARA�UMA�QUESTÎO�QUE�LEVANTA�CERTA�PERPLEXIDADE�EM�PLE- NO�SÏCULO�88)��A�VIOLÐNCIA�CONTRA�A�MULHER��QUE�NO�ÊMBITO�INTERPESSOAL�AINDA�Ï�UMA�DAS�MAIS�DIFÓCEIS�DE�SER� PREVENIDA�E�EVITADA��-UITAS�MULHERES�QUE�VIVEM�RELA¥ÜES�ABUSIVAS�MOSTRAM�DIlCULDADE�EM�TER�CONSCIÐNCIA�DA� SITUA¥ÎO��/�CIÞME�EXAGERADO�GERADOR�DE�INÞMERAS�PRIVA¥ÜES��POR�EXEMPLO��Ï�CONSIDERADO�POR�MUITAS�PESSOAS� como prova de cuidado e amor. /�DOSSIÐ�ABORDA�O�CICLO�DESSE�TIPO�DE�RELACIONAMENTO��DESDE�A�FASE�DO�NAMORO�ATÏ�A�DECISÎO�DO�CASAL�DE�TER� lLHOS��EQUIVOCADAMENTE��COM�A�PRETENSÎO�DE�SOLUCIONAR�ESSAS�QUESTÜES�MAL�RESOLVIDAS��!lNAL��CASAIS�VIOLENTOS� tendem a seguir o mesmo modelo de conduta na gestação e depois dela, afetando inclusive as crianças. Importante destacar que o ciclo da violência ocorre para todas as formas de agressão, não somente a física. !�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�TAMBÏM�APRESENTA�A�MESMA�SÏRIE�DE�EVENTOS�� /�QUE�ACONTECE�NA�MAIORIA�DOS�CASOS�Ï�QUE�A�VIOLÐNCIA�PSICOLØGICA�Ï� mais difícil de ser detectada, até mesmo para quem sofre dela, dife- rente da agressão física aparente. Um estudo recente apresentado no artigo indica que a violência no namoro entre casais adolescentes pode se perpetuar até a vida adulta COM�NOVAS�ONDAS�DE�RISCO�Ì�SAÞDE�MENTAL�DO�CASAL�E�DOS�lLHOS��h%M� curto prazo, diversos efeitos danosos da violência no namoro têm sido DOCUMENTADOS�� INCLUINDO�DEPRESSÎO�� TRANSTORNO�DE�ESTRESSE�PØS TRAU- MÉTICO��ABUSO�DE�ÉLCOOL��DESEJO�DE�PÙR�lM�Ì�PRØPRIA�VIDA�E��EM�CASOS�EX- TREMOS��SUICÓDIO�E�HOMICÓDIOv��EXPLICAM�OS�PSICØLOGOS�AUTORES�DO�TEXTO� Romper esse vínculo de afeto, mesmo violento, é um dever ár- duo. Condutas autolesivas são especialmente frequentes em tenta- tivas de término, fazendo com que a vítima não saia deste padrão de comportamento. 6ALE�RESSALTAR�TAMBÏM�QUE�MUITOS�ELEMENTOS�NESSES�RELACIONAMENTOS�PODEM�SER�GRATIlCANTES��E��MESMO�QUE� PARA�ALGUÏM�QUE�OBSERVA�DE�FORA�PARE¥A�INCOMPREENSÓVEL�QUE�UMA�RELA¥ÎO�VIOLENTA�POSSA�TER�MUITOS�PONTOS�DE� SATISFA¥ÎO��Ï�FUNDAMENTAL�ENTENDER�QUE�Ï�EXATAMENTE�POR�ISSO�QUE�O�SENTIMENTO�lCA�TÎO�CONFUSO��¡�TAMBÏM�POR� ESSA�RAZÎO�QUE�A�PROCURA�POR�AJUDA�ESPECIALIZADA�PODE�FAZER�TODA�A�DIFEREN¥A�PARA�A�SOLU¥ÎO�DO�PROBLEMA� O atendimento às vítimas e perpetradores de violência nos relacionamentos deve compor um continuum de serviços focados no enfrentamento, prevenção e na promoção da qualidade das relações amorosas. Boa leitura! Gláucia Viola www.facebook.com/PortalEspacodoSaber CAPA sumário 35 28/06/2017 18:18:2 0 MATÉRIAS ENTREVISTA A psicóloga Luiza Elena do Valle defende alteração de técnicas que propiciam a APRENDIZAGEM�INmUENCIADA�PELA� interação com o ambiente SEÇÕES 06 EM CAMPO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 32 COACHING 34 LIVROS 50 CIBERPSICOLOGIA 52 NEUROCIÊNCIA 54 RECURSOS HUMANOS 64 DIVà LITERÁRIO 66 CINEMA 70 PERFIL 72 IN FOCO 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE 08 Compreensão do cérebro Avanços tecnológicos permitiram conhecer melhor o funcionamento cerebral e tentam responder se a mente pode mudar o cérebro Prejuízo à saúde Transtorno de estresse pós-traumático é considerado um dos diagnósticos mais populares da Psiquiatria em decorrência das sequelas da violência urbana 22 74 O significado de tudo O ato do nascimento mostra um ser desprovido de qualquer noção de si e do outro, mas quando entra na linguagem a criança descobre um novo mundo56 IM AG EM D A CA PA : S HU TT ER ST OC K DOSSIÊ: Sérias consequências emocionais Relacionamentos abusivos atingem até mesmo mulheres grávidas e frequentemente as pessoas envolvidas encontram GRANDE�DIlCULDADE�EM�SE� libertar dessa situação www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 5 giro escala LIBERDADE X ESCOLHAS REVISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 127 Em mais um artigo publicado na edição 127 da revista &ILOSOlA� #IÐNCIA�6IDA, o pesquisador do Ge- des (Grupo de Estudos sobre Direito, Estado e Sociedade) e professor con- vidado do curso de pós-graduação em Política e Relações Internacionais da FESPSP (Fundação Escola de Socio- logia e Política), Luiz Felipe Panelli aborda a justiça e equidade com base na lição aristotélica em relação ao Estado no século XXI. Tal estudo im- pacta um de seus projetos atuais, que é sua tese de doutorado, que analisa a QUESTÎO�DE� UM� SUPOSTO� CONmITO� ENTRE� o direito de liberdade e igualdade, em especial nas políticas públicas de dis- tribuição de renda. Para o professor, pode-se objetar que a teoria marxista separa o mundo em base e superestrutura e que, se nos preocuparmos em manter a paz social e o bom funcionamento do Estado, es- taremos preservando a base por meio de incrementos pontuais na superes- trutura, ou seja, não estaremos com- batendo de forma efetiva a exploração do homem pelo homem, tampouco buscando a igualdade verdadeira que só virá com a coletivização dos meios de produção. Pensador atuante no UNIVERSO� DA� &ILOSOlA� DO�$IREITO� E� DA� &ILOSOlA�0OLÓTICA��0ANELLI�RESSALTA�UMA� disciplina que tem chamado atenção DE� INÞMEROS� ACADÐMICOS�� A� *USlLOSO- lA��6ALE� LEMBRAR�QUE�UM�DOS�GRANDES� REPRESENTANTES� DO� TEMA� Ï� O� lLØSOFO� Norberto Bobbio, que conseguiu es- tabelecer conceitos preciosos sobre a democracia e a sociedade. REFLEXÃO E PRÁTICA: o resgate do conceito de comunidade por meio da amizade ANO X No 127 – www.portalespacodosaber.com.br Quando a liberdade e o individualismo passam a ser grandes fontes de angústia e bloqueio do pensamento ARISTÓTELES A história nos mostra que uma das aspirações perenes do homem do século XXI é a Justiça ÉMILE DURKHEIM Como mobilizar argumentos baseados nas ideias do mestre em debates sobre religião e socialismo ESCOLHAS SOFISTAS Uma síntese da obra de umas das maiores correntes fi losófi cas de todos os tempos RENATO JANINE RIBEIRO A importância do diálogo para o fortalecimento da democracia em tempos de cólera O DILEMA DAS UMA REBELDE NATA REVISTA SOCIOLOGIA - EDIÇÃO 69 Uma catadora de histórias e uma REBELDE� NATA�� !SSIM� Ï� POSSÓVEL� DElNIR� em poucas palavras a fotógrafa, docu- mentarista e cineasta Tania Quaresma, que se enquadra em uma classe especial de artistas singulares, que, com talento, sempre fazem o que querem, mas sem- pre com muita qualidade e competên- cia. E isso sem ligar para o machismo hegemônico e castrador, que dominava seu tempo de juventude, e que ainda domina a própria narrativa histórica humana da atualidade. Começou sua CARREIRA�PROlSSIONAL�MUITO�CEDO��AOS���� anos, para os padrões vigentes da épo- ca, documentando os movimentos es- tudantis e operários de protesto contra o governo militar. Desde então, trabalhou para as mais importantes redes de TV do Brasil. Passou a se dedicar ao cinema e seu primeiro longa – Nordeste: Cor- del, Repente, Canção (1975) – ganhou os prêmios Air France de Cinema e Coruja de Ouro de melhor som. Jun- tamente com sua equipe, produziu e dirigiu uma série de projetos cultu- rais e sociais, culminando com o su- cesso de Catadores de História (2016). O f ilme conquistou três prêmios na mostra competitiva do TroféuCâma- ra Legislativa no Festival de Cinema de Brasília: melhor trilha sonora, melhor fotograf ia e melhor f ilme de longa-metragem ( júri of icial). Para alcançar seus objetivos no trabalho, seja de vídeo ou f ilme, ela não dis- pensa o sentido social. A entrevista completa com Tania está na edição 69 da revista 3OCIOLOGIA. O DIA A DIA DE CATADORES DE LIXO EM FILME DE TANIA QUARESMA www.portalespacodosaber.com.br Caderno de Exercícios: Música negra e racismo nos Estados Unidos Ego e sociedade Lógica egoísta e paranoica orienta mercado e nações, em livro de Frank Schirrmacher Inteligência artificial Cientistas rumo ao algoritmo capaz de replicar o cérebro humano em meio cibernético- -informacional Por uma ideia de liberdade Contracultura e transgressão sob olhar sociológico em Easy Rider – Sem Destino Profissão John Kennedy Ferreira comenta a não obrigatoriedade do ensino de Sociologia nas escolas DARCY RIBEIRO O BRASIL DE 6 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br em campo SINAL DE ALZHEIMER Na Universidade do Sul da Califórnia, pesquisadores descobriram que adultos idosos com níveis elevados de placas de obstrução cerebral – mas com cognição aparentemente normal – experimentam declínio mental mais rápido, sugestivo de doença de Alzheimer. Por outro lado, também verif icaram que a simples presença dessas placas (chamadas placas amiloides) no organismo já seria um preditor do problema. Os pesquisadores compararam a placa amiloide no cérebro com o colesterol no sangue. Ambos são sinais de alerta com poucas manifestações externas, até ocorrer um evento catastróf ico. O estudo em questão apoia a ideia de que a doença começa antes dos sintomas, o que estabelece as bases para a realização de intervenções precoces e ef icazes contra a evolução do quadro. “Para ter o maior impacto sobre a doença, precisamos intervir contra a amiloide, a causa molecular básica do problema, o mais cedo possível”, disse Paul Aisen, autor sênior do estudo e diretor do USC Alzheimer’s Therapeutic Research Institute (ATRI), ligado à universidade, em comunicado à imprensa especializada. “Este estudo Ï�UM�PASSO�SIGNIlCATIVO�PARA�A�IDEIA� de que os níveis elevados de amiloide são um estágio inicial da doença de Alzheimer, um estágio apropriado para a terapia anti-amiloide”. Uma em cada três pessoas com mais de 65 anos tem amiloide elevada no cérebro, e a maioria desses indivíduos evoluirá para a doença de Alzheimer sintomática dentro de 10 anos. por Jussara Goyano ARTE E COGNIÇÃO PROJETOS ARTÍSTICOS ATIVAM SISTEMA DE RECOMPENSA NO CÉREBRO De acordo com um novo estudo realizado pela Universidade Drexel, na &ILADÏLlA��%5!��PUBLICADO�NO�PERIØDICO�The Arts in Psychotherapy, a realização DE�TRABALHOS�ARTÓSTICOS�LEVA�mUXO�SANGUÓNEO�A�ÉREAS�DO�CÏREBRO�PERTENCENTES�AO� sistema de recompensa. Tal consequência ocorreria independentemente da habi- lidade artística das pessoas avaliadas, mostrando que tais atividades são fonte de PRAZER�E�BEM ESTAR�EM�POTENCIAL��NÎO�IMPORTANDO�SUA�lNALIDADE� Os pesquisadores envolvidos utilizaram espectroscopia de infravermelho funcional para avaliar a atividade cerebral de 26 voluntários, entre artistas e não artistas, enquanto todos completavam diferentes tarefas em artes, tais como colorir uma mandala ou desenho livre, intercaladas a intervalos de descanso. &OI�VERIlCADO�UM�AUMENTO�NO�mUXO�DE�SANGUE�NO�CØRTEX�PRÏ FRONTAL�DO�CÏ- rebro dessas pessoas, em comparação com os períodos de descanso, nos quais O� mUXO� SANGUÓNEO� DIMINUIU� PARA� AS� TAXAS� NORMAIS�� /� CØRTEX� PRÏ FRONTAL� ESTÉ� associado à regulação de pensamentos, sentimentos e ações. Também está rela- cionado a sistemas emocionais e motivacionais e parte do circuito neuronal de recompensas do cérebro humano. !�ATIVIDADE�QUE�PROPORCIONOU�MAIOR�mUXO�MÏDIO�DE�SANGUE�NAS�ÉREAS�MEN- cionadas foi o chamado doodle, rabisco realizado enquanto a pessoa está distraída ou ocupada, como, por exemplo, os desenhos que são realizados aleatoriamente quando se está ao telefone, ou enquanto se ouve uma palestra. O desenho livre ativou igualmente o cérebro de artistas e não artistas. Já a atividade de colorir mandalas resultou em atividade cerebral negativa nos artistas, que podem ter se SENTIDO�LIMITADOS�EM�EXECUTAR�TAREFAS�TÎO�BEM�DElNIDAS��SEM�MUITA�MARGEM�PARA� o uso de sua criatividade. www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 7 IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K CUMPRIMENTO DE METAS DISTRAÍDOS DIFICILMENTE TÊM OBJETIVOS DE LONGO PRAZO, DIZ ESTUDO Mentes diletantes, ou que tendem a vagar por seus pensamentos no dia a dia, são menos propensas a manter objetivos de longo prazo, segundo pesquisa liderada pela Universidade de Waterloo, Canadá, com artigo a respeito publicado recentemente no Canadian Journal of Experimental Psychology. A conclusão foi fruto de três estudos distin- tos. Nos dois primeiros, os pesquisadores anali- saram a presença de mente errante, a desatenção e o grit de 280 voluntários (grit é um traço de personalidade que envolve interesse e esforço sustentados em metas de longo prazo, indepen- dentemente do nível de inteligência da pessoa). No terceiro estudo, 105 estudantes foram con- vidados a avaliar seus hábitos mentais durante uma aula e preencher questionários a respeito. Um próximo passo da pesquisa vai avaliar como alternativas como meditação e treinamen- to mindfulness seriam capazes de mitigar os im- pactos de tal errância mental e o quanto a força DE�VONTADE�EM�FAZÐ LO�INmUENCIA�NOS�RESULTADOS� gerais de aplicação das opções citadas. AR Q UI VO P ES SO AL Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na Unifesp. E-mail: atendimento@jussaragoyano.com RELAÇÕES E INDIVIDUALIDADE ESTUDO ESTABELECE LIGAÇÃO ENTRE SOLIDÃO E EGOCENTRISMO Estudos realizados ao longo de mais de uma década indicam que a solidão aumenta o egocentrismo e, em menor grau, o egocentrismo tam- bém aumenta a solidão. O achado foi publicado no Personality and Social Psychology Bulletin por cientistas ligados à Universidade de Chicago, EUA. A descoberta pode ajudar a mitigar questões de saúde pública, uma vez que pessoas consideradas solitárias estão mais sujeitas a doen- ças – essa população apresenta, inclusive, taxa de mortalidade maior que a de outros grupos em que a convivência social é mais intensa. Os pesquisadores escreveram que “abordar o egocentrismo como parte de uma intervenção para diminuir a solidão pode ajudar a que- brar um ciclo de feedback positivo que mantenha ou piore a solidão ao longo do tempo”. Lembram ainda que, na sociedade moderna, tornar-se mais autocentrado protege pessoas solitárias no curto prazo, mas não no longo prazo, em que são acumulados efeitos nocivos ao bem-estar individual. Isso levando-se em conta a noção de solidão como “um sen- timento de angústia anômalo ou temporário, sem valor redimível ou propósito adaptativo”. Os dados referentes às pesquisas foram coletados de 2002 a 2013 como parte do estudo de saúde, envelhecimento e relações sociais de Chicago. A amostra aleatória consistiu em 229 indivíduos que variaram de 50 a 68 anos de idade no início do estudo, variando também em gê- nero e status socioeconômico, incluindo hispânicos, afro-americanos e caucasianos. 8 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Lucas Vasques é jornalista e colabora com esta publicação Para a psicóloga Luiza Elena L. Ribeiro doValle, os resultados da educação no Brasil estão nos últimos lugares, em comparação com outros países do mundo. Então, está na hora de mudar técnicas para reverter o quadro O DESAlO�DA�APRENDIZAGEM��AO� LONGO�DOS� anos, foi e continua sendo tema central da preocupação de especialistas e tam- bém dos pais, que buscam orientação no SENTIDO�DE�ACERTAR�O�CAMINHO�MAIS�ElCIENTE�EM�RELA- ¥ÎO�A�ESSA�FASE�DA�VIDA�DOS�lLHOS��.A�OPINIÎO�DE�,UIZA� %LENA� ,�� 2IBEIRO� DO�6ALLE�� PSICØLOGA� COM� ESPECIALI- ZA¥ÎO�EM�0SICOLOGIA�#LÓNICA�E�MESTRE�EM�0SICOLOGIA� %SCOLAR�E�%DUCACIONAL��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER� através do jogo, da brincadeira, da instrução formal OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E�UM�APRENDIZ�MAIS� experiente, demonstrando a importância da mediação PARA�QUE�OS�SIGNOS�CULTURAIS�POSSAM�SER�INTERNALIZADOS� “São estudos que nos deixam a responsabilidade de OFERECER�OPORTUNIDADES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DE- senvolvimento potencial de cada criança. Entretanto, MUITAS�CRIAN¥AS�AINDA�hESTUDAMv�COMO�SE�FAZIA�SÏCU- los atrás, sentadas, em silêncio, diante de um professor que “ensina”, e, pior ainda, muitas crianças mal têm TEMPO�PARA� BRINCAR�� RECURSO� ESSENCIAL� NA� APRENDIZA- gem, se pensarmos na apropriação ativa do conheci- MENTOv��AVALIA�,UIZA�%LENA� A psicóloga ressalta a importância do sistema sen- sorial. Para ela, esse elemento é a porta de entrada dos estímulos. As informações recebidas pelo sistema sen- SORIAL� SÎO�CONDUZIDAS�PARA� ÉREAS� ESPECÓlCAS�DO�CØR- TEX�CEREBRAL��ONDE�AS�FUN¥ÜES�SUPERIORES�ORGANIZAM SE� como sistemas funcionais complexos, o que envolve uma integração de redes de conexão de neurônios, UMA�VEZ�QUE�OS�ESTÓMULOS�SÎO�DIVERSOS�E�SIMULTÊNEOS� ,UIZA�%LENA�Ï�DOUTORANDA�EM�0SICOLOGIA�3OCIAL�E�DO� 4RABALHO��COM�EXTENSÎO�EM�#OMPETÐNCIAS�'ERENCIAIS� E�)NTERNATIONAL�#OACHING��%NTRE�OS�LIVROS�LAN¥ADOS�ESTÎO� A Aprendizagem na Educação de Crianças e Adolescentes, Adolescência. !S�#ONTRADI¥ÜES�DA�)DADE�E�$ESAlOS�DO�-UNDO� 0ROlSSIONAL, todos publicados pela Wak Editora. A ).4%2!§/ DA PESSOA #/-�/�!-")%.4%�02/-/6%� A !02%.$):!'%- ,5):!�%,%.!�,��2)"%)2/�$/�6!,,% Por Lucas Vasques GI OV AN I S ILV A E SH UT TE RS TO CK E 1 23 RF www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 9 E N T R E V I S T A Segundo Luiza Elena, a aprendizagem ocorre pela descoberta, no momento em que a criança está com a maturidade adequada para aquela determinada função 10 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br LUIZA: !� APRENDIZAGEM� ACONTECE� PELA� descoberta, como um registro que se FAZ�DAQUILO�QUE�SE�OBSERVOU�NO�AMBIEN- te. Isso ocorre no momento em que a criança está com a maturidade ade- quada para aquela determinada função e esses processos obedecem a caracte- rísticas pessoais, que são diferentes de PESSOA�PARA�PESSOA��5MA�CRIAN¥A�PODE� aprender a andar mais depressa se tiver oportunidade de exercitar o movimen- to, quando alcançar a maturidade para essa função. Há uma sequência no de- senvolvimento a ser mediado, que se- gue desde o estágio em que a criança SE�ENCONTRA��POR�UMA�ZONA�DE�DESENVOL- vimento proximal, até chegar ao apren- DIZADO� DESEJADO� �6YGOTSKY �� %STUDOS� POSTERIORES�� DE� 'ARDNER�� MOSTRARAM� que as inteligências são múltiplas: uma pessoa pode ser ótima em matemáti- ca e ter fraca habilidade para aprender leitura, por exemplo. O quanto se pode aprender é impossível determinar, não TEM� LIMITESå�/� PROCESSO� DE� APRENDIZA- gem reúne múltiplos sistemas internos e externos, por isso cada pessoa é única E�ISSO�Ï�FANTÉSTICOå�¡�PRECISO�lCAR�ATENTO� com crianças porque, você sabe, na in- fância existem períodos quase mágicos, em que as redes neurais se desenvolvem muito rapidamente e a criança aprende COM�UMA�RAPIDEZ�INCRÓVEL����!PRENDE�ATÏ� o que ninguém ensinou... Então, você se surpreende e pergunta: como foi que ela aprendeu isso? COMO SE DEFINE O SISTEMA SENSORIAL E EM QUE MEDIDA ELE INFLUENCIA A APRENDIZAGEM? LUIZA: São as portas de entrada dos es- tímulos. As informações recebidas pelo SISTEMA�SENSORIAL��VISÎO��AUDI¥ÎO��OLFATO�� TATO��PALADAR �SÎO�CONDUZIDAS�PARA�ÉRE- AS� ESPECÓlCAS�DO�CØRTEX� CEREBRAL�� ONDE� AS� FUN¥ÜES� SUPERIORES� ORGANIZAM SE� como sistemas funcionais complexos, o que envolve uma integração de redes DE�CONEXÎO�DE�NEURÙNIOS��UMA�VEZ�QUE� os estímulos são diversos e simultâneos: você ouve, vê e sente ao mesmo tempo, IMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K É CORRETO AFIRMAR QUE A APRENDIZA- GEM É O PROCESSO PELO QUAL A CRIANÇA SE APROPRIA ATIVAMENTE DO CONTEÚDO DA EXPERIÊNCIA HUMANA, DAQUILO QUE O SEU GRUPO SOCIAL CONHECE? EM CASO POSITIVO, PODE-SE DIZER QUE A APREN- DIZAGEM DEPENDE FUNDAMENTALMENTE DA INTERAÇÃO DA CRIANÇA COM O MEIO? LUIZA: Sim, a interação da pessoa com O� AMBIENTE� PROMOVE� A� APRENDIZAGEM�� Teorias bastante ricas fundamentaram esse conhecimento, comprovadas com EXAMES�SOlSTICADOS�QUE�AVALIAM�OS�PRO- cessos do cérebro pela ação sobre o am- biente, que leva à assimilação e acomo- dação. Os estudos de Piaget descreveram passo a passo o desenvolvimento infantil e a adaptação do comportamento através DE�ORGANIZA¥ÜES�MENTAIS�QUE�ELE�DENOMI- nou de “esquemas” de representação do mundo, que permitem construir conhe- CIMENTOS��6YGOTSKY�TROUXE�A�TEORIA�SOCIO- cultural do desenvolvimento cognitivo, mostrando que as estruturas sociais e as relações sociais levam ao desenvolvimen- TO�DAS�FUN¥ÜES�MENTAIS��.ESSA�PERSPECTI- VA��A�APRENDIZAGEM�PODE�OCORRER�ATRAVÏS� do jogo, da brincadeira, da instrução for- MAL�OU�DO�TRABALHO�ENTRE�UM�APRENDIZ�E� UM� APRENDIZ� MAIS� EXPERIENTE�� DEMONS- trando a importância da mediação para que os signos culturais possam ser inter- NALIZADOS��3ÎO�ESTUDOS�QUE�NOS�DEIXAM�A� responsabilidade de oferecer oportunida- DES�DE�APRENDIZAGEM�PARA�O�DESENVOLVI- mento potencial de cada criança. Entre- tanto, muitas crianças ainda “estudam” COMO�SE�FAZIA�SÏCULOS�ATRÉS��SENTADOS��EM� silêncio, diante de um professor que “en- sina”, e, pior ainda, muitas crianças mal têm tempo para brincar, recurso essen- CIAL� NA� APRENDIZAGEM�� SE� PENSARMOS� NA� apropriação ativa do conhecimento. DE ACORDO COM A PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM, PARA QUE SE POSSA EN- TENDER ESSE PROCESSO É NECESSÁRIO RECONHECER QUE AS OPERAÇÕES COG- NITIVAS SÃO SEMPRE CONSTRUÍDAS NA IN- TERAÇÃO COM OUTROS INDIVÍDUOS. VOCÊ CONCORDA COM ESSE CONCEITO? O quanto se pode aprender é impossível determinar, não tem limites! O processo de aprendizagem reúne múltiplos sistemas internos e externos, por isso cada pessoa é única e isso é fantástico! ¡�PRECISO�lCAR�ATENTO� com crianças LUIZA:� #ONCORDO�� PORQUE� Ï� UMA� AlR- mação comprovada pela ciência. #RIAN¥AS� QUE� NÎO� RECEBEM� ESTÓMULO� visual, por exemplo, não desenvolvem a área do cérebro correspondente à VISÎO��5MA�PSICØLOGA�RENOMADA��JÉ�FA- LECIDA�� "EATRIZ� ,EFRÒVE�� REALIZOU� UMA� PESQUISA� SOBRE� APRENDIZAGEM� COMPA- rando as crianças da região Sudeste DO� "RASIL� COM� CRIAN¥AS� DO� .ORDESTE�� em relação à coordenação motora: ela nos mostrou que, enquanto as crian- ças do Sul respondem melhor ao trei- no no manejo do lápis, as crianças do .ORDESTE� DOMINAM� HABILIDADES� COMO� bordados, compartilhadas por toda fa- mília, de acordo com os valores locais, MAS� FALHAVAM�NA�ESCRITA� �O�QUE�PODE- RIA�SUGERIR�HABILIDADE�MOTORA�lNA�DEl- CIENTE��O�QUE�NÎO�ERA�VERDADE ��)MAGINE� como foram revolucionárias essas con- clusões, embora, com frequência, as crianças são exigidas e avaliadas sem considerar nada disso. EXISTE UM PROCESSO PREDETERMINADO QUE DEFINE A APRENDIZAGEM? OU SEJA, É POSSÍVEL MEDIR COMO E QUANDO SE DEVE APRENDER? E ESSE PROCESSO É ÚNICO OU FUNCIONADE ACORDO COM AS PARTICU- LARIDADES DE CADA CRIANÇA? www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 11 volvem inteligência espacial: por exem- PLO�� PARA� ENCONTRAR� E�MEMORIZAR� ROTAS�� em tarefas motoras dirigidas a um alvo, em raciocínio matemático. As mulheres FALAM�MAIS��mUÐNCIA�VERBAL ��SÎO�MELHO- RES�EM�CÉLCULOS�SIMPLES�E�EM�MEMORIZAR� detalhes importantes de um caminho. Existem diferenças, de modo geral, mas DEVE�lCAR�CLARO�QUE�A�EXPERIÐNCIA�SOCIAL� interfere, assim como o esforço pessoal, EM�DETERMINADA�ÉREA��O�CÏREBRO�Ï�SENSÓ- VEL�A�ESTÓMULOS �� HÁ MUITAS CONTROVÉRSIAS SOBRE A ME- LHOR IDADE PARA O INÍCIO DA ALFABETIZA- ÇÃO. EM TERMOS DE COGNIÇÃO INFANTIL, QUAL A SUA OPINIÃO SOBRE ESSA QUESTÃO? LUIZA: É importante entender que a APRENDIZAGEM�Ï�UM�PROCESSO�PESSOAL�E� intransferível. Em termos de cognição infantil, o importante é que a criança es- teja pronta, interessada e possa interagir COM�OS�ESTÓMULOS�PARA� FAZER� SUAS� hDES- cobertas”, que a encantam e provocam uma vontade de saber mais. Por outro LADO��A�ALFABETIZA¥ÎO�Ï�UM�CØDIGO�DETER- minado, que ela não pode inventar e vai aprender com mais facilidade se for me- diada para aprender corretamente. Fica NESSE�PONTO�A�CONTROVÏRSIA��A�APRENDIZA- gem deve ser espontânea e, ao mesmo TEMPO��A�ALFABETIZA¥ÎO�PRECISA�SER�CUIDA- dosa, porque é a base dos outros conhe- CIMENTOS���#ONSIDERO�ESSENCIAL�VALORIZAR� os passos que a criança dá, mas ela pre- cisa receber as informações mediadas, porque não dá para vencer um jogo sem SABER�AS�REGRAS��E�NA�ALFABETIZA¥ÎO�NÎO�Ï� diferente. Aos 6 anos, em geral, a criança já tem prontidão, se ela “descobrir” an- TES�O�PROCESSO�DE�LEITURA��NÎO�DEVE�lCAR� proibida de seguir em frente, mas, ainda assim, há necessidade de mediação posi- tiva, que a estimula a melhorar. Aquelas que não conseguem associar as letras aos sons espontaneamente precisarão de ajuda para provocar essas descobertas. Pode-se chamar atenção para o fato de que as crianças nos impressionam com o manuseio de recursos tecnológicos, em que ela erra e insiste, perde a “vida” MUITAS�VEZES�ATÏ�SEM�CONSCIÐNCIA�DISSO�� Existem, ainda, mecanismos internos de regulação que acontecem sem a sua de- terminação, como a condução elétrica de estímulos e a produção de hormônios que são liberados no sangue e interferem em sua resposta, que se soma à memó- RIA�QUE�VOCÐ�ARMAZENA�SOBRE�OS�EVENTOS�� Até a percepção dos erros nos ajuda a nos direcionar. A conclusão que você retira das informações percebidas por seu sistema sensorial irá formar o seu conhecimento do mundo, sua aprendi- ZAGEM�� %NTRETANTO�� CONSIDERANDO� A� BA- gagem aprendida, a percepção de um objeto, como um facão, por exemplo, representa perigo, quando associado aos conhecimentos que você já tem, enquan- to uma criança pequena vê diferente de você o mesmo objeto e vai brincar sem preocupação. Espera-se que a criança possa ser mediada e não precise se ma- CHUCAR�NESSA�APRENDIZAGEM�� COMO OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS SE COM- PORTAM DIANTE DESSE PROCESSO? QUAL SE- RIA O PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA APREN- DIZAGEM, O DIREITO OU O ESQUERDO? LUIZA: Diversos pesquisadores, desde o século XIX, perceberam diferenças fun- cionais nos hemisférios cerebrais e pro- CURARAM�RElNAR�A�BUSCA�PELAS�DIFEREN¥AS� motoras e sensitivas dos hemisférios. Foi concluído que: o hemisfério esquerdo é VERBAL��USA�PALAVRAS�PARA�NOMEAR�E�DES- CREVER �� Ï� ANALÓTICO� �DECIFRA� POR� PARTES �� TEMPORAL� �SE� MANTÏM� NUMA� SEQUÐNCIA� DE�FAZER�UMA�COISA�E�DEPOIS�OUTRA ��ANA- LÓTICO�E�ABSTRATO��DECIFRA�POR�PARTES�E�AS� UTILIZA�PARA�REPRESENTAR�O�TODO ��ENQUAN- to o hemisfério direito é dito “artístico”, sintético, emocional, não verbal e espa- CIAL��-ENINOS�TÐM�DESEMPENHO�SUPERIOR� ao das meninas nas atividades que en- Na infância, existem períodos quase mágicos, em que as redes neurais se desenvolvem muito rapidamente e a criança aprende com uma rapidez incrível. Aprende até o que ninguém ensinou. Então, você se surpreende As estruturas e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções mentais e, nessa perspectiva, a aprendizagem pode ocorrer por meio do jogo, da brincadeira 12 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br É importante entender que a aprendizagem é um processo pessoal e intransferível. Em termos de cognição infantil, o importante é que a criança esteja pronta, interessada e possa interagir com os estímulos para fazer suas “descobertas” no joguinho e tenta de novo, até desco- brir que melhorou para mais um nível e COMEMORA�����!�APRENDIZAGEM�DA�LEITURA� deve reconhecer esse incrível recurso que a informática oferece, que não se adequa às características escolares co- piadas de tempos antigos, como se nada houvesse acontecido de novo. VOCÊ JÁ FALOU SOBRE TÉCNICAS PARA UM APRENDIZADO EFETIVO E RÁPIDO. EXISTEM, DE FATO, ESSAS TÉCNICAS E QUAIS SERIAM? LUIZA: Sem dúvida! Todos os conheci- mentos sobre o desenvolvimento infan- TIL�� SOBRE� O� PROCESSO� DE� APRENDIZAGEM� precisam ser considerados para que a criança aprenda rapidamente e de for- ma efetiva. É muito comum você ouvir QUEIXAS� DE� ADULTOS� QUE� AlRMAM� QUE� A� criança interage com videogames com mais facilidade que eles, mas, na hora de “estudar”, a mudança é nítida e vira uma guerra. De fato, com muita frequência, ainda predomina a mesma forma de “estudar” que afastou tantas crianças da escola. Os resultados da educação no Brasil estão nos últimos lugares, em comparação com outros países do mun- do, há muitos anos; então, está na hora DE� MUDAR� AS� TÏCNICASå� -EU� INTERESSE� PELA� APRENDIZAGEM�DA� LEITURA� E� ESCRITA�� eu acho que nasceu comigo. Quando TERMINEI�O�ENSINO�FUNDAMENTAL��lZ�CON- curso para a rede pública no magistério DO�2IO�DE�*ANEIRO�E�FUI�APROVADA��-UITO� jovem, fui trabalhar em escolas e recebi CLASSES� DE� ALFABETIZA¥ÎO� COM� DIlCULDA- DES� DE� APRENDIZAGEM� IMENSAS�� � $ESDE� então, não parei de procurar entender como mudar essa realidade e acho que nunca vou parar de estudar essa questão, porque a cada momento surgem novas possibilidades e é essencial que elas se- jam aproveitadas por tantas pessoas que guardam no coração a vontade de que nossas crianças tenham oportunidades, ainda inacessíveis, desde os primeiros anos da escola. As minhas descobertas resultaram numa integração de todas as pesquisas a que tive acesso, reunin- do reconhecidos trabalhos numa ferra- menta prática, que lançarei este ano: “A revolução das letras”. É um novo jeito de LIDAR�COM�A�ALFABETIZA¥ÎO��CONSIDERANDO� MINHA�EXPERIÐNCIA�EM�#LÓNICA��0SICOPE- dagogia e Psicologia Educacional, que me coloca em contato com necessidades diversas, levando-me a criar uma turma de super-heróis diferentes: a turma do &UTURO�6ERDE��VERDE�DE�ESPERAN¥A��VERDE� DE�NATUREZA��VERDE�DE�"RASIL ��/�TRABALHO� promove a inclusão digital e social, além DO�PRAZER�DE�APRENDER� HÁ FREQUENTEMENTE UMA CONFUSÃO ENTRE DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM E A OCORRÊNCIA DE TRANSTORNOS OU DIS- TÚRBIOS. QUAIS SÃO AS DIFERENÇAS? LUIZA:� 3ÎO� DIFEREN¥AS� QUE� FAZEM� A� DI- FEREN¥Aå�!�DIlCULDADE�DE�APRENDIZAGEM� se refere à presença de um obstáculo, uma barreira, um sintoma, que pode ser de origem tanto cultural quanto cogni- tiva ou até mesmo emocional. É essen- cial que o diagnóstico seja feito o quan- TO�ANTES��UMA�VEZ�QUE�HÉ�CONSEQUÐNCIAS� EM�LONGO�PRAZO��¡�INTERESSANTE�LEMBRAR� QUE� A� DIlCULDADE� DE� APRENDIZAGEM�� PODE�� MUITAS� VEZES�� SER� RESOLVIDA� NO� ambiente escolar, como questão psico- pedagógica. O transtorno ou distúrbio DE�APRENDIZAGEM�ESTÉ�LIGADO�A�UMA�DIS- função neurológica ou biopsicossocial. .ESSE�CASO��OS�PORTADORES�DO�DISTÞRBIO�DE� APRENDIZAGEM� NÎO� CONSEGUEM� AD- quirir o conhecimento de determinadas matérias e devem ser encaminhados PARA� AVALIA¥ÎO� ESPECIALIZADA�� PARA� QUE� AS� CRIAN¥AS� NÎO� SEJAM� PENALIZADAS� POR� SEU�PROBLEMA��#ONCLUSÜES�COM�BASE�EM� Quando a criança consegue decifrar as letras, ela pode ler, o que não representa uma leitura funcional, porque apenas repete os sons, e não aplicará esse conhecimento www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 13 A aprendizagem deve ser espontânea e a alfabetização precisa ser cuidadosa, porque é a base dos outros conhecimentos. Considero essencial valorizar os passos que a criança dá, mas ela precisa receber as informações mediadas suposições em nada ajudam a solucio- nar a queixa, como convencer a criança de que ela “tem” de se esforçar, deixar de ser preguiçosa, que ninguém aguenta MAIS�ETC��!lRMA¥ÜES�ASSIM�PREJUDICAM� SUA�AUTOCONlAN¥A�E�ATRASAM�A�INTERVEN- ção que ela necessita para a adoção de recursos adequados à singularidade de cada caso. Diante de dúvidas, a colabo- ração interdisciplinar é indispensável para a orientação de pais e professores. É POSSÍVEL PREVENIR ALGUM DOS PROBLE- MAS DE APRENDIZAGEM? LUIZA: Sim. Essa é a função de todos os que se dedicam ao desenvolvimento in- fantil, em qualquer especialidade. Todas as crianças podem aprender, o que é um direito constitucional, obrigação da fa- mília e da sociedade e dever do Estado. Quando se pesquisa como os indivíduos aprendem, quais as etapas e caminhos a serem percorridos ou os fatores que in- TERFEREM�NO�APRENDIZADO��PODEM SE�AN- TECIPAR�PROBLEMAS�PARA�PREVENI LOS��.ÎO� estamos falando em alterar condições biológicas, o que já se tem conseguido em muitos casos, mas em adequar a situação de ensino para propiciar con- dições de progresso às necessidades do aluno, sendo preciso desenvolver ferra- mentas que atendam os comprometi- mentos que não forem reversíveis. UM DESSES PROBLEMAS É A HIPERATIVI- DADE NO TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO. A HIPERATIVIDADE SEMPRE VEM ASSOCIADA À FALTA DE ATENÇÃO? LUIZA: /�TRANSTORNO�DE�DÏlCIT�DE�ATEN- ção envolve os sintomas de desatenção e hiperatividade, basicamente. Pode haver predomínio de desatenção, predomí- nio de hiperatividade-impulsividade e apresentação combinada. O TDAH foi revisto para publicação da nova edição DO� $3- �� E� SOFREU� ALGUMAS� PEQUENAS� MODIlCA¥ÜES�� 0ERMANECE� A� LISTA� DE� ��� sintomas, sendo nove de desatenção, seis de hiperatividade e três de impulsivida- DE��ESTES�DOIS�ÞLTIMOS�COMPUTADOS�CON- JUNTAMENTE � DA� EDI¥ÎO� ANTERIOR�� 4ODOS� esses sintomas, para serem considerados CLINICAMENTE�SIGNIlCATIVOS��DEVEM�ESTAR� presentes pelo menos durante seis me- ses e serem nitidamente inconsistentes COM� A� IDADE� DO� INDIVÓDUO� �OU� SEJA�� SER� muito mais desatento ou inquieto do que o esperado para uma determinada ida- DE �� $EVE� HAVER� COMPROMETIMENTO� EM� PELO�MENOS� DUAS� ÉREAS� DIFERENTES� �CASA� E�ESCOLA��POR�EXEMPLO �E�OS�SINTOMAS�SÎO� prejudiciais à adaptação e ao desempe- nho. As mudanças tornaram possível FAZER�O�DIAGNØSTICO�DE�4$!(�COM�UM� quadro de autismo, mas permanecem exigências de os sintomas não ocorre- rem exclusivamente durante outro qua- DRO� �ESQUIZOFRENIA�� POR� EXEMPLO � E� NÎO� serem mais bem explicados por outro TRANSTORNO��ANSIEDADE�OU�DEPRESSÎO��POR� EXEMPLO ��/�NOVO�$3- �� TRAZ�A�OP¥ÎO� de TDAH com remissão parcial, que deve ser empregado naqueles casos em que houve diagnóstico pleno de TDAH ANTERIORMENTE��ISTO�Ï��DE�ACORDO�COM�TO- DOS�OS�CRITÏRIOS ��PORÏM�COM�UM�MENOR� número de sintomas atuais. Outra novi- dade da quinta edição é a possibilidade DE�SE�CLASSIlCAR�O�4$!(�EM�LEVE��MO- derado e grave, de acordo com o grau de comprometimento que causa na vida do indivíduo. O transtorno deve ser diag- nosticado por um especialista clínico. Há pessoas com TDAH que passam a vida toda sem terem sido diagnosticadas e enfrentam uma série de problemas por lhes faltar a compreensão do que pre- cisam nesse quadro neuropsicológico que não se limita à infância. De fato, as queixas dos adultos são as mesmas das crianças: distração, falta de concentra- ção, baixo rendimento nas atividades, impulsividade, falta de persistência para levar as tarefas adiante. COMO É REALIZADO O PROCESSO DE REA- BILITAÇÃO COGNITIVA? LUIZA: Para iniciar a reabilitação, é reco- MENDÉVEL�CONHECER�O�PROBLEMA��#OME- ça aí uma controvérsia, porque ainda se insiste tentar de “tudo” antes de buscar AJUDA� INTERDISCIPLINAR� OU� ESPECIALIZADA� para avaliar a queixa. O processo de reabilitação dependerá da necessidade VERIlCADA�� MAS�� BASICAMENTE�� SE� VOLTA� para atender as causas e reverter os re- sultados; pode fortalecer os fatores que compensam as áreas comprometidas �NO� CASO� DE� 4$!(� PODEM� SER� DESEN- VOLVIDOS� RECURSOS� DE� ORGANIZA¥ÎO� E� DE� AUTOCONTROLE�� ENTRE� OUTROS � OU� AUXILIAR� NA� UTILIZA¥ÎO� DE� RECURSOS� QUE� POSSAM� permitir uma adaptação satisfatória �RECURSOS� TECNOLØGICOS�� POR� EXEMPLO �� 3ABENDO SE� QUE� O� CÏREBRO� Ï� mEXÓVEL� E� que as conexões neurais se desenvolvem conforme haja estimulação e processa- mento do conhecimento, a melhora da performance não é indicada apenas para comprometimento, mas também para aqueles que querem melhorar seu índice de resultados. Essa foi a intenção quan- do procurei desenvolver uma técnica que me ajudasse a estimular a memória, que sofre uma queda na produtividade COM�O�AVAN¥O�DA�IDADE��#REIO�QUE�Cére- bro e Aprendizagem: um Jeito Diferente de Viver, livro em que reuni pesquisas sobre o assunto, ajudou bastante, especialmen- te pela proposta de brincar, em qualquer IDADE��.ÎO�VALE�MESMO�A�PENA�SE�RENDER� a tensões que nos provocam diariamen- te, não é? IM AG EN S: S HU TT ER ST OC K E 12 3R F 14 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br Todas as crianças podem aprender, o que é direito constitucional. Quando se pesquisa como os indivíduos aprendem, quais as etapas a serem percorridas ou os fatores que interferem no aprendizado, podem-se antecipar problemas para preveni-los QUAIS SÃO OS DIAGNÓSTICOS QUE PO- DEM SE BENEFICIAR COM A REABILITA- ÇÃO COGNITIVA? LUIZA: Todos os conhecimentos são úteis para compreender melhor a pessoa e podem auxiliá-la a planejar e a alcan- çar os objetivos que a levarão a uma re- ALIZA¥ÎO�PESSOAL��A�UMA�MAIOR�INTERA¥ÎO� com o meio, encontrando satisfação e AUTOESTIMA��#URIOSAMENTE��PENSA SE�QUE� OS�PROBLEMAS� SE� LIMITAM�A�DElCIÐNCIAS�� mas as crianças bem dotadas também sofrem: precisam acompanhar etapas que já superaram e são podadas em suas INICIATIVAS�DE�UTILIZAR�SEU�POTENCIAL��TEN- dendo à desadaptação, sem que se reco- nheça a necessidade de uma orientação DIAGNØSTICA�QUE�OS�BENElCIE� EM SUA OPINIÃO, QUAIS AS RELAÇÕES EN- TRE COGNIÇÃO E LINGUAGEM? LUIZA: A linguagem é um processo cog- NITIVO��COMANDADO�POR�ÉREAS�ESPECÓlCAS� do córtex cerebral em inter-relação com todo o cérebro. A área de Wernick, que se situa no centro da face lateral do he- MISFÏRIO�ESQUERDO��DOS�DESTROS ��Ï�ADMI- tida como essencial para todas as moda- lidades de linguagem. Associada a essa ZONA�HÉ�UM�POLO�MOTOR�ANTERIOR��REGIÎO� DE�"ROCA ��UM�POLO�POSTERIOR��PARIETO�OC- CIPITAL � RELACIONADO� Ì� LEITURA� E� ESCRITA� E� um polo parietal relacionado com a ativi- dade gestual. A linguagem é um instru- mento de comunicação entre as pessoas E�UM�ORGANIZADOR�PRIVILEGIADO�DO�PENSA- MENTO�n�Ï�COMO�DElNO�A� LINGUAGEM�AO� apresentar o livro Aprendizagem, Lingua- gem e Pensamento, que reúne importantes autores que discutem esse tema com base nas teorias que o consolidam. EXISTEM EXERCÍCIOS INDICADOS PARA A CRIANÇA LER MAIS E MELHOR? VOCÊ FALA EM EXERCÍCIOSDE FLEXIBILIDADE NA LEI- TURA. COMO FUNCIONAM? LUIZA: Quando a criança consegue deci- frar todas as letras do alfabeto, ela pode ler, mas isso não representa uma leitura funcional, porque ela apenas repete os SONS�� SEM� SABER� SEU� SIGNIlCADO� E� NÎO� poderá aplicar esse conhecimento, por- tanto, às diversas situações de sua expe- riência. A criança pode decorar também algumas palavras que vê com frequência E�ALGUMAS�CHEGAM�A�DIZER�UM�TEXTO�IN- teiro sem ler uma única palavra realmen- te. A criança está se exercitando quando brinca de ler e escrever palavras em situ- ações diversas, quando tenta ler palavras novas ou tenta escrever e ler o que lhe interessa. Ela aprendeu o nome dela em letra de forma, por exemplo, e descobre que pode ser escrito com letras maiús- culas e minúsculas e que outros nomes também apresentam aquelas letras que ela conhece. Descobrir que a leitura é uma forma de comunicação, quando a criança tem oportunidade de perceber A�DIVERTIDA�mEXIBILIDADE�DA�LEITURA�OU�AS� inúmeras combinações de letras que ati- çam a curiosidade de saber mais. É POSSÍVEL APRENDER A ESCREVER BEM OU ESSA PRÁTICA É UM DOM INATO QUE SE MANIFESTA NA INFÂNCIA E SE CONSOLIDA NA IDADE ADULTA? LUIZA: .ÎO� Ï� UM� DOMÓNIO� INATO�� POR- que você precisa conhecer o código de linguagem para escrever bem; se você nunca tiver acesso a esse recurso, será impossível aprender. Quando uma pes- soa tem uma habilidade mais destacada, naturalmente, ela se sente bem ao utili- ZAR�O�DOM��SEJA�NA�ESCRITA��NA�MÞSICA��NO� domínio da matemática ou de artes, ou em qualquer domínio de conhecimento OU� INTELIGÐNCIA�� #ONFORME� ELA� SE� DEDI- CA�� A� CAPACIDADE� SE� DESENVOLVE� E� A� FAZ� se sentir bem e tende a se consolidar. É claro que descobrir um dom inato numa CRIAN¥A�E�APOIÉ LA�Ï�O�MÉXIMOå�-AS��EU� QUERO�DIZER��QUE�TODOS�PRECISAM�DESCO- brir seus talentos, em qualquer idade, mesmo quem não teve oportunidade quando pequeno. EXISTEM FORMAS DIFERENTES DE RACIO- CINAR? QUAIS SERIAM? LUIZA: O ser humano raciocina para re- ALIZAR�QUALQUER�TIPO�DE�ATIVIDADE��DESDE� as mais simples até as mais complexas. 2ACIOCINAR�Ï�A�ATIVIDADE�MENTAL�QUE�PER- MITE�A�ORGANIZA¥ÎO�DO�PENSAMENTO�PARA� conseguir a conclusão de ideias, deter- minar resultados. O raciocínio pode ser VERBAL��QUE�CONSISTE�NA�UTILIZA¥ÎO�DE�ELE- mentos verbais, ou não verbal, quando envolve exercícios de raciocínio lógico com problemas matriciais, geométricos e aritméticos. O raciocínio espacial en- volve a capacidade de manipular repre- sentações mentais visuais. O raciocínio abstrato se refere à capacidade para determinar ligações abstratas entre con- ceitos através de ideias inovadoras. Di- versos outros tipos de raciocínio ainda podem ser listados, mas o importante é observar o foco o melhor possível, rela- cionar as informações, arriscar proposi- ções, analisar hipóteses, comparar, ouvir as pistas internas e... relaxar. O raciocí- nio é um super-herói que não gosta de pressão: brinque, solte-se e ele acontece. O APRENDIZADO É CONSTANTE EM NOSSA VIDA. UMA DAS MOTIVAÇÕES, INCLUSIVE, FOI A DESCOBERTA SOBRE A ELASTICIDA- DE CEREBRAL. HÁ TÉCNICAS QUE PODEM SER USADAS POR ADULTOS EM DESENVOL- VIMENTO DE APRENDIZAGEM? SÃO DIFE- RENTES DAS APLICADAS EM CRIANÇAS EM IDADE ESCOLAR? CASO SEJAM, POR QUÊ? IMA GE NS : 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida �� Não estamos falando em alterar condições biológicas, o que já se tem conseguido em muitos casos, mas em adequar a situação de ensino para propiciar condições de progresso às necessidades do aluno, sendo preciso desenvolver ferramentas LUIZA: Aprender é constante, resulta de estar vivo e em relação com o am- BIENTE��-ESMO� DORMINDO�� A� APRENDIZA- gem ocorre, porque o sono consolida a memória e libera a consciência de crí- ticas. Sem dúvida, saber que o cérebro NÎO�ESTABELECE�UM�LIMITE�DE�APRENDIZA- gem, e até pode reativar funções cogni- tivas que possam ter sido afetadas por doenças ou traumatismos, abriu um le- que de expectativas das quais o ser hu- mano pode usufruir. As técnicas devem ser diferentes, porque devem atender as características de cada um. Ou seja, a APRENDIZAGEM� NÎO� SE� LIMITA� Ì� INFÊNCIA�� embora seja um período de inestimáveis POSSIBILIDADES�NA�APRENDIZAGEM��/�CÏRE- BRO��SENDO�UM�ØRGÎO�mEXÓVEL��DEVE�SEGUIR� buscando aperfeiçoamento. Eu mesma acabei me voltando para a Psicologia Social e do Trabalho, área em que com- PLETEI�MEU�DOUTORAMENTO��NA�530��COM� a orientação do incrível prof. dr. Sig- MAR�-ALVEZZI��3ABEMOS�QUE�NEM�TODOS� têm a oportunidade de receber estímu- LOS�ADEQUADOS�NA� INFÊNCIA� �MAS� SEMPRE� EXISTE�A�PSICOTERAPIA �E�ME�CONVENCI�DE� QUE��SE�REUNIRMOS�OS�PROlSSIONAIS�QUE�SE� DEDICAM�A�ESTUDOS�CIENTÓlCOS�DE�CONHE- cimentos e teorias que fortalecem esse CAMPO�� CONSEGUIREMOS� FAZER�MAIS� PELA� educação, promovendo mais crianças. Então, me voltei para os professores, psi- CØLOGOS��FONOAUDIØLOGOS��lSIOTERAPEUTAS�� MÏDICOS�� ENlM�� PARA� AQUELES� QUE� TRA- BALHAM��%M�VÉRIOS� LIVROS�QUE�ORGANIZEI� tive o privilégio de ser atendida por au- TORES�QUE�ADMIRO�E�ACEITARAM�O�DESAlO� de melhorar as condições brasileiras de educação, saúde e trabalho. Escreveram capítulos e defenderam seus temas em nosso congresso interdisciplinar, que AGORA�FAZ����ANOS� COMO A PSICOTERAPIA PODE CONTRIBUIR PARA O TRATAMENTO DE TRANSTORNOS MENTAIS E COGNITIVOS ENTRE OS ADO- LESCENTES? LUIZA: O autoconhecimento é a estra- TÏGIA�UTILIZADA�EM�PSICOTERAPIA��#ONFOR- me o indivíduo consegue se perceber de forma mais consciente, com suas fra- QUEZAS�E�FOR¥AS��ELE�SE�TORNA�MAIS�CAPAZ� de aceitar as pessoas e de interferir no mundo de forma positiva, com resulta- dos satisfatórios, que promovem cada VEZ�MAIS�ESSA�INTERA¥ÎO� DE QUE FORMA VOCÊ OBSERVA A QUES- TÃO DA VISIBILIDADE E INVISIBILIDADE SOCIAL DO ADOLESCENTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO? LUIZA: Os problemas da adolescência estão ganhando espaço social no mun- do contemporâneo com avanços em sua visibilidade, mas há muito a caminhar e vencer. Frequentemente, os adolescen- tes estão visíveis, como preocupação, e mais pela percepção dos problemas do que pelas soluções. A vulnerabilidade dessa etapa de vida diante da violência urbana, do apelo às drogas, da falta de PERSPECTIVAS� PROlSSIONAIS� DE� REALIZA- ção pessoal ainda representa um desa- lO�PARA�O�%STADO�E�A�SOCIEDADE��3ENDO� uma fase essencial para o futuro, com forte impacto na sociedade e em sua produção, é preciso conseguir mais do que promover a punição de infrações e, também, apoiar os pais através de pro- gramas que possam orientar os jovens e prevenir desvios de conduta, espe- cialmente nas comunidades mais ca- rentes, que contam com menos opções Quando a pessoa tem uma habilidade, naturalmente ela se sente bem ao utilizar o dom, seja na escrita, na música ou no domínio da matemática 16 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br DE� SUPORTE��-EDIDAS� DE� INCENTIVO� PRO- lSSIONALIZANTE� PODEM� AJUDAR� A� OCUPAR� o tempo e a energia dos adolescentes, para que invistam em retorno concreto, tão necessário a essa fase que se perde em devaneios com facilidade. Educa- ¥ÎO��SAÞDE��ESPORTE��CULTURA��ARTE�E�LAZER� devem estar mais ao alcance dos jovens nas políticas públicas, apesar das re- conhecidas conquistas. A visibilidade que governantes precisam ter sobre a adolescência é de conhecimentos que tragam respostas aos problemas, com caminhos mais seguros para lidar com ELES�E��PARA�ISSO��PROlSSIONAIS�PESQUISA-dores deveriam ser reunidos e ouvidos, para que os projetos sejam debatidos e acertados, buscando os aspectos que ainda estão invisíveis, que são as expec- tativas dos adolescentes e suas possibili- dades de contribuir com a sociedade: “A SOCIEDADE�PRECISA�SE�DISPOR�A�FAZER�MAIS� do que críticas, ajudando a construir o FUTURO�DOS�NOSSOS�JOVENSv��Adolescência – as Contradições da Idade � DENTRE OS INÚMEROS DESAFIOS PARA O EDUCADOR DO SÉCULO XXI, CONVERSAR COM OS ALUNOS SOBRE SEXUALIDADE E GÊ- NEROS SERIA UM DOS MAIORES? LUIZA: .ÎO� DEVERIA� SER� UM� PROBLEMA� conversar com alunos sobre sexuali- DADE�E�GÐNEROS��!�DIlCULDADE�ESTÉ�EM� conversar. O educador do século XXI acumulou inúmeras funções, confor- me se entende cada aluno como um ser especial em desenvolvimento, e seu papel presume muito mais do que re- PASSAR�INFORMA¥ÜES��QUE��AlNAL��PODEM� ser obtidas por diversos meios. Os pais, parceiros mais do que interessados em compartilhar dessas tarefas, nem sem- pre são alcançáveis. Acho que o mais difícil é ouvir esses alunos, que acumu- lam conhecimentos de fontes duvidá- veis, e responder conforme as dúvidas, permitindo a chance de se colocarem no lugar do outro para aceitar cada um, mas, principalmente, visando autoes- TIMA�� VALORIZANDO� AS� PRØPRIAS� CARAC- terísticas e sonhos, que, dessa forma, POSICIONAM SE�ACIMA�DE�BULLYING��4AM- bém é difícil para o adolescente lidar com seus fracassos pessoais, que acon- tecem nas relações diárias e advêm da DIlCULDADE�PARA�AGIR�EM�CONFORMIDADE� com seus valores, lembrando que, nessa fase, os grupos se formam e o desejo de SER� ACEITO� FAZ� O� JOVEM� PASSAR� ATÏ� POR� cima de si mesmo ou se isolar. OUTRA QUESTÃO FUNDAMENTAL SERIA A RELAÇÃO DO ADOLESCENTE COM A VIO- LÊNCIA, EXTRAPOLANDO PARA CONFLI- TOS NA ESCOLA. COMO LIDAR COM ESSE PROBLEMA? LUIZA: O estresse está presente na vida diária e as exigências, frequentemente, superam as possibilidades de o jovem CORRESPONDER��O�ADOLESCENTE�PODE�ABRIR� mão de encontrar com a pessoa que FAZ� SEU� CORA¥ÎO� BATER�MAIS� FORTE��MAS� NÎO�TERÉ�GARANTIAS�DE�UMA�BOA�CLASSIl- CA¥ÎO�NUMA�PROVA ��¡�UM�MOMENTO�DE� desenvolvimento em que os amigos do grupo parecem ser aqueles que podem compreendê-lo, o que nem sempre se CONCRETIZA��3ÎO�FATOS�QUE�TORNAM�A�ADO- lescência uma fase complicada, exter- namente, enquanto, internamente, as mudanças não obedecem o seu coman- do e se evidenciam nas espinhas do rosto, no corpo que muda, nos pensa- mentos que ganham o espaço. Sentir- -se confuso, sem saber como conciliar desejos e práticas, aumenta o descom- PASSO� DE� UMA� FASE� CARACTERIZADA� POR� uma montanha-russa de emoções, que incluem também a agressividade. De repente, para aquele jovem grande, de CORPO�� E� AINDA� IMATURO� NAS� A¥ÜES� FAZ� Para iniciar a reabilitação cognitiva é recomendável conhecer o problema. Começa aí uma controvérsia, porque ainda se insiste em tentar de “tudo” antes de buscar ajuda interdisciplinar ou especializada para avaliar a queixa Na fase da adolescência, é comum a formação de grupos, pois a necessidade de ser aceito faz o jovem passar até por cima de si mesmo ou se isolar IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 17 falta um direcionamento, ao seu lado, ACOMPANHANDO� SEU� FAZER�� SEU� QUERER� e ajudando-o a se posicionar com su- cesso, lidando com a inteligência emo- cional, que se divorcia do adolescente nessa fase tão inexplorada. A violência SE�FAZ�Ì�NOSSA�VOLTA�E�SE�LIGA�A�UM�COM- portamento social que precisa ser com- preendido, porque ela exclui indivíduos da possibilidade de convívio. A escola TEM�A�CHANCE�DE�ACOLHER�OS�CONmITOS�E� buscar resoluções com a família, com a 0SICOLOGIA�OU�COM�OS�PROlSSIONAIS�QUE� forem indicados para a resolução do problema, na prevenção, antes que ele aconteça. Ignorar a situação é empur- rá-la para um agravamento, por isso, no livro Violência e Educação – a Socie- dade Criando Alternativas, procuramos ouvir especialistas, que nos mostram que o futuro se constrói agora. EXISTE UMA AFIRMAÇÃO DE QUE O ADO- LESCENTE DORME DEMAIS, SENTE MAIS SONO. HÁ UMA ASSOCIAÇÃO ENTRE SIN- TOMATOLOGIA DEPRESSIVA E DISTÚRBIOS DO SONO NESSA FAIXA ETÁRIA? LUIZA: .ÎO� NECESSARIAMENTE�� ¡� UMA� fase de intenso gasto de energias, e a reposição ocorre justamente através do sono, tema que considero da maior importância e que não recebe a aten- ção correspondente aos danos que sua falta provoca e poderiam ser evitados �ORGANIZEI� DOIS� LIVROS� SOBRE� O� ASSUNTO� e tive como coorientador de doutorado O� PROF�� DR�� 2UBENS�2EIMÎO�� DO�'RUPO� DE�0ESQUISA�!VAN¥ADA�EM�-EDICINA�DO� 3ONO��DO�QUAL�FA¥O�PARTE ��!S�ALTERA¥ÜES� HORMONAIS�NA�ADOLESCÐNCIA�INmUENCIAM� AS�MUDAN¥AS��!�MELATONINA�PRODUZIDA� pela glândula pineal e altamente envol- vida no ciclo do sono passa a ter seu pico de excreção mais tarde, atrasando a sensação de sono nos jovens. Sua pro- dução também é afetada com a exposi- ¥ÎO�Ì�LUZ��O�QUE�ACONTECE��POR�EXEMPLO�� no uso de aparelhos eletrônicos antes de dormir, o que é quase uma norma. !O�LADO�DA�MUDAN¥A�lSIOLØGICA��APARE- cem as mudanças sociais, assim como O processo de reabilitação dependerá da necessidade, mas se volta para atender as causas e reverter os resultados; pode fortalecer os fatores que compensam as áreas comprometidas ou auxiliar no uso de recursos que permitam adaptação satisfatória a carga de exigências escolares, que contribuem para que o adolescente durma mais tarde, alterando o padrão do ciclo vigília-sono. O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e acordar mais tarde, sen- do que na maior parte da manhã seu cérebro não está em estado de vigília. A duração do sono noturno desem- penha papel importante na saúde dos ADOLESCENTES��TEM�IMPACTO�SIGNIlCATIVO� em seu bem-estar físico e psicológico e está associada a problemas compor- tamentais e neurocognitivos. Estudos têm sugerido que os adolescentes pre- cisam de nove a nove horas e meia de sono por noite e, quando isso não ocor- re, eles podem apresentar maior sono- LÐNCIA� DIURNA�� DIlCULDADES� DE� ATEN¥ÎO� e de concentração, baixo desempenho ESCOLAR�� ALÏM�DE� mUTUA¥ÜES� DO�HUMOR�� É importante pensar em práticas ade- quadas de atividades físicas regulares, redução do tempo de ociosidade em frente ao computador e à televisão e, ainda, um tempo para acompanhar as situações que lhe provocam ansiedade – tudo isso ajuda a promover uma roti- na no período noturno para que o sono seja satisfatório. Da mesma forma, ape- NAS�RECLAMAR�DESSE�TRA¥O�lSIOLØGICO�SØ� OS�FAZ�BUSCAR�DISSIMULAR�O�QUE�SENTEM�� causando uma irritação que, mesmo CONTROLADA��NÎO�TRAZ�OS�OBJETIVOS�DESE- jados, que devem ser enunciados junto COM�OS�JOVENS��%M�-"!�EM�'ESTÎO�DE� 0ESSOAS� PODE SE� CONlRMAR�� HOJE�� LIDE- rança não é a capacidade de falar mais ALTO��3AIR�DO�CONTROLE�SØ�CONDUZ�AO�ES- tresse, doença que se espalha facilmen- te. Por isso, se tiver dúvidas, procure um especialista. O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e acordar mais tarde, sendo que na maior parte da manhã seu cérebro não está em estado de vigília 18 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopositiva por Lilian Graziano O trabalho nos desafia e, ao fazê-lo, nos torna seres humanos melhores. Dessa forma, vale dizer que uma outra implica- ção da pergunta inicial seria a existência de uma conexão entre a felicidade e aqui- lo quefazemos de nossas vidas, o que faz todo sentido, uma vez que somos o exato produto de nossas escolhas. O questionamento sobre a existên- cia ou não de profissões mais felizes logia anacrônica que insiste em discutir a mais valia. É sempre bom lembrar que, apesar de também poder ser utilizado como forma de exploração, o trabalho é, antes de tudo, uma forma de autorreali- zação. Além disso, às demandas geradas pelo mundo do trabalho devemos boa parte de nossas conquistas pessoais, tais como a disciplina, a responsabilidade, o convívio com o outro, a tolerância etc. VISTO POR MUITOS COMO FONTE DE SOFRIMENTO, O TRABALHO POSSUI ESTREITA LIGAÇÃO COM A FELICIDADE. EXISTIRIAM, ENTÃO, PROFISSÕES MAIS “FELIZES”? D ia desses me dirigiram uma pergunta interessante: Exis- tem profissões mais felizes que outras? Podemos analisar essa pergunta de várias maneiras. Come- cemos (é claro) pela mais otimista. Tal questão estabelece o pressuposto de que felicidade e trabalho sejam conciliáveis, o que por si só representa para mim um alí- vio, acostumada que estou a uma Psico- O que você vai ser quando CRESCER? www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 19 Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. graziano@psicologiapositiva.com.br IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K/ A CE RV O PE SS OA L demonstra também um crescente inte- resse das pessoas pelo tema da satisfação no trabalho, o que parece corroborar a afirmação de Seligman de que nossa economia estaria mudando rapidamente “de uma economia de dinheiro para uma economia de satisfação”. O problema ocorre quando a opção pela satisfação entra em choque com a concepção vi- gente acerca do sucesso. Reféns de uma educação voltada para o “ter”, crescemos acreditando no sucesso como prosperi- dade financeira e, fundamentados por essa crença, muitas vezes nos perdemos na trajetória de nossas carreiras. Nesse sentido, ao discutir o sucesso, o psicólo- go Viktor Frankl parece bastante atual. Diz ele: “O sucesso, assim como a felici- dade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer natural- mente, e o mesmo ocorre com o suces- so; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que a sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão a longo prazo – estou dizendo: a longo prazo! – o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele”. É aí então que chegamos ao que cha- mo de premissa equivocada da pergunta inicial sobre a possibilidade da existência É SEMPRE BOM LEMBRAR QUE, APESAR DE TAMBÉM PODER SER UTILIZADO COMO FORMA DE EXPLORAÇÃO, O TRABALHO É, ANTES DE TUDO, UMA FORMA DE AUTORREALIZAÇÃO de profissões mais felizes, que é a de que a felicidade estaria em algo externo ao próprio indivíduo, tal como uma profis- são que seria mais ou menos feliz per se. Talvez nesse ponto devamos substi- tuir a clássica pergunta “o que você vai ser quando crescer?” por algo do tipo “como você vai ser quando crescer”? Isso porque, ao questionarmos nossos filhos sobre o que deverão ser, talvez estejamos lhes ensinando, equivocada e subliminarmente, que existem profis- sões melhores do que outras e nos fe- chando para o fato de que uma pessoa pode atingir o verdadeiro sucesso (leia- -se felicidade) por meio de uma dezena de profissões diferentes, desde que por meio delas encontre meios de expressar o seu melhor, deixando no mundo a sua marca individual como ser humano. Vale lembrar também que, com o au- mento da expectativa de vida, costuma- -se falar hoje sobre múltiplas carreiras. Portanto, como você vai ser quando crescer? Quando partir para a segun- da, terceira ou mesmo quarta carreira? Lembre-se de que se hoje para nós a medida do sucesso parece vir de uma comparação constante entre o nosso modelo de iphone ou de carro com o do nosso vizinho, acreditar na felicidade no trabalho como resultado da maneira com que nos relacionamos com ele tal- vez nos faça enxergar que, como dizia Hemingway, “não há nobreza em ser superior ao próximo. Nobreza é ser su- perior ao que você já foi”. NAS BANCAS! www.escala.com.br 20 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br psicopedagogia por Maria Irene Maluf A EPILEPSIA é um problema biológico A ESCOLA, RESPONSÁVEL PELA FORMAÇÃO DO CIDADÃO, PRECISA FAZER PARTE DAS INTERVENÇÕES, QUER NO ASPECTO PEDAGÓGICO OU NO SOCIOEMOCIONAL DAS CRIANÇAS QUE TÊM A DOENÇA D e origem grega, a palavra epilambanei (“surpresa”) é uma condição biológica, que revela um desequilíbrio neu- rológico manifestado frequentemente na forma de crises convulsivas inespe- radas e recorrentes, com grau variável de intensidade e duração. através de exames específ icos, e que a intervenção, medicamentosa ou cirúrgica, ofereça à grande maioria dos epilépticos uma condição de vida normal, alguns fatores decorrentes podem trazer prejuízos a sua vida escolar, mesmo se sabendo que não há comprometimento cognitivo asso- A convulsão é apenas um dos sinto- mas da doença, a qual traduz a existên- cia ocasional de uma descarga excessiva e desordenada do tecido nervoso sobre os músculos do organismo. Não é con- tagiosa e pode surgir em qualquer idade. Ainda que a conf irmação des- se diagnóstico seja da área médica, www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 21 Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. irenemaluf@uol.com.br IM AG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K/ A RQ UI VO P ES SO AL ciado ao quadro, até pelo contrário: a maioria dos epilépticos tem funcio- namento normal e acima da média (Mattos, Duchesne, 1994). A epilepsia é comum a cerca de 2% de nossa população, especialmen- te na infância, já que nos primeiros anos de vida há mais vulnerabilida- de para infecções do sistema nervo- so central, e acidentes ocorrem com certa frequência. As crises epilépticas podem ser de diversos tipos, confor- me as áreas do cérebro afetadas. Há crises parciais, outras generalizadas, assim como há as chamadas crises de ausência, em que não há uma evidên- cia motora. Os sintomas da epilepsia variam de acordo com os neurônios que estão em estado de hiperexcita- ção, e em decorrência podem surgir confusão temporária, ausência, mo- vimentos musculares descoordena- dos e completa perda da consciência. Quando as crises ocorrem apenas em parte do cérebro, elas são chamadas de crises convulsivas parciais, mas quando a hiperexcitação neuronal não se atém apenas a uma determi- nada região cerebral, ocorrem crises convulsivas generalizadas. Relatos e registros têm mostrado que nem todo professor está apare- lhado para agir no caso de um aluno ter uma crise convulsiva e, decorren- te a esse fato, as crianças, os cole- gas de classe também não têm esse conhecimento e se assustam, pois não fazem ideia do que ocorrecom o amigo em crise. Por isso, o impacto geral é na maioria das vezes marcante para quem assiste a uma convulsão, já que a ideia de morte, aliada aos mitos que envolvem a epilepsia, ainda é grande na atualidade. Pode ser mesmo uma cena impactante se a crise for inten- sa e a pessoa se machucar na queda. Embora quem tem o ataque epilépti- co não padeça de dor f ísica, pode se machucar ao se debater contra uma superf ície rígida, pontiaguda. Mas pior é o mal-estar do ponto de vista pessoal e social: epilépticos em geral relatam vergonha dos co- legas, sentem-se vulneráveis a ter outras crises e serem objeto de pena e discriminação. Tornam-se crian- ças e jovens menos sociáveis, pois a sua condição repercute no aspec- to psicossocial, de relacionamento com meio ambiente, tanto na famí- lia como na escola e, mais tarde, na vida prof issional. A família toda precisa de orien- tação e frequentemente essa advém da escola: muitos pais tornam-se su- perprotetores, ansiosos, permissivos e há um importante estresse familiar permeando, o que aumenta o senti- mento de inadequação, dependência, imaturidade do epiléptico. Além dis- so, nesse contato do professor com a família, informações sobre diag- nóstico, medicação e características especiais desse aluno trarão maiores recursos aos prof issionais, criando ainda condições de esclarecimento de base científ ica sobre o que é uma convulsão, o que é a epilepsia e afas- tar tabus que rondam a doença. Por essa razão, é de extrema importância RELATOS E REGISTROS TÊM MOSTRADO QUE NEM TODO PROFESSOR ESTÁ APARELHADO PARA AGIR NO CASO DE UM ALUNO TER UMA CRISE CONVULSIVA NA SALA DE AULA que os professores saibam o que fazer antes, durante e após a crise. Conhecimentos científ icos especí- f icos sobre o assunto estão em bons sites na internet, em boas revistas e em livros de autores experientes, além de cursos de primeiros socorros que são indispensáveis para quem tem sob sua responsabilidade muitas crianças e adolescentes diariamente. Sabe-se que mesmo entre os alu- nos medicados e que não apresentam crises convulsivas típicas na escola, devido ao efeito de algumas dessas medicações e a algumas interrupções na frequência às aulas, podem apare- cer prejuízos no processo de apren- dizagem devido a uma relativa baixa atentiva, e de memória, um rebaixa- mento na velocidade de processamen- to, no desenvolvimento das funções da linguagem, no perceptivo motor e no aprendizado do cálculo (Mattos; Duchesne, 1994). Se houver surgimento de uma eventual dif iculdade de aprendizado ligada à epilepsia, certamente será complicada por fatores de ordem socioemocionais e de ensino-apren- dizagem, referente à maneira como a escola desenvolve a inclusão da criança no grupo. É importante não apenas lembrar que incentivar a criança a elaborar es- tratégias de aprendizagem adequadas ao seu perf il de aprendiz lhe oferece oportunidade de desenvolver suas ha- bilidades cognitivas e ter sucesso na escola, autoconf iança e motivação. Mas também é preciso estar atento ao fato de que alunos com dif iculdades escolares de toda ordem precisam de retorno e reforço mais constante, para que modif iquem sua conduta no senti- do da superação. 22 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE 12 3R F NEUROPLASTICIDADE www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 23 Marineide Almeida Fernandes é psicóloga, terapeuta de casais e família, terapeuta EMDR, master coach, practitioner em PNL e hipnoterapeuta e ativista quântica. Site: marineidealmeida.com.br | Fanpage: facebook.com/PsiMarineideAlmeida | Instagram: @PsiMarineideAlmeida (���������G��!������(���G�\��\ �I��IG� ��������G9����������������G���G������G���Ë���I�:� Site: drmiltonmoura.com | Canal no Youtube: youtube.com/DrMiltonMoura | Fanpage: facebook.com/AtivismoQuantico | Instagram: @DrMiltonMoura-AtivismoQuantico Por Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura Avanços tecnológicos proporcionam entender melhor o funcionamento da mente, especialmente em pesquisas realizadas pela neurociência que mostram que o cérebro não diferencia realidade da imaginação Processos de SINAPSES IGUAIS PPPPPPPPPPPPooooooooooorrrrrrrrrrrrrr MMMMMMMMMMMMMMMMaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrriiiiiiinnnnnnnnnnnnnneeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddeeeeeeeeeeeeee AAAAAAAAAAAAAAAAllllllllllmmmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiiddddddddddddddaaaaaaaaaaaaa FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnndddddddddddddeeeeeeeeeeeeeessssssssssssss eeeeeeeeeeeeee MMMMMMMMMMMMMMMiiiiiiiiiilllllllllttttttttttttttooooooooooonnnnnnnnnnnnnn CCCCCCCCCCCeeeeeeeeeeeeeessssssssssssaaaaaaaaaaaaarrrrrrrrrrrrrr FFFFFFFFFFFFFeeeeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrrrrllllllllllliiiiiiiinnnnnnnnnnnnnn MMMMMMMMMMMMMMMMooooooooooouuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaPor Marineide Almeida Fernandes e Milton Cesar Ferlin Moura AAAAAAAAAAAAvvvvvvvvvvvaaaaaaaaaannnnnnnnnnççççççççççoooooooosssssssss ttttttttttteeeeeeeeeeeccccccccccnnnnnnnnnnoooooooolllllllóóóóóóóóóógggggggggggggiiiiiiiccccccccoooooooosssssssss ppppppppppprrrrrrrrrroooooooopppppppppppoooooooooorrrrrrrrrrrcccccccciiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaaammmmmmmmmmm eeeeeeeeeeennnnnnnnnnttttttttttteeeeeeeeeeennnnnnnnnnddddddddddeeeeeeeeeeerrrrrrrrrr mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeellllllllhhhhhhhhhhhoooooooorrrrrrrrrrr oooooooo fffffffffffuuuuuuuuuunnnnnnnnnncccccccciiiiiiioooooooonnnnnnnnnnaaaaaaaaaammmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttoooooooo ddddddddddaaaaaaaaaa mmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee,,,, eeeeeeeeeeessssssssspppppppppppeeeeeeeeeeeccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaallllllllmmmmmmmmmmmeeeeeeeeeeennnnnnnnnntttttttttttteeeeeeeeeee eeeeeeeeeeemmmmmmmmmm pppppppppppeeeeeeeeeeesssssssssqqqqqqqqqquuuuuuuuuuiiiiiiisssssssssaaaaaaaaaasssssssss rrrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaalllllllliiiiiiizzzzzzzzzzzaaaaaaaaaaaddddddddddaaaaaaaaaaasssssssss pppppppppppeeeeeeeeeeelllllllaaaaaaaaaaa nnnnnnnnnneeeeeeeeeeeuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrooooooooccccccccciiiiiiiêêêêêêêêêêênnnnnnnnnnccccccccciiiiiiaaaaaaaaaaa qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee mmmmmmmmmmmoooooooossssssssstttttttttttrrrrrrrrrrraaaaaaaaaammmmmmmmmmm qqqqqqqqqquuuuuuuuuueeeeeeeeeee oooooooo ccccccccééééééééééérrrrrrrrrrreeeeeeeeeeebbbbbbbbbbbrrrrrrrrrrroooooooo nnnnnnnnnnããããããããããoooooooooo ddddddddddiiiiiiiiffffffffffffeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrreeeeeeeeeeennnnnnnnnnnccccccccciiiiiiiaaaaaaaaaaa rrrrrrrrrreeeeeeeeeeeaaaaaaaaaallllllliiiiiiiiddddddddddaaaaaaaaaaddddddddddeeeeeeeeeee ddddddddddaaaaaaaaaa iiiiimmmmmmmmmmmaaaaaaaaaagggggggggggggiiiiiinnnnnnnnnnaaaaaaaaaaçççççççççççãããããããããããoooooooooo Avanços tecnológicos proporcionam entender melhor o funcionamento da mente, especialmente em pesquisas realizadas pela neurociência que mostram que o cérebro não diferencia realidade da imaginação Processos de SINAPSES IGUAIS 24 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE Em cada percepção surgem, simultaneamente, o sujeito que observa e o objeto que é observado. Como isso acontece? Como ocorre essa separação entre o sujeito e o objeto? Por meio da chamada cisão sujeito/objeto da observação Em algum momento al-guém já pensou sobre o fenômeno da percep-ção? Como se perce-bem as coisas ao redor e no mundo externo? Todos temos um aparato de percepção: o cére- bro. Ele é o responsável por colocar o ser humano em contato com tudo o que existe. É praticamente impos- sível não se impressionar quando se pensa na compreensão do fenô- meno da percepção. A cada obser- vação, o cérebro grava o ambiente externo e cria uma representação interna. Um processo complexo e ainda pouco compreendido emsua totalidade pela neurociência. Em cada percepção surgem, si- multaneamente, o sujeito que ob- qual a mente e o cérebro interagem: realidade e imaginação. A mente pode mudar o cérebro? Essa é uma questão que sempre esteve pre- sente em várias discussões. Quem causa quem? O cérebro, através dos seus processos internos de funcio- namento dos neurônios, produz a mente? A mente pode causar algu- ma mudança na estrutura física do cérebro? São questões importantes e merecem ser respondidas. Essas respostas permitirão uma expansão da própria consciência. Consciência e cérebro guardam uma íntima (inter)relação, o pro- blema é acreditar que a consciên- cia surge devido ao funcionamento do cérebro. Desde muito tempo, William James – um dos fundado- res da Psicologia moderna – já pen- sava nessa interação. Ele realizou experimentos pessoais com o óxido nítrico, ou gás hilariante, com o qual sentia a consciência se libertar do corpo. Isso o levou a questionar publicamente, em 1898, se o cére- bro de fato produzia a consciência. Hoje, com a utilização do mape- amento cerebral, é possível estudar o cérebro de forma dinâmica (es- tudar o cérebro vivo), o que trouxe uma importante consequência para as pesquisas da consciência. O cé- rebro não consegue diferenciar rea- lidade de imaginação. Os processos de sinapses utilizados pelo cérebro durante a percepção de um objeto separado e externo são os mesmos usados durante a imaginação desse mesmo objeto, agora na percepção interna e particular. Isso começa a proporcionar um embasamento científ ico para todas as terapias que lidam com o campo sutil, sejam elas oficializadas por órgãos competen- tes ou não. O fato de um grupo de pessoas apenas imaginar que está apren- dendo determinada habilidade, comparado com outro grupo que IMAG EN S: 1 23 RF E S HU TT ER ST OC K serva e o objeto que é observado. Como isso acontece? Como ocorre essa separação entre o sujeito e o objeto? Por meio da chamada ci- são sujeito/objeto da observação. Como surge o sujeito que observa? Existe a mais pura nitidez dessa se- paração: a observação é capaz de produzir o “Eu” que percebe, que dá signif icado, que cria a realida- de. Percepção e realidade guardam uma íntima correlação. E a imagi- nação? Quando se fecham os olhos, o que acontece com o cérebro? Os avanços tecnológicos de in- vestigação do cérebro permitiram uma expansão na compreensão de seu funcionamento. Avançou-se muito com os estudos proporciona- dos pela neurociência no campo no O cérebro coloca o ser humano em contato com tudo o que existe, ou seja, a cada observação, o cérebro grava o ambiente externo e cria uma representação interna www.portalcienciaevida.com.br psique ciência&vida 25 A mente pode mudar o cérebro? Essa é uma questão que sempre esteve presente. O cérebro, através dos seus processos internos de funcionamento dos neurônios, produz a mente? A mente pode causar alguma mudança na estrutura física do cérebro? HO UG HT ON L IB RA RY A T HA RV AR D UN IV ER SI TY /W IK IP ED IA realmente está treinando mecani- camente essa habilidade, não mos- trou nenhuma diferença signif i- cativa entre ambos. Esse conceito fez despertar e emergir o conceito da neuroplasticidade: a capacidade que todos têm de criar novos cir- cuitos cerebrais para expressar no- vas habilidades de nossa consciên- cia. Ou seja, estimular a formação de novas sinapses em um processo denominado sinaptogênese, que é feito a cada momento diante das inúmeras percepções que são cap- tadas do mundo exterior. As novas sinapses determinam novas redes neurais que, por sua vez, formarão novas memórias. Pesquisa realizada pelo médi- co espanhol Alvaro Pascual-Leone observou esses aspectos, um expe- rimento elegante e elogiado pelos cientistas que estudam o fenôme- no da neuroplasticidade. Com o aperfeiçoamento dos equipamentos de mapeamento cerebral, Pascu- al-Leone conseguiu levar adiante os trabalhos de Ramón y Cajal, médico e histologista espanhol, considerado o “pai da neurociência moderna”. A imaginação pode mudar a anatomia cerebral? Os detalhes do experimento sobre a imaginação foram simples e realizados com pessoas que nunca tinham estuda- do piano. Foi ensinado a um grupo uma sequência de notas, mostran- do-lhes quais dedos mexer e dei- xando que ouvissem as notas à me- dida que fossem tocadas. Ou seja, esse grupo estava sentado ao piano e fazendo os exercícios físicos. Um outro grupo, chamado grupo do exercício mental, iria apenas imagi- nar a mesma sequência de notas por duas horas por dia, durante cinco dias. Os grupos tiveram o cérebro mapeado antes, durante e depois do experimento. Ambos os grupos fo- ram solicitados a tocar a sequência aprendida e treinada enquanto um computador media a precisão de sua performance. Pascual-Leone concluiu que ambos os grupos mostraram mu- danças semelhantes no mapa cere- bral. O grupo do exercício mental produziu uma mudança física no sistema motor semelhante ao gru- po que executou o exercício físi- co. Ao f inal do quinto dia, as mu- danças para os músculos eram as mesmas nos dois grupos. Durante o processo de imaginação, é pos- sível promover mudanças físicas no cérebro, demonstrando que o exercício mental provoca tais mu- danças cerebrais. Isso traz à tona Um dos criadores da Psicologia moderna, William James sempre acreditou que a consciência e o cérebro têm uma íntima relação de interatividade TECNOLOGIA É UTILIZADA PARA ATIVAR NEURÔNIOS PARA SABER MAIS Um aparelho chamado Transcranial Magnetic Stimulation (TMS) foi utilizado pela primeira vez na Faculdade de Medicina de Harvard. Trata- se de um dispositivo que emite uma estimulação magnética transcraniana capaz de impulsionar os neurônios. Pascual-Leone é o pioneiro no uso da TMS para ativar neurônios. Ele estudou como os pensamentos alteram o cérebro utilizando a TMS para observar mudanças nos mapas dos dedos de pessoas que aprendem a tocar piano. Podemos mudar nossa anatomia cerebral simplesmente usando a imaginação. Dois grupos de estudos foram formados, um sentado diante de um piano e executando uma sequência de notas com dedos específicos. Outro grupo imaginaria tocar a mesma sequência de notas sem estar diante do piano. Após algumas semanas de treinos e submetidos ao mapeamento cerebral através do TMS, observou- se que no grupo do exercício mental o nível alcançado em performance era igual ao nível atingido pelo grupo do exercício físico. O cérebro não separa realidade de imaginação! 26 psique ciência&vida www.portalcienciaevida.com.br NEUROPLASTICIDADE novamente que a consciência não pode ser o resultado do funciona- mento dos neurônios. Pelo contrá- rio, a consciência deve exercer um papel causal. Mundo quântico Será que o pensamento e o mundo quântico têm alguma relação? Em 1988, Amit Goswami – profes- sor PhD de Física Quântica Teórica da Universidade de Oregon, nos Es- tados Unidos – afirmou que sim. Le- vou um bom tempo para se perceber a mensagem da Física Quântica: a matéria, assim como qualquer forma de energia, comporta-se como on- das de possibilidades, em potentia. A Física Quântica traz para a fórmula da realidade o papel do observador até então afastado e separado. A ex- periência da fenda dupla, idealizada por Tomaz Young – físico, médico e egiptólogo britânico, conhecido pela experiência que possibilitou a determinação do caráter ondula- tório da luz –, sintetiza muito bem essa mensagem. O fenômeno da ob- Quando se entra em contato com o mundo externo, tornando- -o real, ocorre na percepção a cisão sujeito/objeto, ou seja, percebe-se
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