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RESUMO COMPLETO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL

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RESUMO COMPLETO DE DIREITO PROCESSUAL PENAL 
TOPICO I - DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CPP
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa. Vide ADPF nº 130
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.
Art. 2o  A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Art. 3o  A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.
Comentários
Noções básicas
No estudo do direito processual penal pode-se elencar como fontes principais, além da doutrina e da jurisprudência, a Constituição Federal, o CPP, as leis processuais esparsas e os tratados internacionais em matéria criminal.
A importância do direito internacional no estudo do processo penal tem ficado evidente, mormente após a edição da emenda 45/2004 que provocou verdadeira releitura na hierarquia das normas. Tal tendência foi confirmada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal. Desse modo se pode visualizar a hierarquia das normas e a nova pirâmide jurídica na visão do STF da seguinte forma:
No topo da pirâmide que hierarquiza o ordenamento jurídico brasileiro está a Constituição Federal (CF), as Emendas Constitucionais (EC) e os Tratados Internacionais que tratam de Direitos Humando (TIDH) que passaram pelo procedimento das emendas constitucionais (Art. 5°, § 3° da CF).
No segundo patamar estão os Tratados Internacionais de Direito Humanos (TIDH) que não passaram pelo procedimento de Emenda Constitucional, pois, segundo o Supremo Tribunal Federal, atualmente, os mesmos tem o status de norma supralegal (estão acima das Leis e abaixo da Constituição). Exemplo importante de Tratado internacional de direitos humanos que interessa ao processo penal é o Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana de Direitos Humanos).
No terceiro patamar estão as Leis Ordinárias, Leis Complementares, Leis Delegadas, Resoluções, Decretos Legislativos, Tratados Internacionais que não tratem de direitos humanos, Medidas Provisórias.
Na base da pirâmide estão os Decretos, Portarias e demais atos infralegais.
  O CPP é Lei Ordinária Federal. 
- Finalidade do Direito: Pacificar as relações e conflitos sociais.
- Finalidade do Direito Penal: Proteção dos bens jurídicos mais relevantes por ser o mais violento ramo do direito.
- Finalidade do Processo Penal: Aplicar o direito material nos conflitos penais. 
Conceito de lide é problemático.
  O que seria um Processo Penal Justo?
  É aquele que consegue conciliar o Princípio Instrumental Punitivo com o Princípio Instrumental Garantista.
  Princípio Instrumental Punitivo = reconhecimento de que o processo é um instrumento de punição. "Você só perde a liberdade através do processo".
  Princípio Instrumental Garantista = processo faz com que a punição seja proporcional. Garante os direitos do réu por já deixar expresso na legislação a punição prevista para cada crime (caráter, inclusive, informativo).
 
Pilares do Garantismo no Processo Penal:
1) Jurisdicionalidade:
  "Não existe culpa sem jurisdição". Jurisdição é a única função que tem o poder de decidir o caso concreto com definitividade.
2) Acusatoriedade:
  "Não há jurisdição sem ação (sem acusação)".
3) Ônus da prova:
  "Não há acusação sem prova".
4) Contraditório e Defesa:
  "Não há prova sem contraditório e ampla defesa".
   3. Princípios do Processo Penal
Princípio do Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, CF).
  Art. 5º, LIV, CF: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
Significados: 
  - o do art. 5º no inciso transcrito acima; e
  - Segurança Jurídica ("Fair Trail") = "saber a regra antes do jogo".
  Aplicação da lei processual é IMEDIATA (não retroagindo mesmo que beneficie o réu - diferentemente da lei penal).
  Normas que regulam recurso => Majoritariamente de natureza processual, tendo aplicação imediata, logo, a lei que regula o recurso é a que está em vigor na data da publicação da sentença.
Minoritariamente => Defende-se que a natureza é híbrida, podendo retroagir para benefício do réu. Outro raciocínio ainda possível sustenta que pelo princípio do Devido Processo Legal e pelo "Fair Trail", a data a ser considerada para questões de recurso é a data do fato (protegendo, portanto, a segurança jurídica).
Princípio da Igualdade ou da Paridade de Armas:
As partes que formam a relação triangular podem usar todos os recursos disponíveis para assegurar a igualdade processual.
 
Sendo que o autor pode ser o MP, nas ações penais públicas, ou o ofendido, nas ações penais privadas.
Às partes deve ser assegurada a igualdade material, além da formal.
Deflui desse princípio a idéia do "Favor rei" = "In dubio pro reo" processual. A doutrina costuma relacionar o presente princípio com o Contraditório.
Princípio do "Favor rei" (a favor do réu; art. 386, VI, CPP e art. 615, par. 1º, CPP).
  “VI - Se estiver comprovada a inexistência do crime ou quando HOUVER FUNDADA DÚVIDA SOBRE SUA EXISTÊNCIA” (acrescentada pela reforma a relação com o Princípio da Presunção de Inocência).
   Art. 386, “caput”, CPP: “O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:”
  “VI – existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 e § 1o do art. 28, todos do Código Penal), ou mesmo se houver fundada dúvida sobre sua existência”.
  Art. 615, § 1º, CPP: “Art. 615. O tribunal decidirá por maioria de votos:”
  “§1º: Havendo empate de votos no julgamento de recursos, se o presidente do tribunal, câmara ou turma, não tiver tomado parte na votação, proferirá o voto de desempate; no caso contrário, prevalecerá a decisão mais favorável ao réu”.
Princípio da Demanda:
  Um juiz não pode iniciar o processo penal "ex officio", porque cabe ao MP, privativamente, propor a ação penal. Tem relação com o PILAR DA ACUSATORIEDADE.
Princípio Acusatório (Sistema processual):
Distribui as funções do processo em sujeitos diversos (diferentemente do Princípio Inquisitório, onde se reunia em uma só pessoa todas as funções do processo). Tem como fundamento constitucional a Separação dos Poderes (art. 60, §4º, CF).
Finalidade do Acusatório é garantir a imparcialidade do julgador.
  Art. 129, I, CF -> compete privativamente ao MP iniciar a ação penal (o que é dito contraditoriamente no art. 26, CPP; dessa forma, percebe-se que, apesar do art. 26 ser vigente, não é válido). Alguns dizem que não foi recepcionado pela nova CF, outros dizem que foi revogado.
  Art. 26 = INCONSTITUCIONAL.
  Art. 129, “caput”, CF: “São funções institucionais do Ministério Público:”
  “I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”.
  Art. 26, CPP: “A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela autoridade judiciária ou policial”.
  Sistema acusatório no Brasil é flexível, pois o juiz brasileiro tem o poder de iniciativa complementar de produção de provas (art. 156, I e II, CPP). O inciso I veio a reforçar a idéia de acusatório FLEXÍVEL (iniciativa originária). O juiz deve ficar o mais distante possíveldas partes, mas pode, diante da desídia das partes, ter iniciativa probatória. Entendimento majoritário.
  Art. 156, I e II, CPP: “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:”
  “I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida”;
  “II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante”.
  Sistema processual adotado no Brasil => Sistema Acusatório.
Princípio da Oficialidade da Ação Penal Pública:
A ação penal pública só pode ser promovida por órgãos oficiais (MP – art. 129, I, CF).
A oficialidade também se aplica na fase preliminar de investigação => assim, a investigação será promovida por órgãos oficiais (polícias judiciárias).   Sabemos que, geralmente, quem faz a investigação são as Polícias Judiciárias (civis e federais), sendo que as polícias administrativas não detêm tal atribuição (com exceção do Inquérito Policial Militar).
Tecnicamente, a investigação particular é ilegal, constituindo Usurpação da Função Pública, crime previsto no CP (Hidejalma Muccio).
Nesse assunto é possível sustentar que, com base no art. 144, §1º, IV, CF, SOMENTE A POLÍCIA JUDICIÁRIA poderia investigar.
Entretanto, há quem sustente que esse inciso, juntamente com o §4º, denota que há diferença entre POLÍCIA JUDICIÁRIA e INVESTIGATIVA, sendo que, somente aquela, seria uma função EXCLUSIVA da polícia, tendo em vista que a CF não utiliza palavras inúteis. Tal distinção se torna relevante para o debate a respeito da (im)possibilidade do Ministério Público presidir investigação criminal.
O entendimento que tende a prevalecer é o de que o MP pode investigar por causa da: TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS, uma vez que se o MP tem o poder de exercer o controle externo da atividade policial, pode também investigar, já que as atividades de controle envolvem a realização de atos de investigação.
Ainda segundo o art. 129, CF, se indaga: Se o MP pode averiguar atos de improbidade administrativa, presidindo o inquérito civil, por que não poderia investigar?
Por outro lado, se entende que é justamente porque o MP realiza o controle externo, investigando a polícia, que ele não poderia realizar a investigação, em respeito à Separação dos Poderes (evitando a concentração de poder nas mãos de um único órgão – Montesquieu).
Inquérito policial não é a única forma de investigação. É o único expresso no CPP.
Princípio da Oficiosidade da Ação Penal Pública:
MP e polícia devem atuar independentemente de requerimento.
  “Ex officio” => em razão do ofício.
Princípio da Obrigatoriedade da Ação Penal Pública (Princípio da Compulsoriedade) art. 24, CPP:
  O MP quando se depara com um crime de Ação Penal Pública é OBRIGADO a instaurar Ação Penal desde que tenha:
Não pode fazer um acordo com o autor do delito deixando de promover a ação penal. 
No Brasil, NÃO é aplicado o sistema do “Plea Bargaing”.
Exceção: Transação Penal (Juizados Especiais Criminais). Uma das formas alternativas que o MP tem para agir. MP propõe uma aplicação imediata de pena não privativa de liberdade. Caso haja descumprimento da Transação Penal, o MP oferece a denúncia.
Transação é uma mitigação. Alguns autores chamam de exceção. Dessa forma, o Princípio da Obrigatoriedade não é absoluto, pois a exceção ou mitigação seria a transação penal.
Princípio da Indisponibilidade da Ação Penal Pública:
Uma vez proposta a Ação Penal, o MP não pode desistir da mesma. Art. 42.
Se o MP perceber que o réu não é autor do crime, não desiste da Ação Penal. Prossegue, mas pede ABSOLVIÇÃO do réu. 
É mitigada na possibilidade da Suspensão Condicional do Processo (art. 89, 9099/95).
Princípio da Inadmissibilidade da Persecução Penal Múltipla (princípio do “Ne bis in idem” processual):
Ninguém pode ser processado duas vezes pelo mesmo fato.
Quem prevê este princípio não é a CF, mas sim o pacto de São José da Costa Rica (cláusula 8ª, item 4, do decreto 678/92).
Princípio da Ampla Defesa (art. 5º, LV, CF):
  Art. 5°, LV, CF: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:”
  LV: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
  Seria a soma de duas defesas: Da Auto Defesa e da Defesa Técnica.
  Auto defesa: realizada pelo próprio réu. Ex: interrogatório.
  Defesa técnica: realizada por pessoa que tem capacidade postulatória. Exs: Advogado e Defensor Público.
  A única defesa DISPONÍVEL é a AUTO DEFESA, pois o réu pode confessar ou permanecer em silêncio.
  Existe revelia (ausência do réu em juízo) no Processo Penal? Existe.
  PORÉM, a revelia no processo penal somente produz o efeito processual.
  Lembre-se que a revelia, modo geral, produziria os seguintes efeitos:
  Material: juiz considerar os fatos alegados pelo autor como verdadeiros. No Processo Penal NÃO há produção desse efeito.
  Processual: O réu não será mais intimado dos demais atos processuais (o processo segue sem a presença do réu, mas sempre com o advogado).
  Direitos decorrentes da ampla defesa:
Direito de a defesa falar por ÚLTIMO.
Direito de não auto-incriminar-se (“nemo tenetur se detegere” ou “nemo tenetur se ipsum accusare”). 
Direito ao silêncio decorre da ampla defesa.
Direito de não confessar;
art. 577, CPP. Permite ao RÉU recorrer (reforço da auto defesa). Se juiz entender cabível irá intimar o advogado para apresentar razões.
Como se resolve o conflito entre a vontade decorrente da defesa técnica e vontade decorrente da auto defesa? São duas as posições referentes ao tema:
  1ª) Por ser a defesa técnica a única indisponível, deve prevalecer a vontade do advogado (é a que prevalece). Súmula 705, STF[1].
  2ª) Quem sofre os eventuais prejuízos da condenação é o réu. Logo, a vontade dele deveria prevalecer (minoritário).
  A melhor interpretação seria no seguinte sentido: Prevalece a vontade que favorecer o recurso (Pró-recurso -> garante, de forma mais eficiente, a AMPLA DEFESA).
  Súmula 523, STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu”.
Princípio do Contraditório:
  Conceito de Aury Lopes Jr.: “Contraditório é o direito de participar, de manter uma contraposição em relação à acusação e de estar informado de todos os atos do processo”.
  Dinamarco afirma que o Contraditório deve ser enxergado no seguinte binômio:
Informação
+
Reação
  CONTRADITÓRIO:
   • Garante o direito de participação (enquanto a Ampla Defesa requer que essa participação seja efetiva, sob pena de nulidade);
  • Busca o equilíbrio;
  • Demanda a paridade de armas (Pacelli) – deve-se analisar as duas partes envolvidas, porque sempre há ponderação a ser realizada entre SEGURANÇA PÚBLICA e LIBERDADE.
 
Processo: Finalidade punitiva.
  Procedimento: Finalidade apuratória.
  Sendo assim, pode-se perceber que o Inquérito Policial é procedimento administrativo e, em sendo um procedimento, não há contraditório e ampla defesa (a pessoa ainda não é acusada, mas sim, indiciada).
  Diante desse contexto, pergunta-se: A Súmula vinculante 14 trouxe o contraditório para o Inquérito Policial? Resposta: NÃO!
  A Súmula só ratificou o direito à INFORMAÇÃO aos autos do inquérito policial (que já estava previsto no Estatuto da OAB) e não o de REAÇÃO. Dessa forma, estar-se-ia garantindo uma parte do binômio estabelecido por Dinamarco como estruturante do contraditório.
  Súmula Vinculante 14: “É direitodo defensor, no interesse do representado, ter amplo acesso aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao direito de defesa”.
Espécies de contraditório:
1)  Contraditório imediato (ou direto): Aquele que ocorre no ato. É a regra. Ex: Prova testemunhal.
2)  Contraditório mediato (diferido, postergado ou protelado): Ocorre mais à frente. Ex: Prova pericial (só é concedido durante o processo e não no inquérito, onde a prova foi produzida).
  Como se justifica a condenação de alguém com base na prova pericial, produzida no inquérito, já que não existe ali contraditório? Nesse caso, o CONTRADITÓRIO existe, mas ele é MEDIATO.
Princípio da Verdade Real[2] (ou verdade material):
  O princípio da verdade real afirma o dever do magistrado de superar a desidiosa (descuidada, desatenta) iniciativa das partes na colheita do material probatório, visando alcançar a verdade das alegações das partes.
  Juiz pode ir atrás das provas se as partes não as trouxerem (confronta o princípio do acusatório – baseado na separação dos poderes, para garantir a imparcialidade do magistrado).
  É permitido porque o bem jurídico tutelado é a liberdade e somente quando houver dúvida de ponto relevante de prova apresentada.
  Obs: Cuidado com o novo art. 156, I, CPP, que inclui a possibilidade de o juiz ordenar a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a NECESSIDADE, ADEQUAÇÃO E PROPORCIONALIDADE DA MEDIDA (basicamente, o Princípio da Proporcionalidade). Pacelli defende a inconstitucionalidade desse artigo:
  Art. 156, I, CPP: “A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício:
  I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
  II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.”
Princípio da Presunção de Inocência (ou da não culpabilidade ou do estado de inocência):
  1ª regra: Probatória (provoca uma releitura do ônus da prova, colocando uma carga maior nos “ombros do MP”).
Fatos incontroversos no Processo Penal PRECISAM ser provados.
Não se operam, no Processo Penal, os efeitos materiais da revelia (ou seja, não se presumirão como verdadeiros os fatos alegados pelo MP).
  Existe confissão ficta (quando o réu fica calado) no Processo Penal? NÃO! Confissão tem que ser expressa, clara e concisa.
  2ª regra: Tratamento. Réu não pode ser tratado como culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Porém, presunção de inocência (direito de ser tratado como inocente) como qualquer outro direito fundamental não é absoluto. Assim, em alguns casos excepcionais, podem ocorrer as prisões cautelares.
  Obs: O art. 393, CPP foi revogado em virtude da violação que provocava no princípio da Presunção de Inocência.
  Art. 393, I e II, CPP: “São efeitos da sentença condenatória recorrível:”
  “I - ser o réu preso ou conservado na prisão, assim nas infrações inafiançáveis, como nas afiançáveis enquanto não prestar fiança”;
  “II - ser o nome do réu lançado no rol dos culpados”.
  O Inquérito Policial, por si só, gera maus antecedentes? Teoricamente não, já que é procedimento administrativo.   Súmula 444, STJ: “É vedada a utilização de Inquéritos Policiais e Ações Penais em curso para agravar a pena base”.
[1] Súmula 705, STF: “A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestadas sem assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta”.
[2] Aos poucos a doutrina tem promovido uma releitura desse princípio, substituindo o mesmo pelo conceito de verdade processual, mais adequado ao estado garantista, haja vista que o magistrado deve pautar sua decisão em elementos carreado aos autos, ou seja, o conceito de verdade para o processo depende do contexto probatório e tal verdade não necessariamente irá coincidir com a verdade do mundo físico.
1. Inquérito Policial
1.1. Conceito: é um procedimento administrativo inquisitório e preparatório, presidido pela Autoridade Policial, consistente em um conjunto de diligências realizadas com o objetivo de colher elementos de informação quanto à autoria e materialidade do delito, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo.
1.2. Natureza jurídica do inquérito policial: procedimento administrativo, porque dele não resulta a imposição direta de sanção.
Obs.: eventuais vícios (irregularidades) constantes do Inquérito Policial não contaminam o processo penal a que der origem, salvo em se tratando de provas ilícitas (ex.: Delegado que tortura o preso para obter confissão), que podem repercutir negativamente no processo judicial.
1.3. Finalidade do inquérito policial: o objetivo é a colheita de elementos de informação quanto à autoria e à materialidade do delito.
Obs.: deve-se atentar para as diferenças entre elementos de informação e prova. A distinção está contida no art. 155 do CPP, com a redação dada em 2008, pela Lei 11.690:
	Elementos de Informação
	Prova
	Produzidos na fase investigatória.
Não é obrigatória a observância aos princípios do contraditório e da ampla defesa (posição majoritária). A surpresa é importante para as investigações, pois, se o indiciado souber quais serão as diligências, poderá frustrá-las.
Só deve o juiz intervir quando provocado, para assegurar/preservar direitos e garantias indivi​duais, autorizando, nos limites da lei, a realização de determinadas diligências. Isso se dá para que não haja burla ao princípio da imparcialidade.
Servem para formar a convicção do titular da ação penal (opinio delicti) e para dar amparo para a decreta​ção de medidas cautelares (auxiliar na fundamentação do juiz).
Elementos informativos, isoladamente consi​derados, não podem fundamentar uma conde​nação. Porém, não devem ser despre​zados, podendo se somar à prova produzida em juízo para formar a convicção do magis​trado, conforme dicção do art. 155 do CPP. A utilização dos elementos informativos, então, se dá de maneira comple​mentar. O advérbio “exclusivamente” do art. 155 do CPP reflete o entendimento pacífico do STF (RE n. 425.734; RE 287.658).
	Em regra, a prova é produzida no processo judicial. Exceção: o art. 155 do CPP traz as provas cautelares e as provas não repetíveis. 
É obrigatória a observância da ampla defesa e do contraditório, ainda que diferido (ex.: provas cautelares e não repetíveis).
A prova deve ser produzida na presença do juiz. Adotou-se, em 2008, o princípio da identidade física do juiz (o juiz que acom​panhou a instrução deve, ao menos em regra, proferir sentença), previsto no art. 399, §2º, do CPP.
Provas cautelares: são aquelas em que há um risco de desaparecimento do objeto da prova em razão do decurso do tempo, em relação às quais o contraditório será diferido (contraditório observado depois da produção da prova – ex.: interceptação telefônica, que não pode ser “anunciada” ao acusado). Obs.: provas cautelares não se confundem com provas não repetíveis. 
Prova não repetível: é aquela que não tem como ser novamente coletada ou produzida, em virtude do desapa​recimento ou destruição da fonte probatória (Ex.: exame pericial em crimes cujos vestígios podem desaparecer). Ressalte-se que nem todos os exames periciais consubstanciam prova não repetível (ex.: exame para dizer se o material é ou não uma espécie de droga ilícita). Tanto nas provas cautelares quanto nas provas não repetíveis, o contraditório é diferido.
Provas antecipadas: são aquelas produzidas com a observância do contraditório real, perante a autoridade judiciária, em momento processual distinto daquele legalmente previsto, ou até mesmo antes do início do processo, em virtude de situação de urgência e relevância. Ex.: depoimentode pessoa gravemente ferida ou enferma; aqui, o delegado representa ao juiz requerendo a produção dessa prova, que é produzida dentro do inquérito policial, mas sob o crivo do contraditório. Outro exemplo de prova antecipada: art. 225 CPP (depoimento ad perpetuam rei memorium – testemunha que está em risco de morte). As provas antecipadas não se confundem com as provas cautelares e as não repetíveis, pois, nestas, o contraditório é diferido.
Obs.: as provas cautelares, não repetíveis e as antecipadas podem ser produzidas no IP e no Processo Judicial.
1.4. Atribuição para a presidência do inquérito policial: fixa-se a atribuição do IP de acordo com a competência de quem vai julgar o caso.
1.4.1. Crime Militar: 
Competência da Justiça Militar da União: quem vai investigar são as próprias Forças Armadas (Marinha, Aeronáutica e Exército). O instrumento é o Inquérito Policial Militar (IPM).
Competência da Justiça Militar dos Estados: quem investiga é própria Policia Militar ou o Corpo de Bombeiros. O instrumento da investigação é o Inquérito Policial Militar (IPM).
1.4.2. Crime da Competência da Justiça Federal (Ex.: tráfico internacional de drogas ou roubo à CAIXA): quem investiga é a Polícia Federal.
1.4.3. Crime Eleitoral: quem investiga é a Polícia Federal.
Obs.: nos casos de crimes de competência da Justiça Militar e nos de competência da Justiça Eleitoral, não havendo Polícia Federal na cidade, não há ilegalidade nas investigações feitas pela Polícia Civil.
1.4.4. Crime de Competência da Justiça Estadual: em regra, quem investiga o delito é a Polícia Civil. Excepcio​nalmente, se o delito tiver repercussão interestadual ou internacional, é possível que o delito seja investigado não só pela Policia Civil, mas, também, pela Polícia Federal. A Polícia Federal “dá uma ajuda”. Ler art. 144, §1º, da CF. A Lei n. 10.446/02 diz quais são os casos de repercussão interestadual e internacional.
1.5. Características do inquérito policial
Peça escrita: é tudo documentado, colocado no papel (art. 9º do CPP). Observar o art. 405, §1º, do CPP, que está no capítulo que trata do procedimento judicial. Por tal dispositivo, alguns entendem que pode o registro de algumas provas (ex.: testemunhal, reconstituição etc.) ser feito por meio audiovisual ou por meio de gravação.
Procedimento dispensável: se o titular da ação penal contar com elementos de informação a partir de peças de informação distintas, poderá o inquérito policial ser dispensável (art. 39, §5º, do CPP).
Procedimento sigiloso: a surpresa é essencial à eficácia das diligências investigatórias. A quem não se opõe o sigilo? Ao Ministério Público, ao Juiz e ao Advogado. Quanto ao advogado, a previsão para tanto está na CF (art. 5º, LXIII), e no art. 7º, XIV, do Estatuto da OAB. Obs.: o advogado tem acesso às diligências já realizadas e documentadas no Inquérito Policial, mas não àquelas que estão em andamento. O STF já tratou do assunto na Súmula Vinculante n. 14. Obs.: se o delegado se nega a deixar o advogado ter acesso ao inquérito policial, pode-se: a) fazer Reclamação perante o Supremo Tribunal Federal, tendo em vista que a matéria já foi tratada por Súmula Vinculante; b) impetrar mandado de segurança (que deve ser impetrado no nome do advogado, pois este foi quem teve o direito líquido e certo de ter acesso ao inquérito policial obliterado); c) habeas corpus: sempre que puder resultar, ainda que de modo potencial, prejuízo à liberdade de locomoção, será cabível o habeas corpus.
Procedimento inquisitorial: não é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa. Há quem diga que o contraditório e a ampla defesa devem ser observados, mas se trata de posição minoritária, irrelevante em questões objetivas ou subjetivas de concurso. Obs.: no inquérito para expulsão do estrangeiro (Lei n. 6.815/80) é obrigatória a observância do contraditório e da ampla defesa.
Procedimento discricionário: o inquérito é conduzido de maneira discricionária, pela autoridade policial, que deve conduzir as investigações de acordo com as peculiaridades do caso concreto. O artigo 6º do CPP traz um rol exemplificativo de diligências que poderão ou não ser realizadas pela autoridade policial. O artigo 7º também faz parte deste “roteiro”, tratando, pois, da reconstituição. Obs.: discricionariedade não se confunde com arbitrariedade. Obs.: o inquérito policial não tem natureza absoluta (art. 14 do CPP). Para os tribunais, só é possível o indeferimento de diligências inúteis, protelatórias ou desnecessárias.
Procedimento indisponível: o delegado não pode arquivar o inquérito (art. 17 do CPP).
Procedimento temporário: para a doutrina, se o investigado está solto, o prazo para a conclusão do inquérito pode ser sucessivamente prorrogado (de 30 em 30 dias). Deve-se observar, porém, que com a EC n. 45/04, foi adotado, expressamente, o princípio da duração razoável do processo, que, para a doutrina moderna, deve ser aplicado ao inquérito policial. O STJ já tratou a matéria nesse sentido, no HC n. 96.666 (no caso desse julgado, o inquérito já tinha sete anos), trancando o inquérito policial.
1.6. Formas de instauração do inquérito policial (variam de acordo com a espécie de ação penal)
1.6.1. Nos crimes de ação penal pública incondicionada:
O inquérito pode ser instaurado de ofício (art. 5º, I, do CPP): por conta do princípio da obrigatoriedade, se a autoridade policial toma conhecimento da prática de um delito, é obrigada a instaurar o inquérito policial. Nesse caso, o delegado vai lavrar uma Portaria, que será a peça inaugural do inquérito.
O inquérito pode ser instaurado por meio de requisição do juiz ou do Ministério Público (art. 5º, II, do CPP): a maioria da doutrina entende que não se pode permitir que o juiz requisite a instauração do inquérito policial, sob pena de se ferir o princípio da imparcialidade. Logo, a maioria entende que só o Ministério Público pode requisitar. Na prática, orienta-se que o juiz dê vista do caso ao Ministério Público. No caso em tela, a peça inaugural é a própria Requisição.
O inquérito pode ser instaurado por meio de requerimento do ofendido ou de seu representante legal: a vítima comparece perante o delegado e pede a ele que o inquérito seja instaurado. Deve o delegado verificar a procedência das informações. Obs.: Na hipótese de indeferimento, cabe recurso para o Chefe de Polícia (art. 5º, §2º, do CPP). Chefe de Polícia: é o Delegado Geral da Polícia Civil ou o Secretário de Segurança Pública. Se o delegado entende que há procedência das informações, lavra a Portaria, que dará início ao inquérito policial.
O inquérito pode ser instaurado mediante notícia oferecida por qualquer do povo (art. 5º, §3º, do CPP): é a delatio criminis. Nesse caso, o delegado deve analisar se há procedência nas informações. Se há procedência, o delegado deve lavrar a Portaria.
O inquérito pode ser instaurado em razão de prisão em flagrante: o Auto de Prisão em Flagrante é a peça inaugural do inquérito policial. Obs.: no Código de Processo Penal Militar, se o auto de prisão em flagrante for suficiente para a elucidação do fato, constituirá o próprio inquérito.
Obs.: quando o inquérito é instaurado por meio de uma Portaria ou de um Auto de Prisão em Flagrante, é o delegado a autoridade coatora para fins de impetração de habeas corpus, que será julgado por juiz de 1º grau. Se o inquérito for instaurado por meio de uma requisição do Ministério Público, este é a autoridade coatora; logo, o habeas corpus é julgado pelo Tribunal de Justiça.
1.6.2. Nos crimes de ação penal pública condicionada e de ação penal privada: nesses casos, o inquérito policial só pode ser instaurado por meio de requerimento do ofendido ou de seu representante legal ou por meio de requisição do Ministro da Justiça.
1.7. Notitia Criminis: é o conhecimento espontâneo ou provocado, por parte da autoridade policial, acerca de um fato delituoso. A notitia criminis é vulgarmente conhecida como “queixa-crime”.1.7.1. Espécies
Notitia criminis de cognição imediata: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de suas atividades rotineiras.
Notitia criminis de cognição mediata ou provocada: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do crime por meio de um expediente escrito.
Notitia criminis de cognição coercitiva: ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do crime por meio da apresentação de alguém preso em flagrante. O delegado é obrigado a tomar conhecimento do crime.
1.7.2. Delatio Criminis: é espécie de notitia criminis feita por qualquer do povo.
1.7.3. Notitia Criminis Inqualificada: vulgarmente conhecida como denúncia anônima. A denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a instauração de um inquérito policial, mas a partir dela a Polícia pode realizar diligências preliminares, para verificar a veracidade das informações e, então, instaurar o inquérito policial. Sobre o tema: STJ, HC n. 99.490.
1.8. Identificação Criminal 
Há dois momentos:
Identificação Fotográfica;
Identificação Datiloscópica: colheita de impressões digitais (a formação das digitais se dá a partir do terceiro mês da gestação do feto e se consolida no sexto mês. É possível verificar as digitais mesmo depois da morte, se houver bom estado de conservação).
Obs.: Antes da CF/88, a identificação criminal era a regra, mesmo que o indivíduo se identificasse civilmente. Vigorava, na época, a Súmula 568/STF, que dizia que a exigência da identificação criminal não constituía constrangimento. Todavia, com o advento do art. 5º, LVIII, da CF/88, o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvos nos casos previstos em lei. Logo, a Súmula 568/STF não tem mais razão de ser. Eis as leis que tratam e permitem a identificação criminal:
Lei n. 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente) – art. 109;
Lei n. 9.034/95 (Lei das Organizações Criminosas) – art. 5º;
Lei n. 10.054/00 (lei específica, que tratou exclusivamente da identificação criminal). Esta lei foi revogada em 2009. Obs.: para o STJ, como o artigo 3º, I, desta lei não ressalvou a ação praticada por organizações criminosas, conclui-se que o artigo 5º da Lei n. 9.034/95 teria sido tacitamente revogado (sobre o tema: RHC n. 12.965/ STJ);
Lei n. 12.037/09: é a atual lei que dispõe, especificamente, sobre a identificação criminal. Com o advento desta lei, não precisamos nos preocupar com as demais leis, pois somente esta trata de todo o assunto. Ao contrário da Lei n. 10.054/00, a Lei n. 12.037/09 não trouxe um rol taxativo de delitos que permitem a identificação criminal. Caso ocorra a absolvição do agente ou o não oferecimento de denúncia, é possível a retirada da identificação fotográfica do inquérito (a identificação datiloscópica permanece).
1.9. Incomunicabilidade do Indiciado Preso
O artigo 21 do CPP, que é da década de 40, trata do assunto. Pelo artigo, a incomunicabilidade pode durar por até três dias, por meio de despacho judicial. Contudo, esse artigo não foi recepcionado pela CF/88. O argumento está no fato de que nem mesmo durante o Estado de Defesa é possível a incomunicabilidade (art. 136, §3º, IV, da CF). Além do mais, a CF garante ao preso a assistência da sua família e de advogado. 
Atenção para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), inserido na Lei de Execuções Penais pela Lei n. 10.792/03. Diga-se, desde logo, que o RDD não acarreta a incomunicabilidade do preso. É possível a visita semanal de duas pessoas, sem contar as crianças, e, também, de assistência do advogado.
1.10. Indiciamento
Indiciar é atribuir a alguém a prática de determinada infração penal. Quando um crime é cometido, a Polícia busca por suspeitos. Havendo elementos de informação suficientes, passa o suspeito para o status de indiciado. Oferecida a denúncia, passa o agente a ser denunciado. Aceita a denúncia, passa a ser denominado réu.
Pressupostos: é indispensável a presença de elementos de informação quanto à autoria e materialidade do delito. Portanto, para os Tribunais, ausentes elementos de informação quanto ao envolvimento do agente, é possível a impetração de habeas corpus, buscando-se o desindiciamento (anulação do indiciamento). Sobre o tema: STJ, HC n. 43.599.
Em regra, qualquer pessoa pode ser indiciada. Contudo, não podem ser indiciados:
Membros do Ministério Público, por expressa vedação legal (Lei n. 8.625 – Lei Orgânica do Ministério Público, art. 41). Atentar para a peculiaridade do parágrafo único do art. 41. (Art. 41. (...). Parágrafo único. Quando no curso de investigação, houver indício da prática de infração penal por parte de membro do Ministério Público, a autoridade policial, civil ou militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração).
Magistrados, por expressa vedação legal (art. 33, parágrafo único, da Lei Complementar n. 35/79 – Lei Orgânica Nacional da Magistratura). (Art. 33 (...). Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver indício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribunal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação).
Autoridades com foro por prerrogativa de função: para o STF, em se tratando de autori​dade com foro por prerrogativa de função, é necessária autorização do Tribunal respectivo, não só para a abertura das investigações, como também para o indiciamento. O assunto foi tratado na Questão de Ordem no Inquérito Policial n. 2.411.
1.11. Conclusão do Inquérito Policial
1.11.1 Prazo para a conclusão do inquérito policial
	Norma
	Preso
	Solto
	CPP
	10
	30
	Justiça Federal (Lei n. 5.019)
	15, podendo ser prorrogado por mais 15 (15 + 15)
	30
	Inquérito Policial Militar
	20
	40
	Lei de Drogas
	30 + 30
	90 + 90
	Lei de Crimes contra 
a Economia Popular
	10
	10
	Prisão Temporária em Crimes Hediondos e Crimes Equiparados
	30 + 30
	Não se aplica a quem está solto
Obs.: Em se tratando de investigado solto, prevalece o entendimento de que é possível a prorrogação desse prazo, raciocínio este que não se aplica ao investigado preso. 
Obs.: Segundo o artigo 10 do Código Penal, o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Segundo o art. 798, §1º, do CPP, não se computará no prazo o dia começo, incluindo-se, porém, o do vencimento. Aplica-se aos casos de investigado solto o prazo processual penal (art. 798, §1º, do CPP). Quanto aos casos de investigado preso, para alguns (Nucci), aplica-se o disposto no artigo 10 do CP. Todavia, há quem diga que o prazo é processual penal (Mirabete, Denílson Feitosa, Renato Brasileiro), pois não se pode confundir o prazo da duração do inquérito com o prazo para a prisão.
 
1.11.2. Relatório da Autoridade Policial
Trata-se de peça com conteúdo eminentemente descritivo, com a síntese das diligências reali​zadas na fase investigatória. A Autoridade Policial deve se abster de emitir juízo de valor, dando opinião sobre o caso. Contudo, o Delegado pode emitir juízo de valor nos casos de drogas, o que não vincula o Ministério Público.
O relatório não é indispensável para o início do processo. Logo, o Ministério Público pode oferecer denúncia independentemente do relatório.
1.11.3. Destinatário do Inquérito Policial
Pelo art. 10, §1º, do CPP, o inquérito policial “sai” da Polícia e é encaminhado para o juiz competente, que, por sua vez, abre vista para o Ministério Público (é o que vale para provas objetivas).
Atenção para a Resolução n. 63 do Conselho da Justiça Federal e para eventuais resoluções de Tribunais Estaduais: concluído o inquérito policial, este deve ser encaminhado diretamente ao Ministério Público, salvo na hipótese em que houver necessidade de medidas cautelares. 
1.11.4. Providências a serem adotadasapós a remessa do Inquérito Policial
Em se tratando de crime de ação penal de iniciativa privada (art. 19 do CPP): o juiz deter​mina a permanência dos autos em cartório, aguardando a iniciativa do ofendido. Na prática, porém, o juiz manda os autos para o Ministério Público.
Em se tratando de crime de ação penal pública, cabe ao Ministério Público (art. 16 do CPP):
o oferecimento de denúncia;
a promoção de arquivamento;
a requisição de diligências, desde que imprescindíveis ao oferecimento da denúncia. Essas diligências deverão ser requisitadas diretamente à Autoridade Policial, salvo se houver necessidade de intervenção do Judiciário. Indeferido, porém, o retorno dos autos à Delegacia pelo juiz, caberá correição parcial.
o pedido de declinação de competência. Em síntese, o Promotor diz que o juiz não tem competência para julgar o crime.
a suscitação de conflito de competência ou de atribuições. Conflito de competência é aquele que se estabelece entre duas ou mais autoridades jurisdicionais. O conflito pode ser positivo ou negativo. No positivo, os órgãos jurisdicionais consideram-se competentes para o julgamento do feito. No negativo, os órgãos jurisdicionais consideram-se incompetentes para o julgamento do feito. Para saber quem vai julgar o conflito, sobe-se ao grau de jurisdição comum a ambos os órgãos juris​dicionais em conflito (ex.: Juiz de SP e Juiz de MG em conflito – quem julga é o STJ; ex.: Superior Tribunal Militar e Juiz Federal em conflito – quem julga é o Supremo Tribunal Federal; ex.: Juiz Federal de SP e Juiz do Juizado Especial Federal de SP – quem julga é o TRF da 3ª Região – ver, sobre este exemplo, a Súmula 348 do STJ, e lembrar que ela foi cancelada em 23.03.2010, tendo sido a questão dirimida pelo RE n. 590.409. Detalhe: o STJ editou outra Súmula, a de n. 428, no lugar da n. 348, adequando-a ao entendimento hodierno. Se, contudo, o conflito se dá entre órgãos jurisdicionais vinculados a Tribunais distintos, quem vai julgar o conflito é o STJ). Conflito de atribuições é um conflito entre duas ou mais autoridades administra​tivas, em regra órgãos do Ministério Público. Exemplos:
- MPE/SP x MPE/ SP: quem decide o conflito é a PGJ/SP.
- MPF/RJ x MPE/RJ: há quem diga que se determina a competência olhando-se para os juízes; assim, o conflito seria, no caso, virtual entre Juiz Federal/RJ e Juiz Estadual/RJ. Logo, quem decidiria seria o STJ. Contudo, não é essa a posição majoritária. No caso, haveria conflito entre a União e os Estado, logo, quem julga é o STF.
- MPF/MS x MPM/MS: o conflito se dá dentro do MPU, logo, quem decide é o Procurador Geral da República.
- MPE/RJ x MPE/ES: conflito entre estados, logo, quem decide é o STF.
1.12. Arquivamento do Inquérito Policial
Em regra, o arquivamento do inquérito policial tem natureza de decisão judicial. O MP faz uma promoção de arquivamento, que é encaminhada ao juiz, que, se for caso, arquivará o inquérito. Trata-se o arquivamento do inquérito, portanto, de ato complexo. Embora o art. 67 do CPP fale de “despacho”, como dito, trata-se de decisão o ato judicial que arquiva o inquérito.
Também é perfeitamente possível o arquivamento de peças de informação e de termos circunstan​ciados. Peça de informação é todo e qualquer conjunto investigatório fora do inquérito policial. Termo circuns​tanciado (art. 76 da Lei n. 9.099/95): é como se fosse o inquérito para os Juizados Especiais Criminais.
1.12.1. Fundamentos para o arquivamento do Inquérito Policial
Ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação penal (ex.: se a vítima de estupro não representa, falta condição da ação penal pública correspondente, que é condicionada à sua representação);
Ausência de elementos de informação quanto à autoria e materialidade do delito;
Atipicidade do fato delituoso. A atipicidade pode ser formal (ex.: conduta não tipificada como crime) ou material (ex.: crime de bagatela – roubo de cacho de bananas);
Presença de manifesta causa excludente da ilicitude (ex.: legítima defesa);
Presença de manifesta causa excludente da culpabilidade, salvo a inimputabilidade (ex.: crime praticado sob coação física irresistível, inexigibilidade de conduta diversa);
Presença de uma causa extintiva da punibilidade (ex.: morte do agente).
1.12.2. Coisa Julgada no Arquivamento
Coisa julgada é a decisão jurisdicional contra a qual não cabe mais recurso, seja porque não foram interpostos, seja porque foram esgotados. 
Espécies de coisa julgada:
Coisa julgada formal: imutabilidade da decisão dentro do processo em que foi proferida.
Coisa julgada material: imutabilidade da decisão fora do processo em que foi proferida.
Atenção: a coisa julgada no arquivamento está diretamente relacionada aos fundamentos do arquivamento. Vejamos os fundamentos:
Ausência de pressupostos processuais ou de condições da ação penal: o arquivamento faz coisa julgada formal.
Ausência de elementos de elementos de informação quanto à autoria e materialidade do delito: coisa julgada formal.
Atipicidade do fato delituoso: o arquivamento faz coisa julgada formal e material. Sobre o tema: HC 84.156.
Presença de manifesta causa excludente da ilicitude: de acordo com a doutrina, o arquiva​mento faz coisa julgada formal e material. Contudo, atenção para o HC 95.211/STF, pois, neste julgado, o STF entendeu que só faz coisa julgada formal (ex.: inquérito forjado para fazer entender que houve legítima defesa). Atenção para o HC n. 87.395/STF, que ainda não foi julgado pelo Pleno.
Presença de manifesta causa excludente da culpabilidade, salvo a inimputabilidade: o arquivamento faz coisa julgada formal e material.
Presença de uma causa extintiva da punibilidade: o arquivamento faz coisa julgada material e formal. Caso a certidão de óbito seja falsa, há quem diga que nada pode ser feito, respondendo o agente apenas por falsificação de documento público. Porém, prevalece o entendimento, nos Tribunais Superiores, de que a decisão de arquivamento, neste caso, pode ser revogada, já que não produz coisa julgada em sentido estrito (STF HC n. 84.525).
1.12.3. Desarquivamento e Oferecimento de Denúncia
Desarquivamento consiste na reabertura das investigações policiais por conta da notícia de provas novas (ex.: inquérito arquivado por ausência de elementos de informação, que, posteriormente, pode ser reaberto pela notícia de provas novas). Em suma, para reabrir o inquérito, basta a existência de notícia de provas novas.
O oferecimento de denúncia, por outro lado, depende de provas novas (ver súmula 524 do STF), não apenas de notícia de provas novas. 
Provas novas são aquelas que alteram o contexto probatório dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento. As provas podem ser:
a) substancialmente novas: são aquelas que até então estavam ocultas (ex.: cadáver; arma do crime); 
b) formalmente novas: são aquelas que já eram conhecidas, mas que ganharam uma nova versão (ex.: testemunhas ameaçadas que prestam depoimentos falsos, mas que depois falam a verdade). Sobre o tema: HC n. 94.869.
1.12.4. Arquivamento por Ausência de Elementos Informativos 
O arquivamento por ausência de elementos informativos se dá com base na cláusula rebus sic stantibus. Modificado o panorama probatório dentro do qual foi proferida a decisão de arquivamento, nada impede o desarquivamento do inquérito policial.
1.12.5 Procedimento do arquivamento:
1.12.5.1. Na Justiça Estadual
O Ministério Público deve fazer o pedido de arquivamento ao juiz. Se o juiz concordar com o pedido de arquivamento, o inquérito policial será arquivado. Se discordar, os autos serão encaminhados ao PGJ (art. 28 do CPP), por aplicação do princípio da devolução. Não pode o juiz realizar novas diligências ao invés de aplicar o art. 28 do CPP, pois deve ficar como mero observador. O juiz devolve a apreciação do caso ao chefe do Ministério Público, ao qual compete a decisão final. Nesse momento,ele exercerá o papel de fiscal do princípio da obrigatoriedade, função anômala.
Ao receber os autos, o PGJ tem 3 possibilidades:
- Requerimento de diligências;
- Oferecimento da denúncia;
- Designação de outro órgão do Ministério Público para oferecer denúncia. Não pode ser o mesmo pro​motor que pediu o arquivamento do IP, pois haveria ofensa ao princípio da independência funcional. A maioria da doutrina entende que o órgão designado atua como longa manus do PGJ, estando obrigado a oferecer a denúncia.
Havendo insistência no pedido de arquivamento, o juiz está obrigado a arquivar o inquérito policial.
Obs.: aplica-se, por analogia, o art. 28 do CPP caso o juiz discorde do MP por ocasião da sua recusa em ofertar a proposta de suspensão condicional do processo (sursis processual), conforme o disposto na Súmula 696 do STF.
Súmula 696, STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do código de processo penal.
1.12.5.2 Justiça Federal e na Justiça Comum do Distrito Federal
Na Justiça Federal quem atua é o Ministério Público Federal, e na Justiça Comum do Distrito Federal quem atua é o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, sendo que ambos fazem parte do Ministério Público da União, e devem observar a Lei Complementar n. 75.
O MPF faz pedido de arquivamento ao Juiz Federal. Se o juiz concordar, será arquivado o inquérito policial. Se discordar, aplicará o princípio da devolução, mas nesse caso ele remete os autos à 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, que trata de matéria penal. A decisão dessa Câmara é meramente opina​tiva; após, seguirá para o PGR, que proferirá a decisão final.
1.12.5.3. Justiça Eleitoral
O Ministério Público, no exercício de função eleitoral, faz o pedido de arquivamento ao juiz estadual, também no exercício da função eleitoral. Cuidado com o Código Eleitoral (artigo 357, §1º, da Lei n. 4.737/65): se o juiz eleitoral discordar, o pedido de arquivamento será remetido ao Procurador Regional Eleitoral (membro do Ministério Público estadual que atua junto ao TRE). Contudo, tem prevalecido a orientação de que, se o juiz discordar do pedido, os autos deverão ser encaminhados à Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, estando o artigo 357, §1º, do Código Eleitoral, derrogado pelo artigo 62, IV, da Lei Complementar n. 75/93. (Enunciado n. 29 da Câmara de Coordenação e Revisão). A manifestação da Câmara é de caráter opinativo, pois a decisão final é o do Procurador Geral da República.
1.12.5.4. Justiça Militar da União
O Ministério Público Militar faz pedido de arquivamento ao juiz-auditor. Se discordar, ele vai remeter à Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Militar (decisão opinativa); após, o Procurador Geral da Justiça Militar proferirá a decisão final. Se o juiz-auditor, por outro lado, concordar com a promoção de arquivamento, ele manda o inquérito para o juiz-auditor corregedor, que, por sua vez, concordando, dá por arquivado, definitivamente, o inquérito policial militar. Se ele discordar, poderá interpor uma correição parcial ao Superior Tribunal Militar (art. 498, “b”, do Código de Processo Penal Militar). Em julgados antigos, o STF já se manifestou no sentido da legalidade deste recurso (HC n. 74.816). Todavia, tramita no STF a ADI n. 4.153, que impugna tal disposição.
Se o STM negar provimento à correição parcial, estará arquivado o inquérito policial militar. Se o STM der provimento à correição parcial interposta, a CCR (Câmara de Coordenação e Revisão) opinará mais uma vez e, após, encaminhará os autos à Procuradoria Geral da Justiça Militar, que proferirá a decisão final. Doutrinadores entendem que essa interposição de correição parcial pelo juiz auditor corregedor viola o princípio da inércia da jurisdição e também o da imparcialidade do juiz.
1.12.5.5. Procedimento do Arquivamento nas Hipóteses de Atribuição Originária do Procurador Geral de Justiça ou do Procurador Geral da República
Em regra, o arquivamento é feito a partir de decisão judicial, após promoção formulada pelo Ministério Público. Porém, nos casos de atribuição originária do PGJ ou do PGR, não há necessidade de se submeter a decisão de arquivamento à análise do Poder Judiciário, pois o respectivo Tribunal não teria como não acatar a decisão do chefe do MP. Ressalva a essa regra diz respeito às hipóteses em que a decisão de arquivamento seja capaz de fazer coisa julgada formal e material, quando, então, será obrigatória a apreciação do arquivamento pelo Tribunal (IP n. 2.341 e IP n. 2.944).
1.12.6. Arquivamento implícito
Ocorre quando o MP, titular da ação penal, deixa de incluir na denúncia algum fato investigado (arquivamento implícito objetivo) ou algum dos corréus (arquivamento implícito subjetivo), sem se manifestar expressamente quanto ao arquivamento. Esse arquivamento não é admitido pela doutrina e pela jurisprudência, devendo o juiz devolver os autos ao MP para que se manifeste expressamente - pois toda manifestação do MP deve ser obrigatoriamente fundamentada -, sob pena de aplicação do art. 28 do CPP. Obs.: Os tribunais também não admitem a ação penal privada subsidiária da pública para sanar o defeito do arquivamento implícito (STJ, HC n. 21.074).
1.12.7. Arquivamento Indireto
Ocorre quando o juiz, em virtude do não oferecimento de denúncia pelo MP, fundamentado em razões de incompetência do juízo, recebe essa manifestação como se se tratasse de um pedido de arquivamento, aplicando por analogia o artigo 28 do CPP.
1.12.8. Arquivamento em Crimes de Ação Penal Privada
Se o ofendido sabe quem é o autor do delito e pede o arquivamento, tal manifestação deveria ser acolhida como espécie de renúncia tácita, com a consequente extinção da punibilidade. No entanto, se o ofendido não sabe quem é o autor do delito, é perfeitamente possível o pedido de arquivamento, preservando-se, assim, o direito de queixa para quando a autoria for identificada.
1.12.9. Recorribilidade contra a decisão de arquivamento
Em regra, decisão de arquivamento é irrecorrível. Também não cabe ação penal privada subsidiária da pública. 
Exceções: 
Artigo 7º da Lei n. 1.521/51 (Crimes contra a economia popular ou contra a saúde pública): prevê o recurso de ofício.
Art. 6º, parágrafo único, da Lei n. 1.508/51: prevê recurso em sentido estrito no caso de jogo do bicho e nos casos de corrida de cavalos fora do hipódromo (contravenções penais).
Se o juiz arquiva o inquérito de ofício, cabe correição parcial, pois o juiz não pode fazê-lo de ofício.
Nas hipóteses de atribuição originária do Procurador Geral de Justiça, cabe pedido de revisão ao Colégio de Procuradores, mediante pedido do ofendido (Artigo 12, XI, da Lei n. 8.625/93 – Lei Orgânica do Ministério Público).
1.12.10. Arquivamento Determinado por Juízo Incompetente
Para alguns, esse tipo de arquivamento é inválido. Neste caso, é possível o oferecimento de denúncia perante o juízo competente; porém, simultaneamente, deve ser suscitado um conflito de competência com o juízo que determinou o arquivamento.
Todavia, para o STF, pouco importa se a decisão foi proferida por juízo incompetente, sendo considerada válida. Dá-se prioridade à coisa julgada (HC 94.982).
1.13. Trancamento do Inquérito Policial
Funciona como medida de força que acarreta a extinção do procedimento investigatório. O arqui​vamento é medida de consenso, pois não há conflito. Difere, pois, do trancamento, que, como dito, é medida de força. Trata-se de medida de natureza excepcional, somente sendo permitida nas seguintes hipóteses: 
Manifesta atipicidade formal ou material da conduta delituosa (ex.: inquérito instaurado para investigar conduta atípica);
Presença de causa extintiva da punibilidade (ex.: inquérito instaurado para investigarcrime prescrito);
Ausência de requerimento da vítima ou de seu representante legal ou de requisição do Ministro da Justiça em crimes de ação penal privada ou crimes de ação penal condicionada;
O instrumento a ser utilizado para o trancamento do inquérito é o habeas corpus, desde que ao delito seja cominada pena privativa de liberdade. Se não é caso de pena privativa de liberdade, cabe mandado de segurança.
1.14. Investigação Criminal pelo Ministério Público
	Argumentos Contrários (Prova de Delegado)
	Argumentos Favoráveis (Prova do Ministério Público)
	
- A investigação pelo MP atenta contra o sistema acusatório, pois cria um desequilíbrio entre acusação e defesa.
- O MP pode requisitar diligências e a instauração de inquéritos policiais, mas não pode presidi-los.
- A atividade investigatória é exclusiva da Polícia Judiciária, logo, somente esta pode investigar fatos delituosos.
- Não há previsão legal de instrumento para as investigações pelo Ministério Público.
	
- Não atenta contra o sistema acusatório: os elementos produzidos pelo MP terão o mesmo valor que aqueles produzidos em um inquérito policial, devendo ser ratificados perante a autoridade judiciária, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa.
- Teoria dos poderes implícitos: surge num precedente da Corte norte-americana (Mc Culloch vs. Maryland, de 1819). A Constituição, ao conceder uma atividade fim a determinado órgão ou instituição, implícita e simulta​neamente, também concede a ele todos os meios necessários para atingir esse objetivo. Logo, se o MP é o titular da ação penal pública, obviamente, deve-se conceder a ele os meios para o cumprimento do seu dever.
- A atividade investigatória não é uma exclusividade da Polícia (art. 4º, parágrafo único, do CPP).
- Há previsão constitucional e legal da investigação pelo Ministério Público (art. 129, §1º, da CF; arts. 7º e 8º da LC n. 75/93; Lei n. 7.347/85, que trata da ação civil pública; art. 201, VII, da Lei n. 8.069/90 – ECA).
- O procedimento legal de que se vai valer o MP para as investigações é o chamado procedimento investiga​tório criminal. Procedimento investigatório criminal: é o instrumento de natureza administrativa e inquisito​rial presidido pelo membro do MP com atribuição criminal, e terá como finalidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, fornecendo elementos para o oferecimento ou não da denúncia. Esse procedimento está regulamentado pela Resolução de n. 13 do Conselho Nacional do MP.
Posição jurisprudencial sobre o tema:
1) O STJ é amplamente favorável à investigação feita pelo MP (Súmula n. 234/STJ); 
2) No STF, atualmente, tem prevalecido a possibilidade de investigação pelo MP (HC n. 91.661, Rel. Min. Elen Gracie; HC 89.837; HC n. 94.173).
1.15. Controle Externo da Atividade Policial (Cobrado em concurso do MP)
Previsão Legal: artigo 129, VII.
O controle externo da atividade policial deve ser compreendido como o conjunto de normas que regulam a fiscalização exercida pelo MP em relação à Polícia, na prevenção, apuração e investigação de fatos delituosos, na preservação dos direitos e garantias dos presos que estejam sob custódia policial e na fiscalização do cumprimento de determinações judiciais. Este controle decorre do sistema de freios e contrapesos inerentes a um regime democrático e não pressupõe subordinação ou hierarquia. O controle externo da atividade policial pode ser exercido de maneira difusa ou concentrada.
	Controle Difuso
	Controle Concentrado
	É aquele exercido por todos os membros do MP com atribuição criminal, sendo possível a adoção das seguintes medidas: a) controle de ocorrências policiais; b) verificação de prazos de inquéritos policiais; c) verifi​cação da qualidade do inquérito policial; d) controle e verificação dos bens apreendidos; e) propositura de medidas cautelares.
	É aquele exercido por meio de membros do MP com atribuição específica para o controle externo, sendo possível a adoção das seguintes medidas: a) realização de visitas periódicas a repartições policiais; b) ações de improbidade administrativa; c) ações civis públicas na defesa dos interesses difusos (ex.: para fechar cadeias irregulares); d) termos de ajustamento de conduta e recomendações; e) verificação das comunicações de prisões em flagrante e instauração de procedimentos investigatórios criminais.
A Resolução de n. 20 do Conselho Nacional do MP trata do assunto.
Ação Penal
2.1. Conceito: ação é o direito público subjetivo de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do Direito Penal objetivo a um caso concreto. O Estado trouxe para si o exercício da jurisdição e o direito de ação é o instrumento dado para pleitear a tutela do Estado-Juiz.
2.2. Condições da Ação Penal
Apesar de o direito de ação ser abstrato, o ordenamento jurídico impõe o cumprimento de certas condições para o seu exercício regular. No processo penal, a presença dessas condições é analisada por ocasião do oferecimento da peça acusatória. Artigo 395, II, do CPP:
Art. 395. (...)
II. A denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal.
 Ausente uma condição da ação, deve o juiz rejeitar a peça acusatória.
Uma parte minoritária da doutrina diz que, verificada a ausência de uma condição durante o processo, é possível a extinção do feito sem a apreciação do mérito (Eugênio Pacelli de Oliveira). Aplica-se, nesse caso, subsidiariamente, o Código de Processo Civil (art. 267, VI).
De acordo com a maioria, na hora de se analisar as condições da ação, é necessário aplicar a teoria da asserção. Por essa teoria, a presença das condições da ação deve ser analisada pelo juiz com base nos elemen​tos fornecidos na peça acusatória, sem qualquer aprofundamento probatório. 
As condições da ação podem ser de duas espécies: 
a) condições genéricas: estão presentes em toda e qualquer ação penal; 
b) condições específicas: são necessárias apenas em relação a alguns delitos.
Grande parte da doutrina chama as condições da ação de condições de procedibilidade. Há doutri​nadores que preferem utilizar essa nomenclatura como sinônimo de condições específicas.
2.3. Condições Genéricas da Ação Penal
2.3.1. Possibilidade Jurídica do Pedido: o pedido deve se referir a uma providência admitida pelo Direito objetivo. Pelo menos em tese, o fato narrado na peça acusatória deve referir-se a uma conduta típica, ilícita e culpável. De tal modo, não se deve instaurar inquérito ou mesmo se denunciar alguém pela prática de uma conduta que não seja crime. Ex.: denúncia de fato que se enquadra no princípio da insignificância, que exclui a tipicidade (ausência de possibilidade jurídica do pedido). Se a atipicidade é verificada por ocasião do ofereci​mento da peça acusatória, deve o juiz rejeitar a denúncia ou queixa com base na ausência de possibilidade jurídica do pedido; se a atipicidade é verificada após a citação do acusado, deve o juiz absolvê-lo sumariamente.
2.3.2. Legitimidade para Agir: é a chamada pertinência subjetiva da ação, no que se refere a quem pode ajuizar a ação (legitimidade ativa) e contra quem se pode ajuizar a ação (legitimidade passiva).
Polo ativo:
Se a ação penal for pública, quem ocupa o polo ativo é o Ministério Público.
Se a ação penal for de iniciativa privada, quem ocupa o polo ativo é o ofendido ou o seu repre​sentante legal.
Questão: Tício e Mévio são candidatos a deputado federal. Durante a propaganda eleitoral, eles começam a trocar ofensas. Tício perde a paciência e chama Mévio de ladrão, que recebe propina por conta de fraude à licitação. Mévio oferece queixa-crime contra Tício, imputando-lhe a prática do crime previsto no artigo 138 do Código Penal (calúnia). Comentários: crimes contra a honra, praticados durante a propaganda eleitoral, são crimes eleitorais. Crimes eleitorais, em regra, são crimes de ação penal pública incondicionada.De tal modo, Mévio não tem legitimidade para ocupar o polo ativo e propor a queixa-crime. Nesse caso, deve o juiz rejeitar a peça acusatória, com base no artigo 395, II, do CPP (lembrando que há quem defenda a aplicação artigo 267, VI, do CPC - extinção do feito sem apreciação do mérito).
Polo passivo: deve ser ocupado pelo provável autor do fato delituoso com 18 (dezoito) anos completos ou mais. Diz-se provável por conta do princípio da presunção de inocência. Via de regra, a legitimidade passiva para a causa não é analisada de plano, mas no decorrer do processo. Ex.: casos de homônimos (pessoas com o mesmo nome) são casos de ilegitimidade passiva ad causam. Outro exemplo de ilegitimidade: narrar fato e qualificar uma testemunha como autora do crime na denúncia.
Questão: A pessoa jurídica tem legitimidade para ocupar o polo ativo no processo penal? Resposta: sim, pois pode, por exemplo, propor queixa-crime contra pessoa que a difamou (caso de ação penal de iniciativa privada). Outro exemplo: ação penal privada subsidiária da pública, quando o Ministério Público não oferece, por exemplo, a denúncia pelo furto praticado na empresa vítima.
Questão: A pessoa jurídica tem legitimidade para ocupar o polo passivo no processo penal? Resposta: os tribunais pátrios têm aplicado, no que se refere à pessoa jurídica, a teoria da dupla imputação. Por essa teoria, os tribunais têm admitido o oferecimento de denúncia em face de pessoa jurídica pela prática de crimes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física que atua em seu nome ou benefício. Por hora, não há previsão legal no sentido de que a pessoa jurídica possa responder por crime contra a ordem econômica.
2.3.2.1. Legitimidade Ordinária e Extraordinária no Processo Penal
Legitimidade ordinária: alguém age em nome próprio, na defesa de interesse próprio. É a regra. A maioria da doutrina diz que é exatamente isso o que acontece na ação penal pública. Afinal, a CF outorgou ao MP a titularidade da ação penal pública. Há doutrinadores, porém, que dizem que a legitimação do MP é extraordinária.
Legitimidade extraordinária: trata-se de situação excepcional, em que alguém age em nome próprio na defesa de interesse alheio. É necessária a previsão legal para tanto. Exemplos de legitimidade extraordi​nária no processo penal:
Ação penal privada (personalíssima, exclusivamente privada e subsidiária da pública – entram todas): nessa espécie de ação penal, apesar de o direito de punir pertencer ao Estado, transfere-se ao ofendido a legitimidade para propor a ação (oferecimento de queixa-crime);
Nomeação de curador especial: artigo 33 do CPP (“Se o ofendido for menor de 18 (dezoito) anos, ou mentalmente enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal.”).
Ação civil ex delicto proposta pelo Ministério Público em favor de vítima pobre: previsão no artigo 68 do CPP (“Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (Art. 32, §§ 1º e 2º), a execução da sentença condenatória (Art. 63) ou a ação civil (Art. 64) será promovida, a seu requerimento, pelo Ministério Público”). É a ação indenizatória que visa reparar os danos causados pelo delito. Obs.: O STF entende que o artigo 68 do CPP é dotado de uma inconstitu​cionalidade progressiva. Para o STF, enquanto não for criada Defensoria Pública na comarca, continua valendo o disposto no artigo 68 (RE n. 135.328).
2.3.3. Interesse de Agir
Necessidade: a necessidade é presumida no processo penal, porque não há pena sem processo. Ninguém pode se apresentar para cumprir pena sem o devido processo.
Adequação: não tem tamanha relevância no processo penal, pois não há diferentes espécies de ações penais condenatórias. Ex.: é bom lembrar que o habeas corpus só se mostra adequado quando houver risco de locomoção. Obs.: Súmula 693 do STF (“Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada”).
Utilidade: consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. Nesse ponto, é interessante tratar da prescrição em perspectiva, virtual ou hipotética. Esta consiste no reconheci​mento antecipado da prescrição, em virtude da constatação de que, no caso de eventual condenação, a pena a ser imposta estará fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa, tornando inútil a instau​ração do processo penal. Exemplo: no dia 23.05.2005 alguém pratica o crime de furto simples (artigo 155, caput, do CPP – pena de 1 a 4 anos). Na época do fato, o agente era menor de 21 anos. No dia 12.08.08, os autos do inquérito policial concluído vão para o Ministério Público. O agente tem bons antecedentes e é primário. Se a pena eventual for de um ano, a prescrição seria de quatro anos. Como o agente é menor de 21 anos, cai pela metade, logo, seria de dois anos a prescrição. No caso, evidente a prescrição em perspectiva. Para a doutrina, o MP deve requerer o arquivamento com base na ausência de interesse de agir, pois não há utilidade em se levar adiante processo fadado à prescrição. Ressalte-se que não se pede o arquivamento com base na prescrição, mas com base na ausência de interesse de agir. Todavia, os tribunais superiores não admitem a aplicação da prescrição hipotética, seja porque não há previsão legal, seja porque feriria o princípio da presunção de inocência, pois parte do pressuposto de que o agente seria condenado. Súmula n. 438 do STJ (“É inadmissível a extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética, independentemente da existência ou sorte do processo penal”).
Atenção para a Lei n. 12.234, que entrou em vigor no dia 06 de maio de 2010. Essa lei pôs fim à prescrição retroativa entre a data do fato delituoso e o recebimento da peça acusatória. Continua existindo a prescrição retroativa entre a data do recebimento da peça acusatória e a data da prolação da sentença. A lei em tela é mais gravosa, logo, não pode retroagir.
2.3.4. Justa Causa: a maioria da doutrina entende que a justa causa é a quarta condição da ação. Justa causa é o suporte probatório mínimo que deve existir para a instauração de um processo penal. O processo penal não pode ser leviano. Não se pode colocar alguém no banco de réus sem fundamento (fumus comissi delicti). Caso concreto: servidora do STJ propôs queixa-crime contra ministro daquela Corte, alegando ter sido assediada. Como só havia a palavra da vítima como elemento de prova, o STJ rejeitou a queixa-crime.
2.4. Condições Específicas da Ação Penal
São necessárias apenas em relação a alguns delitos. Exemplos de condições específicas:
Representação do ofendido;
Requisição do Ministro da Justiça (ex.: nos casos de crimes contra a honra do Presidente da República);
Laudo pericial nos crimes contra a propriedade imaterial (vide artigo 525 do CPP – “No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito”);
Laudo preliminar em crimes de drogas;
Qualidade de militar no crime de deserção.
2.5. Distinção entre Condições da Ação (Condição de Procedibilidade) e Condição de Prosseguibilidade
Condição de procedibilidade: é uma condição que deve estar presente para que o processo possa ter início. Nesse caso, o processo ainda não começou, mas a condição de procedibilidade é necessária para que ele comece.
Condição de prosseguibilidade: nesse caso, o processo já está em andamento e a condição deve ser implementada para que o processo possa seguir seu curso normal. Exemplo antigo: representação nos crimes de lesão corporal leve e lesão corporal culposa. A Lei n.9.099/95 alterou a ação penal em relação a esses dois delitos. Antes de 95, eram de ação penal pública incondicionada. Depois de 95, passaram a ser de ação penal pública condicionada à representação. Quanto à natureza jurídica, para os processos que já estavam em andamento, a representação funcionou como condição de prosseguibilidade (artigo 91 da Lei n. 9.099/95). Para os processos que ainda não tinham começado, a representação funcionou como condição de procedibilidade (artigo 88 da Lei n. 9.099/95). Exemplo novo: processos penais pela prática de estupro com violência real que estavam em andamento quando entrou em vigor a Lei n. 12.015/09 (10.08.09). Caso hipotético: no dia 10.02.09, o Ministério Público ofereceu denúncia pela prática do crime de estupro com violência real. À época, esse crime era de ação penal pública incondicionada. Ocorre que no dia 10.08.09 a Lei em tela entrou em vigor. Essa lei passou a considerar referido crime como de ação penal pública condicionada à representação. Nesse caso, será necessária a representação para os processos que já estavam em andamento? Há duas correntes:
1ª corrente: ao contrário da Lei n. 9.099/95, que trouxe dispositivo expresso sobre o assunto (artigo 91), a Lei n. 12.015/09 silenciou quanto à necessidade de oferecimento de representação para os processos que já estavam em andamento. Logo, não é necessária a representação. Essa corrente provavelmente irá prevalecer nos tribunais superiores.
2ª corrente: a representação deve funcionar como condição de prosseguibilidade para os processos penais que já estavam em andamento, pois a sua não apresentação repercute no direito de punir do Estado. Logo, aplica-se o princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica. Sendo assim, para essa corrente, é necessária a representação, pois, na falta dela, haverá decadência do direito de punir do Estado.
2.6. Distinção entre Condições da Ação e Condição Objetiva de Punibilidade
	Condição de Procedibilidade (Condição da Ação)
	Condição Objetiva de Punibilidade
	- Matéria relacionada ao Direito Processual Penal;
- Deverá ser implementada para que haja o exercício regular do direito de ação;
- Podem ser condições genéricas ou condições específicas;
- A ausência de uma condição da ação autoriza a rejeição da peça acusatória, com base no artigo 395, II, do CPP. Há quem sustente a extinção do processo sem apreciação do mérito (artigo 267, VI, do CPC). Em ambas as hipóteses, a decisão só vai produzir coisa julgada formal.
	- Conceito: cuida-se de condição exigida pelo Legis​lador para que o fato se torne punível. Está localizada entre o preceito primário e secundário da norma penal incriminadora, sendo chamada de condição objetiva porque independe do dolo ou da culpa do agente.
- Se a sua ausência for verificada num momento inicial, impede-se o início da persecução penal (faz coisa julgada formal). Se a ausência for verificada no momento da sentença, haverá apre​ciação do mérito e a decisão produzirá coisa julgada formal e material. Ex.: sentença declaratória da falência (artigo 180 da Lei 11.101/05); decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes materiais contra a ordem tributária.
2.7. Classificação das Ações Penais Condenatórias
2.7.1. Ação Penal Pública:
- Titular: Ministério Público (art. 129, I, do CPP).
- Peça acusatória: Denúncia.
Ação penal pública incondicionada: a atuação do MP não depende de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. Essa ação é a regra. Porém, existem exceções, como é o caso do art. 147 do CP (crime de ameaça), que somente se procede mediante representação (art. 147, parágrafo único, do CP), sendo ação penal pública condicionada à representação. Obs.: o crime do furto (art. 155 do CP), em regra, é de ação penal pública incondicionada, mas, a ação penal será pública condicionada à representação se o crime for cometido numa das hipóteses do artigo 182 do CP. Sendo assim, para saber qual a espécie de ação, é bom olhar, além do dispositivo que trata do crime, os dispositivos gerais do capítulo referente ao crime.
Ação penal pública condicionada: a atuação do MP depende de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. Ex.: crime de estupro (antigamente, o crime de estupro era de ação penal privada).
Ação penal pública subsidiária da pública: vejamos alguns exemplos:
Decreto Lei 201/67 (que trata dos crimes de responsabilidade do prefeito), artigo 2º, §2º (“Se as previdências para a abertura do inquérito policial ou instauração da ação penal não forem atendidas pela autoridade policial ou pelo Ministério Público estadual, poderão ser requeridas ao Procurador-Geral da República”). A maioria da doutrina entende que esse dispositivo não foi recepcionado pela Constituição, pois atenta contra a autonomia dos MPs estaduais.
Código Eleitoral, art. 357, §3º (“Se o órgão do Ministério Público não oferecer a denúncia no pra​zo legal representará contra ele a autoridade judiciária, sem prejuízo da apuração da responsa​bilidade penal”) e 4º (“Ocorrendo a hipótese prevista no parágrafo anterior, o juiz solicitará ao Procurador Regional a designação de outro promotor, que, no mesmo prazo, oferecerá a denúncia”). Obs.: esses dispositivos estão em vigor.
Artigo 109, V-A, da CF (incidente de deslocamento de competência): será analisado quando da análise de competência.
2.7.2. Ação Penal de Iniciativa Privada
Ação penal privada personalíssima: a queixa-crime só pode ser oferecida pelo próprio ofendido, não sendo cabível a sucessão processual. Se a vítima falece, o direito não se transmite aos seus herdeiros. Sendo assim, a morte da vítima, nesse caso da ação penal privada personalíssima, extingue a punibilidade. Exemplo de ação penal privada personalíssima: artigo 236 do CP (Induzimento a Erro Essencial e Ocultação de Impedimento) – este, aliás, é único exemplo atual no CP.
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
Ação penal exclusivamente privada: nesse caso, se a vítima falecer, o direito se transmite aos herdeiros.
Ação penal privada subsidiária da pública: somente é cabível diante da inércia do MP.
2.8. Princípios da Ação Penal
	Princípios da Ação Penal Pública
	Princípios da Ação Penal de Iniciativa Privada
	- Princípio da inércia da jurisdição (ne procedat iudex ex officio): ao magistrado não é permitido dar início a um processo penal condenatório de ofício. Previsão legal: artigo 129, I, da CF (diz que o MP é o titular da ação penal pública).
Obs.: nada impede a concessão de habeas corpus de ofício (art. 654, §2º, do CPP).
Questão: o que é processo judicialiforme (ação penal ex officio)? Resposta: o processo tinha início a partir de Auto de Prisão em Flagrante ou de Portaria expedida pelo Delegado ou Juiz. Isso era possível antes da Carta Magna de 1988, quando se tratasse de contravenções penais ou crimes de homicídio culposo ou lesão corporal culposa. Obs.: o processo judicialiforme não foi recepcionado pela Consti​tuição Federal de 1988.
	- Princípio da inércia da jurisdição (ne procedat iudex ex officio): vide ao lado.
	- Princípio do ne bis in idem processual: ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação. Previsão legal: artigo 8º, n. 4, da Convenção Americana de Direitos Humanos (“O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser submetido a novo processo pelos mesmos fatos”).
	- Princípio do ne bis in idem processual: vide ao lado.
	- Princípio da intranscendência: a denúncia ou queixa-crime só podem ser oferecidas em face do suposto autor do fato delituoso.

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