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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIÊNCIA E TECNOLOGIA CURSO SUPERIOR EM ENGENHARIA MECÂNICA CIÊNCIAS DOS MATERIAIS: COMPÓSITOS COM MATRIZ METÁLICA CÁSSIO GABRIEL DA SILVA WESLEY SPARREMBERGER CORREIA PROFESSORA: CARMEN IARA WALTER CALCAGNO Sapucaia, maio de 2017. INTRODUÇÃO Os compósitos são uma classe de materiais em que são usadas duas fases distintas em sua construção (dois ou mais materiais diferentes), sendo então materiais multifásicos em que há uma matriz e um ou mais reforços. Segundo o Callister, o material é compósito quando essas duas ou mais fases exibem uma proporção significativa das propriedades das fases que constituem o compósito. Se comparados com os materiais feitos de apenas um elemento, estes não teriam tanta utilidade para as aplicações efetivas as quais são enquadrados, quanto o compósito tem. Um exemplo de ocorrência natural de compósito é o osso, onde há principalmente cálcio e fosfato (resistente e frágil) e então um reforço de colágeno (Maleável e dúctil). E um exemplo de sintético é o concreto, onde cimento é o principal, e brita e areia os reforços agregados. Os metais podem ser altamente beneficiados com reforços de outros materiais, podendo resultar em aumento de resistência mecânica, dureza, temperatura de trabalho, resistência a abrasão, condutividade térmica e estabilidade dimensional. Se tornando então em uma das divisões de materiais compósitos, os compósitos de matriz metálica (MMC – metal-matrix composites). O termo matriz metálica se refere ao material principal do compósito ser um metal, e seu reforço estar disperso nessa fase metálica, seja fibras, pó ou partículas. Esse tipo oferece alta relação resistência/peso, alta rigidez e boa resistência contra danos em uma grande gama de aplicações, fazendo destes substitutos melhores para muitas aplicações em que se usa o material monolítico. O presente trabalho buscará nos demonstrar um vasto campo de informações referentes a compósitos, com ênfase em compósitos com matriz metálica. Dentro destes assuntos apresentaremos conceitos dos compósitos, aplicações, propriedades e métodos de preparação. DESENVOLVIMENTO Compósitos Os compósitos são materiais formados por dois ou mais constituintes e que apresentam propriedades distintas de seus componentes separadamente. Pode ser definido como um material multifásico feito artificialmente, em contraste com um material que ocorre ou que se forma naturalmente. Isto evidencia que estes materiais são misturas não solúveis com composições, propriedades e estruturas diferentes, mas que se combinam e em que um dos materiais garante a ligação – matriz – e o outro a resistência – reforço. Pode-se acrescentar que a criação dos compósitos teve como finalidade a melhoria das combinações de características mecânicas (propriedades) pela adição de reforços, tais como rigidez, resistência mecânica, vida à fadiga, resistência ao desgaste, peso, resistência à corrosão, comportamento mecânico a altas temperaturas, isolamento térmico, condutibilidade térmica e isolamento acústico. Em geral, os compósitos consistem numa fase endurecedora, reforço, constituído normalmente por partículas, micropartículas, whiskers, fibras curtas e fibras longas, embebidas numa matriz. A matriz é a responsável por transferir os esforços mecânicos para o reforço e por garantir maior tenacidade, resistência à fadiga e resistência à corrosão do material compósito. O reforço, por sua vez, tem a tarefa de suportar os esforços mecânicos que lhe são transferidos pela matriz, e isso só pode acontecer se houver garantia de boa afinidade química entre ambos – do contrário, a transferência de carga é ineficiente. Aliás, essa boa afinidade química gera outra região, chamada de interface, que é tão importante quanto as outras já citadas. Estas três regiões são ilustradas na figura abaixo: Figura 1 Fonte:www.notapositiva.com Existem vários tipos de materiais compósitos com matrizes metálicas, cerâmicas ou poliméricas. No entanto, este estudo será dedicado essencialmente aos compósitos de matriz metálica. Compósitos com Matriz Metálica Nos compósitos com matriz metálica, a matriz é um metal dúctil. A escolha de um compósito com este tipo de matriz se dá em função das características finais pretendidas, dos processos de fabricação e compatibilidade entre a matriz e o reforço. Os MMC apresentam a possibilidade de serem trabalhados a temperaturas bem maiores do que seus respectivos metais de base; ainda, o reforço pode melhorar a rigidez e resistência específica, resistência à abrasão e à fluência, a condutividade térmica e a estabilidade dimensional. Algumas das vantagens desses materiais, se compararmos aos de matriz poliméricas incluem temperatura de operação mais elevadas, não serem inflamáveis e maior resistência a degradação por fluidos orgânicos. Os compósitos com matriz metálica são muito mais caros que os PMCs e, por este motivo, os compósitos de matriz metálica são bastante restritos. Exemplo de compósitos de matriz metálica com alta afinidade com os elementos de reforço é o caso do ferro. O reforço de carbono presente no ferro forma Fe3C (Cementita) que aumenta as propriedades de resistência a tração e dureza do material. Nanocompósitos de Matriz Metálica Os nanocompósitos são uma nova classe de materiais de reforço. Estes materiais são combinações entre uma matriz e partículas que atuam como reforço, isto é, os nanocompósitos são obtidos pela incorporação do reforço nanométrico, dispersos na matriz. As partículas tendo dimensões nanométricas apresentam uma área de superfície elevada, se comparado ao mesmo peso de reforços com partículas grandes, promovendo melhor dispersão na matriz e por isso uma melhoria das propriedades físicas do compósito que dependem da homogeneidade do material. Esses reforços podem ter dimensões uni, bi, e tridimensional. Exemplos: Grafeno, nanotubos de carbono e nano partículas de sílica. O reforço nanométrico deve suportar a carga aplicada ao material limitando a deformação do mesmo, e ao mesmo tempo aumentando resistência, dureza, rigidez e diminuindo a corrosão e a fadiga quando comparado o nanocompósito com a matriz. O artigo Metal matrix composites reinforced with carbon nanotubes by an alternative technique faz o estudo e teste de uma nova maneira de se produzir compósitos de matriz metálica, usando magnésio reforçado com nanotubos de carbono multi paredes, através da prensa dos materiais usando método de sanduiche de compactação a quente, alternando camadas da matriz metálica de magnésio e do reforço nanométrico, e então recozendo o material e então o laminando a quente. Os nanotubos foram misturados com álcool polivinílico e deixados a curar, foi então alongada essa mistura e então distribuídas as duas folhas resultantes da mistura no meio entre três folhas de magnésio, esse empilhamento foi para a prensa a 580°, evaporando o álcool, fragmentando as folhas de nanotubo e unindo-as as folhas de magnésio, após a compactação o compósito foi recozido a 350° e laminado logo em seguida na mesma temperatura. O resultado foi uma matriz metálica de magnésio com “folhas” dispersas de nanotubos de carbono com boa dispersão e orientação, mantendo uma boa ductilidade da matriz de magnésio e resistência direcional dos nanotubos de carbono. Figura 2: Corte tirado do artigo detalhando a união Fonte: Metal matrix composites reinforced with carbon nanotubes by an alternative technique Aplicações de compósitos de matriz metálica Em relação às aplicações desses MMCs,podemos mencionar as indústrias aeronáutica e aeroespacial, utilizando em forma de chapas ou peças forjadas, devido à necessidade de componentes leves e resistentes. Como estes materiais apresentavam bons desempenhos a indústria automobilística incorporou e tem incorporado os compósitos (de uma maneira geral) cada vez mais, sendo que uma das pioneiras no caso dos compósitos com matriz metálica foi a Toyota do Japão (início da década de 60) que passou a pesquisar esses materiais e terminou por lançar, entre outros componentes, os pistões de veículos automotores e bielas. Na figura 3, um exemplo de pistão reforçado por fibras de alumina e biela de motor automotivo reforçado por fibras (geralmente alumina), com o intuito de resistir as mais altas temperaturas de trabalho e paredes mais finas, o que acaba reduzindo seu peso. Figura 3 Fonte: compositosmetalicos Não só a indústria automobilística passou a se interessar pelos compósitos, mas também as indústrias de materiais, indústrias bélicas e outras se interessaram pelos mesmos e passaram a usar os compósitos com matriz metálica e também os outros tipos de compósitos, como por exemplo; A bélica, que procurava obter estabilidade térmica e outras propriedades para serem utilizadas em componentes de precisão, sistemas de guia inerciais, espelhos para lasers e espelhos rotatórios de alta velocidade, espelhos para miras de carros de combate sendo que um dos compósitos usados é o de liga 2009 reforçado por 30% vol. SiC; A indústria esportiva com a possibilidade de se usar peças mais leves e mais resistentes para raquetes de tênis, quadros de bicicletas e componentes de bicicletas, tacos de golfe; E indústria eletrônica no encapsulamento de componentes eletrônicos onde se requer alta condutividade térmica aliada a estabilidade dimensional a altas temperaturas. Até o ano de 1988 existiam três sistemas compósitos com matriz metálica de alumínio considerados como em uso comercial: Fibras de alumina reforçando matrizes de alumínio utilizado para pistões de automóveis; Matriz de alumínio reforçada por partículas de SiC utilizado no sistema de guia de mísseis; e matriz de alumínio reforçada por fibras de boro e/ou borosilicatos utilizados em componentes de foguetes. Atualmente a Honda do Japão faz pesquisas com o intuito de substituir partes de blocos de motores que utilizavam ferros fundidos por compósitos com matriz metálica reforçada por fibras de alumina e carbono. Propriedades dos compósitos com matriz de metal Muitos são os materiais metálicos já utilizados como matriz nos CMM, ligas de Cu, Ti, Mg, Al, Fe. As ligas leves Al e Mg, são os metais mais utilizados, pois eles apresentam um maior número de vantagens como por exemplo, a razão (Tensão/densidade), custo, facilidade de processamento. Em aplicações até 450°c o Al é de primeira preferência. Para aplicações a elevadas temperaturas, o Ti e as ligas de Ni são os que se apresentam com melhores capacidades. Dentro das ligas de alumínio, a escolha de uma determinada liga ou série de ligas, é em função das propriedades específicas destas. Podemos citar o alumínio puro muito utilizado devido sua elevada capacidade de se deformar plasticamente sendo um ótimo material na fabricação de compósitos por processos que envolvem grande deformação plástica da matriz metálica; outras ligas como a Al-Cu e Al-Cu-Mg possuem como principal característica a resposta ao endurecimento por precipitação; e ainda as ligas Al-Si escolhidas em processos de fabricação que utilizam técnicas próximas da fundição. Além destes metais acima citados, as superligas também são empregadas como materiais da matriz. Já os reforços apresentam-se na forma de particulados, de fibras tanto contínuas, quanto descontínuas e de whiskers; as concentrações variam normalmente entre 10% vol. E 60% vol. A tabela 1 abaixo expõe as propriedades de diversos compósitos comuns com matriz metálica reforçadas com fibras contínuas e alinhadas. Tabela 1 Fonte: Livro Ciência e Engenharia dos materiais uma introdução Ainda acrescentamos que as propriedades de fluência e de ruptura a altas temperaturas de algumas superligas (ligas à base de Ni e Co) podem ser melhoradas pelo reforço com fibras, usando metais refratários, tais como o tungstênio. Também são mantidas as excelentes resistências à oxidação em temperaturas elevadas e ao impacto. No artigo “Metal matrix composites reinforced with carbon nanotubes by an alternative technique”, que nos apresenta mais uma técnica de aprimoramento das propriedades mecânicas dos compósitos, sendo os compósitos de matriz metálica com magnésio reforçado com nanotubos de carbono, o material estudado, evidencia resultados satisfatórios se compararmos ele a um com magnésio sem a presença destes nanotubos de carbono. Nos gráficos a) curvas de tensão- deformação e b) resistência final e limite de elasticidade, expostos na figura 4, são demonstrados após o ensaio de tração, que existe uma melhora significativa no rendimento da força, resistência à tração final e módulo de elasticidade; estas excelentes propriedades somente podem ser explicadas se existe ligação interfacial entre as multi-paredes de nanotubos de carbono e a matriz metálica. Figura 4 Fonte: Metal matrix composites reinforced with carbon nanotubes by an alternative technique Métodos de obtenção O processamento de MMCs envolve pelo menos duas etapas: consolidação ou síntese, procedida de uma operação de conformação. Há muitas técnicas disponíveis para essa mistura entre matriz metálica e reforço. A incorporação desses materiais em matriz metálica em grande escala, se dá pela dispersão deste pó na fase líquida da matriz. Os processos de infiltração sob pressão são aplicados a CMM reforçados por fibras e consiste em se obter um fluxo de metal líquido através de interstícios de uma pré-forma, que é um emaranhado de fibras curtas, por meio da aplicação de uma pressão ao metal líquido de forma a se obter como produto final uma peça ou uma barra solidificada onde o metal líquido preencheu todas as cavidades possíveis dessa pré-forma. Porém esse método pode promover pouca dispersão do reforço, gerando pouca homogeneidade se usados métodos arcaicos que não facilitem a homogeneidade e dispersão do reforço. Mas muitos processos giram em torno da fase líquida da matriz metálica. Outro é a prensagem da matriz metálica e do reforço (normalmente fibras) seguido de conformação a quente para consolidar a mistura. O artigo Metal matrix composites reinforced with carbon nanotubes by an alternative technique, cita algumas maneiras de como fazer a união (síntese) de nanotubos em matriz metálica, antes de detalharem a própria do artigo. Novamente a dispersão do particulado sobre a matriz em forma líquida. Metalurgia do pó: Processo fácil e econômico. Necessita-se de pós de metais, e de pós do nanomaterial a adicionar para reforçar o metal. Há diversos modos de se fazer, um deles é a compactação desse pó metálico e reforço manométrico, e então o aquecimento da mistura formando uniões entre os grãos metálicos da matriz e o reforço nanométrico, e normalmente após isso, esse metal passa por uma compressão a quente, forjamento ou conformação, para consolidar a união, mesmo que não aumente muito suas propriedades mecânicas. Uma rota alternativa de reforço na superfície é spray térmico em superfícies metálicas, cuja aplicação é mais em turbinas, motores automotivos e próteses ortopédicas. O Spray se incorpora na superfície do material formando uma espécie de revestimento. Podem ser partículas, materiais manométricos. CONCLUSÃO Conforme inicialmente proposto, foi realizadouma análise em compósitos com matrizes metálicas, objetivando identificar suas características gerais, aprimoramento de propriedades, suas aplicações e os métodos de obtenção. De forma geral, foram expostas as potencialidades da utilização de MMCs, em diversos segmentos da indústria. Constatou-se que houve uma melhora significativa seguindo o exemplo do artigo, onde grande parte das propriedades mecânicas da matriz metálica de magnésio foram melhoradas. Nos últimos anos o estudo de nanocompósitos foi bastante intensificado, e conforme o artigo citado, as propriedades dos metais matrizes são muito aprimoradas com a adição dos nanotubos de carbono multi camada. E considerando a vasta gama de aplicações deste tipo de compósito, é um material de potencialidade muito alta, e processo de fabricação mais eficientes e/ou baratos é necessário. REFERÊNCIAS KETTERMAN, Vivian (Ed.). Compósitos com matriz metálica (MMC). 2017. Http://engenheirodemateriais.com.br/2016/04/22/compositos-com-matriz-metalica-mmc/. Disponível em: <http://engenheirodemateriais.com.br/2016/04/22/compositos-com-matriz-metalica- mmc/>. Acesso em: 12 maio 2017. U.S. Congress, Office of Technology Assessment, Advanced Materials by Design, OTAE-351 (Washington, DC: U.S. Government Printing Office, June 1988) COMPÓSITOS DE MATRIZ METÁLICA. 2017. Disponível em: <https://compositosmetalicos.wordpress.com>. Acesso em: 12 maio 2017. BATISTTELE, Rosane Aparecida Gomes; RENOFIO, Adilson. MATRIZES TRADICIONAIS E MATRIZES ALTERNATIVAS: OS MATERIAIS COMPÓSITOS. São Paulo: Própria Produção, 2012. 28 slides, color. Disponível em: <http://wwwp.feb.unesp.br/renofio/producao limpa/Matrizes Trad e Alternativas_Mat Compositos_Parte 1.pdf>. Acesso em: 13 maio 2017. TECNOLOGIA/COMPOSITOS.PDF, Http://faculdadeinap.edu.br/materiais_didaticos_disciplinas/materiais e. MATERIAIS COMPÓSITOS. Belo Horizonte: Prória Produção, 2012. 42 slides, color. Disponível em: <http://faculdadeinap.edu.br/materiais_didaticos_disciplinas/materiais e tecnologia/compositos.pdf>. Acesso em: 12 maio 2017. DUARTE, José Manuel Ferreira. COMPÓSITOS DE MATRIZ METALICA ESTUDO DA ESTRUTURA E COMPORTAMENTO TRIBOLOGICO DE UM COMPÓSITO. 1988. 247 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Mecânica, Departamento de Engenharia Mecânica, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Porto, 1988. Disponível em: <https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/11278/2/Texto integral.pdf>. Acesso em: 11 maio 2017. CALLISTER, W. D.,RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de Materiais: Uma introdução. Oitava edição, Rio de Janeiro: LTC 2015.
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