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Um estudo focado em jacarés

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Um estudo focado em jacarés: revisão de literatura
Adriano de Almeida Lino
Caio de Souza Capuzzo
Cleiton Ramos Martins
Denis William Johansem de Campos
Thiago José Mateus de Lima
Ilha Solteira - SP
2014
Revisão de literatura apresentado a Disciplina de Metodologia Cientifica e Tecnológica da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” como parte da exigência para obter uma nota significativa.
Ilha Solteira – SP
2014
Sumário
1.Objetivo.........................................................
2.Introdução......................................................
3. Manejo de jacarés e seus sistemas................
4.Sistema reprodutivo dos jacarés....................
 4.1Habitat na fecundidade.............................
5.Fisiologia dos jacarés...................................
6.Dieta e Nutrição...............................................
 6.1. Uso de descarte de origem animal na nutrição de jacarés..............................................
7. Abate humanitário...........................................
8. Aproveitamento das vísceras de jacaré.............
9.Considerações finais
10.Referências bibliográficas.................................
Resumo
O entendimento da biodiversidade é uma questão que deve ser levada a seria para termos maior compreensão do planeta onde vivemos. O estudo de jacarés em geral apresenta muita pouca informação na literatura, sendo assim, é de grande embasamento termos idéia de como manejar e atuar na criação e reprodução desses animais, que muitas vezes são considerados um símbolo da rica fauna que o Brasil apresenta. O trabalho tem como propósito demonstrar e informatizar futuras tendências na preservação e criação da espécie, segundo as literaturas encontradas pelo Brasil e o mundo.
Palavras-chave: Biodiversidade, literatura, manejar, tendências.
Introdução
Nossos ancestrais têm explorado a fauna silvestre desde antes de assumirem a si próprios como seres humanos, em desenhos rupestres nas cavernas em que habitavam. A rigor, a fauna silvestre era explorada antes mesmo de passarem a colher e armazenar os grãos de algumas gramíneas, num processo que passamos a chamar de agricultura (Broderick 1972, Martin 1972).
Apesar da cultura brasileira ser bastante liberal em relação a vários de seus usos e costumes, a legislação brasileira que normaliza o uso da fauna silvestre pode ser considerada extremamente conservadora se comparada a países como os Estados Unidos e a Venezuela. Neles, uma maior flexibilização permite que algumas espécies mais abundantes e produtivas sejam exploradas de forma extensiva, a baixo custo, gerando renda localmente e assim propiciando a conservação de sua biodiversidade através da valoração de seus ambientes naturais (Joanen e McNease 1987, Thorbjarnarson & Velasco 1999).
Dentre todos os animais silvestres o estudo com jacarés em geral pode apresentar ganhos favoráveis para a sociedade, visto que, sua produção pode gerar lucro perante produtos provenientes dos jacarés, a citar o couro e a carne e até mesmo geração de empregos para o manejo desses animais para criação.
Manejo de jacarés e seus sistemas
O primeiro passo para um manejo efetivo da fauna brasileira seria a modificação da lei da fauna para permitir a forma de manejo mais apropriada para cada região, inclusive a comercialização de produtos oriundos da vida silvestre, onde apropriado. Isto feito, seria possível partir para a segunda fase, que é de criar a infraestrutura administrativa e acadêmica necessária para o manejo.
A categoria profissional que possivelmente melhor se adeque a esse trabalho local é a de “wildlife biologist”, existente nos EUA. Sua formação profissional atende a especificidades regionais e mesmo institucionais. No Brasil, o primeiro curso de ciências biológicas que reconhece formalmente tal perfil é o curso recém criado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, em Piracicaba (Universidade de São Paulo 2001).
Não há no País uma estrutura de gerenciamento da vida silvestre como o Wildlife Service norte-americano. No entanto, as antigas “Casas da Lavoura” ou “Casas da Agricultura” são as únicas que possivelmente alcançam a maciça maioria dos municípios brasileiros, envolvendo agrônomos e veterinários (Camargo 1968). A inclusão de biólogos (ou especificamente de “biólogos de vida silvestre”, em analogia aos wildlife biologists americanos) nessa estrutura, com um mínimo de apoio logístico complementar ao já existente, poderia introduzir no Brasil um serviço efetivo de extensão rural que chegasse de fato ao manejo e conservação da vida silvestre que, na prática, salvo exceções, não é alcançado pelo IBAMA.
Na Tabela 1 pode-se observar a relação existente entre abundância, valor econômico, custo da exploração, produtividade alcançada, área necessária e valor conservacionista do sistema de exploração (VERDADE, L. M., 2004). Quanto mais extensivo for um sistema, maior seu valor conservacionista (Ross 1997). Ainda do ponto de vista conservacionista, a propagação em cativeiro para fins de reintrodução só alcança sucesso quando a causa do declínio populacional já tiver sido sanada (Magusson 1984).
Fonte: (VERDADE, 2004) Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/bn/v4n2/a02v4n2.pdf>. Acesso em: 15 maio 2014.
O sistema de harvest baseia-se na retirada de indivíduos de uma população sem que ela entre em declínio. Neste sistema, busca-se o estabelecimento de uma taxa de explotação que seja biologicamente sustentável e economicamente viável, conservadoramente situada abaixo (por uma questão de segurança!) da taxa de máximo rendimento sustentável (Begon & Mortimer 1986, Caughley 1977). Do ponto de vista econômico, este sistema caracterizase pelo investimento apenas na coleta e processamento do “produto” e não em sua produção e reprodução. Seu nível de intensidade é idealmente determinado pelo monitoramento populacional e conseqüente estabelecimento de cotas anuais de explotação, no que recebeu por isso o nome de “manejo adaptativo” (Nyberg 1998).
O sistema de ranching baseia-se na coleta de ovos na natureza e subseqüente “engorda” de filhotes em cativeiro. Analogamente ao sistema anterior, neste buscase idealmente uma taxa de explotação de ovos que seja biologicamente sustentável e economicamente viável, assegurando-se a liberação de uma parte dos filhotes criados em cativeiro à natureza, numa forma bem intencionada de compensação, que tem sido eventualmente questionada entre outras coisas porque aparentemente boa parte dos filhotes é vítima de canibalismo (Chabreck 1997). Do ponto de vista econômico, neste sistema investe-se não apenas na coleta e processamento, mas também em sua produção, deixando apenas a reprodução por conta da natureza.
O sistema de farming, cujo nome provém de fazendas de criação, baseia-se na produção e reprodução de uma espécie em cativeiro, em ciclo fechado, e não apenas na coleta e processamento de seus produtos. Neste sistema, busca-se o controle dos diversos fatores produtivos, como alimentação, sanidade, ambiência e outros, visando a máxima produtividade possível, tendo em vista apenas a relação custo-benefício do sistema.
Na Tabela 2 percebemos alguns exemplos de sistemas empregados no manejo de crocodilianos para fins de conservação e uso econômico.
Fonte: (VERDADE, 2004) Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/bn/v4n2/a02v4n2.pdf>. Acesso em: 15 maio 2014.
Sistema reprodutivo dos jacarés
Ainda de acordo com estes autores, o período reprodutivo dos crocodilianos pode se distribuir ao longo do ano como no jacaré-tinga na Amazônia; em duas épocas distintas, como no crocodilo-do-Nilo em Uganda e no Quênia, em que algumas fêmeas ovipositam em agosto e outras em dezembro; ou por fim em uma determinada época do ano, como nas demais espécies (VERDADE, 1992).
O aligátoramericano, que habita os limites setentrionais da distribuição de todos os crocodilianos, apresenta seu ciclo reprodutivo bem demarcado. Este inicia-se em março, quando a temperatura do ar e da água aumenta, dando início ao desenvolvimento das gônadas por ação hormonal. Em fins de abril e começo de maio ocorre a cópula, com pico de postura em um período de duas semanas, em junho (anos quentes) ou julho (anos frios) Joanen & McNease (1979 e 1989). Há então um rápido declínio dos ovários e testículos nos adultos reprodutores logo após o período de postura (Lance, 1989). A formação da casca dos ovos após a ovulação mobiliza grandes quantidades de cálcio das fêmeas reprodutivas, só retornando ao normal cerca de um a dois meses após a postura (Wink & Elsey, 1986).
Diferente de outras espécies de crocodilos, existe os que constroem um ninho para duas crias, por exemplo, o crocodilo do Nilo (), coloca seus ovos em um simples buraco na terra, usando terra e graveto, o que tudo é uma escavação do material ao nível do cercamento no chão, enquanto o Jacaré Americano () constroem um monte de plantas, limpa para cercar a area, em que ele coloca seus ovos (VERDADE, 1992).
Há evidências que o comportamento territorial de jacarés se expresse na margem do corpo d’água e não necessariamente em seu interior ou distante dele. Com isto, os animais dominantes podem captar calor deixando o dorso fora da água, mantendo a temperatura corpórea constante até 4 ºC acima da temperatura da água. E mais, este é o local onde os animais predominantemente se assoalham.
 Desta forma, é compreensível que fêmeas dominantes e dominadas apresentem diferenças significativas quanto à temperatura corpórea, o que por sua vez, poderia por hipótese afetar seu sucesso reprodutivo.As observações comportamentais confirmaram que no período da manhã normalmente os animais ainda se encontravam no interior do tanque, saindo dele nas horas mais quentes do dia. No período vespertino os animais encontravam-se majoritariamente assoalhando-se na margem gramada, evidenciando-se assim sua capacidade de reter calor acima da temperatura ambiente. Já à noite, adentravam nos tanques com a chegada de temperaturas mais frias. As fêmeas são, geralmente, mais sedentárias que os machos durante todas as estações do ano, mas no caso do cativeiro, um outro detalhe se torna importante, os machos estão locados individualmente nos recintos, não experimentando competição territorial. Desta forma, poderiam assoalhar-se melhor, explicando, por hipótese, o motivo dos indivíduos não diferirem estatisticamente entre eles.
Habitat na fecundidade
No trabalho de Zilca Maria da Silva Campos (2003), foi estudado como o habitat dos jacarés poderia influenciar na fecundidade. Sendo assim, os ninhos de jacarés foram localizados entre janeiro e fevereiro de 1989 e 1990, nas fazendas Nhumirim, área que predomina os lagos, e Campo Dora, área que predomina os rios intermitentes e campos de pastagens. Os ninhos de floresta e vegetação flutuante localizados foram anotados se tinham sido predados ou se estavam intactos. Os ninhos que encontravam em estado bom, foram abertos para tomada dos dados. Os ovos de cada ninho foram contados e medidos. Após as medições, os ovos foram colocados dentro do ninho e recobertos pelo material do ninho. As fêmeas encontradas cuidando com o ninho foram capturadas, medidas (comprimento rostro-cloacal , CRC, cm), pesadas, marcadas com brincos e soltas no local de captura.
Como resultados, observou-se que em 1989, o número total de ninhos foi de 92, sendo 50 ninhos de floresta e 42 ninhos na vegetação flutuante. Em 1990 foram localizados 99, sendo 40 ninhos de floresta e 49 na vegetação flutuante. Entretanto, na fazenda Campo Dora, o número de ninhos reduziu de 32 em 1989 para 20 em 1990. 
As fêmeas desovaram entre dezembro e fevereiro e o pico de desova foi nas duas primeiras semanas de janeiro. As fêmeas reprodutivas na área de rios intermitentes (fazenda Campo Dora) foram maiores do que as fêmeas da área de lagos, na fazenda Nhumirim. O número de ovos postos foi correlacionado com o tamanho das fêmeas reprodutivas, o que resultou em um número menor de ovos por ninho na área de lagos.
A variação da temperatura de incubação foi alta dentro e entre ninhos de floresta e ninhos de vegetação flutuante. A amplitude da temperatura dentro dos ninhos foi de até 5°C. O período crítico de determinação do sexo estendeu-se até os primeiros 40 dias. A temperatura do ninho foi afetada por fatores ambientais. Nos ninhos de floresta, a variação da temperatura foi menor do que os ninhos de vegetação flutuante. A amplitude da temperatura dentro do ninho foi de até 5°C.
Os ninhos incubados em laboratório a baixas temperaturas (< 30°C) produziram fêmeas e os ninhos incubados a temperaturas altas produziram machos. Ninhos de floresta com temperaturas estimadas < 30.5°C geraram 100% fêmeas, entre 30.5 a 31.5°C geraram aproximadamente 10% machos e com temperaturas > 31.5°C geraram de 80 a 100% machos.
Foi concluído que a fecundidade das fêmeas de Caiman crocodilus yacarevaria na área de lagos, são menores do que na área de rios intermitentes e com isso sua fecundidade é menor. As fêmeas nidificam em áreas próximas a água. As chuvas afetam a disponibilidade de habitats de nidificação entre anos. As inundações causadas pelas chuvas no período de incubação dos ovos, matam os embriões de jacarés do Pantanal nos ninhos de vegetação flutuante e na floresta. A perda dos ovos para predadores é alta nos ninhos de floresta, mas a presença e perturbação humana na área do ninho pode acontecer de atrair e facilitar o acesso de predadores para os ninhos.
As temperaturas dos ninhos variam de acordo com a condição do clima, exemplo: chuva e temperatura do ar. A percentagem de machos é influenciada pelo habitat de nidificação, mas o efeito no habitat depende das condições climáticas de cada ano. Nos ninhos de floresta, a temperatura de incubação é mais constante e sofre pouco efeito de fatores externos. Contudo, nos ninhos de vegetação flutuante a temperatura de incubação varia mais com os fatores ambientais, com chuvas e insolação. Isso reflete na razão sexual dos jovens recém-eclodidos a cada estação reprodutiva.
Para um ambiente controlado, a produção de jacarés acima de tudo tem de ser mantida limpa, sem deixar o alimento apodrecer (para não ser contaminada por bactérias e causar infecções e patologias), qualquer fator adverso influencia no crescimento e possivelmente morte dos animais (SANTOS S.A., 1997).
Fisiologia dos jacarés
Os jacarés possuem um mecanismo de troca de dentes denominado tecodontes, assim que ocorre desgastes na coroa. A arcada dentaria em animais adultos e jovens é de 19/19. Na ingestão de alimentos a língua praticamente não tem função, ela é composta por papilas valadas, com ausência de corpúsculos gustativas e sem movimentos (SANTOS S.A., 1997).
O esôfago tem a capacidade de dilatar-se até três vezes o seu tamanho normal, proporcionando passagem de alimentos grandes (SANTOS S.A., 1997).
No estômago é onde ocorre a digestão, sendo que a lâmina própria está repleta de glândulas gástrica, que apresenta a célula oxintopeptica que produz acido clorídrico e pepsinogênio. O alimento acaba sendo exposto ao suco gástrico que permanece no estomago a longos períodos. O bolo alimentar é neutrlizado por ação da secreção das glândulas mucosas (SANTOS S.A., 1997).
O intestino delgado representa cerca de 1,7 vezes o comprimento corporal totas dos diferentes tamanhos dos animais. O ID termina no esfíncter ileocólico que divide do intestino grosso ou o reto (SANTOS S.A., 1997).
O intestino grosso (reto) apresenta duas vezes o diâmetro do intestino delgado, assim nos jacarés adultos medem cerca de 10 cm, onde é separata da cloaca por um esfíncter anal (SANTOS S.A., 1997).
Nos crocodilianos, a produção de ATP pode diminuir com o resfriamento, isso deriva a diminuição do fluxo sanguíneo e absorção dos aminoácidos, limitandoa sintese de proteína corporal. Tal processo no ponto de vista bioquímico, apresenta um efeito de diminuição das taxas de reações enzimáticas, pois elas são proteínas (SANTOS S.A., 1997).
Animais mantidos em temperatura acima de 40º C podem causar danos sérios a saúde relacionadas a problemas cardíacos dos jacarés e abaixo de 21ºC pode apresentar problemas relacionados a artritismo (SANTOS S.A., 1997).
Dieta e Nutrição
A utilização de carboidratos é limitada visto que, a produção de enzimas amilolíticas (com maior período de digestão) é limitada, desfavorecendo a secreção de insulina em resposta ao carboidrato alimentar (SANTOS S.A., 1997).
As proteínas são alimentos naturais que mais são utilizadas na alimentação de jacarés, pois possuem funções de fonte de energia e manutenção corporal (SANTOS S.A., 1997).
Para os lipídios pouco sabe ao teor necessário nutricional para suprir necessidades fisiológicas onde a literatura demonstra poucas informações. Porém concluiu-se que a utilização de ácidos graxos em espécies de sangue frio é superior em comparação aos de sangue quente, que é influenciada por temperatura e salinidade do ambiente (SANTOS S.A., 1997).
No trabalho de Santos et al. (1994) foi estudada a composição química corporal de Caiman yacarede em diversos tamanhos e nutrientes em diferentes compartilhamentos corporais. Foi observado que energia ocorre precisamente nas carcaças e vísceras, proteínas principalmente na carcaça e pele. Houve um aumento de teor de cálcio e fósforo na pele com o passar do crescimento na formação da placa óssea.
Uso de descarte de origem animal na nutrição de jacarés
Principal fator para uma boa criação de jacarés em cativeiro, é o custo da alimentação. Sendo assim, o uso de descartes e subprodutos como fontes de alimento podem ser incorporadas em fazendas de criação de jacarés, assim podendo auxiliar a resolver o problema do custo (Sarkis-Gonçalves, 2002).
No trabalho de Sarkis-Gonçalves, Castro e Verdade (2002), utilizaram 4 tipos de dietas para ganho de peso de jacaré-de-papo-amarelo: peixe, suíno, frango e mista (peixe + suíno + frango) em 16 jacarés, sendo a grande maioria machos. Contudo nesse trabalho de Sarkis-Gonçalves, Castro e Verdade (2002), concluram que os jacarés que foram alimentados com dieta mista apresentaram maior ganho de peso, isso teve como influencia direta o manejo e a temperatura ambiente onde os animais foram submetidos, conforme a tabela 3.
Fonte: Sarkis-Gonçalves F.; Castro A. M. V.; Verdade L.M (2002). Disponível em: Revista Scientia Agricola, v.59, n.2, p.246, abr/jun. 2002.
Abate humanitário
A qualidade dos alimentos tem preocupado cada vez mais os consumidores de países como os da União Européia e os Estados Unidos, obrigando os criadores e abatedores de animais a adotarem normas que garantam o bem estar dos animais. Para que isso ocorra, é necessário que os animais não sofram nenhum tipo de dor ou injúria desnecessária e nem estresse por períodos prolongados durante a sua criação e abate.A fim de atender as normas e a demanda do mercado mundial de carnes, sugeriu então o termo “abate humanitário” que foi de definido na Instrução Normativa No. 3 de 17 de Janeiro de 2000 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) como sendo “o conjunto de diretrizes técnicas e científicas que garantam o bem estar dos animais desde a recepção até a operação de sangria”. Ressaltando que em todas as etapas desde o pré-abate até as operações de abate propriamente dita, o animal sofra o menos possível e que sejam feitas dentro das condições humanitárias e éticas (CAMPOS, 2000).
Para a implantação da prática de abate humanitário para os jacarés foi desenvolvida pela Gil Equipamentos e a Embrapa Pantanal, a pistola ZILKA A pistola foi desenvolvida para atender uma solicitação de pesquisa da Embrapa Pantanal a durante a execução do projeto de manejo experimental do jacaré-do-pantanal, Caiman crocodilus yacare, no Pantanal Sul. A pistola causa respostas de sensibilidade nos jacarés com um rápido estado de inconsciência e a incapacidade de respostas a estímulos externos. Essa etapa é fundamental para garantir o abate dentro dos princípios humanitários, uma vez que garantirá a inconsciência dos jacarés até a sangria. A pistola ZILKA também pode ser usada para abate de outros animais criados em cativeiro (ovinos e caprinos) ou animais oriundos de manejo na natureza (HUCHZERMEYER, 2004).
A pistola insensibilizadora, modelo ZILKA, pesa aproximadamente 5 kg e deve ser acoplada a um compressor com capacidade de 15 pés cúbicos por minuto. A pressão do ar faz acionar o penetrador que entra no crânio do animal e instantaneamente causa morte cerebral ou faz com que o animal permaneça insensibilizado. A pistola libera uma carga cinética cientificamente testada para deixar o animal inconsciente, com uma única aplicação. Esse sistema impede o sofrimento do animal e a liberação de toxinas na carne. Após o uso da pistola o animal permanece insensibilizado para em seguida proceder a sangria, seguidas das etapas de esfola, evisceração e preparo da carne e do couro (HUCHZERMEYER, 2004).
Aproveitamento das vísceras de jacaré
No trabalho de Romanelli (2003) foram utilizados seis animais pesando entre 16,50 a 20,90kg, da espécie Caiman crocodilus yacare. O cálculo de rendimentos dos subprodutos não comestíveis, ricos em proteínas, depende de fatores como: peso vivo, teor de gordura, rendimento em carcaça e as diferentes condições experimentais quanto á obtenção e ao cálculo do rendimento desses subprodutos.
Nos estudos realizados, o peso das vísceras, por animal variou de 1,80 a 2,65kg, e correspondeu a aproximadamente 11% do peso vivo corporal, produzindo um rendimento médio em farinha de 18,64%.
Na composição corporal de mamíferos do sexo feminino, existe uma predominância de gordura visceral e somática ao longo dos tecidos, o que é atribuída a função sexual e reprodutora das atividades hormonais (estrogênios). Nas galinhas a quantidade de gordura visceral é próxima de 10 vezes mais que em frangos (SCHNEIDER, 1997).
Isso parece ocorrer em jacaré também, pelo fato de ter obtido valores altos de amplitude de variação e um desvio padrão também alto foram observados nos nutrientes, os quais foram atribuídos ao alto teor de lipídios, das 2 fêmeas que fizeram parte do lote de 6 animais.
Com os resultados obtidos na pesquisa os criadores de jacaré devem adotar o procedimento de abater animais de um único sexo, sendo o macho, assim preservando as fêmeas nos criadouros como matrizes para reprodução. Portanto, isso favorece a obtenção de vísceras com perfil de melhor qualidade nutricional para seu aproveitamento como ingrediente de ração. Portanto de acordo com resultados obtidos, a farinha de vísceras, produzida a partir do jacaré do pantanal, pode ser utilizada como matéria-prima, constituindo ótima fonte de nutrientes para incorporação em rações de animais domésticos.
Considerações finais
Diante o trabalho apresentado, o maior objetivo a ser cumprido, é o estudo mais profundo e coerente em relação a todas as espécies de jacaré. Para assim, preservar, conscientizar e atuar com sustentabilidade nos fatores que ponderam a criação de jacarés para consumo provenientes de seus produtos.
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UNIVERSDADE ESTADUAL PAULISTA
 “JULIO DE MESQUITA FILHO”�      Câmpus de Ilha Solteira

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